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Numa reflexão sobre a sociedade portuguesa no período do governo efetivo da rainha D. Maria I, entre 1777 e 1792, e as suas representações, parece-nos faltar uma perceção mais detalhada sobre a relação entre os autores e os recetores da produção de cultura, bem como sobre os espaços em que ela se legitima.
Com esta investigação, pretendemos questionar de que forma a articulação entre os espaços, quer públicos quer privados, e os autores e os recetores da produção de cultura permite relacionar as ideias com as práticas de cultura, apresentando-se uma visão relacional sobre o campo da cultura no último quartel do século XVIII.
Ao longo do século XVIII, percecionamos um confronto entre dois paradigmas, o tradicional e o moderno, que produz-se no termo entre a ordem pública e a privada, entre a fruição das letras e o domínio das regras de utilização da palavra. Da mesma forma, nas comunidades de convívio intelectual cedo se fazem notar as categorias de pensamento das Luzes.
Na análise do campo da cultura setecentista, abordamos as interações entre a produção, o consumo de ideias e a comunicação das mesmas, entre as representações coletivas e as condutas pessoais, das instituições e das suas práticas, de modo a uma melhor compreensão do novo espaço público, em que se projetam as tensões ideológicas da segunda metade de Setecentos.
Com esse objetivo, propomo-nos elaborar uma análise do perfil e das redes de contactos dos intelectuais, identificando as suas sociabilidades, as relações entre si e com a Corte. Consideramos igualmente indispensável um estudo sobre o mecenato e a clientela, numa relação de patrocínio e proteção, sendo relevante a elaboração de redes mais ou menos formais de colaboração, quer entre indivíduos quer entre as instituições de cariz cultural que os acolhem.
Sendo o tema central da tese o campo da cultura nos últimos decénios do século XVIII, com ênfase nos intelectuais, nas sociabilidades e na Corte, realçámos os perfis de alguns doutos portugueses que, a nosso ver, podiam ter contribuído para a divulgação do novo programa das Luzes, e que mais se destacaram nos diferentes círculos de convívio intelectual e na Corte.
Tal como pretendemos elaborar uma representação dos intelectuais, parece-nos também importante compreender a atuação da soberana, avaliando o que conseguiu ou não implementar, o que pode ter a sua marca e o que pode ser influência das personalidades que a rodeiam.
Desta forma, procuramos atender ao campo de interações entre a produção e o consumo de ideias e a comunicação, as representações coletivas e as condutas pessoais, através das obras, das instituições e das suas práticas, bem como da transmissão epistolar, para melhor compreendermos este novo espaço público, onde se podem projetar as tensões ideológicas de finais do século XVIII.