RESUMO
O presente estudo descreve os procedimentos da construção de uma escala de identidade profissional de professores da área da educação física e as suas qualidades psicométricas. Depois de breves conside- rações sobre o construto e sua operacionalização, realizou-se a análise dos procedimentos da sua cons- trução e procedeu-se à análise de validade de construto (análise fatorial) e à análise da consistência interna através do cálculo do coeficiente alfa de Cronbach. Depois de realizado um pré-teste, e, poste- riormente, administrada a escala a uma amostra de 206 professores de educação física, concluiu-se que o instrumento possui qualidades psicométricas satisfatórias. A análise da consistência interna dos dois fatores identificados revelou que se trata de um instrumento fidedigno. Assim, uma vez que estes fato- res se apresentam internamente consistentes e bem definidos pelos itens e logicamente, concluímos que a escala revela qualidades psicométricas que recomendam o seu uso como instrumento de investi- gação. Para além de bons indicadores de validade, as medidas aplicadas caraterizam-se por uma fideli- dade boa ou adequada e estruturas fatoriais interpretáveis, sugerindo que avaliam, de forma consisten- te, as variáveis que pretendem medir, constituindo-se como um instrumento adequado para avaliar a identidade profissional dos professores de educação física.
Palavras-chave: identidade docente, educação física escolar, escala de avaliação
ABSTRACT
This paper reports the procedures to design a physical education teachers' professional identity scale and its psychometric features. After reflecting on the construct and its operationalisation, we analyzed the procedures required for its design and validity of the construct (factorial analysis) and analyzed the internal consistency by calculating the Cronbach alpha coefficient. After carrying out a pre-test and then administering a scale to a sample of 206 physical education teachers, we concluded that the instrument has satisfactory psychometric qualities. The analysis of the internal consistency of the two factors identified showed that the instrument is reliable. Thus, because these factors are internally consistent and well defined by the items, we concluded that the scale has psychometric qualities that support its use as a reliable research instrument. Further to providing good validity indicators, the measures applied are characterized by being reliable or adequately reliable and having interpretable factorial structures, suggesting that they consistently assess the variables they intend to measure, thus being an appropriate instrument to assess the professional identity of physical education teachers.
Keywords: teaching identity, school physical education, assessment scale
INTRODUÇÃO
A educação física em Portugal nos últimos 70 anos tem sido marcada por muitas mudan- ças que têm influenciado o seu rumo concetual e metodológico (Oliveira, 2012), com reflexos evidentes na construção e desenvolvimento da identidade profissional dos professores desta área (Ferreira & Moreira, 2010, 2012; Ferreira, Moreira & Ferreira, 2011; Moreira & Ferreira, 2011, 2012). Nesse sentido procurámos desen- volver um estudo que indagasse a forma como os professores de educação física provindo de diferentes escolas de formação existentes em Portugal desde a criação do Instituto Nacional de Educação Física, que se afirmou como a primeira grande escola de formação de profes- sores desta área, na década de 40 do século XX, se percecionam e se avaliam enquanto docentes; como se percecionam relativamente a colegas do grupo disciplinar, a colegas de pro- fissão de outros grupos disciplinares, aos seus alunos e a outros profissionais; ou como defi- nem a sua profissão. Após uma análise exaus- tiva da literatura acerca do fenómeno identitá- rio construto em questão, verificámos a inexis- tência de instrumentos que nos permitissem avaliar a identidade profissional dos professo- res deste grupo disciplinar, que apresenta algumas especificidades devido à natureza da disciplina. Assim, baseados na literatura e na revisão de estudos na área, sobretudo no qua- dro concetual definido por Kelchtermans (1993, 1995) operacionalizámos o conceito de identidade profissional em três dimensões: a dimensão motivacional, relativa ao projeto profissional e incidindo na escolha da docência e na motivação para a mesma; a dimensão representacional, relacionada com a perceção profissional, no plano da imagem de si enquan- to professor e da imagem da profissão; e a dimensão socioprofissional, localizada aos níveis social e relacional, baseando-se sobretu- do nos processos de socialização profissional.
Após a definição deste quadro concetual e de ter realizado um conjunto de 15 entrevistas (semiestruturadas) a professores de educação física de diferentes escolas de formação inicial, que procurou definir um quadro empírico e interpretativo das opiniões destes professores, partimos para a construção de uma escala que nos permitisse avaliar as diferentes dimensões da identidade profissional dos professores des- te grupo disciplinar. São as principais etapas e procedimentos da construção dessa escala, que intitulámos de Escala de Identidade Profissio- nal de Professores de Educação Física (EIP- PEF) e as suas qualidades psicométricas, que iremos aqui apresentar.
Assim, neste estudo descreveremos os prin- cipais procedimentos relativos à sua constru- ção e validação, tendo como referência: as eta- pas da sua conceção, o que mede especifica- mente; o tipo de operacionalização que repre- senta; a análise de validade de construto e a análise da consistência interna, através do cál- culo do coeficiente alfa de Cronbach.
MÉTODO
Pré Teste: amostra e procedimentos
Após a definição de um sistema de catego- rias, resultante do quadro concetual existente e da análise de um conjunto de entrevistas que realizámos previamente, procurando definir um quadro categorial interpretativo das opi- niões dos professores a nível do construto ana- lisado, definimos um conjunto de itens relati- vos a esta categorização. Assim, a Escala de Identidade Profissional dos Professores de Educação Física (EIPPEF) ficou com 40 itens, sendo composta exclusivamente, por respostas fechadas e estruturadas segundo o modelo da escala de Likert. Depois da sua elaboração, a escala foi testada, junto de 8 professores espe- cialistas, com o intuito de verificar, entre outros aspetos, se todas as questões eram compreendidas pelos inquiridos, se não haveria perguntas inadequadas à informação pretendi- da ou repetitivas, se não faltariam itens rele- vantes ou se os inquiridos não considerariam a escala demasiado longa e difícil. Para além destes aspetos de natureza estrutural, a nossa intenção com a testagem foi, também, avaliar os seus índices psicométricos. Este procedi- mento permitiu, também, averiguar as condi- ções em que a escala deveria ser aplicada, a sua qualidade gráfica e a adequação das instruções que a acompanham. Este grupo de professores foi encorajado a fazer observações e sugestões respeitantes à estrutura da escala e a cada uma das suas perguntas.
De seguida, conduziu-se um pré-teste, sen- do a escala aplicada a uma amostra de 40 pro- fessores de Educação Física dos 2.° e 3.° ciclos do Ensino Básico e Ensino Secundário de esco- las dos distritos de Bragança e do Porto, per- tencentes à população do inquérito (mas que não fizeram parte da amostra selecionada).
Dos 40 professores iniciais a nossa amostra ficou reduzida a 33, devido à omissão de dados pessoais ou profissionais e/ou por falta ou duplicação de respostas a alguns itens da escala e cuja caracterização por sexo, idade, institui- ção de formação inicial, tempo de serviço, situação profissional e habilitações académicas se encontra sistematizada na Tabela 1.
Procedemos, depois, à análise de consistên- cia interna da escala global e das diferentes dimensões da EIPPEF, que veio a revelar uma boa consistência interna com um valor de 0.87, enquanto as diferentes dimensões, Motivacio- nal, Representacional e Socioprofissional, apre- sentaram respetivamente valores de 0.76, 0.54 e 0.29. Partindo do pressuposto que um ins- trumento que apresente uma consistência interna de 0.70 (Cronbach, 1984; Nunnally, 1978) pode ser considerado adequado para avaliar a variável que se pretende medir, consi- derámos que o instrumento apresentou, nesta fase, uma consistência interna adequada.
Com o intuito de aumentar o coeficiente de fiabilidade, calculámos a correlação item/ questionário e, para uma análise mais precisa, relativa a cada uma das dimensões do instru- mento, calculámos ainda a correlação item/ dimensão, isto porque assumindo que cada item contribui para a formação da atitude que se quer medir deve, pois, existir uma correla- ção estatisticamente significativa e relativa- mente forte entre cada item e o total (Oppe- nheim, 1979). No processo de validação de instrumento, a análise da correlação de cada item com o total da escala a que pertence, excluindo o item em causa, é sempre efetuada no sentido de escolher os melhores itens (Nunnally, 1978). Para um maior rigor na sua seleção, alguns autores consideram, também, que os itens devem apresentar correlações com o total da escala superiores a 0.30 (Cronbach, 1984; Nunnally, 1978).
Os resultados da análise da consistência interna da EIPPEF, com 40 itens, sugeriram a eliminação do item 3 que apresentou um valor de 0.201. Apesar de outros itens apresentarem uma correlação fraca, e estarem próximos dos valores críticos, considerámos que, por exem- plo, os itens 12, 25 e 31 não deviam ser rejei- tados nesta fase, porque apresentaram validade de conteúdo, medindo diretamente aspetos ligados às dimensões em questão.
Após a eliminação do item 3 a EIPPEF ficou com 39 itens. Atendendo ao reduzido tamanho da amostra, optámos por uma seleção menos exigente, mantendo alguns dos itens que não estavam correlacionados de forma significativa com o instrumento na sua globalidade, mas cuja exclusão conduziria a valores mais baixos da escala total e da dimensão de que faziam parte.
O estudo final: caracterização da amostra
Com a realização do pré-teste pretendíamos realizar uma abordagem preliminar à adequa- ção da metodologia e ao comportamento psi- cométrico do instrumento de avaliação. Este, como verificámos apresentou índices de con- sistência interna satisfatórios, permitindo-nos avançar para um estudo final, abrangendo uma amostra mais extensa e diversificada de profes- sores. No entanto, e tendo em conta que a construção de instrumentos de avaliação é um processo contínuo de análise das qualidades psicométricas das medidas elaboradas, recor- remos novamente nesta fase ao cálculo dos coeficientes alfa de Cronbach para a escala total e para cada uma das dimensões e à análise fatorial, permitindo-nos obter evidências de validade de construto da escala, nomeadamen- te acerca da sua dimensionalidade.
Nesta fase, a população deste estudo con- templou professores de educação física a lecio- nar em diferentes escolas de Portugal. Distri- buímos 260 questionários por diferentes esco- las do país e após termos percorrido todas as etapas do processo tínhamos na nossa posse 206 questionários que foi considerado o N da nossa amostra e que correspondeu a uma taxa de retorno de 79.2%, número suficiente para conduzir uma análise fatorial, tendo em conta o número de itens da escala (Stevens, 1986; Tinsley & Tinsley, 1987).
Assim, fizeram parte da amostra do nosso estudo 206 professores, cuja caraterização por sexo, idade, instituição de formação inicial, tempo de serviço, situação profissional, habili- tações académicas e outras atividades se encontra sistematizada na Tabela 2.
Como podemos verificar na Tabela 2, dos 206 professores de Educação Física de diferen- tes escolas do país que participaram na investi- gação, 41.3% são do sexo feminino e 58.7% do sexo masculino. Relativamente à idade, 40.3% dos professores encontram-se entre os 26 e 35 anos, seguindo-se as faixas etárias, dos 36 aos 45 anos com 35.9% dos professores e a dos 46 aos 55 anos, com 16.5%. Observamos, tam- bém, que apenas 5.6% dos inquiridos têm ida- de inferior a 25 anos e 1.5% idade superior a 56 anos. Notamos, pois, por estes dados que, pelo menos, 75% dos professores que consti- tuem a amostra têm idade inferior a 45 anos, sendo, pois, um grupo de professores ainda não muito envelhecido.
Por sua vez, no que diz respeito à institui- ção de formação inicial foram obtidas 195 res- postas. Como seria de esperar o número de diplomados pelo Instituto Nacional de Educa- ção Física é muito pouco expressivo, represen- tando apenas 4.5% dos professores da amostra, o que não deixa de ser um número razoável, tendo em conta o número muito limitado de professores formados por esta escola ainda no ativo. O mesmo se aplica aos diplomados pelos Institutos Superiores de Educação Física de Lisboa e do Porto que representam uma mino- ria de professores no ativo, que se traduziu na nossa amostra numa percentagem de 13.3%. Como seria expectável a maioria dos inquiridos 54.9% fizeram a sua formação nas instituições mais recentes, nomeadamente no ensino uni- versitário, público e privado, e 27.2% no ensi- no politécnico, concretamente em escolas superiores de educação.
No que diz respeito às habilitações acadé- micas, observamos que a maioria dos professo- res inquiridos, 80.5%, tem como grau acadé- mico a licenciatura, enquanto 17% possuem mestrado, 1% o grau de doutor e apenas 1.5% tem o grau de bacharelato. A maioria dos pro- fessores que constitui a amostra do estudo, 67.5%, referiu ainda que possui outras ativida- des profissionais ligadas à educação física. Entre estes profissionais, 54%, afirmaram exercer atividades em clubes e 23% em giná- sios, tendo apenas 5% respondido exercer ati- vidades de animação desportiva, enquanto 18% disseram participar/pertencer a outros espaços não nomeados.
Finalmente, no respeitante à situação pro- fissional, e diretamente relacionado com o tempo de serviço, 28.4% dos professores estão em regime de contrato, enquanto 52.8% são professores do quadro de nomeação definitiva e 18.8% pertencem ao quadro de zona pedagó- gica.
Instrumento
A escala, depois de modificada e adaptada, fruto da nossa reflexão pessoal, após a consulta a especialistas e à literatura da área, dos pré- testes efetuados e dos estudos de validade e fidelidade realizados (e.g., análise da consis- tência interna, análise fatorial exploratória e confirmatória), deu origem à versão final que a seguir apresentamos com uma estrutura segundo o modelo da escala de tipo Likert, a exigir que os professores respondam de acordo com as seguintes alternativas: Discordo Total- mente (DT): 1, Discordo (D): 2, Nem Concor- do/Nem Discordo (NC/ ND): 3, Concordo (C): 4 e Concordo Totalmente (CT): 5 (Anexo 1).
A primeira dimensão, Envolvimento Peda- gógico, composta por seis itens (Tabela 3), trata-se de uma dimensão fulcral na definição da identidade do professor de educação física, relacionando-se com a perceção do seu envol- vimento no processo pedagógico, composta por itens relacionados com a forma como define o seu trabalho, como se relaciona com os seus alunos e, sobretudo, como se perceciona enquanto professor.
Por sua vez, a segunda dimensão, designada de Motivacional, composta por cinco itens (Tabela 4), aponta para os aspetos motivacio- nais relacionados com a prática profissional.
RESULTADOS
No que diz respeito aos estudos de fidelida- de e validade da escala, realizámos a sua análi- se em duas etapas distintas. Numa primeira etapa, com o objetivo de avaliar as proprieda- des dos itens calculámos as suas médias, des- vios-padrão e correlação com a escala (exce- tuando o item 3) e realizámos a análise da consistência interna através do coeficiente alfa de Cronbach. Numa segunda etapa, realizámos o processo de validação da escala, avaliando os resultados das análises fatoriais a que foram submetidos. Optámos por esta análise, porque este método é considerado como um dos mais eficazes e poderosos, sendo, frequentemente, utilizado com instrumentos de avaliação psico- lógica, a fim de calcular a sua adequação para medir a dimensão que pretende avaliar (Bryan & Cramer, 1993; Cronbach, 1984; Nunnally, 1978; Stevens, 1986; Tinsley & Tinsley, 1987).
No presente estudo, a validade fatorial do instrumento foi inicialmente avaliada através da análise de componentes principais (ACP), e, posteriormente, através da análise fatorial con- firmatória, testando um modelo de dois fato- res, que emergiram como interpretáveis a par- tir da análise fatorial exploratória, sendo que revelaram igualmente indicadores de consis- tência interna bastante satisfatórios, conside- rando o número relativamente reduzido de itens das duas dimensões, designadamente a de Envolvimento Pedagógico e a Motivacional.
Análise da consistência interna
A análise dos itens permitiu-nos verificar que dos 39 itens apenas os itens 5, 6, 13, 14, 17, 18, 19, 21, 22, 25, 29, 30, 36 e 37 se corre- lacionam com a escala total de forma significa- tiva (valores > a 0.30; ver Tabela 5).
Todos os outros apresentaram valores de magnitude baixa ou moderada, por isso optá- mos por eliminá-los. Após a sua eliminação, foi encontrado um alfa de Cronbach para a escala total de 0.81, valor que se pode considerar bastante razoável.
Análise fatorial exploratória
Para avaliar a dimensionalidade da escala da EIPPEF recorremos à análise fatorial explorató- ria, em componentes principais, com rotação Varimax. Os resultados revelaram uma estru- tura em três fatores com valores próprios supe- riores a 1, explicando 50.08% da variância dos resultados. Na tabela 6 é apresentada a distri- buição final dos itens pelos referidos fatores, bem como os seus valores de saturação.
O primeiro fator, designado por Envolvi- mento Pedagógico, agrupa os itens 13, 19, 21, 25, 29 e 37, explica 19.6% da variância; o segundo fator, denominado de Motivacional agrupa os itens 5, 14, 22, 30 e 36, explica 18.75% da variância; o terceiro fator, que agru- pa os itens 6, 17 e 18, explica 11.73%, mas não se revelou muito interpretável. Importa, no entanto, sublinhar que os dois fatores emer- gentes da análise fatorial mostraram-se inter- namente consistentes, apresentando alfas de Cronbach no valor de 0.73 e 0.78, respetiva- mente.
Análise fatorial confirmatória
As medidas de avaliação do ajustamento para verificar a adequabilidade do modelo aos resultados foram as seguintes: chi square (X2), ratio chi square statistics/degrees of freedom (X2/df), comparative fit index (CFI), goodness of fit index (GFI), adjusted goodness of fit index (AGFI) e root mean square error of approximation (RMSEA).
Os resultados revelaram um X2 significativo (67.56, df= 43, p< 0.001), sugerindo que o modelo em estudo não se adequa aos dados. No entanto, considerando que o X2 é bastante sensível ao tamanho da amostra, muitos inves- tigadores têm sugerido a utilização do rácio X2/df, havendo algum consenso para se consi- derar valores inferiores a 3 como satisfatórios. No presente estudo o rácio X2/df foi de 1.57, revelando um ajustamento adequado. Os outros indicadores de ajustamento, designa- damente o CFI com um valor de 0.951, o GFI com 0.942, o AGFI com 0.911 e o RMSEA com 0.053 sugerem, igualmente, que o modelo com dois fatores se ajusta aos dados, confirmando uma estrutura em duas dimensões na avaliação da identidade profissional dos professores de educação física. Temos, assim, como primeiro fator o Envolvimento Pedagógico, que com- preende os itens 13, 19, 21, 25, 29 e 37 e como segundo fator o Motivacional, que compreende os itens 5, 14, 22, 30 e 36.
DISCUSSÃO
Numa sociedade onde a mudança ocupa um lugar central, a compreensão da identidade profissional docente tem de considerar, neces- sariamente, o professor em exercício em ambiente profissional e formativo, ou seja, tem de considerar a existência de uma identidade que é criada tanto no palco da profissão, como no palco da formação (inicial e contínua) por- que não pode deixar de estar sujeita à influên- cia das experiências pessoais e profissionais (Borges, 2003; Lahire, 2002; Rezer, 2007).
Ora a indagação da identidade profissional do professor de educação física, nestes diferen- tes palcos, afigura-se como uma tarefa compli- cada, porque estudar a sua identidade profis- sional implica também o reconhecimento da heterogeneidade que carateriza este grupo disciplinar. Assim, desde as diferenças indivi- duais dos percursos de formação inicial e con- tínua até às afinidades grupais que distinguem, aproximam ou opõem uns professores em rela- ção aos outros no seio do mesmo grupo disci- plinar, é possível encontrar uma grande diver- sidade de variáveis que sustentam esta hetero- geneidade (Moreira & Ferreira, 2011). A proli- feração dos cursos a partir da década de noven- ta e que se foram apresentando com designa- ções diferenciadas, em várias instituições do setor estatal e do domínio privado, concorre- ram para a heterogeneidade da identidade dos professores de educação física (Moreira, 2013). Sendo numerosas as variáveis que concorrem para esta heterogeneidade, podendo conside- rar-se, entre outras, o nível de ensino em que os professores lecionam, a situação profissio- nal, a habilitação académica, o tempo de servi- ço e a posição na carreira, a experiência profis- sional, entendemos importante estabelecer o que os define como docentes no espaço de educação formal.
Motivados, pois, por esta complexa tarefa procurámos desenvolver um estudo que possi- bilitasse indagar a forma como estes professo- res de educação física, provindo de diferentes escolas de formação existentes em Portugal desde a década de 40 do século XX, se perce- cionam no exercício da sua profissão e se afir- mam enquanto docentes de uma disciplina singular no contexto escolar. Diante da dificul- dade de encontrar um instrumento específico fidedigno para avaliar a identidade dos profes- sores de educação física, o que, de algum modo, se alinha diante da ideia de outros investigadores que referem a escassez de estu- dos relacionados com a identidade profissional destes docentes (Dowling, 2006, 2011; Gomes et al., 2013), decidimos construir uma escala de avaliação da identidade profissional para este grupo disciplinar, inspirados, sobretudo, nos estudos desenvolvidos por Kelchtermans (1993, 1995), que se revelaram determinantes para o desencadear da etapa inicial da explora- ção e clarificação das principais dimensões da identidade docente.
Após a realização de um pré-teste, e poste- riormente administrada a Escala de Identidade Profissional de Professores de Educação Física, a uma amostra de 206 professores de educação física, concluiu-se que o instrumento possui qualidades psicométricas satisfatórias. A análi- se da consistência interna dos dois fatores identificados - Envolvimento Pedagógico e Motivacional - revelou que se trata de um instrumento fidedigno. Ora, uma vez que estes fatores se apresentam internamente consisten- tes, bem definidos pelos itens, concluímos que a escala revela qualidades psicométricas pelo que nos parece interessante o seu uso em futu- ros estudos a desenvolver nesta área.
Na verdade, para além de bons indicadores de validade, globalmente, as medidas aplicadas caraterizam-se por uma fidelidade que conside- ramos boa ou adequada e com estruturas fato- riais interpretáveis, pressupondo, portanto, que avaliam, de forma consistente, as variáveis que pretendem medir, constituindo-se como uma escala capaz de contribuir para o esclare- cimento da identidade profissional dos profes- sores de educação física.
CONCLUSÕES
Em síntese, podemos afirmar que o instru- mento de investigação que construímos é váli- do para avaliar a identidade profissional destes professores, medindo duas dimensões distintas deste construto: a dimensão Envolvimento Pedagógico relacionada com a forma como o professor define o seu trabalho, como se rela- ciona com os alunos e, sobretudo como se perceciona enquanto profissional e a dimensão Motivacional que aponta para aspetos motiva- cionais relacionados com a prática profissional.
Agradecimentos:
Nada a declarar.
Conflito de Interesses:
Nada a declarar.
Financiamento:
Estudo apoiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT).
REFERÊNCIAS
Borges, C. (2003). O professor de educação física e a construção do saber. Campinas: Papirus.
Bryan, A., & Cramer, D. (1993). Análise de dados em ciências sociais: Introdução às técnicas utilizando o SPSS. Oeiras: Celta Editora.
Cronbach, L. (1984). Essencial of psychological testing. New York: Harper & Row.
Dowling, F. (2006). Physical education teacher educators' professional identities, continuing professional development and the issue of gen- der equality. Physical Education and Sport Peda- gogy, 3, 247-263.
Dowling, F. (2011). Are PE teacher identities fit for postmodern schools or are they clinging to modernist notions of professionalism? Sport, Education and Society, 2, 201-222. doi: 10.1080/ 13573322.2011.540425
Ferreira, A. G., & Moreira, J. A. (2010). A auto- estima profissional dos professores de Educa- ção Física em Portugal. Exedra, 4, 65-80.
Ferreira, A. G., & Moreira, J. A. (2012). Perceptions of Pedagogical Practices of Physical Education Teachers in Portugal since the 1970s. SportLo- gia Journal, 8, 21-28. doi: 10.5550/sgia.120801. en.021F
Ferreira, A. G., Moreira, J. A., & Ferreira, J. A. (2011). Percepções sobre o Estatuto Sociopro- fissional dos Professores de Educação Física em Portugal. Revista Portuguesa de Pedagogia, Extra- Série, 205-223.
Gomes, P., Ferreira, C., Pereira, A., & Batista, P. (2013). A identidade profissional do professor: Um estudo de revisão sistemática. Revista Brasi- leira de Educação Física e Esporte, 27(2), 247-267. doi: 10.1590/S1807-55092013000200009
Kelchtermans, G. (1993). Getting the story, under- standing the lives: From career stories to teacher's professional development. Teaching and Teacher Education, 9, 443-456.
Kelchtermans, G. (1995). A utilização de biografias na formação de professores. Aprender, 18, 5-20.
Lahire, B. (2002). O homem plural: Os determinantes da acção. Petrópolis: Vozes.
Moreira, J. (2013). Perspetiva Histórico-Contemporânea da Educação Física em Portugal. Santo Tirso: DeFacto Editores.
Moreira, J. A., & Ferreira, A. G. (2011). A Identida- de Socioprofissional dos Professores de Educa- ção Física em Portugal. e-curriculum, 7, 1-21.
Moreira, J. A., & Ferreira, A. G. (2012). A auto- imagem profissional dos professores de Educa- ção Física em Portugal. Educação & Realidade, 37, 741-763.
Nunnaly, J. C. (1978). Psychometric theory. New York: McGraw-Hill.
Oliveira, J. (2012). O Ensino da Educação Física em Portugal: Difusão e Implementação da Ginástica Sue- ca em Portugal na Primeira Metade do Século XX. Dissertação de Doutoramento não publicada. Universidade de Coimbra, Portugal.
Oppenheim, A. (1979). Questionnaire design and atti- tude measurement. Grã-Bretanha: Morrison & Gibb.
Pestana, M., & Gageiro, J. (2003). Análise de dados para as Ciências Sociais - A complementaridade do SPSS (3a ed). Lisboa: Edições Sílabo.
Rezer, R. (2007). Relações entre conhecimento e prática pedagógica no campo da Educação Físi- ca: Pontos de vista. Motrivivência, 19, 38-62.
Stevens, J. (1986). Applied multivariate statistics for the social sciences. New Jersey: Lawrence Erlbaum Associates.
Tinsley, H., & Tinsley, D. (1987). Uses of factor analysis in counseling psychology research. Journal of Counseling Psychology, 34, 414-424.
José António Marques Moreira,1* * António Gomes Ferreira,2 Joaquim Armando Ferreira 2
Artigo recebido a 25.05.2013; 1a Revisão 05.09.2013; 2a Revisão 13.01.2014; Aceite 16.02.2014
1 Departamento de Educação e Ensino à Distância, Universidade Aberta, Lisboa, Portugal
2 Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, Coimbra, Portugal
* Autor correspondente : Universidade Aberta, Departamento de Educação e Ensino à Distância, Rua do Amial, n.° 752, 4200-055 Porto - Portugal; E-mail: [email protected]
(ProQuest: Appendix omitted.)
You have requested "on-the-fly" machine translation of selected content from our databases. This functionality is provided solely for your convenience and is in no way intended to replace human translation. Show full disclaimer
Neither ProQuest nor its licensors make any representations or warranties with respect to the translations. The translations are automatically generated "AS IS" and "AS AVAILABLE" and are not retained in our systems. PROQUEST AND ITS LICENSORS SPECIFICALLY DISCLAIM ANY AND ALL EXPRESS OR IMPLIED WARRANTIES, INCLUDING WITHOUT LIMITATION, ANY WARRANTIES FOR AVAILABILITY, ACCURACY, TIMELINESS, COMPLETENESS, NON-INFRINGMENT, MERCHANTABILITY OR FITNESS FOR A PARTICULAR PURPOSE. Your use of the translations is subject to all use restrictions contained in your Electronic Products License Agreement and by using the translation functionality you agree to forgo any and all claims against ProQuest or its licensors for your use of the translation functionality and any output derived there from. Hide full disclaimer
Copyright CIDESD/FTCD, Research Centre for Sports Sciences, Health and Human Development; University of Trás-os-Montes and Alto Douro/MotriPress 2014
Abstract
This article reports the procedures to design a physical education teachers' professional identity scale and its psychometric features. After reflecting on the construct and its operationalisation, the researchers analyzed the procedures required for its design and validity of the construct and analyzed the internal consistency by calculating the Cronbach alpha coefficient. After carrying out a pre-test and then administering a scale to a sample of 206 physical education teachers, they concluded that the instrument has satisfactory psychometric qualities. Thus, because these factors are internally consistent and well defined by the items, they concluded that the scale has psychometric qualities that support its use as a reliable research instrument. Further to providing good validity indicators, the measures applied are characterized by being reliable or adequately reliable and having interpretable factorial structures, suggesting that they consistently assess the variables they intend to measure, thus being an appropriate instrument to assess the professional identity of physical education teachers.
You have requested "on-the-fly" machine translation of selected content from our databases. This functionality is provided solely for your convenience and is in no way intended to replace human translation. Show full disclaimer
Neither ProQuest nor its licensors make any representations or warranties with respect to the translations. The translations are automatically generated "AS IS" and "AS AVAILABLE" and are not retained in our systems. PROQUEST AND ITS LICENSORS SPECIFICALLY DISCLAIM ANY AND ALL EXPRESS OR IMPLIED WARRANTIES, INCLUDING WITHOUT LIMITATION, ANY WARRANTIES FOR AVAILABILITY, ACCURACY, TIMELINESS, COMPLETENESS, NON-INFRINGMENT, MERCHANTABILITY OR FITNESS FOR A PARTICULAR PURPOSE. Your use of the translations is subject to all use restrictions contained in your Electronic Products License Agreement and by using the translation functionality you agree to forgo any and all claims against ProQuest or its licensors for your use of the translation functionality and any output derived there from. Hide full disclaimer