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A presente investigação procura trazer à luz do dia “ um fragmento de história perdida” do Estado Novo ocorrido nos anos 50 e 60 do século passado : a colisão entre o jornalismo infanto-juvenil, nascido da iniciativa privada e a acção da Censura , no quadro autoritário do regime político salazarista. Trata-se de determinar o momento em que o Estado Novo ganhou consciência de necessidade em domesticar as “histórias em quadrinhos”, como se designavam na altura as “ bandas desenhadas” , que de forma avassaladora tomaram conta dos periódicos infanto-juvenis a partir dos anos 40. A estratégia assentou em dois pilares : o primeiro a criação de estruturas especializadas de censura infanto-juvenil , a Comissão Especial para a Literatura Infantil e Juvenil, entre 1950 e 1952 e a Comissão para a Literatura e Espectáculos para Menores , entre 1953 e 1974 e o segundo , a definição de “códigos”- “Instruções sobre Literatura Infantil”- e orientações com natureza jurisprudencial que procuraram dar coerência aos actos censórios. Mas a campanha de moralização levada a cabo pelo Estado Novo ganha outro significado se olharmos para o contexto internacional , com particular relevo para os EUA, o Reino Unido , a França e a Espanha. Essa perspectiva dará outra dimensão ao censor português que pode ser visto e se vê a si próprio como um censor universal. Os dados mais significativos apontam para uma estratégia que procurou funcionar a dois tempos : intimidação para as publicações nacionais e repressão para as importações estrangeiras. Mas o objectivo de deslegitimação das “ histórias em quadrinhos” não teve o sucesso desejado já que um dos mais importantes parceiros da campanha de moralização, a Mocidade Portuguesa, funcionou em contraciclo acabando por ajudar ao reconhecimento cultural da BD. O balanço final permite dizer que o momento censório infanto-juvenil acabou por ter, entre nós, uma expressão contida que não impediu a gradual afirmação cultural da banda desenhada nos anos 60 e 70, à semelhança aliás do que ocorreu no resto do Mundo.