E se Obama fosse africano? E outras interinvençoes, de Mia Couto Sao Paulo: Companhia das Letras, 2011.
Em 2011 Mia Couto publicou o livro E se Obama fosse africano? E outras interinvençoes no qual reúne ensaios sobre a gigantesca riqueza cultural de sua terra, questoes políticas e raciais, a valorizaçâo da oralidade e os conflitos do português com as demais línguas, entre outros temas.
O autor organizou o livro em 16 ensaios. Logo no primeiro momento Couto faz um apontamento, no qual a espécie humana sobreviveu até hoje náo apenas pela inteligencia e sim pela capacidade de produzir a diversidade e complementa, os africanos voltaram a ser os "outros", os que vendem pouco e os que compram ainda menos. Os autores africanos que náo escreveram em ingles, moram na periferia da periferia, lá onde a palavra tem de lutar para náo silenciar.
No decorrer do texto o autor debate o conceito de pobreza da cultu1 1 _ r\ ~ 1 ... L ~ R a moçambicana. O pobre nao é apenas aquele que nao tem bens, mas, sobretudo aquele que náo tem familia, que é órfáo, cuja pobreza é a solidáo, s sendo a ruptura com a família. n
Outra questáo neste livro é sobre o pensamento africano, suas crenas, posturas, conceitos e os preconceitos que estáo interligados ao modo s cultural em que vivem, tendo um aforismo que resulta da repet^áo de lugares comuns e de receitas já pensadas pelos outros. O autor continua o raciocinio dizendo que os moçambicanos têm que gerar a capacidade de pensar em uma nova atitude, um pensamento produtivo e inovador, como sujeitos da própria historia, desta forma, antes vale andar descalço do que tropeçar com os sapatos dos outros.
Couto aponta a influência que Guimaráes Rosa teve em sua vida. Uma das razoes dessa influencia é a importância do escritor náo ser necessariamente apenas escritor, pois Rosa também era, além de médico, diplomata. Segundo Couto, para ser-se escritor e ter uma intimidade com a escrita é preciso ser-se escritor, mas por um tempo é preciso ser-se um náo escritor. Isto é, precisa estar livre para mergulhar no lado da náo-escrita, e capturar a lógica da oralidade, escapando da racionalidade dos códigos da escrita enquanto sistema de pensamento, esses sáo os desafios de desequilibrar e ter um pé em cada um dos mundos, o da escrita e o da oralidade.
Mia Couto continua seu pensamento e acrescenta que para Guimaráes deve insurgir-se contra a hegemonia da lógica racionalista, como modo único e exclusivo de nos aproximarmos do real. A realidade é táo múltipla e dinámica que pede o concurso de inúmeras visoes, o que ele sugere é a aceitaçâo de todas as possibilidades, um desabrochar de muitas pétalas, porém cada uma sendo o todo da flor.
O autor escreve outro fato quando narra o discurso realizado na intervençâo nas celebraçoes do escritor Ibsen, Maputo, em 2007 com o tema "O futuro por metade". E lembra um episódio vivido em 7 de abril de 1975, era a primeira vez que se comemorava o Dia da Mulher Moçambicana. Mia Couto trabalhava no jornal Tribuna e realizou a cobertura das celebraçoes no porto de Maputo.
O encontro era dirigido pelo general Sebastiáo Mabote, que gritava "viva a mulher" e centenas de homens repetiam seu gesto erguendo as máos e gritando. De repente o general deu outra voz de comando: "gritem comigo, quero que nosso grito vá além de Maputo". E todos os homens concordaram dizendo que sim, e entáo o general levantou os braços e disse: "somos todos mulheres", houve um silencio espantoso, porém, depois de muita insistencia de Sebastiáo Mabote, alguns homens, timidamente, levantaram as máos.
Mia Couto partilha esta historia para confirmar que todos estavam dispostos a declarar o seu apoio à mulher, mas náo estavam dispostos a viajar para o lado feminino. "Difícil é sermos os outros. Nem que seja por um instante, nem que seja de visita. É preciso aceitar que a maior parte das diferenças foi inventada e que o Outro (o outro sexo, a outra raça, a outra etnia) existe sempre dentro de nós". (p.135).
O comentário do autor, nesse fragmento, é que o fato de ser o "outro" náo é no sentido literal, náo propoem que se iniciem uma operaçáo travesti e sim da disponibilidade de viajar para aquilo que se entende como sendo a alma dos outros.
Mia Couto finaliza com o último artigo, no qual publicou em meados de novembro de 2008 no jornal Savana, Maputo, com o título E se Obama fosse africano? O autor descreve como o povo africano ficou emocionado com a vitória de Obama à presidência dos Estados Unidos, cuja alegría se comparava à libertaçâo de Nelson Mandela.
Na noite de 5 de novembro, o novo presidente norte-americano náo era apenas um homem que falava, festejava uma vitória sem dimensoes, negros e brancos respirando comungando de uma mesma surpresa feliz.
Na mesma época um autor camaronês, Patrice Nganang, escreveu um texto titulado E se Obama fosse camaronês?. A partir deste texto Mia Couto questionou: E se Obama fosse africano e candidato a uma presidência africana? A seguir o autor faz suas análises: se Obama fosse africano, um concorrente qualquer fosse um George Bush das Áfricas inventaria mudanças na constituiçào para prolongar o seu mandato para além do previsto e sendo um candidato do partido da oposiçào, náo teria espaço para fazer campanha, portanto náo seria sequer elegível. Mia Couto segue o texto fazendo outras hipóteses a repeito de se Obama fosse africano náo seria eleito em um país da África.
Desta forma, e segundo Mia Couto, só há um modo verdadeiro de celebrar Obama nos países africanos: é lutar para que mais bandeiras de esperança possam nascer no continente africano e lutar para que Obamas africanos possam também vencer.
Enfim, através deste texto se conclui que os escritos poéticos e críticos de Mia Couto sáo uma leitura importantíssima e necessária a todos as pessoas do mundo, pois o autor trás uma nova leitura e outras representaçoes a respeito dos povos de Moçambique e da África e, ao mesmo tempo, quem ler o livro encontrará uma aproximaçâo e identificaçâo com o povo brasileiro. É claro que estas sáo apenas algumas interpretaçoes a respeito do livro, mas o convite está posto para embarcar nessa leitura: E se Obama fosse africano? E outras interinvençoes!
Alessandra Aparecida Dias Aguiar
Mestranda em Gestáo e Prática Educacional - UNINOVE;
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