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Neste estudo, procede-se à primeira cartografia do subgénero literário do romance de estrada (road novel) e da sua contraversão (o contrarromance de estrada) na literatura portuguesa. Acima de tudo, pretende-se (i) aferir a representatividade das duas categorias genológicas no panorama literário português, (ii) deduzir as principais características, tendências e inflexões evolutivas que elas aí apresentam, inclusive por referência a conformações exógenas e heteromediais (em particular, o filme e o contrafilme de estrada) já estudadas por outros investigadores, e (iii) interrogar a maior ou menor heterogeneidade dos tratamentos que propõem do tema da mobilidade, que lhes é comum. Embora uma indagação com este fôlego não dispense a referência a múltiplas obras enquadráveis nas categorias genológicas em estudo, o principal corpusliterário de trabalho é composto por dois antecedentes diretos do romance de estrada – Viagens na minha terra(1846), de Almeida Garrett; Vinte horas de liteira(1864), de Camilo Castelo Branco –, seis romances de estrada – O homem que matou o Diabo(1930), de Aquilino Ribeiro; O anjo ancorado(1958), de José Cardoso Pires; Conhecimento do inferno(1980), de António Lobo Antunes; A jangada de pedra(1986), de José Saramago; Se fosse fácil era para os outros(2012), de Rui Cardoso Martins; A educação dos gafanhotos(2020), de David Machado – e três contrarromances de estrada – O vale da paixão(1998), de Lídia Jorge; Os meus sentimentos(2005), de Dulce Maria Cardoso; Myra(2008), de Maria Velho da Costa.