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A presente tese tem como objeto de estudo concreto o secessionismo catalão e pretende contribuir para uma compreensão aprofundada da génese e evolução complexa, como também das metamorfoses e sentido ideológico da trajetória histórico-política deste fenómeno político e social que, hoje como ontem, continua de viva atualidade no seio do Estado espanhol.
Com este intuito e com base em alargada investigação, desenvolve-se uma abordagem integrada que, permeada por uma atitude interrogante, estuda, por um lado, os fatores históricos, sociopolíticos e culturais que animam e concorrem a explicar a formação e a sedimentação da reivindicação catalã por independência e, por outro lado, quais os seus agentes impulsores e mobilizadores, impetusgalvanizadores, mutações e continuidades político-ideológicas num período que vai desde as últimas décadas do século XIX até aos nossos dias. Transcorre-se, deste modo, todo um percurso histórico que, partindo do momento da gestação histórica do fenómeno analisado, termina no momento do seu recrudescimento recente.
Perscrutar e interpretar o secessionismo catalão na longa duração, isto é, desde os seus fundamentos primários até aos anos mais recentes é, assim, o objetivo nodal deste estudo que tem nas temáticas das identidades coletivas, do lugar das pequenas nações e sua relação com os grandes estados os seus pontos de ancoragem.
Neste quadro, as questões de pesquisa, orientadoras da investigação, que colocámos são estas: Quando e como surgiu o secessionismo catalão? Que fatores históricos, políticos e socioculturais promoveram uma tão radical mutação no plano da representação dos interesses da Catalunha no seio do Estado espanhol conducente à emergência e posterior recrudescimento deste fenómeno? O que é que o caracteriza de um ponto de vista histórico, político e social? Por outro lado, não podendo ignorar-se o prognóstico moderno do fim próximo dos Estados nacionais, das identidades que lhe estão associadas e do ideário nacionalista que postula que a cada nação deve corresponder um Estado próprio, perguntámos ainda: porquê que as vontades de autodeterminação nacionais e desejo criação de novos Estados soberanos (entre os quais uma República Catalã independente) não parecem ter perdido a atratividade de outras épocas históricas?
Para responder a estas questões, que modelam a razão de ser da investigação realizada, principia-se, por via de uma articulada pluralidade de fontes, por uma análise histórica e diacrónica das formas de enquadramento político e social da vida coletiva e por traçar um itinerário sematológico que, com rigor, possibilite perceber do que falamos quando falamos de secessionismo em geral e de secessionismo catalão em particular. Em complementaridade aos núcleos teórico-conceptuais e visando-se um aprofundamento do tema de estudo, exploram-se as raízes da catalanidade, isto é, do conjunto de representações que a Catalunha, enquanto comunidade humana, construiu sobre si mesma e que conformam a ideologia sustentadora de uma consciência identitária diferenciada. É nesta última que vamos encontrar os antecedentes primários de dois dos fenómenos histórico-políticos mais marcantes da História política catalã: o nacionalismo e o secessionismo, os quais, partindo de um tronco comum – o catalanismo – prosseguem finalidades diferenciadas.