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CLARK INTERATIVA
UM DOS PRINCIPAIS CRÍTICOS DA ATUALIDADE, YVE-ALAIN BOIS FALA DE SUA RELAÇÃO COM A BRASILEIRA LYGIA CLARK, QUE CONHECEU EM PARIS EM 68, DISCUTE SEUS TRABALHOS "PARTICIPATIVOS" E LEMBRA SEU MAL-ESTAR COM O MERCADO DE ARTE
JANE DE ALMEIDA
ESPECIAL PARA A FOLHA
O crítico de arte Yve-Alain Bois agora faz parte do corpo de pesquisadores do "Institute", instituição onde trabalharam estrelas como Albert Einstein, Kurt Gödel, Von Neumann e, no campo das artes, Erwin Panofsky. Depois de 15 anos no departamento de história da arte e arquitetura da Universidade Harvard, Bois terá o tempo que quiser para pesquisar o que bem entender no "Institute".
Conhecido pela exposição "L'Inform - Mode d'Emploi", realizada em Paris em 1996 em co-autoria com Rosalind Krauss, Yve-Alain Bois é autor de livros como "Matisse e Picasso" (Melhoramentos), "Piet Mondrian", entre outros. É também co-editor da revista "October".
Muitas das suas posições como crítico e historiador da arte causaram polêmica, como a defesa de um certo ponto de vista formalista que o fez ser considerado um "Greenberger" ou seguidor de Clement Greenberg [crítico de arte americano, 1909-94].
Em "Painting as Model", defende uma posição contrária a vários dogmatismos acadêmicos aos quais ele chama de "blackmail", como teorizar em excesso ou ser contrário à teoria; a obrigação de ser "antiformalista"; a obrigação de oferecer uma explicação sociopolítica; e uma espécie de doença que denomina "asymbolia", ou seja, a incapacidade de perceber as múltiplas possibilidades de significação de uma obra.
Considerando-se um ex-"soixantehuitard" [referência a Maio de 68], é um dos poucos que se rebelam contra fortes instituições como o "New York Times", o MoMA [Museu de Arte Moderna de Nova York] ou mesmo Harvard.
Ele estudou em Paris com Roland Barthes e foi fundador da revista "Macula", com Jean Clay, conhecido crítico de arte. Durante oito anos teve um relacionamento bastante próximo e intelectual com a artista brasileira Lygia Clark, sobre quem escreveu artigos publicados na "October" e na "Artforum". Na entrevista abaixo, ele fala desse encontro e sobre sua importância.
Folha - O sr. disse que em sua juventude, em Paris, gostava especialmente dos artistas latino-americanos. Além do exotismo da situação e das longas conversas com Sérgio Camargo e Lygia Clark, de que mais se recorda?...