RAI Revista de Administrao e Inovao ISSN: 1809-2039
DOI: 10.5773/rai.v9i3.887
Organizao: Comit Cientfico Interinstitucional Editor Cientfico: Milton de Abreu Campanario Avaliao: Double Blind Review pelo SEER/OJS Reviso: Gramatical, normativa e de Formatao
PRODUO INTEGRADA DE MA (PIM) PROCESSO INOVADOR NA CADEIA
PRODUTIVA DA MA BRASILEIRA
Marcia Rohr da Cruz
Doutoranda em Administrao da Universidade de Caxias do Sul UCS
Maria Emilia Camargo
Doutora em Engenharia de Produo pela Universidade Federal de Santa Catarina UFSC
Professora da Universidade de Caxias do Sul UCS
Guilherme Cunha Malafaia
Doutor em Agronegcios pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS
Professor da Universidade de Caxias do Sul UCS
Gabriela Zanadrea
RESUMO
Com a implementao da Produo Integrada de Ma (PIM), a cadeia produtiva da ma brasileira
demonstrou sua preocupao com as demandas apresentadas pelo mercado consumidor e, alm disso,
ratificou o papel de segmento pioneiro em inovao no agronegcio brasileiro. Assim sendo, este
estudo teve como objetivos descrever a implementao da PIM, e, por meio de entrevistas com
especialistas do setor que participaram dessa implementao, analisar se ela pode ser considerada um
processo de inovao interativo. Tambm foram consultados arquivos da Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuria (EMBRAPA) e da Associao Brasileira dos Produtores de Ma (ABPM).
Aps a anlise da coleta de dados, foi possvel considerar a implementao da Produo Integrada de
Ma como um modelo interativo de inovao, em que o centro uma empresa combinando interaes
com outra empresa ou um segmento entre as empresas individualmente e o sistema de cincia e
tecnologia. Por fim, foi possvel perceber ainda que a implementao da PIM foi mais um exemplo de
processo inovador realizado na cadeia produtiva da ma.
Palavras-Chave: Inovao; Produo integrada; Cadeia produtiva da ma.
PIM processo inovador na cadeia produtiva da ma brasileira
1 INTRODUO
Os processos inovativos tm feito parte das diretrizes, misso e viso das empresas e setores que buscam se tornar, ou se manterem, competitivos no seu ramo. A todo o momento, surgem novas ideias, tecnologias, cujo objetivo normalmente lanar um novo produto e/ou servio no mercado. Contudo, alm da gerao e do lanamento, busca-se a todo instante uma cultura baseada em produtos e servios ambientalmente e economicamente sustentveis, sendo capazes de melhorar a qualidade da sade do entorno e a economia das organizaes.
Conforme Barros et al. (2009), apesar de todas as inovaes, possvel se fazerem questionamentos tais como: quando verdadeiramente teremos produtos e servios inovadores que atendam aos requisitos ambientalmente sustentveis e economicamente viveis? Quando teremos a conscincia de todos para a cultura ecologicamente correta? Embora existam tantas evidncias de prejuzos com o meio ambiente e muitas possibilidades de mudar a realidade vigente, por que no se muda para a cultura de uma economia verde?
Podem-se responder alguns desses questionamentos com as seguintes explicaes: ideias inovativas e novas tecnologias no so suficientes. Faz-se necessria uma mudana em que as inovaes verdes sejam efetivamente durveis, lucrativas e atraentes ao mercado. Isso quer dizer que essas novas ideias devam ser tambm ecologicamente viveis e mensurveis, trazendo aos investidores o retorno daquilo que foi aplicado (BARROS, 2009).
A cadeia produtiva da ma brasileira um exemplo de setor que busca h alguns anos se adaptar a essa realidade de cuidados com o meio ambiente, com a qualidade da ma que a sociedade consome e com ideias que tragam retorno aos produtores da fruta.
Levando em considerao o ambiente concorrido que se apresenta e que se desenha para o futuro do setor, a cadeia da ma tem buscado, ao longo dos anos, adequar-se a mudanas e, ento, se posiciona de maneira a assegurar a qualificao tcnica da produo. Nesse sentido, ainda, tem iniciativas que beneficiam todo o setor a partir da boa organizao que os produtores apresentam.
Dentre os motivos que levam o setor a permanecer em constante atualizao est a necessidade de manter o mercado conquistado e expandir os negcios, impedindo que produtos de outros pases ganhem mercado. Alm disso, importante ressaltar que crescem cada vez mais as exigncias dos consumidores quanto sade e cuidados com o meio ambiente, por isso deve ser constante a preocupao com a sustentabilidade da produo.
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Um dos gargalos que o setor apresenta so as dificuldades de ampliao da capacidade de produo dos pomares brasileiros. O incio das atividades inovativas da cadeia da ma para resolver a condio dos pomares e apresentar sociedade uma fruta com controle de qualidade se deu com a implementao da Produo Integrada de Ma (PIM).
Assim, este estudo, realizado com os dados coletados para dissertao de mestrado desta autora, tem como objetivo central descrever a implementao da produo integrada de ma, cujos resultados mostram uma nova viso no que se refere forma como se faz o manejo da cultura e a conservao do solo com vistas a apresentar uma fruta com garantia de sanidade alimentar aos consumidores, alm de dar segurana para quem trabalha nos pomares.
Nesse sentido, a pergunta que conduzir esta anlise : a implementao da PIM pode ser considerada um processo de inovao interativo?
Compem este estudo, alm desta introduo, o captulo 2, que aborda o referencial terico sobre processos de inovao, cadeia produtiva da ma e PIM; o captulo 3, sobre o mtodo de pesquisa utilizado; o captulo 4, dos resultados e o captulo 5, com as consideraes finais.
2 REFERENCIAL TERICO
2.1 Processo de Inovao
Atualmente, a competitividade das empresas est associada sua capacidade de inovao. E essa capacidade depende das habilidades de reconhecimento e de aproveitamento das oportunidades de mercado, sem esquecer-se de combinar eficientemente os fatores produtivos em funo das oportunidades identificadas.
A conjugao desses fatores, tambm chamada de eficincia dinmica, sofre dependncia, direta e indireta, das competncias da empresa no instante em que ocorre o gerenciamento das mudanas, tanto das tecnologias, quanto dos processos utilizados na produo. Essas tecnologias devem ser direcionadas aos recursos e s atividades de inovao. Para Bell e Pavitt (1995), as competncias ou o processo de capacitao tecnolgica configuram o processo de aprendizado em que as habilidades e os conhecimentos aplicados ao negcio so adquiridos por indivduos e pelas organizaes.
Uma empresa, para ser considerada inovadora, deve apresentar caractersticas tais como: habilidade estratgica e viso de longo prazo; habilidade para identificar e participar das tendncias de mercado, assim como para absorver informaes tecnolgicas e relacionadas ao meio econmico;
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habilidade organizacional, em que o gerenciamento do risco tem prevalncia da mesma forma que a cooperao interna e externa; e, ainda, habilidade para fomentar o envolvimento de toda a empresa (reas, setores ou departamentos) nas mudanas, contemplando, portanto, o investimento em recursos humanos. Essas empresas fazem parte do grupo das consideradas bem-sucedidas, nas quais as atividades inovadoras so o resultado de inovaes efetivas (OECD, 2004).
Com isso, possvel ressaltar que o fenmeno da globalizao gera uma necessidade crescente de diferenciao em produtos e em servios (CHESBROUGH, 2006). Assim sendo, a busca pela diferenciao passa quase que obrigatoriamente pelo processo de inovao (DRUCKER, 1985; KLINE & ROSENBERG, 1986; DOSI, 1988; DRUCKER, 2002; DAMANPOUR, 1991).
Dessa forma, novos produtos e/ou novos servios, novos procedimentos e novas tecnologias para produzir ou entregar produtos e/ou servios, e mesmo novos sistemas competitivos podem proporcionar vantagens econmicas para as empresas, as quais podem tanto elevar seus lucros e rentabilidade quanto manter ou, at mesmo, ampliar, seu nvel de competitividade no mercado (PENNINGS, 1998).
O cenrio competitivo que as organizaes vm encontrando est sendo cada vez mais desafiador e vem deixando seus gestores preocupados. O principal motivo disso no unicamente o fato de haver mudanas constantes, mas sim a velocidade acelerada, a incerteza, os riscos e as vulnerabilidades implcitas de como elas esto ocorrendo. medida que o ritmo das mudanas se acelera, as organizaes no podem mais confiar em suas antigas prticas de negcio, sendo necessrio, portanto, inovar permanentemente (KOTLER & KELLER, 2006).
A inovao descrita por Tidd, Bessant e Pavitt (2005) como o processo central associado renovao dentro da organizao, de modo a reanim-la no que se refere ao que ela oferece, cria e distribui ao mercado. Segundo os citados autores, vista dessa forma, a inovao uma atividade de natureza genrica, associada sobrevivncia e ao crescimento das empresas. Como esse processo abstrato, pode ser considerado como base para todas as organizaes.
Esses mesmos referidos autores argumentam, ainda, que o processo de inovao envolve as etapas de: prospeco dos ambientes, interno e externo, para identificar e processar sinais relevantes sobre oportunidades e ameaas relacionadas mudana; decises baseadas em uma viso estratgica de como as empresas podem melhor se desenvolver, as quais devem responder aos sinais identificados na etapa anterior; obteno de recursos que possibilitem a resposta, seja criando algo novo por meio de pesquisa e desenvolvimento (P&D), seja adquirindo algo externo mediante a transferncia de tecnologia; implementao do projeto a partir do desenvolvimento tecnolgico e dos mercados interno ou externo para responder efetivamente s demandas de mercado.
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O processo de inovao evoluiu, indo de uma viso estritamente sequencial para uma abordagem mais interativa. Os modelos sequenciais apresentam uma viso mais simples da inovao, provinda de laboratrios cientficos e empurrada para o mercado ou demandada, puxada, e desenvolvida a posteriori. Esses processos sequenciais demonstram que, na prtica, a inovao um processo de aprendizagem que envolve o encontro entre a possibilidade tecnolgica, a competncia e a necessidade de mercado. A inovao, algumas vezes, apresenta-se de uma forma empurrada (push) e, em outras, puxada (pull), embora, na maioria das vezes, um processo de inovao bem-sucedido requeira a interao das duas abordagens (TIDD et al., 2005).
Para Rothwell (1994), os fatores gerenciais, organizacionais e tecnolgicos contribuem para maior velocidade e eficincia na inovao. Nesse sentido, podem-se destacar: a estratgia, baseado no tempo em que ser rpido e inovador pode vir a se tornar uma vantagem competitiva; o compromisso e suporte da alta gerncia, e o envolvimento da direo desde o incio do projeto, para evitar mudanas e retrabalho; a preparao adequada que mobiliza compromissos e recursos, avalia, analisa e planeja o projeto com vistas a obter apoio e a ter compromisso da corporao e da equipe envolvida no projeto; a eficincia nas atividades indiretas, uma vez que a administrao, o controle do projeto e a coordenao podem responder por at 50% do tempo total, exigindo aes que garantam sua eficincia para reduzir o impacto em tempo e custo. Tambm, a adoo de uma estrutura horizontal, com menores nveis hierrquicos, dando autonomia aos gerentes, e um menor nmero de nveis, o que implicaria menos atrasos na aprovao de providncias; os campees de produto e lderes de projetos comprometidos e com poder contribuem para a rapidez e o sucesso do desenvolvimento de produto; ainda, a alta qualidade na especificao inicial do produto, que reduz o impacto do tempo e dos custos associados a mudanas no planejadas.
Alm disso, Tidd et al. (2005) destacam que a inovao pode ser definida como um processo que visa a transformar as oportunidades em novas ideias e coloc-las em prtica. Segundo esses autores, a inovao no implica necessariamente a criao, produo e comercializao apenas dos maiores avanos daquilo que tido como o estado da arte em tecnologia, o que chamado de inovao radical. Para eles, a inovao e a tecnologia caminham juntas, pois a inovao tambm pode incluir mudanas em pequena escala nas tecnologias j utilizadas atualmente, caracterizando uma melhoria, mudana gradativa ou inovao incremental, em que a incluso de processos ambientais tambm pode trazer benefcios para as organizaes (KLEINDORFER; SINGAL; VAN WASSENHOVE, 2005).
Posto, a inovao precisa ser adequadamente planejada, levando-se em considerao a situao em que se encontra a organizao; ela deve ser implementada com o objetivo de que se torne uma ferramenta capaz de gerar competitividade, caso contrrio, as chances de fracasso em projetos envolvendo introduo de inovao aumentam e, ao se concretizarem, os resultados podem atingir
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propores indesejveis. Aps sua implementao, a inovao dever ser potencializada ao mximo para ser adequadamente adotada por indivduos e grupos que compem a organizao.
As atividades de cincia, tecnologia e inovao apresentam grande complexidade nos seus processos e isso fomenta propostas de modelos de processos mais sintticos para a promoo da inovao.
Exemplo disso o modelo linear de inovao surgido aps a 2 Guerra Mundial e dominante nos pensamentos sobre inovao por muito tempo. Outro modelo, que se contraps ao modelo linear, o proposto por Kline e Rosenberg (1986), qual seja o modelo interativo.
O modelo linear de processos de inovao apresenta, de forma ampla, os processos de desenvolvimento, produo e comercializao. Todas as etapas tm sequncia e tempo definido para ocorrerem, isso quer dizer que delas se originam pesquisas ou estudos, que resultam no desenvolvimento do produto, da produo, e, normalmente, feita a comercializao do bem (OCDE, 1992).
O processo interativo e multidirecional apresenta o processo de inovao com mltiplas interfaces de relacionamento entre a pesquisa e a atividade econmica envolvida e no apenas com uma nica etapa (inveno) em que o conhecimento usado pelo sistema econmico (NELSON; WINTER, 1982; DOSI et al., 1988; FREEMAN, 1974; ROSENBERG, 1979).
O modelo interativo de inovao cujo centro a empresa , por combinar interaes em uma organizao ou em um segmento entre as empresas individualmente e o sistema de cincia e tecnologia, o modelo utilizado, neste estudo, como base para a anlise da implementao da PIM na cadeia produtiva da ma brasileira.
Assim, da empresa que surgem as aes que iro nortear o processo de inovao, a partir das necessidades que o mercado apresenta, sempre se baseando no conhecimento cientfico preexistente e buscando novos conhecimentos.
Diante do apresentado, possvel perceber que a pesquisa cientfica pode interferir e auxiliar os processos de inovao em seus diversos estgios. Ento, os caminhos do modelo interativo de inovao apresentados pelos citados autores passam: pela empresa, a partir das necessidades apresentadas pelo mercado; o centro do processo; pelas realimentaes (KLINE; ROSENBERG, 1986), que fazem emergir especialmente as inovaes incrementais, pelas quais so percebidas as potencialidades e, desse modo, com as interaes existentes, as oportunidades de processos inovativos vo se efetivando; pela pesquisa, utilizada aps detectar uma necessidade na empresa ou para dar continuidade pesquisa j realizada; pela tecnologia gerando cincia e atravs da qual so utilizadas as contribuies da produo para a gerao de pesquisa. Percebe-se que a existncia de feedback entre a
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pesquisa cientfica e a manufatura da empresa atributo central na ocorrncia do processo de inovao no modelo interativo.
2.2 Inovao em Processo
O Manual de Oslo (OECD, 2004) apresenta as inovaes em processos como sendo a adoo de novas formas e/ou mtodos de produo, ou, ainda, essas formas e mtodos significativamente modificados. Disso deve-se ter como resultado melhoria de produtividade, reduo de custos, maior durabilidade de equipamentos e dos processos, dentre outros.
Muitas so as referncias que ressaltam que as inovaes em processos, para terem sucesso, dependem das habilidades empregadas no seu desenvolvimento, na implementao e na constante melhoria que deve haver especialmente nas inovaes incrementais. Os processos podem apresentar avanos significativos tanto na gerao de novos equipamentos, automatizao, mas sempre deve haver mudanas evoluindo continuamente (BESSANT et al., 1994).
Para COTEC (1998), as principais ferramentas para o gerenciamento da inovao em processo so a change management (gesto de mudanas), que corresponde s mudanas nas organizaes com melhorias incrementais em processo ou produto, com objetivo de reduo de custos e aumento de produtividade. Melhoria contnua pela qual constantemente ocorrem mudanas e avanos juntamente com o pensamento enxuto (lean thinking), com anlises dos processos internos ou externos da empresa, os quais auxiliam na identificao de desperdcios e atividades que no agregam valor.
2.3 Cadeia produtiva da ma e PIM
A cadeia produtiva da ma brasileira constituda pelos elos: produo de insumos, produo agrcola, classificao, embalagem, armazenamento, distribuio e comercializao. Fazem parte da cadeia grandes empresas integradas verticalmente, que produzem ma e so caracterizadas por alto grau de integrao vertical, alm de serem controladoras da classificao, embalagem e do armazenamento. Alm disso, muitas dessas organizaes possuem viveiros de mudas de macieiras, fazem o processamento e tambm realizam o transporte da fruta. Produzem ma em vrios estabelecimentos e os pomares tm rea superior a 100 hectares; em muitos casos, complementam sua produo fazendo integrao com pequenos e mdios produtores (EMBRAPA, 2010).
Os pequenos e mdios produtores de ma se distinguem das grandes empresas no apenas pelo tamanho do estabelecimento rural, mas tambm pela forma de gesto e pelo tipo de trabalho
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empregado. Eles atuam principalmente em classificao, embalagem e armazenamento e comercializao (EMBRAPA, 2010).
O Brasil conta com as normas Produo Integrada de Fruta (PIF) e Produo Integrada de Ma (PIM). Essas normas estabelecem os parmetros para o uso de agrotxicos e fertilizantes, controle de pragas, manejo do solo, empacotamento e demais processos da cadeia (EMBRAPA, 2010).
O Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento (Mapa) divulgou que, em 2007, 54,3% das mas produzidas no Pas apresentavam conformidade com a norma PIM. A PIM apresenta as tcnicas a serem utilizadas para produo de alimentos de alta qualidade, com tcnicas de manejo que asseguram a manuteno dos mecanismos de regulao natural das culturas e das pragas, garantindo o uso adequado de agroqumicos nas frutas, evitando, com isso, aes prejudiciais ao homem e ao meio ambiente (SANHUEZA; OLIVEIRA, 2006).
A ma foi a primeira fruta brasileira certificada e que recebeu a logomarca PIM. Essa certificao traz vantagens tanto para o produtor quanto para o consumidor. O produtor tem a organizao da base produtiva com produtos de melhor qualidade, maior valorizao do produto e maximizao de lucros, diminuio dos custos de produo, produto diferenciado, competitividade e permanncia nos mercados. Com a certificao, o consumidor tem a garantia de alimentos mais saudveis e de melhor qualidade e ndice de agrotxicos de acordo com os padres brasileiros e internacionais (EMBRAPA, 2010).
A PIM um sistema moderno para produo de frutas e outros produtos agropecurios submetidos a controles permanentes. Esse processo garante a obteno de produtos com caractersticas de segurana para consumidor, produtor e trabalhadores rurais alm de assegurar a preservao do meio ambiente (EMBRAPA, 2010).
O termo Produo Integrada foi criado na dcada de 70, na Europa. Surgiu da preocupao com o manejo integrado de pragas, sendo considerada uma estratgia a ser utilizada para racionalizao e reduo de uso de agroqumicos e de sustentabilidade da atividade frutcola. Na poca, percebeu-se a necessidade de adequar os componentes do sistema produtivo, reduzindo a quantidade de agroqumicos de maior risco e preservando a produo e a produtividade da cultura para a obteno de produtos com maior qualidade ao consumo.
Essa proposta teve como consequncia a criao de grupos de trabalho, com especialistas de diferentes pases, para obter a definio, o alcance e a organizao dos sistemas de PIF. No ano de 1989, surgiu um regulamento que foi aceito e reconhecido pela Organizao Internacional de Luta Biolgica de Pragas (IOBC) (EMBRAPA, 2010).
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De acordo com a Embrapa (2010), o Sistema de Produo Integrada est estruturado com caractersticas, como: documento em que constam as normas para a produo integrada e tambm as prticas a serem seguidas em cada cultura; determina os agroqumicos registrados permitidos para a cultura, os que tm restries, e os proibidos. Apresenta, ainda, a dose e a situao em que seu uso permitido. O Ministrio da Agricultura e instituies reguladoras de qualidade estabelecem as condies para a fruta ser certificada pela Produo Integrada. Eles credenciam entidades privadas ou pblicas que no sejam vinculadas aos produtores para serem certificadoras.
Essas empresas atuam diretamente nos pomares, fiscalizando o cumprimento das normas preestabelecidas para a cultura. O produtor ou tcnico responsvel da propriedade agrcola que optou pelo uso da norma em seu pomar assina contrato com uma empresa certificadora e se compromete a receber treinamentos peridicos, fazer o preenchimento rotineiro dos registros das atividades desenvolvidas na rea de produo em sua propriedade. Alm disso, aceita o controle realizado pela certificadora em relao ao cumprimento das normas e fornece amostras para que ela faa anlises quanto aos resduos agroqumicos periodicamente. No final da safra, o processo analisado nas propriedades, e qualquer atividade realizada fora das normas significa o desligamento do sistema. O cumprimento total das Normas detectado em cadernos de campo, visitas de fiscalizao e, obtendo-se resultados satisfatrios nas anlises, o produtor recebe a autorizao para comercializar seus produtos com o selo de Produo Integrada.
3 MTODO DO ESTUDO
Em uma pesquisa cientfica, o mtodo tem a inteno de apresentar os passos realizados a fim de atingir os objetivos propostos para a pesquisa em ao. Dessa forma, este estudo, referindo-se ao mtodo e relacionando-o com o objetivo proposto, pode ser considerado exploratrio, especialmente por fazer uma anlise do objeto de estudo e do problema proposto.
O carter exploratrio justificado pela utilizao dos conceitos de processos de inovao; e o seu uso, para anlise da implementao de um novo procedimento nos pomares de ma desde o plantio at a entrega da fruta pelos canais de distribuio.
Referindo-se aos procedimentos, esta anlise pode ser classificada como pesquisa bibliogrfica, embora tenha tambm se baseado em dados coletados em entrevista realizada com especialistas da cadeia produtiva da ma, os quais participaram dos estudos para a elaborao do projeto da produo integrada, da viabilidade da sua implementao, da implementao propriamente dita e dos resultados aps implementao.
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Para Koche (1997), a pesquisa bibliogrfica tem a inteno de ampliar os conhecimentos em reas distintas, alm de dominar aqueles j existentes e assim us-los como base para elaborao de modelos tericos. Dentre os documentos utilizados para estudo esto o manual de implementao da PIM, os cadernos de campo, e outros documentos da Embrapa e de algumas empresas da cadeia produtiva.
A anlise de contedo foi a tcnica de pesquisa adotada para anlise dos resultados. A anlise de contedo utilizada para descrever e interpretar o contedo de documentos e textos, que conduz a descries sistemticas, alm de auxiliar na interpretao dos dados (BARDIN, 1977).
A seguir vem a anlise dos dados coletados com os especialistas. O foco da anlise foi o processo de implementao da PIM na cadeia da ma, as entrevistas foram realizadas nas cidades de Vacaria (RS), So Joaquim e Fraiburgo (SC).
Foram doze entrevistas com especialistas da cadeia produtiva da ma brasileira, dentre eles, engenheiros agrnomos, administradores de empresas, gestores e diretores. Alm das entrevistas individuais, foram utilizadas outras fontes para levantamento de dados, como documentos das associaes de produtores e da EMBRAPA. Essa etapa foi importante, por ser mais uma forma de evidncia de dados no objeto de estudo, seja durante as entrevistas individuais em profundidade, seja durante as observaes diretas realizadas nas empresas integrantes da cadeia produtiva da ma.
4 ANLISE DOS DADOS LEVANTADOS
A seguir, ser feita a anlise das entrevistas realizadas no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina com especialistas da cadeia produtiva da ma. A inteno verificar se os relatos dos especialistas comprovam os passos seguidos por um processo de inovao interativo.
A EMBRAPA Uva e Vinho, no ano de 1996, iniciou os trabalhos com uma discusso sobre as abordagens mais adequadas a serem seguidas para dar condies para implementao da PIM. Na sequncia, as informaes foram discutidas com tcnicos de rgos de pesquisa e assistncia tcnica pblica e privada, diretamente ligados produo de mas e, ento, apresentaram o projeto da PIM para discusso e avaliao com os representantes dos produtores (SANHUEZA; OLIVEIRA, 2006).
A seguir, so colocadas as opinies dos especialistas entrevistados sobre os motivos que levaram a cadeia produtiva da ma a implementar a PIM e como ocorreu o processo:
Especialista 01: o presidente da Agapomi relata que a PIM teve incio das suas atividades por meio de congressos e discusses entre diversos rgos em que todos os integrantes da cadeia da ma
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foram convidados a participar; a adeso era voluntria ao sistema a ser implementado, no sendo obrigatrio que os membros aderissem a PIM. Ele acredita que apenas 10% dos integrantes da cadeia no participaram e no se envolveram com as reunies, os encontros, as discusses, os dilogos, etc.
Especialista 02: os trabalhos iniciais foram conduzidos pela EMBRAPA, com a participao de empresas envolvidas no experimento e de instituies de pesquisa. Em um segundo momento, houve a participao dos fornecedores de insumos, visando a identificar os melhores produtos a serem utilizados ou a mudar a tecnologia de produo. Num terceiro momento, houve a tentativa de envolver atacadistas e varejistas, demonstrando a necessidade e as vantagens da Produo Integrada, mas esse setor no se envolveu com o processo. Acredita-se que isso ocorreu em funo de que o consumidor final no conhece e/ou no procura pelo produto com certificao, a preocupao est voltada para preo e no controle sanitrio e de agrotxicos.
Especialista 03: a PIM foi implementada com a coordenao da Embrapa e da Empresa de Pesquisa Agropecuria e Extenso Rural de Santa Catarina (Epagri). No incio, foi realizado experimento-piloto com quatro empresas, cada uma com dez hectares. Na seqncia, outras empresas aderiram ao projeto com apoio das associaes de produtores, especialmente da http://www.abpm.org.br/
Web End =Associao Brasileira http://www.abpm.org.br/
Web End =de Produtores de Ma (ABPM), e foram certificadas com a PIM aps passarem pelo perodo de quarentena. Foi, ento, testada a reduo do uso de produtos e de adubao. Um Comit, composto de produtores, agrnomos e pesquisadores, props tcnicas que foram consideradas mais apropriadas para produo, dentre elas: distncia das mudas no plantio, tratamento, quantidade de produto, etc. Com essas modificaes, precisava-se avaliar se as modificaes davam resultados e, consequentemente, se a ma poderia ser produzida dessa forma, da a importncia dos experimentos. O sistema foi validado, foram elaboradas as normativas, o Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) validou as normas e as certificadoras independentes, as quais receberam tambm o treinamento necessrio e a autorizao para a atuao na certificao.
Especialista 04: a coordenao do projeto foi da Embrapa. Todos os integrantes da cadeia produtiva foram convidados a participar, e aqueles que aderiram ao projeto se envolveram na implementao. Foram organizados trs grupos, por proximidade do setor, para participao. Dessa forma, Vacaria agrupava Caxias do Sul e toda Serra Gacha. So Joaquim agrupava a Serra de Santa Catarina, e Fraiburgo concentrava Palmas no estado do Paran. A validao se deu por meio da elaborao de uma norma tcnica que foi adequada de acordo com as normas de Produo Integrada. Durante trs anos aconteceram os experimentos em uma rea de 100 hectares nas empresas que se dispuseram a realizar, em seus pomares, a produo de acordo com a PIM. Foram diversos dias de campo, visitas aos pomares, com trocas de experincia entre produtores, tcnicos e pesquisadores e, na sequncia, o Inmetro realizou a certificao da cadeia produtiva da ma brasileira com a norma PIM.
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PIM processo inovador na cadeia produtiva da ma brasileira
Especialista 05: participaram da implementao da PIM muitos produtores, agrnomos, o nvel tcnico das empresas produtoras, do governo e da pesquisa. Os demais componentes da cadeia (fornecedores, clientes, mercado, mdia) no se envolveram e no reconhecem ou no do valor certificao PIM. O que faltou foi dar PIM o status de reconhecimento cabvel.
Ento, no ano de 1997, iniciaram-se as reunies para definio de normas e procedimentos para a PIM no Brasil. Em 1998, foi publicado um documento baseado nos conceitos estabelecidos nas Normas Europeias para Produo Integrada, e seu contedo continha os conhecimentos bsicos de produo de mas e aqueles gerados pelas pesquisas no Pas (SANHUEZA; OLIVEIRA, 2006).
Em 1998, todo o segmento envolvido, ou seja, Embrapa Uva e Vinho, Epagri, UFRGS, Instituto Biolgico de So Paulo, e a ABPM, determinaram as cinco reas localizadas nos trs municpios com maior produo da fruta no Brasil, quais sejam: no Rio Grande do Sul, o municpio de Vacaria; e, em Santa Catarina, os municpios de Fraiburgo e So Joaquim. As espcies a serem avaliadas eram Gala e Fuji, iniciando a comparao do sistema integrado e o convencional de produo de mas. Em cada local, reas de 3,4 a 6,4 hectares foram alocadas para cada variedade com o novo sistema de produo, num total de 100 ha de rea sob avaliao (SANHUEZA; OLIVEIRA, 2006).
Aps a construo de toda a base, foi elaborado um projeto (julho 19982002) para comparao dos dois sistemas de produo quanto aos itens: qualidade da fruta; produtividade das reas; incidncia de pragas e doenas e distrbios fisiolgicos; resduos de pesticidas; caractersticas de conservao das mas; caractersticas fsico-qumicas do solo, composio da populao das invasoras e relao custobenefcio (SANHUEZA; OLIVEIRA, 2006).
Aps os processos iniciais, foi realizado o acompanhamento das reas plantadas e, nos ltimos dois ciclos vegetativos (19981999 e 19992000), foram real0izadas visitas aos pomares, coletas de amostras para anlise e reunies do grupo para verificar as condies de manejo da ma. As atividades tiveram participao de agrnomos e tcnicos dos cinco pomares em estudo. Alm disso, houve treinamentos ministrados pelos pesquisadores e foi feita avaliao do aproveitamento pelos tcnicos responsveis pelas reas de produo (SANHUEZA; OLIVEIRA, 2006).
Nas ltimas etapas de anlise, alm dos produtores das primeiras reas experimentais, outros produtores introduziram os procedimentos nos seus pomares, tendo como base para suas prticas agrcolas as Normas para a Produo Integrada de Ma. Dessa forma, no ciclo 19992000, no estado do Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, aproximadamente 250 hectares de macieiras seguiam a Produo Integrada (SANHUEZA; OLIVEIRA, 2006).
As vantagens citadas da PIF e sua viabilidade para adoo no Brasil, demonstrada pelo trabalho com a ma, fizeram com que instituies de pesquisa e de ensino brasileiras aceitassem e
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implantassem esse sistema de produo nas demais culturas agrcolas do Pas. Houve, ento, e existem ainda estudos sobre as Normas para Produo Integrada nas culturas de uva e manga no Vale de So Francisco, de citros, mamo papaia, coco e uva vinfera (EMBRAPA, 2010).
O ganho em competitividade que as culturas com sistema de Produo Integrada apresentam bem como as vantagens relacionadas preservao do meio ambiente e da sade dos trabalhadores faz com que o Ministrio da Agricultura d prioridade s atividades relacionadas com pesquisa e desenvolvimento da Produo Integrada e tambm oferea apoio para as aes de regulamentao e organizao da PIF no Brasil (EMBRAPA, 2010).
Ainda de acordo com as opinies dos especialistas, dentre os motivos que levaram a cadeia da ma a implementar a norma PIM esto:
Especialista 01: o presidente da Associao Gacha dos Produtores de Ma (Agapomi) relata que a norma PIM teve sua implementao a partir das exigncias apresentadas pelo mercado e pelos consumidores de sade e segurana alimentar, de acordo com as quais a fruta in natura tem grande importncia, alm de buscar a preferncia do consumidor com a eliminao de agrotxicos, molculas e elementos nocivos sade presentes nos defensivos agrcolas.
Especialista 02: esse entrevistado participou da equipe de discusso sobre a elaborao do projeto e a implementao da Norma na empresa na qual trabalha fazendo parte do grupo que comps os setores experimentais com duas reas com Produo Integrada e duas com Produo Convencional. Para ele A PIM surgiu para: atender s exigncias do mercado, especialmente o mercado externo; suprir as necessidades de reduo dos custos de produo; ser necessrio escolher uma tecnologia mais apropriada; e buscar uma nova forma de organizao de trabalho para produo de ma. Alm disso, a Produo Integrada foi implementada objetivando que se tivesse uma viso geral do sistema produtivo, como o manejo diferenciado de pragas, controle e reduo do uso de agrotxicos, preservao ambiental e preocupao com a sade do trabalhador.
Especialista 03: segundo o entrevistado, a PIM demonstraria que a cadeia produtiva da ma tem uma organizao na aplicao de produtos, no restando resduos alm dos tolerveis para o consumo humano e tambm pensando na sustentabilidade da cultura, com uso controlado de agrotxicos, trazendo para a cadeia, como um todo, a sustentabilidade econmica e ambiental. A implementao agregou aprendizado para a forma de se trabalhar com a ma e serviu de merchandising para o setor; o consumidor pde perceber nas divulgaes da certificao o cuidado dispensado produo da fruta, as anlises feitas, ou seja, o consumidor perdeu um pouco do medo de consumir a fruta.
Especialista 04: para esse especialista, a Produo Integrada foi implementada porque a diretoria da ABPM nessa ocasio considerou que com esse sistema poderia melhorar, em um curto
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perodo de tempo, os processos de gesto da propriedade, alm de ser uma oportunidade de o grupo tcnico envolvido implementar o sistema no setor. A PIM seria uma nova forma de gerenciamento dos manejos dos pomares e apresentaria a possibilidade de realizao de rastreabilidade e segurana alimentar para toda a produo de ma brasileira.
Especialista 05: de acordo com esse especialista, a norma PIM surgiu para oferecer um produto mais limpo para o consumidor e por exigncia de mercado consumidor. As atividades de implementao tiveram incio com a elaborao das normativas e dos procedimentos de manejo da cultura da ma. A norma regulamentava as estratgias a serem utilizadas desde o plantio at a colheita, utilizando somente produtos com registro nos rgos oficiais para a cultura, cumprindo os prazos de carncia dos produtos para que se tivessem produtos com nveis de resduo permitidos para o consumo humano.
Especialista 06: a norma Produo Integrada de Ma foi implementada por ser considerada, na poca, a melhor forma de o produtor se organizar e tambm para garantir ao consumidor um produto de melhor qualidade e respeitando o meio ambiente. Isso ocorreu porque houve uma integrao entre diversas instituies de pesquisa, tcnicos e produtores.
Especialista 07: na opinio do Presidente da Comisso Tcnica da Produo Integrada de Mas (CTPIM), a Norma foi implementada a partir da necessidade de oferecer ao consumidor uma fruta com produo controlada e, consequentemente, segurana alimentar, alm do surgimento da possibilidade de que a ma brasileira fosse exportada. A participao dos integrantes aconteceu de forma voluntria, o que facilitou o envolvimento de todos no processo e facilitou a conduo das atividades para a concretizao das Normas e do protocolo criado para consolidar o processo de certificao.
Especialista 08: esse entrevistado e especialista da cadeia produtiva da ma diz que a ideia da PIM surgiu em funo das necessidades apresentadas pelo mercado interno e principalmente em funo da exportao da fruta para o mercado externo. Para ele, o presidente da ABPM foi uma das pessoas que, no incio da realizao dos levantamentos, mais se envolveu para que o sistema fosse viabilizado. Sua contribuio se deu realizando a traduo dos documentos do sistema de Produo Integrada adquiridos fora do Brasil.
Especialista 09: para esse especialista, a cadeia produtiva da ma, aps passar por alguns momentos de dificuldades e situaes desfavorveis que levaram o consumidor a desconfiar da forma como a fruta era produzida e da quantidade de agrotxicos na fruta, optou por iniciar os estudos no sentido de encontrar um sistema que pudesse trazer a confiana do consumidor e garantir melhorais para os produtores da fruta.
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Especialista 10: esse especialista ressalta os motivos citados pelos demais especialistas, ou seja, a Norma veio para suprir uma demanda do mercado externo e para se produzir uma fruta com melhor qualidade.
Especialista 11: a opinio desse especialista da cadeia que faz parte da direo da ABPM, tambm diretor de uma das maiores empresas produtoras de ma e de outros frutos do Brasil, que como o Brasil se tornou um exportador de mas para pases com grande exigncia em segurana alimentar, fazia-se necessrio termos uma legislao brasileira compatvel com as vrias internacionais, das quais j ramos certificados. Anteriormente implementao da PIM, a ABPM, em seu departamento de Qualidade, havia implementado o Selo de Qualidade de Classificao de Mas ABPM. O sistema estava funcionando h uns seis meses, com uma estrutura tcnica brilhante e atuante, que auditava os produtores e fiscalizava a classificao da ma, observando aspectos de segurana alimentar, meio ambiente, qualidade e respeito ao trabalhador. Mantinha o selo nas caixas de mas e comunicava isso a clientes, criando diferencial (confiana no produto). Surgiu ento a PIM projeto com os mesmos princpios das certificaes como Eurepgap, amplo sistema de regras para a adequada prtica da agricultura com o objetivo de assegurar a proteo do consumidor e do meio ambiente e melhorar o bem-estar social e dos animais. O Natures Choice foi o protocolo desenvolvido para garantir que todos os tipos de frutas, vegetais e saladas comercializados por essa cadeia provm de produtores que aplicam Boas Prticas Agrcolas, trabalham de um modo responsvel em termos ambientais e com preocupaes com a sade e o bem-estar dos seus colaboradores. A Fischer participou de todo o processo de implementao, inclusive foi a primeira empresa brasileira a implementar a PIM, detendo o selo n. 1. Ele ressalta que mantiveram-se na PIM os mesmos controles utilizados pela equipe tcnica responsvel pela implementao do Selo de Qualidade de Classificao de Mas ABPM.
Especialista 12: segundo esse especialista e pesquisador do setor, a produo integrada foi implementada como forma de melhor organizar o setor a partir das exigncias tanto do mercado como do consumidor. O pesquisador participou do comit tcnico, que, desde o incio do processo, avaliou as tecnologias que fariam parte da norma na cadeia da ma. A EMBRAPA de Bento Gonalves assumiu a coordenao da equipe de elaborao e efetivao dos processos juntamente com a Empresa de Pesquisa Agropecuria e Extenso Rural de Santa Catarina (Epagri), estaes experimentais de So Joaquim e de Caador, e buscou parceiros para a realizao dos experimentos. Com base nos sistemas de Produo Integrada da Europa e outros pases, foram estabelecidas e discutidas as diretrizes da Norma PIM no Brasil.
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5 CONSIDERAES FINAIS
Percebeu-se que a implementao da PIM pela cadeia produtiva da ma seguiu os passos propostos pelos autores no que se refere ao processo interativo de inovao. Uma vez que houve envolvimento de institutos de pesquisa, tcnicos, especialistas, etc. com retroalimentaes constantes. Para Kline e Rosenberg (1986), isso permite o surgimento especialmente das inovaes incrementais, j que so percebidas as potencialidades de inovao por meio do uso e, ento, se retroalimentam todas as fases.
Ainda para Kline e Rosenberg (1986), a retroalimentao o caminho direto de e para a pesquisa, a realizao de uma necessidade apresentada pela empresa, ou, ainda, para pesquisa aproveitada pela empresa.
As empresas, a partir da necessidade apresentada pelo mercado, solicitaram os estudos EMBRAPA Uva e Vinho, que, juntamente com outros institutos de pesquisa, elaborou o projeto para que fosse posteriormente implementado dando incio a uma nova forma de produo da ma brasileira.
A EMBRAPA coordenou todas as etapas, porm, a partir das entrevistas, foi possvel perceber que as interaes e os feedbacks, citados como fundamentais para que um processo de inovao interativo acontea, foram notados em todas as etapas, fazendo com que os processos fossem alimentados e realimentados sempre que necessrio.
A cadeia produtiva da ma brasileira pioneira em inovaes no agronegcio mostra, com a PIM, que realizar os processos inovativos por meio de organizao com os diversos segmentos, ou seja, realizao de estudos de viabilidade, sistemas mais adequados e com participao dos atores envolvidos, como resultado, suprir necessidades e demandas.
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INTEGRATED PRODUCTION OF APPLE (PIM) - INNOVATIVE PROCESS IN
PRODUCTIVE CHAIN OF BRAZILIAN APPLE
ABSTRACT
With the implementation of Integrated Production of Apple (PIM), the chain of Brazilian apple
demonstrated concern with the demands presented by the consumer market and, moreover, confirmed
their position as a pioneering segment of innovation in Brazilian agribusiness. Thus, this study aimed
to describe the implementation of the PIM, and, through interviews with industry experts who
participated in this implementation, examine whether it can be considered an interactive process of
innovation. We also consulted files of Brazilian Agricultural Research Corporation (Embrapa) and the
Brazilian Association of Apple Producers (ABPM). After analyzing the data, we considered the
implementation of the Integrated Production of Apple as an integrative model of innovation, where the
centre is a company interacting with another company or the relationship between companies and the
system of science and technology. This research found that the implementation of the PIM was an
example of innovative process carried out in the production chain of apple.
Keywords: Innovation; Integrated production; Apple production chain.
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Data do recebimento do artigo: 03/04/2012
Data do aceite de publicao: 20/08/2012
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Copyright Milton de Abreu Campanario 2012
Abstract
With the implementation of Integrated Production of Apple (PIM), the chain of Brazilian apple demonstrated concern with the demands presented by the consumer market and, moreover, confirmed their position as a pioneering segment of innovation in Brazilian agribusiness. Thus, this study aimed to describe the implementation of the PIM, and, through interviews with industry experts who participated in this implementation, examine whether it can be considered an interactive process of innovation. We also consulted files of Brazilian Agricultural Research Corporation (Embrapa) and the Brazilian Association of Apple Producers (ABPM). After analyzing the data, we considered the implementation of the Integrated Production of Apple as an integrative model of innovation, where the centre is a company interacting with another company or the relationship between companies and the system of science and technology. This research found that the implementation of the PIM was an example of innovative process carried out in the production chain of apple.
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