Resumo
O advento da Ciencia moderna e seu método expôs o método teológico a novas exigencias. O objetivo do artigo é justificar metodologicamente a presença da Teologia entre as disciplinas científicas. A metodologia é a da pesquisa bibliográfica. O artigo evidencia os elementos em comum entre o método científico e o teológico e suas peculiaridades, com enfase nas premissas de ambos. Essa abordagem é inédita na literatura metodológica. Isso permite, por um lado, evidenciar os elementos em comum. Primeiro, o ato de fé. Em Ciencia faz-se um ato de fé naquelas premissas do método, pois para elas nao há demonstraçao cabal, nem estao elas abertas a falseabilidade. Tal abordagem é também inédita. Sao evidenciadas oito dessas premissas do método científico. Uma das premissas é a da natureza pura, cuja origem é examinada. Essa premissa é pela primeira vez trazida a reflexao sistemática sobre o método científico. Segundo, o seguimento da sequencia de cinco passos metodológicos. Por outro lado, o artigo evidencia os elementos distintivos entre os dois métodos. A adesao a uma confissao religiosa é a principal diferença epistemológica entre a Teologia e a Ciencia, em particular as Ciencias da Religiao. Para essas isso traz consequencia.
Palavras-chave: Método científico; Método teológico; Ciencia; Ciencias da Religiao; Epistemologia.
Abstract
The advent of modern Science has subjected Theology to new demands. Our scope is to justify methodologically the presence of Theology among scientific disciplines. Bibliographical research method is used. We demonstrate the features both methods have in common, and the particular characteristics of each. The postulates of each method are emphasized. Such approach is unprecedented. On the one hand, the common features they have in common can be demonstrated. First, the act of faith. In Science an act of faith is made in those methodological postulates, for they do not have full evidence, neither they are subject to falsifiability. Such approach is also unprecedented. Eight of such postulates are pointed out. One of these postulates is pure nature, which origin is particularly discussed. It's the first time this postulate is systematically discussed in the field of scientific methodology. Second, the sequence of five methodological steps. On the other hand, this paper highlights the distinctive features of each method. Adherence to a religious confession is the main epistemological difference between Theology and modern Science, in particular Sciences of Religion. That fact brings consequence to the latter.
Keywords: Scientific method; Theological method; Science; Sciences of Religion; Epistemology
Introduçâo
Um grande tesouro da cena academica nas últimas décadas tem sido o avigoramento dos estudos sobre os temas da religiao. Nao raro tais estudos, feitos por diversos ramos do saber, confluem para instâncias nas quais compðem um conjunto. No Brasil sobressaem de modo especial os congressos da Associaçao Nacional de Pós-graduaęao e Pesquisa em Teologia e Ciencias da Religiao (ANPTECRE) e da Sociedade de Teologia e Ciencias da Religiao (SOTER). A nao poucos, tais estudos sobre os temas da religiao tem propiciado indagagðes a respeito do método. Uma coisa é estudar a religiao através das disciplinas do subconjunto das Ciencias da Religiao. Outra coisa é trabalhar os temas religiosos a partir da Teologia, que compðe outro subconjunto. O objeto de pesquisa dos dois subconjuntos apresenta uma substância em comum, e as duas óticas se enriquecem mutuamente, mas "nao se deve deixar na sombra o que lhes é constitutivo, tanto do ponto de vista do objeto material, quanto do ponto de vista do objeto formal. [... Pode-se] abrir o debate sobre as respectivas epistemes, conscientes da importância capital para a inter-relaçao entre estas áreas do saber" (EDITORIAL, 2007, p. 160). Indagagðes dos teólogos sobre seu método tem sido frequentes nas últimas décadas, buscando adquirir mais clareza sobre o que constitui a sua perspectiva específica (LONERGAN, 2012; BAENA, 2007; ELLACURÍA, 2000).
Nosso foco aqui nao é o método teológico latino-americano, embora este seja de grande relevância. O foco é examinar o método teológico num horizonte mais vasto, que permita reconhecer, como produto da mesma metodologia, obras teológicas de outros continentes e épocas.
Tomamos como desafio o comentario de Walter Kasper, que manifestou uma determinada urgencia na questao metodológica. Sua observaçao mantém grande atualidade, nao obstante ter sido escrita há meio século:
A reflexao sobre os fundamentos metodológicos faz parte das tarefas prioritarias da Teologia pós-conciliar. Tal reflexao metodológica se encontra hoje inevitavelmente exposta a uma exigencia de precisao metodológica proveniente da Ciencia moderna. A nossa época se caracteriza, na sua compreensăo de realidade e verdade, pela Ciencia e pela técnica. A essencia da Ciencia é seu método, isto é, o caminho planejado, ponderado, sempre criticamente seguro rumo a um bem determinado objetivo cognitivo. [...] Essa moderna consciencia metodológica mudou nao só a Teologia, mas todas as Ciencias Humanas, para uma situaçao supercrítica. (KASPER, 1967, p. 12)1.
Recorrendo a metodologia da pesquisa bibliográfica, neste artigo serao delineados, num primeiro momento, alguns elementos do método teológico e os passos do método científico. Trata-se do estado da questao. Num segundo momento, traremos também a luz seus respectivos pressupostos. Inexiste na literatura um estudo que, ao mesmo tempo, os delineie, confronte as premissas de ambos e demonstre as consequencias que seguem. Serao explicitados: 1) o ato de fé nas premissas, ato esse que faz parte da natureza mesma do método científico (com enfase na premissa da existencia de uma natureza pura, numa reflexao inédita na literatura metodológica), e 2) a cidadania que os passos do método científico tem dentro do método teológico na sua forma atual. É legítima, portanto, a inclusao da Teologia na árvore das áreas de conhecimento, composta pelas diversas áreas do saber académico, tema que desenvolveremos na última parte do artigo. Nesta, completaremos o delineamento do método teológico e de suas premissas, a luz das reflexðes anteriores, e serao também evidenciadas as semelhanças (bem como as diferenças) entre o método teológico e o científico que justificam aquela inclusao.
As fontes e documentos teológicos utilizados estarao dentro da Teologia católica, campo no qual se desenvolve o presente trabalho. Exceçao será feita ao livro de Wolfhart Pannenberg (1973). Vários dos elementos aqui mostrados serao desenvolvidos mais extensamente numa obra que há de vir a ser publicada pelas Edigðes Loyola2.
Esta reflexăo nao se situa nas categorias do binomio natural-sobrenatural. A revelaçao judaico-cristă possui uma sólida premissa, de que tudo na criaçao só pode vir a ser, e continuar existindo, devido a graça divina. Por isso, teologicamente nao utilizamos a distinçao entre ato de fé teologal e ato de fé natural. Todo e qualquer ato de fé só pode vir a ser o que é por trazer, antes e embaixo de si, o sustentáculo da graça de Deus como condiçao de possibilidade para existir.
1Começando a delinear o método teológico
Sobre a história do método da Teologia, alguns autores mais significativos sao Johannes Beumer (1972), Guido Pozzo (1994) e Clodovis Boff (2012). O estudo das estruturas que, no passado, configuraram o exercício da Teologia é relevante para esse mesmo exercício no presente.
1.1Época Patrística
A Época Patrística representa como que "o momento do 'nascimento' da Teologia" (POZZO, 1994, p. 607). A literatura patrística é extremamente diversa. Além da esfera greco-latina, abrange também autores em língua siríaca, copta, armenia, georgiana e árabe. Mesmo com tanta diversidade, é possível encontrar ali elementos de um método. O fulcro em que os autores patrísticos esteavam suas reflexðes era a revelaçao em Israel culminada em Cristo. É a luz de 1Cor 3,11 ("ninguém pode colocar outro alicerce diferente do que já está colocado: Cristo") que se desenvolve o método teológico, para o qual "o evento Cristo transmitido é e permanece o fundamento, juntamente com a experiencia espiritual, que dele brota, [feita] pela Igreja, mas [...] esse mesmo fundamento solicita o prosseguimento da edificaçao em cima dele" (BEUMER, 1972, p. 17)3. Tornaram-se famosas as duas frases de S. Agostinho que resumiam a importancia do alicerce e do "prosseguimento da edificaçao" mediante a fé e a razăo: "crede ut intellegas" e "intellege ut credas", "creia para que possa compreender" e "compreenda para que possa crer".
Na Teologia da Época Patrística, o método se assinala pelo reconhecimento de uma apostolicidade expressa pelo termo parádosis (Tradiçao). Tal termo designa uma realidade viva e ativa mantida em sucessao com os apóstolos. Uma fórmula da época é "parádosis katá diadokén" (literalmente, "Tradiçao conforme sucessao" (PIE-NINOT, 1994, p. 86). Encontrado já nos textos de Ireneu de Lyon, esse principio "se tornou uma lei aceita pela Patrística" (PIE-NINOT, 1994, p. 86). A apostolicidade expressa como parádosis ou Tradiçao era a experiencia de comunhao com aquele que permanece realmente vivo e atuante no tempo atual da Igreja, Cristo. No entender patrístico, a parádosis ou Tradiçao é também autocomunicaçao de Deus. É revelaçao salvifica viva que dá de novo a descobrir o que já foi revelado originalmente no cume da revelaçao que é Cristo.
Na Época Patrística, outro elemento do método é o reconhecimento que determinados escritos - a Sagrada Escritura - sao registro indispensável da revelaçao acontecida em Israel e em Cristo. Sao os únicos escritos nos quais se reconhece, além da autoria humana, a autoria divina, e por isso compðem instancia fundamental.
Na Época Patrística, o método se assinala também pela dinámica de, num contexto de diversidade, clarificar as coisas resistindo ao que falsifica o fundamento, a revelaçao salvifica culminada em Cristo. Nao vale tudo. Há coisas que adulteram aquela revelaçao, e tais falsificaçðes devem ser deixadas de lado (BEUMER, 1972, p. 18).
A medida que aquela unidade das diversas Igrejas locais produzia decisðes mediante sínodos e concilios, essas se tornavam também instancias de manifestaçao da parádosis ou Tradiçao. Notável relevancia era também atribuída aos ensinamentos do sucessor do apóstolo Pedro como epískopos de Roma. Algo análogo acontecía com as reflexðes das geraçðes anteriores de teólogos.
Enfim, na Teologia da Época Patrística o método se caracteriza também por ser reflexao conduzida com os recursos intelectuais entao existentes (BEUMER, 1972, p. 17-18). Nao raro os autores patrísticos fazem a mensagem original da revelaçao salvifica crista penetrar num ámbito cultural que havia surgido independentemente do cristianismo. Empregam as categorias de um mundo filosófico já existente, e o fazem a partir dos elementos da revelaçao crista (POZZO, 1994, p. 607).
1.2Época Escolástica
Na Época Escolástica a Teologia manteve, por um lado, os elementos metodológicos da Patrística: estear as reflexðes na revelaçao culminada em Cristo, e aprofundar os dados da fé tirados da Sagrada Escritura, da Sagrada Tradiçao, dos ensinamentos dos concilios e do sucessor de Pedro, e da vida da Igreja (POZZO, 1994, p. 608). As antigas expressðes de S. Agostinho - "crede ut intellegas" e "intellege ut credas" - continuam a sintetizar a reflexao teológica. No século XI, S. Anselmo de Cantuária sintetiza essas ideias no Proslogion através das expressðes "credo, ut intellegam" e "fides quaerens intellectum": "creio, para compreender" e "uma fé que procura a inteligencia".
Por outro lado, aos elementos metodológicos herdados da Época Patristica foi acrescentado mais um: o instrumental filosófico aristotélico (BEUMER, 1972, p. 75; POZZO, 1994, p. 608). Em especial, adota-se o paradigma do conceito aristotélico de Ciencia. Ciencia seriamente falando - a Ciencia primeira -, é ali a Metafísica, que vai além do sensorial e atinge o conhecimento das verdades imutáveis.
Um traço marcante da Teologia Escolástica é a dupla de conceitos natural e sobrenatural. Esses conceitos pressupðem uma concepçao da realidade diferenciada em planos. Por um lado, o plano do natural é o da criaçao, do ser humano e de sua iniciativa. Por outro lado, o plano do sobrenatural é o de Deus, do que é incriado, das coisas que só acontecem devido a gratuita iniciativa divina, como a revelaçao. O termo sobrenatural está "em paralelo preciso com o termo metafísica (depois de, atrás de, para além de, e, neste sentido: acima da natureza)" (NEUFELD, 1994, p. 909). No século XIII, a dupla de conceitos foi impulsionada por S. Tomás de Aquino, e marcaría a feiçao da Teologia nos séculos seguintes.
1.3Consideraçöes
Começando a delinear o método teológico encontramos já uma evidencia: 1) quem faz a reflexao nao está numa posiçao neutra no que diz respeito a confissao religiosa. Um salto de fé acompanha o raciocinio. Metodologicamente, em Teologia ato de fé e ato de raciocinar estao constantemente imbricados: "creía para que possa compreender" e "compreenda para que possa crer". No nosso caso trata-se da confissao crista. A Teologia também pode ser feita em outras confissðes religiosas como, por exemplo, Teologia islámica, Teologia judaica ou Teologia umbandista. Outra evidencia: 2) quem faz a reflexao teológica nao começa da estaca zero. Há muita coisa antes dele que precisa ser conhecida. A expressao clássica para se referir a isso é auditus fidei, escuta da fé: ouvir as diversas e determinadas instáncias anteriores. Uma terceira evidencia: 3) é necessário raciocinar, "prosseguir a edificaçao em cima dele [o fundamento, o evento Cristo]" (BEUMER, 1972, p. 17)4. A expressao clássica para se referir a isso é intellectus fidei, raciocinio sobre a fé, valendo-se de instrumentais conceituais de seu tempo.
2Delineamento do método científico
Nao muito tempo depois da Escolástica, a argúcia humana foi colocando em evidencia uma estratégia para gerar conhecimentos: o método científico. A literatura sobre a história da Ciencia e seu método é generosa, e referimos aqui apenas exemplos (HEGENBERG, 1976; HENRY, 1998; ACHINSTEIN, 2004). Na nossa consideraçao sobre o método científico, o consideraremos primeiramente num resumo de seus passos, algo frequente na literatura. Depois traremos a luz suas premissas, ou axiomas. Essa temática importante é raras vezes abordada (AAAS, 1990, p. 2; GAUCH, 2012, p. 73-95).
2.1Passos ou movimentos do método científico
Resumos substanciáis das etapas do método científico já sao oferecidos na literatura academica (MEDAWAR, 1979; LEITE, 2008; RAMPAZZO, 2009; KÖCHE, 2012). Nas diversas apresentaçöes do método, a substancia deste é sempre a mesma, mas o número dos passos ou movimentos difere de autor para autor em virtude de as etapas serem diferentemente condensadas ou desmembradas. Apresentamos aqui uma síntese da estratégia, ou método científico, por meio de cinco passos ou movimentos:
1. O ponto de partida é ter um assunto sobre o qual se quer obter conhecimento confiável. Desse assunto faz-se entao uma caracterizaçao geral: define-se a questao em estudo, tentando explicitar os elementos de sentido da questao; reúnem-se as evidencias relevantes sobre o assunto mediante o levantamento das explicates já dadas por outras pessoas; examina-se o objeto em consideraçao e fazem-se observaçöes e mediçöes. É fundamental procurar as explicates já dadas anteriormente, um dominio satisfatório do patrimonio anterior de conhecimento. Mas só conhecimento nao basta.
2. imaginaçao e criatividade estao no centro do segundo passo ou movimento. Sobre aquele assunto do qual se quer obter conhecimento confiável formulam-se hipóteses que visem explicar a questao. Richard Feynman - um dos mais importantes cientistas do século XX e premio Nobel de Física em 1965 - resumiu: "o que precisamos é imaginaçao, mas imaginaçao numa tremenda camisa de força" (FEYNMAN, 1992, p. 171)5. Acrescentar ao conhecimento prévio do passo 1, a hipótese ou suposiçao deste passo 2, nao é coisa de pouca monta. A imaginaçao e a criatividade que geram hipóteses estao na linha de frente da grandeza da Ciencia. A formulaçao de hipóteses sobre os elementos de uma questao é uma arte (MEDAWAR, 1979, p. 84-85; FEYNMAN, 1992, p. 162).
3. A imaginaçao e a criatividade prosseguem operantes neste passo ou movimento 3. Trata-se agora de elaborar raciocinios que levam a deduçöes. O conjunto de hipótese (feita no passo 2) e previsao (estabelecida agora no passo 3) é geralmente algo nunca antes observado. As previsðes feitas a partir das hipóteses sao cruciais porque se o quarto passo, em seguida, mostrar que as previsðes nao se realizam, entao a hipótese formulada no passo 2 é simplesmente falsa. Mesmo uma Ciencia que trabalhe com pesquisa bibliográfica pode realizar previsðes. Por exemplo, um historiador pode formular previsðes sobre documentos que ainda terao que ser encontrados, prevendo que o que neles se encontrará sobre determinados fatos coincidirá com o que está escrito nos documentos já conhecidos (FEYNMAN, 1992, p. 114).
4. Chegou a hora de validar, ou invalidar, a conjectura e as previsðes imaginadas nos passos 2 e 3. Compostas até aqui por raciocinios lógicos que levam a dedugðes, as previsðes estabelecidas no passo 3 sao enfim testadas. Algumas Ciencias demandam experimentos com a natureza. Outras estudam o ser humano, que por razðes éticas nunca deverá ser manuseado como um objeto. Há aquelas que tem como objeto coisas produzidas pelo ser humano, ou fenómenos humanos. Outras sao formais, abstratas. Sendo todas Ciencias e seguindo o método científico, por um lado cada uma delas terá idiossincrasias epistemológicas para validaçao das hipóteses. Tais idiossincrasias sao "particularidades lógico-metodológicas secundárias" (COSTA, 1999, p. 23). No seu conjunto, "a Ciencia empírica, em determinado sentido, é uma, sobretudo devido a sua dimensao lógico-metodológica geral" (COSTA, 1999, p. 23). Em todas elas, visa-se comprovar as consequencias que foram previstas a partir da hipótese feita, de modo a demonstrá-las ou refutá-las. Se tal processo de validaçao mostrar que as previsðes oriundas da hipótese acontecem, entao a hipótese está no bom caminho. Se as previsðes feitas a partir da conjectura nao se verificarem, entao a hipótese é falsa. Toda a Ciencia gira em torno desse duplo principio. Se hipótese for validada, contudo meramente essa comprovaçao individual ainda nao basta.
5.A divulgaçao e comprovaçao por outrem estao no centro do quinto passo. Se um exito qualquer conseguido no passo 4 ficar só para quem o obteve, ainda nao se tornou conhecimento confiável. "É este o requisito fundamental do conhecimento científico: é necessário que seja aceito pelos demais dentistas" (VOLPATO, 2007, p. 29). A publicaçao do estudo possibilita que o conhecimento seja repetido e comprovado em tempos e espaços diferentes. É desse modo que um determinado conhecimento se integra ao patrimonio daquela Ciencia específica.
2.2Premissas do método científico
2.2.1 Premissas filosóficas (AAAS, 1990, p. 2; GAUCH, 2012, p. 88)
Newton C. A. da Costa (1999, p. 55) fala de cinco "normas ou principios que iluminam a marcha da Ciencia". Trata-se de principios epistemológicos que sao válidos, mas para os quais "nao há demonstraçao cabal e lícita, dedutiva ou indutiva" (COSTA, 1999, p. 57). Quatro deles sao:
1. A possibilidade do conhecimento científico.
2. O caráter deste como intercambio de experiencia e pensamento.
3. O caráter lógico e experimental dos criterios de justificaçao.
4. A utilizaçao de sistemas de categorias ou conceitos.
O quinto corresponde ao primeiro dos quatro outros axiomas ou premissas abaixo indicados, que complementam e se somam aos quatro anteriores.
5. Realismo. Há "um universo de coisas e fatos que existem independentemente de nós. Alcançamos, sem dúvida, certas estruturas que sao, pelo menos em parte, reais" (COSTA, 1999, p. 55). Para a Ciencia moderna, existe uma realidade objetiva externa que independe do sujeito compreendedor. Nesse sentido, "no entanto, o realismo científico é um realismo mitigado. [...] Os objetos físicos estao fora de nós, se bem que os reconstruímos conceitualmente" (COSTA, 1999, p. 50).
6. Existencia de leis da natureza. As coisas fundamentais da realidade objetiva externa nao funcionam caprichosamente, mas seguem padrðes chamados de leis. Tais "leis da natureza [...] existem independentemente das mentes que tentam compreende-las" (ARMSTRONG, 1999, p. 7)6, ou seja, seguem também o principio do realismo.
7. Universalidade ou constancia das leis da natureza. "A melhor característica da lei física é a sua universalidade" (FEYNMAN, 1992, p. 87)7. As leis da natureza sao constantes no tempo e no espaço.
2.2.2Premissa teológica
8. Natureza pura. Os textos de metodologia científica nunca mencionam esta quarta premissa. Por natureza compreende-se aqui toda a realidade do cosmo. "Natureza pura" significa toda essa realidade como uma "natureza completa, consistente, suficiente, independente por ela mesma em relaçao a qualquer 'ordem' superior" (DE LUBAC, 1946, p. 174)8.
Tal expressao faz originalmente parte de uma tríade de conceitos estreitamente vinculados: natural, sobrenatural e natureza pura. Na Teologia católica, a distinçao entre natural e sobrenatural foi lançada em grande circulaçao no século XIII por Tomás de Aquino. Só mais tarde, no século XVI, é que o conceito de natureza pura foi introduzido em Teologia, agora por Tommaso Gaetano. O conceito de natureza pura "foi introduzido como que de modo enviesado, sem jamais ter sido objeto de uma discussao apropriada" (DE LUBAC, 1946, p. 129)9. Em Teologia, desde o século XVI o conceito de natureza pura se manteve meramente como hipótese irreal, mas capaz de ser considerada. O intuito era o de articular mais facilmente a graça divina (ámbito sobrenatural) com uma hipotética atividade puramente humana (âmbito natural). No século XVII o conceito de natureza pura já estava consolidado em Teologia, e seus principais defensores eram os renomados jesuítas de Paris e de Leuwen (DE LUBAC, 1946, p. 162).
Aquilo que, por um lado, era em Teologia uma hipótese irreal, por outro lado teve consequendas nao pequenas para o pensamento de quem estava fora da Teologia, mas vivendo no mesmo ambiente de cristandade. Já a partir do século XVI o conceito de natureza pura habituou geraçöes de estudiosos brilhantes a pensar tal hipótese nao mais como irreal, mas como plausível. A premissa da natureza pura, que leva a considerar o cosmo como uma "natureza completa, consistente, suficiente, independente por ela mesma em relaçao a qualquer 'ordem' superior", é distintiva do método científico levado a efeito no continente europeu a partir do século XVII. Pensadores brilhantes transferem, para o interior da natureza, o motivo da existencia e do funcionamento do cosmo, privando-o do seu horizonte de transcendencia. Verifica-se uma fermentaçao cultural na qual se pensa a natureza do ser humano como independente de qualquer ordem superior ou transcendente. Em 1651 era publicado o Leviată de Thomas Hobbes, cujo primeiro capítulo intitulado De homine (Sobre o ser humano) o considera de modo exclusivamente materialista. Outras obras influentes desenvolvidas em base ao axioma epistemológico da natureza pura viriam a luz no século XVIII. Neste ponto, mais relevantes que o famoso Discurso sobre a origem de Jean-Jacques Rousseau em 1755 (que negava a existencia do ser humano no puro estado de natureza, reputado como utopia),sao as obras de dois outros autores. Em 1758 foi publicado o livro Do Espirito, de Claude Helvétius, e em 1770 saiu do prelo o Sistema da natureza, de Paul-Henri Thiry, conhecido como Barao de Holbach. Aparece ali claramente manifestada a independencia do ámbito da natureza em relaçao a qualquer transcendencia: "os seres que sao considerados como acima da natureza ou dela distintos serao sempre quimeras, das quais nunca será possível constituir ideias verdadeiras" (HOLBACH, 2010, p. 31).
Foi em tal contexto onde ainda se vivia a cristandade, no qual por um lado em Teologia o conceito de natureza pura estava consolidado (como hipótese irreal) que, nao por coincidencia, se alçou por outro lado a pujante onda da revoluçao científica do Ocidente. O conceito de natureza pura foi passando de conceito hipotético e irreal em Teologia para axioma epistemológico da atividade dos cientistas. A premissa de uma natureza pura se consolidaria como distintiva da nova etapa da metodologia científica. Metodologicamente, a partir dessa época considera-se por premissa que qualquer ordem superior a natureza nao influencia os resultados, e que a Ciencia prescinde de Deus. "Qualquer entidade que, por definiçao, existe além das leis naturais, está além da esfera da Ciencia" (GLEISER, 2011). Metodologicamente, o ato religioso de fé que o cientista pode ter se torna, por premissa, irrelevante. Os resultados devem ser os mesmos, caso outro cientista (cujo ato de fé fosse dado em outra religiao, ou entao fosse um ato de fé na inexistencia de Deus) faça a mesma pesquisa em condiçöes objetivas semelhantes. Durante o exercício do trabalho científico, o ato religioso de fé fica como que entre parenteses, sem interferir nos resultados.
A consolidaçao do conceito de natureza pura tem estreita relaçao com o reinado, em Ciencia, do paradigma mecanicista de mundo. Neste "a natureza nao pode mais ser concebida como a manifestaçao de um princípio vivo, mas como um sistema de matéria em movimento regido por leis" (JAPIASSU, 2007, p. 182). Mediante essa ótica, "a natureza deve ser explicada por ela mesma. A fé, a graça e a revelaçao deixam de desempenhar o papel de obstáculos epistemológicos" (JAPIASSU, 2007, p. 179). O paradigma mecanicista consistía numa nova imagem de cosmo "como uma grande máquina, um grande e preciso relógio mecánico, estabelecendo-se a visao de um universo ordenado e previsível" (BORGATTI, 2012, p. 37).
Ao se ter como base tal paradigma mecanicista, também o ser humano é visto como máquina. Já no século XVIII, nos referidos livros Do Espirito, de Claude Helvétius, e Sistema da natureza, do Barao de Holbach, o ser humano é concebido apenas como um complexo mecanismo. "Por falta de conhecer a energia da máquina humana, [os homens] supuseram [...] que ela era animada por um espirito" (HOLBACH, 2010, p. 138). Nogðes como espirito e alma sao deixadas de lado porque vistas como invencionice. "Inventou-se a palavra alma para exprimir fracamente as energias de nossa vida [...]. A alma, que significa nossa memória, nossa razao, nossas paixðes, nao é, pois, ela mesma mais do que uma palavra" (HELVÉTIUS, 1988, p. 289-290). Já naquela época, o que controla o ser humano é considerado únicamente como um elemento da natureza, o cérebro:
Aqueles que distinguiram a alma do corpo nada mais parecem ter feito do que distinguir seu cérebro de si mesmo. Com efeito, o cérebro é o centro comum aonde vem dar e se confundir todos os nervos espalhados por todas as partes do corpo humano. É com a ajuda desse órgao interno que se realizam todas as operagðes que sao atribuidas a alma (HOLBACH, 2010, p. 136-137).
A palavra liberdade nao ostenta ai consistencia verdadeira: "quando se aplica esse termo liberdade a vontade [...], nao se pode vincular nenhuma ideia nítida a esse termo liberdade. [...] Livre é, entao, apenas um sinónimo de esclarecido" (HELVÉTIUS, 1988, p. 158). O ser humano é considerado como desprovido de liberdade. Mais recentemente, essa já antiga concepçao de ser humano como um complexo mecanismo tem sido retomada com novos termos e conceitos, tais como neurónios, genes e DNA, por autores como Richard Dawkins (1976) e Galen Strawson (1994).
2.3Consideraçöes
Primeiramente, tecemos considerares sobre os ricos resultados a que o método científico chega. Esse método assenta-se numa intençao particular. "O conceito nuclear da teoria da Ciencia é o de verdade. Nas várias Ciencias procura-se algum tipo de verdade" (COSTA, 1999, p. 22). O resultado obtido tem sido a produçao de conhecimentos confiáveis sobre a realidade, distintos do conhecimento que é senso comum, facilmente enganável. Contudo, "a Ciencia nao alcança a verdade" (POPPER, 1975, p. 305). A história da Ciencia mostra continuamente que, quando é concedida validaçao metodologicamente científica a teoria ou leis, posteriormente podem surgir novos fatos que mostrem que essas sao falsas. O emprego do método continua aberto para que novos resultados invalidem aquela teoria ou lei e atestem sua falsidade. O método científico é estruturalmente aberto a uma permanente crítica dos conhecimentos confiáveis e a falseabilidade deles. O resultado obtido pelo método científico é quase verdade, isto é, aproximadamente verdadeiro. Tenta-se obter resultados cada vez mais próximos da realidade tal como ela é. As teorias sao como redes que sao lançadas para capturar a realidade e explicá-la (POPPER, 1975, p. 41-44; 82-98).
Uma segunda consideraçao sobre os resultados é a evidencia de que quem os obtém mediante o método científico nao começa da estaca zero. Há um patrimonio de conhecimento já obtido anteriormente. Metodologicamente, o pesquisador precisa ouvir o que já foi conseguido antes dele.
Uma terceira consideraçao sobre os resultados, os conhecimentos confiáveis obtidos, é que sua validade nao depende da confissao religiosa de quem os obtém. A fé religiosa do pesquisador permanecerá inativa, como que situada entre parenteses.
Uma quarta consideraçao sobre os resultados é o caráter de crença verdadeira que assinala os resultados ou conhecimentos confiáveis obtidos mediante o método científico. Nem toda crença é verdadeira. Uma crença pode ser falsa. "Reserva-se o termo 'conhecimento' apenas para as crenças verdadeiras" (COSTA, 1999, p. 26). Quem utiliza o método científico nao conferiu nem validou experimentalmente os conhecimentos confiáveis que usa, mas os aceita com base no crédito que atribui a origem deles como resultado do método científico e da sua aceitaçao pela comunidade científica.
Em segundo lugar, tecemos agora consideraçöes sobre as premissas do método científico. O método representa como que os pilares de sustentaçao da Ciencia:
A Ciencia repousa em pedra firme. A estrutura de suas teorias levanta-se, por assim dizer, num pântano. Semelha-se a um edificio construido sobre pilares. Os pilares sao enterrados no pântano, mas nao em qualquer base natural ou dada. Se deixamos de enterrar mais profundamente esses pilares, nao o fazemos por termos alcançado terreno firme. Simplesmente nos detemos quando achamos que os pilares estao suficientemente assentados para sustentar a estrutura (POPPER, 1975, p. 119).
Nessa analogia dos pilares, as premissas, axiomas ou princípios do método estao numa posiçao mais primordial que o método em si. Nao se trata de meros axiomas localizados já na construçao que se ergue acima, axiomas de uma teoria ou sistema teórico como considerados por Popper (1975, p. 74-79), mas axiomas do método que sustenta o edifício no qual surgem secundariamente tais teorias ou sistemas com seus axiomas também secundários. Assim como a Teologia declara, "por exigencia epistemológica, suas premissas em alto e bom som" (BOFF, 2012, p. 118), para a Ciencia moderna é também acertado faze-lo.
A primeira consideraçao é que as premissas do método científico nao sao resultados. Elas nao foram obtidas como resultado do exercício do método científico.
A segunda consideraçao é que, embora nao sejam resultados, embora nao tenham sido obtidas a partir do método científico, as premissas constituem também conhecimento confiável presente em todo exercício do método científico.
A terceira consideraçao é que a situaçao epistemológica das premissas do método científico é distinta da situaçao epistemológica dos resultados. De um lado, os resultados: 1) devem ser obtidos, validados e comprovados; 2) encontram-se numa condiçao constante de falseabilidade. De outro lado, as premissas do método: 1) nao sao resultados do método científico; 2) sua validade é afirmada sem prova, para elas "nao há demonstraçao cabal e lícita, dedutiva ou indutiva" (COSTA, 1999, p. 57); 3) as premissas nao estao abertas a falseabilidade.
A quarta consideraçao é sobre o caráter de crença verdadeira das premissas do método científico. Por crença verdadeira nao se trata: 1) da crença justificada, ou seja, crença nos conhecimentos confiáveis obtidos por outros cientistas, que sao aprendidos pelo especialista e que o poupam da necessidade de repetir as incontáveis pesquisas anteriores; 2) tampouco se trata da "fé nao científica, metafísica" (POPPER, 1975, p. 306), aquela crença na certeza das hipóteses imaginadas antecipadamente e que passarao pelo crivo da experimentaçao. Por crença verdadeira trata-se aqui de fé naquilo que, metodologicamente, ocupa posiçao mais primordial: nas premissas, axiomas ou principios que também compðem conhecimentos confiáveis, mas que nao estao abertos a falseabilidade, e que sao assumidos em base a um ato de fé. As premissas que mostramos constituem crenças verdadeiras que sustentam o método sobre o qual se ergue a Ciencia moderna, mesmo que para elas nao haja demonstraçao cabal e licita.
A quinta consideraçao diz respeito a decisao interna do sujeito que assume a objetividade de tais crenças verdadeiras. Trata-se do ato de fé (em Teologia também designado fides qua). Um ato de fé se refere a dimensao subjetiva, e designa decisao do sujeito mantida em renovaçao constante dentro dele. No método científico, a adoçao daquelas crenças verdadeiras, que sao as premissas do método, é consequencia de um ato de fé (EDITORIAL, 2010, p. 315).A visao teórica de que, no método científico, a razao atua sem interferencia de atos de fé, é portanto equivocada. No método cientifico, a razao opera só porque, anteriormente, o sujeito se dispôs num ato de fé de aceitar as premissas do método. Quem faz a reflexao pelo método científico nao está numa posiçao puramente racional, mas executando metodológica e previamente um salto de fé. Nao se trata de uma confissao religiosa, mas isso nao diminui a característica de ser um ato de fé. Metodologicamente em Ciencia, ato de fé e ato de raciocinar estao também imbricados. A clareza a respeito disso enriquece a compreensao da afinidade entre Teologia e Ciencia, e permite dizer que a Teologia é Ciencia.
3A Teologia na ciassificaçâo das ciencias
O arcabouço teórico-prático do método científico permitiu a edificaçao do sólido patrimônio de conhecimento de diversas disciplinas que desenvolveram seus métodos idiossincrásicos moldados nos passos do método científico. Costuma-se agrupar as inúmeras disciplinas científicas em dois ramos básicos: 1) Ciencias Formais (como a Matemática e a Estatística, que usam método racional a priori, ao invés do método racional e experimental a posteriori). 2) Ciencias Experimentáis (ou reais, no sentido de "da realidade"). Este se subdivide em outros dois: 2a) Ciencias da Natureza. 2-b) Ciencias Humanas. Como todo conhecimento científico é interpretativo, a denominaçao das Ciencias Humanas como Ciencias Hermenéuticas "perdeu muito de sua pertinencia" (GEFFRÉ, 1989, p. 6). No Brasil, a Coordenaçao de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nivel Superior (CAPES) organiza uma classificaçao pormenorizada das Áreas do Conhecimento e de Avaliaçao. No documento da CAPES, no inicio estao as Ciencias Formais, seguidas até o final do documento pelas Ciencias Experimentais ou reais (CAPES, 2017, p. 1-2; 2-28 respectivamente).
Na costumeira divisao das Ciencias em dois ramos básicos e sub-ramos, a Teologia vem usualmente colocada no sub-ramo "2-b", das Ciencias Humanas. Por parte da cena academica e do Estado, houve uma mudança no olhar a esse respeito, deixando de lado o influxo do cientificismo positivista marginalizante do século XIX e parte do século XX. É assim que aparece também na classificaçao da CAPES, na qual a Teologia aparece incluida (CAPES, 2017, p. 23). Contudo, historicamente a inserçao da Teologia na árvore de classificaçao das Ciencias modernas nao é isenta de controvérsias.
No passado a História registra período de marcada hostilidade entre ambas. Por um lado, da parte da Teologia contra a Ciencia, sao célebres os processos culminados no século XVII contra Giordano Bruno - queimado vivo numa fogueira em Roma- e Galileu Galilei. O núcleo mais duro dessa hostilidade a Ciencia provavelmente se verificou entre o século XVIII (em torno da Revoluçao Francesa) e o inicio do século XX.
Por outro lado, da parte da Ciencia moderna contra a Teologia, nao poucas vezes vigora uma postura inspirada na clássica ideologia positivista, que ingenuamente julga ser possível a razao operar independentemente de qualquer fé. Tal ótica leva a excluir a Teologia de qualquer rol das Ciencias, nao a deixando estar nem sequer entre as Ciencias Humanas. Uma perspectiva semelhante já se manifestava em 1770 na obra Sistema da natureza do Barao de Holbach:
As noçoes teológicas só parecem ter sido inventadas para desorientar a razao do homem, para confundir o seu juízo, para tornar o seu espirito falso, para subverter as suas ideias mais claras em todas as Ciencias. Nas maos dos teólogos, a lógica - ou a arte de raciocinar - nao foi mais do que um jargao ininteligível, destinado a sustentar o sofisma e a mentira [...]. Inimiga nata da experiencia, a Teologia, essa Ciencia sobrenatural, foi um obstáculo intransponível para o avanço das Ciencias naturais (HOLBACH, 2010, p. 730).
Tal visao atingiu seu ápice a partir do século XIX e se carregou de hostilidade a Teologia, com afirmaçöes na linha desta do filósofo Friedrich Nietzsche em 1888: "quem possui sangue de teólogo no corpo, já tem, ante todas as coisas, uma atitude enviesada e desonesta. [...] O que um teólogo percebe como verdadeiro, tem que ser falso" (NIETZSCHE, 2007, p. 15-16). Ambientes marcados por semelhantes ideologias de rebeldia antiteológica sustentam que nao faz sentido considerar como Ciencia um ramo do conhecimento que trate sobre Deus e que faça recurso a fé e a revelaçao divina, pois atos de fé assinalariam, no mínimo, a infantilidade da condiçao humana, e provavelmente sua deturpaçao. Contudo, entrar nesse acirramento mútuo de ánimos impede a racionalidade.
3.1O estatuto científico da Teologia
As reflexðes sobre o estatuto científico da Teologia compðem um tema clássico nos estudos teológicos, abordado de vários modos (LATOURELLE, 1971, p. 47-53; PANNENBERG, 1973, p. 225-348; FRIES, 1987, p. 146-176; HERCSIK, 2004).
Um marco na consideraçao da questao é S. Tomás de Aquino em STh I, q.1, a.2, que a examinou com o pressuposto da noçao aristotélica de Ciencia, de cunho metafísico. Por um lado, Ciencia (scientia) em Tomás tem o sentido de conhecimento da essencia das coisas e de suas causas, elevado do campo dos acontecimentos perceptíveis pelos cinco sentidos, e alcançado o campo do ser e da essencia. Por outro lado, a Teologia é referida em S. Tomás como sacra doctrina. Tomás manifesta-se positivamente sobre a relaçao entre ambas: "Respondo dizendo que a doutrina sagrada é Ciencia", acrescentando na sequencia: "e desse modo [... :] aceitando os princípios revelados a ela por Deus" (STh I, q.1, a.2, c).
Contudo, para a compreensao de Ciencia no sentido moderno, a conclusao de Tomás nao é de grande ajuda porque, embora a palavra Ciencia seja identica, o significado do conceito passou por grande transformaçao. Segundo a compreensao atual, com o termo Ciencia indica-se uma disciplina que possui um objeto próprio (que pode ser de ordem experimental, humana, histórica ou abstrata), um método idiossincrásico moldado no método científico, e que conduz a uma síntese comunicável e verificável pelos demais (HERCSIK, 2004, p. 52).
A Teologia, por um lado, enquanto Ciencia, vale-se e beneficia-se com o sistemático caminho metodológico das Ciencias modernas. A Teologia é uma disciplina que possui um objeto próprio e um método idiossincrásico moldado no método científico, que conduz a uma síntese comunicável e verificável pelos demais. A Teologia é Ciencia (no sentido moderno deste termo) em determinada perspectiva. Por outro lado, o método teológico incorpora também elementos que nao fazem parte do moderno método científico. A Teologia nao é Ciencia sob outra perspectiva. Tais parámetros serao sistematicamente reagrupados nos dois tópicos seguintes.
Na questao do estatuto científico da Teologia provavelmente temos um caso no qual pode ser aplicada a Lógica paraconsistente10. Nos termos da Lógica paraconsistente, provavelmente sao significativamente válidas as duas afirmaçöes: a Teologia é Ciencia, e a Teologia nao é Ciencia. Elas sao contraditórias pelo sistema conceitual da Lógica clássica, a Lógica aristotélica, com seu princípio de nao contradiçao: uma proposiçao nao pode ser verdadeira e falsa ao mesmo tempo, sem incorrer em "colapso doxástico (acredita-se em tudo) ou trivialidade (tudo é demonstrável)" (COSTA, 1999, p. 63). A Lógica paraconsistente maneja "sistemas de proposigðes que podem encerrar contradiçöes (inconsistencias), sem o perigo permanente de trivializaçao (de tudo ser demonstrável)" (COSTA, 1999, p. 86-87; 289).
3.2Algumas diferenças entre o método teológico e o científico
3.2.1Confissao religiosa
Durante o exercício da Teologia é necessária a inserçao numa confissao religiosa. Isso é válido para qualquer Teologia: católica, protestante, judaica, islámica, umbandista. O teólogo nao está em cima do muro no que diz respeito a pertença a uma religiao, ele trabalha a partir de uma perspectiva de dentro da confissao religiosa. Para o trabalho na interface entre a Teologia e as demais disciplinas científicas, mormente as Ciencias da Religiao, é valioso o conhecimento desta que é a mais substancial diferença epistemológica entre as duas vertentes: "reflexăo 'de fora' (Ciencia da Religiao) e [...] reflexăo 'de dentro' (Teologia)" (HOCK, 2010, p. 214).
Em Teologia e Ciencias da Religiao, o objeto material de estudo é semelhante: temas da religiao. Por um lado, as Ciencias da Religiao estudam os fenómenos religiosos imanentes. Por outro lado, a Teologia afirma que eles sao elementos penúltimos, suscitados pala manifestaçao de uma realidade transcendente. O foco principal dos estudos da Teologia recai sobre tal elemento último.
Apesar de o objeto material de estudo ser semelhante, o objeto formal (isto é, o ponto de vista ou perspectiva) será bem diferente. Uma coisa é estudar temas religiosos com a perspectiva da Teologia, que é confessional. É tal adesao metodológica que legitima o discurso da Teologia sobre o elemento último, aquela realidade transcendente. Outra coisa é estudar temas religiosos com a perspectiva das Ciencias da Religiao, que será a ótica nao confessional. Metodologicamente, a Ciencia moderna prescinde de Deus. "Qualquer entidade que, por definiçao, existe além das leis naturais, está além da esfera da Ciencia" (GLEISER, 2011). Durante o exercício de seu trabalho, o cientista da religiăo colocará sua fé religiosa como que entre parenteses, sem deixar que ela interfira sobre os resultados de sua pesquisa científica. Ora, afirmagðes sobre igualdade ou desigualdade de valor de coisas divinamente originadas ultrapassam o limite posto pelo moderno método científico de se prescindir de Deus e, portanto, năo possuem estatuto científico. Isso é relevante para o caso de estudos que adotam a teoria pluralista das religiðes. Tratase de uma teoria que faz juízos sobre revelagðes divinas. A teoria pluralista das religiðes sustenta que, de um modo geral, as diferentes revelagðes divinas das diversas tradigðes religiosas de todo o mundo tem valor semelhante. Essa é uma nogăo fora de qualquer confissăo religiosa e, portanto, metodologicamente năo é teológica. Por tematizar entidade que existe além das leis naturais, tal teoria é também năo científica, incompatível com as Ciencias da Religiăo.
3.2.2Conversao
Outro elemento distintivo do método teológico é a conversăo. Ela guarda uma analogia com o aprego e a valorizagăo da ética pelo cientista. Contudo, a vida ética e honesta, embora louvável, năo constitui um passo ou movimento do método científico. Ao contrário, a conversăo de quem faz Teologia é um elemento próprio do método teológico e sempre incide sobre a Teologia que se produz (LONERGAN, 2012, p. 303). Conversăo significa entrar numa relagăo de diálogo e convivencia com uma realidade que năo é uma coisa ou algo, mas um Alguém dialogante e reconhecido como o Santo por excelencia (íPd 1,15; Lv 19, 1-2). A entrada e perseveranga na conversăo coloca a pessoa no dinamismo denominado reinado de Deus (AQUINO JÚNIOR, 2010, p. 187-197). Significa insergăo num determinado modo de proceder que acarreta consequencias existenciais relevantes. Trata-se de uma santidade que toma prejuízo fazendo o bem (nunca o mal) aos demais. Tratase também de uma santidade de proximidade com os sofredores, os pobres e os fracos. A conversăo é levada a cabo num mundo cujo modo de proceder vai em diregăo contrária, no dinamismo denominado antirreino, de levar vantagem em tudo e de afastar-se dos pequenos, pobres e sofredores. A insergăo numa determinada diregăo, vivendo no mundo que vai noutra diregăo, faz com que a conversăo "seja algo conflitivo e que encontré enormes resistencias e oposiçöes" (AQUINO JÚNIOR, 2010, p. 197).
3.2.3 Nao existe natureza pura
Para o método teológico inexiste uma natureza pura, isto é, uma "natureza completa, consistente, suficiente, independente por ela mesma em relaçao a qualquer 'ordem' superior" (DE LUBAC, 1946, p. 174). Toda a realidade do cosmo depende em sua existencia de uma ordem que está além dele, que o transcende e, nesse sentido, lhe é superior. Tal ordem superior nao consiste em alguma forma de energia, nem um vasto sistema impessoal, como um principio mecánico e neutro. Trata-se de um Alguém sem qualquer conotaçao mecánica, que em liberdade plena tem um viés ou inclinaçao que, em linguagem humana, pode ser palidamente descrito como amor gratuito e incondicional que toma prejuizo fazendo o bem (nunca o mal).
3.3 Algumas semelhanças entre o método teológico e o científico
3.3.1Ato de fé
Neste assunto, há uma diferença atual entre Teologia e Ciencia moderna. A Teologia declara, "por exigencia epistemológica, suas premissas em alto e bom som" (BOFF, 2012, p. 118), ao passo que é raro encontrar a temática das premissas nos estudos de metodologia científica. Vimos aqui que, no método científico, a adoçao das crenças verdadeiras, que sao as premissas do método, é consequencia de um ato de fé. "A Ciencia é muitas vezes contrastada com a crença, mas a verdade é que a crença desempenha um papel tao grande na Ciencia quanto na maioria das outras áreas da atividade humana" (LONERGAN, 2012, p. 58).
Nao se trata aqui meramente: 1) da crença justificada, isto é, crença nos conhecimentos confiáveis obtidos por outros cientistas, conhecimentos que se aprendem ao longo da formaçao científica e que poupam a pessoa da necessidade de ter que repetir todas as incontáveis pesquisas que os geraram; 2) tampouco se trata daquela "fé nao científica, metafísica" (POPPER, 1975, p. 306) a respeito da autenticidade das hipóteses imaginadas antecipadamente e que passarao pelo crivo da experimentaçao.
Antes, refere-se aqui, a fé na veracidade das premissas do método científico, para as quais "nao há demonstraçao cabal e lícita, dedutiva ou indutiva" (COSTA, 1999, p. 57). Foram aqui mostradas oito delas. Elas também compðem conhecimentos confiáveis, e sao assumidas em base a um ato de fé. Nao foram obtidas como resultado do emprego do método científico, e tampouco estao abertas a falseabilidade. A clareza a esse respeito estabelece parámetros para enriquecer a compreensao da afinidade entre Teologia e Ciencia. Em ambas, o funcionamento da razao se verifica posteriormente a um ato de fé dado pelo sujeito. Em Teologia, o ato de fé metodológico se dá dentro de uma confissao religiosa. Em Ciencia, ele nao é feito dentro, mas fora de uma confissao religiosa. É um ato de fé nas premissas do método científico. Estas compðem princípios epistemológicos válidos, presentes em todo exercício do método científico, mas que sao afirmados sem prova, sem aquela demonstraçao cabal e lícita, dedutiva ou indutiva.
3.3.2Cinco passos ou movimentos
Os cinco passos ou movimentos do método científico que consideramos anteriormente tem cidadania no exercício da atividade teológica.
1.O ponto de partida é um assunto que precisa ser esclarecido. É indispensável ter gosto por ele. Por exemplo, em Teologia há um esquema clássico de se trabalhar um tema num autor, desde que ambos sejam relevantes. Por autor se compreende, por exemplo: um livro da Sagrada Escritura; um Padre da Igreja; um concilio; um teólogo da Escolástica ou do tempo moderno. Em tal esquema clássico, ve-se que naquele autor se encontra o importante elemento X, que é relevante pelo motivo Y e que apresenta o assunto ou problema Z a ser esclarecido. Faz-se entao a caracterizaçao geral da questao, reunindo-se os dados relevantes. Com eles compðe-se o estado da questao. Em Teologia esse primeiro passo ou movimento é usualmente designado auditus fidei, a escuta da fé. É imprescindível um dominio satisfatório do patrimônio anterior de conhecimento.
2. Com o segundo passo ou movimento inicia-se o que em Teologia se chama de intellectus fidei: a reflexao sobre a fé. Quem faz Teologia formula entao hipóteses sobre a questao que se propðe a esclarecer. Trata-se de uma arte, mas que, para ser praticada, requer o prévio domínio do patrimônio anterior de conhecimento. Sem este, a arte do passo 2 nao é possível. No caso do esquema comum que tomamos como exemplo, de se trabalhar uma questao num autor, tratase da arte de formular alguma hipótese sobre aquela questao que se propðe a esclarecer.
3. O raciocinio sobre a fé -intellectus fidei- prossegue com a deduçao de previsðes a partir das hipóteses formuladas sobre a questao. Em Teologia, as previsðes podem ser como aquelas de uma Ciencia que trabalhe com pesquisa bibliográfica, como a História. Na pesquisa bibliográfica, os dados sao coletados nos documentos e obras escritas. Nessa metodologia também se fazem previsðes. Estas se dao a respeito de fontes ou documentos que ainda poderao ser encontrados. A Ciencia da História nao é inferior, nem deixa a desejar nesse ponto, em relaçao as Ciencias experimentais (CLELAND, 2001). Analogamente como para a Ciencia da História, na Teologia se pode prever que aquilo que se encontrará em novas fontes ou documentos ainda desconhecidos coincidirá com o que está afirmado nos documentos que já se conhece. No caso do esquema comum que tomamos como exemplo, de se trabalhar uma questao num autor, preve-se que os documentos daquele autor que forem encontrados ou pesquisados, se falarem daquela questao dirao tal e tal coisa.
4. O intellectus fidei prossegue. Trata-se agora de comprovar a verdade da previsao, ou demonstrar que ela é falsa. Na pesquisa bibliográfica, é nos documentos e obras escritas que os dados sao coletados, para em seguida serem analisados e interpretados. Se a pesquisa bibliográfica mostrar que a previsao oriunda da hipótese acontece, entao a hipótese está no bom caminho. Contudo, se a hipótese estiver em desacordó com o que se obtém na pesquisa bibliográfica, entao a hipótese é falsa.
5.Finalmente faz-se a publicaçao do estudo e dos resultados obtidos. O quinto passo ou movimento nao é menos importante, nem opcional. O trabalho será examinado e comprovado pelos demais pesquisadores da área e, após passar por tal exame, será integrado ao patrimonio de conhecimento teológico.
Conclusao
Muitos elementos fundamentais do método teológico já estavam claros antes do advento da Ciencia moderna. A chegada desta significou a instauraçao de um poderoso caminho para a produçao de conhecimentos confiáveis. A via do moderno método científico adquiriu posiçao de protagonismo e configurou a atual cena científica, que expðe o método teológico a exigencias de precisao e de crítica.
Mediante o delineamento dos dois métodos, deu-se particular enfase ao tema das premissas ou axiomas do método científico. Por um lado, evidenciam-se elementos em comum entre ambos. Em primeiro lugar, nos dois métodos o funcionamento da razao acontece posteriormente a um ato de fé. No método científico, trata-se de um ato de fé na veracidade das oito premissas do método. Elas sao conhecimentos confiáveis, mas para os quais nao há demonstraçao científica. Elas tampouco estao abertas a serem declaradas falsas. Em segundo lugar, ambos os métodos podem ser esquematizados nos mesmos cinco passos ou movimentos.
Por outro lado, faz-se ver que o método teológico possui elementos que nao encontram correspondencia no método científico: confissao religiosa, conversao e inexistencia de uma natureza pura.
Na atual cena científica, uma interface importante tem sido aquela entre a Teologia e as Ciencias da Religiao. Por um lado, as Ciencias da Religiao estudam os fenómenos religiosos imanentes, que a Teologia denomina elementos penúltimos, suscitados por uma realidade transcendente e última. Por outro lado, o foco principal dos estudos da Teologia recai sobre tal elemento último e transcendente. Do ponto de vista metodológico, o que legitima o discurso da Teologia sobre o ámbito divino é a adesao a uma confissao religiosa. O moderno método científico, com seu pressuposto da natureza pura, pðe o limite de se prescindir de qualquer ordem superior as leis da natureza. Quando uma Ciencia tout court se pðe a elaborar discursos (como a teoria pluralista das religiðes) sobre semelhança ou dessemelhança de valor de coisas que se originam de uma ordem assim superior, ela ultrapassa tal limite e produz afirmaçðes que nao possuem estatuto científico.
Artigo submetido em 09 de abril de 2018 e aprovado em 02 de maio de 2019.
1 "Eine methodische Grundlagenbesinnung gehört zu den vordringlichsten nach konziliaren Aufgaben der Theologie. Eine solche Methodenbesinnung sieht sich heute unausweichlich dem Anspruch methodischer Exaktheit ausgesetzt, wie er von der modernen Wissenschaft ausgeht. Unser Zeitalter ist in seinem Verständnis von Wirklichkeit und Wahrheit durch Wissenschaft und Technik bestimmt. Das Wesen dieser Wissenschaft ist die Methode, das heißt der planmäßige, reflektierte, dauernd kritisch abgesicherte Weg zu einem ganz bestimmten Erkenntnisziel [...]. Dieses moderne Methodenbewußtsein hat nicht nur die Theologie, sondern alle Geisteswissenschaften in eine äußerst kritische Lage versetzt".
2 O artigo foi originalmente enviado em maio de 2018. O livro apareceu em 2019 com o título Método teológico e Ciencia.
3"Das überlieferte Christusereignis zusammen mit der daraus entspringenden Geisterfahrung der Kirche ist und bleibt das Fundam ent. Sobald aber [...] verlangt dieses Fundament selbst danach, daß auf ihm weitergebaut wird".
4'auf ihm [dem Fundament, dem Christusereignis] weitergebaut wird".
5 'What we need is imagination, but imagination in a terrible strait-jacket".
6 "Laws of nature [...] exist independently of the minds which attempt to grasp them".
7 "The best characteristic of physical law is its universality".
8 "[cette] nature comme complete, consistante, suffisante, indépendante par elle-meme a l'égard de tout 'ordre' supérieur".
9 "[Elle] s'y introduit comme de biais, sans jamais faire l'objet d'une discussion en regle".
10Uma definiçao sucinta das diferenças entre Lógica paraconsistente e Lógica clássica (que é a Lógica aristotélica, com o principio de nao contradiçao) encontra-se em Costa (1999, p. 86). Um esboço histórico da Lógica paraconsistente está também em Costa (1999, p. 101-104; 289-290; 298-300).
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Abstract
O advento da Ciencia moderna e seu método expôs o método teológico a novas exigencias. O objetivo do artigo é justificar metodologicamente a presença da Teologia entre as disciplinas científicas. A metodologia é a da pesquisa bibliográfica. O artigo evidencia os elementos em comum entre o método científico e o teológico e suas peculiaridades, com enfase nas premissas de ambos. Essa abordagem é inédita na literatura metodológica. Isso permite, por um lado, evidenciar os elementos em comum. Primeiro, o ato de fé. Em Ciencia faz-se um ato de fé naquelas premissas do método, pois para elas nao há demonstraçao cabal, nem estao elas abertas a falseabilidade. Tal abordagem é também inédita. Sao evidenciadas oito dessas premissas do método científico. Uma das premissas é a da natureza pura, cuja origem é examinada. Essa premissa é pela primeira vez trazida a reflexao sistemática sobre o método científico. Segundo, o seguimento da sequencia de cinco passos metodológicos. Por outro lado, o artigo evidencia os elementos distintivos entre os dois métodos. A adesao a uma confissao religiosa é a principal diferença epistemológica entre a Teologia e a Ciencia, em particular as Ciencias da Religiao. Para essas isso traz consequencia.