RESUMO
Objetivou-se conhecer os modos de pensar dos jovens de um curso técnico em enfermagem de um colégio técnico federal sobre "o que é ser jovem?". A pesquisa se insere no paradigma qualitativo de investigaçâo utilizando a Sociopoética, foi realizada corn onze jovens que cursavam o ensino médio concomitante ao técnico em enfermagem em 2013. Os jovens problematizaram a dimensio do tempo de espera para o mundo adulto, mostrando que nao há um único modo de ser jovem e nem de se tornar adulto, pois para eles os ritos de passagem eram: casamento, saída da casa dos pais, o ingresso em um colégio técnico federal e o inicio dos estágios do curso técnico em enfermagem, demonstrando que esse momento nao é fixo e nem demarcado. Eles também relataram jeitos de ser jovem em bandos que agem de modo diferente. Discutiram o tempo e a liberdade, ressaltando o quanto a rotina do jovem está relacionada à escola. Essa pesquisa possibilitou a oportunidade de reflexio sobre os conceitos sobre jovens, muitas vezes cristalizados numa sociedade que raramente leva em consideraçâo a voz de quem mais entende sobre si mesmo, ou seja, do próprio sujeito que tem a experiência e vivencia a juventude.
PALAVRAS-CHAVE: Jovens, Colégio Técnico, Sociopoética.
PHILOSOPHY OF YOUTH ON BEING YOUNG: A SOCIO-POETICS RESEARCH
ABSTRACT
It was aimed at to know the manners of thinking of the youths of a technical course in nursing of a federal technical school on "the one what is to be young?" The research interferes in the qualitative paradigm of investigation using Socio-poetics, it was accomplished with 11 young that studied the concomitant medium teaching to the technician in nursing in 2013, years. The youths problematized the dimension of the time of wait for the adult world, showing that no there is a single way of being young and nor of becoming adult, because for them the rites of passage were: marriage, exit of the parents' house, the entrance in a federal technical school and the beginning of the apprenticeships of the technical course in nursing, demonstrating that that moment is not fixed and nor demarcated. They also told ways of being young in groups that act in a different way. They discussed the time and the freedom, emphasizing them as the youth's routine is related to the school. That research made possible the reflection opportunity on the concepts on young, a lot of times crystallized in a society that rarely takes into account the voice of who more understand on himself, in other words, of the own subject that has the experience and it lives the youth.
KEYWORDS: Young, Technical School, Socio-poetics.
1 INTRODUÇÂO
A juventude, as juventudes ou o sentimento ser jovem como se apresentam atualmente em muitos trabalhos, enquanto objetos de pesquisa, do ponto de vista analítico histórico, social e cultural tém levantado muitas interpretares e/ou abordagens sobre suas definiçôes e implicaçôes.
Segundo Adad (2011) para entender como se constituiu este sentimento "ser jovem" - como categoría destacada da infância e do mundo adulto - é necessário entendé-lo como urna construçâo social e histórica, de cunho eminentemente moderno. Assim, de acordo corn Ariès (1986), inicialmente a duraçâo da infância era reduzida a seu período mais frágil, enquanto o filhote do homem aínda näo conseguía bastar-se; de criancinha pequeña, ela se transformava imediatamente em homem jovem, sem passar pelas etapas da juventude, que talvez fossem praticadas antes da Idade Média e que se tornaram aspectos essenciais das sociedades evoluídas de hoje.
Para Levi e Schmitt (1996), como as demais épocas da vida, quem sabe numa medida mais acentuada, também a juventude é urna construçâo social e cultural. Desse ponto de vista, a juventude se caracteriza por seu marcado caráter de limite. Corn efeito, ela se situa no interior das margens movéis entre a dependéncia infantil e a autonomía da idade adulta, naquele período de pura mudança e de inquietude em que se realizam as promessas da adolescéncia, entre a imatundade sexual e a matundade, entre a formaçâo e o pleno florescimento das faculdades mentais, entre a falta e a aquisiçâo de autoridade e de poder.
No entanto, conforme esses autores, nenhum limite fisiológico basta para identificar analíticamente urna fase da vida que se pode explicar melhor pela determinaçâo cultural das sociedades humanas, segundo o modo pelo quai tratam de identificar, de atribuir ordern e sentido a algo que parece típicamente transitorio, vale dizer caótico e desordenado. Essa "época da vida" näo pode ser delimitada com clareza por quantificaçôes demográficas nem por definiçôes de tipo jurídico ou biológico exclusivamente, e é por isso que parece para eles, substancialmente inútil tentar identificar e estabelecer, como fizeram outros, limites muito nítidos.
Abramo (1994), entretanto, comenta que o termo juventude refere-se a urna faixa de idade, um período da vida em que se completa o desenvolvimiento físico do individuo e urna série de mudanças psicológicas e sociais ocorre, quando este abandona a infância para processar a sua entrada no mundo adulto, quando passa por urna espécie de "moratoria social", um período destacado que somente se configura em alguns grupos sociais, que podem manter seus fMhos longe da via produtiva e social, com a finalidade de prepará-los para o futuro, onde o jovem teria um tempo de espera, para que só depois pudesse ser solto no mundo.
Sendo assim, para essa autora, a cristalizaçâo desse sentimento "ser jovem" näo é algo universal, muito pelo contrário, varia de sociedade para sociedade ou dentro de urna mesma sociedade. Ñas sociedades ditas primitivas, por exemplo, a passagem do universo infantil para o adulto é altamente institucionalizada e ritualizada, e os grupos etários têm funçôes e lugares definidos no sistema social.
Segundo Schindler (1996, p. 267),
[...] a juventude também constituí em si um período da vida, objeto das atençôes afetuosas da pedagogía; ao mesmo tempo, contudo, nos a consideramos com profunda desconfiança e a vigiamos, controlando-a por meio de toda uma série de instancias burocráticas. Somente a sociedade dividida em classes da era industrial desenvolve ao máximo a dramaturgia da juventude enquanto portadora enfática de esperanças e de ameaças sodais latentes, ao passo que atribuí à fase de tornar-se adulto as características de um fenómeno de tipo cultural, corn conotaçôes tanto negativas quanto positivas, mas de todo modo algo determinante.
Assim, as manifestaçôes e expressöes juvenis, ao longo do sáculo XX e inicio do XXI, concorrem para compor o aparecimiento público da juventude, tornando-se progressivamente percebida como sujeito social específico, corn experiências, questôes e formulaçôes particulares, dadas pela sua condiçao etária e geracional. A percepçao que se instaurou é de uma juventude em contraste com a ordern social dominante, sendo que a definiçao de juventude passa a estar marcada, sobretudo, pela negatividade ou pela indeterminaçao que produz. Cria-se, simultáneamente, um certo "estado de révolta" na juventude e, como diz Lapassade (1968), um certo "mal estar" generalizado na sociedade.
Pais (2003) amplia essa discussäo ao dizer que os diferentes sentidos que o termo "juventude" tem tomado e as diferentes manifestaçôes de sentido encontradas nos seus comportamentos cotidianos, nos modos de pensar e agir, em suas perspectivas sobre o futuro, nas suas representaçôes e identidades sociais, compöem paradoxos analíticos importantes para a reflexäo das culturas juvenis. O desafio, como indica o autor, é perceber a juventude nao apenas como um conjunto social cujo principal atributo é o de ser constituido por individuos pertencentes a uma mesma fase de vida, mas sim compreender as culturas juvenis como um conjunto social com atributos que os diferenciam. Portanto, uma passagem do campo semántico que toma a juventude como uma "unidade" para o que a toma como uma "diversidade", as juventudes.
Diante disso, para realizar esta pesquisa, foi necessário aceitar desafios, como: deixar de ver os jovens estudantes do curso técnico em enfermagem de um colégio técnico federal com uma visäo encoberta pelas noçôes adquiridas através da mídia e da própria sociedade, a qual algumas vezes limita a entender os jovens apenas como um "grupo de risco" para uma multiplicidade de problemáticas construidas ao longo dos anos, para entáo considerar esses jovens como um grupo produtor de conhecimentos, capaz de indicar sua própria forma de perceber sua condiçao juvenil. Desse modo originou-se a seguinte questáo problema: Como os jovens do curso técnico em enfermagem de um colégio técnico federal pensam sobre "o que é ser jovem?".
De acordo com pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2005), em nossa sociedade, circulam ideias sobre adolescência e juventude que se associam à noçao de crise, desordem, irresponsabilidade; um problema social a ser resolvido, que merece atençao pública. O enfoque de risco, em particular, aparece fortemente associado a esses repertorios por meio de expressöes como: gravidez de risco, risco de contrair o HIV, risco de uso de drogas ilícitas, risco de morte frente à violência. O risco generalizado parece, assim, definir e circunscrever negativamente esse período da vida, gerando expressöes, açôes e posturas absurdas em relaçao aos adolescentes.
Nessas interpretaçôes e/ou abordagens parece existir uma certa dificuldade em considerar os jovens como sujeitos de mudanças positivas, percebe-se que embora existam tentativas de possibilitar aos jovens a oportunidade de falar de si, o que realmente querem e quais säo suas problemáticas, os espaços para esses diálogos säo restritos. Desse modo, o presente estudo se constituí como parte do resultado de urna pesquisa sociopoética, desenvolvida como dissertaçao de Mestrado, em um Programa de Pôs-Graduaçao em Educaçao.
A relevância dessa investigaçao esteve, em especial, na possibilidade das pesquisadoras se aproximarem desses jovens, ouvindo-os de outro modo, considerando-os como capazes de formular questöes significativas, de propor açôes relevantes, de efetuar uma relaçao dialógica com outros autores e de contribuir para ampliar os conhecimentos sobre a temática das juventudes. O objetivo foi conhecer os modos de pensar dos jovens de um curso técnico em enfermagem de um colégio técnico federal sobre "o que é ser jovem?". Esta pesquisa possibilitou adentrar em parte do universo pretendido, interferindo diretamente ñas práticas docentes das pesquisadoras.
2 PERCORRENDO OS CAMINHOS DA PESQUISA E CONSTRUINDO OS DADOS ATRAVÉS DA SOCIOPOÉTICA
Abordagem filosófica de pesquisa e de ensino-aprendizagem, criada pelo filósofo e pedagogo francés Jacques Gauthier, "[...] a expressäo sociopoética surge de um neologismo que une o latim socius - aquilo que é coletivo -, ao grego poiésis, que significa criaçao. Desse modo, o termo designa a construçao coletiva do conhedmento." (SANTOS, 2013, p. 35). Como dispositivo de pesquisa (GAUTHIER, 2004a), tem origem nas vivências de Gauthier no movimiento sindical de luta de um povo indígena situado na Kanaky, também denominada Nova Caledonia, no Pacífico, que lutou por sua independência contra o colonialismo francés (GAUTHIER, 2012). Segundo Santos et al. (2005), a Sociopoética é influenciada pela Pedagogía do Oprimido, de Paulo Freire; pela Análise Institucional, de René Lourau; pela Esquizoanálise, de Gilles Deleuze e Félix Guattari; pelo Teatro do Oprimido, de Augusto Boal; e pela Escuta Mitopoética, de René Barbier.
No Brasil, ganha uma nova dimensäo a partir de implicaçôes psicoafetivas, histórico existences, estruturais e profissionais, de Iraci dos Santos e de Jacques Gauthier que iniciaram a jornada intelectual acerca da sociopoética, nos anos 1990 e ao longo de quase duas décadas, novos estudos vém sendo elaborados com base nos pressupostos filosóficos, teóricometodológicos e tecnológicos desta abordagem (SANTOS et al., 2013).
Conforme Gauthier (2003), a Sociopoética é uma prática filosófica, porque ela descobre os problemas que inconscientemente mobilizam os grupos sociais; favorece a criaçao de novos problemas ou de novas maneiras de problematizar a vida; favorece a criaçao de confetos, contextualizados no afeto e na razao, na sensualidade e na intuiçao, na gestualidade e na imagmaçao do grupo-pesquisador (sujeitos da pesquisa, também identificados como copesquisadores); favorece a criaçao de conceitos desterritorializados, que entram em diálogo com os conceitos dos filósofos profissionais.
O processo de uma pesquisa Sociopoética normalmente apresenta-se através de uma oficina de negociaçao, oficina de produçao de dados pelos copesquisadores, sendo que após a produçao, o facilitador (pesquisador oficial), particularmente, realiza sua própria análise da técnica(s) sociopoética(s) utilizada(s) na(s) oficina(s) de produçào dos dados, em busca de linhas que perpassem o pensamento do grupo para o tema-gerador (nessa pesquisa foi "o que é ser jovem?" para jovens do curso técnico em enfermagem de um colégio técnico federal). Em seguida, o facilitador leva esses resultados analíticos para os copesquisadores, preferencialmente, de forma mais sintética, Iiteréria e comunicativa. Esse momento é chamado de contra-análise e permite aos copesquisadores conhecer, confirmar, rétif ica r, reexaminar e, especialmente, contrapor-se és ideias do facilitador, tornando mais precisas as reflexóes deste. Por fim, faz-se a análise filosófica, com base ñas impressóes dos copesquisadores acerca da contra-análise.
Desse modo, na Sociopoética, a pesquisa é realizada em grupo, motivo pelo quai a mesma foi escolhida para este trabalho, urna vez que as açôes direcionadas aos jovens têm melhores resultados quando desenvolvidas numa perspectiva de grupo/coletividade. Além disso, a mesma ocorre em oficinas que utilizam dimensóes da arte como dispositivos que causam estranhamento, o que torna possível a produçào de conceitos heterogéneos, polifónicos, polissémicos, metafóricos e mesmo inusitados sobre um tema-gerador.
Para compor o grupo-pesquisador, em maio de 2013, as pesquisadoras apresentaram a proposta à diretora do Colégio Técnico de Bom Jesus - CTBJ, vinculado à Universidade Federal do Piauí - PI, para que houvesse sua permissäo para a tentativa de realizaçào da pesquisa junto aos alunos do curso técnico em enfermagem da referida instituiçào. Em seguida, as facilitadoras foram às duas turmas dos referidos curso e colégio, explicaram aos alunos a pesquisa de forma clara e objetiva, sendo que 11 jovens demonstram interesse. Após a autorizaçào de todos os seus pais e responsáveis, formou-se o grupo-pesquisador.
Iniciada a oficina de negociaçào, a sugestào do tema-gerador: "o que é ser jovem?" foi prontamente aceita, com entusiasmo, pelos jovens alunos. Em seguida, o acordo sobre os dias e horários das próximas oficinas foi realizado e iniciou-se um relaxamento ao som de urna música que inspirava tranquilidade. Após esse momento, os copesquisadores, sentados em colchonetes dispostos em círculo no chäo, foram recortando retalhos de tecidos que coloriram o ambiente e deram roupas, cábelos, rostos e expressóes a cartolinas em formato de corpos, as quais se transforma ram em crachés.
Os copesquisadores optaram pelos seguintes nomes ficticios: Quadrilha, Margarida, Felicidade, Elena, Jukinha, Chris Rock Blue, Diversäo, Peace, Açuceninha, Trapinho, Laura e deram inicio às apresentaçôes se identificando como jovens que säo sensiveis, nào sào rebeldes e por mais rebeldía que exista, por mais problemas que existam, têm um lado sentimental dentro de si, predsam de carinho, sào felizes. Dito por eles, também sào jovens que sentem a falta dos pais porque moram longe deles, gostam de quadrilha, de rock, de coisinhas delicadas, de se divertir, de sair corn os pais, os amigos, a familia. Têm um jeito de ser "street", porque sào mais casuais, têm um lado brincalhäo de fazer piadas com as coisas, com os momentos que acontecem na vida deles e pensam que todo jovem devia aceitar as diferenças uns dos outros e ter amor, liberdade e paz.
Para a oficina de produçào dos dados foi escolhida a técnica sociopoética denominada Os bichos Jovens. Ao tempo em que essa oficina começou, o lanche foi servido, a música adentrou a sala e as brincadeiras começaram, colocando os corpos dos jovens em movimiento e os preparando para um relaxamento.
Durante o relaxamento, foi solicitado que os jovens fechassem os olhos, respirassem profundamente e gradativamente sentissem cada parte do corpo, até estarem preparados para urna viagem imaginária onde os mesmos se transformarían! em bichos jovens. Durante o trajeto, os bichos jovens perceberam muitas cores e sons, passaram por obstáculos, encontraram aliados, subiram montanhas e alguns questionamentos foram sendo feitos, dentre eles: como você se sente sendo um bicho jovem? Que dificuldades o bicho jovem enfrenta? Quai a atitude do bicho jovem no buraco? O que ele fez no buraco? Como o bicho jovem saiu do buraco? Como é seu aliado? Com ajuda de quem o bicho jovem subiu ao topo da montanha? O que o bicho jovem encontra no topo da montanha? Quais as reaçôes dele? O que ele pensa sobre o que é ser jovem?
Ao retornarem do relaxamento, os jovens pintaram suas respectivas viagens usando papéis, pincéis, tinta e muita imaginaçâo. Além disso, esculpiram corn massa de modelar o bicho jovem no qual haviam se transformado, e em seguida fizeram seus relatos oráis. Em suas análises, as facilitadoras da pesquisa identificaram, dentre outros, os seguintes confetos produzidos pelo grupo-pesquisador: pássaro-borboletas jovens, jovens adultos, pássaro jovem, pássaros jovens em bando, tartaruga jovens, tigresa jovem.
Após a realizaçâo do próximo passo, a oficina de contra-análise - momento em que os facilitadores levam suas análises ao grupo-pesquisador, para que as mesmas sejam ratificadas, retificadas e complementadas - percebeu-se que os confetos se referem à (pássaro-borboletas jovens) jovens que se consideram marcados por um corpo em transformaçâo, afirmam que se comportam como adultos (jovens adultos), no entanto eles divergem quanto a estarem ou näo, preparados para serem adultos, problematizando o tempo de espera para a vida adulta. Essa problemática culmina em outra: jovem näo tem identidade? Säo (pássaros jovens em bando) jovens que andam em bando, misturados, näo se sabe quem é quem, nada é pouco, tudo é excesso, demonstrando que raramente estäo sozinhos e que os bandos podem ser diferentes. O confeto jovens tartaruga säo aqueles jovens que agem esperando o tempo sem ansiedade e jovem tigresa é o jovem que corre feito gato, o tempo nunca é suficiente e nem eficiente, desse modo, criam a problemática da relaçâo do jovem com o tempo. Em seguida, foi identificada, no pensamento do grupo-pesquisador, a linha de pesquisa: Jeitos de Ser Jovem.
3 O SER JOVEM NAS LINHAS DO PENSAMENTO DOS JOVENS E O CONFRONTO COM OS ESTUDIOSOS DA TEMÁTICA JUVENTUDES
Chegado o momento filosófico, que ora descreve-se, procurou-se confrontar o conhecimento produzido pelo grupo-pesquisador com reflexöes teórico-filosóficas de outros autores ou correntes. O que chamou-se de "filosofía" näo pode ser associado nem à reflexäo, nem à contemplaçâo, nem à comunicaçâo:
Ela näo é contemplaçâo, pois as contemplaçôes säo as coisas elas mesmas enquanto vistas na criaçâo de seus próprios conceitos. Ela näo é reflexäo, porque ninguém precisa de filosofía para refletir sobre o que quer que seja. [...] E a filosofía näo encontra nenhum refúgio último na comunicaçâo, que näo trabalha em potência a näo ser de opiniöes, para criar o consenso e näo o conceito (DELEUZE; GUATTARI, 1997, p. 14).
Os autores supracitados afirmam aínda que as pessoas näo podem conhecer nada por concertos que näo tenham sido criados por elas mesmas. Essa é a tarefa da filosofía: criar concertos. O concerto tem sempre a verdade que lhe é possível em funçao das condiçôes de sua criaçao, portanto, nao se pode afirmar que haja um concerto melhor do que outro.
Foi com base nessa perspectiva que Gauthier (2004b) desenvolveu a noçao de "confeto" (concerto + afeto) e de Socíopoétíca. Por meío dos dispositivos (técnicas artísticas), o grupopesquisador inventa novos concertos e produz também metáforas. Essas, apesar de nao se tratar propiamente de um concerto, promovem urna tensäo produtiva num mundo que se apresenta pacífico e desproblematizado. Com base nas experiéncias práticas, observa-se que os grupos, por meío dos confetos, realizam deslocamentos no pensamento, em direçao a novas possibilidades de criaçao. Além disso, o confeto envolve elementos poéticos e artísticos que fazem corn que a Socíopoétíca se situé no entre-dois do saber e do sentir (SILVEIRA, 2004).
A criaçao do concerto se diferencia da metáfora, porque o concerto já nao está ligado a urna ideia. O problema já se instaurou e é forçado a encontrar novas formas de dar conta dele. É ai que nasce o concerto. Ele vai se formando a partir de pedaços vindos de outros concertos que respondiam a outros problemas, mas näo dáo conta do que se apresenta no presente. Um concerto é urna heterogênese, portanto (DELEUZE; GUATTARI, 1997).
A importância de criar concertos reside na possibilidade de confrontar concertos já constituidos, permrtmdo fazer surgir novas variaçôes, operar vibraçôes, multiplicar possibilidades e suscitar novos acontecimientos. Com isso, aquilo que estava cristalizado começa a se tornar movimiento. Desse modo, os confetos citados anteriormente surgiram de momentos de problematizaçao e de criaçao em torno do tema: "o que é ser jovem?" para os jovens do curso técnico em enfermagem do Colégio Técnico de Bom Jesus - CTBJ. E, partindo dessas problemáticas, os pensamentos dos jovens se apresentaram na linha ou dimensäo: Jeitos de Ser Jovem.
Nessa linha da pesquisa, inicialmente, os jovens se debruçaram na contra-análise sobre o confeto pássaro-borboletas jovens que sao jovens de asas coloridas, com olhos grandes que podem ou näo estar prontos para voar e tudo ver. Em suas falas, observou-se modos diferentes de pensar o ser jovem pássaro-borboletas, pois alguns jovens, como Chris Rock Blue, näo se consideram prontos para voar e tudo ver, mas a caminho, e há aqueles que, como Trapinho, aínda estao começando e só depois pegam o voo. Exceto pela fala de Peace, de que "os jovens estao mais que prontos para voar e tudo ver", percebe-se nos outros enunciados a presença de representares instituidas históricamente sobre os jovens, de que devido a sua idade ou pela noçao de ser em desenvolvimiento podem viver fora da vida produtiva e social, com o intuito de preparar-se para o futuro e esperar um tempo para ser adulto, numa espécie de "moratoria social" (ABRAMO, 1994; LEVI; SCHMITT, 1996).
Isso chama atençao porque esses jovens do curso técnico em enfermagem do CTBJ estáo com idades entre 15 e 17 anos, estäo fazendo um curso técnico profesionalizante e em sua maioria morando em outra cidade, longe de seus país. Nesse contexto, se poderia pensar que esses jovens nao passaram por urna moratoria social? Se nao passaram e já adentraram à vida produtiva e social, por que nem todos se consideram prontos para voar e tudo ver? Por que alguns disseram estar a caminho desse momento? Nesse sentido, para esses jovens do curso técnico em enfermagem do CTBJ, quando essa moratoria social termina?
Para problematizar essa dimensäo do tempo de espera para o mundo adulto, o grupopesquisador criou aínda o confeto pássaro-jovem, que é aquele jovem bem diferente, desmanchando-se num fluxo fluido marcado por um corpo em transformaçao. Quando questionados na contra-análise sobre: em que situaçôes o pássaro-jovem desmancha-se e tornase outra pessoa? A copesquisadora Jukinha disse: "acho que é quando você casa", Açuceninha afirmou: "a partir do momento em que você sai da casa dos seus país para morar fora, você vai ter que virar um adulto de qualquer forma". Peace deu continuidade argumentando: "quando você vai para o estágio você também tem que ser um adulto, quando você veio de outra escola para o colégio técnico, você se tornou um adulto, porque é mais responsabilidade. Nós somos jovens com responsabilidade de adulto".
Para esses jovens, os ritos de passagem para o mundo adulto eram: casamento, saída da casa dos pais, a vinda de outra escola para o CTBJ e o inicio dos estágios do Curso Técnico em Enfermagem, demonstrando que a juventude nao é um momento fixo e bem demarcado. Posto que muitos desses jovens já passaram por alguns desses ritos, eles mostraram que em seus modos de existir, muitas vezes passam por um Jeito de ser Jovem Adulto, ou seja, nao há um único jeito de ser jovem e nem de se tornar adulto. Ao dizerem, por exemplo, que sao jovens com responsabilidades de adulto, de certo modo, eles avaliam que aquilo que fazem é diferente do que o jovem considerado padräo pela sociedade faz.
Em lugar da expressäo ritos de passagem, talvez fosse mais apropriado dizer ritos de consagraçao, ritos de legitimaçao, ou simplesmente, ritos de instituiçao e:
[...] falar em rito de instituiçao é indicar que qualquer rito tende a consagrar ou a legitimar, isto é, a fazer desconhecer como arbitrário e a reconhecer como legítimo e natural um limite arbitrário, ou melhor, a operar solenemente, de maneira lícita e extraordinária, urna transgressäo dos limites constitutivos da ordern social e da ordern mental a serem salvaguardadas a qualquer preço, como no caso da divisäo entre sexos por ocasiäo dos rituais de casamento. Ao marcar solenemente a passagem de urna linha que instaura urna divisäo fundamental da ordern social, o rito chama a atençâo do observador para a passagem (daí a expressäo rito de passagem) quando, na verdade, o que importa é a linha. A rigor, o que esta linha separa? Um antes e um depois, é claro: o menino circuncidado e o menino näo circuncidado [...] (BOURDIEU, 1996, p. 98).
Assim como Bourdieu (1996), a copesquisadora Peace problematizou o fato de o rito chamar a atençâo do observador para a passagem e nao para a linha, ao dizer que: "ninguém leva jovem a sério, todo mundo acha que jovem é só urna fase que vai passar, como se a gente hoje nao fosse nada, ou é criança ou é adulto, e entre isso e outro, ninguém compreende".
De acordo corn Bourdieu (1996, p. 100):
A instituiçâo de urna identidade, que tanto pode ser um título de nobreza ou estigma ("você näo passa por um..."), é a imposiçâo de um nome, isto é, de uma essência social. Instituir, atribuir uma essência, uma competência, é o mesmo que impor um direito de ser que é também um dever ser (ou um dever de ser). É fazer ver a alguém o que ele é e, ao mesmo tempo, Ihe fazer ver que tem de se comportar em funçâo de tal identidade. Neste caso, o indicativo é um imperativo. A moral da honra constituí uma forma apurada da fórmula que consiste em dizer "é um homem". Instituir, dar uma definiçao social, uma identidade, é também impor limites [...].
Nesse caso, quando a copesquisadora Peace afirmou que "todo mundo acha que jovem é só uma fase que vai passar, como se o jovem nao fosse nada", ela induz a pensar sobre o seguinte questionamento: estar na linha significaría nao ter uma identidade? Jovem näo tem identidade? A copesquisadora Peace também problematizou essa ideia ao dizer em outro momento da contra-análise: "Acho que todo jovem está à procura da identidade, até achar, a gente vai pegando um pouquinho de um, um pouco de outro, até achar o que você realmente gosta, o que você realmente é".
Segundo Bomfim (2006, p. 66), "os jovens buscam estabelecer sua identidade, ou seja, uma forma própria de comunicar-se consigo mesmo, com os outros e com o mundo, a partir de novas formas de sociabilidade". De acordo com Melucci (1992), o tema da identidade aparece como importante porque esta fase, ao ser caracterizada como de transigió, pois nela se gesta um vir-a-ser, é, ao mesmo tempo, uma construçâo do presente, enquanto superaçâo da infância, e em saída da infância. A busca da idade adulta remete para o jovem, quer individualmente ou em grupo, a questäo do autorreconhecimento e de ser reconhecido. Assim, a identidade, individual ou coletiva, sempre pressupöe a dimensäo da alteridade, ao ser urna categoría social e relacional.
Nesse contexto, Sposito (1996) afirma que se a questäo da identidade é fundamental para a compreensäo desse momento da vida humana, a tendência, no entanto, é considerá-la, no caso do jovem, a partir de estereotipos, quase sempre nascidos pela elaboraçâo de uma imagem originada na mídia. Ao se referir ao universo juvenil, em gérai, sem recortá-lo sob a ótica da classe social, a sociedade tem a tendência de considerar os jovens consumistas ou alienados. Se for recuperada a extraçâo de classe, sobretudo para qualificar os alunos da escola pública, acrescenta-se, na maioria das vezes, o atributo de violentos ou margináis.
Também é interessante observar o quanto o modelo instituido de jovem - aquele que vive a moratoria social e é separado do mundo adulto, atomizado - perpassa o imaginário do grupo, inclusive denotando fragmentaçâo nesses rituais, de modo que nao há um único ritual para o mundo adulto. Entretanto, nem sempre foi assim, Schindler (1996), por exemplo, comenta que no inicio da era moderna os ritos de passagem eram bem definidos e os jovens e sua "rebeldía" tinham um lugar nesta sociedade, na verdade, ela já era esperada. Só depois é que há uma atomizaçâo do jovem - moratoria social - quando eles passam a ser separados do mundo, para só depois serem soltos.
Inclusive, para que fosse constituida e demarcada a infância e adolescéncia como um momento destacado do mundo adulto, foram inventados os espaços da escola e da familia. Segundo Ariés (1986, p. 11), "a escola substituiu a aprendizagem como meio de educaçâo. Isso quer dizer que a criança deixou de ser misturada aos adultos e de aprender a vida diretamente, através do contato com eles". Ariés (1986, p. 12) afirma aínda que:
A familia começou entäo a se organizar em torno da criança e a Ihe dar uma tal importancia, que a criança saiu de seu antigo anonimato, que se tornou impossível perdê-la ou substituí-la sem uma enorme dor, que ela nao pôde mais ser reproduzida muitas vezes, e que se tornou necessário limitar seu número para melhor cuidar déla.
Outra dimensäo interessante dos Jeitos de Ser jovem trazida pelos copesquisadores está no confeto pássaros jovens em bando, que sao os jovens que andam em bando, misturados, nao se sabe quem é quem, nada é pouco, tudo é excesso que na contra-análise foi discutido mediante a seguinte questáo: O que pode pássaros jovens em bando?
Nos depoimentos, percebe-se Jeitos de Ser Jovem em bando, pois os copesquisadores demonstram que raramente estáo sozinhos. No entanto, esses bandos sao diferentes, de acordo com Felicidade: "tem aquele bando que pode se juntar para bagunçar mesmo, bagunçar na aula, mas tem os mais calmos, que se juntam para assistir filme ou até para falar besteira". Para Peace: "um bando nunca se junta para ficar triste, sempre se junta para ficar mais alegre, para esquecer tudo, para zoar, ir à festa".
De acordo com Bomfim (2006, p. 66), os jovens "näo querem ficar sozinhos e por isso buscam agregar-se a outros jovens, näo em formas gregárias tradicionais em que há presença de tutores, mas em grupos nos quais eles e elas säo os(as) protagonistas".
Os copesquisadores também demonstraram que o Jeito de Ser Jovem em bando é potente, pois de acordo com Felicidade: "o jovem tem mais força quando está num bando, porque dá mais coragem". Além disso, conforme Chris Rock Blue "näo se vê um grupo chorando, nem falando de problemas, porque o problema é íntimo e os jovens nao confiam em todos do bando, somente em alguns, os amigos de verdade säo poucos". Nesse contexto, os copesquisadores levantam a ideia de grupo, das sociabilidades presentes nas amizades, ñas festas, no excesso.
De acordo com Dubet e Lapeyronne (1992), é preciso considerar que o momento da juventude é rico em mamfestaçao da sociabilidade, sendo as dimensöes expressivas muito mais fortes do que as orientaçôes de caráter instrumental. Ou seja, as formas coletivas e grupais que surgem, ás vezes de modo fluido e fragmentário, tendem a incidir muito mais para a mamfestaçao de um desejo de ser, daí a sua natureza expressiva, do que para a lógica racionalinstrumental voltada para a consecuçao de algum fim imediato.
Segundo Sposito (1996, p. 100), "[...] nao ocorre, por acaso, o fato de que o mundo da produçao cultural e das artes, em especial, a música, a poesía, o teatro e a dança, ocupam grande parte do universo de interesse juvenil".
O grupo-pesquisador também problematizou essa linha de outro modo, ao mostrar Jeitos de Ser Jovem fazendo relaçôes com o tempo, quando produziram os confetos jovens tartaruga, que sao aqueles jovens que agem esperando o tempo sem ansiedade, e jovem tigresa, que corre feito gato, o tempo nunca é suficiente e nem eficiente. E quando questionados: É o jovem que faz a hora? Ou a hora já vem marcada? Qual o tamanho da liberdade do jovem? Os copesquisadores mostraram um Jeito de Ser Jovem problematizando o tempo e a liberdade.
Em relaçao ao tempo, eles concordam com Jukinha, quando ela disse: "depende, na escola você tem que acordar 6h, fazer o café da manha, se você atrasar 2 minutos você perde o ônibus". Segundo Açuceninha: "o jovem faz a hora no final de semana e podem dividir seu tempo, mas escolher a hora de tudo näo". Evidenciou-se, nesse momento, o quanto a rotina desses jovens está relacionada à escola, urna vez que fazem o ensino médio pela manhä, o técnico em enfermagem à tarde e muitas vezes aínda precisam frequentar os estágios do curso profesionalizante à noite.
Esse contexto conduziu as facilitadoras a lembrar dos versos: "Vem, vamos embora/ Que esperar nao é saber/ Quem sabe faz a hora/ Nao espera acontecer" da música "Pra nao dizer que näo falei das flores", composta e interpretada por Geraldo Vandré, que ficou em segundo lugar no Festival Internacional da Cançao, de 1968 e, depois disso, teve sua execuçao proibida durante anos, pela ditadura militar brasileira. A cançao que incitava o povo à resistência levou os militares a proibi-la, usando como pretexto a "ofensa" à instituiçâo contida nos versos "Há soldados armados, amados ou näo / Quase todos perdidos de armas na mäo / Nos quartéis Ihes ensinam urna antiga liçâo / de morrer pela pátria e viver sem razäo". Näo seria controverso em um tempo de democracia, a escola fazer o tempo dos jovens? Essa também näo seria urna forma da escola vigiar os jovens?
Atravessando a problemática do tempo, os jovens falaram da liberdade ao dizerem que näo sabem o tamanho da mesma e que depende dos pais de cada um. Para a copesquisadora Jukinha, "tem muitos jovens que querem morar sozinhos, porque näo aguentam mais morar com os pais, querem ser livres", mas para ela "é bom morar com os pais, porque quando o jovem vai morar sozinho, além de ter hora para acordar no final de semana, tem que ir ao supermercado, varrer a casa, lavar louças". No entanto, a copesquisadora Felicidade disse que mora com os pais e também precisa fazer tudo isso. Por sua vez, a copesquisadora Jukinha argumentou que "quando o jovem mora com seus pais, se acontecer alguma coisa, ele sabe que os pais väo fazer por ele", no caso déla, näo tem isso, ela precisa fazer. Desse modo, ao contrário de muitos jovens que pensam que seräo mais livres ao sairem de casa, a copesquisadora Jukinha mostrou um Jeito de Ser Jovem livre diferente do que costuma ser habitual, para ela, a liberdade seria maior se estivesse em casa. A copesquisadora Elena, que mora com os pais, revelou aínda que "a vida está boa e gosto da liberdade restrita".
O copesquisador Chris Rock Blue problematizou aínda mais essa discussäo ao dizer: "Ninguém é totalmente livre, porque o mundo é cheio de regras, ninguém tem toda liberdade de fazer o que quer".
Desse modo, o grupo-pesquisador mostrou um Jeito de Ser Jovem que näo é totalmente livre. Peace acha que sempre haverá a leí e a ética, e dá um exemplo: "o jovem näo vai sair com um carro a 200 km/h numa rúa". Felicidade complementa esse pensamento ao dizer que "näo é porque a pessoa é livre para fazer aquilo, que ela vai fazer. Às vezes, o jovem tem a liberdade para fazer aquilo, mas näo faz porque sabe que é errado" e considera aínda que liberdade para fazer aquilo, ela tem. Nesse caso, o pensamento de Felicidade é diferente do pensamento de Laura, que afirma que "sempre haverá horário para tudo, independentemente do que for fazer; entäo, o jovem nunca terá liberdade". Nessa discussäo, nota-se que esses jovens reconhecem a existência de regras na sociedade e näo sentem o desejo de transgredí-las, porque sabem que é errado.
Os copesquisadores ampliaram essa discussäo questionando o "seguir as regras" e a relaçâo com a liberdade, quando criaram o confeto borboleta jovem, que é o jovem livre para voar, porque tem mais liberdade. No caso da borboleta jovem a liberdade é boa porque as dificuldades buraco jovem säo aquelas em que o jovem vive sob pressäo, sob mandados, e isto, para quem está começando a vida, näo é fácil. Diante da pergunta: Que pessoas ou situaçôes podem exercer pressäo a um jovem, a ponto de impedir a liberdade? O grupo-pesquisador concordou com Jukinha quando ela revelou: "as regras da escola exercem pressäo a um jovem, porque o aluno tem que tirar nota boa, comportar-se, näo pode responder aos professores, deve assistir a todas as aulas". Nesse caso, haveria urna tentativa da escola e dos pais em criar um Jeito de Ser Jovem docilizado? E nesse contexto, esses jovens estanam docilizados? Entendeu-se que os confetos borboleta jovem e buraco jovem denundam um corpo desejoso de ser livre e autónomo frente a urna vida que nao é fácil por estar sempre à mercó de ordens vindas de todas as instâncias, devido estar começando envolvido em mandados de toda ordern.
Desse modo, os resultados permitiram perceber e conhecer os modos de pensar dos jovens de um curso técnico em enfermagem de um colégio técnico federal sobre "o que é ser jovem?", possibilitando urna reflexäo sobre: até que ponto a escola bem como os professores influenciam os jeitos de ser jovem?
4 CONSIDERAÇÔES FINAIS
Os jovens problematizaram a dimensäo do tempo de espera para o mundo adulto, mostrando que näo há um único modo de ser jovem e nem de se tornar adulto, pois para eles os ritos de passagem eram: casamento, saída da casa dos pais, o ingresso em um colégio técnico federal e o inicio dos estágios do curso técnico em enfermagem, demonstrando que esse momento näo é fixo e nem demarcado. Eles também apresentaram em seus relatos, jeitos de ser jovem em bandos que agem de modo diferente, uns se reúnem para bagunçar, outros säo mais calmos e se reúnem para assistir filme ou até para falar besteiras, desse modo trouxeram a ideia das sociabilidades, presentes nas amizades, nas festas, no excesso. Além disso, problematizaram o tempo e a liberdade, resaltando o quanto suas rotinas estäo relacionadas à escola, apontando jeitos de ser livres diferentes do que eles consideram habitual entre os jovens, manifestando, por exemplo, que se sentiriam mais livres se morassem com os pais.
Essa pesquisa possibilitou a oportunidade de reflexäo sobre os (pre)conceitos em relaçâo ao ser jovem, conceitos estes muitas vezes cristalizados numa sociedade que raramente leva em consideraçâo a voz de quem mais entende sobre si mesmo, ou seja, do próprio sujeito que tem a experiência e vivencia a juventude. A intençâo desse estudo foi de provocar movimiento, induzir a descristalizaçâo e abrir possibilidades para que outras pessoas também se interessem pelo tema em questäo.
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C. T. CARNEIRO*, F. S. CARVALHO, K. R. P. SANTOS, M. A. R. BEZERRA e S. J. H. C. ADAD
Universidade Federal do Piauí - UFPI
Artigo submetido em janeiro/2014 e aceito em dezembro/2014
DOI: 10.15628/holos.2014.1935
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Copyright Instituto Federal de Educacao Ciencia e Tecnologia do Rio Grande do Norte 2014
Abstract
It was aimed at to know the manners of thinking of the youths of a technical course in nursing of a federal technical school on "the one what is to be young?" The research interferes in the qualitative paradigm of investigation using Socio-poetics, it was accomplished with 11 young that studied the concomitant medium teaching to the technician in nursing in 2013, years. The youths problematized the dimension of the time of wait for the adult world, showing that no there is a single way of being young and nor of becoming adult, because for them the rites of passage were: marriage, exit of the parents' house, the entrance in a federal technical school and the beginning of the apprenticeships of the technical course in nursing, demonstrating that that moment is not fixed and nor demarcated. They also told ways of being young in groups that act in a different way. They discussed the time and the freedom, emphasizing them as the youth's routine is related to the school. That research made possible the reflection opportunity on the concepts on young, a lot of times crystallized in a society that rarely takes into account the voice of who more understand on himself, in other words, of the own subject that has the experience and it lives the youth.
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