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Cinema é política
Jean-Pierre Gorin fala sobre o Grupo Dziga Vertov, que criou com Godard
Porta-voz de um cinema maoísta, experimental e revolucionário -- adjetivos capazes de enfartar miocárdios cinéfilos de esquerda -- o diretor francês Jean-Pierre Gorin é um exemplo de elegância. Percebe-se, por seu discurso, que Jean-Luc Godard, seu amigo no passado, é um nome que ele agora repudia, que Michael Moore não passa de um fanfarrão e que "Cidade de Deus" não é a coca-cola toda que seus conterrâneos europeus lhe venderam. Mas em nenhum momento, este fundador da confraria de radicais realizadores chamado Grupo Dziga Vertov, cuja explosiva obra em média e longa-metragem -- a maioria inédita por aqui -- estará em exibição de hoje a domingo no Centro Cultural Banco do Brasil, é direto ao pôr o talento (ou o caráter) de um colega em xeque.
-- Fazer cinema é algo complexo, até um filme ruim exige esmero de seu realizador. Nunca seria capaz de estabelecer, assim de imediato, numa entrevista de jornal, um senso sobre um filme de que não tenha gostado muito. Já quando gosto, seria capaz de me rasgar em elogios -- disse Gorin ao GLOBO, por telefone, antes de chegar à cidade para o festival, que agrega nove filmes, entre eles "Vento do leste", com participação de Glauber Rocha.
A excessiva prudência de Gorin é indício de que seus 62 anos começam a pesar. Ou pelo menos a amansar uma fera que,...