O governo federal decidiu importar médicos para res- ponder ao clamor das ruas - pois os manifestantes de junho pediram padrão Fifa para o SUS. Ao fazê-lo, o governo ati- ra no alvo errado: se há um problema real no SUS, é o subfinanciamento, resultado da contribuição pequena da União e da crescente participação de planos e seguros de saúde no sistema. Em dezembro de 2012, chegou à presi- dente da República lei do congresso cuja sanção aumenta- ria, ainda que não substancialmente, a parcela federal no financiamento; a chefe do executivo optou por vetar o dis- positivo. Sete meses depois, criou o Mais Médicos que, depreende-se da insistência no tema, ajuda a restaurar os índices de aprovação da presidente, ao mesmo tempo em que reforça a visão ingênua de que o médico tem o poder de sal- var vidas.
A mistificação se acentua com a terceirização, via Or- ganização Pan Americana de Saúde, da contratação pelo Brasil de médicos cubanos. Imbuídos de um sentido de missão comum no país de Fidel Castro, aceitam vir ao Brasil (ou a qualquer outro lugar do mundo que o gover- no de Havana os envie) por um salário não revelado, mas compatível com o que ganham em seu país. Ou seja: o equivalente a algumas dezenas de dólares men- sais. O resultado do acordo de cooperação é ótimo para o governo central cu- bano e para a OPAS. Descontadas diárias, passagens, e o valor de administração repassado à OPAS (24,3 milhões de reais) pelo serviço de terceirização, o pobre governo cubano receberá R$ 469,0 milhões dos R$ 510,9 milhões que vamos gastar. Os médicos, contentes possivelmente com o dever do internacionalismo proletário, já estão vindo para o Brasil. Aceitam a remuneração pequena, aceitam a obrigação de deixar suas famílias em Cuba e não têm voz na escolha do muni- cípio que lhes caberá trabalhar.
O espetáculo de corporativismo oferecido pelo poder sindicalista médico aju- da a embaralhar ainda mais a visão dos acontecimentos. Dá aos médicos cuba- nos a posição de sacerdotes da Medicina. Que a atenção primária é fundamental e resolve até 85% dos problemas de saúde, os especialistas garantem. Para isso servem as equipes do Programa de Saúde da Família do SUS - um sucesso do SUS brasileiro sobre o qual o governo federal, no momento, não diz uma só pa- lavra.
Mônica Teixeira*
*TV Cultura (São Paulo, SP, Brasil).
MÔNICA TEIXEIRA
Jornalista; coordenadora geral do programa Universidade Virtual do Estado de São Paulo na TV Cultura (São Paulo, SP, Brasil).
e-mail: [email protected]
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