Content area
Full Text
O presente texto tem como objetivo traçar uma análise comparativa entre as realidades indígenas na América Latina e no Brasil neste início de século. Está dividido em dois momentos; no primeiro tecemos uma narrativa cronológica sobre o desenvolvimento das lutas e organizações indígenas em busca do reconhecimento de seus direitos plenos e principalmente do seu direito a diferença cultural. Já no momento seguinte escolhemos duas problemáticas que envolvem os povos indígenas e os Estados nacionais, para as quais ainda não se obteve uma solução consensual; a primeira discussão gira em torno dos índios moradores dos centros urbanos no Brasil. E a segunda problemática selecionada é uma questão que, apesar de neste momento estar mais em voga nos outros países latino americanos que no Brasil, seguramente se estenderá à este em um futuro próximo, e refere-se a utilização da justiça comunitária pelas comunidades indígenas. Discussão obrigatória em todos os Estados multiculturais.
A análise comparativa entre Brasil e outros países da América Latina é uma opção metodológica deste trabalho, que se concretiza dentro das possibilidades e limites deste texto.
Um bom início para uma análise da questão indígena no final do séc. XX e início do XXI, pode ser a partir do questionamento:
"O que é ser índio neste momento histórico?"
Posto que a classificação "índio" não remete a um único grupo étnico e muito menos a uma raça, em que consiste esta identidade?
Podemos afirmar que índio além de referir-se a pessoas integrantes de diferentes grupos étnicos com um longo histórico de luta contra a marginalização imposta pelas políticas coloniais e depois nacionais, e pelos próprios integrantes da cultura ocidental, foi inicialmente uma identidade atribuída.
Esta identidade foi atribuída por Cristóvão Colombo aos habitantes do território posteriormente conhecido como América. Acreditando haver chegado nas índias orientais, percorrendo rotas marítimas pelo ocidente, Colombo ao deparar-se com os habitantes das terras atingidas passa a chamar-lhes indistintamente índios, tornando-se então (índio) uma classificação homogeinizante, pois engloba em uma única categoria culturas muito diferentes.
Ser índio porém no final do séc. XX e início do XXI, é mais que isto; é ser portador de um status jurídico, que lhe garante uma série de direitos. É fazer parte de uma coletividade que, segundo Pacheco de Oliveira, "por suas categorias e...