RESUMO
O objetivo desta pesquisa foi mapear e discutir os conteúdos técnicos e tácticos (ofensivos e defensivos) do escalao sub12 no andebol, a partir dos discursos de treinadores expedentes. Fizeram parte da amostra seis treinadores, cujos depoimentos foram tabulados e analisados de acordo com o método do Discurso do Sujeito Coletivo. Os resultados apontaram que, em relaçao aos conteúdos defensivos, é importante desenvolver o sistema individual, os diferentes elementos técnico-tácticos e apresentar os sistemas zonais. Em relaçao aos conteúdos ofensivos salienta-se a necessidade de diferentes opçoes estratégico-táticas diante dos sistemas defensivos individuais e zonais, sendo notados também treinadores que valorizam a execuçao do gesto técnico eficiente e outros que possuem maior preocupaçao com a compreensao do jogo e com as vivencias múltiplas. Fica evidente, a partir da discussao dos resultados e da literatura consultada, a preocupaçao com o desenvolvimento das capacidades de jogo (como perceçâo, atençâo, antecipaçao e tomada de decisao) a partir de vivencias diversificadas, que permitam aos jogadores experimentar diferentes posiçoes de jogo, sem visar a especializaçao precoce.
Palavras-chave: Pedagogia do Desporto, Jogos Desportivos Coletivos, Andebol.
ABSTRACT
The aim of this work was to map and discuss the technical and tactical contents (offensive and defensive) of the handball under-12 teams, with speeches from expert coaches. The sample consisted of six coaches, whose interviews were tabulated and analyzed based on Collective Subject Discourse method. The results of defensive contents showed that is important the development of the individual system, the different technical and tactical elements and to teach some zonal systems. On the offensive content emphasizes argue the need of different tactical-strategic options facing the individual and zonal defensive systems, and also noted that some coaches value the efficient execution of technical movements and others that are more concerned with players game comprehension and the multiple experiences of them. Is evident, based on discussion of the results and the literature consulted, the concern with the development of the gaming skills (such as perception, attention, anticipation and decision making) from diversified experiences, allowing players to experience different playing positions without targeting early specialization.
Keywords: Sport Pedagogy, Team Sports, Handball.
INTRODUÇÂO
O andebol se caracteriza como um jogo desportivo coletivo (JDC) de invasăo, no qual duas equipas ocupam espaços comuns da quadra, com disputa constante pela posse da bola. Assim como os demais JDC, o andebol apresenta um cenário técnico-tático complexo e imprevisível, influenciado pelos comportamentos técnicotáticos dos jogadores (Garganta, 1998; Menezes, 2012; Ribeiro, & Volossovitch, 2008; Sousa, Prudente, Sequeira, & Hernandez Mendo, 2014).
A compreensăo do cenário técnico-tático do andebol, em sua forma complexa e dinámica, é decorrente de um processo iniciado quando o jogador tem o seu primeiro contacto com diferentes jogos e, a partir de entăo, vai se familiarizando com a pluralidade de eventos que os compoe. Os diferentes aspetos que constituem o andebol se originam, inicialmente, das relaçoes de cooperaçao e de oposiçao (Garganta, 1998), que demandam diferentes tipos de comunicaçao entre os jogadores, de modo que consigam desenvolver suas açoes de forma contextualizada e que tragam vantagens a sua equipa. Baseandose nas constantes alteraçoes entre essas relaçoes que, em sua maioria, sao de caráter imprevisível, a complexidade desse ambiente pode ser maior ou menor.
Ao longo do processo de ensinoaprendizagem-treinamento (EAT) do andebol, os jogadores terao contacto com os diferentes elementos que compoem a modalidade, tais como os gestos técnicos (fundamentos), os elementos técnico-táticos (ofensivos e defensivos) e os sistemas de jogo (ofensivos e defensivos). Os aspetos que envolvem as táticas podem ser classificados em: a) individual (referente a um jogador); b) grupal (quando envolve dois jogadores); e c) coletivos (quando envolve tres ou mais jogadores) (Greco, Silva, & Greco, 2012). Espera-se que no escalao de Infantis o processo de EAT possibilite o contacto dos jogadores com o jogo e seus componentes de forma ampla e nao especializada (Antón García, 1990; Menezes, 2011).
Ao considerarmos o escalao de Infantis (ou sub12, composta por jogadores com 11 e 12 anos de idade) como aquela na qual se iniciam diversas sistematizaçoes (Antón García, 1990), os regulamentos dos festivais/competiçoes das diferentes entidades ligadas ao andebol (como a Confederaçao Brasileira de Handebol - CBHb; a Federaçao Paulista de Handebol - FPH; a Liga de Handebol do Estado de Sao Paulo - LHESP; e a Liga Paulistana de Handebol - LPHb) sugerem características norteadoras para o processo de EAT. A principal dessas se refere a obrigatoriedade ou opçao pela marcaçao individual na primeira metade de cada tempo de jogo, podendo ser mantida pelo restante do tempo ou modificada para marcaçao zonal. Nos sistemas defensivos individuais, cada defensor é responsável directamente pelo seu oponente (com ou sem a posse da bola), enquanto nos sistemas zonais os defensores sao responsáveis por regioes específicas da quadra (Antón García, 2002; Menezes, 2011) e se orientam nao somente em relaçao aos adversários, mas também em funçao da localizaçao da bola (Bayer, 1994).
Ehret, Späte, Schubert, e Roth (2002) apontam o bom domínio da marcaçao individual como um pré-requisito para os demais sistemas, sendo o sistema individual o primeiro a ser apresentado aos jovens jogadores. Aspetos como a noçao do espaço da quadra, das mudanças de direçao, ritmo e velocidade dos deslocamentos sao enfatizados nos sistemas defensivos individuais e se constituem como a base para os sistemas zonais.
A categoria sub12, chamada de etapa de formaçao básica (Ehret, Späte, Schubert, & Roth, 2002), pode ser considerada como o primeiro contacto dos jogadores com o ambiente competitivo (Menezes, Sousa, & Braga, 2011), para o qual é imprescindível a vivencia diversificada dos diferentes elementos técnicos e tácitos do andebol (Antón García, 1990). Há, ainda, a preocupaçao com as práticas que podem levar a um processo de especializaçao precoce, como a forma pela qual os treinadores abordam os conteúdos, a cobrança por resultados, os valores atribuídos a competiçao (Menezes, Marques, & Nunomura, 2014) e o desenvolvimento dos diversos aspetos motores com práticas multiformes em íntima relaçao com o jogo, e nao de forma repetitiva e padronizada (Antón García, 1990).
Salienta-se, aínda, que o técnico desempenha um papel de extrema complexidade nos desportos, no qual destacamos a gestao dos conteúdos a serem ministrados e os procedimentos pedagógicos adotados. A complexidade da funçao do treinador também pode ser verificada pela necessidade de aquisiçao de conhecimentos específicos ou mesmo pela sua característica de liderança (Werthner & Trudel, 2006).
Entendemos que o acesso as informaçoes provenientes dos treinadores permite acessar parámetros que nao sao explícitos, por vezes, no comportamento técnico e estratégico-tático das equipas (Menezes, 2011; Nunomura, Carrara, & Carbinatto, 2010; Santana, 2008). Parte-se, portanto, da problemática relacionada a compreensao da forma pela qual o treinador identifica os aspetos técnicos e estratégico-táticos relevantes nas fases ofensiva e defensiva do andebol, em específico na categoria sub12, que sao balizadores para o gerenciamento do processo de EAT. O acesso a essas informaçoes pode revelar aspetos pedagógicos do andebol relevantes para o gerenciamento do processo de EAT na categoria sub12, referentes a mútua influencia entre as variáveis ofensivas e defensivas.
Com o objetivo de apontar as conceçoes de cinco treinadores de futsal sobre os comportamentos estratégico-táticos que consideram mais eficazes para cada fase do jogo, Santana (2008) apontou a alta especificidade que o ensino do futsal demanda e que a intervençao desses treinadores é direcionada as situaçoes particulares do jogo, de forma especializada.
Menezes (2011) entrevistou quatro treinadores de andebol de equipas adultas femininas, com o objetivo de mapear as variáveis técnico-táticas mais relevantes do jogo. O autor apontou diferentes elementos técnico-táticos relevantes, cujas execuçoes sao dependentes das situaçoes apresentadas no jogo (como os diferentes sistemas defensivos ou ofensivos), permitindo apontar a compreensao do jogo como um todo, e nao apenas a partir das açoes isoladas dos jogadores.
Diante dessa perspetiva, se aponta como problemas inerentes a categoria sub12 a necessidade de identificar os conteúdos ofensivos e defensivos relevantes para a formaçao ampla e diversificada dos jogadores, assim como a articulaçao entre esses no cenário do jogo. Desta forma, o objetivo desta pesquisa se constituiu em mapear e discutir os conteúdos técnicos e táticos, ofensivos e defensivos no andebol, relevantes para o jogo da categoria sub12, a partir dos discursos de treinadores experientes.
MÉTODO
A opçao pelo caráter qualitativo desta pesquisa se justifica: a) pela enfase aos elementos da experiencia humana; b) pela natureza descritiva dos dados; c) pelo contexto no qual se manifesta o conhecimento dos indivíduos; d) pela atençao do pesquisador com os significados atribuidos aos processos (e nao produtos); e e) pela análise indutiva dos dados (Triviños, 1987).
Participantes
Foram entrevistados seis treinadores de andebol, de equipas femininas, experientes (S1 a S6), com tempo médio de experiencia professional de 18 ± 5.9 anos, com tempo médio de atuaçao nas categorias de formaçao no andebol de 15.3 ± 4.8 anos e com tempo médio dedicado a atuaçao na categoria sub12 de 4.2 ± 2 anos, todos com formaçao superior em Educaçao Física, com resultados expressivos (tres primeiras colocaçoes na primeira e segunda divisoes nos Jogos Abertos do Interior do Estado de Sao Paulo, competiçao esta que envolve as principais equipas do estado de Sao Paulo e conta com a participaçao de outras contratadas de diversos estados do país) e vivencias em todas as etapas de formaçao (dos escaldes de formaçao ao desporto adulto). Ressalta-se aqui o destaque das equipas do Estado de Sao Paulo no cenário do andebol brasileiro. Das 20 ediçoes da Liga Nacional de clubes, alcançaram a primeira colocaçao em 15 dessas e o vice-campeonato em 8 ediçoes. O Estado de Sao Paulo possui, portanto, hegemonia no cenário do andebol brasileiro.
Em relaçao a formaçao dos treinadores, todos sao graduados em Educaçao Física há uma média de 17.5 ± 9.1 anos, sendo que tres concluíram curso de p0s-graduaçao e um possuía curso de pos-graduaçao incompleto a época. Todos os entrevistados foram ex-atletas de andebol.
Os treinadores assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido previamente aprovado por um Comite de Ética em Pesquisa (CEP) institucional, assegurando o sigilo de seus dados pessoais e do uso exclusivo dos depoimentos para fins académicos.
Instrumentos
Para acessar as informaçöes sobre as variáveis ofensivas e defensivas relevantes na categoria sub12 do andebol foi elaborado um instrumento de entrevista semiestruturada. A justificativa para a escolha de uma pesquisa com caráter qualitativo é apoiada na investigaçao do pensamento de uma comunidade em relaçao a um dado tema, pela possibilidade de o entrevistado discorrer sobre o assunto (Lefevre & Lefevre, 2003, 2012), para a compreensao da interaçao e das particularidades de diferentes comportamentos e pelos processos dinámicos vividos por grupos sociais (Richardson, 1999). Tais pensamentos, só podem ser acessados por meio da pesquisa qualitativa (Lefevre & Lefevre, 2003, 2012; Santana, 2008), cuja preocupaçao reside na análise e interpretaçao de aspetos profundos a partir da complexidade do comportamento humano (Marconi & Lakatos, 2011).
A partir dessa perspetiva, as questôes norteadoras desta pesquisa fazem parte de um instrumento maior de entrevista semiestruturada, e foram assim constituidas: "O que seus jogadores devem saber fazer individualmente e coletivamente para que o ataque seja eficaz na categoria sub12?"; e "O que seus jogadores devem saber fazer individualmente e coletivamente para que a defesa seja eficaz na categoria sub12?". As entrevistas foram transcritas na íntegra.
Procedimentos
Após a definiçao dos critérios de inclusao da amostra os procedimentos adotados, em ordem cronológica (Santana, 2008; Menezes, 2011), foram: 1) primeiro contacto com o treinador via e-mail ou telefone para a apresentaçao do pesquisador e do objectivo da pesquisa; 2) após a concordáncia na participaçao foi agendado o horário e o local da entrevista, de maneira que nao concorresse com suas atividades profissionais; 3) entrevista com gravaçao na íntegra; 4) transcriçao da entrevista, iniciada no mesmo dia da realizaçao.
Para selecionar os locais das entrevistas foram preconizados ambiente distantes de ruidos, enfatizando a atençao exclusiva a relaçao entrevistado-entrevistador e a aquisiçao do áudio (gravado na íntegra e arquivado em dispositivo de MP3).
Após a transcriçao os dados foram tabulados e analisados pelo método do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC), no qual é possível identificar e reconstruir as ideias semelhantes a partir de um conjunto de discursos individuais, no qual cada DSC reúne e articula os diferentes argumentos de uma determinada opiniao (Lefevre & Lefevre, 2003, 2012; Santana, 2008).
O Discurso do Sujeito Coletivo permite preservar o discurso do pensamento coletivo, sendo constituído por tres figuras metodológicas: a) as expressôes-chave (ECH), que sao trechos literais contínuos ou descontínuos do discurso que devem ser selecionados por revelarem a essencia desse); b) as ideias centrais (IC), que revelam e sintetizam o sentido de cada conjunto de ECH); c) e o próprio Discurso do Sujeito Coletivo (DSC), discurso-síntese que expressa a referencia coletiva do discurso, redigido na primeira pessoa do singular, a partir das ECH que possuem a mesma IC) (Lefevre & Lefevre, 2003, 2012; Menezes, 2011).
Serao apresentados nesta pesquisa as IC e os DSC extraídos das ECH do discurso de cada treinador. Em cada DSC apresentado estao indicados, de forma sobrescrita, os indivíduos aos quais cada trecho se remete.
RESULTADOS
Na tabela 1 estao apresentadas as quatro ideias centrais (IC-1, IC-2, IC-3, IC-4) referentes ao jogo defensivo e os respetivos discursos do sujeito coletivo (DSC1, DSC2, DSC3, DSC4) elaborados a partir do conjunto de ECH referentes a cada IC.
Na tabela 2 estâo apresentadas as quatro ideias centrais (IC-5, IC-6, IC-7, IC-8) referentes ao jogo ofensivo e os respetivos discursos do sujeito coletivo (DSC5, DSC6, DSC7, DSC8) elaborados a partir do conjunto de ECH referentes a cada IC.
DISCUSSÄO
Antes de apresentar a discussâo dos resultados cabe-nos informar que, pelo facto de todos os treinadores serem de equipas femininas, nâo houve mençâo a aspetos como a maturaçâo e as diferenças referentes as fases de desenvolvimento, quando comparados com equipas masculinas.
Variáveis defensivas
A enfase dada por todos os treinadores entrevistados na marcaçâo individual pode estar relacionada a aspetos como as questoes regulamentares da categoria sub12, além de se justificarem como um pré-requisito para o desenvolvimento do processo de EAT dos sistemas defensivos zonais, evidenciado pelo DSC1 e abordado por diferentes autores (Antón García, 1990; Ehret et al., 2002; Greco et al., 2012; Menezes et al., 2011). Os sistemas individuais sâo citados em sua pluralidade, partindo da situaçâo de quadra inteira, passando pela marcaçâo em meia quadra até abranger regioes próximas a área defensiva, assim como apontado por Ehret et al. (2002), o que parece congruente com a ideia de formaçâo do jogador em relaçâo as condicionantes espaciais e a apreciaçâo das trajetórias (Antón García, 1990). Essa lógica de aproximaçâo progressiva ao espaço no qual será desenvolvido o jogo posicional corrobora a ideia proposta por Hopper (2002), de que a compreensâo de elementos táticos é uma tarefa complexa para os jogadores, sendo que o contacto inicial deva ser feito mediante baixa exigencia de desempenho.
As énfases na noçâo espacial da quadra de jogo e nos diferentes aspetos que constituem os deslocamentos dos jogadores (como as direçoes, as velocidades e suas respetivas variaçoes) apontam a permanente luta pela posse da bola e a tentativa de impedir que os atacantes avancem, principios estes considerados como imprescindiveis para o éxito defensivo (Bayer, 1994; Gréhaigne & Godbout, 1995). As variaçoes supracitadas dos sistemas individuais contemplam, de forma direta e contextualizada, as subsequentes adaptaçoes dos defensores ao espaço de jogo, partindo das relaçoes mais individualizadas (em quadra inteira) para situaçoes em meia quadra, nas quais já podem emergir outros elementos táticos individuais, grupais e coletivos mais complexos (como a cobertura e a troca de marcaçao). O desenvolvimento desses elementos depende do bom dominio dos deslocamentos e das relaçoes de marcaçao, no entanto os sistemas individuais se constituem como os primeiros sistemas a serem ensinados.
Para Garganta (1998) algumas unidades funcionais relacionadas a estruturaçao do espaço sao importantes para nortear os principios de açao dos defensores, tais como: a supressao do espaço e a ocupaçao de forma equilibrada das diferentes regioes da quadra. Corroborando os preceitos do autor supracitado, o DSC1 e o DSC2 abordam ambos os principios quando enfatizam a marcaçao individual e a zonal (respetivamente), pois em ambas se deve dificultar o acesso dos atacantes as regioes de maior eñcácia, porém a ocupaçao espacial é condicionada a distribuiçao dos atacantes, principalmente na marcaçao individual. Outro especto a ser destacado é a mençao, no DSC1, a vivencia dos jogadores no basquetebol, que possui estrutura funcional semelhante ao andebol, tal como a marcaçao individual. Tal vivencia se apresenta de maneira importante, principalmente pelo facto de ambos possuírem situaçoes-problema semelhantes que podem ser passiveis de transfer (Bayer, 1994). Em especifico ao andebol Castro, Giglio, e Montagner (2008) apresentaram uma proposta de ensino para crianças de 9 a 12 anos a partir de jogos, enfatizando as possibilidades de transferencia de diferentes elementos táticos para outros esportes.
A eficacia dos sistemas zonais tem como prérequisito a marcaçao individual, que apresenta aos defensores diferentes possibilidades de marcaçao (do atacante com bola, sem bola, em proximidade, a distancia) e, assim, permite a abordagem de sistemas como o 1:5, o 3:3, o 3:2:1, o 4:2 e o 5:1, conforme apontado no DSC2. Corroboramos esta posiçao assim como alguns autores (Ehret et al., 2002; Greco et al., 2012; Menezes et al., 2011). Um avanço em relaçao a este tema é a sugestao do S1, no DSC2, em relaçao a oferta dos diferentes sistemas de forma distribuida em blocos didáticos (quinzenalmente).
A eficacia defensiva depende, aínda, do desenvolvimento dos elementos táticos defensivos, cuja proposta inicial é centrada na compreensao, pelos defensores, das implicaçoes da relaçao de proximidade demandada pelos sistemas individuais com seu respetivo atacante, além de prestar atençao no seu respetivo marcador e olhar a bola, que também se constitui como uma base dos sistemas zonais (respetivamente no DSC1 e no DSC2). A noçao dos aspetos inerentes as possibilidades de marcaçao, ou as diferentes relaçoes entre defensor e seu marcador direto (que configuram uma relaçao de oposiçao 1x1), sao apresentadas como uma prioridade quando comparadas as questoes de natureza grupal ou coletiva.
Os treinadores consideram de forma unánime neste escalao que o defensor deva aprender a marcaçao em diferentes espaços da quadra de jogo, e que a conduta para com o seu marcador direto esteja atrelada ao espaço da quadra (como a distancia em relaçao a baliza), a posse ou nao da bola e a direçao da trajetória do atacante, assim como sugerido por Ehret et al. (2002) e Greco, Silva, e Greco (2012). Está implícito, nesse discurso, que além da necessidade do desenvolvimento da marcaçao e da noçao espacial, ocorra paralelamente o desenvolvimento das capacidades de perceçao, atençao, antecipaçao e tomada de decisao (Matias & Greco, 2010), que fomentam a capacidade de atingir bons níveis de jogo. Desse modo, a formaçao dos defensores perpassa por caracteristicas que permitam que esses interpretem o jogo e que realizem açoes básicas com nivel aceitável e com iniciativa (García Herrero, 2004). Em investigaçao sobre a aplicaçao de jogos situacionais para avaliaçao do conhecimento tático de jogadores de andebol de 10 a 12 anos (com experiencia prévia apenas em ambiente escolar), Pinho, Alves, Greco, e Schild (2010) apontaram que, para a amostra estudada, o ensino pautado em situaçoes do jogo foi eficaz para incrementar o conhecimento tático dos jogadores. Tal estudo corrobora a importáncia das vivencias variadas pelos jogadores e do desenvolvimento das capacidades citadas anteriormente.
Diante das possibilidades dos atacantes e das respetivas ocupaçoes espaciais os treinadores consideram a marcaçao como um importante aspeto na categoria sub12. Salienta-se que esta é influenciada por fatores da dinámica do complexo ambiente de jogo, conforme verificado no DSC1 e no DSC2, como o facto do marcador direto estar ou nao em posse da bola, ou diante do dilema de marcar por observaçao ou por contacto. Outro desafio importante reside na atençao do defensor, que deve ser voltada simultaneamente para o marcador direto e para as relaçoes com o espaço de jogo, pelo facto de que por vezes os defensores se atentam as relaçoes dos companheiros com seus respetivos marcadores, momento nos quais sao ludibriados pelo atacante de sua responsabilidade.
O surgimento dos elementos táticos como a cobertura, a troca de marcaçao e a dobra, verificados com maior pontualidade nos sistemas defensivos zonais, é tangível no final deste escalăo, como apontado pelo DSC2, após um bom dominio das relaçoes espaciais e de controlo do oponente pelos defensores. Antón García (1990) aponta que na categoria sub12 alguns conteúdos defensivos sao relevantes, como os deslocamentos variados, a oposiçao simples materializada na marcaçao por observaçao e por perseguiçao, a marcaçao da linha de passe e a introduçao a cobertura e a dobra.
Greco et al. (2012) apontam que na categoria sub12 se deve abordar diferentes conteúdos, como: a) marcaçao (e as relaçoes de 1x1 diante do atacante com e sem a posse da bola) e a luta pela posse da bola (quando aludem a tática individual); e b) troca de marcaçao, a basculaçao, as coberturas, o triángulo defensivo e a entreajuda (quando aludem a tática grupal). O desenvolvimento e o aprimoramento desses elementos sao possíveis a partir da variabilidade dos estímulos ao longo do processo de EAT, ocorrendo concomitantemente ao desenvolvimento das capacidades de jogo já apresentadas (Matias & Greco, 2010). Para Castro et al. (2008) as aulas de andebol devem desenvolver a compreensao da tática em aspetos como a ocupaçao espacial e a satisfaçao dos praticantes que, para Feu Molina (2006), devem desenvolver-se a partir do jogo livre e criativo. Assim, os defensores devem se tornar capazes de se anteciparem aos comportamentos ofensivos, de ajustar sua intervençao as circunstáncias presentes e de nao repetir sempre a mesma açao (García Herrero, 2004).
Em consequencia a necessidade do bom desenvolvimento dos sistemas defensivos individuais e zonais, e da marcaçao nas situaçoes apresentadas pelo jogo, há a preocupaçao com a motivaçao dos jogadores a defender, conforme apontado no DSC3, contrapondo a tendencia de apenas marcar golos. Essa motivaçao é, aínda, fundamentada na importáncia que as defesas individuais assumem com a questao de pressionar os atacantes nas condicionantes espácio-temporais, atendendo aos princípios operacionais defensivos de recuperar a posse da bola, evitar a progressao do adversário e proteger o alvo (Bayer, 1994; Gréhaigne & Godbout, 1995). Como a tendencia dos iniciantes é centrar sua visao na bola e tentar se aproximar da mesma, indicando um panorama de aglutinaçao (Garganta, 1998), se torna importante o desenvolvimento da capacidade de jogar sem a posse da bola, a partir da busca por espaços vazios. Parte desse processo é destacado no DSC3 em relaçao a importáncia de motivar os jogadores a defender, como etapa fundamental para a recuperaçao da posse da bola e novas problematizaçoes para o desenvolvimento técnico-tático dos atacantes.
Essa premissa está intimamente articulada com o conhecimento das regras pelos jogadores sugerida no DSC4, cuja justificativa se baseia nas possibilidades de conseguir vantagens, principalmente referentes as violaçoes cometidas pelos atacantes adversários. As regras do jogo formal devem ser apresentadas progressivamente neste escalăo, principalmente a partir de jogos menores, na medida em que os jogadores vao compreendendo suas possibilidades de atuaçao. A adequaçao das regras nesta faixa etária atende aos preceitos da participaçao efetiva e continuada dos jogadores (Castro, Giglio, & Montagner, 2008), possibilitando a aquisiçao do conhecimento global do desporto e do conhecimento parcial das regras do jogo (Antón García, 1990), operacionalizados em dificuldades crescentes (Castro et al., 2008; Hopper, 2002).
Variáveis ofensivas
Após a discussao inicial sobre a importancia do sistema defensivo individual e as expectativas em relaçao aos defensores nesse cenário, a construçao do DSC5 indica a importancia da adequaçao dos comportamentos ofensivos diante dos sistemas defensivos individuais e zonais. O ponto inicial ao qual esses treinadores aludem é sobre a possibilidade de desenvolvimento dos aspetos táticos individuais, influenciado pela proximidade do atacante com seu marcador direto e a necessidade de adaptaçao as diferentes relaçöes espaciais que sao impostas.
Objetivos como o desenvolvimento da noçao espacial, a apreciaçao das trajetórias e as mudanças de velocidade e ritmo da bola, companheiros e adversários (Antón García, 1990) também podem estar relacionados com a questao de oferecer aos atacantes a resistencia de uma marcaçao individual. Nesse sentido, Greco et al. (2012) apontam a importancia de elementos da tática individual, como o comportamento na situaçao 1x1 em relaçao a distancia a baliza. De maneira complementar, a preocupaçao com a formaçao do jogador é evidenciada no DSC8, no qual há alusao as vivencias de diferentes postos específicos (inclusive de guarda-redes), o que promove uma visao ampla do jogador sobre suas possibilidades no andebol. Essa ideia de formaçao nao especializada dos jogadores a partir de práticas multiformes que contemplam o desenvolvimento dos jogadores sem visar a sua especializaçao, teor do DSC8, corroboram os preceitos elucidados por diferentes autores (Antón García, 1990; Ehret et al., 2002; Greco et al., 2012; Kröger & Roth, 2005; Menezes et al., 2014).
No DSC6 é apresentada a necessidade de enfatizar o ensino dos elementos técnicos, como o drible, o passe, a receçao e o remate, cuja perturbaçao das condicionantes espaciais e temporais impostas pelos defensores demanda dos atacantes ajustes motores e cognitivos. Mais específicamente, se trata da valorizaçao da execuçao do gesto técnico considerado ideal, cuja cobrança por um movimento estereotipado é evidenciada. Essa ideia vai de encontro as premissas defendidas nesta pesquisa e apontadas por autores como Hopper (2002) e Leonardo, Scaglia, e Reverdito (2009), face a necessidade de que os jogadores vivenciem diferentes jogos e suas situaçöes, que exigirao desses a perceçao do ambiente de jogo e a tomada de suas decisöes.
Em situaçöes de jogo e em jogos diversos há a utilizaçao dos referidos elementos técnicos, porém é recomendado que os alunos vivenciem de forma ampla e orientada para a resoluçao das situaçöes-problema, valorizando a compreensao do jogo e a técnica inserida nesse contexto (como destacado no DSC7). Salienta-se que o remate é considerado como o fundamento "atrativo" do jogo, o que apresenta uma importante motivaçao para o ensino das questöes defensivas abordadas anteriormente. Esse contraponto entre os objetivos ofensivos e defensivos demonstra a complexidade em ensinar o andebol, bem como a necessidade de uma proposta com complexidade crescente.
Diferente do apresentado no DSC6, o DSC7 revela a importancia de valorizar a intençao do jogador (relacionada ao pensamento tático) ao invés da enfase na execuçao do movimento. É reforçada no DSC8 a vivencia ampla no andebol, assumida pela nao determinaçao (e nao especializaçao) dos postos específicos ofensivos para os atacantes. Acreditamos, apoiados nesse discurso, que essa preocupaçao atende a formaçao plural dos jogadores, possibilitando uma compreensao do emprego dos elementos técnicos e técnico-táticos referidos no cenário do jogo. Esta premissa contempla a expressao do DSC5 com relaçao a adequabilidade dos conteúdos a dinamica imposta pelos sistemas defensivos adversários. A preocupaçao é centrada, desta forma, na resoluçao da situaçao-problema de maneira inteligente, na qual os atacantes compreendam o cenário do jogo e aproveitem as fragilidades dos adversários.
Greco et al. (2012) entendem que os aspetos técnicos individuais com bola (passe, remate, finta, receçao, drible) e sem bola (desmarcaçao, se oferecer, se orientar, vai e volta) devam ser trabalhados na categoria sub12. Kröger e Roth (2005) apresentam a conceituaçao de "se oferecer e se orientar" como uma tarefa tática para alcançar uma boa posiçao em determinado momento. A transferencia desse conceito para o contexto do jogo ofensivo no andebol, principalmente diante de defesas individuais, evidencia a intençao em se desmarcar (conceito relacionado com a comunicaçao na açao), proposto por Garganta (1998) de modo que o ataque continue em posse da bola e mantenha a chance de marcar o golo (principios do jogo ofensivo) (Bayer, 1994; Gréhaigne & Godbout, 1995).
Elementos que apresentam um apelo tático, como as desmarcaçöes, as fintas e os apoios também sao apontados no DSC5 como relevantes diante da marcaçao individual e zonal corroborando Greco et al. (2012), revelando a preocupaçao com a perceçao do ambiente de jogo que permita tomar a decisao adequada. Se busca garantir o desenvolvimento dos diferentes elementos técnicos e táticos de forma contextualizada pela condiçao imposta pela marcaçao individual, por nao possibilitar o jogo posicional dos atacantes, propiciando diferentes vivencias a esses (DSC8). Castro et al. (2008) sugerem a utilizaçao de jogos de complexidade crescente para o ensino dos diferentes elementos do andebol, que possibilitem aos jogadores utilizarem as habilidades no contexto do jogo, ao passo que podem ser alteradas regras que permitam enfatizar determinados elementos.
Entendemos, assim, que a marcaçao individual, por exercer pressao nas dimensoes espacial e temporal para os atacantes (com e sem a posse da bola), propicia um ambiente favorável para que os diferentes elementos técnico-táticos citados se manifestem no ambiente no qual sao necessários. Ao mesmo tempo, discordamos do DSC5 quando supoe que a manifestaçao dos elementos técnicos (e porque nao dos técnicotáticos) se dá de maneira natural, ao passo que a manifestaçao dos mesmos em ambiente de jogo deva ser dada de forma intencional, com o jogo provocando a criaçao ou o emprego desses. Conforme apontado por Garganta (1998), como consequencias do ensino centrado apenas no jogo formal está a apresentaçao de um jogo criativo, no qual se sobressai o individualismo inserido em um contexto anárquico, cujas soluçoes motoras sao variadas, mas com importantes lacunas de compreensao estratégico-tática. Para García Herrero e Ruiz Pérez (2003) o dominio das habilidades técnicas especificas e o conhecimento táctico sao caracteristicas que indicam um bom desenvolvimento do jogador. Os autores destacam a importancia da intençao táctica para o desenvolvimento dos elementos técnicos e técnico-tácticos apontando, ainda, que os jogadores (com idades entre 10 e 11 anos) que treinaram a partir da orientaçao táctica desenvolveram maior conhecimento declarativo do que os que tiveram apenas orientaçao técnica.
Concordamos quando os treinadores apontam para a nao especializaçao nos postos específicos (DSC8) e relatam a preocupaçao com a formaçao plural do jogador e com o desenvolvimento das diferentes capacidades de jogo (DSC5, aludindo aos elementos técnico-táticos; DSC6, aludindo aos elementos técnicos; e DSC7, aludindo a compreensao do ambiente do jogo). Diferentes autores corroboram tal premissa (Antón Garcia, 1990; Ehret et al., 2002; Greco et al., 2012; Kröger & Roth, 2005; Menezes et al., 2014; Menezes et al., 2011).
Antón Garcia (1990), ao se referir aos conteúdos ofensivos relevantes na categoria sub12, enfatiza aspetos técnicos (como o drible e os deslocamentos) e aspetos que aludem a tática (proteçao da bola, ocupaçao de espaços livres, desmarcaçao, dispersao dos apoios, consciencia das funçoes do atacante com ou sem a posse da bola, o passa e vai e o passa e retorna), que vao ao encontro do apresentado no DSC7. Segundo Ehret et al. (2002) na etapa de formaçao básica devem ser priorizados aspetos técnicos (como o passe, a receçao, o drible e o remate em apoio), assim como o jogo livre contra diferentes tipos de marcaçao individual.
Sobremaneira, quando é abordada pelo DSC6 a cobrança pela execuçao dos gestos técnicos e pela aprendizagem desses se baseando em estereótipos, entendemos que tal opiniao diverge das demais (apresentadas nos outros DSC), principalmente pela possibilidade de manifestaçao de tais gestos no contexto do jogo. Respeitam-se, para tanto, as possibilidades e as limitaçoes individuais, promovendo a participaçao dos jogadores de maneira livre e criativa em conjunto com os aspetos estratégicotáticos (Hopper, 2002), como abordado no DSC5 e no DSC7. Sobre o ensino centrado nas técnicas, Garganta (1998) indica como suas consequencias as açoes estereotipadas e pouco criativas, além de pobre compreensao das situaçoes apresentadas no jogo.
A adequabilidade dos elementos técnicos ao cenário do jogo é tema central do DSC7, no qual há a alusao a valorizaçao das intençoes dos jogadores para a resoluçao das situaçoesproblema impostas, uma vez que a preocupaçao se volta para as questoes relacionadas a adequaçao do movimento e a eficácia na disputa pela posse e pelo controlo da bola (Antón García, 1990). Feu Molina (2006) aponta que no jogo ofensivo (individual ou coletivo) os jogadores devem ser estimulados a tomar decisoes adequadas aos problemas impostos pelos defensores, assim, os jogadores devem utilizar tais elementos da forma mais espontánea possível.
Tais questoes técnicas dependerăo, segundo os treinadores que partilham desta premissa, da perceçao dos jogadores em relaçao a proximidade ou nao do marcador direto e aos companheiros que se desmarcam e se oferecem de apoio a continuidade do jogo ofensivo, o que alude também as premissas apontadas no DSC5. A ideia perpassada pela necessidade de compreensao do contexto do jogo, no qual as variáveis associadas as táticas ocupam uma posiçao de destaque (DSC5), estao relacionadas com as unidades funcionais propostas por Garganta (1998), que elucida para a fase ofensiva princípios de estruturaçao do espaço, como a criaçao e ocupaçao de espaços (mobilidade) e o jogo em profundidade e em amplitude.
De forma geral, os treinadores apresentam um consenso quando a temática envolve as questoes defensivas, no que tange a utilizaçao do sistema individual. O mesmo consenso nao é verificado quando as questoes ofensivas estao no centro do debate, o que pode ser explicado pelas diferentes leituras do ambiente de jogo que os treinadores possuem, pelas experiencias prévias e pela formaçao desses, que sao temas mais amplos e nao serao aqui discutidos.
Após as análises dos discursos dos treinadores e dos aspetos apresentados pelos diferentes autores pesquisados e discutidos no texto (Antón García, 1990; Bayer, 1994; Ehret et al., 2002; Garganta, 1998; Greco et al., 2012; Gréhaigne & Godbout, 1995; Kröger & Roth, 2005; Menezes et al., 2011), entendemos que a sistematizaçao dos conteúdos defensivos e ofensivos é de suma importáncia, principalmente como balizador do processo de EAT na categoria sub12.
Na Figura 1 está representado um esquema referente a fase defensiva, com enfase para a progressao dos sistemas (dos individuais para os zonais), os principios abordados e os elementos técnicos e táticos relevantes.
De maneira análoga, na Figura 2 estao representados os aspetos que norteiam o desenvolvimento do jogo ofensivo na categoria sub12, aos quais se destaca a importáncia do cenário técnico-tático imposto pelos defensores. Salienta-se que a oposiçao baseada diante de sistemas defensivos individuais e zonais exige dos jogadores diferentes tipos de comportamento, conforme discutidos anteriormente.
Fica evidente a complexidade do cenário técnico-tático do jogo de andebol na categoria sub12, na qual há a preocupaçao com o desenvolvimento, além dos aspetos apresentados nas Figuras 1 e 2, das capacidades de jogo que permitam aos jogadores perceberem o ambiente, selecionar as informaçoes mais relevantes (atençao) elaborar a resposta mais adequada (antecipaçao) e tomar a decisao (Matias & Greco, 2010).
Gréhaigne e Godbout (1995) apontam como regras organizacionais para o jogo: a criaçao de desequilibrios em favor da equipa, a coordenaçao entre as diversas açoes da equipa, a distribuiçao dos jogadores em profundidade e amplitude, a rápida adaptaçao a especificidade ofensiva e defensiva do adversário. Essas regras devem ser contempladas paulatinamente ao longo do processo de EAT com abordagens contextualizadas a cada fase do jogo.
Mediante a complexidade imposta pelo cenário do jogo, se deve atentar para que a aprendizagem dos elementos técnicos e táticos de modo que se ajustem a evoluçao do jogo, nas condicionantes de espaço, tempo e ritmo (Antón Garcia, 1990), corroborando a opiniao de Hopper (2002) de que a aprendizagem dos diferentes elementos do jogo deva ser dada daqueles menos complexos para os mais complexos. Outro aspeto importante a ser destacado é a participaçao de grupos com números reduzidos de jogadores, o que lhes confere oportunidade de participaçao mais frequente e maior contacto com a bola (Castro et al., 2008).
CONCLUSÖES
Esta pesquisa apresentou uma proposta de conteúdos (elementos técnicos e táticos) pautada nos principios ofensivos e defensivos e, ao mesmo tempo, articuladas com as diferentes capacidades exigidas pelo ambiente de jogo. O mapeamento desses aspetos possibilita o estabelecimento de diretrizes para a elaboraçao do planeamento de ensino do andebol na categoria sub12.
A metodologia utilizada nesta pesquisa possibilitou o acesso aos depoimentos dos treinadores e a construçao dos DSC, que revelaram um grande número de aspetos técnicos e táticos inerentes as fases ofensiva e defensiva do andebol, em especifico na categoria sub12. Os DSC apontaram a preocupaçao com a dinámica do jogo e com a adequaçao as açoes individuais, grupais e coletivas frente as exigencias impostas pelos adversários.
Na categoria sub12 se entende que em relaçao ao comportamento defensivo há a preocupaçao com o ensino de diferentes sistemas defensivos, com prioridade aos individuais como prérequisito para os zonais. Essa preferencia é justificada pela necessidade de desenvolver diferentes principios e capacidades, além das competencias técnicas e táticas especificas a cada fase do jogo, assim como pelas exigencias regulamentares impostas pelas diferentes entidades que organizam o andebol.
Em relaçao aos conteúdos ofensivos propostos pelos treinadores, sao apontadas diferentes opçoes táticas, de acordo com características complexas do jogo, tais como a opçao adversária pelo sistema defensivo. Destaca-se a importáncia das vivencias variadas que levem a compreensao do jogo, principalmente em relaçao as adaptaçoes requeridas pelas situaçoes-problema impostas pelos oponentes. Assim, espera-se que haja ampliaçao do repertório de soluçoes técnicotáticas que subsidiem o processo de tomada de decisoes dos jogadores.
O complexo ambiente de jogo deve ser apresentado, portanto, paulatinamente na medida em que o jogador vai assimilando e selecionando as diferentes informaçoes provenientes do jogo, lhes atribuindo significados, conforme apontado por Ribeiro e Volossovitch (2008), favorecendo a autonomia dos jogadores na aplicaçao dos elementos aprendidos (Feu Molina, 2006).
Nao obstante, a ideia de mapear as variáveis relevantes na categoria sub12 nao tem como objetivo esgotar as discussoes sobre o assunto e, sequer, de tratar os conteúdos expostos de forma estanque e uniforme. Se deve considerar que as equipas sao compostas de diferentes jogadores, inseridas em diferentes contextos, o que invariavelmente influencia as questôes relacionadas a perceçao dos estímulos e a aprendizagem. Outras perspetivas também se tornam possíveis a partir desta pesquisa, como a criaçao de um sistema de análise de jogo específico para a categoria sub12 ou mesmo comparar as variáveis relevantes para treinadores de equipas masculinas.
Desta forma, entendemos que a iniciaçao ao andebol deve se pautar em vivencias diversificadas permitindo que os jogadores experimentem diferentes posiçöes de jogo, de modo que nao especialize precocemente os jogadores em posiçöes específicas ou priorize, por exemplo, o ensino de um dos elementos em detrimento dos demais.
Agradecimentos:
Nada a declarar
Conflito de Interesses:
Nada a declarar.
Financiamento:
Fundaçao de Amparo a Pesquisa do Estado de Sao Paulo (FAPESP - processo 2013/05854-8).
Artigo recebido a 13.08.2014; Aceite a 28.03.2016
· Autor correspondente: Avenida Bandeirantes, 3900 - Monte Alegre - Ribeirao Preto - SP - Brasil. CEP: 14040907. Escola de Educaçao Física e Esporte de Ribeirao Preto (EEFERP), Universidade de Sao Paulo (USP). E-mail: rafaelpombo @usp.br
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Abstract
O objetivo desta pesquisa foi mapear e discutir os conteúdos técnicos e tácticos (ofensivos e defensivos) do escalao sub12 no andebol, a partir dos discursos de treinadores expedentes. Fizeram parte da amostra seis treinadores, cujos depoimentos foram tabulados e analisados de acordo com o método do Discurso do Sujeito Coletivo. Os resultados apontaram que, em relaçao aos conteúdos defensivos, é importante desenvolver o sistema individual, os diferentes elementos técnico-tácticos e apresentar os sistemas zonais. Em relaçao aos conteúdos ofensivos salienta-se a necessidade de diferentes opçoes estratégico-táticas diante dos sistemas defensivos individuais e zonais, sendo notados também treinadores que valorizam a execuçao do gesto técnico eficiente e outros que possuem maior preocupaçao com a compreensao do jogo e com as vivencias múltiplas. Fica evidente, a partir da discussao dos resultados e da literatura consultada, a preocupaçao com o desenvolvimento das capacidades de jogo (como perceçâo, atençâo, antecipaçao e tomada de decisao) a partir de vivencias diversificadas, que permitam aos jogadores experimentar diferentes posiçoes de jogo, sem visar a especializaçao precoce.