RESUMO
A Acupuntura vem sendo usada a mais de cinco mil anos na China, visando à cura de enfermidades através da punção de agulhas em pontos específicos do corpo, e tem sido utilizada por atletas de alto nível e amadores a fim de melhorar a performance no esporte. Porém, poucos estudos relacionam a Acupuntura com parâmetros biomecânicos, como força e ativação muscular. A eletromiografia permite o registro dos sinais elétricos provenientes da contração dos músculos e possibilita a análise da sua ativação no movimento. Neste contexto, a proposta deste estudo, com caráter preliminar, é realizar uma analise biomecânica comparativa do movimento isométrico de pedalada antes e após aplicação de acupuntura no ponto ST32 por 10 minutos em um voluntário. Foi avaliada a atividade dos músculos vasto lateral, vasto medial e reto femoral, através da eletromiografia de superfície, e a força aplicada no pedal através de um transdutor de força, antes e após a aplicação da acupuntura, e correlacionados todos os resultados. Foi encontrado um aumento significativo (p < .05) da força e da atividade do vasto medial, e uma redução da atividade e reto femoral após a aplicação da acupuntura. Não houve diferença na atividade do vasto lateral. A acupuntura influenciou na geração de força e na modulação da contração dos músculos pesquisados e, possivelmente em toda a cadeia cinética, influenciando a coordenação no movimento. Não possível chegar a uma conclusão definitiva sobre os resultados devido à amostra de um único indivíduo. Sugere-se mais estudos neste sentido.
Palavras-chave: acupuntura, análise biomecânica, pedalada
ABSTRACT
Acupunture has been used for more than five thousand years in China, and aims to cure diseases by pricking needles into specific body points, and has been used by high-level athletes and amateurs in order to improve performance in sports. However few studies relate acupunture and biomechanics parameters, like force and muscular activation. Electromyography allows the recording of electrical signals from muscle contraction and enables to analyze the effects of this activation on the movement. In this context, the purpose of this study, with preliminary character, is to make a comparative biomechanical analysis of isometric motion in ride before and after application of acupunture in point ST32 for 10 minutes in one volunteer. It was evaluated the activity of vastus lateralis, vastus medialis and rectus femoris, using suface electromyography and the force applied in pedal by a force transducer before and after acupunture application, and all results was correlated. It was found a significant increase (p < .05) in force and vastus medialis activity, and decrease of rectus femoralis activity after acupunture. There wasn't difference in vastus lateralis activity. Acupunture influenced in force generation and in modulation in muscular contraction, probably in all kinetic chain, influencing in movement coordination. It wasn't able to draw a definitive conclusion about the results given the research in only one volunteer. It's suggested more studies about this issue.
Keywords: acupunture, biomechanical analysis, cycling
Submetido: 01.08.2011 | Aceite: 14.09.2011
A acupuntura foi aprovada pela OMS em 1970 como sendo um método de tratamento para diversas doenças e, pelos resultados clínicos alcançados, vem se tornando uma opção de tratamento em todo o mundo (Organización Mundial de la Salud - OMS, 2002). Em 1979, a mesma organização levou especialistas de 12 países ao Seminário Inter-nacional Regional da OMS, onde estes publi-caram uma lista provisória das enfermidades que podem ser tratadas por acupuntura incluindo sinusite, rinite, amidalite, bronquite, conjuntivite aguda, faringite, gastrite, duode-nite ulcerativa e colites agudas e crônicas (Ban-nerman, 1980). Em 1985, a OMS reconheceu que a Acupuntura poderia ser incorporada nas estratégias de saúde nacional (WHO, 1995) e, em 2006, foi regulamentada sua utilização pelas unidades de saúde brasileiras através da portaria no 971 do ministério da saúde.
A Acupuntura, derivada dos termos latinos acus e pungere, que significam agulha e pun-cionar, respetivamente, trata-se da ciência e arte de inserir agulhas na pele dos pacientes a fim de curar, restabelecendo a saúde ou prevenindo doenças, visando o tratamento das enfermidades através de estímulos em pontos específicos no corpo (Batello, 2007; Scogna-millo-Bechara & Bechara, 2001). Esta terapia vem sendo aplicada para tratar uma imensa variedade de doenças (Luna & Filho, 2005) e também é utilizada em atividade física, por atletas profissionais e amadores, a fim de modular o bem-estar físico e alcançar um nível mais elevado de performance, e assim melhorar o treinamento (Ehrlich & Haber, 1992; Luna & Filho, 2005). A vantagem dessa técnica é a utilização de instrumentos simples, além de ser segura, econômica e de fácil aprendizagem (Chonghuo & Corral, 1985).
O uso da Acupuntura é contraindicado em casos de gestação, dermatites, áreas tumorais e portadores de marca-passo (Bannerman, 1980; Scognamillo-Bechara & Bechara, 2001; WHO, 1990). A utilização também não é recomen-dada quando não foi elaborado o diagnóstico, uma vez que pode mascarar ou alterar os sinais clínicos (Altman, 1979; Scognamillo-Bechara & Bechara, 2001).
Neste contexto, a Acupuntura poderia melhorar o rendimento, condicionamento e desempenho físico, porém poucos estudos, poucas publicações e atenção científica estão relacionadas a este tema, principalmente quando voltadas especialmente para atletas (Akimoto et al., 2003; Bopp-Limoge, 1988; Dabou, 1993; Luna & Filho, 2005).
Fuÿe (1972); Gemeo e Ignatti (2008) afir-mam que através da Acupuntura os músculos tanto de atletas como de trabalhadores podem ser tonificados ou relaxados, dependendo da atividade desempenhada por eles e a influência desta atividade no organismo.
O ocidente está descobrindo a eficácia da acupuntura em relação à prática esportiva, que surge como uma técnica de grande valia na área de prevenção de lesões e promoção das capacidades físicas. Dessa maneira, as áreas mais beneficiadas são a medicina esportiva e preparação física de atletas (Gemeo & Ignatti, 2008). Além da indicação na prevenção e trata-mento de lesões, a acupuntura pode ainda ser utilizada como auxílio de desempenho, uma vez que existem pontos para aumentar a circu-lação de sangue a ser utilizada em esportes aeróbios, proporcionando maior irrigação às regiões do corpo mais utilizadas no esporte (Liu, 2007).
Sobre os efeitos negativos ou positivos de tal procedimento, pouco se conhece no desem-penho físico de pessoas saudáveis e particular-mente de atletas de alto rendimento (Luna & Filho, 2005; Pelham, Holt, & Stalker, 2001). Alguns autores sugerem que a estimulação de pontos específicos com acupuntura melhora o desempenho físico e esportivo relacionados às qualidades físicas básicas e plasticidade mus-cular (Akimoto et al., 2003; Bopp-Limoge, 1988; Chan-Liat, 1981; Dabou, 1993; Ehrlich & Haber, 1992; Flowers II, 1987; Fuÿe, 1972; Lin, Salahin, Lin, 1995; Ludwig, 1999; Luna & Filho, 2005; Muller, 1990; Pelham et al., 2001; Tekeoglu, Adak, & Ercan, 1998; Toma, Conatser, Gilders, & Hagerman, 1998).
O ciclismo é uma atividade que requer movimentos sincronizados de múltiplas articu-lações, que visa gerar propulsão na bicicleta por meio de forças produzidas principalmente por músculos da região lombo-pélvica e membros inferiores (Alencar et al., 2010).
Os músculos que exercem grande função na pedalada são: glúteo máximo (extensor do quadril), íliopsoas (flexor do quadril), vasto lateral e vasto medial (extensores do joelho), reto femoral (extensor do joelho e flexor do quadril), bíceps femoral cabeça curta (flexor do joelho), bíceps femoral cabeça longa, semiten-díneo, semimembranoso (flexores do joelho e extensores do quadril), tibial anterior (dorso-flexor do tornozelo), gastrocnêmio (flexor plantar do tornozelo e flexor do joelho), sóleo (flexor plantar do tornozelo) (Alencar et al., 2010). A musculatura da parte do abdômen participa da flexão e extensão da coluna lombar e por isso é importante na manutenção da posição neutra da pelve (Pequini, 2005).
O desempenho dos ciclistas depende não só da capacidade física do atleta e a capacidade de gerar força sobre o pedal, mas também do treinamento específico e da utilização de bicicletas mais leves e com geometria mais aerodinâmica (Alencar et al., 2010).
Apesar de ser uma área ainda pouco explorada e estudada, os resultados dos estudos até o momento justificam o uso da Acupuntura como rotina atlética de condi-cionamento físico. Dessa forma, um Acupun-turista Desportivo é de suma importância e o mesmo já deveria estar presente em equipes de alto rendimento no nosso país, a fim de melhorar a performance final dos atletas, o que já acontece vários países (Luna & Filho, 2005).
Biomecânica é a ciência que descreve, analisa e modela os sistemas biológicos, logo é altamente interdisciplinar dada a natureza do fenômeno investigado. A análise do movi-mento pode ser realizada através de métodos como: antropometria, cinemetria, dinamo-metria e eletromiografia. Por meio desses mé-todos, o movimento pode ser descrito ou mo-delado matematicamente (Takahashi, 2006).
Através da biomecânica e de suas áreas de conhecimento correlatas podemos analisar as causas e fenômenos do movimento. No entanto, para que possamos entender melhor sua complexidade e explicarmos suas causas, é necessário que outros aspetos da análise multidisciplinar sejam também considerados (Amadio & Serrão, 2007). Para esta análise, a eletromiografia representa uma ferramenta importante, pois através do sinal gerado, pode ser estudada a função do músculo durante o movimento (Basmajian & De Luca, 1985; Guimaraes, Fraga, & Candotti, 2008). Essa técnica é aplicada como indicador do inicio da ativação muscular e processo de fadiga, além de uma forma de avaliar sua relação com a força produzida pelo músculo (Takahashi, 2006).
A eletromiografia (EMG) é uma técnica que permite o registro dos sinais elétricos gerados pela despolarização das membranas das células musculares (Ocarino et al., 2005), e assim fornece informações sobre a ativação muscular, e como o sistema nervoso central controla o movimento. Tal técnica tem sido amplamente utilizada para estudar a atividade muscular e coordenação neuromuscular no ciclismo (Baum & Li 2003; De Luca, 1997; Diefen-thaeler et al., 2006; Diefenthaeler, 2009; Faria, 1992; Gregor, 2000; Li & Caldwel, 1998; Moritani, Muro, & Nagata 1986)
Neste contexto, conhecer os efeitos da acupuntura no desempenho físico nos permite analisar a eficácia da mesma para o bem-estar físico dos atletas, e a utilização do eletro-miógrafo torna a pesquisa mais fidedigna, afinal capta a atividade do músculo durante o movimento (Luna & Filho, 2005). O presente estudo, de caráter preliminar, tem como objetivo realizar uma analise biomecânica comparativa do movimento isométrico de pedalada antes e após aplicação de acupuntura em um sujeito. Através dos resultados obtidos, será possível levantar questões sobre o tema e elaborar hipóteses sobre a influência da Acupuntura sobre parâmetros biomecânicos, que poderão nortear novas pesquisas.
MÉTODO
Amostra
A amostra foi um indivíduo saudável, ciclista há mais de três anos, com idade de 22 anos, sem histórico de trauma no joelho ou quadril, que após assinar o termo de consen-timento livre e esclarecido, foi submetido aos procedimentos do teste.
Instrumentos e Procedimentos
Foi utilizado no estudo um Eletromiógrafo de superfície da marca EMG System Brasil Ltda® com oito canais/12 bits de resolução, e banda de frequência entre 20 e 500Hz; Bici-cleta ergométrica da marca Múltipla fitness; Eletrodos descartáveis da marca Meditrace®; Computador da marca Positivo Móbile® V 146; Agulhas da marca Dong Bang® 25 × 30 mm; Álcool 70%; Algodão; e Lâmina Descar-tável.
Inicialmente, a pele foi preparada para a coleta dos sinais eletromiográficos, reduzindo-se a impedância elétrica através da raspagem dos pelos com uma lâmina descartável, e limpeza do local com álcool 70%, a fim de remover células mortas e a oleosidade do local. Em seguida, foram fixados à pele eletrodos adesivos descartáveis de superfície, com configuração simples diferencial (um centí-metro de diâmetro), posicionados nos músculos reto femoral (RF), vasto lateral (VL) e vasto medial (VM) conforme com a recomen-dação do SENIAM (European Applications of Surface ElectroMyoGraphy)
O voluntário foi orientado a realizar uma contração voluntária máxima contra o pedal, sem levantar do selim da bicicleta, por seis segundos e os dados foram coletados. Em seguida, foi estimulado o ponto ST32, loca-lizado no ventre do reto femoral, por 10 minutos com a agulha sendo rodada no sentido da tonificação (sentido horário) aos cinco mi-nutos. Logo após a retirada da agulha, repetiu-se o procedimento de coleta do sinal. Os eletrodos não foram removidos entre os testes.
O pé de vela ficou posicionado a uma angulação de 45°, e o transdutor de força foi preso à parede por meio de correntes e cadeados, paralelamente ao solo. A posição do joelho e do tornozelo do ciclista foi 100o. O posicionamento foi medido com o auxílio de um goniômetro. A bicicleta foi fixada através de ganchos e arame a fim de evitar qualquer movimento.
O sinal foi adquirido no software Windaq® no modo RMS, com frequência de amostragem de 400Hz, e os dados foram exportados para o software Excel® e posteriormente para o software Origin®, onde foram analisados.
Todos os valores foram atenuados utilizando um filtro digital do tipo FFT passa-baixa com freqüência de corte de 6Hz.
Análise Estatística
Os valores de força foram comparados utilizando o Teste-t para amostras pareadas, e os valores referentes à atividade eletromio-gráfica dos músculos foram comparados utilizando o teste de Wilcoxon para amostras pareadas.
RESULTADOS
Após a aplicação da acupuntura no reto femoral, pôde-se observar um aumento significativo da força aplicada pelo ciclista contra o pedal da bicicleta, conforme demons-tra a Figura 1.
Houve diferença significativa na força após a aplicação da acupuntura (p < .05). O pri-meiro gráfico refere-se à força pré acupuntura, onde a média foi de 878.55 (±56) N. Pode ser observado que o maior pico de força ocorreu aos dois segundos, atingindo 960 N, e outro aos cinco segundos, atingindo 940 N. O segun-do gráfico, referente à força pós acupuntura, demonstra uma média de 995.279 (±78) N e houveram três picos de força, um aos dois segundos e meio de 1040 N, outro aos quatro segundos e meio de 1090 N, e o ultimo aos cinco segundos e meio de 1120 N.
Foram encontradas correlações significa-tivas entre a força pré acupuntura e atividade eletromiográfica do VL e VM (p < .01) e do RF (p < .05). Entretanto, as correlações com a força foram moderada positiva (r = .57) para o VM, fraca positiva (r = .42) para o VL, e ínfima positiva (r = .10) para o RF. Estes resultados indicam a importância dos vastos para o movi-mento, ao contrário do RF que não acom-panhou as mudanças na força. No teste pós acupuntura, houve uma inversão da relação entre atividade dos músculos e força. Foram encontradas correlações significativas entre a atividade eletromiográfica dos vastos (p < .05) e do RF (p < .01), com a força. Em contraste com o encontrado no teste pré acupuntura, as correlações com a força foram ínfima positiva (r = .09) para o VM, ínfima negativa (r = -.08) para o VL, e fraca negativa (r = .21) para o RF. Estes resultados demonstram que nenhum dos músculos analisados apresentou relação direta com a força exercida no pedal, além do que, apesar da fraca correlação, o RF diminuiu sua atividade com o aumento da força.
Não foi verificada diferença significativa na atividade do VL após a acupuntura (Figura 2).
No primeiro gráfico, referente à amplitude do sinal do VL antes da aplicação da acupun-tura, pode-se verificar que a mediana da amplitude do VL foi de 162.3 uV e a distância interquartil (DIQ) foi de 64.92 uV. No segun-do, referente à amplitude após a técnica, gráfico a mediana foi de 168.04 uV e a DIQ 52.76 uV, o que demonstra um aumento de 5.74 uV na mediana e uma redução de 12.16 uV na DIQ, além de uma redução na diferença entre o valor máximo e mínimo de 38.26 uV. A menor variância nos dados do gráfico pós acu-puntura demonstra que houve maior coor-denação da ativação das unidades motoras do VL após a aplicação de acupuntura no RF.
A figura 3 demonstra diferença significativa (p < .05) na ativação do RF após acupuntura.
A mediana no primeiro gráfico, antes da aplicação da acupuntura, foi 103.08 uV e a DIQ foi 48.6 uV. No segundo, após a técnica, a mediana foi 73.53uV, e a DIQ, 31.89 uV, demonstra redução de 29.55 uV na mediana e de 16.71 uV na DIQ, além de uma redução na diferença entre o valor máximo e mínimo de 28.89 uV. Como nos gráficos anteriores, isso significa maior coordenação do movimento, devido à diminuição da variância.
Houve diferença significativa (p < .05) na atividade do VM entre os testes pré e pós acupuntura, onde pôde-se observar o aumento dos valores pós acupuntura, como mostra a figura 4. A mediana no teste pré foi de 207.69 uV e a DIQ 93. 9 uV. No teste pós, a mediana foi de 234.1 uV, a DIQ foi de 97.2 uV, o que demonstra uma aumento de 26.41 uV na mediana e 3.3 uV na DIQ. Entretanto, houve uma redução de 49.32 uV da diferença entre o valor máximo e mínimo. O aumento da ativi-dade eletromiográfica do VM, mostra que este músculo foi mais recrutado, possivelmente para compensar a redução da atividade do RF. Porém, a diminuição da variância demonstra também maior coordenação.
Tanto no teste pré quanto no teste pós, não foram encontradas correlações significativas entre a atividade do VL e RF. No entanto, correlações significativas (p < .01) foram en-contradas entre a atividade de todos os outros músculos em ambos os testes pré e pós acupuntura. No teste pré, uma correlação forte (r = .55) foi verificada entre VL e VM, o que indica que estes músculos trabalharam juntos no movimento. Entre RF e VM, foi encontrada correlação fraca (r = .14), o que indica funções diferentes dos dois músculos no movimento. Porém, no teste pós acupuntura, foi encontrada correlação moderada (r = .44) entre VL e VL, sugerindo que a sinergia entre os dois diminuiu após a aplicação da acupuntura, e entre RF e VM, uma correlação fraca (r = .19), assim como no teste pré acupuntura.
DISCUSSÃO
Os resultados sugerem que a força e ativi-dade eletromiográfica dos músculos reto femo-ral, vasto lateral e vasto medial puderam ser influenciados pela aplicação da acupuntura no reto femoral no movimento isométrico de pedalada a 45o do pé-de-vela neste estudo.
Após análise da Figura 1, correspondente à força muscular isométrica, podemos observar um aumento dos valores após aplicação da acupuntura, concordando com os achados de Luna e Filho (2005). Embora o quadríceps seja o maior gerador de força na fase de propulsão, mesmo cada um de seus componentes tendo uma função específica, durante esta fase da pedalada toda a musculatura da cadeia cinética estão envolvidos. Estes resultados sugerem que além dos músculos analisados, outros poderiam ter participado gerando força no pedal, uma vez que a atividade do RF diminuiu após a acupuntura e o VL não apresentou diferença. Por outro lado, o aumento da atividade do VM poderia ter contribuído para o aumento da força, apesar da correlação com esta variável ter sido ínfima, estabilizando a articulação. O ciclismo, como é uma atividade que realiza movimentos em cadeia cinética fechada, acaba por ativar um número importante de músculos, possibilitando inú-meras estratégias de recrutamento muscular (Bini, Diefenthaler, Carpes, & Mota, 2007).
Neste contexto Alencar et al., (2010) rela-tam que o músculo glúteo máximo contribui para a extensão de 0 a 120°. O inicio de sua atividade ocorre imediatamente antes do ponto morto superior (0°), tendo um pico aos 55° no ciclo de pedalada. Os ísquiostibiais também estendem o quadril e estão ativos de 45 a 180° e inicio da fase de recuperação. De acordo com estes autores, a atividade do RF antecede a do VL e VM, isso devido ao fato de ser um músculo biarticular e atuar na flexão do quadril no início da segunda metade da fase de recuperação. A força tangente no pedal na fase de propulsão, responsável pelas mudanças na posição angular do pé-de-vela, se deve a ação dos vastos.
Em relação ao VL, não foi observada dife-rença significativa entre seu recrutamento antes e após a aplicação da acupuntura. Isso sugere que este músculo não teve ação efetiva no movimento, sendo seu papel principal de estabilização na articulação (Grossi, Pedro, & Bérzin, 2004).
Sobre os resultados do RF, que apresentou diminuição na sua atividade eletromiográfica, Costa e Araujo (2008) corroboram estes achados, uma vez que a pesquisa realizada pelos autores encontra resultados semelhantes. Os autores avaliaram a atividade eletromio-gráfica do músculo tibial anterior e a força de dorsiflexão em 30 indivíduos divididos em dois grupos, onde um recebeu tratamento de acupuntura no tibial anterior, e outro em um ponto adjacente. Os resultados obtidos foram uma diminuição nos valores de RMS após acupuntura em ambos os grupos, o que indica que a atividade elétrica gerada pelo músculo tibial anterior foi reduzida para permitir o relaxamento. No entanto, os autores relatam a diminuição da força gerada pelo músculo causada por um mecanismo reflexo, o que não concorda com o presente estudo, talvez devido à contribuição de outros músculos da cadeia cinética. Pelham et al. (2001) afirmam que a acupuntura pode alterar a atividade eletro-miográfica do músculo estimulado através da redução da tensão no seu interior, permitindo-o relaxar e alongar.
Em contrapartida, o RF tem ação de esten-der o joelho e flexionar o quadril, uma vez que é biarticular, a partir do que pressupõe-se que sua resposta seja diferente dos demais músculos que atuam no movimento. No ciclis-mo, a musculatura biarticular controla a direção da força produzida e sua transferência aos segmentos adjacentes durante o movi-mento articular, e a musculatura uniarticular é responsável pela produção da força (Alencar et al., 2010; Ingen Schenau, De Koning, & De Groot, 1994; Okano, Moraes, Bankoff, & Cyrino, 2005)
Elias et al. (2001) afirmam que existem diferenças naturais entre os componentes do quadríceps, entretanto componentes laterais e mediais apresentam comportamentos seme-lhantes de forma permitir um movimento mais estável. Estes achados estão de acordo com os encontrados no presente estudo, pois, apesar da diferença significativas da atividade do VM entre os testes pré e pós acupuntura, a corre-lação entre os vastos demonstra a semelhança no comportamento dos dois músculos.
Sobre a atividade eletromiográfica do vasto medial, pôde ser observado um aumento da atividade eletromiográfica após a aplicação da acupuntura. Como dito acima, a maior ativação deste músculo pode ter ocorrido para compen-sar a atividade do reto femoral, diminuída pela ação da acupuntura, e para estabilizar a patela. Este fato também sugere uma modulação do sinergismo muscular no movimento (Okano et al., 2005).
O presente estudo demonstrou que após a utilização da acupuntura ocorreu um aumento significativo na capacidade de gerar força sobre o pedal, o que leva a hipótese que a acupuntura realmente pôde influenciar no aumento da força de pedalada neste caso. Outro achado é que a acupuntura aplicada no RF não só alterou a atividade eletromiográfica deste músculo, como também do VM, o que pode significar uma modulação da atividade em toda a cadeia cinética, e no aumento da coordenação entre os disparos de unidades motoras nos três músculos avaliados.
Não foi possível chegar a uma conclusão definitiva devido à amostra de um único sujeito. Entretanto, estes achados são signifi-cativos, e podem servir para levantar questões e hipóteses sobre o tema, norteando e estabe-lecendo parâmetros para novas pesquisas.
Agradecimentos:
Nada a declarar.
Conflito de Interesses:
Nada a declarar.
Financiamento:
Nada a declarar.
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Cemylla Lopes Malveira, Fernanda Cristina Soares Alves de Souza. Acadêmicas do 10o período do curso de Fisioterapia das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, Brasil.
Túlio Brandão Xavier Rocha. Professor especialista no curso de Fisioterapia das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, Brasil.
Endereço para correspondência: Fernanda Cristina Soares Alves de Souza, Av. Brasil, 1282 Sumaré, CEP: 39400455, Brasil.
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Copyright CIDESD/FTCD, Research Centre for Sports Sciences, Health and Human Development; University of Trás-os-Montes and Alto Douro/MotriPress 2012
Abstract
Acupunture has been used for more than five thousand years in China, and aims to cure diseases by pricking needles into specific body points, and has been used by high-level athletes and amateurs in order to improve performance in sports. However few studies relate acupunture and biomechanics parameters, like force and muscular activation. Electromyography allows the recording of electrical signals from muscle contraction and enables to analyze the effects of this activation on the movement. In this context, the purpose of this study, with preliminary character, is to make a comparative biomechanical analysis of isometric motion in ride before and after application of acupunture in point ST32 for 10 minutes in one volunteer. It was evaluated the activity of vastus lateralis, vastus medialis and rectus femoris, using suface electromyography and the force applied in pedal by a force transducer before and after acupunture application, and all results was correlated. It was found a significant increase (p < .05) in force and vastus medialis activity, and decrease of rectus femoralis activity after acupunture. There wasn't difference in vastus lateralis activity. Acupunture influenced in force generation and in modulation in muscular contraction, probably in all kinetic chain, influencing in movement coordination. It wasn't able to draw a definitive conclusion about the results given the research in only one volunteer. It's suggested more studies about this issue. [PUBLICATION ABSTRACT]
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