Content area
Full Text
Resumo
O presente artigo discute os conceitos de literatura negra e literatura afro-brasileira a partir das reflexões existentes em nossa história e crítica literárias, tomando como referência a produção de autores afrodescendentes dos séculos XIX e XX. Em seguida, busca estabelecer um conjunto de elementos que, uma vez reunidos, possam delimitar parâmetros de distinção que estabeleçam a especificidade da literatura afro-brasileira frente à literatura brasileira tout court.
Palavras chave: literatura, etnicidade, mente afro-brasileira.
Abstract
The present article discusses the concepts of black literature and Afro-Brazilian literature from the existing debates in Brazilian history and literary criticism, taking as a reference the production of Afro-descendent authors from the 19th and 20th centuries. Also, it tries to estabilish a group of elements that, once reunited, may present references of distinction that provide the especificity of the Afro-Brazilian literature in contrast with Brazilian mainstream literature.
Keywords: literature, ethnicity, Afro-Brazilian mind.
No alvorecer do século XXI, a literatura afro-brasileira passa por um momento rico em realizações e descobertas, que propiciam a ampliação de seu corpus, na prosa e na poesia, paralelamente ao debate em prol de sua consolidação acadêmica enquanto campo específico de produção literária -distinto, porém em permanente diálogo com a literatura brasileira tout court. Enquanto muitos ainda indagam se a literatura afro-brasileira realmente existe, a cada dia a pesquisa nos aponta para o vigor dessa escrita: ela tanto é contemporânea, quanto se estende a Domingos Caldas Barbosa (1740-1800), em pleno século XVIII; tanto é realizada nos grandes centros, com dezenas de poetas e ficcionistas, quanto se espraia pelas literaturas regionais. Nesse caso, revela-nos, por exemplo, um escritor do porte do maranhense José do Nascimento Moraes (1882-1958), autor, entre outros, do romance Vencidos e degenerados (1915), cuja ação tem início em 13 de maio de 1888 e se estende pelas décadas seguintes a fim de narrar a permanência da mentalidade derivada da escravidão. Enfim, essa literatura não só existe como se faz presente nos tempos e espaços históricos de nossa constituição enquanto povo; não só existe como é múltipla e diversa.
Desde a década de 1980, a produção de escritores que assumem seu pertencimento enquanto sujeitos vinculados a uma etnicidade afrodescendente, cresce em volume e começa a ocupar espaço na cena cultural, ao mesmo tempo em que...