Resumo
O efeito Mateus é um fenómeno social que reforça a estrutura de classes da ciencia. Esse artigo tem como objetivo analisar as implicaçôes éticas do efeito Mateus na ciencia, entendendo que este possui implicaçôes éticas positivas e negativas. As implicaçôes éticas positivas centram-se no contexto individual, beneficiando poucos individuos, enquanto as implicaçôes éticas negativas focam-se na coletividade por meio do ofuscamento de cientistas talentosos, inclusive daqueles enquadrados nas minorias sociais, e do desconhecimento e/ou falta de reconhecimento por seus trabalhados científicos. Disso se depreende que as implicaçôes éticas do efeito Mateus resultam em reforço de preconceitos e exclusôes sociais no ámbito da ciencia e podem influenciar negativamente no avanço no conhecimento científico.
Palavras-chave: Efeito Mateus, ética, ciencia, sistema de recompensas
Ethical implications of the Matthew effect in science
Abstract
The Matthew effect is a social phenomenon that reinforces the structure of classes in Science. This paper aims to analyze the ethical implications of the Matthew effect in Science, which has positive and negative ethical implications. The positive ethical implications focus on the individual context, benefiting few individuals, while the negative ethical implications focus on the community, through overshadowing talented scientists, including those framed in social minorities and, ignoring and/or lacking of recognition their scientific works. It means that the ethical implications of the Matthew effect result in reinforcement of prejudice and social exclusion in the context of science and may negatively influence the advance of scientific knowledge.
Key-words: Matthew effect, ethic, science, rewards system
INTRODUÇÂO
Este artigo tem como objeto de estudo as implicaçoes éticas do efeito Mateus, enunciado por Robert K. Merton (MERTON, 1977a), na ciencia, uma vez que esta encontra-se sujeita aos mesmos fenómenos que a sociedade.
A ciência é uma atividade social humana, organizada e institucionalizada que se desenvolve de maneira sistematizada no intuito de gerar novos conhecimentos, exigindo, portanto, dos cientistas disposiçoes de caráter moral de modo ampio para que possam executar eficazmente suas tarefas (CUPANI, 1998). Disto se depreende que o caráter social do conhecimento científico tem se tornado uma parte cada vez mais preponderante das discussoes sobre o papel da ciencia no mundo (LIMA, 1994); uma vez que ela é ambivalente por ser um conhecimento vivo que, ao mesmo tempo, pode libertar ou subjugar, dependendo do uso que fazemos dela (MORIN, 2005).
Este aspecto traz a necessidade do constante reexame do sistema de valores da ciencia sob a luz da ética, bem como indica que a ética deve estar profundamente entrelaçada a todos os aspectos do fazer científico, o que demanda o estudo do sistema de recompensas da ciência e dos fenômenos a ele relacionados. Um fenômeno comum neste sistema é o "efeito Mateus", no qual os pesquisadores mais célebres tendem a receber mais reconhecimento e recursos financeiros por suas atividades academicas, enquanto os pesquisadores pouco conhecidos tendem a receber pouco ou nenhum reconhecimento por suas atividades (MERTON, 1977a), tal como dito no capítulo 25, versículo 29, do livro de Sao Mateus: "Porque a todo o que tem, darse-lhe-á, e terá em abundância; mas ao que nao tem, até aquilo que tem ser-lhe-á tirado".
Embora os estudos de Robert Merton sobre o ethos da ciencia - complexo de valores e normas, com ressonância afetiva que deve ser obrigatório para os cientistas (MERTON, 1979) - tenham sido realizados na primeira metade do século XX, muitos de seus aspectos ainda continuam relevantes no presente, dentre os quais o efeito Mateus, uma vez que as agências de fomento à pesquisa e os órgaos de formaçao de recursos humanos de nivel superior têm cobrado o incremento da produçao científica, notadamente de artigos científicos.
A quantidade de publicaçoes científicas de um país pode ser um indicativo de seu avanço científico e tecnológico, o qual contribui para seu desenvolvimento econômico e, portanto, para seu destaque mundial, fazendo com que os pesquisadores entrem numa corrida para aumentar sua produçao científica, evidenciando ainda mais o efeito Mateus, pois alguns pesquisadores adquirem maior destaque, enquanto muitos outros permanecem obscurecidos. A patente atualidade deste fenômeno tem gerado uma série de questionamentos na comunidade científica, muitos dos quais referentes ao sistema de recompensas da produtividade científica (ROCHA, et al., 2012), que tende a centralizar o reconhecimento acadêmico em pesquisadores mais produtivos (MERTON, 1977a).
Assim, torna-se relevante estudar as implicaçoes éticas do efeito Mateus na Ciência, uma vez que o mesmo interfere na dinámica de produçoes científicas dos pesquisadores, afetando suas vidas académicas, bem como o status de suas instituiçoes. Para tanto, elaborou-se a seguinte questao norteadora: quais as implicaçoes éticas do efeito Mateus na ciencia? Assim, este artigo tem como objetivo analisar essas implicaçoes.
Metodología
Este artigo caracteriza-se como uma revisao crítica de literatura, de caráter qualitative, realizado por meio de pesquisas nas bases de dados Google Académico, SciELO, Portal Capes e Bireme, durante o período de fevereiro a junho de 2014, empregando como descritores os seguintes termos: Robert Merton e ética, produçao científica e ética, financiamento científico e efeito Mateus, financiamento científico e efeito Mateus e ética, efecto Mateo en la Ciéncia, the Matthew effect, the Matthew effect and ethic, ética individual, ética individualista, ética e o papel do cientista, participaçao feminina na ciéncia, ética e ciéncia, preconceito e ciencia. Alguns termos de busca foram empregados nos idiomas espanhol e/ou inglês, pois foram encontrados poucos ou nenhum resultado com o uso do idioma português.
Durante as buscas em bases de dados, foram coletados 71 artigos científicos a partir da leitura do título e resumo. Destes, 16 foram utilizados para compor o escopo teórico deste trabalho, pois atendiam aos seguintes critérios: tratar do sistema de valores da ciência expresso por Robert Merton e/ou de suas ideias sobre a ciência, tratar sobre o efeito Mateus e/ou sobre produçao científica, abordar a produçao científica, tratar sobre ética e/ou da relaçao entre ética e ciéncia, versar sobre o preconceito na ciéncia e/ou sobre a participaçao feminina na ciência. Foram também utilizados livros que contém ensaios escritos por Robert Merton e por outros autores, os quais se mostraram relevantes para a elaboraçao deste artigo.
Como este artigo científico propoe-se a analisar as implicaçoes éticas do efeito Mateus na ciência, será desenvolvido em três eixos: "Efeito Mateus na ciencia: implicaçoes éticas positivas", "Efeito Mateus na ciência: implicaçoes éticas negativas" e "Reflexoes sobre as implicaçoes éticas do efeito Mateus na ciencia".
Efeito Mateus na ciencia: implicaçôes éticas positivas
A socializaçâo dos cientistas é uma experiência intensa e prolongada, que é reforçada e suplementada pela prática de trocar informaçao por reconhecimento, produzindo assim cientistas que aderem fortemente aos valores da ciência que, por sua vez, sao reforçados pelas recompensas conseguidas pelos cientistas. Todavia, embora esse reconhecimento seja muito importante para os cientistas, a maioria deles nega que este seja um incentivo para a realizaçao de suas pesquisas, afirmando que o fazem desinteressadamente quando, na verdade, a recusa em admitir a importância do reconhecimento serve para dar realce à universalidade dos padroes científicos; pois, ao publicar os resultados de seus trabalhos, o cientista dirige-se a todos os colegas possíveis em todas as épocas possíveis (HAGSTROM, 1974).
O desejo de reconhecimento social faz com que os cientistas conformem-se com as normas científicas, contribuindo com as suas descobertas para toda a comunidade, mas eles aprendem a contar com a injustiça devido à atribuiçao nao-equitativa de recompensas (HAGSTROM, 1974), que leva ao reforço do status de uns cientistas e a supressao do status de outros, caracterizando, assim, o efeito Mateus (MERTON, 1977a). Todavia, é importante lembrar que almejar reconhecimento por seus feitos nao é agir imoralmente, mas em funçao de um interesse pessoal que favorece o ego (PEGORARO, 2002), uma vez é natural do ser humano querer ser reconhecido e/ou homenageado e isso nao é diferente na comunidade científica.
Segundo Merton (1977a), a ciência é um sistema de comunicaçao no qual o efeito Mateus possui implicaçôes disfuncionais para as carreiras dos cientistas que sofrem seus efeitos nas primeiras etapas de seu desenvolvimento, sendo, portanto, uma pauta social funcional para certos aspectos do sistema científico e disfuncional para certos individuos do sistema.
Disso se depreende que o efeito Mateus na ciência se dá por mecanismos de memória e seleçâo (BUNGE, 2002), que envolvem processos de decisao, o momento de selecionar os parámetros de medida em cada ámbito e processos perceptivos individuais (RODRÍGUEZ, 2009), apresentando, portanto, implicaçoes negativas e positivas. Estas últimas sao individualistas, afetam um grupo pequeno de cientistas e instituiçoes e lembram o que acontece na sociedade em que uma elite detém a maior parte dos privilégios e da renda gerada. Portanto, o efeito Mateus reproduz, em menor medida, a estratificaçao existente na sociedade. Merton (1938) relata que o sistema de recompensas traduz a estratificaçao social existente na ciência, distribui-se à medida que os cientistas sao reconhecidos por meio do julgamento de seus pares e é essencial para estabilizaçao de suas carreiras profissionais.
Neste contexto, a noçao de comunidade científica torna-se central na obra de Merton, favorecendo a discussao das condiçoes da estrutura social que permite a constituiçao da ciência como uma instituiçao específica e dotada de legitimidade na sociedade. Portanto, a ciência é entendida como um fenómeno social, que se relaciona com a cultura em sentido amplo. Isso significa que as açoes do cientista nao devem ser entendidas apenas como as de alguém que planeja seu comportamento buscando atender seus próprios interesses, mas também como as de alguém cujas atitudes respondem à estrutura institucional que legitima um sistema de valores que permitem que elas ocorram (KROPF E LIMA, 1998-1999).
As implicaçoes positivas do efeito Mateus centram-se numa pequena parcela da comunidade científica: cientistas reconhecidos filiados a instituiçoes renomadas e pesquisadores iniciantes ligados a estes cientistas. De acordo com Merton (1977a e 1988), os cientistas reconhecidos sao carismáticos, têm mais facilidade de publicar seus trabalhos, que sempre sao considerados relevantes para a ciência. Devido à grande visibilidade e credibilidade que possuem, conseguem mais financiamento para suas pesquisas e geralmente recebem todo o crédito pelas publicaçoes que levam seus nomes, mesmo que sua participaçâo seja mínima. Isso significa que estes cientistas reconhecidos tendem a se tornar ainda mais reconhecidos e a impulsionar cada vez mais o desenvolvimento científico de sua equipe de pesquisa e da instituiçao em que trabalham, atraindo sempre mais prêmios e financiamentos.
Estudos como o de Cole e Cole (1967), realizado na comunidade norte-americana de físicos da década de 1960, reforçam o efeito Mateus ao apontarem a existência de uma correlaçao positiva entre o número de citaçoes e a qualidade da pesquisa, uma vez que os pesquisadores mais citados sao geralmente os mais reconhecidos. De acordo com Latour (2011), a relevância das citaçoes para o reconhecimento dos pesquisadores e para o desenvolvimento da própria ciência é tao grande que o importante mesmo para o cientista é ter seu artigo citado, mesmo que a citaçao seja feita no intuito de questionar seu trabalho de pesquisa; pois, para um resultado de pesquisa transformar-se em fato, ele precisa ser lido e citado. Isso significa que um dos maiores problemas da produçao científica é interessar alguém para ser citada; já que tudo o que um cientista fez com os artigos que utilizou (corroborou as ideias de alguns e contestou as ideias de outros) para elaborar seu artigo, precisa ser feito também com sua publicaçao. Do contrário, o cientista e seu artigo serao esquecidos e seu trabalho de pesquisa nao se constituirá num fato científico.
Sob esta ótica, é vantajoso para os cientistas iniciantes fazer parte das equipes de pesquisa dos cientistas reconhecidos; pois eles beneficiam-se dessa experiência ao utilizarem-se dos financiamentos conseguidos pelos cientistas reconhecidos, ao publicarem seus artigos científicos mais facilmente (já que estes contam com o nome do cientista reconhecido) e incrementarem a possibilidade de seus trabalhos serem citados por seus pares e, de um dia, também alcançarem reconhecimento (MERTON, 1977a e 1988). Além disso, outra clara manifestaçao do efeito Mateus na ciencia é o fato de que universidades e institutos de pesquisas sediados em grandes centros urbanos possuem maior visibilidade, pesquisadores mais reconhecidos e mais financiamento para pesquisa.
Merton (1988) relata que o efeito Mateus está presente também no início da vida acadêmica de muitos pesquisadores que, ao entrar na universidade, inicialmente se destacam e sao agraciados com bolsas de estudo, que os estimulam ao aprimoramento e ao crescimento acadêmico no intuito de tornarem-se futuros cientistas renomados.
O próprio Merton foi beneficiado pelo efeito Mateus; pois é considerado o pai da moderna sociologia da ciência e, apesar de ter escrito vários trabalhos em colaboraçao com outros cientistas, costuma-se recordar apenas seu nome e atribuir-lhe todo o mérito, o qual se consubstanciou na criaçao da cátedra Robert K. Merton na Universidade de Colúmbia, por ocasiao de seu aniversário de 80 anos (BUNGE, 2002). Além disso, Merton também é conhecido por ter sido o primeiro a empregar o conceito de efeito Mateus na Ciência (RODRÍGUEZ, 2009).
A importância atribuida ao sistema de publicaçoes científicas norte-americano também pode ser considerada um exemplo do efeito Mateus. Publicar em periódicos norte-americanos faz com que os pesquisadores adquiram mais visibilidade junto à comunidade científica, pois os artigos publicados nestes periódicos sao mais lidos, citados e possuem maior pontuaçao em baremas de concursos e progressao de carreira, além de um fator de impacto mais elevado nos índices de pontuaçao/avaliaçao de publicaçoes científicas. Devese ressaltar também que o sistema de publicaçoes científicas norteamericano possui seus próprios indicadores bibliométricos como o Web of Science que, de acordo com o Portal de Periódicos Capes (CAPES, 2014), engloba os índices das bases Science Citation Index Expanded (SCI-EXPANDED), Social Sciences Citation Index (SSCI), Arts & Humanities Citation Index (A&HCI), Conference Proceedings Citation Index- Science (CPCI-S) e Conference Proceedings Citation Index - Social Science & Humanities (CPCI-SSH).
Além disso, em todas as áreas do conhecimento, existem periódicos norte-americanos de renome internacional, que adquirem cada vez mais prestígio, pois costumam publicar resultados de pesquisas consideradas de ponta, realizadas por pesquisadores também reconhecidos internacionalmente, tais como os agraciados com o prêmio Nobel ou que concorreram a ele. Nesta conjuntura, todos os pesquisadores almejam publicar seus artigos científicos nos periódicos no sistema de publicaçoes científicas norte-americano para angariar destaque internacional e impulsionar suas carreiras acadêmicas.
Assim, percebe-se que as implicaçoes positivas do efeito Mateus concentram-se, predominantemente, no campo da ética individual, resultante da ética clássica, voltada para o indivíduo, que é aquele que nao é dividido (indivisum), que é uno e distinto de todas as outras coisas. Nesta perspectiva, a consciência moral sugere que se aceite os valores da sociedade e os promova (PEGORARO, 2002). Além disso, a tradiçao puritana considera a liberdade individual e a prosperidade material como sinal de aprovaçao divina para a qual o verdadeiro sucesso é inseparável da criaçao de uma comunidade de homens livres, fundada em valores éticos (MacDOWELL, 1990). Depreende-se, entao, que a essência do espirito da ciência moderna é a ética puritana que combinou em si o racionalismo e o empirismo e proporcionou um acordo entre o puritanismo e o temperamento científico (MERTON, 1977b), embora Ben-David e Sullivan (1975) alertem que deve haver uma distinçao entre o surgimento da ciência moderna como um novo tipo de teoria científica e a emergência da institucionalizaçao da ciência.
Sob este ponto de vista, o efeito Mateus pode ser considerado ético; pois, segundo Bunge (1972), os sistemas éticos conhecidos ajustam-se às convençoes vigentes em grupos sociais limitados. Além disso, o efeito Mateus pode ser encarado como um sinal de prosperidade material e imaterial, configurando-se como a expressao e a promoçao dos valores da comunidade científica que, por sua vez, reproduz os valores da sociedade; já que, de acordo com Rodríguez (2009), o efeito Mateus nao se restringe à ciência, mas está presente em vários segmentos da sociedade com distintas denominaçoes de mesmo significado: efeito Halo, efeito riqueza, efeito dinheiro chama dinheiro e efeito bola de neve.
Neste sentido, Rodríguez (2009) resume os beneficios individuais do efeito Mateus como materiais (económicos, prêmios e outros recursos) e imateriais (privilégios, consideraçoes, poder e fama), os quais têm o máximo de valor em funçao de um determinado parámetro considerado relevante para a comunidade científica e/ ou sociedade, situando os cientistas beneficiados em uma posiçao privilegiada, de primeiro lugar, numa determinada categoria nos ámbitos local, regional, nacional ou global por serem considerados os melhores, que sao, consequentemente, os mais beneficiados e supervalorizados, eclipsando os que estao ao redor.
É importante mencionar que, ainda que indiretamente, o efeito Mateus pode trazer implicaçoes éticas positivas à sociedade; pois os resultados das pesquisas de cientistas renomados ou premiados sao mais amplamente lidos, divulgados e podem ser mais facilmente aplicados em beneficio da coletividade, devido ao destaque que obtêm junto à comunidade científica e à sociedade, inclusive por meio de comunicaçoes nao científicas e de fácil entendimento ao público leigo, tais como reportagens em jornais e revistas de cultura geral, telejornais e websites de noticias e/ou interesse geral. Este último aspecto é corroborado pelo próprio Merton (1977a) que afirma que tanto a autoimagem como a imagem pública dos cientistas sao modeladas em grande parte pelo testemunho comunalmente convalidado por outros cientistas importantes de que estao a altura dos exigentes requisitos de sua área do conhecimento.
Efeito Mateus na ciencia: implicaçôes éticas negativas
Ao contrário das implicaçôes éticas positivas, as implicaçôes éticas negativas do efeito Mateus na ciência sao de ordem coletiva, atingindo uma grande parcela da comunidade científica; pois, de acordo com Merton (1977a), o meio científico é estratificado socialmente, sendo construído tanto por cientistas reconhecidos ou nao. Disso decorre que um grande número de cientistas nao premiados tem contribuído com o desenvolvimento da ciência tanto ou mais do que os cientistas premiados.
Neste contexto, o efeito Mateus interfere negativamente no desenvolvimento da carreira de muitos cientistas talentosos e desconhecidos que nunca chegam a receber o devido mérito por seus trabalhos e sao simplesmente esquecidos como se eles e seu trabalho nunca tivessem existido, corroborando a afirmaçao de Latour (2011) sobre a necessidade de citaçao para que os resultados de uma pesquisa se tornem, de fato, científicos. Todavia, há cientistas que, desconhecidos e/ou ignorados em vida, sao reconhecidos anos após sua morte, quando seus feitos científicos sao reconhecidos pela comunidade científica, tais como Waterson e Mendel (MERTON, 1977a e 1988), dentre outros.
Além disso, preconceitos sociais referentes a gênero, origem étnica e condiçao financeira sao reproduzidos pelo efeito Mateus; uma vez que estas características, se consideradas desfavoráveis, podem dificultar o reconhecimento científico. Rosalind Franklin é um dos exemplos deste preconceito, pois nao recebeu o reconhecimento merecido por suas contribuiçôes para a elucidaçâo da dupla hélice do DNA (Ácido Desoxirribonucleico). De acordo com Rezende (2009), ao escrever o livro "The Double Helix" em 1968, Watson admitiu o uso de dados e fotografías nao publicados de Rosalind Franklin sem sua autorizaçao e conhecimento. Além disso, Hayashi et al.(2007), relata que ela era vítima de preconceito por ser mulher e judia no King's College de Londres, uma instituiçao anglicana e tradicionalmente masculina. Oliveira (2009, p.7) relata a discriminaçâo vivenciada por ela:
No King's College (Londres), onde Rosalind Franklin trabalhava, nao havia banheiro para mulheres. Ao reclamar, passou a ser considerada uma "excéntrica", da qual todos queriam se livrar. Wilkins, que chefiava o laboratorio, dizia que era muito azar que logo ele tivesse que trabalhar com uma feminista! A "ocultaçao" do seu trabalho e nome como codescobridora da dupla hélice demonstra o machismo predominante no mundo da dênda (OLIVEIRA, 2009, p. 7).
Ainda no que concerne à influencia do género sob o reconhecimento científico, é interessante lembrar o caso de Harriet Zuckerman, segunda esposa e colaboradora de Merton. Embora seja uma cientista reconhecida, é notável que, apesar de ter desenvolvido vários estudos que serviram como referencia para que Merton escrevesse seus famosos artigos sobre o sistema de recompensas na ciencia e sobre o efeito Mateus, sua importância é, muitas vezes, eclipsada pela fama de Merton, o qual reconheceu sua dívida para com ela anos depois em seu artigo "O Efeito Mateus II" (MERTON, 1988). Para as mulheres, dar-se-ia, entao, um efeito inverso ao efeito Mateus, o efeito Matilda, que foi assim nomeado por Rossiter (1993) em homenagem a Matilda Joslyn Gage (1826-1898), uma americana feminista, sufragista, crítica da religiao e da Biblia que, no século XIX, foi uma das primeiras sociólogas do conhecimento a vislumbrar e lamentar as injustiças científicas contra as mulheres; as quais ela própria experimentou.
Outro aspecto digno de nota é o fato de que os cientistas iniciantes e/ou nao reconhecidos sao menos citados e, portanto, nao sao considerados referência, mesmo que seu trabalho seja melhor e mais inovador do que o de cientistas reconhecidos. Este aspecto negativo do efeito Mateus também pode contribuir para que os cientistas desconhecidos e/ou iniciantes tenham dificuldades para conseguir financiamento para suas pesquisas, pois este geralmente está atrelado a um barema com uma série de critérios relacionados à obtençao de títulos de pôs-graduaçao, quantidade e idade da produçao científica, recebimento de prêmios e outras formas de reconhecimento científico. Essa supervalorizaçao de títulos de pôs-graduaçao é exemplificada por Merton (1988) ao relatar que o famoso biólogo Haldane contou ao seu biógrafo Ronald Clark (CLARK, 1969) que teve um talentoso pupilo indiano que realizou importantes pesquisas que proporcionaram o aumento da produtividade do arroz na india; mas nao recebeu nenhum crédito por ser um pesquisador iniciante, desconhecido e desprovido de títulos de pôs-graduaçao. Assim, todo o crédito pela pesquisa ficou com Haldane que já era um pesquisador renomado.
Neste contexto, é importante salientar que o conhecimento, o talento e a capacidade de pesquisa nem sempre estao atrelados a títulos. Nas ciências naturais, onde se realiza pesquisas em laboratório, nao é raro encontrar alunos de iniciaçao científica que possuem mais facilidade para aplicar e melhorar as técnicas de pesquisas do que seus orientadores com título de doutorado; mas o mérito costuma ser sempre dado ao orientador. Além disso, deve-se registrar que, embora existam cursos de graduaçao em nível de bacharelado em que o graduado é habilitado para trabalhar em laboratório, realizando pesquisas e emitindo laudos, no Brasil, o status de pesquisador é conferido apenas a quem tem o título de doutor e grande parte dos editáis de financiamento exigem que os concorrentes sejam doutores.
Disso se depreende que, se nos primórdios do desenvolvimento da ciencia era preciso ser autodidata, na atualidade, é cada vez mais difícil sê-lo; pois, em muitas áreas do conhecimento, as pesquisas sao cada vez mais complexas, demandando laboratórios com equipamentos cada vez mais caros e, para um pesquisador desconhecido e/ou iniciante conseguir uma infraestrutura adequada para realizar suas pesquisas, precisa aliar-se a um pesquisador renomado que assume oficialmente a responsabilidade e ganha os créditos pelos resultados da pesquisa. Nas ciências sociais e humanas, embora nao seja necessária a montagem de laboratórios com equipamentos caros, os critérios de titulaçao e reconhecimento empregados para a obtençao de financiamento para a pesquisa sao os mesmos que os dados às ciências naturais.
Nesta conjuntura, torna-se necessário lembrar que Machado de Assis, considerado um dos maiores escritores brasileiros e com destaque internacional, era mulato, gago e estudou apenas até a quarta série primária. Cora Coralina, uma das mais brilhantes poetisas brasileiras, era uma doceira que também estudou até a quarta série primária. Joaquim Barbosa, ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal, é um exemplo atual de pessoa de origem humilde que conseguiu sobrepujar o efeito Mateus e obteve reconhecimento por seu talento. Mas quantas outras pessoas, homens e mulheres, nao conseguiram sobrepujá-lo e foram lançados ao esquecimento, apesar de suas importantes contribuiçoes para a ciencia e/ou sociedade?
Ainda no contexto do inicio da vida académica, alguns estudantes sao considerados talentos precoces, ganham bolsa de estudos e outros estímulos para continuar na carreira académica, enquanto outros nao apresentam um destaque inicial, nao recebem os mesmos estímulos; mas tardiamente, quando já foram privados de muitas oportunidades, mostram grandes potencialidades que podem nunca chegar a se realizar. Este aspecto leva à supressäo inadvertida de talento e tem consequências negativas para o avanço coletivo do conhecimento e para justiça distributiva (MERTON, 1988). Além disso, os alunos talentosos que nao possuem bolsa sao menos valorizados, pois tem que conciliar seus estudos e pesquisa com trabalho, encontram mais dificuldades para frequentar eventos científicos, divulgar suas pesquisas e custear a elaboraçao de seus trabalhos de conclusao de curso (seja ele uma monografia, uma dissertaçao ou tese) e sao desfavorecidos pelos baremas que fornecem uma menor pontuaçao para os bolsistas voluntários, desmerecendo seu talento e esforço nao remunerado.
O efeito Mateus nao se restringe apenas aos cientistas, mas abrange também as instituiçoes. Instituiçoes renomadas geralmente possuem mais destaque nacional (às vezes, até destaque internacional), possuem estrutura física mai or emais equipada, têm maiorcredibilidade e visibilidade, recebem mais financiamento e concentram os cientistas renomados; enquanto os cientistas talentosos e desconhecidos costumam trabalhar em instituiçoes também desconhecidas e, muitas vezes, tem que se conformar com financiamentos menores para suas pesquisas. Merton (1988) corrobora este pensamento ao afirmar que, por possuírem mais financiamento, as instituiçoes de elite fazem com que os cientistas talentosos vinculados a elas ampliem mais precocemente seu potencial de adquirir vantagens diferencialmente cumulativas. Portanto, o sistema de recompensas, a alocaçao de recursos e outros sistemas de seleçao social criam e mantêm uma estrutura de classes na ciência ao proporcionar uma distribuiçao estratificada de trabalho científico significativo entre os cientistas, já que as instituiçoes mais financiadas e prestigiosas atraem os estudantes mais promissores, concentram e mantêm os cientistas mais premiados e considerados excelentes (MERTON, 1988). Isso significa que ambos, pesquisador renomado e instituiçao de prestígio, trabalham no intuito de reforçar seu duplo padräo de excelência; uma vez que "o espaço das relaçoes no campo científico nao é homogéneo, sendo detectáveis estreitas relaçoes entre o lugar que os individuos ocupam, as redes sociais a que pertencem e os resultados de pesquisa que produzem" (ÁVILA, 1997, p.17).
Além disso, em caso de descoberta simultánea, fruto de trabalhos independentes realizados por pesquisadores renomados e pesquisadores desconhecidos, o cientista reconhecido tende a levar mais crédito pela descoberta e a ser mais citado por ela. Este aspecto é uma clara evidência do efeito Mateus e de sua capacidade de afetar a visibilidade do número de vezes em que se realiza e se publica independentemente um descobrimento e da posiçao ocupada pelos cientistas descobridores dentro do sistema de estratificaçao da ciéncia (MERTON, 1977a).
Ainda no que concerne à publicaçao de resultados de pesquisa, o processo de revisao por pares de artigos submetidos à publicaçao também pode sofrer a influéncia do efeito Mateus, privilegiando a publicaçao de artigos de cientistas famosos em detrimento de artigos de cientistas desconhecidos. Segundo Davyt e Velho (2000), este aspecto faz com que este sistema de apreciaçao de artigos seja considerado por muitos como fechado e tendencioso devido à possibilidade de desvios em favor de cientistas reconhecidos de universidades prestigiadas e de redes elitistas de old boys (pesquisadores com visoes semelhantes à área de pesquisa do avaliador, colegas, amigos), os quais desfavoreceriam grupos de pesquisadores jovens, de minorias étnicas, mulheres, pesquisadores de instituiçoes menos conhecidas, etc. Percebe-se, entao, que um texto nao deve ser considerado bom apenas se é escrito por alguém famoso e que um autor merece fama se escreve bons textos (BUNGE, 2002).
Deve-se mencionar também que, na atualidade, vive-se num ambiente de intensa concorrência, onde os cientistas reconhecidos temem cair no esquecimento, enquanto os dentistas talentosos e desconhecidos temem nunca serem reconhecidos. Este aspecto, de acordo com Merton (1988), ocorre principalmente em contextos onde antes existiu uma relaçâo professor-aluno, quando ambos sao talentosos e concorrem na mesma área de conhecimento; pois o exaluno, obscurecido pelo efeito Mateus, passa a achar que seu exprofessor já foi mais brilhante, enquanto este acredita que pode vir a ser substituido pelo ex-pupilo. Isso seria o "efeito compensaçao" (em que alguns entram em declínio e outros começam a se sobressair), que funciona como uma espécie de mecanismo de controle para restringir a acumulaçao de vantagem na ciência.
A precoce "obsolescência" da produçao científica em muitas áreas do conhecimento faz com que artigos científicos, livros, capítulos de livros e outras produçoes só sejam considerados em alguns baremas (de concursos, progressao na carreira, dentre outros) se forem publicados há menos de cinco anos, acirrando a concorrência existente na comunidade científica; pois a contínua e crescente produtividade dos pesquisadores tem se tornado cada vez mais determinante para o reconhecimento material e imaterial dos cientistas. Na década de 1960, no contexto americano, o estudo de Cole e Cole (1967) já apontava que um artigo com cinco ou menos anos de publicaçao tinha dezessete vezes mais chance de ser citado do que um artigo científico com mais de vinte anos.
Nessa conjuntura, há um número cada vez maior de artigos científicos publicados e uma crescente pressao para que os pesquisadores aumentem constantemente sua produçao científica. Isso faz com que a grande maioria dos pesquisadores nao consiga publicar no mesmo ritmo dos cientistas renomados e que seja humanamente impossível tomar conhecimento e ler tudo o que se publica em qualquer área do conhecimento, o que faz com que os cientistas desconhecidos tendam a permanecer anónimos e que seus trabalhos nao sejam lidos, nem citados, apesar do sistema de recompensas da ciencia exigir dos cientistas justamente o contrário para seu progresso sócio-científico. O desespero para manter-se no mundo académico, apesar de nao conseguir enquadrar-se neste padrao excludente, pode levar muitos pesquisadores a práticas como o plágio, a falsificaçao e a fabricaçao de dados. Ao tratar deste assunto, Merton (1988) diz que a propriedade intelectual no domínio científico sustenta-se por um código de lei implícito comum, consubstanciado na citaçao, e resulta no reconhecimento pelos pares. Ele reforça essa ideia ao afirmar que:
A própria forma de artigo científico, tal como evoluiu nos últimos tres séculos, requer, normativamente, que os autores reconheçam nos ombros de quem eles se encontram, sejam eles os ombros de gigantes ou, como frequentemente é o caso, aqueles de homens e mulheres de ciencia de dimensöes aproximadamente médias para as espécies scientificus (MERTON, 1988, p. 227-228, grifo do autor).
Diante da necessidade de se sobressair, muitos cientistas migram para áreas do conhecimento correlatas e/ou para linhas de pesquisa que supostamente sao menos concorridas no intuito de conseguirem reconhecimento científico. Segundo Ben-David (1960), isso é possível porque os cientistas possuem capacidade de generalizaçao e sao mais motivados para isso, pois intentam estabelecer-se no novo campo como inovadores. Todavia este novo campo institucionalmente mais promissor tende a ser cognitivamente inerte e o prestigio profissional pode vir às custas de estagnaçao intelectual, e nao, às custas de uma grande descoberta ou inovaçao (MARCOVICH E SHINN, 2013; BEN-DAVID, 1960).
Outro aspecto digno de nota sao os periódicos que só aceitam artigos científicos de doutores, bem como o crescente número de periódicos que condicionam a submissao de artigos científicos à condiçao de assinante ou que solicitam pagamento para submissao e publicaçâo de artigos científicos. Em nosso entender, tais exigências reforçam o efeito Mateus, pois criam conflitos de interesse e barreiras monetárias ao excluir, antes mesmo de sua submissao, bons artigos provenientes de cientistas talentosos de instituiçoes com pouco financiamento que nao possuem condiçoes financeiras de arcar com os custos da publicaçao. Sabemos que os periódicos científicos passam por duras avaliaçoes nacionais e internacionais no intuito de atestar sua qualidade científica e que também sofrem com as implicaçoes negativas do efeito Mateus, além de terem que arcar com uma série de custos relacionados ao seu funcionamento acadêmico e administrativo e de precisarem contar a com a boa vontade e a agilidade de seus pareceristas para se manterem competitivos no mundo acadêmico. Todavia acreditamos que cobrar taxas e estabelecer condiçoes de ordem monetária no intuito de garantir esta manutençao nao é o melhor caminho. O financiamento dos periódicos científicos pelas instituiçoes nas quais estao sediados (universidades, institutos de pesquisa, conselhos e ordens de classe, dentre outros) seria uma alternativa mais inclusiva.
Soma-se a isso o fato de que o sistema de publicaçoes norteamericano (que é o maior, o mais famoso, o mais citado e detentor do maior fator de impacto) ser bastante fechado e, em grande parte, de acesso restrito, monopolizado por editoras como a Elsevier; nas quais nao é necessário apenas pagar altos valores para publicar, mas também para ter acesso aos artigos publicados. Argumenta-se que as despesas com os custos destes periódicos nao sao pagos diretamente pelos pesquisadores, e sim, pela Capes e pelas instituiçoes de ensino e pesquisa (universidades e institutos de pesquisa); mas o custo global da assinatura de todas essas bases de dados nao costuma ser baixo e poderia ser investido em mais pesquisas. Estes aspectos denotam que, embora Merton (1977a, p. 567) apregoe que "a ciência é pública, nao privada", pelo menos no que concerne à publicaçâo científica, ela tem se tornado cada vez mais privada.
O sistema brasileiro de publicaçâo, no entanto, é em grande parte gratuito, inclusive no que concerne à disponibilidade de artigos científicos para leitura e download, mas nâo é igualmente valorizado, nâo possui o mesmo destaque internacional que o sistema norte-americano e costuma-se atribuir menor pontuaçâo aos artigos publicados em periódicos brasileiros do que aos periódicos estrangeiros, cujo fator de impacto científico geralmente é maior do que o dos periódicos brasileiros.
Rodríguez (2009) resume as implicaçoes negativas do efeito Mateus ao afirmar que ele provoca a reduçâo ou anulaçâo de benefícios de qualquer tipo para pessoas ou entidades que possuem menor valor diante de um determinado parâmetro considerado relevante, gerando casos de marginalizaçâo, pois elas passam a ser consideradas de forma diferente quando se percebe que elas se encontram nos últimos lugares de uma dada classificaçâo. Além disso, frequentemente permanecem muito abaixo do esperado devido aos recursos com os quais contam e, em último extremo, sâo despojados do que possuem e entregam o que ainda têm, gerando uma distância entre os reconhecidos e desconhecidos afetados pelo efeito Mateus. Ainda nessa linha, Jarvie e Agassi (2011) criticam duramente o efeito Mateus ao classificá-lo como uma deformidade institucional, cuja noçâo de tirar vantagem, em uma primeira leitura, parece "uma exposiçâo da corrupçâo que existe no coraçâo da ciência emergente" (JARVIE E AGASSI, 2011, p. 59).
Sob a perspectiva de todas as suas implicaçoes negativas apresentadas nesta seçâo, o efeito Mateus nâo é ético; pois contribui para a perpetuaçâo, no ámbito da comunidade científica, dos preconceitos, das exclusoes, das desigualdades, das iniquidades e das injustiças presentes na sociedade.
ReFLEXÖES SOBRE AS IMPLICAÇÔES ÉTICAS DO EfEITO MaTEUS NA CIENCIA
Ao longo da história da humanidade (inclusive no período da Segunda Guerra Mundial), em sua prática profissional, muitos cientistas abriram mao da ética e/ou a restringiram apenas ao seu caráter individual e subjetivo, facilitando suas próprias vidas e suas práticas profissionais ao considerar que a sua responsabilidade ética resumiase à apresentaçao dos resultados positivos ou negativos à comunidade científica, sem ponderar as consequências destes resultados para a sociedade, bem como que a ética deve ser considerada em todo o processo de pesquisa, a começar pela sua concepçào/idealizaçào (PEGORARO, 2002). Diante de tantas atrocidades cometidas em nome da ciência, é importante reforçar que, embora muitos ainda acreditem no contrário, a ciência nao é neutra, nem autónoma e que, cada vez mais, será necessário que os cientistas prestem contas de suas pesquisas à sociedade. A existência de formas de controle social da ciência, como os Comités de Ética em Pesquisa (CEP), é uma prova do crescimento desta tendéncia; já que, segundo Carvalho (2011), na atualidade, a cobrança para que os cientistas assumam a responsabilidade por suas pesquisas tem aumentado, pois eles costumam ser os primeiros a perceber as possibilidades tecnológicas do que investigam.
Cupani (1998) reforça essa tese de nao neutralidade da ciência ao lembrar que é inconcebível um pesquisador que nao tenha posiçoes prévias, que nao esteja comprometido com uma teoria, tradiçao profissional ou intelectual, ideologia ou que seja emocionalmente neutro. Morin (2007) corrobora este pensamento ao afirmar que a ciência é complexa e ambivalente, podendo ser, ao mesmo tempo, útil e nefasta e que muitos cientistas encontram-se cegos em relaçao aos problemas postos pelo conhecimento científico. Tal cegueira é criada pelo processo de cegamento inerente ao conhecimento objetivo; pois, de acordo com Carvalho (2011, p. 103), "a cultura científica é uma subcultura de uma cultura maior, e o cientista nao se despe desta última quando trabalha em Ciência". Isso reforça o fato de que a comunidade científica faz parte da sociedade e, portanto, nao pode ser considerada como algo a parte ou superior a ela.
Além disso, a própria necessidade de financiamento contribui para jogar por terra essa errónea ideia de neutralidade e autonomia da ciência; pois, conforme lembra Morin (2005), é predominantemente o Estado que financia, controla e desenvolve as instituiçoes de pesquisa. Disso se depreende que, pelo menos no Brasil, mesmo os pesquisadores mais famosos sao obrigados a compatibilizar o tema de suas pesquisas com o tema de interesse dos órgaos de fomento à pesquisa e que os interesses desses dois atores nem sempre estao atrelados às necessidades sociais.
Outro problema que pode ocorrer do ámbito do tema de pesquisa em países em desenvolvimento, como o Brasil, é a integraçao subordinada. Esta dá-se quando pesquisadores prestigiosos destes países encontram-se integrados em comunidades científicas internacionais e dedicam-se a pesquisas de interesse de países desenvolvidos, gerando uma tensao entre a relevância social da pesquisa e a visibilidade internacional no contexto da produçao de conhecimento (KREIMER, 2006). A nosso ver, este aspecto é um claro exemplo do quao profunda pode ser a influência do efeito Mateus na ciência e sua consequência é o atraso do avanço do conhecimento científico dos países em desenvolvimento, principalmente no que concerne a temas de releváncia social local.
Estes aspectos nos permitem afirmar que o conhecimento científico como um todo sofre influência do efeito Mateus, pois esse fenómeno faz com que percamos em capacidade de reflexao, com que grandes ideias possam ser perdidas, dificultando mais e melhores descobertas, pois grandes gênios podem nunca chegar a ser conhecidos. Isso nos leva a questionar: se a influência do efeito Mateus nao existisse, o conhecimento científico poderia ter assumido diferentes direçoes? Os grandes nomes (expoentes) da ciência seriam outros? Nao temos respostas para estas perguntas. O efeito Mateus é apenas um dos múltiplos fatores que influenciam o avanço do conhecimento científico; além disso, embora acreditamos que, para que um cientista seja beneficiado pelo efeito Mateus, é necessário alguma dose de sorte, esforço próprio e/ou ajuda de alguém interessado em favorecê-lo, nao podemos reduzir o fenómeno do efeito Mateus a estas très simples causas. Pode haver muitas outras, as quais sao difíceis de identificar e mensurar por se tratar de um fenómeno social e psicológico.
É provável que, ao longo da história do desenvolvimento científico, estas características do efeito Mateus tenham contribuído também para a perda de grandes talentos por preconceitos devido ao género, orientaçao sexual, condiçao financeira, etnia, religiao, dentre outros aspectos. Tolhidos, impedidos de pesquisar ou usurpados de suas descobertas ou contribuiçoes à ciència, estas pessoas simplesmente desapareceram e jamais serao resgatadas, pois a História as ignorou, reduzindo-as a uma inexistência forjada. Como consequência, temos hoje uma História predominantemente masculina e estéril de uma prolífica diversidade que poderia ter contribuído nao apenas com criatividade, mas com outras formas de ver o mundo que poderiam ter resultado em importantes descobertas. Na atualidade, embora as minorias tenham conseguido, a custa de muita luta, se fazer ver, ainda há um longo caminho a percorrer, pois o preconceito, ainda que velado, continua existindo.
Neste contexto, precisamos ter em mente que devemos valorizar a qualidade da produçao científica, independente de quao reconhecido é o seu autor ou de questoes que podem dar vasao ao preconceito (tais como gênero, orientaçao sexual, etnia, religiao ou condiçao financeira); pois o fato de um cientista ser reconhecido e/ ou ter características culturais, biológicas e socialmente desejáveis nao significa que ele seja o melhor ou domine todo o saber de sua área do conhecimento científico. Um cientista desconhecido pode trazer importantes contribuiçoes à ciencia que podem jamais vir a ser conhecidas diante das várias dificuldades que ele pode encontrar para realizar sua pesquisa e publicá-la. Do que vale uma grande quantidade de publicaçoes se estas nao tiverem qualidade? Se nao contribuírem para o desenvolvimento da Ciência? Se nao forem eticamente aceitáveis e possuírem relevância social?
Soma-se a isso o fato de que, para ser prolífico em publicaçoes científicas, os cientistas têm que ser, essencialmente, escritores ou contar com pupilos que o sejam, pois os seres humanos têm diferentes habilidades e nem todas as pessoas têm aptidao para escrever, o que faz com que a escrita que, para alguns é um prazer, seja, para outros, motivo de grande dificuldade.
Além disso, há algumas áreas do conhecimento, como as ciências biológicas, em que o desenvolvimento das pesquisas pode ser lento e laborioso, dependendo nao apenas de talento, mas de infraestrutura e equipamentos de tecnologia de ponta. Isso significa que, nas ciências naturais, a produtividade científica sofre a interferencia de uma série de fatores que fogem ao controle do cientista e que, ser produtivo nestas áreas, envolve, em grande parte, possuir um bom financiamento, uma excelente infraestrutura física no laboratório, ter excelentes contatos com instituiçoes de ponta (inclusive internacionais), estar envolvido em várias pesquisas ao mesmo tempo e contar com um bom número de pupilos talentosos.
Disso se depreende que, ao privilegiar a quantidade da produçao científica em detrimento da qualidade, acabamos favorecendo a perpetuaçao do efeito Mateus. Esta necessidade que o cientista atual tem de desempenhar múltiplos papeis no âmbito da comunidade científica nos conduz a Ben-David (1974) que afirma que o papel social do cientista envolve uma hibridizaçao de papeis, pois o cientista é, ao mesmo tempo, pesquisador e professor universitário. Nós acrescentaríamos que, na atualidade, exige-se que ele seja também um escritor, o que torna ainda mais atual a afirmaçao de BenDavid (1974, p. 69) de que o papel científico emergiu "como um papel singular, com possibilidades e obrigaçoes específicas".
Embora Morin (2005) relate que a ciência "clássica", ainda predominante na atualidade, elimina de seu meio toda a competencia ética, Garrafa (1999) alerta para a crescente necessidade de se considerar o papel do cientista e sua responsabilidade ética, os quais devem ser avaliados pelo seu exercício profissional e pelas consequências sociais advindas dessa prática. Disso se depreende que o cientista nao deve ficar indiferente aos desdobramentos sociais de suas pesquisas; pois "se a ciência como tal nao pode ser ética ou moralmente qualificada, pode sê-la, no entanto, a utilizaçao que dela se faça, os interesses a que serve e as consequências sociais da sua aplicaçao" (GARRAFA, 1999, s.p.), o que significa que será cada vez mais necessário que a sociedade exija que os cientistas assumam a responsabilidade ético-científica por suas pesquisas (CARVALHO, 2011) e que a democratizaçao e o controle social da ciência podem contribuir para a realizaçao deste intento (GARRAFA, 1999).
No contexto atual, em que a relevância social das pesquisas torna-se cada vez mais necessária, deixar de pensar nas consequências de sua pesquisa (sejam elas sociais, ambientais, biomédicas, etc.) é escusar-se de sua responsabilidade ético-profissional. Daí a importância de que a ética perpasse todo e qualquer tipo de formaçao profissional e que os códigos de ética profissionais sejam bem elaborados no intuito de promover a ética em favor da vida, da justiça, do meio ambiente, da equidade, dos direitos e oportunidades iguais, independente da prática profissional a ser exercida. Assumir essa postura poderá contribuir para promover a equidade social nao apenas na ciência, mas também na sociedade, uma vez que o efeito Mateus também é um fenómeno social. Poderá também contribuir para a reduçao das implicaçoes económicas e políticas do efeito Mateus para que possamos caminhar em direçao à justiça distributiva, a qual depende de atitudes político-económicas.
Assim, no intuito de atenuar as implicaçoes negativas do efeito Mateus, Rodríguez (2009) propoe alternativas sociais (reconhecimento cultural de minorias marginalizadas, redistribuiçao da riqueza, focalizaçao dos gastos públicos nas pessoas mais necessitadas, políticas sociais fundadas na equidade) e científicas (criaçao de um sistema participativo de reconhecimento ao invés do modelo piramidal existente, prêmios de consolaçao, reconhecimentos locais, criaçao de procedimentos mais justos de avaliaçao da qualidade das pesquisas, fortalecimentos dos sistemas nacionais de publicaçao ao atribuir-lhes fator de impacto equivalente ao americano - ISI Mundial - e a realizaçao de revisao por pares de artigos científicos realizadas a cegas).
Concordamos com Rodríguez (2009) e, embora nao haja critérios universalmente aceitos de mérito científico, propomos também os seguintes aspectos concernentes ao ámbito científico brasileiro: criaçao de um sistema de financiamento equitativo à pesquisa e às instituiçoes de ensino e/ou pesquisa, estímulo à avaliaçao por pares de artigos científicos duplo cega (o avaliador nao conhece o avaliado e o avaliado nao conhece o avaliador), alteraçao dos baremas que subvalorizam os bolsistas voluntários para atribuir-lhes valor igual a dos bolsistas remunerados, reconhecimento do esforço dos alunos talentosos independente de serem tardios ou precoces e de possuírem ou nao bolsa de estudos, equiparaçao nacional do sistema brasileiro de publicaçao ao norte-americano por meio do estabelecimento de pontuaçao igual para ambos nos baremas e sistemas de reconhecimento do mérito científico nacionais, maior valorizaçao de bases de dados para pesquisa como o SciELO e de portais de periódicos nacionais que publicam e disponibilizam seus artigos gratuitamente, criaçao de critérios mais justos de avaliaçâo da produçao científica dos pesquisadores, focando na qualidade e nao na quantidade.
Do contrario, o efeito Mateus será cada vez mais reforçado, a estrutura de classes na ciência continuará cada vez mais excludente e continuaremos numa competiçao cada vez mais acirrada, numa luta cada vez mais irracional que nos remota a uma espécie de seleçao natural darwiniana, onde só os mais reconhecidos sobreviverao e que nada tem de natural, pois é cada vez mais mercadológica.
CONSIDERAÇÔES FINAIS
Embora tenha sido enunciado por Merton no início da segunda metade do século XX, o efeito Mateus é um fenómeno bastante atual; uma vez que, na atualidade, acirram-se as desigualdades tanto na sociedade quanto na ciência, onde a competiçao por reconhecimento é cada vez mais pronunciada.
Apesar disso, na conjuntura atual, também há uma crescente necessidade de que as pesquisas demonstrem sua relevância social, fazendo com que o cientista seja conclamado a assumir sua responsabilidade ético-científica pelas pesquisas que realiza. Isso exige que a sua postura ética nao se centre apenas na apresentaçao dos resultados da pesquisa e/ou em seu processo de execuçao, mas que envolva também suas relaçoes com outros cientistas e com a sociedade; pois, embora se saiba que a ciência nao é capaz de resolver todos os problemas da humanidade, ela precisa contribuir para que eles, um dia, sejam solucionados ou, pelo menos, indicar possí veis caminhos a se seguir.
Assim, diante dos inúmeros beneficios e maleficios proporcionados pela ciência à humanidade, já está mais do que claro seu caráter complexo e ambivalente, que pode ser bom ou mal, favorecer a justiça e a inclusao ou a injustiça e a exclusao. Isso significa que a ciencia tem duas faces e que precisamos sempre ter cuidado para, irrefletidamente, nao optarmos pela face da injustiça e da exclusäo, reforçando preconceitos e discrepâncias na geraçao e avanço do conhecimento científico e, assim, indiretamente perpetuarmos o efeito Mateus.
Disso se depreende que, por ser uma disfunçao social, que reforça o preconceito velado que perpassa e influencia as estruturas sociais e científicas e privilegia o individualismo, o efeito Mateus demanda que os cientistas se autossubmetam continua e humildemente a uma autoavaliaçao crítica de sua conduta profissional, bem como que favoreçam atitudes mais éticas e inclusivas que nos permitam construir, num futuro próximo, uma ciência eticamente responsável que seja de todos e para todos, e nao, uma ciência cega de suas responsabilidades e consequências. Enfim, para se possamos construir uma ciência inclusiva, em que o efeito Mateus seja esquecido e nao promova o esquecimento.
Referencias
ÁVILA, Patricia. A Distribuiçao do Capital Científico: Diversidade Interna e Permeabilidade Externa no Campo Científico. Sociología - Problemas e Práticas, n° 25, 1997, p. 9-49.
BEN-DAVID, Joseph. Roles and Innovations in Medicine. American Journal of Sociology, vol. 65, n° 6, mai/1960, p. 557-568.
BEN-DAVID, Joseph. O Papel do Cientista na Sociedade. Sao Paulo: Pioneira, Editora da Universidade de Sao Paulo, 1974, p.37-51; 69-76.
BEN-DAVID, Joseph; Sullivan, Teresa. Sociology of Science. Annual Review of Sociology, vol. 1, 1975, p. 203-222.
BUNGE, Mario. Ética y Ciencia. 3 ed. Buenos Aires: Ediciones Siglo Viente, 1972, p.11-65.
BUNGE, Mario. El efecto San Mateo. Polis, vol. 2, 2002, p.1-5.
CAPES - Portal de Periódicos CAPES. Coleçoes. 2014. Disponível em: < http://www. periodicos.capes.gov.br/?option=com_pcolledion&mn=70&smn=79&cid=81>. Acesso em 16 jun 2014.
CLARK, Ronald W. The Life and Work of J. B. S. Haldane. New York: Coward-McCann, 1969, p.138-156.
CARVALHO, Washington Luiz Pacheco de. Elementos sodais para a compreensao do prestigio científico e de seus riscos. TEA - Tecné, Episteme y Didaxis, n° 30, 2011, p. 91 - 110.
COLE, Sthepen; COLE; Jonathan R. Scientific output and recognition: a study in the operation of the reward system in science. American Sociological Review, vol. 32, n° 3, 1967, p. 377-390.
CUPANI, Alberto. A Propósito do "Ethos" da Ciência. Episteme, vol. 3, n.6, Porto Alegre, 1998, p. 16-38.
DAVYT, Amilcar; VELHO, Léa. A avaliaçao da ciência e a revisao por pares: passado e presente. Como será o futuro? Hist. cienc. saúde-Manguinhos. vol. 7, n° 1, Rio de Janeiro, mar-jun/2000. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo. php?script=sci_arttext&pid=S0104-59702000000200005&lng=en&nrm=iso>. Acesso: 24 jun. 2014. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-59702000000200005. [Artigo em formato html, sem número de páginas.]
GARRAFA, Volnei. Bioética e ciência: Até onde avançar sem agredir. Revista CEJ, vol. 3, n. 7, jan-abr/1999. Disponível em: < http://www2.cjf.jus.br/ojs2/index.php/ revcej/article/ view/183/345>. Acesso em 24 jun. 2014. [Artigo em formato html, sem número de páginas.]
HAGSTROM, Warren O. O Controle Social dos Cientistas. In: DEUS, Jorge Dias (org). A Crítica da Ciência. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1974, p. 81-105.
HAYASHI, Maria Cristina Piumbato Innocentini; CABRERO, Rodrigo de Castro; COSTA, Maria da Piedade Resende da; HAYASHI, Carlos Roberto Massao. Indicadores da partidpaçâo feminina em Ciência e Tecnologia. Transïnformaçâo, vol. 19, n° 2, Campinas, mai-ago/2007, p.169-187.
JARVIE, Ian; AGASSI, Joseph. Por uma sociologia crítica da ciência. Sociologias, ano 13, n° 26, Porto Alegre, jan-abr/ 2011, p. 44-83.
KREIMER, Pablo. ¿Dependientes o integrados? La ciencia latinoamericana y la nueva división internacional del trabajo. Nómadas, vol 24, Colômbia, 2006, p.199212.
KROPF, Simone Petraglia; LIMA, Nísia Trindade. Os valores e a prática institucional da ciência: as concepçôes de Robert Merton e Thomas Kuhn. Historia, Ciencias, Saúde - Manguinhos, vol. 3, nov/1998fev/1999, p. 565-581.
LATOUR, Bruno. Ciência em açâo: como seguir dentistas e engenheiros sociedade afora. 2 ed. Sao Paulo: UNESP, 2011, p.1-155.
LIMA, Nísia Trindade. Valores Sodais e Atividades Científicas: Um Retorno à Agenda de Robert Merton. In: PORTOCARRERO, Vera (Org.). Filosofía, história e sociologia das ciencias I: abordagens contemporáneas. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 1994, p. 151-173.
MacDOWELL, Joao Augusto A.A. Ética Política: Urgência e Limites. Síntese Nova Fase, vol. 48, 1990, p. 07-34.
MARCOVICH, Anne; SHINN, Terry. Posfácio. Robert K. Merton, fundador da Sociologia da Ciência: comentários, insights e críticas. In: MARCOVICH, Anne; SHINN, Terry. Ensaios de Sociologia da Ciência. Sao Paulo: Editora 34, 2013, p.253272.
MERTON, Robert K. Science and the Social Order. Philosophy of Science, vol. 5, n° 3, jul/1938, p. 321-337.
MERTON, Robert K. El efecto Mateo en la ciencia. In: MERTON, Robert King. La Sociologia de la Ciencia 2. Madrid: Alianza Editorial SA, 1977a, cap. 20, p. 554-578.
MERTON, Robert K. El estimulo puritano a la ciencia. In: MERTON, Rober King. La Sociologia de la Ciencia 2. Madrid: Alianza Editorial SA, 1977b, cap.11, p. 309-338.
MERTON, Robert K. Os Imperativos Institucionais da Ciência. In: DEUS, Jorge Dias (Org). A Crítica da Ciencia. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1974, p. 37-52.
MERTON, Robert K. O Efeito Mateus na Ciência II. A Vantagem Cumulativa e o Simbolismo da Propriedade Intelectual. 1988. In: MARCOVICH, Anne; SHINN, Terry. Ensaios de Sociologia da Ciência. Sao Paulo: Editora 34, 2013, p. 199-231.
MORIN, Edgar. Ciência com Consciencia. 82 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005, p.15-172.
MORIN, Edgar. O Método 6: Ética. 3 ed. Porto Alegre: Sulina, 2007, p. 69-79.
OLIVEIRA, Fátima. Uma Visao Feminista Sobre os Megaprojetos da Genética Humana (PGH e PDGH). Revista Bioética, vol. 5, n° 2, Brasília, nov/2009, p. 1-8.
PEGORARO, Olinto A. Ética e Bioética. Da Subsistência à Existência. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002, p.21-73.
RODRÍGUEZ, Jorge Jiménez. El Efecto Mateo: Un Concepto Psicológico. Papeles del Psicólogo, vol. 30, n° 2, may-ago/2009, p. 145-154.
REZENDE, Joffre Marcondes de. A vida breve de alguns personagens famosos da história da medicina. In: REZENDE, Joffre Marcondes de. À sombra do plátano: crónicas de história da medicina. Sao Paulo: Editora Unifesp, 2009, p. 273-280.
ROCHA, Ednéia Silva Santos; SANTOS, Jean Carlos Ferreira dos; SILVA, Marcia Regina da; Rodrigues, Vanessa. Ética e Integridade na Produçao do Conhecimento Científico. Alexandria: Revista de Ciencias de la Información, ano 6, n° 9, ene-dic/2012, p. 58-76.
ROSSITER, Margaret W. The Matthew Matilda Effect in Science. Social Studies of Science, vol. 23, n° 2, mai/1993, p. 325-341.
Adriana Silva Barbosa1
1 Bióloga. Doutoranda em Política Científica e Tecnológica pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Brasil. [email protected]
You have requested "on-the-fly" machine translation of selected content from our databases. This functionality is provided solely for your convenience and is in no way intended to replace human translation. Show full disclaimer
Neither ProQuest nor its licensors make any representations or warranties with respect to the translations. The translations are automatically generated "AS IS" and "AS AVAILABLE" and are not retained in our systems. PROQUEST AND ITS LICENSORS SPECIFICALLY DISCLAIM ANY AND ALL EXPRESS OR IMPLIED WARRANTIES, INCLUDING WITHOUT LIMITATION, ANY WARRANTIES FOR AVAILABILITY, ACCURACY, TIMELINESS, COMPLETENESS, NON-INFRINGMENT, MERCHANTABILITY OR FITNESS FOR A PARTICULAR PURPOSE. Your use of the translations is subject to all use restrictions contained in your Electronic Products License Agreement and by using the translation functionality you agree to forgo any and all claims against ProQuest or its licensors for your use of the translation functionality and any output derived there from. Hide full disclaimer
Copyright Universidade Estadual de Londrina, Depto de Ciências Sociais Jul-Dec 2016
Abstract
The Matthew effect is a social phenomenon that reinforces the structure of classes in Science. This paper aims to analyze the ethical implications of the Matthew effect in Science, which has positive and negative ethical implications. The positive ethical implications focus on the individual context, benefiting few individuals, while the negative ethical implications focus on the community, through overshadowing talented scientists, including those framed in social minorities and, ignoring and/or lacking of recognition their scientific works. It means that the ethical implications of the Matthew effect result in reinforcement of prejudice and social exclusion in the context of science and may negatively influence the advance of scientific knowledge.
You have requested "on-the-fly" machine translation of selected content from our databases. This functionality is provided solely for your convenience and is in no way intended to replace human translation. Show full disclaimer
Neither ProQuest nor its licensors make any representations or warranties with respect to the translations. The translations are automatically generated "AS IS" and "AS AVAILABLE" and are not retained in our systems. PROQUEST AND ITS LICENSORS SPECIFICALLY DISCLAIM ANY AND ALL EXPRESS OR IMPLIED WARRANTIES, INCLUDING WITHOUT LIMITATION, ANY WARRANTIES FOR AVAILABILITY, ACCURACY, TIMELINESS, COMPLETENESS, NON-INFRINGMENT, MERCHANTABILITY OR FITNESS FOR A PARTICULAR PURPOSE. Your use of the translations is subject to all use restrictions contained in your Electronic Products License Agreement and by using the translation functionality you agree to forgo any and all claims against ProQuest or its licensors for your use of the translation functionality and any output derived there from. Hide full disclaimer