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I. Introdução1
O artigo tem como objetivo analisar os impactos de uma experiência concreta de educação política para o segmento juvenil promovida pela Câmara dos Deputados. Trata-se do Parlamento Jovem Brasileiro (PJB), iniciativa promovida anualmente, desde 2004. O foco da análise é a percepção dos próprios jovens que participaram da experiência ao longo de 10 anos (2004 a 2013), a partir das seguintes questões: como os jovens avaliam os impactos educativos do PBJ em sua vida cotidiana? Em que medida a experiência interferiu na formação política dos egressos? O que os jovens destacam em suas narrativas sobre os impactos do PJB em sua formação política?
O estudo situa-se no âmbito das convergências entre o aprendizado político do cidadão, a formação da cultura cívica e o fortalecimento da cultura democrática. Os pressupostos teóricos são ancorados em contribuições reconhecidas no campo da sociologia política, com ênfase para os autores que enfatizam o papel político da educação nas sociedades democráticas, tais como Max Weber (1999), Hannah Arendt (1983), Habermas (1997) e Agnes Heller (1998). Ademais, são utilizados estudos específicos sobre socialização política e educação para a democracia, além de pesquisas empíricas sobre experiências de educação para democracia juvenil no Brasil e no exterior. Na história das ideias democráticas a educação é recorrentemente citada como esteio para a construção social e política de uma cultura cívica capaz de sustentar os regimes políticos de cariz democrático (Brandão 2006; Luchmann 2012). Afinal, é pelo aprendizado político que os cidadãos se habilitam a participar da vida pública, mediante o princípio da troca de razões públicas.
Antes, porém, é oportuno esclarecer em que sentido os conceitos de aprendizado político, de cultura democrática e de educação para a democracia são aqui utilizados. O primeiro “relaciona-se diretamente com o desenvolvimento de atitudes e comportamentos considerados fundamentais para uma sociedade democrática” (Barros 2016, p.863), o que inclui “a aquisição e o aumento de informações, o desenvolvimento de virtudes cívicas, a exemplo da cooperação, do respeito e da tolerância e de habilidades políticas, na conformação de uma cidadania pautada na autonomia, dimensão central da democracia” (Luchmann 2012, p.515). No plano social, “esse aprendizado abrange a formação de relações coletivas e de confiança que são constitutivas do capital social, considerado fundamental para uma sociedade democrática” (Barros 2016, p.863)....