RAI Revista de Administrao e Inovao ISSN: 1809-2039
DOI: 10.5773/rai.v10i1.1100
Organizao: Comit Cientfico Interinstitucional Editor Cientfico: Milton de Abreu Campanario Avaliao: Double Blind Review pelo SEER/OJS Reviso: Gramatical, normativa e de Formatao
UM ESTUDO COMPARATIVO SOBRE A ADOO DE SOFTWARE LIVRE ENTRE
HOMENS E MULHERES
Adrianne Paula Vieira Andrade
Mestranda da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
mailto:[email protected]
Web End [email protected] (Brasil)
Anatlia Saraiva Martins Ramos
Doutorado na Universidade Federal do Rio de Janeiro
Ps-doutorado na Universit Pierre Mends-France (UPMF)
Professora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)
mailto:[email protected]
Web End [email protected] (Brasil)
RESUMO
Ao longo de mais de trs dcadas, a literatura em gesto vem desenvolvendo estudos sobre a adoo de
inovaes tecnolgicas. O Modelo de Aceitao de Tecnologia (TAM), a Teoria de difuso da
inovao (IDT) e a Teoria Unificada de Aceitao e Uso de Tecnologia (UTAUT) so exemplos de
abordagens tericas que tm sido amplamente utilizados para o estudo do processo de adoo de uma
nova tecnologia. Apesar dessa ampla difuso, h lacunas de estudos sobre a influncia do gnero na
adoo de tecnologia de informao. Este estudo analisa a adoo e uso de Software Livre (SL) por
parte de usurios universais e identifica as diferenas de gnero nesse processo. Atravs de pesquisa
exploratria, foram investigados 162 adotantes do SL. Como resultado da anlise qualitativa, verificou
se que a defesa da causa do SL relativamente mais forte entre as mulheres. Foram identificadas
distintas opinies quanto escolha da distribuio do SL. Notadamente, os homens pensam mais em
como o sistema ajudar seu desempenho, enquanto as mulheres do mais prioridade distribuio que
oferea uma maior facilidade de uso. O estudo avana o conhecimento e poder ajudar os gestores a
conduzir os processos de implementao de software livre nas organizaes.
Palavras-chave: Adoo de Tecnologia de Informao; Software Livre; Diferenas de Gnero.
Um estudo comparativo sobre a adoo de software livre entre homens e mulheres
1 INTRODUO
As tecnologias de informao e comunicao (TIC) so amplamente utilizadas no cotidiano das organizaes e cada vez mais se difundem nos lares brasileiros. Entretanto, de uma forma geral, os programas instalados em suas mquinas tendem a ser fechados ou exclusivos, em oposio escolha de programas livres, ou seja, aqueles em que o usurio tem o direito de executar e estudar seu cdigo fonte, assim como o direito dos desenvolvedores de conhecer, adaptar, corrigir, modificar, executar, copiar, estudar, melhorar e redistribuir o cdigo do programa. Embora no sejam os mais utilizados, os programas de computador livres, chamados de Software Livre (SL), aos poucos tm avanado em termos de popularizao e disseminao no meio empresarial e entre os usurios comuns.
O software livre surgiu com o objetivo de desenvolver um sistema operacional que fosse portvel, livre e compatvel com o Unix (R. R. Campos, 2006). Esse tipo de programa proporciona mais liberdade aos seus usurios que os sistemas proprietrios e impulsionado pela filosofia do compartilhamento do conhecimento (Silveira, 2004).
No Brasil, o governo federal vem adotando um conjunto de iniciativas para a implementao do SL. Isso tambm proveniente da medida de racionalizao de custos, os quais esto includos os gastos com licenas de software. Essa iniciativa do governo consiste em estimular o desenvolvimento do pas com um modo de produo tecnolgica diferente. Para efetivar essa proposta, foi institudo o Comit Tcnico de Implementao de Software Livre, atravs do Decreto de 29 de Outubro de 2003 para auxiliar no processo de migrao para o SL. A partir desse marco institucional, esse decreto visa estabelecer um mecanismo para que se dificulte a criao de situaes de monoplio, pois dificulta a padronizao de produtos proprietrios cujo conhecimento fechado, e facilita que uma soluo livre se torne padro (Falco, Ferraz, Lemos, Maranho, Sousa & Senna, 2005).
Diversos rgos pblicos tm migrado para aplicaes baseadas em software livre. Um dos casos emblemticos o do Banco do Brasil, que implantou o SL GNU/Linux em sua infraestrutura de internet/intranet e obteve inovao no processo de evoluo, manuteno das solues e na diversidade de solues tecnolgicas (Perestrelo, 2010). O Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (INMETRO) comeou a utilizar uma soluo de fonte aberta para gesto de seus chamados e obteve um maior controle dos atendimentos realizados, o que possibilitou a melhoria da produtividade do servio prestado (Abreu, Dias, Dalcomo & Lenini, 2010). Outro exemplo de uso bem sucedido de SL encontrado na Empresa de Tecnologia e Informaes da Previdncia Social (DATAPREV), em que softwares de plataforma aberta, livres e pblicos, so largamente
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desenvolvidos atravs de sua Unidade de Desenvolvimento de Software Livre UDSL (Lopes, 2009).
Embora possam ser elencadas essas iniciativas organizacionais, percebe-se que a adoo do SL ainda enfrenta algumas barreiras entre os usurios comuns. A adoo de uma nova tecnologia pode ser entendida como a deciso de utilizar uma inovao que se tornou conhecida por meio de um processo de difuso. Existem vrios fatores que influenciam a deciso de adoo de uma inovao (Humes, 2004). No caso do SL, considerada uma inovao tecnolgica, a deciso de seu uso uma questo de escolha da parte do adotante, a qual composta por uma srie de outras decises consecutivas que iro inferir como ser o desenvolvimento do processo de adoo e uso.
Diversos fatores de natureza comportamental podem influenciar o indivduo nessa escolha tecnolgica, tais como: utilidade percebida, facilidade de uso, risco percebido, satisfao, compatibilidade com a filosofia do software, autoeficcia e outros (Davis, 1986; Gwebu & Wang, 2011; Ong & Lai, 2004).
Ao lado desses fatores, a literatura tem mostrado que o gnero tambm possui aspecto a ser estudado quando se observa o uso de uma nova tecnologia (Hafkin & Taggart, 2001; Howcroft & Trauth, 2008; Venkatesh, Morris & Ackerman, 2000; Wajcman, 2000;).
O cenrio no Brasil confirma o gap de gnero no setor de TI. As mulheres so apenas 19% do setor de tecnologia da informao (Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios, 2009). Em particular, na comunidade de SL, h uma pequena participao de apenas 2% de mulheres entre os milhares de desenvolvedores que trabalham com software de cdigo aberto no mundo (Idg Now, 2005). Essas so questes que merecem uma ateno especial por parte das polticas pblicas que visam diminuio das barreiras de gnero, no que se refere ao ensino e formao no domnio das tecnologias de informao.
Tendo em vista esse contexto prtico e acadmico, o problema de pesquisa investigado foi: Quais as diferenas entre gneros em relao adoo do software livre (SL)? Para enderear esta questo, o trabalho teve como objetivo buscar entender o processo de adoo de SL, relacionando as atitudes e comportamentos do usurio frente a essa nova tecnologia e identificando as possveis diferenas entre usurios e usurias de SL. Os principais modelos de aceitao de tecnologias serviram como referncia para a anlise da questo de pesquisa.
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2 REVISO BIBLIOGRFICA
2.1 HISTRICO, CONCEITOS E ESTUDOS SOBRE SOFTWARE LIVRE
O conceito do software livre no novo e a sua utilizao no recente. Quando os computadores emergiram no ambiente acadmico, existia um grande intercmbio de informaes entre universidades, pesquisadores, desenvolvedores que utilizavam programas como instrumento de pesquisa, no se preocupando com registros de autorias. No momento em que essas ferramentas de programao, de desenvolvimento e aperfeioamento chegam ao ambiente corporativo, a forma de distribuio comea a ser mudada e o aspecto de comercializao vem a tona, bem como a aquisio de um software e o direito de uso passa a ter um custo significativo (Perens, 1999).
A partir da dcada de 70, o surgimento da possibilidade e efetividade de comercializao desses softwares motivou o incio do movimento mundial pela defesa do software livre. No incio de 1983, foi criado o projeto GNU e concretizado em 1985, quando Richard Stallman fundou a Free Software Foundation (FSF) a principal organizao dedicada produo e divulgao do SL. A FSF foi formada com o objetivo de promover, na comunidade de informtica, o esprito cooperativo que prevalecia em seus primrdios, onde as informaes, cdigos e mtodos de trabalhos eram livremente compartilhados (Stallman, 1999).
Segundo Stallman (1992), o software proprietrio representava um sistema impulsionador da competio ao invs da colaborao, visto que o software proprietrio caracterizado pela restrio na sua distribuio e modificao. Trs nveis diferentes de danos materiais se originam desta obstruo: menos pessoas usam o programa; nenhum dos usurios pode adaptar ou corrigir o programa e outros desenvolvedores no pode aprender a partir do programa, ou basear um novo trabalho nele. Isso faz com que a propagao do software fechado ou proprietrio negue o acesso informao e ao conhecimento.
De acordo com Saleh (2004), o projeto GNU (trocadilho para Gnu is not Unix) consistia na criao de um software livre que apresentasse as mesmas caractersticas e funcionalidades do sistema Unix, um software proprietrio. O desenvolvimento desse sistema necessitou de anos de trabalho com a colaborao de centenas de trabalhadores. Tecnicamente, o GNU como Unix, no entanto, diferentemente do Unix, o GNU d liberdade aos seus usurios.
No ano de 1992, Linus Torvald realizou a grande faceta de compilar todos os programas e ferramentas do GNU em um ncleo central, chamado de kernel. Esse ncleo viabilizou e efetivou a criao final de um sistema operacional, o qual foi denominado Linux, que se tornou o mais usado em
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todo o mundo. So inmeras as instituies nacionais e internacionais que adotaram o Linux como sistema operacional.
A partir da, foi promovida a integrao com o GNU, dando origem ao GNU/Linux, uma plataforma operacional livre, completa e multifuncional (Stallman, 1999). Uma das grandes contribuies do projeto GNU, que resultou na criao do GNU/Linux, alm do software em sua essncia, foi o desenvolvimento da General Public License (GPL), a licena de software mais utilizada em projetos de software livre, que d amparo legal e formaliza a ideologia que permeia o movimento (Saleh, 2004).
A filosofia adotada pelo software livre agir de maneira que haja uma intermediao da inteligncia humana na era da informao, garantindo a construo de uma sociedade livre, justa e democrtica (Silveira, 2004). Segundo a definio criada pela Free Software Foundation (2010), o software livre pode ser usado, copiado, estudado, modificado e redistribudo sem restrio. Essa mesma instituio estabelece os quatro tipos de liberdade para os usurios do software livre, sendo elas: Liberdade de poder executar o programa, para qualquer propsito (liberdade n 0); Liberdade de estudar como o programa funciona e adapt-lo para as suas necessidades (liberdade n1); Liberdade de redistribuir cpias de modo que o prximo possa ser ajudado (liberdade n2); Liberdade de aperfeioar o programa, e liberar os seus aperfeioamentos, de modo que toa da comunidade se beneficie (liberdade n3).
Desse modo, o SL qualquer software cuja licena garanta ao seu usurio liberdades relacionadas ao uso, alterao e redistribuio. Seu aspecto fundamental o fato do cdigo-fonte estar livremente disponvel para ser lido, estudado ou modificado por qualquer pessoa interessada (Reis, 2003).
A utilizao desse software livre para qualquer usurio e a disponibilidade de modificaes no software no obrigatria. Para adotar um SL, o usurio no precisa fazer modificaes ou gerar contribuies, isso uma questo de escolha.
O software livre no deixa de ser um software comercial; caracterizado por ser um programa livre que est disponvel para uso, distribuio e desenvolvimento comercial. No entanto, diferentemente do software proprietrio, o SL nasce e se desenvolve num contexto de pesquisa e desenvolvimento e, no momento em que entendida a sua importncia, pode ser ampliado o seu uso para a rea comercial.
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Uma das principais caractersticas do SL a disponibilizao do seu cdigo fonte, o qual pode ser acessado por qualquer usurio. No entanto, esse movimento diferencia-se do movimento open source (cdigo aberto). Embora esses dois movimentos apresentem filosofias parecidas, seus objetivos so diferentes. O Open Source refere-se apenas ao acesso ao cdigo fonte, essa uma das caractersticas do software livre, o que o torna mais abrangente e complexo. Assim, enquanto o software livre est ligado filosofia de desenvolvimento, referindo-se a questes econmicas, polticas e sociais, indo alm da garantia dos direitos de uso e acesso ao cdigo fonte, o cdigo aberto se concentra em determinar regras que possibilitem que o cdigo fonte do software o acompanhe quando este for distribudo (R. R. Campos, 2006).
Reis (2003) destacou caractersticas importantes s quais esto diretamente associadas ao software livre, que so: O uso da internet para distribuir o software e promover o seu desenvolvimento de forma descentralizada; Os desenvolvedores so tambm usurios dos produtos que ajudam a desenvolver; Existncia de interesse individual e pessoal do desenvolvedor; Forte presena do individualismo, com desenvolvedores e usurios que se tratam pessoalmente; Uso de ferramentas de comunicao e desenvolvimento distribudo.
Com isso, percebe-se que o software livre possui um grande valor agregado, representando um instrumento motivacional de crescente utilidade social.
Quando os usurios desejam implementar uma soluo livre para rodar o sistema operacional do computador, eles devem escolher uma distribuio. Assim, uma distribuio um sistema operacional Unix-like incluindo o kernel Linux e outros softwares de aplicao, formando um conjunto. Distribuies (ou distros) mantidas por organizaes comerciais, como a Red Hat, Ubuntu, SUSE e Mandriva, bem como projetos comunitrios como Debian e Gentoo montam e testam seus conjuntos de software antes de disponibiliz-los ao pblico. Como o Linux e a maior parte dos softwares includos em distribuies so livres, qualquer organizao ou indivduo suficientemente motivado pode criar e disponibilizar (comercialmente ou no) a sua prpria distribuio. Isso faz com que hoje haja registro de mais de 300 distribuies ativamente mantidas, embora menos de 20 delas sejam largamente conhecidas (A. Campos, 2006).
Alguns estudos sobre SL no contexto nacional
Saleh (2004) realizou um estudo buscando compreender a dinmica de adoo de software livre nas empresas privadas. O Estudo constatou que os gestores de TI sempre utilizam tecnologias aceitas
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pela maior parte do mercado. Dessa forma, os gestores resistem adoo do software livre de forma generalizada porque sentem que, se adotarem o SL, estaro deixando de fazer parte de uma rede muito forte na qual esto inseridos. Outro fator destacado foi a realizao de investimentos em produtos, licenas, treinamentos de software proprietrio que faz com que eles fiquem aprisionados aos padres proprietrios e impossibilita a troca para o SL.
O trabalho de R. R. Campos (2006) consistiu em uma anlise dos sistemas integrados de gesto desenvolvidos sob o modelo de SL que podem atender as empresas. O estudo verificou que existe um nmero crescente de projetos de sistemas integrados de gesto sob os modelos de SL, mas apenas 7% esto em estgio de produo estvel. Os aplicativos de SL estudados mostram-se adaptveis s pequenas empresas, mas nenhum foi feito para atender as necessidades das grandes empresas. A escassez de capacitao de pessoal dificulta o uso desses sistemas.
O estudo de Humes (2004) procurou analisar o processo de adoo de SL na USP sob a tica do usurio, identificando os fatores que motivam, restringem ou favorecem a adoo do SL na universidade de So Paulo. Os resultados demonstram que o Linux o sistema operacional mais adotado pelas Unidades da USP. Verificou-se que as crenas podem favorecer ou restringir a adoo de uma tecnologia, pois elas podem interferir na atitude em relao adoo.
2.2 ADOO DE TECNOLOGIA
O propsito essencial de modelos de adoo, uso e aceitao de tecnologia prover uma base para mapear o impacto de fatores externos sobre aqueles internos ao indivduo, como as crenas, atitudes e intenes de comportamento (Pires e Costa Filho, 2008). Alguns fatores esto diretamente relacionados com o entendimento do processo de adoo de uma nova tecnologia, como: fatores sociais (Thompson, Higgins & Howell, 1991), as questes relacionadas s crenas dos indivduos (Davis, Bagozzi & Warshaw, 1989b; Gefen, 2003; Karahanna, Straub, & Chervany, 1999), a facilidade de uso da tecnologia (Davis et al., 1989b; Venkatesh & Davis, 2000), as motivaes extrnsecas e a possibilidade de ganhos e benefcios consequentes da deciso de adoo (Davis, Bagozzi & Warshaw, 1992) etc. Cada um desses fatores inclui aspectos do ambiente tecnolgico e/ou organizacional que so projetados para eliminar os obstculos utilizao.
O modelo de aceitao de tecnologia (TAM) um dos mais usados no campo dos sistemas de informao no mundo. Uma das vantagens desse modelo que ele um modelo especfico para Tecnologia da Informao, tem uma forte base terica e amplo apoio emprico (Davis, 1989a). A finalidade do modelo TAM prover uma base para mapear o impacto de fatores externos sobre aqueles
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internos ao indivduo, como as crenas, atitudes e intenes de comportamento. O referido modelo foi formulado com o objetivo de medir estes impactos, por meio da avaliao de algumas variveis fundamentais, sugeridas por pesquisas anteriores que abordam a aceitao de computadores nas dimenses cognitiva e afetiva (Pires e Costa Filho, 2008). Os dois principais construtos do TAM so a Utilidade percebida e a Facilidade de uso.
A Teoria da Difuso de Inovaes (IDT, pela sigla em ingls de Innovation Diffusion Theory) tem sido usada desde os anos 60 para explicar o processo de adoo de inovaes (Hernandez & Mazzon, 2008). Rogers (1995) realizou estudo pioneiro, em 1962, e identificou cinco construtos que influenciam diretamente na difuso de uma inovao: Vantagem relativa (que corresponde ao construto Utilidade Percebida), Compatibilidade, Complexidade (reversa do construto Facilidade de uso), Observabilidade e Experimentao. Rogers (1995) afirmou que uma variao de 49% a 87% na taxa de adoo pode ser explicada pela percepo de que o potencial adotante avalia positivamente dessas cinco caractersticas.
A Teoria Unificada de Aceitao e Uso da tecnologia (UTAUT) o mais recente modelo terico na rea de SI para explicar o processo de adoo de novas tecnologias. Suas variveis foram obtidas de oito modelos tericos que tem maior influncia na aceitao de tecnologia, provenientes da psicologia, sociologia e da rea de sistema de informao (SI).
O UTAUT trabalha com quatro construtos determinantes para inteno de uso da tecnologia da informao, sendo eles: expectativa de desempenho, expectativa de esforo, influncia social e condies facilitadoras; e quatro moderadores, sendo eles: gnero, idade, experincia e voluntariedade de uso (Venkatesh, Morris, Davis, & Davis, 2003).
Pesquisas demonstram que esse modelo apresenta maior poder de explicao da varincia da inteno de uso de tecnologia em relao aos demais propostos (Estivalete, 2009; Li & Kishore, 2006; Venkatesh et. al., 2003). Assim, pode ser visto como um avano da pesquisa sobre a aceitao individual da TI, na medida em que unifica perspectivas tericas conhecidas na literatura e incorpora moderadores para controlar as influncias do contexto organizacional, a experincia do usurio, alm de caractersticas demogrficas, como o gnero e a idade.
2.3 A QUESTO DO GNERO NA ADOO DE TECNOLOGIA
Gnero um conceito que se refere aos arqutipos sociais e culturais que cada sociedade atribui ao comportamento, s caractersticas e aos valores que so atribudos a homens e mulheres, e que reafirmam os smbolos, as leis e regulamentaes, as instituies e a percepo. Por detrs dos arqutipos, est subjacente a ideia de que tais caractersticas so naturais e, por conseguinte,
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inalterveis. Segundo Howcroft e Trauth (2008), a diferena de comportamento entre homens e mulheres est relacionada a aspectos intrnsecos a cada um.
Outra corrente de pensamento preconiza que os arqutipos de gnero so construdos com base em fatores ideolgicos, histricos, religiosos, tnicos, econmicos e culturais, que posteriormente so traduzidos em desigualdades sociais, econmicas e polticas, nas quais as atividades dos homens e os atributos relativos ao seu gnero so percebidos necessariamente como superiores aos das mulheres (Ramilo & Cinco, 2005).
Conforme Adam (2005), as abordagens mais difundidas que tentam explicar essa temtica so a essencialista e o pensamento feminista. Na abordagem essencialista, os cientistas atribuem as diversidades questo biolgica, afirmam que os comportamentos diferentes so reflexos da formao cerebral do indivduo. Uma das explicaes dada que os feixes de nervos que ligam os dois lados do crebro masculino so mais finos, ento os homens normalmente utilizam mais apenas um hemisfrio cerebral na resoluo de problemas, empregando, portanto, uma abordagem mais linear.
Nas mulheres, a conexo entre o hemisfrio direito e esquerdo no estreita, o que faz com que suas respostas sejam mais holsticas. O pensamento feminista, por sua vez, entende que homens e mulheres so biologicamente iguais, e as diferenas entre os gneros teriam sido construdas por uma sociedade cujos principais papis foram reservados aos homens. Nesse sentido, as identidades de gnero so consideradas construtos sociais.
fato que homens e mulheres tm diferentes comportamentos quando o assunto tecnologia. Percebe-se que poucas mulheres figuram entre os principais atores da concepo tecnolgica (Wajcman, 2000), assim como poucas mulheres so produtoras de tecnologia da informao. O emprego feminino em TI tende a ser centrado em usurios finais, exercendo tarefas menos qualificadas, mais relacionadas transformao ou entrada de dados e menos em cargos de gesto, manuteno e projeto de redes, sistemas operacionais ou desenvolvimento de software. Uma srie de fatores, incluindo a alfabetizao e educao, linguagem, tempo, custo, localizao geogrfica das instalaes, normas sociais e culturais, o computador da mulher, habilidades de pesquisa e difuso de informaes limitam o acesso das mulheres tecnologia da informao (Hafkin & Taggart, 2001).
O fato de a tecnologia estar imbricada com o gnero despertou a ateno de alguns estudiosos da rea de Sistemas de Informao. Venkatesh e Morris (2000), por exemplo, procuraram entender diferenas de gnero em um processo de adoo de uma nova tecnologia, considerando-o como um construto moderador.
No presente trabalho, partimos da hiptese de que esse fenmeno no deve ser diferente com relao adoo de software livre. Historicamente, as mulheres foram sub-representadas nas questes
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relativas tecnologia e ao software livre, e apesar dos recentes aumentos na adoo do software livre, a
situao no melhorou significativamente (Brown, 2009).
3 ASPECTOS METODOLGICOS
Esse estudo parte dos resultados de um projeto de pesquisa financiado pelo CNPq, voltado para a investigao das diferenas entre gneros em relao adoo de tecnologia, em particular o software livre. A pesquisa de natureza exploratria, visto que o assunto ainda carece de estudos, principalmente no Brasil. A abordagem do estudo qualitativa, tendo em vista que se buscou a interpretao dos fenmenos e a atribuio de significados s respostas obtidas na coleta de dados. O mtodo de coleta de dados utilizado foi a aplicao de um questionrio com questes semiestruturadas. Esse questionrio ficou disponvel na Internet, hospedado no www.surveymonkey.com durante 15 dias.
A escolha do questionrio online se deu pelo fato de que iria alcanar grande parte da comunidade de SL. Para atingir uma maior audincia, o questionrio foi divulgado em sites, com o apoio das comunidades relacionadas com SL presentes nas redes sociais. Aps o perodo de coleta, verificou-se um total de 162 questionrios respondidos.
O questionrio foi dividido em duas partes. A primeira, com perguntas fechadas, identificava o sexo, a idade, a escolaridade e o nvel de experincia dos respondentes. Na segunda parte, foram colocadas 17 perguntas abertas. Por questo de espao, o presente artigo apresenta os resultados advindos das seguintes questes expostas no quadro 1.
Quadro 1: Questes analisadas no estudo
Questes Comparativas- Voc utiliza o software livre no seu cotidiano? Se sim, mais em casa ou no trabalho? Sua mquina possui 'dual boot'? Por qu?
- Quais aplicativos e qual (is) sistema(s) operacional (is) de cdigo aberto e livre voc utiliza no computador?
- Voc considera que existam princpios filosficos no mbito do software livre? Se sim, com qual dos aspectos ditos filosficos voc mais se identifica?
A anlise qualitativa foi feita atravs da anlise de contedo proposta por Bardin (2004). Para esta autora, a anlise de contedo um conjunto de tcnicas de anlise das comunicaes visando obter, por procedimentos, sistemticos e objetivos de descrio do contedo das mensagens, indicadores (quantitativos ou no) que permitam a inferncia de conhecimentos relativos s condies de produo/recepo destas mensagens.
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A tcnica utilizada foi a anlise temtica. De acordo com Bardin (2004), essa tcnica baseia-se em operaes de desmembramento do texto em unidades, em categorias segundo reagrupamentos analgicos. Ou seja, a partir dos temas que emergiram no texto, foram identificados os elementos dos ncleos de sentido da comunicao que possuem algo em comum e, aps isso, foi realizado o agrupamento deles em categorias.
Primeiramente, foi realizado o agrupamento de elementos com caractersticas semnticas comuns e discursos parecidos. Em seguida, foi realizada uma anlise de contedo, segmentando-os de acordo com o gnero do usurio e outras caractersticas de sua identificao. Assim, foi possvel identificar diferenas de gneros e entender os fatores que influenciam a adoo do SL.
4 ANLISE DOS RESULTADOS
4.1 PERFIL DA AMOSTRA
A partir dos questionrios respondidos, descrito o perfil da amostra referente classificao de gnero, idade, grau de escolaridade e experincia com o SL.
A amostra foi constituda por 162 respondentes. Com relao ao gnero, a amostra foi equilibrada, em que 51% dos respondentes so homens e 49% so mulheres. A idade mdia dos respondentes de 26,9 anos, sendo a idade mnima de 16 anos e a mxima de 71 anos. No que tange escolaridade, os percentuais evidenciaram a predominncia de 72% usurios com ensino superior, 15,3% possuem ps-graduao e 12,7% tm ensino mdio.
4.2 ASPECTOS COMPARATIVOS
4.2.1 Sistemas operacionais baseados em SL mais utilizados
A partir da identificao dos aplicativos e sistema(s) operacional (is) de cdigo aberto e livre utilizados pelos respondentes, foi possvel listar as preferncias das distribuies dos usurios da pesquisa (Tabela 1).
Tabela 1: Distribuies de SL mais citadas, por ordem alfabtica.
DISTRIBUIES DE SL
ARCH LINUX 5 2 7 2,62%
BIG LINUX 1 0 1 0,37%
BSD 1 0 1 0,37%
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Frequncia de Ocorrncia dos Homens
Frequncia de Ocorrncia
Total
Frequncia de Ocorrncia das Mulheres
%
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CENTOS 5 1 6 2,25%
DEBIAN 15 12 27 10,11%
EPIDEMIC LINUX 1 0 1 0,37%
Eeebuntu 0 1 1 0,37% FEDORA 9 5 14 5,24% FREEBSD 5 0 5 1,87% GNOME 6 2 8 3,00% GENTOO 3 0 3 1,12% GNU/kFreeBSD 1 0 1 0,37%
KUBUNTU 2 4 6 2,25%
LINUX 38 14 52 19,48% LINUX MINT 3 1 4 1,50% MANDRIVA/MANDRAKE 10 3 13 4,87%
OPENBSD 2 0 2 0,75% OPENSUSE 5 1 6 2,25% PANDORGA 0 1 1 0,37% PCLinuxOS 1 0 1 0,37% SLACKWARE 5 4 9 3,37%
TUQUITO 0 1 1 0,37% UBUNTU 40 52 92 34,46% Ubuntu 10.10 Maverick 0 1 1 0,37%
XUBUNTU 1 0 1 0,37% KURUMIN 2 1 3 1,12%
TOTAL 161 106 267 100%
Fonte: Dados do estudo (2012)
Com relao diferena de gnero, verifica-se que os homens fazem referncias a mais distribuies que no so citadas pelas mulheres, tais quais: o Big Linux, o BSD, o GNU/kFreeBSD, OPENBSD, PCLinuxOS, o Gentoo, o qual se descreve como uma meta distribuio, devido a sua adaptabilidade quase ilimitada; o FREEBSD e o OPENBSD, que multiplataforma, do tipo UNIX, baseado na segurana pr-ativa e criptografia integrada, sendo destinado mais comumente servidores.
As mulheres fizeram referncia a trs SL, que no foram mencionados pelos homens, so eles: o Pandorga, uma distribuio educacional do Linux, desenvolvida para crianas, pr-adolescentes e escolas de ensino infantil e fundamental; o EeeUbuntu, tambm conhecido por EasyPeasy, uma verso do Ubuntu direcionada para Netbooks; e o Tuquito, o qual uma distribuio que contm uma interface grfica atrativa e pode ser facilmente configurado por usurios.
possvel concluir ento que os homens, dentro do universo das diversas distribuies do SL, conhecem mais verses de SL do que as mulheres, visto que as distribuies por eles conhecidas vo alm das verses mais tradicionais de SL. Em contrapartida, as mulheres tendem a adotar um sistema operacional livre que tenha um menor nvel de dificuldade, tendo em vista que elas citaram as distribuies que so mais simples e mais comumente utilizadas pela comunidade de SL. Isso remete a interveno do fator facilidade de uso na deciso de adoo de um sistema operacional livre por parte das mulheres.
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4.2.2 Experincia com SL
Considerando toda a amostra, 20,9% dos respondentes se consideram como um usurio inicial, 51,3% como usurio intermedirio e 27,8% como usurio avanado. A tabela 2 apresenta os dados da amostra segmentados por gnero.
Tabela 2: Experincia com SL Experincia Homens Mulheres
Usurio inicial 15,66% 21,69%
Usurio intermedirio 40,96% 60,24%
Usurio avanado 39,76% 13,25%
No foi possvel identificar 3,61% 4,82%
Fonte: Dados do estudo
Comparativamente, 21,69 % das mulheres so usurias iniciais contra 15,66% dos homens. Por sua vez, 39,76% dos homens so usurios avanados de SL enquanto apenas 13,25% das mulheres se consideram como usurias avanadas. No caso do nvel intermedirio, 60,24% das mulheres consideram-se dentro dessa faixa de experincia, contra 40,96% dos homens. A partir da autorresposta, percebe-se que os homens expressam-se como tendo uma maior experincia com o SL do que as mulheres, pois eles esto concentrados entre os nveis intermedirio e avanado, tendo uma baixa representatividade no nvel inicial.
4.3 TIPOLOGIA DOS USURIOS
4.3.1 Classificao dos usurios de SL
Nesse tpico, foi indagado se o usurio utilizava software livre no seu cotidiano, em que lugar mais frequente esta utilizao. Alm disso, era perguntado se a mquina dele possua 'dual boot' e sua justificativa. Desse modo, foi possvel entender vrias questes pertinentes ao modo como os respondentes adotaram o SL. A anlise permitiu a classificao de dois tipos bsicos de usurios de SL: a) Usurios exclusivos: os quais so aqueles que utilizam totalmente e somente o SL no seu cotidiano, seja em casa ou no trabalho, e que no possuem softwares proprietrios instalados no seu computador; b) Usurios no exclusivos: esses usurios tm outros softwares proprietrios instalados no computador, seja por meio do sistema dual boot ou atravs da virtualizao e, por motivos especficos, no usam apenas o software livre.
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Um estudo comparativo sobre a adoo de software livre entre homens e mulheres
Dentre a amostra de 162 usurios, 51 respondentes foram considerados usurios exclusivos de SL, enquanto que 102 foram classificados como usurios no exclusivos de SL e nove usurios apresentaram respostas incompletas ou no responderam questo, no sendo possvel classific-los. Nota-se que o nmero de usurios no exclusivos representa o dobro do nmero de usurios exclusivos. A tabela 3 apresenta os motivos citados pelos usurios no exclusivos de SL.
Tabela 3: Motivos que levam os usurios a no adotarem integralmente o SL
MOTIVOS DA ADOO NO EXCLUSIVA DE SL Quantidade % A faculdade ou trabalho usam software proprietrio 13 12,7% Outras pessoas usam o PC e tm dificuldade com o SL 9 8,8%
Falta de compatibilidade de programas proprietrios no SL 9 8,8%
Outros programas tm um desempenho melhor no software proprietrio 7 6,9% A necessidade de analisar o funcionamento de outros sistemas no PC eestudar outras ferramentas 8 7,8%
Uso de programas especficos que no tem no SL 7 6,9% Uso de jogos que no esto disponveis para SL 7 6,9%
O computador j veio instalado com outro sistema operacional proprietrio 5 4,9% O usurio ainda est aprendendo a usar o SL, estando num processo detransio 4 3,9% Dificuldade no uso de alguns programas do SL 3 2,9% Curiosidade no funcionamento de outros softwares 1 1% O usurio desenvolve em outros softwares 1 1% Outros softwares proporcionarem uma melhor segurana nos dados 1 1% Uso do SL especfico para trabalho e no pessoal 1 1% No identificado 26 25,5% TOTAL 102 100%
Fonte: Dados do estudo
Segmentando os usurios a partir do gnero, verificou-se que os homens so mais fiis ao uso do SL, pois 32 deles so usurios exclusivos do SL, enquanto que apenas 19 mulheres so usurias exclusivas. Como consequncia, o nmero de usurias no exclusivas maior do que os homens. Os motivos que fazem com que os usurios no utilizem apenas o SL no seu cotidiano apresentam divergncias entre homens e mulheres.
Basicamente, so trs motivos que aparecem como divergentes. No caso das mulheres, o motivo mais citado o uso de programas especficos para SL. Outro motivo citado somente por mulheres a dificuldade de utilizar alguns programas ou aplicativos do software livre, o que evidencia a importncia de se levar em considerao o construto facilidade de uso nos processos de adoo de um sistema. No caso dos homens, a principal motivao o uso de jogos que no esto disponveis para SL.
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4.3.2 Adeso filosofia do SL
certo que, se o software livre existe, porque houve uma ideologia e filosofia que impulsionou o movimento. Segundo Saleh (2004), os objetivos de Stallman (1999) eram muito mais filosficos e ideolgicos do que tcnicos, visto que ele lutou contra o modelo de software proprietrio e desenvolveu o software livre, no porque este seja necessariamente melhor ou mais eficiente, mas sim porque considera que essa opo a nica socialmente justa. Esse modelo de software foi difundido atravs de pessoas que acreditam nessa ideologia e filosofia. Evangelista (2010) classifica o movimento do SL como um movimento social, entendido como parte de uma luta social, como a afirmao de certos valores ou um caminho para mudanas sociais.
visto que o fato de um indivduo usar o SL pode estar relacionado com a sua identificao com esse movimento. Existem alguns usurios que decidiram adotar o SL porque foram influenciados por essa ideologia e acabaram por ingressar no movimento e propagar essa filosofia. Em contrapartida, existem alguns usurios que no se identificam com esses princpios e no consideram que esses foram capazes de influenciar a sua deciso de adoo. Assim, esses utilizam o SL por acreditarem na sua qualidade tcnica.
Diante disso, percebe-se que uma varivel que est intimamente ligada ao objeto de uso do software livre a adeso filosofia do movimento. Os usurios de SL, j classificados como exclusivos e no exclusivos, receberam mais uma classificao: os usurios adeptos da filosofia do SL e os usurios no adeptos da filosofia do SL. Isso pode ser verificado na Figura 1, que mostra a classificao proposta.
Figura 1: Tipologia dos usurios de SL
Fonte: Pesquisa de campo
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Assim, foram identificadas quatro categorias de usurios de SL: 1) Usurios exclusivos e adeptos da filosofia do SL
Esses usurios utilizam somente o software livre no seu cotidiano por acreditarem e se identificarem com a ideologia e filosofia do SL.
A fala do usurio trs simboliza esse pensamento: Utilizo SL em casa, no trabalho e na faculdade (e se houver outro lugar que eu frequente e no esteja lembrando agora, nele tambm). Minha mquina no possui dual boot porque no preciso do Windows para desempenhar nenhuma das minhas atividades cotidianas embora, se eu precisasse, muito provavelmente procuraria mudar as atividades e no a maneira de desempenh-las. Acredito na filosofia que base do software livre, no utilizo apenas a ferramenta por questes tcnicas.
2) Usurios no exclusivos e adeptos da filosofia do SL
Essa categoria a que tem mais representatividade na comunidade do SL, pois seus usurios no utilizam apenas o SL por questes especficas de compatibilidade, exigncia de software proprietrio no local do trabalho ou da faculdade, ou por acreditarem que existem programas proprietrios especficos que so melhores do que o programa correspondente na plataforma open source.
O posicionamento do Usurio 47 tambm explicita as caractersticas desses usurios: Utilizo SL todos os dias, em casa e no trabalho, em ambos os casos em dual boot, porque infelizmente o Linux ainda no d pra tudo, e, por exemplo, de longe a longe preciso entrar no Windows, para descarregar imagens... A Filosofia do SL excelente, e leva qualquer um a gostar imenso, e cada vez mais do software livre.
3) Usurios exclusivos e no adepto da filosofia do SL
Essa categoria a que tem menos representatividade. Esses usurios utilizam somente o SL no seu cotidiano e no se identificam totalmente com a filosofia e ideologia do SL. O que motiva esse tipo de usurio em adotar exclusivamente o SL na maioria das vezes a qualidade do software.
A fala do usurio oito classificado nessa categoria elucida essa lgica de adoo: Utilizo SL no meu cotidiano, tanto em casa como na faculdade. No possuo dual boot. Ao ser perguntado sobre a existncia de princpios filosficos no mbito do software livre, e sobre a sua identificao com tais ditos filosficos o mesmo usurio diz: No considero tanto assim, penso mais pelo lado prtico da coisa.
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4) Usurio no exclusivo e no adepto e da filosofia do SL
Essa categoria formada por usurios que no utilizam apenas o SL no cotidiano e no esto totalmente envolvidos com a filosofia e ideologia do SL. Nesse caso, eles utilizam o SL por acreditarem na sua qualidade tcnica ou por necessidades especficas, porm, eles tambm utilizam software proprietrio.
O discurso do usurio 23 ilustra as caractersticas dessa categoria: Uso SL no meu dia a dia, tanto no trabalho quanto em casa. Tenho dual boot, mas para ver como funcionam outras distribuies no meu computador, alm de fuar em sistemas operacionais pouco conhecidos. Para algumas pessoas deve ter princpios filosficos, mas para mim apenas uma questo de funcionar bem pra e atender as minhas necessidades... Minha deciso de usar software livre no teve influncia filosfica ou poltica.
Em relao a essa tipologia, tambm foram encontradas diferenas de gnero, conforme pode ser visto na tabela 4. Percebeu-se que as mulheres se identificam com a ideologia e filosofia do SL mais do que os homens. As mulheres encaram adoo de SL como de carter mais ideolgico. Enquanto que os homens pensam mais nos aspectos tcnicos e na qualidade do software.
A categoria 3 a mais presente no universo das usurias, a qual representada por usurios no exclusivos e adeptos da filosofia. Por outro lado, no universo masculino, duas categorias so destacadas. De um total de 60 homens, 24 homens so classificados como sendo usurios no exclusivos e adepto da filosofia, enquanto que outros 22 homens so classificados como usurios exclusivos e adeptos da filosofia.
Tabela 4: Classificao de tipos de usurios
CATEGORIAS FEMININO % MASCULINO %
1. Usurio exclusivo e adepto da filosofia 16 27,1% 22 36,7% 2. Usurio exclusivo e no adepto da filosofia 2 3,4% 2 3,3% 3. Usurio no exclusivo e adepto da filosofia 32 54,2% 24 40% 4. Usurio no exclusivo e no adepto dafilosofia 9 15,3% 12 20% TOTAL DE USURIOS 59 100% 60 100%
Fonte: Dados da pesquisa
5 CONCLUSES
A tecnologia de informao (TI) cada vez mais se consolida com uma das reas mais importantes para o funcionamento adequado de qualquer organizao. Dessa forma, entender o processo de adoo de uma TI ou sistema de informao por parte dos usurios primordial. No caso do software livre
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(SL), isso tambm mais importante, visto que um sistema de carter inovador que est em constante desenvolvimento para se solidificar no mercado e por suas associaes com movimentos a favor da justia social, liberdade e autonomia tecnolgicas.
A reviso de literatura mostrou que existem diferenas entre a adoo de uma nova tecnologia entre homens e mulheres. Na pesquisa, ficou comprovado que h de fato diferenciadores de comportamento de adoo de SL em relao ao gnero. Verificou-se que os homens tm uma maior experincia com o SL do que as mulheres. Eles figuram entre o nvel intermedirio e avanado, e as mulheres se posicionam mais nos nveis iniciais de experincia para com o uso de software livre.
Na hora de escolher uma distribuio do SL, o comportamento de homens e mulheres tambm diferente. Os homens pensam relativamente mais nos benefcios gerados pelo sistema e na maneira em que esse sistema ir aperfeioar o seu desempenho como usurio, enquanto que as mulheres tendem a adotar uma distribuio que tenha uma maior facilidade de uso.
Tambm foram evidenciados que a ideologia e a filosofia do SL so os principais fatores que influenciam a sua adoo. Com relao s diferenas de gnero, percebeu-se que as mulheres se identificam com a ideologia e filosofia do SL mais do que os homens. Elas encaram a adoo de SL como de carter mais ideolgico. Por outro lado, os homens pensam mais nos aspectos tcnicos e na qualidade do software.
A pesquisa tem uma importante contribuio para a comunidade do SL, visto que caracterizou os usurios de SL e as suas preferncias. Alm disso, essas diferenas de gnero identificadas podem ajudar os gestores organizacionais a entender o processo de adoo de uma nova tecnologia ou sistema de informao. Levando em considerao as diferenas de gnero e adotando polticas e aes que atuem diretamente de forma a suprir as dificuldades de homens e mulheres, o sistema pode ser mais bem aceito e o uso do mesmo pode ser aperfeioado, o que ir gerar mais resultados para as organizaes.
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A COMPARATIVE STUDY ABOUT THE ADOPTION OF FREE SOFTWARE AMONG MEN
AND WOMEN
ABSTRACT
Over three decades, management literature has been conducting studies on the adoption of
technological innovations, the Technology Acceptance Model (TAM), Innovation Diffusion Theory
(IDT) and the Unified Theory of Acceptance and Use of Technology (UTAUT ) is the most widely
used models to study the process of adopting a new technology. Despite this widespread, there are gaps
in studies on the influence of gender on the adoption of information technology. This study analyzes
the adoption and use of the free software, by users and identifies universal gender differences in this
process. Through exploratory research, we investigated 162 adopters of free software. It was found that
the defense of the cause of the free software is relatively stronger among women. We identified
different opinions as to the choice of the free software distribution. Notably, men think more about
how the system will help your performance, while women give more priority to the distribution that
provides ease of use. The study advances the knowledge and can help managers lead the processes of
implementation of free software on organizations
Keywords: Information Technology Adoption; Free Software; Gender Differences
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Data do recebimento do artigo: 29/11/2012 Data do aceite de publicao: 23/02/2013
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