Introdução
Arranjos cooperativos do tipo regional permanecem, passados mais de dez anos desde o firn da Guerra Fri a, corno opçào estratégica preferencial de muìtos países. As razöes pelas quais eles preferem o regionalismo ao engaj amento uni ou multilateral ou, ainda, a participaçâo em arranjos, grupos e alianças por meio de outras bases que näo a regional - religiosa, cultural, nivel de desenvolvimento ou perfil económico - , continuam suscitando à teoria das relaçoes internación ais desafios analíticos importantes. Essa questâo se impöe porque, aos países e aos diversos atores atuantes ñas relaçoes internacionais, é facultada urna série de possíveis estrategias de açào, de cooperaçâo e alinhamento, entre as quais a integraçao regional é apenas urna.
As motivaçoes políticas e económicas, os incentivos sistêmicos, o efeito da presença e da atuacäo das instituiçôes interaacionais, a relaçao entre os atores domésticos dominantes na definiçâo da agenda internacional dos países, entre outras possíveis abordagens sobre os procès sos regionais, sao normalmente apontados como as variantes mais relevantes para estruturar explicaçoes plausíveis sobre as condiçôes que propiciam a emergencia e a manutençao de arranjos cooperativos regionais. Em revisâo sobre o tema, Hurrell (1995:51) identifica tres estrategias analíticas destinadas a compreender a natureza e a dinámica dos processos de integraçào regional.
A prímeira, mais ortodoxa, consiste em tomar cada urna das vertentes teóricas principáis das relaçôes internacionais (neo-realismo, neofuncionalismo, institucionalismo neoliberal e construtivismo) e reproduzir, na análise do regionalismo, os mesmos recursos e argumentos que sustentam a compreensào do processo internacional geral. Tais vertentes estruturam suas explicaçoes sobre as concepçôes básicas da lógica do jogo internacional, dos atores considerados mais relevantes no processo de integraçào regional (Estados nacionais, organizaçôes nao-governamentais, empresas e consumidores, comunidades epistêmicas), dos objetivos e interesses prioritarios próprios a esses atores (segurança, poder, bem -estar, estabi li dade, autonomia), assim como sobre a dinámica predominante na interaçâo desses varios elementos (cooperativa, conflituosa e interdependente). Quando a análise está voltada para a compreensäo da natureza e da dinámica dos processos de integraçào regional, a tendencia, no entanto, é que cada urna dessas matrizes teóricas reivindique um determinado nivel de análise mais compatível com suas premissas básicas (ìbidem). Os pressupostos sobre os outros níveis de análise sao muitas vezes tomados de empréstimo e modificados para responder às anomalías na teoria (Moravicsik, 1993).
Asegunda, mais heterodoxa, busca harmonizar algumas dessas vertentes em lugar de contrapô-las. O caminho dessa estrategia é dar atençào à "natureza da interaçâo das diferentes lógicas que atuam no regionalismo contemporáneo" (Hurrell, 1995:50). Assim, é possível observar trabalhos que combinam pressupostos e variáveis do neo-realismo com os da análise da interdependencia e que apresentam estudos cujo foco é a articulaçao de interesses do Estado com os de grupos de empresas privadas. Outros, para explicar os processos de integracäo regional, buscam articular os pressupostos neoliberais com os do construtivismo e oferecem urna visäo combinada entre a dinámica dos valores compartilhados e a açao dos regimes e instituiçoes internacional s.
A terceira estrategia, que busca combinar diferentes vertentes teóricas para explicar diferentes fases do processo de integracäo, é denominada por Hurrell de "teoría dos estágios". Um exemplo desta linha estratégica é a interpretaçâo de que os processos integrativos, urna vez iniciados em urna perspectiva tipicamente realista de acomodaçâo de interesses estratégicos entre os Estados, passam a sofrer, com o aprofundamento da integracäo, forte influencia dos grupos privados beneficiados com a dinàmica integrativa em curso. Esses atores emergentes, por sua vez, passariam a apresentar novas demandas: mais instituiçoes, coordenaçâo macroeconômica etc. Nesse sentido, afirmando a impossibilidade de analisar um processo político e social complexo como o da integracäo regional, a "teoria dos estágios" trabalharia com urna dimensäo diacrònica por fases e adotaria perspectivas teóricas específicas para analisar cada urna dessas fases.
A despeito das evidentes contribuiçôes dadas por essas perspectivas de análise à compreensäo mais ampia da lògica da integracäo regional, devem-se destacar, mesmo na estrategia "etapista", limitaçôes analíticas, sobretudo na medida em que interpretam de modo estático e monolítico a motivaçao dos principáis atores envolvidos no processo. Em outros termos, seja qual for a abordagem escolhida, o pressuposto básico é que a motivaçao dos atores principáis (Estados e atores domésticos) é explicada a partir de urna lógica comum. A título de exemplo, neo-realistas interpretam a disposiçâo dos Estados em se associar em urna integracäo regional como resultante de cálculos políticos que levam em conta a preocupacäo com posiçôes relativas de poder intrabloco (com relaçâo aos parceiros do arranjo) e extrabloco (com relaçâo aos demais atores do sistema internacional). Os neoliberais, por sua vez, imputariam às preferencias dos atores partícipes da integraçao interesses de natureza mais fortemente econòmica e derivados da expectativa de potencial de ganhos absolutos.
Tendo como base empírica as percepçôes das elites estratégicas do Cone Sul, o objetivo deste artigo é dar urna contribuiçao para essa linha de pesquisa, apresentando urna interpretaçâo alternativa a respeito das motivaçôes básicas dos atores engajados na integraçao regional (abordagem sincrónica da integraçao). Trata-se de urna perspectiva específica cuja premi ssa básica é que a integraçao regional pode constituir-se, e avançar, ainda que cada um dos atores envolvidos tenha percepçôes distintas sobre a natureza do processo, as motivaçôes dos outros atores envolvidos e as suas próprias prioridades políticas e económicas. Países com distintas características - dimensao territorial, populaçâo, prioridades na área de segurança, capacidade de influencia internacional, níveis de desenvolvimento, perspectivas e ambiçôes políticas - podem engajar-se em um processo de integraçao regional com motivaçôes também bastante diversas. Nesse sentido, é francamente compatível ocorrer acomodaçâo de intéresses entre países com perfís intemacionais distintos e que visem obter da propria integraçao regional beneficios de naturezas diferentes. Em urna abordagem teórica sincrónica da integracao, é desnecessário, para que os arranjos regionais se constituam e se consolidem, que todos os atores envolvidos partilhem a mesma "visâo de mundo".
Os diversos enfoques analíticos que os teóricos das "etapas" adotam para fases distintas do processo sâo, no nosso modo de ver, passíveis de serem adotados simultaneamente. Atores domésticos distintos dos países envolvidos na integraçao regional possuem visöes bastante diferenciadas sobre a natureza do sistema internacional, a relevancia dos atores políticos, suas motivaçôes e preferencias. Por vezes, até identificam posiçôes confutantes entre suas próprias visöes e as dos parceiros dominantes. Por exemplo, projetam nesses parceiros posiçôes próximas a urna visäo neo-realista do mundo - e, portante, políticas e conflituosas - enquanto atribuem a si mesmos visöes claramente de tipo liberal, voltadas para a cooperaçâo, ganhos económicos compartilhados e aumento do bemestar. Nao obstante, padrôes de engaj amento diferenciados nao representan! impedimento para a integraçâo, podendo, ao contrario, ser acomodados e gerar urna dinámica virtuosa de integraçâo.
O artigo é composto, além desta introduçâo, de très itens principáis: a) dedica-se a analisar, sinteticamente, como cada urna das principáis vertentes teóricas das relaçôes internacionais interpreta o fenómeno do regionalismo, bem como a mostrar os avanços angariados pela "teoria etapista" da integraçâo; b) busca traçar as linhas gérais de urna teoria sincrónica da integraçâo regional e, por firn, c) procura apresentar - por meio da análise dos surveys relativos à percepçào das elites do Cone Sul1 (Argentina, Paraguai e Uruguai) sobre o Mercosul - evidencias empíricas que demonstren! a pertinencia da abordagem sincrònica defendida aqui.
Vertentes Teóricas e a Logica da Integraçâo Regional
Das principáis vertentes teóricas das relaçôes internacionais, tres merecerán! particular atençâo no que se refere à compreensäo mais ampia da lògica dos processos de integraçâo regional: neofuncionalismo, neo-realismo e neoliberalismo2. Dessas correntes, o neofiincionalismo3 talvez seja a mais diretamente vinculada ao estudo da integraçâo regional, tanto pelos esforços dedicados a compreender a lógica dos processos integrativos quanto pela sofisticaçâo conceitual com que analisou a experiencia européia. Eni traballio seminal nessa vertente teórica (The Uniting of Europe), Ernest Haas (1958) traça o ciclo diacrònico da integraçâo regional, que se inicia quando as elites nacionais convergent para urn ponto comum (expectativas de beneficios oriundos da cooperacäo internacional):
"[...] a integraçâo evoluì como resultado do empenho das elites relevantes go vernameli tais e do setor privado, que apóiam a integraçâo por razôes essencialmente pragmáticas, tais como a expectativa de que a remoçào de barreiras comerciáis irá incrementar seus mercados e lucros. As elites, antecipando que iräo benefíciar-se de sua atuaçâo ñas instancias supranacionais, buscam se articular com grupos das elites dos demais países com perspectivas semelhantes as suas próprias" (Dougherty e Pfaltzgraff, 1996:423).
A fase subséquente é marcada pelo aumento dos níveis de interdependencia dos países envolvidos na integraçâo. À medida que surgem efeitos secundarios imprevistos da associaçâo, novas demandas por cooperacäo internacional sao geradas. É precisamente esse "transbordamento de cooperacäo específica" que os neofuncionalistas denominam spill-over - conceito-chave na explicaçao dos autores dessa vertente da propulsäo do regionalismo. A integraçâo, que principia por motivaçôes técnicas e centradas nos interesses económicos, acaba por sofrer um processo de politizaçao, e isso faz com que novas demandas por cooperacäo acabem por deslocar a importancia do papel das elites nacionais para as instituiçôes supranacionais. Sao estas as responsáveis pela solucäo das "novas demandas" geradas pela cooperacäo, cuja solucäo näo mais comporta açôes ad hoc, mas sim mecanismos institucionalizados supranacionais. A consolidaçao da integraçâo regional faz-se, nesse sentido, a partir da supranacionalizaçao, que reforça, em última instancia, o sentimento de comunidade. Cabe, para efeito da análise que nos dispomos a fazer aqui, näo só relevar a importancia do fato de esta vertente ressaltar a natureza dinámica da integraçâo, como também destacar seu caráter explicativo unívoco no sentido de que considera, ainda que em distintas fases, as similaridades das preferencias e motivaçôes básicas dos diferentes atores engajados no processo integrativo.
Urna segunda ünha de análise sobre os processos de integraçâo regional é o neo-realismo4. Os teóricos neo-realistas enfatizam a natureza anárquica e conflituosa do sistema internacional e centram suas análises na açào dos Estados nacionais, pois säo estes que, por definiçâo, mantêm a prevalência nas questöes de segurança e de poder internacional - tidas como essenciais na definiçâo da dinámica internacional. Racionáis, estrategistas e voltados para o pròprio interesse de segurança, autonomia e capacidade de influencia, os Estados nacionais estäo mais preocupados com ganhos relativos de poder do que com arranjos destinados ao aumento do bem-estar geral. Dadas as questöes do dilema da segurança e a diversidade dos interesses fundamentáis na arena interestatal, arranjos cooperativos envolvcndo varios Estados sao difíceis de serem alcançados e voláteis.
O engajamento de Estados em processos de integraçâo é atribuido ao fato de estarem buscando mais segurança e poder (capacidade de barganha) ante os demais atores do sistema. Os arranjos regionais sao entendidos por meio da teoria das alianças que busca explicar por que Estados nacionais se associam em torno de um objetivo comum, quase sempre de caráter defensivo, para contrapor-se a outro Estado ou agrupamento de Estados. Tais arranjos regionais refletem mais preferencias e discriminaçôes do que cooperaçâo. Ao escolherem com quem se associar, os Estados estäo definindo relacöes preferenciais com alguns e discriminando - declaradamente ou näo - aqueles excluidos do arranjo. Nesse cálculo pesam, fundamentalmente, fatores de estrategia e de disputa política no ámbito internacional - nas suas varias modalidades. Na ótica da lógica de formaçâo de alianças^, os projetos regionais surgem como resposta a um processo de enfrentamento de grupos com interesses e objetivos distintos, que se unem para incrementar as chances de fazerem valer, a partir de urna situaçâo de poder de barganha aumentado, seus intéresses em um ambiente onde competem outros atores e grupos de atores organizados em torno de prioridades e objetivos distintos.
Como corolario do fato de predominantemente enfocar as relacöes políticas como mote das relacöes internacionais, está a ênfase na perseguiçâo dos ganhos relativos em detrimento dos ganhos coletivos e absolutos (Snidai, 1993; Powell, Í993; Grieco, 1990). As relacöes políticas säo entendidas como sendo de soma zero, o que, por definiçâo, reduz drasticamente a probabilidade de urna visao dessa natureza fazer previsöes otimistas sobre as possibilidades de cooperaçâo. Tais arranjos säo passiveis de ocorrer quando existe um cálculo estratégico que imputa menos perdas em se engajar em alianças políticas com um grupo de países com objetivos e interesses mais próximos do que em barganhar direta e de forma isolada com todos os demais jogadores envolvidos. É nessa situaçao que emerge a possibilidade da formaçao de arranjos cooperativos regionais.
Caso julguem defrontar-se com a impossibilidade de atuarem sós para garantir seus interesses, ou sendo essa alternativa muito custosa, os Estados buscam, segundo a perspectiva neo-realista, estabelecer alianças políticas que aumentem suas condiçôes de viabilizar alguns objetivos internacionais. E a conjunçâo de determinados fatores sistêmicos que ao longo da historia definiu a emergencia de arranjos e acordos de cooperaçâo regional. À medida que essas conjunçôes se enfraquecem ou desaparecem, a integraçâo regional perde a razâo de ser e também desaparece.
Para os neo-realistas, portanto, arranjos cooperativos de tipo regional, mesmo que envolvam de forma significativa questöes económicas, säo de natureza política e defensiva, voltados para garantir no àmbito regional o que os Estados näo sao capazes de garantir por si próprios individualmente. Esses arranjos, dessa forma, näo säo um trampolim para um ambiente cooperativo global nem mesmo processus irreversíveis. Ao contrario, visam criar um ambiente em que os Estados buscam realizar mais favoravelmente seus objetivos. Tais arranjos näo significam a superaçào dos Estados nem necessariamente o enfraqueci mento destes, mas representam estrategias para garantir por outros meios aquilo que se vêem impossibilitados de garantir por si sós. Afirmaçao de Krasner sintetiza essa percepçao:
"[...] os blocos regionais näo säo necessariamente um degrau para urna cooperaçâo mais geral. Ao contrario, sob certas circunstancias, eles se fecharäo, porque seus membros temem que urna integraçâo mais ampia possa enfraquecer sua posiçâo relativa ou expô-los à ameaça de um agente externo mais poderoso e potencialmente hostil, ou envolvê-los num ambiente mais ampio, inerentemente instável" (Krasner, 1992:63).
As motivaçoes fundamentáis das açôes políticas internacionais dos Estados nacionais antes derivam, segundo essa vertente, de eventos e processus no ambito do sistema internacional do que se originam das demandas domésticas. Os imperativos e a prevalêneia da condiçao anárquica conflituosa internacional definem as dinámicas cooperativas regionais, capitaneadas e articuladas pelos Estados. Entre essas motivaçoes, os autores neo-realistas enfatizam que os países optam pelo regionalismo na medida em que buscam constituir áreas de maior previsibilidade e estabilidade, aumentar a capacidade de resistencia a movimientos e pressöes internacionais ou, ainda, realizar, no ámbito regional, aqueles objetivos que difícilmente seriam alcançados no plano multilateral.
Como se vé, para os neo-realistas, os processos de integraçâo regional sao fundamentalmente de ordern política e respondem ao que mais caracteriza o sistema internacional, que é o ambiente anárquico, inseguro e conflituoso, onde cabe aos Estados, como unidades políticas predominantes, zelar e buscar promover da melhor forma possível os seus próprios intéresses. Mesmo quando analisado da ótica económica, o componente conflitivo do regionalismo tende a ser visto "como umaestratégia no jogo da concurrencia neomercantilista" (Hurrell, 1995:33). No mais das vezes, no entanto, dada a improbabilidade de constituírem arranjos cooperativos prolongados no ámbito global, os países buscam se fortalecer individualmente ou em alianças, para melhor poderem perseguir os próprios objetivos e resistir à pressâo de outros países ou grupos de países. Em determinadas condiçôes sistêmicas, arranjos e alianças regionais surgem corno a melhor forma de articulaçâo de interesses.
Em contrapo siçao ao neo-realismo, a visâo neoliberal^ centra a anali se do sistema internacional na esfera das relaçôes económico-comerciáis e suas possibilidades de criar oportunidades de cooperaçâo interestatal . As relaçoes económico-comerciáis nao säo as predominantes apenas na definiçâo das estrategias intemacionais dos Estados, mas também na dos agentes privados - em ambos os casos, a dinámica económica ocupa um lugar de destaque na conducäo das relaçoes intemacionais. Para essa vertente teórica, a cooperaçao nâo somen te é possível, como também tem, no processo económico e no funcionamento ampliado do mercado, sua maior possibilidade de realizaçào. Por suas próprias características, o aumento progressivo das trocas e da integraçào económica é a concretizaçâo do potencial de cooperaçao mesmo em um ambiente que se caracteriza pela anarquía política. O progresso do livre-cambismo sedimenta a paz e a cooperaçao entre as pulverizadas unidades políticas representadas pelos Estados. Dessa forma, a cooperaçao é possível e desejável, e as realizaçôes económicas via livre mercado, sua melhor expressäo. Na visäo neoliberal, portanto, säo claros os elementos analíticos e normativos que atuam conjuntamente.
Em um contexto com es sas características, é previ sível que sejam empresas ou consumidores os agentes económicos e aqueles que zelam ou podem contribuir para a manutençao e o aperfeiçoamento de um ambiente internacional voltado para a possibilidade de cooperaçao via relaçoes económicas. Em um arranjo próximo ao livre mercado, os impulsos egoístas dos agentes económicos levam à realizaçào do bem coletivo. Em urna concepçâo dessa natureza, é de se supor que a ênfase recaia nos agentes privados. Como lembram Vigevani e Veiga ( 1 996:23 1 ), as decisöes públicas, do Estado, seriam, na lógica neoliberal, resultado de "mercado" de opiniöes e de interesses. De acordo com Rogowski (1989), a ênfase da perspectiva neoliberal reside ñas motivacóes económicas, ficando em segundo plano as determinaçôes produzidas por outros valores (culturáis, ideológicos etc.). Os processos políticos säo necessários, mas na exata medida em que cumpram o papel básico de assegurar o desenvolvimento das condiçoes propicias à realizaçào dessas relaçoes de mercado. Eies devem atender as demandas e Voltados para a ênfase nos ganhos coletivos e absolutos, os neoliberais têm urna visäo bastante benigna do sistema internacional, além de advogarem a açao crescentemente reduzida dos Estados nacionais. Estes, como unidades políticas territorials, impöem suas lógicas de segmentaçâo e discriminaçâo aos processos intemacionais, o que é particularmente prejudicial para o funcionamento ótimo dos mercados intemacionais. Segundo a lógica neoliberal, relaçôes económicas intensas e constantes inibem as possibilidades de as disputas intemacionais descambarem para conflitos armados, urna vez que estes aumentam os custos em termos de peída de bem-estar ao romperem as relaçôes económicas estabelecidas. A emergencia de arranjos regionais, para os neoliberais, assume urna perspectiva de etapa intermediaria entre um mercado global e o protecionismo nacional. Assim, as possibilidades da integraçâo advêm da enrase nos interesses económicos mutuos e, urna vez posta em marcha, essa cooperaçao tende a reforçar os incentivos por mais cooperaçao.
O elemento comum as très estrategias analíticas apresentadas, no que tange à interpretaçâo dos processos integrativos regionais, reside na similaridade com que avaliam as motivaçôes básicas dos principáis atores engajados. Já a principal diferença está nos fatores determinantes para o processo de formaçâo de interesses: no caso dos neoliberais, motivaçôes materials tangíveis dos grupos de interesse; no caso dos neo-realistas, posicionamento relativo no sistema internacional e, no caso dos neofuncionalistas, demandas por cooperaçao e por institucionalizaçâo supranacional. A contribuiçâo da lettura etapista da integraçâo, conforme apresentada por Hurrell, consiste em levar em conta os aspectos dinámicos da integraçâo e em considerar o fato de que, em cada urna das fases da integraçâo, prevalece urna ou outra variável analítica. Como se pudéssemos combinar diferentes matrizes teóricas e adequá-las a cada urna das fases, de acordo com o potencial explicativo dos fenómenos em questao. No entanlo, permanecem inexploradas as divergencias entre motivaçôes básicas dos atores no corte sincrónico (apresentado e testado empíricamente na seçâo seguinte).
Linhas Gerais de unta Teoria Sincrònica da Integraçâo Regional
Conforme foi dito anteriormente, é inevitável que processos de integraçâo regional envolvam países de diferentes tamanhos, níveis de desenvolvimento, capacidades militares, níveis tecnológicos e até mesmo padröes culturáis. Essa diversidade fundamental entre as unidades políticas é de supor que produza perspectivas e projetos políticos internacionais também diversificados, pois tende a estar lastreada ñas suas respectivas identidades, capacidades, vulnerabilidades e padröes culturáis e na forma como os atores estatais, empresariais e sociais dessas unidades políticas percebem essas condiçôes. Tal constataçao está na base do que estamos denominando de teoria sincrónica da integraçâo regional .
Para se compreender como se processam acomodaçôes políticas em tomo de um arranjo regional, é necessario levar em consideraçâo essa complexidade inicial fundamental. Nesse sentido, nao hápor que aceitar de maneira doutrinária o pressuposto de que os atores relevantes de todas as unidades políticas envolvidas em um arranjo regional disponham de urna mesma perspectiva sobre a natureza do sistema internacional, sobre o lugar que o país ocupa nele, sobre os objetivos intemacionais prioritarios e sobre as preferencias políticas. A concepçâo sincrónica busca incorporar essa diversidade e complexidade de maneira nao ortodoxa, mas sem inviabilizar urna explicaçâo racional para o fenómeno da integraçâo regional. É possível supor que um processo de negociaçâo política - portanto, um processo racional - , ainda que em um ambiente complexo, seja capaz de acomodar essa diversidade de interesses e perspectivas em um arranjo político de tipo cooperativo.
Assim, a teoria sincrónica da integraçâo regional parte do pressuposto de que as diferentes unidades políticas engajadas em um arranjo regional de integraçâo - com perspectivas e objetivos distintos e cientes dessa diferenciaçâo - buscam definir um acordo que compatibilize essas diferenças. Näo é preciso supor, portanto, que tais arranjos tenham sido originados com o objetivo de anular e homogeneizar as perspectivas e preferencias, nem que tenham um ponto de convergencia no futuro. Arranjos regionais podem conviver com essa diversidade e, ainda assim, serem racionáis e duráveis.
As escolas neofuncionalista, neo-realista e neoliberal fomecem indicaçôes importantes sobre como os atores relevantes para o processo político regional - sejam estatais ou nâo estatais - organizam suas visoes de mundo, percebem o sistema internacional e definem seus interesses e valores ante o sistema internacional. Tais indicaçôes säo importantes tanto para eles organizarem suas próprias visöes de mundo e interesses como para projetarem a visäo de mundo e os interesses dos demais Estados envolvidos. Com base nessas indicaçôes, esses players buscam arranjos políticos cooperativos que, ao mesmo tempo, acomodem essas diferentes visoes, percepçôes e interesses. Fazem, nesse sentido, negociaçôes cruzadas entre campos distintos e envolvendo atores relevantes dos demais Estados: grupos empresariais de um Estado com representantes estatais de outro, ou segmentos militares de um Estado com grupos societais de outro. A proeminência de cada um desses atores no processo de negociaçao internacional também difere de caso para caso em funçâo das características domésticas de cada sistema político.
Assim, a integraçao regional é um processo que envolve de maneira simultánea países com características distintas em face do sistema internacional, com predominancia de atores políticos de natureza diferenciada e, em conseqüencia, com visöes de mundo, interesses e valores também diversos, mas que se propöem a buscar racionalmente um arranjo político e econòmico que sirva às perspectivas de todos. Supor urna homogeneidade dos atores envolvidos, dos seus intéresses, preferencias e valores nao parece ser sustentável.
A teoría sincrónica da integraçao regional, portanto, busca apontar para urna forma específica de compreensäo do processo regional, a partir de urna perspectiva racional, diferentemente da teoria das etapas (diacrònica) que supöe que, com o desenvolver das relaçôes regionais, as percepçoes, interesses e atores relevantes dos países envolvidos vào se alterando de forma homogénea em todos os Estados participantes. Inicialmente mais próxima da perspectiva realista, em seguida mais liberal e, finalmente, mais funcionalista, a teoria sincrónica afirma que a diversidade de perspectivas é propria de tais arranjos políticos regionais e que eia os permeia desde o seu inicio.
Teoria Sincrònica e a Lógica da Integraçâo Regional: Evidencias Empíricas
O pressuposto da presente análise é que as referencias teóricas das relaçôes intemacionais nao sao apenas exógenas ao processo social, que buscam imputar urna lógica a posteriori à açâo dos atores. Essas referencias refletem, na realidade, ao menos em parte, a visäo de mundo das elites e as percepçoes que têm sobre os processus de integraçâo regional - visôes essas utilizadas para balizar suas proprias açôes. E claro que o conjunto de interesses e percepçoes das elites políticas é muito menos estruturado e coerente do que as propri as vertentes teóricas até entâo analisadas. Contudo, é de se esperar que as elites nao pautem sua conduta de forma errática, mas sim por determinadas referencias organizadas sobre o mundo7 (Converse, 1964; Almond, 1960).
Tendo em vista este pressuposto básico, a questäo é saber em que medida as percepçoes das elites reforçam ou refutam as hipóteses sobre a natureza do processo regional. Se tomássemos como exemplo o neo-realismo, como já aponíamos, como vertente explicativa do cálculo político das elites no processo integrativo, sobressairiam interesses e visôes predominantemente políticos c defensivos sobre a natureza do sistema internacional. Pouca ou nenhuma importancia seria atribuida as relaçôes externas de caráter nao estatal e de natureza nao política, urna vez que elas estariam prioritariamente sendo condicionadas pelas relaçôes de natureza política e estratégica, pelas relaçôes de poder. Relaçôes guiadas por lógicas distintas - económica, cultural, política, ideológica - teriam dinámicas subordinadas àquelas. Contrapontos sao apresentados pelas demais matrizes teóricas. Resta saber se há, de fato, entre os diferentes atores e segmentos - como pressupöem os teóricos que lidaram com a questuo - , urna univocidade da lógica do cálculo político. Nossa contra-hipótese é que essa univocidade nao existe e coabitam, na realidade, no processo integrativo, atores ou países com drivers mais "neo-realistas" ou mais "neoliberais", sem que isto inviabilize a integraçâo regional.
Foram eleitas, para verificarmos a validade das hipóteses apresentadas, très dimensöes da percepçâo das elites do Cone Sul sobre o processo de integraçâo sub-regional. A primeira relaciona-se à percepçâo sobre a influencia dos segmentos da sociedade em assuntos intemacionais, a partir de dois conj untos de questôes : um destinado a saber como avaliam a influencia das elites de seus países no processo de negociaçâo do Mercosul e o outro destinado a saber quäo influente é, na percepçâo das elites do Cone Sul, cada um dos segmentos das elites brasileiras no processo de formulaçâo de nossa política externa. As informaçôes de ambos os conjuntos de questôes représentant um primeiro grupo de indicadores que corroboram nossa hipótese de que há divergencias interestatais sobre o projeto do Mercosul. A segunda dimensâo diz respeito à percepçâo que as elites do Cone Sul têm dos beneficios decorrentes da integraçâo sub-regional para as elites de seus países, inicialmente, e para as elites do Brasil, a seguir. A terceira dimensâo relaciona-se a um balanço das percepçôes das elites sobre o Mercosul: positivo se predominarem percepçôes de beneficios para o país e negativo se, no computo final, foram majoritárias as avaliaçôes de que o Mercosul traz mais prejuízos do que beneficios.
No primeiro conjunto de questôes, já se podem constatar claros contrastes na percepçâo das elites desses países sobre o processo político relacionado à integraçâo regional. Como se evidencia ñas Tabelas 1, 2 e 3, é majoritária, entre representantes da elite argentina, a percepçâo de que os empresarios säo atores de primeiro nivel nos processos de negociacäo do Mercosul: mais de 80% dessa elite considera o segmento empresarial muito influente sub-regionalmente. Já o setor estatal é visto predominantemente como segmento de influencia intermediaria - mais de 60% fazem essa avaliaçâo - , enquanto ao setor societal é atribuido baixíssimo nivel de influencia (mais de 70% das elites argentinas consideran! que o segmento societal tem pouca influencia).
O mesmo conjunto de dados evidencia que apercepçào dos membros da elite paraguaia contrasta com a dos representantes argentinos. No caso paraguaio, vê-se urna situaçâo inusitada: sua elite considera que todos os seus segmentos têm urna influencia bastante baixa ñas negociaçoes do Mercosul. Delineia-se urna avaliaçâo de grande apatía ou incapacidade de as elites locáis influenciarem tal processo. Já o padräo de percepçâo das elites uruguaias se aproxima mais do padräo argentino. Como se pode constatar na Tabela 1, as diferenças entre Argentina e Uruguai se relacionam mais ao fato de neste último a influencia do privado no Mercosul ser menos superestimada. Em síntese, esse conjunto inicial de dados aponía para um perfil mais neoliberal dos argentinos e uruguaios - superestimado entre os primeiros - e mais neutro entre os paraguaios, cuja característica marcante é a percepçâo da baixa influencia dos atores domésticos no andamento do bloco regional.
No que se refere à percepçâo das elites dos très países sobre o grau de influencia de diferentes segmentos da sociedade no processo de formuIacäo da política externa brasileira, reaparecem claras divergencias entre o padräo de percepçâo dos paraguaios e o dos uruguaios e argentinos. Como se vé na Tabela 5, enquanto aproximadamente 40% das elites uruguaias e apenas pouco mais de 20% das elites argentinas julgam ser o setor estatal brasileiro de grande influencia no processo de formulaçâo da política externa brasileira, entre os paraguaios esse percentual se aproxima de 70%.
As diferenças entre esses très países no que diz respeito à percepçâo da influenciado setorprivado no processo de formulaçâo da política externa brasileira exi stem, mas sao muito menos nítidas do que ocorre emrelaçâo ao setor estatal, conforme evidencia a Tabela 4. Ora, a partir desses dados é possível concluir que as elites paraguaias têm um viés mais estatista no que se refere à avaliaçâo do peso relativo dos diferentes segmentos da sociedade no processo de formulaçâo da política externa brasileira e tributam baixo peso relativo aos atores domésticos no processo de conduçâo do Mercosul, mas superestimam o peso relativo dos segmentos brasileiros na conduçâo da política externa de seu parceiro hegemônico de bloco. Em suma: urna auto-imagem modesta em contraposiçâo a urna imagem de alto perfil das elites brasileiras.
Temos, entâo, que, relativamente ao Brasil, as percepçôes das elites dos países do Mercosul têm urna clara propensäo para a matriz liberal de RI, na qual os setores empresariais brasileiros exerceriam destacada influencia na conduçâo das questôes concementes ao Mercosul. Essa participaçao é acentuada, inclusive na visäo da elite paraguaia, a ponto de suplantar a influencia percebida dos segmentos estatais, nao se constituindo, assim, de forma nítida, do ponto de vista dos atores relevantes, urna visäo mais próxima dos parámetros realistas.
Vistas as questöes referentes as percepçoes das elites do Mercosul sobre os atores com maior capacidade de influencia no processo de integraçâo regional, em seus respectivos países e no Brasil, passamos a analisar as percepçoes a respeito de quem mais tem se beneficiado desse processo. Novamente, aqui a intençâo é verificar até que ponto as orientaçôes das elites políticas dos países envolvidos constituent, ou näo, evidencias empíricas que reforçam as hipóteses das principáis vertentes teóricas sobre a integraçâo regional.
Como se pode observar ñas Tabelas 7, 8 e 9, existe um forte contraste na forma pela qual as elites do Uruguai, Paraguai e Argentina percebem a distribuiçâo de beneficios derivados do Mercosul. Enquanto 71,7% das elites argentinas crêem que os empresarios sao muito beneficiados nesse processo (e apenas 4,6% acreditam que esse segmento é pouco beneficiado), no Uruguai esses valores sao, respectivamente, de 55,6% e 7,5%, enquanto no Paraguai sao de 26,0% e 15,0%. Assim, os argentinos indicam perceber muito mais ganhos económicos no Mercosul para seu proprio país, enquanto os paraguaios apenas medianamente entendem desse modo; os uruguaios encontram-se em urna situaçâo intermediaria. Esse contraste de percepçoes é capturado, como se observa na Tabela 7, pelos residuos ajustados correspondentes a cada um desses índices: 6,5 para o caso argentino em "muito beneficiado" e -8,1 para os paraguaios com essa mesma percepçâo; e, de forma inversa, -2,4 para os argentinos que percebem poucos beneficios para os empresarios de seu país, contra 3,4 da mesma percepçâo para o caso paraguaio.
Situaçâo inversa pode ser observada em relaçâo as percepçoes dessas elites sobre os beneficios da integraçâo para o segmento estatal, como mostra a Tabela 8. Nesse caso, as elites paraguaias indicam perceber mais fortemente os beneficios para as elites estatais do que as argentinas e mais ainda do que as uruguaias, com indices de 32,7% para "muito beneficio" no caso paraguaio e de apenas 12,8% para o caso uruguaio. Os residuos ajustados que acompanham tais índices confirmam essa tendencia, respectivamente, 4,9 e -3,0. Situaçâo coerente ocorre ao considerarmos as porcentagens referentes à condiçâo de pouco beneficio. O caso paraguaio, com índices bem abaixo do esperado, indica residuo de -3,3, enquanto o uruguaio de 2,6, ficando a Argentina em urna condiçâo intermediaria.
Urna situaçâo relativamente paradoxal ocorre quando a questâo se refere aos beneficios para os setores societais nesses países. De acordo com os padrees de percepçâo indicados ñas questöes anteriores, nos quais as elites do Uruguai e da Argentina indicavam maiores beneficios relativos para os setores empresariais e os paraguaios para o setor estatal, poderíamos associar tal padrào de resposta a posturas mais próximas a urna visäo mais realista do processo de integraçâo com as elites paraguaias, enquanto nos casos argentino e uruguaio, as percepçoes estariam mais de acordo com a matriz liberal de integraçâo regional. Contudo, ao analisarmos as opiniöes sobre os beneficios do Mercosul para o setor societal, os paraguaios mostram-se mais otimistas - 1 1 ,2% muito beneficio e 72,7% beneficio intermediario - , enquanto os argentinos indicaram 4,3% e 37,9% e os uruguaios 2,2% e 53,3%, respectivamente. Tomando-se os indicativos dos residuos ajustados, essa tendencia é claramente atestada, pois, no caso paraguaio, esse índice é positivo em 3,5 para acasela "muito beneficio" e 5,2 para "beneficio intermediario", apresentando, em contraste, -7,0 para a cásela "pouco beneficiado".
Uma perspectiva mais próxima da matriz realista de RI, no caso dos paraguaios, deve ser composta de uma visâo mais societaria ou, poderíamos arriscar, mais voltada para beneficios nao vinculados a ganhos de poder relativo (preocupaçoes mais associadas aos segmentos estatais) nem a ganhos económicos (mais associadas aos interesses empresariais). Dessa forma, enquanto as perspectivas de Uriiguai e Argentina se apresentam consistentemente associadas a uma visäo de mundo de tipo liberal, no que diz respeito a atores relevantes no processo de integraçao e aos beneficios vinculados a esses atores, os paraguaios denotam um viés menos claramente correspondente às matrizes básicas do pensamento de RI. Ao mesmo tempo que os paraguaios revelam alguma proximidade com a perspectiva neo-realista ao adotarem uma certa predominancia do setor estatal no que se refere aos beneficios advindos da integraçao regional, combinam essa percepçao com a de ganhos relativamente altos para os segmentos societais, demonstrando ser este um caso multifacetado era termos de referenciais de análise sobre o processo de integraçao regional.
Padrao muito semelhante ocorrerá em relaçâo à percepçao dos grupos mais beneficiados no Brasil com o Mercosul, conforme está apontado ñas Tabelas 10, lie 12. Quando as elites entrevistadas sao indagadas sobre os grupos das elites brasileiras mais beneficiados com o Mercosul, o empresariado aparece com os maiores índices nos tres países pesquisados. Contudo, como no ítem anterior, a elite paraguaia irá se destacar na tendencia de julgar os empresarios e os segmentos estatais brasileiros como os principáis beneficiarios do Mercosul, quando comparamos com as percepçôes dos uruguaios e argentinos sobre o mesmo tema. Mais uma vez vai se diferenciar do setor societal, novamente em padröes semeIhantes aos do item anterior. Se nao vejamos.
Em relaçâo aos beneficios para o setor empresarial no Brasil, 81,8% - com residuo ajustado de 2,7 - da elite paraguaia indica-o como muito beneficiado com o Mercosul (Tabela 1 0), ao passo que apenas 75,8% dos argentinos e 66,1% dos uruguaios têm essa mesma percepçao. Esses dados mostram a maior propensao dos paraguaios de perceber ganhos para o setor empresarial brasileiro, tendendo também, à diferença dos argentinos e uruguaios como mostra a Tabela 11, a superestimar os beneficios para o setor estatal brasileiro. Cerca de 23% dos argentinos e uruguaios vêem o setor estatal brasileiro com altos beneficios - demonstrando um padrâo de resposta bastante semelhante - , enquanto 68,8% da elite paraguaia tem essa visäo. O residuo ajustado de 9,7 - em contraposiçâo aos -4,6 e -5,1 dos argentinos e uruguaios nessa questuo - mostra claro contraste de padröes de resposta.
Novamente, os paraguaios irào apresentar um padräo distinto de resposta quando o tema sao os beneficios do Mercosul para os setores societai s do Brasil. Há urna concentraçâo em "beneficios intermediarios", com 72,7% das respostas, enquanto 37,9% dos argentinos e 53,3% dos uruguaios responderán! da mesma maneira. Os residuos ajustados mais urna vez apontam o grau significativo da intensidade com que os paraguaios contrastam suas respostas corn as do Uruguai e da Argentina.
De todo modo, continua a se perceber urna certa coerência nos padröes de resposta das elites desses tres países pesquisados, ainda que, como foi afirmado anteriormente, a Argentina e o Uruguai sejam casos em que os padröes de resposta indicam tendencias claras para urna proximidade com o conjunto de idéias proprio da matriz liberal de RI, enquanto o padräo do Paraguai é mais identificado com urna única corrente teórica. No caso dos paraguaios, coabitam percepçôes de corte fortemente neorealista, constatadas tanto na forma como distinguem a açàodos segmentos estatai s brasileiros, quanto sobre os beneficios que a integraçao do Mercosul propicia a esses grupos, além de percepçôes mais fortes a respeito da influencia e ganhos dos setores empresariais brasileiros, acrescidas de uma percepçâo destacada, quando comparada às do Uruguai e da Argentina, sobre a influencia e os beneficios do Mercosul para os setores societais do Brasil.
A ultima dimensäo a ser considerada diz respeito à percepçâo das elites dos très países sobre os custos e beneficios9 do Mercosul para seus respectivos países, de forma geral e näo para segmentos societais específicos. Os resultados dessa dimensäo consolidam a idéia de que a elite paraguaia tem urna visäo menos benevolente do Mercosul do que seus outros dois parceiros de bloco. Conforme se observa na Tabela 13, um percentual majoritário de paraguaios avaliou que, no somatório dos indicadores apresentados, o Mercosul significa mais custos que beneficios, ou seja, a malori a tcm um a percepçâo negativa do Mercosul. A visäo mais claramente otimista do processo de integraçâo é expressa pelas elites do Uruguai. No caso argentino, há urna nítida polarizaçao, mas, ainda assim, pendendo favoravelmente para a percepçâo de beneficios oriundos do bloco regional.
Quando cruzamos as percepçôes dos atores sobre o impacto do Mercosul com os distintos padrôes de percepçâo (do continuum neoliberal-neorealista) (Tabela 14), confirmamos serem verdadeiras as hipóteses apresentadas. Conforme se observa, a percepçâo positiva da elite uruguaia sobre a integraçâo é "puxada" pela elite de corte mais liberal. Já no Paraguai, a percepçâo negativa sobre o bloco regional é de predominancia neo-realista.
De fato, se levarmos em conta o perfil de cada um dos países, observaremos (Tabela 1 5) a predominancia, no Paraguai, de representantes das elites com perfil mais neo-realista. No caso do Uruguai, a polarizaçào é perfetta, enquanto na Argentina predomina um corte mais neoliberal. Esses dados apenas reforçam a consistencia de urna postura mais neorealista por parte das elites paraguaias em contraposiçâo ao perfil mais neoliberal dos representantes argentinos e uruguaios.
Conclusöes
Pelo exposto, podemos afirmar que existe urna expressiva diversidade na forma pela qual os diferentes países (aqui representados pelas suas elites) engajados em um processo de integraçâo percebem a dinàmica, a motivaçâo e a relevancia dos diferentes atores sociais envolvidos. Mais que isso, as elites desses países identificam certas discrepancias entre as percepçôes, motivaçoes e atuaçao de seu proprio país no processo e as dos outros países.
Mas, como também tentamos demonstrar, existe grande coerência e correspondencia ñas respostas analisadas quanto à forma como as elites entendem a natureza do processo internacional, os principáis atores e suas motivaçoes. Em cada grupo específico de respostas foi possível identificar, em maior ou menor grau, elementos de urna das matrizes teóricas das relaçôes intemacionais.
Porém, o elemento que mais incisivamente tentamos explorar foi a natureza sincrónica do processo integrativo. Ou seja, mesmo percebendo que as prioridades, os atores mais profundamente envolvidos, as motivaçoes dos países engajados no processo de integraçâo sao diferenciados quando comparados com as percepçôes desses mesmos itens em seus próprios países, o processo de integraçâo nao é visto como improvável, desequilibrado, inviável ou mesmo prejudicial. Pelo contrario, os dados mo stram que as elites dos países pesquisados têm consciência de que esse fenòmeno ocorre e, ao mesmo tempo, é algo natural ou esperado.
Tal fenómeno nao está previsto pelas principáis linhas de pesquisa voltadas para os processus de integraçâo regional. Em geral, o que se verifica é o predominio de urna dinámica, a qual está associada a urna das visöes ou matrizes teóricas do campo de RI. Ou seja, a partir de urna determinada opçao analítica, atribuí- se aos procès sos de integraçâo urna certa homogeneidade entre os principáis atores. Os neo-realistas, os neoliberais, os neofuncionalistas e os construtivistas divergem quanto à natureza, relevancia dos atores, principáis motivaçoes e efeitos de um processo de integraçâo, mas nao contemplam o fato de que essas divergencias podem estar na propria percepçâo que os atores envolvidos têm de si mesmos e dos países parceiros. Mais que isso: nao consideram essa possibilidade urna forma possfvel de acomodaçâo de interesses.
O que este artigo buscou mostrar de forma enfática foi a viabilidade de pressupor que atores envolvidos em um processo de integraçâo regional percebem, de formas distintas, desde a natureza do sistema internacional até os principáis atores enredados nesse jogo, suas motivaçôes etc., näo obstante julgarem ser absolutamente possível, mesmo diante dessas diferenciaçôes, a constituiçâo de um arranjo regional de tipo integración ista. As diferenças de percepçoes - e mesmo a consciência da existencia délas - nao sao incompatíveis com a possibilidade e o interesse de compatibilizar e acomodar em um arranjo regional tais divergencias.
As formulaçôes que mais se aproximam dessa compatibilizaçâo säo as dos autores que combinam na diacronia as diferentes dinámicas dominantes ao longo de um processo de integraçâo regional. Ou seja, como alguns autores afïrmam, de forma mais ou menos explícita, determinados processos de integraçâo partem de urna lògica claramente realista, em que os Estados nacionais tomam a frente ñas negociaçôes, basicamente preocupados com questöes de segurança, de estabilidade política regional ou mesmo com os acordos entre os Estados hegemônicos e os demais. Mas, conforme a integraçâo avança e ganha impulso proprio, novos atores säo alçados ao processo, principalmente empresas multinacional s com interesses específicos ñas negociaçôes económicas, compatibilizaçôes de normas, integraçâo macroeconômica etc. Passarla a dominar assim, na integraçâo, urna dinamica mais próxima à visào neoliberal do processo de integraçâo. Na esteira disso, e com o "transbordamento" do processo (spill-over), novos agentes entrariam em cena, novos interesses transnacionais se organizariam, novas lealdades se constituiriam, novas alianças entre grupos sociais e novas identidades emergiriam e ocupariam cada vez mais o processo decisorio e o desenvolvimento da integraçâo. A emergencia dessa dinámica seria mais bem captada e entendida pelas visöes neofuncionalistas ou mesmo construtivistas da integraçâo.
O que afirmamos neste artigo é que mesmo essa visäo "etapista" da integraçâo ainda imputa urna certa homogeneidade aos atores envolvidos em cada fase do processo. A unidade analítica, que em última instancia seria também a base que serviría de referencia para esses atores, estaría garantida a cada momento do processo, e, quando se alterassem a percepçâo e a dinamica de alguns atores, essa transformaçâo passarla a ser verdade para todos os demais. O presente artigo aponía para algo distinto. O que buscamos demonstrar é que ocorre nos processus de integraçâo, corno no caso do Mercosul. um processo de heterogeneidade nas motivaçôes, percepçoes e formas de engajamento dos países. Essa heterogeneidade, já presente na visäo etapista, mas de forma diacrònica, ganha aqui urna conotaçào sincrònica, ou seja, ocorre ao mesmo tempo.
O mote da questào passa a ser entäo como, em um mesmo processo de integraçâo, se estabelece urna acomodaçâo possível entre atores com visôes, percepçoes, motivaçôes e expectativas distintas. Essa constataçâo implica urna readequaçâo do instrumentai analitico voltado para o estudo de processos de integraçâo. Sao necessários um método de análise e parámetros teóricos que permitam entender a dinámica da acomodaçâo de intéresses, basicamente ainda no campo das relaçôes intemacionais, entre países orientados por percepçoes e motivaçôes distintas.
(Recebido para publicaçao em marco de 2001)
Resumo
Teoria Sincrónica da Integraçâo Regional: Matrizes Teóricas e Percepcäo das Elites do Mercosul
O objetivo do artigo é dar uma contribuiçâo à teoria da integraçâo regional, apresentando uma interpretaçâo alternativa a respeito das motivaçoes básicas dos atores engajados nos processos integrativos (abordagem sincrónica da integraçâo). Trata-se de uma perspectiva cuja premissa principal é que a integraçâo regional pode constituir-se, e avançar, ainda que cada um dos atores envolvidos tenha percepçoes distintas sobre a natureza do processo, as motivaçoes dos outros atores envolvidos e as suas próprias prioridades políticas e económicas. Parte-se do pressuposto de que países com distintas características - dimensäo territorial, populaçâo, prioridades na área de segurança, capacidade de influencia internacional, níveis de desenvolvimento, perspectivas e ambicóes políticas - podem engajar-se em um processo de integraçâo regional com motivaçoes também bastante diversas. E francamente compatível, segundo a abordagem aqui defendida, ocorrer acomodaçâo de intéresses entre países com perfis internacionais distintos e que visem obter da propria integraçâo regional beneficios de naturezas diferentes. Procurou-se apresentar - por meio da análise de surveys relativos à percepcäo das elites do Cone Sul (Argentina, Paraguai e Uruguai) sobre o Mercosul - evidencias empíricas que demonstrassem a pertinencia da abordagem sincrónica defendida neste artigo. Os resultados mostram que, de fato, há divergencias significativas quanto ao modo como as elites argentinas, uruguaias e paraguaias percebem a integraçâo regional, tendo as elites paraguaias uma perspectiva mais próxima à corrente neo-realista das relaçôes internacionais e as outras duas mais próximas da vertente neoliberal.
Palavras-chave: Integraçâo Regional - Teoria Sincrónica - Percepcäo das Elites - Mercosul
Abstract
Elements for a Synchronic Theory of Regional Integration: Theorie Approaches and Perception of Mercosur Elites Group
The reasons why regional integration is a priority strategic option - in opposition to unilateral or multilateral approaches - remain an important analytical challenge for the international relations theory. The objective of this paper is to propose the analytical bases for a synchronic theory of regional integration through statistical analyses of surveys with the participation of around 800 representatives from Mercosur elite groups. The main argument is that countries with different features - size, population, security priorities, capabilities in international system, ambitions in terms of international power - may be engaged in an integration process with also different motivations. To sum up, it is possible, according to the approach of this paper, coordinate interesting of countries with vary different international profile and that seek different benefits from regional integration initiative. The objective of the paper was to presenting empirical evidences that confirm synchronic hypotheses of the regional integration process. Results showed that elites group from Argentine and Uruguay had perceptions of regional integration that were orientated more by neoliberal system of beliefs, while elites group from Paraguay was more closet than neo-realist perspective.
Key words: Regional Integration - Synchronic Theory - Elites Perception - Mercosur
* Este artigo utiliza dados da pesquisa A Percepçâo da Elitee da Sociedade sobre o Mercosul e as Relaçoes Externas Brasileiras, fei ta por urna equipe do Nucleo de Pesquisa em Relaçoes Internacionais (Nupri) da USP e por pesquisadores da Argentina, Paraguai e Uruguai, sob a coordenaçâo do prof. José Augusto Guilhon Albuquerque. Agradecemos a todos que participaram da pesquisa. Os resultados deste artigo sào, no entanto, de nossa interra responsabilidade.
Notas
1. A pesquisa foi realizada por meio de questionários aplicados em entrevistas individuáis - com perguntas e respostas estruturadas e fechadas - a urna amostra de duzentos membros pertencentes às elites de cada um dos países envolvidos (à exceçâo da Argentina, onde foram entrevistadas 1 95 pessoas). A escolha dos entrevistados atendeu ao criterio institucional-posicional - ocupantes de postos-chave de instituiçôes mais diretamente vinculadas à formulaçâo e conduçâo da política externa dos países - ou se deu em funçâo do reconhecimento dos pares: líderes de governo, de empresas, de partidos políticos, de sindicatos, da academia e do meio jomalístico.
2. A importancia da corrente construtivista no debate sobre a integraçâo regional nao é desprezada aqui. Teóricos filiados a essa perspectiva (tais como Alexander Wendt) atribuem grande peso ao papel da cultura e da identidade no processo de formaçâo de interesses indutores da integraçâo regional. A opçao de nao apresentar de forma mais sistemática a interpretaçâo construtivista da integraçâo resulta da ausencia de indicadores (nos surveys disponíveis) capazes de confirmar ou refutar (empiricamente) as premissas e hipóteses dessa corrente teórica.
3. Urna revisäo abrangente sobre neofuncionalismo e a integraçâo regional pode ser encontrada em Dougherty e Pfaltzgraff (1996:418-456). Segundo eles, escritos neofuncionalistas sobre a integraçâo regional incluem trabalhos de Ernest Haas (1958), Philippe Schimitter (1979), Joseph Nye (1994) e Robert Keohane (1986).
4. Para apresentaçôes mais sistemáticas sobre o neo-realismo, ver: Keohane (1986); Vasquez (1998) e Baldwin (1993).
5. A respeito da formaçâo de alianças e as relaçôes internacionais, ver Walt (1979).
6. Para um apanhado geral sobre essa vertente, ver Baldwin (1993). Para aplicaçao específica dessa abordagem em estudos sobre regionalismo, ver Milner (1997) e MiInereYoffie(1989).
7- Autores como Ole Holsti (1993), Gabriel Almond (1960) e Philip Converse (1964) imputam às elites nacionais elevada capacidade de estruturar suas percepçoes sobre questôes extemas. Na interpretaçâo desses autores, a percepçâo das elites em temas internacionais é coerente, estável (pouco volátil) e consistente.
8. Para fins de apresentaçâo do argumento deste artigo, o agrupamento empresarial congregou os segmentos financeiro, industrial e agropecuario; o estatal, os segmentos diplomático e militar; e o societal, os sindicatos e as ONGs. Esse mesmo agrupamento será utilizado ao longo de todo o artigo.
9. O continuum de percepçâo positiva-negativa foi criado a partir de um conjunto de questöes sobre o impacto do Mercosul nos países dos entrevistados: em relaçâo ao emprego, contrabando, investimentos estrangeiros, dependencia do Brasil, imigraçôes ilegais, produçâo agrícola, atuaçâo da industria de transformaçâo e dos serviços financeiros. Alribuiu-se a cada um desses indicadores urna escala de -2 a +2. A média ponderada do conjunto de respostas foi recategorizada em dois grupos: negativo e positivo.
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Amando Jorge de Oliveira dout orando do Departamento deCiência PoLíticada Universidade de Sâo Paulo(USP) (concentraçao em Relaçôes Internaci onai s), com tese em andamento sobre a participaçâo do setor privado brasileiro ñas negociaçôes da Área de Livre-Comércio das Americas (ALCA). É pesquisador do Nucleo de Pesquisa em Relaçôes Intemacionais da USP (Nupri/USP).
Ricardo Ubiraci Sennes economista, mestre em Ciencia Política e doutorando em Relaçôes Intemacionais pela Universidade de Sao Paulo (USP). Foi bolsista do Programa de América Latina do Woodrow Wilson Institute e pesquisador-visitante na Universidade da California, San Diego, e na Georgetown University. E pesquisador do Nucleo de Pesquisa em Relaçôes Internacionais da USP (Nupri/USP) e coordenador do escritorio de Säo Paulo do Centro Brasileiro de Relaçôes Internacionais (Cebri).
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Copyright Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro Jan-Jun 2001
Abstract
The reasons why regional integration is a priority strategic option - in opposition to unilateral or multilateral approaches - remain an important analytical challenge for the international relations theory. The objective of this paper is to propose the analytical bases for a synchronic theory of regional integration through statistical analyses of surveys with the participation of around 800 representatives from Mercosur elite groups. The main argument is that countries with different features - size, population, security priorities, capabilities in international system, ambitions in terms of international power - may be engaged in an integration process with also different motivations. To sum up, it is possible, according to the approach of this paper, coordinate interesting of countries with vary different international profile and that seek different benefits from regional integration initiative. The objective of the paper was to presenting empirical evidences that confirm synchronic hypotheses of the regional integration process. Results showed that elites group from Argentine and Uruguay had perceptions of regional integration that were orientated more by neoliberal system of beliefs, while elites group from Paraguay was more closet than neo-realist perspective. [PUBLICATION ABSTRACT]
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