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«Um dos meios mais poderosos e de efeitos mais seguros para o triunfo de uma causa é sem dúvida a Imprensa. Não há povo, sociedade, instituição, que ela não haja atingido; a religião, a política, as ciências, as artes tem nela o mais valioso sustentáculo, a maior força de expansão e de penetração. Ser-nos há permitido a nós, católicos, depor arma tão poderosa, arma que os inimigos da Igreja têm usado com tanto êxito? De modo nenhum; pelo contrário, devemos utilizá-la desassombradamente em prol da boa causa, a causa da verdade, da justiça, do amor - a causa de Deus.»
Em Portugal, a ampla proliferação da imprensa, na época liberal, suscitou uma enorme discussão no Parlamento relativa a um projecto de lei sobre a liberdade de imprensa aí apresentado. Desde então a imprensa periódica foi abundantemente utilizada como novo veículo de expressão política, mas não só. Na primeira vintena do século XIX, verifica-se, também, a proliferação do periodismo católico, cujo objectivo primeiro era o combate aos ataques «impios e immoraes» provenientes de «Livros Estrangeiros».4
Nascida inicialmente em território continental, alguns anos mais tarde, surge também nas colónias portuguesas uma imprensa periódica missionária, à semelhança do que acontecia nas missões estrangeiras, que começa a editar folhetos, boletins, revistas, jornais, etc.
Nas últimas décadas do século XIX, emergem e revitalizam-se «inúmeras instituições metropolitanas e coloniais orientadas para a produção de conhecimento sobre oscomplexos coloniais» e são as próprias administrações ultramarinas a mobilizarem «um novo tipo de conhecimento sobre os territórios coloniais». Para este efeito, as autoridades e instituições desenvolvem a imprensa periódica (anuários, relatórios, etc.) através da qual vão proporcionando o conhecimento destes territórios: «multiplicam-se os loci de produção de informação sobre as mais variadas manifestações do espaço colonial, desde a esfera religiosa à esfera estatal, da esfera privada à esfera pública.»
Desta forma, o periodismo missionário desenvolveu-se devido à sua importância na difusão da actividade missionária, entre outras, como veremos ao longo deste trabalho.
1. Objecto de Estudo
Apesar deste periodismo se revestir de elevada importância para o estudo do Estado Novo, da História Religiosa e da Imprensa Periódica, no geral, e da Missionária, em particular, bem como para diversas áreas - a nível religioso, político, social, cultural, ideológico -, até à actualidade desconhece-se o seu universo e o seu conteúdo. Alguns trabalhos dão-nos o balanço para o período anterior , mas para esta época existe, de facto, uma lacuna . Já em 1960, José Júlio Gonçalves apontava para a necessidade de se elaborar um inventário que contemplasse tais publicações. Mais recentemente, no Dicionário de História de Portugal, é salientada a falta de um estudo sobre a imprensa católica, incluindo a missionária.
Assim, esta investigação tem como objecto identificar, quantificar e classificar a imprensa periódica missionária cristã, incluindo a católica e a genericamente designada como protestante, no período compreendido entre 1926 e 197411 , editada em Portugal eas colónias portuguesas, ou aqui distribuídas , e perceber a sua relevância no universo ultramarino e na metrópole.
Na primeira parte introdutória “A” comentámos a metodologia adoptada para o desenvolvimento deste trabalho, que exigiu uma enorme disponibilidade temporal para a reunião do corpus. Por esta razão, o estudo introdutório “B” ficou limitado aos aspectos que nos deram maior segurança na construção do catálogo, devido à necessidade de repartir o parco tempo disponível com a elaboração deste. Um trabalho desta natureza obriga a uma circunscrição das publicações, sem a qual seria praticamente impossível seleccioná-las. Assim, foi definido o âmbito conceptual que procurou demarcar a escolha dos periódicos. A elaboração do catálogo obrigou-nos a adoptar uma série de regras que permitissem uniformizar a sua apresentação. Desta forma, expomos a organização do inventário e as normas orientadoras para a sua leitura, bem como as suas limitações. Depois, procurámos compreender a origem da imprensa periódica missionária nas colónias portuguesas.