Resumo
O artigo identifica uma clara e indiscutível tendência antirreducionista na sociología weberiana que coloca em igual posiçâo tanto o nivel da açâo quanto o nivel da estrutura social. Com base nesse pressuposto sugere-se que um paradigma weberiano poderia ser designado como um holismo metodológico moderado. Essa posiçâo combina uma ontologia holista restrita com o modelo explicativo macro-micro-macro. Com base nas atuais reflexöes sobre emergência, distingue-se o holismo metodológico moderado de outras posiçôes metodológicas, além de desenvolvê-lo adotando como modelo explicativo os estudos weberianos sobre a ética protestante e a tipologia da dominaçâo. Em seguida demonstra-se que uma teoria da açâo de tipo weberiano que adota o principio "motivos como causa" possui uma orientaçâo fundamentalmente holista que, consequentemente, nâo exclui da análise o nivel da ordem social. Essa versâo de um paradigma weberiano possui uma inclinaçâo de base ontológica com uma sociología de orientaçâo histórica e empírica.
Palavras-chave: Max Weber. Macro. Micro. Individualismo metodológico. Holismo metodológico.
Moderate methodological holism: a Weberian interpretation of the macro-micro-macro model
Abstract
This paper focusses on an unarticulated tendency of Weberian sociology to examine action and order equitable. The methodological position of moderate holism seems to be adequate for the Weber-paradigm. Moderate methodological holism encompasses a holistic ontology and the individualistic macro-micro-macro-model of explanation. In detail it is different of Hartmut Esser's version of this model. On the basis of emergence-theoretical thinking moderate methodological holism is distinguished from three other methodological positions. It is demonstrated that moderate methodological holism is the background for adequate models of explanation of Weber's protestant ethic and his sociology of domination. It is shown that every action-theory in the Weberian sense has a holistic orientation based on the principle "reasons as causes". The holistic orientation should be hold as regards the macro-level of order, too. This version of the Weber-paradigm has a historical and empirical orientation for ontological reasons.
Keywords: Max Weber. Emergence. Holism. Methodological individualism. Explanation. Micromacro problem.
Recebido em 18/01/2016
Aceito em 10/11/2016
Introduçâo
Weber costuma ser convencionalmente apresentado como um representante do individualismo metodológico. Se levarmos em consideraçao suas declaraçoes oficiais sobre esse tema, isso nao deixa de estar correto. Mas, junto a tais manifestaçoes, também podemos identificar em seus escritos uma clara tendência antireducionista. Como afirma Wolfgang Schluchter (2000a, p. 91), em contraste com Mead, em Weber nao existe um primado lógico nem do individuo nem do processo social. Thomas Schwinn, da mesma forma, é da opiniao de que Weber evita privilegiar o nivel individual ou o nivel estrutural em relaçao ao problema micro-macro, o que o transforma em um interessante parceiro nas discussoes atuais (SCHWINN, 1993, p. 235). M. Rainer Lepsius, partindo de Weber, chega a afirmar que é o conflito entre as instituiçoes que constitui o agente da história. Ele faz referência a famosa frase de Marx e Engels e lhe confere um novo sentido: "a história de todas as sociedades até hoje é a história das lutas entre as instituiçoes" (LEPSIUS, 1997, p. 392). Naturalmente, essa afirmaçao nao reflete nenhuma concepçao macrossociológica pura, pois ele logo acrescenta: "as instituiçoes operam sempre através de atores e estes se orientam por certas ideias" (idem, p. 399). Por fim, Stefan Breuer, em seu esforço de desenvolvimento da sociologia da dominaçao de Weber, chega a uma conclusao semelhante, pois ele mostra coma nos tipos de dominaçao existe uma prioridade do nivel da ordem em relaçao ao nivel individual, na medida em que ele nao entende a dominaçao racional como institucionalizaçao da racionalidade de fins, mas, com certo tom durkheimiano, como "ordem sui generis" (BREUER, 1991, p. 194).
Tais afirmaçoes parecem convergir tendencialmente para a posiçao que Joseph Agassi, inspirado em Weber, formulou em seu famoso artigo de 1975 e que é chamada de "individualismo institucional" (ver também UDEHN, 2001, p. 218-221). No contexto do debate sobre individualismo e holismo, que envolveu autores como Watkins, Popper, Gellner e Mandelbaum; Joseph Agassi, representando a posiçao do racionalismo critico, sustentou que: "ainda assim, tanto o individuo quanto a sociedade podem ser considerados como primários, ao menos no sentido de que nao podemos reduzir a psicologia à sociologia, nem a sociologia à psicologia" (AGASSI, 1975, p. 152). O individualismo institucional de Agassi é uma tentativa de combinar o holismo com o individualismo e é por isso, em contraste com o ponto de vista macrossociológico radical, que podemos falar de um holismo moderado.
Nesse artigo, inspirando-me também em Weber, busco desenvolver uma interpretaçao holista-moderada do modelo macro-micro-macro. De que modo essa interpretaçao se diferencia daquela elaborada pelo individualismo metodológico da escolha racional? Para responder a essa pergunta procederei da seguinte forma. Primeiramente, partindo das atuais discussoes teóricas no campo da filosofia, esclareço a relaçao entre emergência e explicaçao causal. Tomando essa discussao como pano de fundo, diferencio quatro posiçoes sociológicas: 1) individualismo metodológico radical, 2) individualismo metodológico moderado3, 3) holismo metodológico radical e, por fim, o 4) holismo metodológico moderado, a posiçao que defenderei aqui. Após, procuro mostrar como os estudos de Weber sobre a ética protestante, bem como sua sociologia da dominaçao, podem ser compreendidos como modelos de uma explicaçao sociológica de tipo holista, ainda que, é claro, moderada. A seguir retomo a teoria weberiana da açao na perspectiva explicativo-compreensiva e, a partir daí, formulo um argumento antireducionista. A conclusao pode ser lida como a defesa de um paradigma weberiano entendido como um holismo metodológico de tipo moderado (sobre o paradigma weberiano ver Albert (2003) e Schluchter (2003 e 2005)).
Emergencia e explicaçao causal
O holismo metodológico moderado compartilha com o individualismo metodológico o modelo macro-micro-macro de explicaçao sociológica, mas lhe confere uma interpretaçao diferente. Do holismo metodológico radical (ou coletivismo) ele adota o pressuposto da emergência, mas, em contraste com ele, assume uma posiçao individualista, baseada na teoria da açao, ou seja, ele rejeita uma macrossociologia pura. Para esclarecer melhor essa posiçao apresento quatro pontos de vista metodológicos que podem ser encontrados atualmente na sociologia4:
Essas quatro posiçoes podem ser diferenciadas a depender dos seguintes fatores: 1) Se em relaçao ao nivel macro elas reconhecem propriedades emergentes ou, ao contrário, se elas defendem uma posiçao eliminativa (teoria da identidade) e, no primeiro caso, se as propriedades emergentes sao fortes ou fracas; 2) Se elas admitem apenas a causalidade ascendente (upward causation ou micro-determinaçao) ou também a causalidade descendente (downward-causation ou macrodeterminaçao); 3) Se a relaçao micro-macro (chamada por Esser de lógica da agregaçao) é concebida como uma questao de definiçao que requer apenas juízos analíticos ou se ela é concebida como um problema explicativo que requer juízos sintéticos e, caso se admita a última soluçao, se elas esclarecem os fenómenos de nivel macro com explicaçoes fortes ou fracas. Esses très pontos estao em estreita relaçao sistemática.
Antes de caracterizar individualmente cada uma dessas quatro posiçoes, gostaria de me remeter, ainda que muito rapidamente, ao conceito de emergência e a suas implicaçoes teóricas em relaçao ao tema da explicaçao causal. Nesse ponto retomo os importantes trabalhos de Achim Stephan (2002) e de Paulo Hoyningen-Huene (1994) sobre o problema a emergência e os estudos de Robert Commins (1985) sobre instâncias explicativas.
Emergencia forte ou fraca
Teorias da emergência possuem um ponto de partida naturalista (STHEPAN, 2002). Elas procuram respeitar o caráter específico dos fenómenos naturais na medida em que a explicaçao para o surgimento e existência de fenômenos como espirito , vida ou o social fundamentam-se sempre em certas configuraçoes de elementos materiais. A atual história da ciência baseia-se na tese de que, a principio, existia apenas a matéria e que, em determinado momento da evoluçao, a partir de complexas combinaçoes de seus elementos, surgiram ou emergiram novas propriedades. Teorias da emergência implicam, portanto, um materialismo nao-reducionista que exclui tanto posiçoes vitalistas quanto substancial-dualistas (STHEPAN, 2002, p. 125). Teorias da emergência, sejam elas fortes ou fracas5, possuem très pressupostos em comum e diferenciam-se em relaçao a uma quarta (STHEPAN, 2002, p. 124-140).
O primeiro desses pressupostos é o monismo físico: todos os componentes do sistema que geram as propriedades emergentes possuem uma natureza física ou material. Em última instância, o que esse pressuposto descreve sao os fundamentos naturalistas da teoria da emergência. O segundo pressuposto trata das propriedades sistêmicas. Apenas propriedades sistêmicas possuem uma natureza emergente ou, dito de outra forma, as propriedades sao sistêmicas quando o sistema produz as propriedades, mas nao os componentes do sistema. Um exemplo disso é a capacidade de respirar ou, no campo do social, "o fato de que a continuidade da sociedade é mais longa que a do individuo". O terceiro pressuposto é a determinaçao sincrónica que diz respeito à relaçao entre os elementos micro e as estruturas macro. Determinaçao sincrónica significa que nao podem ocorrer mudanças nas propriedades sistêmicas sem que as configuraçoes ou as características dos componentes sistêmicos também se alterem (se entendemos as mudanças de configuraçao como variaçoes micro). Portanto, nao existe macrovariaçao sem microvariaçao, embora possam existir micro-variaçoes sem macrovariaçoes. Esse último caso significa a possibilidade de que possam ocorrer mudanças nos elementos micro ou em sua configuraçao que nao provocam mudanças no nivel macro.
Estes très pressupostos sao compartilhados pelo conjunto das teorias da emergência, mas existe um ponto na qual elas divergem: se as propriedades emergentes devem ser consideradas "fortes" ou "fracas". A distinçao entre emergência de tipo fraco ou de tipo fraco resulta do critério da "redutibilidade" ou da "irredutibilidade" (HOYNINGEN-HUME). Propriedades emergentes fortes sao irredutíveis e as de tipo fraco sao redutiveis. Para entendermos a natureza da reduçao ou da irredutibilidade, por sua vez, temos que esclarecer que modelo explicativo está sendo empregado, ou seja, temos que verificar se este modelo admite propriedades sistêmicas fortes ou fracas: fenómenos emergentes fortes requerem explicaçoes fracas e sao, portanto, irredutíveis; já fenómenos emergentes fracos podem ser compreendidos somente por meio de explicaçoes reducionistas, ou seja, fortes6. É o que vamos esclarecer a seguir.
Explicaçoes fortes ou fracas
Uma explicaçao fraca possui a forma de uma explicaçao nomológico-dedutiva (CUMMINS, 1985; BECKERMANN, 1996, p. 6). A variável dependente (explanandum) é a existência de um fenômeno emergente. Na variável independente (explanans) encontramos dois elementos. Em primeiro lugar, uma lei científica que descreve as propriedades do fator constituinte, ou seja, os componentes micro do sistema e suas configuraçoes como um antecedente (condiçao: "se"), bem como as propriedades do sistema como um consequente (consequência: "entao"). Além do antecedente e do consequente, temos, em segundo lugar, as condiçoes iniciais que estabelecem se as condiçoes antecedentes realmente estao presentes:
Lei 1: para todo X vale que: quando X consiste em partes de A1... An, que estao organizados conforme O, ou seja, quando X possui a estrutura [A1.. .An; O], entao X tem a propriedade P.
Condiçoes iniciais: X tem a estrutura [A1,_, An, O].
Explanandum: X tem a propriedade P.
Esse esquema pode ser utilizado pelo modelo macro-micro para explicar fenómenos emergentes fortes7. No entanto, fenómenos emergentes fortes podem até ser explicados de modo nomológico-dedutivo, mas é importante lembrar que eles nao podem ser prognosticados antes de sua primeira ocorrência. Somente a ocorrência inicial de fenômenos emergentes fortes é que funda a possibilidade de encontrar explicaçoes e leis para eles. No caso de fenómenos emergentes fracos a situaçao é outra. Se as propriedades nomológicas dos componentes micro do sistema estiveram esclarecidas, podemos, através da descriçao empírica do modo como eles estao combinados, deduzir suas propriedades emergentes. Por isso, no caso dos fenómenos emergentes fracos, é valida a chamada lei da instanciaçao (Lei 2) que postula que as propriedades emergentes sao dependentes das micro-estruturas do sistema, ou seja, podem ser deduzidas dos atributos ou das propriedades nomológicas8 dos componentes micro (CUMMINS, 1985, p.18). Esses atributos nomológicos podem ser formulados da seguinte maneira:
Lei 2: As características de A1... An existem "aconteça o que acontecer".
As propriedades nomológicas sao, dessa forma, proposiçoes fundamentais pelas quais as propriedades emergentes sao entendidas como o resultado de certas disposiçoes organizacionais presentes no nivel sistêmico. Portanto, para deduzir os principios de instanciaçao dos atributos nomológicos necessita-se, primeiramente, conhecer o estado organizacional dos microcomponentes que compoem o sistema. Isso significa que devemos, inicialmente, ter visto como, em um sistema qualquer, a organizaçao dos seus microcomponentes opera. Uma vez que tenhamos compreendido o principio organizacional dos componentes micro, teremos compreendido o conjunto do sistema em todas as suas situaçoes ou possibilidades. É dessa forma que podemos compreender o postulado da irredutibilidade de Stephan que, passando por Broad, afirma que: "uma propriedade sistêmica (P) de um sistema (S) é irredutível quando, ainda que os elementos que fazem parte desse Sistema (S) apresentem uma combinaçao distinta da anterior, nao se pode prever o comportamento do Sistema (S) como um todo" (STEPHAN, 2002, p. 131)9.
Isso tem como implicaçao a chamada causalidade descendente, ou "downward causation" (STEPHAN, 2002, p. 131)l0. Quando o comportamento dos componentes do sistema, a depender de sua disposiçao - quer dizer, de acordo com sua estrutura - sofre variaçoes, isso significa que o "todo" (a estrutura do sistema) exerce influência sobre seus componentes. Logo, a emergência forte está sempre relacionada com a causalidade descendente e é acompanhada, no que diz respeito a relaçao micro-macro, de explicaçoes fracas. A emergência fraca está sempre relacionada com a causalidade ascendente e só pode ser compreendida, no tocante a relaçao micro-macro, mediante explicaçoes fortes.
Quatro posiçoes metodológicas
Com base nesses conceitos podemos caracterizar quatro posiçoes metodológicas existentes na sociologia.
Individualismo metodológico moderado
O individualismo metodológico moderado admite a existência de propriedades emergentes no nivel sistêmico, porém, ela as enxerga apenas como epifenómenos e, por essa razao, nao lhes atribui nenhum tipo de influência causal sobre os componentes sistêmicos11. O objeto da explicaçao (epifenómenos) é, portanto, localizado no nivel macro. Na teoria da escolha racional, a relaçao macro-micro consiste de "incentivos" (Lógica da situaçao), sejam elas oportunidades ou restriçoes, que nos sao fornecidas pelas instituiçoes vigentes. No entanto, o discurso sobre a influência das instituiçoes é pensada apenas metaforicamente: na verdade, nao se postulam efeitos causais reais, pois, em última instância, a única coisa que realmente existe sao os efeitos gerados pelas açoes dos individuos que, uma vez realizadas, produzem aquilo que chamamos de nivel macro. Por isso, na apresentaçao do modelo macro-micro de explicaçao, vemos as linhas apontando sempre na direçao superior do gráfico, dado que elas devem ser interpretadas sempre em sentido causal. Linhas com a direçao descendente, como no caso relaçao macro-micro, já que nao possuem existência real e também nao exercem nenhum tipo de efeito causal, devem ser apresentadas de forma pontilhada. Já a relaçao micro-macro deve ser representada com uma linha continua para caracterizar a microdeterminaçao e a causalidade ascendente e para que os fenómenos de nivel macro possam ser compreendidos como resultado de explicaçoes fortes:
Esse individualismo metodológico moderado tem implicaçoes importantes. Em primeiro lugar, ele permite uma orientaçao sociológica fortemente matematizada. Uma vez que tenhamos captado os atributos nomológicos dos componentes do nivel micro - no caso da sociologia, a açao social - nao precisamos mais de informaçoes empíricas suplementares para estipular quais seriam os arranjos organizacionais possíveis e para deduzir os fenómenos macro do conhecimento que adquirimos sobre as regularidades das açoes. O recurso à realidade social é necessário apenas para fins de comprovaçao empírica. De meu ponto de vista, isso nao passa de uma ciência de sofá.
Em Hartmut Esser encontramos um modelo de relaçao micro-macro que faz uso de explicaçoes fortes e que elabora complexos modelos formais para analisar as chamadas regras de transformaçao. Para tanto, ele diferencia entre modelos situacionais - em especial a teoria dos jogos - e os modelos processuais - entre os quais podemos apontar o modelo dos ciclos de valores. Esses modelos formais sao "algoritmos mais ou menos complexos através dos quais a agregaçao de atos individuais converte-se em fenômenos tipicamente coletivos [...]. A depender da distribuiçao das características individuais dos atores emerge certo processo de interaçao entre eles que, por sua vez, têm como desenlace efeitos coletivos" (ESSER, 1999, p. 23). E mais: "é exatamente no caráter formal dos modelos que se mostra a fecundidade desse procedimento, pois é somente através dele que podemos identificar e esclarecer fenômenos emergentes que, em principio, parecem improváveis". Propriedades emergentes fracas, situadas no nível macro, podem ser deduzidas matematicamente, desde que tenhamos conhecimento das leis que determinam as açoes. É nesse procedimento dedutivo que reside o caráter forte do modelo de explicaçao adotado.
Individualismo metodológico radical
Nao temos espaço aqui para descrever as diferentes variantes do individualismo metodológico.12 Prefiro partir da perspectiva adotada por Esser para tratar do chamado problema da transformaçao. Esser tenta pensar o problema da transformaçao (como efeitos individuais transformam-se em fenómenos coletivos) através de um modelo que diferencia entre as "condiçoes" da transformaçao e as "regras" de transformaçao. Para entender as condiçoes e as regras de transformaçao devemos adotar apenas procedimentos analíticos e formais que demonstrem quais os efeitos empíricos do nível individual sobre os macrofenómenos coletivos (ESSER, 2000, p. 24)l3. As descriçoes dos efeitos individuais no processo de transformaçao nao devem ser acompanhadas por proposiçoes sintéticas. Para que o argumento da transformaçao seja considerado válido, basta apenas que essas regras analíticas sejam consideradas verdadeiras em termos de suas relaçoes lógicas. Hartmut Esser define os fenómenos coletivos através das regras de transformaçao e sao elas que explicam como, a partir do efeito combinado das açoes sociais, tais fenómenos sao gerados (ESSER, 2000, p. 16). Fica claro, nesse caso, que as propriedades emergentes nao podem ser interpretadas como elementos presentes apenas no nivel coletivo, mas nao nos seus componentes individuais14. A soluçao do problema macro-micro através de proposiçoes analíticas envolve necessariamente a reduçao ontológica e epistemológica do nivel macro aos seus componentes micro, quer dizer, uma eliminaçao do nivel macro, ou ainda, uma equiparaçao de identidade entre ambos. Trata-se, portanto, de um reducionismo ainda mais radical do que aquele do individualismo metodológico moderado. Como realidade ontológica, o nível sistêmico possui propriedades emergentes fracas que, por sua vez, precisam ser compreendidas por explicaçoes fortes, ainda que essas explicaçoes sejam apenas lógicas, ou seja, nao se tratam de conexoes entre fenómenos reais (por isso o juízo é analítico e nao sintético, ou seja, causal). O individualismo metodológico radical nao admite a existência de efeitos emergentes, pois para ele a problemática da transformaçao tem um caráter essencialmente analítico. Por essa razao, essa posiçao nao pode adotar a relaçao causal ascendente (ou mesmo relaçao causal descendente) já que, em última instância, o nível macro sequer existe15. A única coisa que existe, de fato, sao as relaçoes causais resultantes das interaçoes entre os próprios atores sociais16, em outras palavras, uma "same-level causation" restrita ao plano micro17.
Holismo metodológico radical
O holismo metodológico radical também postula uma same-level causation, mas ela é restrita ao nível macro. Seu princípio fundamental é o pressuposto da emergência forte, tal como encontrada na clássica definiçao de Durkheim. Em suas Regras do Método Sociológico e, principalmente, em seu artigo Representaçoes individuais e representaçoes coletivas, podemos encontrar posiçoes que hoje designamos como emergentistas, como bem mostrou Keith Sawyer (2002). Outros representantes contemporáneos desse tipo de holismo sao, por exemplo, Peter Blau, o neoinstitucionalismo e a sociologia das organizaçoes. Inspirado na tese da divisao do trabalho de Durkheim e polemizando com George C. Homans, Blau formulou uma lei macrossociológica que, segundo a crítica, nao só possui um caráter funcionalista, mas também capacidade explicativa reduzida (HOMANS, 1970, p. 325 e ss.): O aumento no tamanho de uma organizaçao formal dá origem à diferenciaçoes estruturais ao longo de várias direçoes" (BLAU, 1970, p. 333). Na sociologia neoinstitucionalista encontramos a seguinte hipótese causal: quanto maior a dependência de uma organizaçao em relaçao à outra, mais ela tende a se igualá-la em sua estrutura, clima e comportamento" (DIMAGGIO; POWELL, 2000, p. 162). Entretanto, a formulaçao de tais leis macrossociológicas nao significa que nao se possa afirmar algo a respeito dos atores e suas interaçoes que, neste caso, sao explicadas a partir dos efeitos causais que emergem das entidades macro, como o fazem Peter Blau e o novo institucionalismo sociológico.18 Do ponto de vista da perspectiva emergentista, fundamentos microssociológicos nao só sao necessários, como também desejáveis. Até que ponto elas devem recorrer a uma teoria da açao permanece a critério de cada teórico o que, segundo meu entendimento, nao se justifica:
Em favor desse programa de pesquisa macrossociológica existe um argumento oriundo do debate sobre as novas concepçoes de emergência. Essas teorisa surgiram no ámbito da filosofía e da psicologia e discutem a problemática da relaçao entre alma e corpo (ou mente e cérebro), mas acabaram sendo importadas para a sociologia: trata-se do argumento das "realizabilidades múltiplas" e das "disjunçoes selvagens" (SAWYER 2001, p. 556; HEINTZ, 2004, p. 9). De forma sucinta, o primeiro desses argumentos afirma que leis macrossociológicas podem efetivar-se de modo diferenciado no nivel micro. O segundo argumento significa que, em funçao dessa efetivaçao diferenciada, as hipóteses formuladas para explicar o que ocorre no nivel micro nao podem ser encaradas como leis:
A ideia correspondente é a de que, tendo em vista tais disjunçoes (sejam elas lógicas ou relacionais), afirmaçoes sobre o nível micro nao podem ser aceitas como proposiçoes nomológicas.19 Em meu entendimento, esse argumento toca em um ponto central do debate sociológico sobre o individualismo e holismo metodológico. O principal representante de uma concepçao nomológica de individualismo metodológico é, atualmente, a teoria da escolha racional. Essa perspectiva postula uma teoria da açao de caráter geral e universal. Ela sustenta que todas as "leis", ou melhor, que as regularidades do nível micro, podem ser reduzidas à seguinte fórmula: Ix => I*x, ou seja, a uma lei válida universalmente e sem disjunçoes. Ainda que, no nível micro, as condiçoes iniciais possam ser bastante variáveis, o fato é que existe apenas um tipo de proposiçao nomológica20. Ora, o argumento da realizabilidade múltipla sustenta exatamente aquilo que a teoria da escolha racional nega. Uma perspectiva weberiana que trabalha com múltiplos tipos de açao pode enfrentar tranquilamente esse problema,21 algo que a posiçao de Esser (que é um teórico da escolha racional), que diz inspirar-se em Weber, nao consegue, pois ele insiste na formulaçao de uma teoria da açao válida universalmente (ESSER, 2003).
Na minha perspectiva a sustentaçao desse argumento pode ser avaliada dessa forma: apenas aqueles que, como Weber (aqui tomado como modelo), estao dispostos a admitir principios ou tipos de açao diversificados (leis ceteris paribus) podem superar o desafio posto pela teoria da realizabilidade múltipla e da disjunçao selvagem. No entanto, essa possibilidade só será verdadeira se for possível demonstrar, de forma concreta, que leis macrossociais só existem realmente quando efetivadas através de mecanismos variados situados no nivel micro. Isso seria um indicador para a existência de uma same-level causaçâo no nivel macro.
Holismo metodológico moderado
O holismo metodológico moderado parte do principio de que nao existem leis causais no nivel macro, ou seja, ele aceita o argumento da realizabilidade múltipla. Essa posiçao é diferente de todas as demais, pois ela entende que podemos aceitar tanto a existência de fenómenos emergentes fortes quanto fracos. Nessa medida, ele compartilha com o holismo ontológico a premissa da causaçao descendente das propriedades emergentes fortes e com o individualismo metodológico moderado a tese da causaçao ascendente dos fenómenos emergentes fracos. Em relaçao ao seu modelo explicativo, essa posiçao também se orienta, como o individualismo metodológico moderado, pela sequência macro-micro-macro - a causalidade social só ocorre através da açao humana - mas, e ai está a diferença, admitem-se os efeitos causais do nivel macro sobre o nivel micro, como é o caso da influência das instituiçoes sobre os atores. Na medida em que, no ámbito das correlaçoes causais, fenómenos de tipo macro desempenham efeitos institucionais, eles só podem operar através de explicaçoes causais fracas. Caso contrário, explicaçoes fortes também sao possíveis.
Em lugar de um único eixo nomológico, como no individualismo metodológico, o holismo metodológico moderado possui très eixos teóricos (Gráfico 2.5).22 Ao lado da lógica da situaçao ele considera ainda os efeitos diretos das instituiçoes ou das motivaçoes sobre os atores. Em lugar de uma teoria universal da açao ele sustenta, baseando-se em Weber, principios múltiplos de açao, ou seja, uma maior quantidade de leis de açao do tipo ceteris paribus. Por fim, quanto à relaçao entre micro e macro, ele enfraquece as premissas do individualismo metodológico moderado: nem todas as explicaçoes sao consideradas fortes: as instituiçoes sociais, por exemplo, sao concebidas como entidades fracas. Portanto, o que o holismo metodológico moderado aceita no que concerne a relaçao de causalidade do nível macro sobre micro, ele recusa novamente quando se trata de avaliar o peso dessa mesma relaçao.
O primeiro eixo teórico do holismo metodológico moderado considera os efeitos do nivel macro sobre os atores. Ao lado dos estímulos motivacionais23 que, segundo o modelo da teoria da escolha racional, sao denominados de lógica da situaçao, mas que no holismo metodológico moderado sao compreendidos como efeitos reais, desdobram-se efeitos diretos das instituiçoes sobre os atores. No livro As instituiçoes impregnam os individuos, organizado por Martin Held e Hans Nutzinger (1999, p. 8) encontramos esta rica constataçao: "as instituiçoes moldam os individuos, suas preferencias, representaçoes valorativas, normas internalizadas, suas motivaçoes intrínsecas e suas visoes sobre direitos e obrigaçoes, status, concepçoes de justiça, equidade e muito mais".
Essa frase mostra que esses economistas heterodoxos se deslocaram do individualismo metodológico para o holismo metodológico moderado. É claro que, além das instituiçoes, precisamos considerar também os efeitos de outras entidades macroestruturais. No entanto, quem sao, concretamente, tais entidades, ainda é uma questao a ser pesquisada, tanto teórica quanto empiricamente. No livro acima citado, além das instituiçoes, encontramos artigos que discutem algumas dessas entidades, como os grupos sociais. No artigo de Ekkehrt Schlicht (p.166), em particular, temos uma rica discussao dos efeitos comportamentais gerados por processos de institucionalizaçao alternativa e sobre seus efeitos em termos de diferenciaçao de preferencias. Tais efeitos nao podem ser explicados de forma mecánica a partir do esquema estímulo-resposta. Dentre os exemplos apontados por ele temos os efeitos derivados da institucionalizaçao da propriedade privada, dado que eles sao diferentes entre proprietários e usuários. Levar em consideraçao a diferença na estrutura da propriedade no permitiria, por exemplo, entender as diferenças entre empresários que atuam no ramo da Franchise ou em cadeias de lojas.
Ao consideramos os efeitos do nível macro, em especial das instituiçoes, sobre os atores, somos naturalmente conduzidos ao segundo eixo teórico de nossa proposta: a teoria da açao. Nesse campo podemos reconhecer a seguinte correlaçao: na medida em que admitimos a existência de macrodeterminaçao temos que trocar uma visao monoliticamente racionalista de ator social por categorias motivacionais pluralistas, ou seja, temos que transitar de uma teoria universalista para uma teoria pluralista que reconhece a multiplicidade de princípios que move a açao social. Portanto, no nivel individual, podemos admitir apenas a existência de leis ceteris paribus, em suma, tipos ideias de açao e, a partir deles, tipos de açao real. Conforme afirma Ulrich Krause (1999, p. 66):
Uma vez que uma visao unificada do ator como racional e egoísta é superada em nome de uma visao que reconhece nele outras propriedades, teremos maior dificuldade de ancorar a explicaçao das instituiçoes sociais em atores racionais; por outro lado, será mais fácil ex- plicar os efeitos dessas mesmas instituiçôes sobre os individuos. Esse efeito retroativo das instituiçôes sobre os individuos nao pode ser captado nessa verdadeira caixa-preta que é a teoria da escolha racional, mas ele fica muito mais claro tao logo ela for aberta e identificarmos também os caracteres normativos e morais dessas instituiçôes.
Caso queiramos, realmente, captar os efeitos causais das instituiçôes, temos que levar em conta as demais características dos indivíduos, como seu caráter moral por exemplo; o que significa que temos que nos despedir da fixaçao unidirecional no critério da racionalidade de fins e meios. A partir dessa virada epistemológica deixamos definitivamente para trás a concepçao atomista do individualismo metodológico moderado. O pressuposto central da teoria da escolha racional é justamente o de que os elementos individuais jamais se modificam em suas características categoriais [intrínsecas] e que toda mudança qualitativa no nível macro é apenas uma mudança na composiçao desses elementos individuais. Defino características categorias como objetos de cadeias causais. No caso da teoria da escolha racional, por exemplo, o ator tem apenas uma característica categorial [intrínseca]: o desejo de maximizar suas preferências24. Consequentemente, nessa teoria, as características do nível macro sao apenas o resultado do modo como estao combinados os próprios atores sociais, quer dizer, do modo como eles se relacionam entre si. No holismo metodológico moderado, ao contrário, admitem-se os efeitos macrodeterminantes de estruturas emergentes fortes, pois estruturas situadas no nível macro também exercem efeitos sobre as entidades do nível micro, o que significa, ao final, que as características categoriais dos microcomponentes podem mudar. Concretamente, mudanças institucionais podem ocasionar mudanças motivacionais e, dessa forma, modificar as disposiçôes individuais para agir.
Resta tratar, agora, do terceiro eixo do individualismo metodológico moderado, ou seja, da relaçao micro-macro. Para o caso de fenómenos emergentes fracos, vale o mesmo que no individualismo metodológico moderado: explicaçôes fortes com o auxílio de modelos formais. A depender da composiçao dos atores sociais, podemos deduzir diferentes fenómenos coletivos. Já para os fenómenos emergentes fortes vale, ao contrário, o modelo das regras institucionais de Esser (2001, p. 21), o que, no nosso caso, significa que se trata de explicaçoes fracas para fenómenos emergentes fortes. A lei contém, no explanans, um antecedente (componente "se") que conecta açoes individuais (ou efeitos) e regras institucionais e ainda um consequente (componente "entáo") que sao os fenómenos coletivos. O exemplo de Esser é a transformaçao dos votos individuais (efeitos individuais - ou antecedentes) em cadeiras no parlamento (fenómeno coletivo-consequente) através de regras institucionais (regras de composiçâo na parte antecedente da lei), caso dos sistemas eleitorais majoritários ou proporcionais25.
Caso queira satisfazer suas próprias exigências metodológicas, o individualismo metodológico moderado necessita deduzir essas regras institucionais de uma determinada composiçâo dos atores sociais, sem poder derivá-las de estruturas coletivas. Caso contrário, ele estaria explicando estruturas coletivas através de outras estruturas coletivas, sem ancorá-las no nivel micro. Nesse caso caberia falar do regresso infinito ao holismo26. Para o holismo metodológico moderado esse problema náo existe, pois ele aceita a existência de efeitos institucionais, ainda que eles sejam fenómenos históricos que requeiram explicaçoes fracas, e náo leis da açào válidas de modo trans-histórico. Isso significa dizer que no holismo metodológico moderado, antes do surgimento de um macrofenómeno com propriedades emergentes fortes, náo é possível explicá-lo previamente. É apenas paulatinamente que podemos identificar as condiçoes gerais que determinaram a emergência desse fenómeno (BÜNTRUP, 2001, p. 68). É somente a partir da ocorrência anterior que prognoses sáo possíveis.
O individualismo metodológico possui exigências muito extremas, no limite, inatingíveis. Quando da primeira ocorrência de um fenómeno emergente fraco - os únicos que ele admite - ele acredita poder prever suas principais características, afinal, ele pode identificar qualquer var^áo na compos^áo dos elementos, tendo em vista que, supostamente, conhece todas as características dos atores. Essa é a razáo pela qual modelos computacionais sáo táo valorizados nesse modelo. Para o holismo metodológico moderado tais modelos sáo úteis apenas em re^áo a fenómenos emergentes fracos, pois para os fenómenos emergentes fortes precisamos recorrer à pesquisa histórica. O individualismo metodológico moderado tende para uma sociologia fortemente matematizada, já que ele admite apenas a existência de fenômenos fracos que podem ser explicados atemporalmente através de esquemas lógico-matemáticos. Quanto ao individualismo metodológico moderado, no medida em que ele admite a existência de fenômenos emergentes fortes, favorece-se a pesquisa empírica, ou seja, ele está muito mais próximo de uma sociologia histórica.
Modelos de explicaçâo sociológica em Max Weber
A obra A ética protestante e o "espírito " do capitalismo [doravante EP] é considerada, ainda hoje, um modelo de análise sociológica. Foi David C. MacClelland (1961) que demonstrou, pela primeira vez, que por trás desse estudo encontra-se o modelo macro-micro-macro. De fato, nessa pesquisa encontramos o modelo explicativo de Weber colocado em uso: ele vai do nível macro até o micro e, após, percorre o caminho inverso. Wolfgang Schluchter mostra ainda que podemos localizar nesse modelo um nível intermediário [nível meso]27, relacionado tanto com o nível micro quanto com o macro. O espírito do capitalismo, entendido como uma forma específica de orientaçào económica da açao, - objeto da análise - é o resultado da influência da ética religiosa do protestantismo ascético sobre a conduta de vida. O aconselhamento pastoral provoca uma mudança na disposiçao económica até entao vigente. Por meio de uma ascese vocacional intramundana ela é paulatinamente substituída, na esfera económica, por uma orientaçao da açao fundada em valores. O espírito do capitalismo é a forma vocacional secularizada mais adaptada ao moderno homem económico e ele determina o tipo de conduta de vida vigente na vida económica.
Mas, ainda que Weber siga o modelo macro-micro-macro de análise, a mim parece muito claro que ele em nada se assemelha àquele que é geralmente postulado pela teoria da escolha racional, que entende a influência do nível macro sobre micro apenas como estímulo. Para Weber, a influência das estruturas coletivas sobre a conduta de vida dos atores tem um caráter motivacional. A produçao da influência motivacional do profissional moderno determina, em primeiro lugar, o fato de que ele se comporte dessa forma em relaçao aos estímulos advindos do mercado (ou de outras instituiçoes). A ética protestante de Max Weber mostra nao só que ele segue o modelo explicativo macro-micro-macro, mas também que ele reconhece os efeitos do nivel macro sobre o nivel micro. Por esse motivo, faz todo sentido classificá-lo no campo do holismo metodológico moderado. Do ponto de vista da teoria da açao também é indiscutível que, na EP, ele nao defendeu nenhuma teoria universal da açao, na medida em que reconhece diferentes tipos de orientaçao do agir que surgem ou desaparecem em funçao dos efeitos macrossociais.
Para ter uma ideia mais clara e completa do modelo explicativo de Weber, precisamos aprofundar um pouco mais o modo como ele concebe a relaçao micro-macro. Para ajudar-nos nessa tarefa, mais do que nos fixamos apenas na EP, podemos usar como exemplo também a sua sociologia ou tipologia da dominaçao (WEBER, 1980, doravante WuG).
Ao contrário da sugestao de Esser, que entende que tipologias nao possuem qualquer poder explicativo, já que elas sao apenas etapas preparatórias para a elaboraçao de teorias, desejo demonstrar que os tipos ideais de dominaçao legítima de Max Weber devem ser entendidos, em princípio, como modelos explicativos ceteris-paribus, ou seja, como leis de instanciaçao, ou ainda, como leis micro-macro (ESSER, 1993, p.56). É claro que Esser está correto quando afirma que tipologias nao sao explicaçoes. No entanto, tipos podem assumir o lugar de leis em explicaçoes causais nomológico-dedutivas e, dessa forma, sao muito mais do que meras etapas preparatórias (seja como terminologias ou classificaçoes para a elaboraçao de teorias 28. A tese fundamental da tipologia weberiana da dominaçao - ainda que isto nao esgote seu conteúdo - é a seguinte: quando uma determinada forma de legitimidade (carismática, tradicional, legal) é compartilhada pelos atores sociais como uma representaçao válida e obrigatória entao ela possui uma estrutura organizacional [quadro administrativo] correspondente a essa legitimidade. Dessa maneira, podemos interpretar cada um dos três tipos de dominaçao como coexistência de leis ceteris paribus29. No entanto, mesmo que os tipos de dominaçao possam ser vistos como leis instanciaçao, necessitamos também dizer alguma coisa sobre os atores sociais, ou seja, os tipos de dominaçao nao devem ser interpretados, obviamente, como se eles fossem leis "para a açao". Em outros termos, o que estou tentando sustentar é apenas que a correspondência entre os principios de legitimaçao e os aparatos administrativos que sao próprios de cada um dos tipos de dominaçao pode ser interpretada como leis de instanciaçao. Seguindo-se esses pressupostos, uma sentença nomológica da teoria da dominaçao legal poderia ser esboçada dessa forma: para uma ordem de dominaçao vale ceteris paribus que, quando os atores compartilham a crença na legalidade da ordem estatuida e reconhecem um governo por ela regulado, entao podemos encontra nessa ordem os seguintes elementos estruturais: exercício continuo da administraçao vinculada a determinadas regras, delimitaçao de competências, principio da hierarquia etc.
Os elementos estruturais da dominaçao legal sao propriedades emergentes fortes situadas no nivel "sistêmico" e sao elas que precisam ser explicadas30. Ora, elas sao explicadas através de determinadas propriedades dos atores, a saber, pela crença compartilhada na legalidade dessa ordem. De meu ponto de vista, na explanaçao sociológica instanciada de fenómenos emergentes fortes, certos conteúdos culturais - que é justamente o caso do tipo de legitimidade que define cada tipo de dominaçao - podem representar aqueles componentes que nos dizem algo sobre a configuraçao estrutural dos componentes do nivel micro, ou seja, dos atores. Percebemos, entao, que a explicaçao sociológica instanciada de fenômenos emergentes fortes contém uma macrossociologia completa que, contudo, precisa ser complementada no explanans com um componente teórico no nivel do agente (Gráfico 6). A obliteraçao desse componente individual tem como consequência o encurtamento das instâncias explicativas na coexistência de leis de tipo macrossociológico. No caso da sociologia weberiana da dominaçao teriamos como conclusao a seguinte lei: a estrutura de uma ordem politica corresponde ao tipo de legitimidade dessa ordem.
Além disso, é perfeitamente possível que a relaçao macro-micro, ou seja, os efeitos causados pelo nível macro sobre os componentes do nível micro possa ser repetir, mas, dessa vez, como um componente que, na explanaçao das instâncias explicativas (relaçao micro-macro), descreve a configuraçao estrutural dos elementos do nível micro, ou seja, a sua composiçao. Isso seria o caso, por exemplo, quando na reproduçao de uma determinada ordem política houvesse a conservaçao das mesmas formas de estrutura e legitimidade. A legitimidade da ordem política teria que ser procurada primariamente no conteúdo macro com o qual se inicia o modelo macro-micro-macro e, secundariamente, na relaçao micro-macro como configuraçao estrutural do Explanans na explicaçao instanciada (Gráfico 7).
Nós nao poderíamos fundamentar essas "leis" weberianas de instanciaçâo de forma adequada se simplesmente as derivássemos das características dos atores sociais, como é necessário no caso da explicaçao de caracteres emergentes fracos. Trata-se, em cada um dos diferentes tipos de dominaçao, de propriedades emergentes fortes, ainda que explicáveis de modo fraco. Tais explicaçoes de tipo fraco nao podem ser procuradas na teoria dos jogos ou outras similares, mas somente lidando-se com a realidade histórica. A sociologia weberiana da dominaçao, portanto, deve ser compreendida de modo histórico, e nao de modo abstrato.
A análise do modelo sociológico utilizado por Weber no estudo da ética protestante e dos tipos de dominaçao nos permite chegar a uma importante conclusao. Weber segue o modelo explicativo macro-micro-macro nao no sentido do individualismo metodológico, mas do holismo moderado, combinando a tríade macrodeterminaçao (macro-micro), pluralidade de orientaçoes de açao (micro-micro) e explicaçoes fracas por meio de leis de instanciaçao (micro-macro). Outro argumento para sustentar porque essa perspectiva metodológica, que interpreta Weber como um holsita moderado, é mais adequada do que uma interpretaçao individualista de tipo clássico, também pode ser encontrado na teoria weberiana da açao, em particular no seu caráter compreensivo-explicativo. É o que vamos explicar agora.
Compreensao explicativa
O problema micro-macro ou a problemática da emergência é uma questao que ressurge continuamente nas discussoes ontológicas. O atual debate sobre a emergência ou causaçao descendente (macrodeterminaçao) se dá principalmente no contexto da problemática alma-corpo, ou seja, em um campo que é de extrema relevância para a sociologia. De fato, nao devemos crer que uma escolha por uma das posiçoes no debate alma-corpo nao traga qualquer repercussao na sociologia. É como se cada sociologia pudesse ser alocada em um lugar desse debate. Isso é particularmente válido para toda sociologia de orientaçao individualista ou comportamentalista, ou seja, para toda sociologia que pretenda seguir o modelo macro-micro-macro. A questao posta para cada um dessas perspectivas é a seguinte: em que medida a opçao a favor ou contra e existência de propriedades emergentes fracas ou fortes no nível micro ou no nivel macro pode ser coerente com uma ou com a outra. Isso significa que cada perspectiva sociológica decide-se a favor ou contra a emergência ou a macrodeterminaçao nos dois níveis: primeiro em relaçao ao nivel social e psíquico (ou mais propriamente, no nível individual) e, secundariamente, em relaçao ao nivel psíquico e físico (neurofisiológico).
Adotando o entendimento de que o paradigma weberiano deve ser lido como uma forma de holismo metodológico moderado, mostrei que a forma legal de dominaçao pode ser considerada nao apenas como uma estrutura emergente de tipo forte, mas que ela também exerce alguma forma de macrodeterminaçao sobre o nivel psíquico31. Mas, agora, além de olharmos para as estruturas, precisamos também discutir a teoria weberiana da açao, ou seja, o nivel micro. Quais sao as consequências derivadas da distinçao weberiana entre comportamento e açao (ALBERT, 2002, p. 639; 2005, p. 160-165)?
Weber define açao como "um comportamento humano (tanto interno como externo, permitir ou omitir) quando e na medida em que o ator conecta a ela um sentido subjetivo" (WuG: 1). O comportamento reativo puro nao está ligado com nenhum sentido subjetivo. A açao com sentido pode ser explicada pelos motivos que lhes atribuem os atores, resultando daí uma conexao de sentido, seja esse sentido o resultado da escolha do próprio ator, seja ele o resultado da atribuiçao de sentido por parte do observador (WuG: 5). Razoes como motivos sao, para Weber, a causa das açoes. É somente em funçao desse dado que a compreensao explicativa é possível: nós podemos compreender os motivos e ao mesmo tempo explicar suas causas. Quando os motivos sao causas torna-se possível compreender explicativamente.
O que significa, para Weber, "explicar"? Explicar um evento particular significa - segundo Weber -, submetê-lo a uma regra (lei) (WuG:6). Do ponto de vista lógico, isso corresponde ao modelo nomológico-dedutivo. Na visao de Weber, a compreensao explicativa ou a explicaçao compreensiva fornece para a sociologia a possibilidade de ir além da mera observaçao, tal como utilizada no ámbito das ciências naturais, pois esta se restringe a relacionar regras causais a processos e estruturas para, dessa forma, explicar eventos particulares (WuG:7). A contribuiçao da compreensao explicativa reside na possibilidade de compreender a açao dos indivíduos e é neste ponto que reside a especificidade da sociología. A compreensao explicativa significa, pois, compreender as razoes dos atores e submetê-las a uma regra (lei). Isso nos possibilita unificar o modelo nomotético-dedutivo e o silogismo prático (que estao ambos a serviço da compreensao). Podemos expressar isso da seguinte forma32:
Lei: para cada pessoa X: quando X intenta produzir o estado desejado E e X crê que na situaçao dada ela pode ser produzida apenas mediante a açao A, entao X procurará executar a açao A.
Condiçoes de partida: Intençao: Pessoa P deseja produzir o estado desejado E.
Crença: Pessoa P crê que na situaçao dada o estado desejado E pode ser produzida apenas através da açao A.
Açao: P procura executar A.
O silogismo prático necessita, portanto, recorrer a uma lei ou, na terminologia de Weber, a uma regra, a fim de que se possa deduzir do explanandum a explicaçao da açao33. Trata-se de um erro quando George Henrik von Wright, com seu argumento da conexao lógica, crê que nao há necessidade de recorrer a qualquer lei para explicar o sentido da açao e que basta deduzir lógicamente tal sentido a partir das intençoes e opinioes dos próprios atores34. As intençoes ou planos formulados pelos atores sao apenas as condiçoes de partida, mas para que elas possam ser realmente explicadas, precisamos relacioná-las com regras gerais. Os tipos weberianos de açao sao, em sua essência, regras ou leis desse tipo, pois eles postulam uma conexao lógica entre razoes e comportamentos (WuG: 5). Pela ótica da comprovaçao empírica, a tipologia da açao deve ser compreendia de forma probabilística (WuG: 5.f). No entanto, o principio "razoes como causas" vale de modo estrito apenas para os dois tipos de açao racionais de Weber, ou seja, para os tipos racionais em relaçao a fins ou valores. É apenas em relaçao a estes dois tipos que a compreensao explicativa é inteiramente possível. Em relaçao aos outros dois tipos - tradicional e afetivo - é necessário efetuar algumas reduçoes. Além disso, é importante acrescentar que a explicaçao das açoes racionais necessita considera muito mais do que apenas a relaçao entre razao e comportamento: tais explicaçoes precisam incluir também os correspondentes processos de ponderaçao e seleçao de razoes. Nesse sentido, a teoria da escolha racional poderia ser integrada no conjunto do paradigma weberiano, mas, outras modalidades de açao, especialmente aquelas que contenham componentes valorativos, também precisam ser desenvolvidas.
Açâo e reduçâo
Segundo Weber, a açao é um comportamento significativo resultante de razoes de caráter subjetivo. Ela se contrapoe a um comportamento reativo que nao está motivado por razoes significativas (WuG: 1 ss.). Desta forma, fica implícito que conteúdos mentais (espirituais) podem influenciar processos corporais (físicos): minha vontade de ter um quarto aquecido e minha crença de que apenas pequenos pedaços de lenha podem ser queimados em meu fogao influenciam causalmente meu comportamento corporal de cortar lenha. Conforme a teoria da emergência, estados mentais (de individuos físicos) sao fenómenos emergentes e quando eles influenciam seus portadores físicos (causaçao descendente ou macrodeterminaçao) estamos lidando como propriedades emergentes fortes. Portanto, uma teoria da açao pensada no sentido de Max Weber, inclusive a teoria da escolha racional, parece implicar como pressuposto necessário uma concepçao forte de emergência, incluindo a macrodeterminaçao (BRÜNTRUP, 2001, p. 19 ss). Quem aceita este pressuposto, nao tem mais como sustentar uma teoria de tipo reducionista.
Na verdade, quem assume posiçao em favor do individualismo metodológico moderado é obrigado a adotar uma posiçao contraditória, adotando a tese da emergência forte no que diz respeito a relaçao entre o físico e o psíquico e a tese da emergência fraca no que diz respeito a relaçao entre o psíquico e o social. Tal posiçao requer uma justificaçao adequada. Para sustentar tal posiçao, o programa geral do reducionismo nao pode ajudar como, aliás, reconhece, de forma velada, Hatmut Esser (2000, p. 12 ss.)35.
Caso classificássemos a teoría de Harmut Esser no campo do individualismo metodológico moderado, teríamos que levar sua teoria da açao até as últimas consequências. Isso significaria que a causalidade mental aí implicada (razoes como causas) exclui a possibilidade de uma reduçao do psíquico a suas bases neurofisiológicas. O programa de um reducionismo abrangente, como o qual Esser claramente namora, acabaria inviabilizado. Somente o individualismo metodológico radical pode se comprometer integralmente com o reducionismo. Ele nao admite nenhum fenómeno emergente, apenas a relaçâo micro-macro explicada por meio de regras de transformaçao de caráter analítico. O caráter analítico dessas regras de transformaçao indica que aqui existe identidade entre fenômenos macro e micro e que um pode ser traduzido no outro. Isso também significa que sua teoria da açao nao assume caráter ontológico. A equiparaçao entre estados mentais com fenómenos físicos acabaria por eliminar o caráter vivencialmente subjetivo de tais estados: nesse caso passamos a utilizar o vocabulário mentalista, mas sem ligá-lo ao seu significado próprio. Na prática, isso também significa a reduçao do caráter psicológico da açao a uma teoria fisicalista (neurofisiológica etc.). Uma versao aceitável desse modelo só seria possível caso a teoria sociológica da açao adotasse pressupostos fisicalistas ou neurofisiológicos. Uma sociologia com base na teoria da açao nada mais seria do que um episódio esquecido do progresso geral da ciência. Mas, este nao é o caso no holismo metodológico moderado, no qual, ao contrário, a fundamentaçao da sociologia na teoria da açao constitui uma exigência incontornável.
Em relaçao as perspectivas individualistas, podemos escolher, fundamentalmente, entre très posiçoes36. Em primeiro lugar, um individualismo metodológico radical que utiliza o vocabulário mentalista de forma vazia, já que ele almeja sua ampla reduçao ao físico (e deve desejá-lo caso queria ser convincente). Em segundo lugar, o individualismo metodológico moderado, que interpreta a açao como um fenómeno emergente forte, mas que nega veementemente a existência de fenómenos sociais emergentes fortes no nivel macrossocial. E, em terceiro lugar, o holismo metodológico moderado, que interpreta a açao e as instituiçoes como fenómenos emergentes fortes, ou seja, capazes de macrodeterminaçao37. As duas posiçoes mais coerentes sao, à primeira vista, o individualismo metodológico radical e o holismo metodológico moderado38. Mas, entre essas duas, somente o holimo metodológico moderado é uma posiçao capaz de preservar tanto o caráter subjetivo-vivencial dos estados mentais ou psíquicos, quanto o aspecto voluntarista do agir.
Conclusao
O holismo metodológico moderado segue o modelo macro-micro-macro de explicaçao sociológica, ainda que o faça de modo diferente do individualismo metodológico. Ele nao reconhece leis causais no nivel macro, embora admita a existência de efeitos causais fortes que sao derivados de fenómenos de tipo emergente, tais como normas, instituiçoes ou ordens legítimas, sobre os atores. Isso tem como implicaçao um antirreducionismo de principio: a existência de efeitos causais do nível macro sobre o nível micro exclui a possibilidade de reduzir a própria relaçao macro-micro à leis no ámbito micro, ou seja, a padroes nomológicos de açao. A real existência da macrodeterminaçao nao pode ser reduzida a uma teoria que, obviamente, só conhece a microdeterminaçao. Por esse motivo, o holismo metodológico moderado é, em oposiçao ao individualismo radical e ao moderado, antirreducionista, e isso no que tange aos dois niveis de análise: o macrossocial (nivel da estrutura) e o microssocial (nivel da açao). No entanto, ele é antirreducionista apenas no que diz respeito aos fenômenos emergentes fortes, pois quanto aos fenômenos emergentes fracos e aos caracteres macrofenomênicos deles resultantes, continua valendo, evidentemente, a explicaçao redutiva.
O holismo metodológico moderado distingue-se do individualismo metodológico por assumir a existência de entidades sociais emergentes fortes que exercem macrodeterminaçao. Trata-se de um pressuposto ontológico. Já a caracteristica distintiva em relaçao ao holismo metodológico radical é de ordem metodológica: o holismo metodológico moderado segue o modelo macro-micro-macro de explicaçao e nao se orienta pela busca de leis macrossociológicas. Existem diversos motivos para isso: aceito o pressuposto de que existem fenômenos emergentes simultaneamente fracos e fortes, bem como fenómenos macrossociais deles resultantes, nao há como nao seguir o modelo de explicaçao macro-micro-macro. Mesmo que fenómenos emergentes fortes pudessem ser modelados conceitualmente no nivel macro, o fato é que fenómenos emergentes fracos e seus resultantes nao nos permitem fazer isso. Nesse caso, a explicaçao necessita reportar-se, corretamente, ao nivel micro.
Um argumento adicional em prol do modelo macro-micro-macro resulta do pressuposto de que, em diversos tipos de processos sociais, lidamos com o incremento ou recrudescimento de fenómenos emergentes. Expressando-nos teoricamente nos termos do institucionalismo (institucionalizaçao ou des-institucionalizaçao): no caso da formaçao de instituiçoes, pode ser que tenhamos que partir da descriçao realista dos atores e de suas configuraçoes específicas para entender os processos emergentes daí resultantes. Isso significa que a entidade correspondente, que um teórico holista tenderia a explicar em termos puramente macro, surge apenas a partir da configuraçao de posiçoes individuais de um conjunto de atores. Um exemplo é a formaçao de um movimento carismático e a sua posterior institucionalizaçao (LEPSIUS, 2003). A crítica ao caráter reificador da macrossociologia pode ser interpretada como incapacidade de compreender a dinámica própria de processos sociais emergentes. Precisamos entender o fato de que o mundo social é, em diversos aspectos, muito mais fluido do que solidamente estruturado e, por essa razao, deve ser compreendido tendencialmente como processual.
Por fim, cabe-nos adicionar ainda mais dois argumentos em prol do modelo macro-micro-macro e contra qualquer tipo de sociologia puramente macroestrutural. O primeiro é a existência de fenômenos que se concretizam de forma múltipla, pois se, por um lado, eles sao um indicador de causalidade no nível macro, por outro, eles excluem a possibilidade de um holismo metodológico radical. De todo modo, em nome do pluralismo teórico, nao deixa de ser metodologicamente útil que tenhamos representantes de uma macrossociologia pura. Eles nos fornecem importantes estímulos heurísticos que, nos marcos do modelo macro-micro-macro, nos permite verificar empiricamente se, de fato, estamos diante de fenómenos de concretizaçao múltipla. Caso sua existência seja constatada, cabe ao holismo metodológico complementar e nao simplesmente suprimir tal perspectiva macrossociológica, pois em se tratando dos efeitos causais do nivel macro, temos que partir da macrodeterminaçao, ou seja, da influência de fenômenos macroemergentes fortes no plano dos atores sociais. Procedendo-se assim, o modelo macro-micro-macro permanece intacto e pode ser visto como complementar ao modelo explicativo da macrossociologia. Além disso, ele representa um ganho em relaçao à sociologia macroestrutural, pois, como Weber já tinha afirmado, somente esse modelo permite a compreensao do sentido das açoes.
1 Traduçao de Carlos Eduardo Sell.
3A distinçao que Michael Schmid (1996, p. 63 e SS.) faz entre uma versao mais e outra menos radical do individualismo metodológico converge com minha diferenciaçao entre uma versao radical e outra moderada.
4O mesmo procedimento, mas com conclusoes completamente diversas, é adotado por Bettina Heinz (2004).
5Limitar-me-ei apenas a distinçao entre emergência forte e fraca, deixando outras possibilidades de lado.
6O que eu faço é combinar o conceito de emergência em sua forma usual, tal como ele foi explicitado por Stephan, com os conceitos de explicaçao forte ou fraca que foram elaboradas por Robert Commins (1985) e que ganharam sua atual denominaçao com Beckermann (1996). Mas, tais explicaçoes têm um caráter mereológico e nao causal. Trata-se, pois, da relaçao entre a parte e o todo.
7Explicaçoes fortes ou fracas desse tipo tem um caráter mereológico, mas nao causal. Trata-se da ordenaçao de partes que compoem uma totalidade (BALOG, 1993).
8 Leis que, sem exceçao, valem para todos os microcomponentes de um sistema, sao chamadas por Cummins de atributos nomológicos (CUMMINS, 1985, p. 18).
9 A primeira condiçao de reduzibilidade aduzida por Achim Stephan nao me parece aplicável ao caso da sociologia. Ela é apenas um argumento especial para o problema dos qualia na filosofia da psicologia (STEPHAN, 2002, p. 131.).
10 Podem existir também fenómenos emergentes que sao apenas epifenómenos, ou seja, que nao exercem poder causal. Nao trataremos disso aqui, mas no caso da correçao dessas condiçoes de reduzibilidade, nao se tratam de epifenómenos.
11Godehard Brüntrüp nos fornece um interessante argumento contra o pressuposto da epifenomenalidade: "a existência de tais epifenômenos seria um misterio já que eles nao exercem qualquer efeito e, por isso, nao há qualquer motivo evolutivo para seu surgimento e evoluçao. E mais: se eles nao possuem qualquer efeito retroativo sobre o mundo entao há que se perguntar como poderíamos conhecê-los, já que eles simplesmente nao deixam pistas"
12 Para a revisao do problema holismo e individualismo em perspectiva individualista, veja-se Vanberg (1975) e Bohnen (2000).
13 As regras de transformaçao institucional nao possuem caráter analítico (ESSER, 2002, p. 22). No entanto, em outros momentos ele defende uma posiçao distinta quanto às regras e condiçoes. As condiçoes de transformaçao sao chamadas de condiçoes de partida (ESSER, 2000, p. 17), ainda que elas se pareçam, praticamente, com as leis ou, pelo menos, regularidades quase nomológicas. Enfim, suas asserçoes quanto a esse problema me parecem ser contraditórias.
14 Nesse caso, pode-se falar de resultantes ou de características herdadas: "características resultantes resultam diretamente das mesmas características das partes e, portanto, delas podem ser deduzidas" (HOYNINQEN-HUENE, 1994, p. 183). As regras de transformaçao de agregados coletivos (bem como as definiçoes parciais) enunciadas por Esser me parecem ter como objetivo servir como uma descriçao de resultantes desse tipo. Quem está convencido da existencia de fenómenos emergentes fortes rejeita esse procedimento de definiçoes parciais como desnecessário e equívoco. Elas nao sao mais do que definiçoes arbitrárias de características existentes no nível da totalidade mesma.
15 Concordo com Michael Schmid quando ele sustenta que o argumento ontológico é incompatível com o individualismo metodológico radical. Consequentemente, ele defende uma posiçao antirreducionista com componentes emergentes. No entanto, nao se trata de uma posiçao idéntica na medida em que, ao estilo da escolha racional, compreende as influéncias macrossociais como estímulos (SCHMID, 1996, p. 75 e 80).
16 Veja-se também a apropriaçao que Adam Przeworski faz dessa dissoluçao dos efeitos contextuais no nível individual.
17 Essa teoria da açao nao precisa, obviamente, ser apenas de tipo mentalista, mas pode também adotar fundamentos neurofisiológicos, como ocorre no caso das teorias comportamentalistas. Dessa forma, um programa de pesquisa radi-calmente reducionista alcança pretensöes unificadoras.
18A anáíise dos microfundamentos desse novo institucionalismo sociológico é feita por Lynne Zuzker (1991). No caso de Blau, veja-se Blau (1978).
19Ninguém sabe exatamente o que qualifica certas proposiçoes como nomológicas Esses, como, aliás, muitos outros temas da filosofia da ciencia, sao apenas argumentos de plausibilidade.
20 A teoria da escolha racional só reconhece um tipo de proposiçao dessa natureza, dito de modo geral, o ator que ma-ximiza seus interesses.
21 Um holismo metodológico moderado de feiçao weberiana, como aqui defendemos, tem que se confrontar com esse argumento.
22 O que significa que já nao se trata mais de um modelo explicativo (macro-micro-macro), mas de uma sequência explicativa triádica.
23 Custos e utilidades, por exemplo, sao considerados pela TER como estímulos positivos ou negativos (veja-se OPP, 2004, p. 45).
24Mesmo a tentativa de Hartmut Esser em integrar os tipos weberianos de açao em uma teoria de tipo de universal reconhece apenas uma característica categorial dos atores.
25 Esse exemplo tem o defeito de sugerir que tais regras sao mecanismos explicativos fortes, mas nao devemos confundir exigencias legais com processos sociológicos.
26 Argumentaçao similar encontra-se em Kappelhoff (1997).
27A introduçao de novos níveis de análise nao altera em nada as características de nosso modelo. Da mesma forma, nao há nenhuma necessidade que as explicaçoes do nível macro pelo nível micro recorram sempre aos atores individuais, pois também podemos recorrer aos atores coletivos, como mostram Schluchter (2003, p. 60) e Coleman (1991, p. 3-6).
28Nao temos como esclarecer todos os problemas conexos com o tema dos tipos ideáis. No entanto, cabe acrescentar que ele constitui um instrumento para a atribuiçao de fatores causais de fontes distintas.
29 Agradeço a Alfred Bohnen ter me chamado a atençao para a coexistência dessas leis. O tipo carismático de domina-çao contém elementos dinámicos que resultam de sua institucionalizaçao e objetivaçao. Trata-se do chamado "problema da transformaçao do carisma (SCHLUCHTER, 1991).
30 Wolfgang Schluchter (1996, p.120) destaca que Weber reconhece fenómenos emergentes fortes, embora nao deixe claro se se tratam de fenómenos emergentes fortes ou fracos.
31Relembrando que nao se trata de nenhum determinismo, apenas de influencias causais.
32 Hartmut Esser (1999) e Schmidt (1996) defendem uma posiçao similar. Por essa razao, Rosenberg (1988) classifica Weber no campo do naturalismo.
33 Esse argumento nos permite responder as críticas de Michael Schmid (2004, p. 551).
34 Contra esse erro de Whrigt (1977, p. 138) defendemos que essa conexao lógica é de tipo a-prioristico, ou seja, de caráter epistemológico.
35Uma tentativa similar de produzir uma teoria unificada da ciência através do principio da reduçao pode ser encontrado em Feigl (1953).
36Poderíamos também incluir posiçoes intermediárias, como a que sustenta a emergência forte em relaçao a açao e a tese da identidade no que diz respeito a relaçao micro-macro. Resta saber se elas sao coerentes.
37 O holismo metodológico moderado nao deixa de admitir fenómenos emergentes fracos no nivel macro. É o caso, por exemplo, das classes sociais. Podemos pensar também em certos comportamentos que, em relaçao à açao, possuem propriedades emergentes fracas.
38 Quem admite a existência de fenómenos emergentes fortes, caso do individualismo metodológico moderado, precisa admitir ainda uma série de postulados que nao deixam de ser holistas, o que nao deixa de ser uma contradiçao.
Referencias
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Gert Albert2
2 Doutor e Livre Docente em Sociología pela Universidade de Heidelberg e professor da Universidade das Forças Ar-madas (Munique). Coordenador da coleçao "Estudos para um paradigma weberiano da VS Editora de Wiesbaden (Alemanha).
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