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Este artigo apresenta um desenvolvimento teórico extraído de uma pesquisa de doutorado em Psicologia1 que teve como objetivo principal compreender as relações do sujeito adolescente com o saber. Com a metodologia de pesquisa em psicanálise (Pinto, 2001) e aporte teórico lacaniano, partimos da conexão, apontada por Lacan (1962-1963/2005), entre a maturação do objeto a na puberdade e a formação dos conceitos. Verificamos que essa formulação tem respaldo na perspectiva de Vygotsky (1930-1931/2012), para quem a entrada no pensamento conceitual só se efetua a partir da maturação pubertária, em virtude das novas funções psíquicas adquiridas nessa fase. Em vista disso, constatamos um debate de fundo entre esses autores em torno da problemática que propomos examinar.
Formulamos a hipótese de que a conexão entre a puberdade e o pensamento conceitual concerne a uma proposição original de Lacan, consistindo numa importante contribuição à abordagem psicanalítica da adolescência. A articulação entre a maturação pubertária, concernente à incidência do real orgânico no corpo, e a assimilação dos conceitos, num tempo lógico pautado pela angústia de castração, diz respeito à associação entre uma capacidade do pensamento e a emergência de um vazio. Trata-se de uma novidade que se apresenta no campo do saber num momento em que o não saber se impõe ao sujeito de maneira radical. Para compreender essa formulação lacaniana sobre a puberdade, é preciso examinar o panorama teórico em que ela se constrói.
A função da causa no pensamento
Em O seminário, livro 10: a angústia, Lacan (1962-1963/2005) assinala que a relação com a falta é inerente à constituição de qualquer lógica, visto que a falta radical está implicada na constituição do sujeito. De acordo com o autor, “a partir do momento em que isso é sabido, em que algo chega ao saber, há alguma coisa perdida, e a maneira mais segura de abordar esse algo perdido é concebê-lo como um pedaço do corpo” (p. 149). O objeto a é um resíduo da função significante em razão da constituição do sujeito como barrado. Como presentificação da falta, esse objeto se relaciona aos objetos cedíveis do corpo e funciona como a causa do desejo, um referente do real que lastreia a cadeia significante.
Conforme Lacan (1962-1963/2005), a causa concernente à função radical do objeto a relaciona-se...