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Resumo: O projeto de integração regional Mercosul inclui o ensino de espanhol e português nos países membros. A Argentina e o Brasil têm leis obrigando a ofertar essas línguas aos estudantes no ensino médio, porém os processos de promoção, financiamento e implementação desses compromissos, como o contexto de implementação dessas iniciativas, são marcadamente diferentes. Neste trabalho analiso os últimos vinte anos de política lingüística regional à luz de fatores extralingüísticos e discuto algumas das razões que podem estar influenciando a maior autonomia regional do ensino de português em Buenos Aires, em contraste com uma maior dependência do ensino de espanhol em São Paulo vis-a-vis a Espanha.
O foco da minha pesquisa sociolingüística é o ensino das línguas oficiais do Mercosul (espanhol e português), à luz da política lingüística regional (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai), que interage com fatores extralingüísticos (i.e., econômicos, políticos, sociais e culturais).1 Aqui concentro-me apenas no desenvolvimento de alguns dos processos que derivaram na oferta obrigatória de espanhol no ensino médio brasileiro (lei 11.161, 5/8/2005) e português no ensino médio argentino (lei 26.468, 16/1/2009).2 Tenho três objetivos neste artigo: informar das opiniões e atitudes regionais perante algumas variedades de espanhol e de português; olhar para a maioridade da integração lingüística regional (1991-2012); e refletir sobre as diferenças no motor principal de cada um destes dois processos de instalação de uma língua estrangeira e/ou segunda no país vizinho: a Espanha impulsiona o espanhol no Brasil, e o Brasil impulsiona o português na Argentina. Espero mostrar como o processo brasileiro faz parte de um projeto tipicamente globalizado, de dependência internacional, enquanto o processo argentino é mais marcadamente regional, integrador.
Para tanto, apresento informação nova sobre as opiniões de professores e estudantes de português em Buenos Aires, Argentina, comparando-as com as atitudes de professores e estudantes de espanhol em São Paulo, Brasil, e depois faço uma revisão das duas últimas décadas de ensino dessa língua no Brasil. Com a apresentação de dados inéditos sobre opiniões perante o português em Buenos Aires, avanço minha pesquisa no campo dos estudos de atitudes e na região, contribuindo com informação inicial para futuros estudos qualitativos e quantitativos sobre atitudes perante o português e suas variedades, na América do Sul, e para o desenvolvimento de políticas lingüísticas adequadas à...