Content area
Full Text
Ao Abel
Stones, samba e cerveja
Quando os Stones começaram a tocar em Copacabana desliguei a televisão e desci as duas ladeiras do Alto ao Baixo Leblon, indo parar, por acaso!, no Jobi. Surpreso avistei, nas três TVs instaladas no bar, Mick Jagger serelepeando. Achei bacana essa mistura de rock e boteco precedendo o balacobaco, mas resolvi, assim mesmo, implicar com o Narciso, no caixa, papeando com um sujeito.
-- Pô, Narciso, Mick Jagger até no Jobi?
O sujeito, meia-idade, meio careca, me interpelou.
-- Pera lá! "Até no Jobi" não! Pagamos muito caro para ter Rolling Stones em botequim!
O sujeito então começou a aplaudir entusiasticamente os dinossauros na TV:
-- Maravilha! Maravilha!
E, voltando-se para mim, fez a apologia geral da parada:
-- Que beleza isso para o Rio. Como ia ser triste se esse show não desse certo!
Mas, definitivamente, baixara em mim o espírito do grande aporrinhador.
-- É verdade. Mas você não acha o Mick Jagger meio chato? Sempre preferi os Beatles.
-- Deixa de bobagem! Isso é vida! É energia! É rock clássico nos bares do Rio!
Calibrei as cordas vocais e empostei.
-- Ora, isso é apenas um show. Entertainement.
--Apenas um show? Então você vai ver Chaplin e, no fim, dizer: "Isso é apenas um filme"?
-- Você compara Carlitos com Mick Jagger?
-- Rapaz, o riff de "Satisfaction" é universal! É uma abertura de 5ª de Beethoven! Um Radamés!
...