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Introdução
A busca por autoconhecimento e a realização de uma mudança pessoal são temas comumente associados à prática da psicoterapia, assim como momentos de ruptura com um modo de vida e instabilidade afetiva (Strijbos & Jongepier, 2018). O artigo procura mostrar como esses temas podem ser pensados a partir da Analítica do Dasein, publicada por Martin Heidegger em Ser e Tempo. O enfoque apresentado é o de que Heidegger, ao escrever a obra, comunica uma mudança pessoal, de modo que, além de ser uma referência teórica para a psicologia fenomenológico-existencial, Ser e Tempo pode ser considerado um exemplo de como autoconhecimento e mudança pessoal acontecem, do ponto de vista existencial.
Autoconhecimento e mudança pessoal são construções do artigo, de um ponto de vista psicológico; não são, portanto, propostos por Heidegger. Tomar Ser e Tempo como um exemplo para processos psicológicos é uma possibilidade de pensamento a partirda obra. Possibilidade esta que o artigo desenvolve, sem atribuir a Heidegger esta mesma intenção.
Em Ser e Tempo(1927/2012), Martin Heidegger apresenta um estudo fenomenológico do ente que nós mesmos somos, a fim de realizar um projeto mais amplo: o questionamento do sentido de 'ser', ou seja, explicitar o que queremos dizer, quando dizemos que algo "é".
A estratégia de Heidegger é iniciar o questionamento de 'ser' pelas condições em que este questionamento é realizado: o ente humano - em seu modo de ser - apresenta a possibilidade de questionamento do ser; então, o filósofo, primeiramente, descreve o modo de ser do ente que pode questionar o ser. A Analítica do Dasein é esta descrição. Dasein1 é o termo que Heidegger emprega para nomear o ente que nós mesmos somos.
Esse ente que somos cada vez nós mesmos e que tem, entre outras possibilidades-de-ser, a possibilidade-de-ser do perguntar, nós o apreendemos terminologicamente como Dasein. Fazer expressamente e de modo transparente a pergunta pelo sentido de ser exige uma adequada exposição prévia de um ente (Dasein) quanto ao seu ser (Heidegger, 1927/2012, p. 47).
É característico de uma exposição fenomenológica, o ponto de vista da 1ª pessoa. A ideia de 'fenômeno' significa que as características daquele que elabora o conhecimento são constituintes desse conhecimento, uma vez que são essas características que possibilitam...





