Este artigo apresenta os resultados de um experimento conduzido entre setembro de 2014 e julho de 2015 para verificar a responsividade dos parlamentares brasileiros a questoes enviadas por cidadaos, sob distintas condiçoes. Para isso, foram enviadas quatro rodadas de mensagens, ao longo do período, aos 513 deputados federais, controlando os incentivos. Testamos tres fatores: a) o conteúdo da mensagem (potencial eleitor versus uma questao sobre votaçao de projeto de lei em plenário); b) o período em que a mensagem foi enviada (eleitoral e nao eleitoral); c) a plataforma por meio da qual a mensagem foi enviada (e-mail e mídias sociais). Em geral, a taxa de respostas é muito pequena, indicando a baixa responsividade digital dos parlamentares brasileiros. O modelo de regressao logística demonstra que "período eleitoral" nao exerce grande influencia, que "incentivos do conteúdo da mensagem" aumentam em dez vezes a probabilidade de resposta e que "mensagens enviadas via mídias sociais" aumentam em nove vezes a probabilidade de resposta. Discutimos os resultados sob a luz da teoria dos incentivos políticos e da ampliaçao das possibilidades de accountability trazidas pelas ferramentas de comunicaçao política online. Acreditamos que a pesquisa abre caminho para futuras abordagens experimentais nessa seara.
Palavras-chave: experimento; legislativo; interatividade; responsividade; Facebook
Abstract
This article presents the results of an experiment conducted between September 2014 and July 2015 to check the responsiveness of Brazilian congressmen to questions submitted by citizens under various conditions. A series of messages were sent over the period, controlling incentives. We tested three factors: a) the message content (potential voter versus a question on issues that are the subject of political debate); b) the period in which the message was sent (during or not during electoral campaigns); c) the platform through which the message was sent (email and social media). The logistic regression model shows: i) the election period does not have a significant influence; ii) incentives in message content increase tenfold the probability of receiving a response; iii) messages sent via social media increase nine times the probability of response. Overall, the response rate is very low, indicating the low responsiveness of Brazilian deputies. We discuss these results drawing on the theory of political incentives and the possibilities of accountability that have emerged with online political communication tools. We believe that the present research paves the way for future experimental approaches in this area.
Keywords: experiment; legislation; interactivity; accountability; Facebook
Resumen
Este artículo presenta los resultados de un experimento llevado a cabo entre septiembre de 2014 y julio de 2015 para comprobar la capacidad de respuesta del Congreso brasileño a las cuestiones planteadas por los ciudadanos en diferentes condiciones. Para ello, se enviaron una serie de mensajes durante el período, controlando los incentivos. Hemos probado tres factores: a) el contenido del mensaje (potencial votante vs. pregunta sobre la votación de un proyecto de ley en el plenario); b) el período en que se envió el mensaje (electoral y no electoral); c) la plataforma a través de la cual se envió el mensaje (correo electrónico y medios sociales). El modelo de regresión logística muestra que el período electoral no ejerce gran influencia, que los incentivos en el contenido del mensaje aumentan diez veces la probabilidad de respuesta y los mensajes enviados a través de las redes sociales aumentan nueve veces la probabilidad de respuesta. En general, la tasa de respuesta es muy baja, lo que indica la poca capacidad de respuesta de los diputados brasileños. Discutimos los resultados a la luz de la teoría de los incentivos políticos y las posibilidades de accountability aportadas por las herramientas de comunicación política en línea. Creemos que la investigación abre el camino para futuros enfoques experimentales en esta área.
Palabras-clave: experimento; legislativo; interactividad; capacidad de respuesta; Facebook
Résumé
Cet article présente les résultats d'une expérience menée entre septembre 2014 et juillet 2015 pour vérifier la réactivité des activités du congres brésilien aux questions posées par les citoyens dans différentes conditions. Pour cela, une série de messages ont été envoyés au cours de cette période, contrôlant les incitations. Nous avons testé trois facteurs: a) le contenu du message (électeur potentiel par rapport å une question sur le vote d'un projet de loi å l'assemblée); b) l'époque å laquelle le message a été envoyé (période électorale ou non); c) la plate-forme â travers laquelle le message a été envoyé (courrier électronique et médias sociaux). Le modele de régression logistique démontre que la période électorale n'exerce pas de grande influence, que les incitations dans le contenu du message multiplient par dix la probabilité de réponse et les messages envoyés via les médias sociaux multiplient par neuf la probabilité de réponse. Dans l'ensemble, le taux de réponse est tres faible, ce qui indique la faible réactivité des députés brésiliens. Nous discutons les résultats â la lumiere de la théorie des incitations politiques et des possibilités de accountability apportées par les outils de communication politique en ligne. Nous croyons que la recherche ouvre la voie aux approches expérimentales futures dans ce domaine.
Mots-clés: expérience; législatif; interactivité; réactivité; Facebook
Introduçâo
Muito se fala sobre as supostas promessas nao cumpridas pela internet, ou ainda, sobre como a internet nao trouxe os (benéficos) impactos políticos que dela se esperavam, como, por exemplo: uma esfera civil informada; a liberaçao do polo de emissao que, potencialmente, transformaría os cidadaos em ativos produtores de informaçao, desafiando a lógica unilateral dos meios massivos de comunicaçao, e criaria uma espécie de rede nao hierarquizada, descentralizada; e as possibilidades de uma maior e mais frequente participaçao cidada nas tomadas de decisoes públicas que seriam enormemente facilitadas pelos meios digitais, o que, já sabemos, ocorreu de fato, mas nao na medida e da maneira que era pregado (Hindman, 2009). Dentre as promessas, uma frequentemente relatada e especialmente verificada é a interatividade, a rigor, um aumento da interaçao entre cidadaos e agentes e instituiçoes políticas.
A premissa é simples: nas sociedades massivas contemporáneas, a política se tornou gradativamente mais profissionalizada e mais distante da esfera civil, que passou a se preocupar menos com a vida pública e mais com seus próprios afazeres e vontades. Nas últimas décadas, entretanto, a lacuna entre representantes e representados se tornou tamanha que estes estao se sentindo cada vez mais apáticos e cínicos em relaçao aqueles e, também, em relaçao a instituiçoes e atividades políticas. Nesse cenário, as tecnologías digitais aparecem como uma possível soluçao (ou, ao menos, alívio) para tal diagnóstico (Ward e Lusoli, 2005; Williamson, 2009a, 2009b).
Grosso modo, a interaçao entre agentes da esfera civil e da esfera política formal poderia acarretar uma série de impactos positivos na qualidade da democracia, tais como o esclarecimento de questoes dos cidadaos, o registro de atitudes e inclinaçoes políticas do público e mesmo a discussao e a construçao colaborativa de ideias e projetos com a participaçao de representantes e representados. Assim, de uma maneira geral, estava muito presente na literatura mais recente o argumento de que as tecnologias digitais reduziriam o gap entre esfera civil e esfera política, e que essa reduçao aumentaria a confiança dos cidadaos em agentes e instituiçoes políticas (ver Aggio, 2015; Kaid e Postelnicu, 2005; Stromer-Galley, 2014; Lilleker e Jackson, 2009).
Mesmo que nao se aceite inteiramente a premissa acima apresentada, é fato que há uma expectativa na esfera civil de maior interatividade com seus representantes e instituiçoes políticas, uma vez que já estamos interagindo online constantemente nao apenas com outros indivíduos, mas com uma série de instituiçoes do mercado, como bancos, agencias de viagens e mesmo perfis de marcas (Coleman e Brumler, 2009). Isso, claro, também significa que a interatividade nao pode se restringir aquela midiática ou aquela que ocorre de forma espontánea nas redes sociais digitais (tais como curtidas e compartilhamentos de postagens) e que se esperam respostas significativas após demandas de interaçao.
Portanto, compreendendo a resposta (ou feedback) como uma das formas de interaçao e como parte do processo de responsividade do representante para com o representado e o cidadäo comum em geral (embora, evidentemente, esse processo nao se limite a esse aspecto), o objetivo inicial deste artigo é verificar, primeiro, se os políticos brasileiros respondem aos questionamentos de seus eleitores e dos cidadäos em geral por intermedio das ferramentas propiciadas pela internet, e segundo, se existem incentivos ou fatores específicos que aumentam as chances de políticos responderem a essas demandas4. As questoes de pesquisa foram elaboradas a partir de tres discussoes teóricas existentes na literatura e aprofundadas mais adiante. Essas questoes sao: a) o conteúdo das mensagens enviadas pelos cidadaos e potenciais eleitores influi na responsividade digital do representante? Com efeito, experimentos efetuados em outros países observam que, conforme o conteúdo da mensagem enviada ao membro do parlamento, a taxa de resposta pode ser uma ou outra, com mensagens que tratam de questoes eleitorais apresentando uma taxa de resposta maior que mensagens sobre outros assuntos; b) existem incentivos de ordem distinta para que os políticos em geral (e os representantes em particular) interajam com os cidadaos em períodos eleitorais e nao eleitorais (adiante podemos ver que, para um grupo de autores, essa diferença existe, enquanto outro a nega); e, por fim, c) as características da ferramenta digital utilizada (especialmente o email oficial disponibilizado e o inbox do Facebook) interferem na intensidade da interaçao com o representante? Para uma vertente da literatura, os e-mails, por seus atributos enquanto ferramenta de comunicaçao, se prestam menos a uma interaçao mais individualizada com o representante do que o Facebook, o qual dificulta o anonimato, o envio de spams e o overload ou sobrecarga de mensagens, especialmente as enviadas através de robôs ou bots, servindo assim como incentivo para um contato mais direto e informal entre cidadaos comuns e representantes. Dessa forma, o Facebook, por suas características enquanto mídia, serviría como uma plataforma mais eficaz de interaçao direta dos cidadaos com os políticos, que utilizam tanto as timelines das fanpages desses últimos quanto outros recursos, como o inbox através do aplicativo Messenger e mesmo endereços eletrônicos disponibilizados na plataforma.
Para descobrir as respostas a essas questoes, realizamos um experimento, dividido em quatro rodadas, ao longo de um ano e meio de aplicaçoes. Este artigo apresenta os resultados finais de tal experimento. Compusemos e enviamos mensagens, a partir de remetentes fictícios, via e-mail e mídias sociais, aos 513 deputados federais brasileiros, controlando, a cada etapa da aplicaçao, vários fatores, que depois testamos estatisticamente para identificar em que medida influenciam a probabilidade de os representantes responderem ou nao. Ao todo, foram realizados 2.052 contatos, entre setembro de 2014 e julho de 2015, contemplando, portanto, as 54a e 55a legislaturas da Cámara dos Deputados do Brasil.
O primeiro modelo compara o conteúdo da mensagem enviada. O segundo modelo compara os períodos eleitoral e nao eleitoral. O terceiro e último modelo compara a plataforma utilizada para contato. Testamos, portanto, tres incentivos: a) o conteúdo efetivo da mensagem (uma eleitora oferecendo apoio eleitoral ao lado de outra cobrando um posicionamento sobre uma votaçao no plenário); b) o período temporal em que a mensagem foi enviada (eleitoral e nao eleitoral); c) o meio pelo qual a mensagem foi enviada (e-mail e inbox do Facebook). Essas sao nossas variáveis independentes, que testamos em um modelo de regressao logística. Complementarmente, para complexificar a análise, testamos também a influencia de 15 variáveis, relacionadas a perfil, desempenho e atuaçao política dos parlamentares, como intervenientes, a fim de mensurar se haveria mudanças no efeito de nossas variáveis principais de acordo com os diferentes subgrupos de deputados e deputadas. Explicamos os detalhes dessas variáveis de controle adiante.
Esclareça-se desde o início que o objetivo central de nosso artigo nao é testar o potencial das redes digitais como um todo para aumentar a interaçao dos representantes com os cidadaos por meio da internet - esse potencial já tem sido objeto de inúmeros estudos no Brasil e em outros países -, mas sim relatar os resultados de um experimento avaliando uma dimensao específica dessa interatividade, qual seja, aquela que ocorre por meio de e-mails e mensagens internas no Facebook. Assim sendo, o experimento nao deve ser utilizado como um meio exclusivo ou mesmo predominante para avaliar o potencial de interaçao do Facebook, o qual pode ser auferido complementarmente por outras métricas, como, por exemplo, o engajamento e o impacto das mensagens divulgadas pelos representantes.
Feitos esses esclarecimentos preliminares, nossas hipóteses sao as seguintes:
Hipótese 1: Políticos tendem a responder mais a mensagens que possuam, em seu conteúdo, incentivos eleitorais do que a mensagens sobre temas intrusivos, com aspectos técnicos e/ou sem incentivos eleitorais.
Hipótese 2: Políticos tendem a responder mais a mensagens em períodos eleitorais do que em períodos nao eleitorais.
Hipótese 3: Políticos tendem a responder mais mensagens enviadas por meio de novas plataformas de comunicaçao (mídias sociais) do que por meios tradicionais (e-mail). Hipótese 4: Colocados sob a mesma estrutura de incentivos, atores racionais, mesmo que com distintos perfis sociais e políticos, tendem a reagir de forma semelhante.
O artigo se organiza da seguinte maneira: além da Introduçao e das Consideraçoes finais, na primeira seçao, "Responsividade e incentivos", realizamos uma revisao de literatura e apresentamos alguns parámetros analíticos que justificam o experimento sobre a responsividade dos políticos por intermédio das ferramentas digitais. Argumentamos que, embora a questao seja relativamente simples, ela é um indicador do processo de responsividade, que, por sua vez, é um dos pilares da democracia representativa moderna (Mansbridge, 2003; Manin, 2013). Também apresentamos na segunda seçao, "Experimentos e comportamente político", estudos internacionais que já realizaram experimentos semelhantes, conduzidos nos Estados Unidos e na Europa, nos quais esta pesquisa é inspirada, além de alguns poucos estudos de natureza análoga existentes no Brasil. Na seçao seguinte, "Desenho de pesquisa", sao apresentados os contornos mais gerais de nossa análise, momento no qual também sao tratadas as questoes éticas envolvendo o experimento. A seguir, nas seçoes "Resultados" e "Discussao", sao apresentados e debatidos os resultados da pesquisa, cotejando-os a luz da literatura. Eles apontam que, surpreendentemente, o período eleitoral nao exerce grande influencia na probabilidade de obter uma resposta. Por outro lado, os incentivos do conteúdo presentes na mensagem, assim como o meio pelo qual ela foi enviada, apresentam valores estatisticamente fortes. Apontamos duas ordens distintas de argumentos para explicar isso. Sobre os incentivos de conteúdo, nos baseamos nas teorias clássicas sobre comportamento político. Sobre as redes sociais, além da própria ascensao desse meio de comunicaçao, apontamos aspectos organizacionais dos gabinetes legislativos e as características de cada mídia digital como possíveis explicaçoes para a razao de essa plataforma se constituir em um meio privilegiado de comunicaçao entre eleitores e representantes.
Responsividade e incentivos
Se representar significa ser responsivo aos representados (Pitkin, 1967), a accountability é "o mais fundamental requerimento da governança democrática" (Coleman, 2005, p. 190)5. Dessa perspectiva, estar ao alcance dos eleitores e responder a estes é fundamental. O princípio da accountability é simples, embora a teoria seja mais complexa do que isso: os representantes devem prestar contas e ser responsivos (accountable) perante aqueles que os incumbem de poder. Se nao o fazem, estao suscetíveis a diversos mecanismos de sançao, que podem ocorrer por outras instituiçoes do próprio Estado ou mesmo pela soberanía popular, que pode promover uma sançao posterior, retirando-os do poder (Miguel, 2005). Mecanismos de accountability, portanto, se referem as formas como esta ocorre: o governante prestando contas e sendo responsivo ao cidadao (answerability) e as puniçoes sendo realizadas por órgaos competentes (enforcement) e/ou por cidadaos durante o momento das eleiçoes (electoral accountability) (Schedler, 1999). Muitos autores tem chamado a atençao para o fato de que o desenvolvimento das tecnologias digitais, cada vez mais interativas, tem promovido mudanças incrementais em direçao a uma forma de comunicaçao mais direta com os cidadaos, colocando nas maos do representante ferramentas para uma prestaçao de contas direta e quase em tempo real de suas atividades (Coleman, 2005; Coleman e Moss, 2008). Esse fenómeno pode relacionar-se com o princípio da accountability na medida em que um parlamentar pouco responsivo (ou seja, que nao responde aos questionamentos e demandas dos cidadaos, ou que prevarica, durante o exercício do mandato) está sujeito a sançoes por ocasiao das eleiçoes, isto é, pode nao ser reeleito justamente em funçao dessa frustraçao das expectativas de sua base eleitoral originária e dos cidadaos de uma maneira geral.
Estudos já desenvolvidos nessa seara versam sobre questoes significativamente distintas, como o papel das instituiçoes políticas na modulaçao das estruturas de accountability (Lederman, Loayza e Soares, 2005), a relaçao entre centralizaçao e descentralizaçao do governo e accountability (Seabright, 1996), o processo de decision-making no parlamento (Bergman et al., 2006), a importancia dos partidos políticos como mediadores para a accountability (Müller, 2000), a relaçao entre accountability e cobertura da imprensa (Snyder Jr. e Strömberg, 2010), a relaçao entre eleitores, accountability e patrimonialismo (Lyne, 2007), além de experimentos que testam se o eleitor olha retrospectivamente para demandar accountability de seus representantes durante os pleitos (Woon, 2012) ou se os parlamentares respondem as demandas recebidas e as encaminham (Broockman, 2013).
Na contemporaneidade, se um dos desafios da interaçao, da participaçao e da responsividade envolvendo agentes políticos e cidadaos está na questao da escala (i.e., a impossibilidade de formas de interaçao e participaçao direta dos cidadaos por restriçoes temporais e geográficas), certamente os novos meios digitais e online parecem oferecer oportunidades para aumentar a responsividade dos representantes aos representados através de oferta de uma miriade de mecanismos digitais de interaçao (Coleman, 2005; Coleman e Brumler, 2009; Marques, 2007), como é o caso de plataformas e aplicativos de redes sociais, wikis, blogs ou mesmo através de mecanismos diretos, como formulários de contato e e-mail, geralmente disponíveis em websites de representantes e instituiçoes. Em outras palavras, tornou-se tarefa hercúlea (se nao impraticável) para os representantes políticos responderem pessoalmente as demandas de seus representados de forma direta e constante.
Segundo Manin (1995), com a evoluçao das formas de representaçao, a tarefa de intermediaçao entre cidadaos e governo passou, inicialmente, para os partidos políticos, que recebiam e reenviavam dúvidas e demandas cidadas, e, posteriormente, para a imprensa, que passou a controlar o que Gomes (2004) chama de esfera de visibilidade pública. Ou seja, em grande medida, nas sociedades contemporáneas, os cidadaos só tem suas demandas ouvidas e respondidas se conseguirem, anteriormente, atrair cobertura jornalística e, consequentemente, visibilidade midiática para suas requisiçoes.
Atualmente as redes digitais oferecem ferramentas online que permitem, potencialmente, que essa interaçao aconteça de maneira mais rápida, direta6 e frequente. A título de exemplo, podemos entender os websites de candidatos e governos como portais de informaçao e de resposta a diversas demandas de accountability (enquanto answerability) da sociedade (Marques, 2007; Silva, 2005). Se antes o mais comum era o envio de cartas a seu representante, tal processo se tornou consideravelmente mais fácil e rápido com os recursos da internet e formas de comunicaçao online. Agora, por exemplo, um mesmo e-mail pode seguir velozmente para vários parlamentares (ou mesmo para todos!), especialmente quando o desejo é fazer pressao sobre eles (Pereira, Marona e Pinheiro, 2011; Stábile, 2012).
Nos tempos atuais, tentamos interagir e esperamos algum tipo de resposta de nossos candidatos e atores políticos nas mídias sociais (e.g., Twitter, Facebook, Instagram etc.), uma vez que a interaçao é uma das características mais marcantes dessas plataformas e se espera que os agentes políticos moldem seus comportamentos de acordo com esses meios (Aggio, 2015; Braga, Nicolás e Becher, 2013; Chadwick, 2009; Coleman, 2005; Marques e Sampaio, 2011).
Desde há algum tempo, estudos tem apontado que isso implica vários ganhos para os parlamentares em capacidade de comunicaçao e divulgaçao de mensagens, mas também alguns custos e problemas, tais como a ausencia de staff ou capacidade técnica para lidar com as novas ferramentas de comunicaçao, o excesso de mensagens por parte dos internautas ou mesmo o desinteresse puro e simples de lidar com as novas ferramentas digitais (Alperin e Schultz, 2003; Ward e Lusoli, 2005). A referencia clássica aqui é o trabalho de Stromer-Galley (2000), que aponta tres razoes básicas para que os candidatos evitem a interaçao com os cidadaos, especialmente em períodos eleitorais: onerosidade, riscos da perda de controle pelo emissor e perda da ambiguidade do discurso. Entretanto, se isso era válido para os tempos da primeira geraçao das ferramentas da internet, estudos recentes afirmam que, com a sofisticaçao das tecnologias digitais e sua entrada num segundo estágio mais colaborativo, essas possibilidades de interaçao aumentam e, por conseguinte, também as possibilidades de uma responsividade mais direta do representante em relaçao aos cidadaos (Aggio, 2015; Coleman, 2005; Gibson, 2015).
Entendemos que o e-mail continua sendo uma forma mais "oficial" de contato que as páginas de redes sociais, podendo assim receber um tratamento diferenciado pelos parlamentares. A título de exemplo, no portal da Cámara, no contato de cada deputado, há geralmente números de telefone de seu gabinete e seu endereço oficial de e-mail (e nao o de suas páginas nas redes sociais).
Nao obstante, reconhece-se que os deputados podem ser resistentes em responder e-mails por uma gama de fatores. Evidentemente, o principal motivo tende a ser a excessiva quantidade de mensagens (Marques, 2007). Para além de todos os cidadaos e grupos interessados em tirar suas dúvidas ou enviar demandas aos parlamentares, nao podemos ignorar que, atualmente, um considerável conjunto de atores enviam constantemente e-mails a vários deputados para fazer pressao sobre determinadas votaçoes. Além dos grupos de pressao tradicionais, também estamos nos referindo a grupos de pressao sem presença física, como é o caso do Avaaz (Aldé e Santos, 2012), que realizam petiçoes online e enviam e-mails aos parlamentares em nome de seus participantes, utilizando ferramentas que sao criadas para enviar automaticamente e-mails a todos os parlamentares sobre determinada questao, como foi o caso, por exemplo, do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff7.
Entretanto, os estudos demonstram que, apesar dos novos canais e meios digitais, a interaçao básica entre representantes e representados é, constantemente, relegada. Vaccari (2014) abordou o tema dos e-mails dos candidatos e partidos, comparando seis países europeus e Estados Unidos, em artigo ironicamente intitulado "Voce näo recebeu nenhum e-mail". Para o autor, a importancia do objeto reside no fato de ser esse um componente básico da comunicaçao online dos internautas, tendo baixo custo para o usuário, sem que este precise estabelecer relaçoes pessoais com os gabinetes. Vaccari afirma a importancia do objeto:
Although email is still one of the most popular components of users' experience of the internet, its use by political actors in campaigns has rarely been studied. Because it is easy to use and a constant presence in citizens' everyday digital lives, email can be an important communication channel between elites and voters in representative democracy. Email can allow citizens to send feedback to politicians at very little cost and without the need to establish personal connections with often distant and inaccessible staffers (Vaccari, 2012, p. 1).
Portanto, podemos tomar, tal qual Vaccari, esse objeto como um indicador (proxy) de responsividade dos representantes - sem que, novamente relembramos, isso implique reduzir o conceito a somente essa açao.
No Brasil, foram efetuados poucos estudos sobre a responsividade dos parlamentares através de e-mails e outras ferramentas digitais. Os estudos pioneiros de França, Martins e Braga encontraram uma baixa taxa de resposta dos vereadores, deputados estaduais e federais, tendo os vereadores maior responsividade que estas duas últimas categorias de representantes (França, Martins e Braga, 2006). Martins também encontrou uma baixa taxa de resposta em sua análise da tramitaçao da lei de biossegurança (Martins, 2005) e Pereira, Marona e Pinheiro (2011), em sua análise do programa "Fale com o Deputado", da Camara do Deputados, encontraram taxa de resposta média de cerca de 5,0% nos e-mails enviados aos parlamentares. Entretanto, inexistem ainda estudos sistemáticos sobre se novas ferramentas digitais como o Facebook estao ou nao alterando esse tipo de comunicaçao mais direta entre representantes e cidadaos, sendo este um dos motivos que justificam a realizaçao deste estudo experimental. Como sabemos, o Facebook é uma plataforma catch-all, ou seja, que busca trazer para si o máximo possível de formas de interaçao. Portanto, há perfis públicos, páginas pessoais, grupos de usuários e mesmo o chat individual. Cada uma delas tem suas especificidades em termos de affordances e possibilidades de interaçao8. Para o experimento, foi utilizada justamente a ferramenta de interaçao individual direta (chat) com o perfil público de cada deputado. Acreditamos que seja aquela que justamente mais se aproxima do e-mail.
Experimentos e comportamento político
O método experimental está em ascensao e tem se tornado, no ámbito internacional, uma abordagem em crescente expansao (Mullinix et al., 2015). Experimentos se caracterizam, basicamente, por controle e manipulaçao intencional de fatores de tratamento, que permitem identificar fatores causais no comportamento observado dos objetos em análise. Embora seja ainda pouco frequente na ciencia política brasileira (Zucco Jr., 2013), a abordagem pode servir a diversos propósitos, como mostram estudos recentes de Turgeon e Rennó (2010) e Vidigal (2015).
Podemos distinguir dois tipos principais de experimentos realizados na ciencia política: com eleitores e com elites políticas. O primeiro tipo é muito mais comum, sobretudo nos Estados Unidos, relacionado aos incentivos para comparecimento eleitoral. O segundo tipo está em ascensao nos anos recentes (Loewen, Rubenson e Wantchekon, 2010).
Nosso desenho de pesquisa foi baseado, inicialmente, nos experimentos de Broockman (2013) e Vaccari (2014), abordados adiante, mas também encontra proximidade com os de Spada e Guimaraes (2013). Algumas das variáveis que utilizamos aqui, contudo, estao presentes há muito tempo em estudos correlatos.
O experimento de Broockman (2013) que tomamos por ponto de partida testou, nos Estados Unidos, as chances de congressistas brancos e negros responderem a uma demanda vinda de um cidadao negro. O autor enviou cartas aos congressistas de um remetente ficticio, pedindo ajuda com beneficios de desemprego. Quando o remetente se identificava como sendo do mesmo distrito eleitoral do congressista, nao houve diferença estatística entre deputados brancos e negros, apontando que os incentivos eleitorais (expectativa de ganhar votos futuros) levam congressistas brancos a responder e ajudar eleitores negros. Mas, quando o remetente era de fora do distrito (ou seja, nao havia incentivos eleitorais), a taxa de respostas dos congressistas negros foi substancialmente maior. O autor atribui isso ao que chama de motivaçoes intrínsecas, próprias do indivíduo. Sua conclusao é de que políticos possuem maior tendencia a promover os interesses daqueles com quem compartilham caraterísticas pessoais, tais como sexo, raça, profissao, classe ou orientaçao sexual. Essas motivaçoes intrínsecas, contudo, estao fora de nosso escopo.
A pesquisa de Broockman (2013) foi reproduzida por McClendon (2016) na África do Sul. A taxa média de respostas obtidas foi de apenas 12,9%, levando a autora a sugerir que, apesar das distinçoes račiais, que sao o foco de sua discussao, em geral, os políticos nao sao responsivos a ninguém. Adiante vemos que esse dado pode ser cotejado com nossos resultados.
Já Vaccari (2014) conduziu experimento em que buscou saber se o conteúdo da mensagem influenciava a taxa de respostas de candidatos. Para isso, mandou e-mails ficticios a estes, durante eleiçoes de seis países europeus, além dos Estados Unidos. Em um e-mail, o remetente perguntava informaçoes sobre uma questao de política pública, em outro, oferecia-se como voluntário de sua campanha. Para surpresa do autor, nao houve grandes diferenças estatísticas entre as respostas obtidas para cada um dos e-mails, o que leva Vaccari a concluir que os candidatos nao dao atençao a essa ferramenta de comunicaçao como parte da campanha ou do recrutamento de eleitores. Nesse experimento, o autor controlou apenas o conteúdo da mensagem, durante o período eleitoral, assim como fazemos na primeira etapa de nossa pesquisa.
O conteúdo da mensagem, testado por Vaccari (2014), é uma das variáveis mais utilizadas em experimentos eleitorais. Cardy (2005) e Panagopoulos (2009) compararam conteúdos de mensagens partidárias e nao partidárias na convocaçao para votar, nao encontrando diferenças substanciais - o que sugeria que outros fatores, como interesse em política, seriam mais importantes do que o conteúdo das mensagens. Gerber, Green e Green (2003) apontaram que tanto o conteúdo quanto o número de cartas enviadas convocando para a votaçao podiam ter efeito negativo no comparecimento eleitoral. No recorte sobre recrutamento de elites políticas, com foco na questao de genero, Preece e Stoddard (2015) descobriram que mensagens específicas, explicitando incentivos para candidatas, tendiam a suscitar maior interesse do grupo feminino. Fora do período eleitoral, Butler, Karpowitz e Pope (2012) investigaram se os parlamentares tendiam a responder a mais demandas sobre políticas públicas ou solicitaçoes de serviços, descobrindo que, tanto no nível estadual quanto federal (Estados Unidos), deputados tendem a ser mais responsivos a pedidos de serviços do que a policies. Já Spada e Guimaraes (2013) testaram se candidatos, durante o período eleitoral, sao mais responsivos a eleitores identificados como "fiéis" ou a indecisos, comparando, como placebo, e-mails sem referencia a eleiçoes. Os autores descobriram que candidatos tendem a responder indiscriminadamente a potenciais eleitores - comparativamente aos sem identificaçao - sejam indecisos ou fiéis.
No caso do Brasil, exceto por Spada e Guimaraes (2013), nao temos uma tradiçao de experimentos controlados como este aqui proposto, porém, em alguns estudos (Marques, 2007; Marques e Miola, 2007), chegou-se a verificar as formas de contato com websites do Congresso e mesmo a enviar e-mails aos membros do Congresso. Em um caso análogo, Silva (2005) também testou o envio de e-mails para todas as capitais brasileiras. Temos, entao, também a importancia das plataformas de comunicaçao em si como uma variável que pode intervir, positiva ou negativamente, no comportamento desses atores e na relaçao possível entre eleitor e representante.
E isso que nosso terceiro modelo irá testar: os meios pelos quais os parlamentares foram contatados. Uma abordagem próxima a esta é o experimento de Gerber e Green (2000) em New Haven, comparando diversos meios de comunicaçao utilizados para incentivar o comparecimento eleitoral. Seus resultados apontaram que o contato pessoal aumentava substancialmente o comparecimento, a correspondencia tinha um efeito baixo e os telefonemas nao tinham efeito algum. Alperin e Schultz (2003) realizaram experimento em que visava testar a eficácia das respostas de parlamentares de dois estados dos Estados Unidos em distintos tipos de contato (por carta, fax, telefone etc.). Esse desenho de pesquisa se aproxima daquele que aqui adotamos, em relaçao a última de nossas variáveis independentes.
Desenho de pesquisa
Nosso objetivo neste artigo é identificar em que medida certos incentivos, que controlamos, podem ou nao explicar a assimetria sobre quao responsivos sao os parlamentares nas mídias digitais. O universo tratado se refere aos deputados no exercício do cargo, no momento de cada aplicaçao, conforme informaçoes divulgadas no site da Cámara dos Deputados. Releve-se que tratamos apenas de uma dimensao da responsividade dos deputados, qual seja, os feedbacks a mensagens específicamente endereçadas pelos eleitores aos parlamentares através de contatos individualizados como e-mails e mensagens pessoais no Facebook. Nao analisamos aqui outros tipos de responsividade dos políticos aos cidadaos, tais como a interaçao dos deputados ou de sua assessoria a mensagens postadas pelos eleitores na timeline de sua fanpage, entre outras formas e instáncias de accountability existentes.
O Quadro 1 sintetiza as características das mensagens enviadas. O conteúdo completo das mensagens está no Anexo:
Nosso objetivo nao foi entrar no conteúdo substantivo das respostas, apenas verificar se foram ou nao respondidas as mensagens. Isto é, se os gabinetes respondem ou nao as questoes, e nao como respondem9.
Vale pontuar que, em termos metodológicos, algumas das preocupaçoes técnicas desta pesquisa sao distintas das pesquisas debatidas na seçao anterior. Uma vez que experimentos com elites políticas limitem seu escopo aos eleitos (como é nosso caso), o universo inteiro é atingido. Dessa forma, questoes como amostragem nao se aplicam. Esse é o tipo de pesquisa que Couper (2000) chamou de "amostra baseada em listas", sendo probabilistica. Em termos comparativos, essa é uma vantagem imensa em relaçao a experimentos com eleitores ou outros recortes, como o conjunto total dos candidatos nao eleitos.
Os casos escolhidos para serem tema dos questionamentos foram votaçoes que ocorreram nominalmente no plenário. Como existem temas que sao votados por liderança partidaria, se fizéssemos perguntas sobre esses votos, hipoteticamente os deputados poderiam nao responder, caso nao quisessem publicizar suas opinioes pessoais. Uma vez que tratamos de votaçoes nominais, nao há motivos para nao querer divulgar suas posiçoes, já que seus votos sao públicos e encontram-se no site da Cámara dos Deputados e na imprensa em geral.
A segmentaçao dos casos também foi planejada a fim de, mantendo a comparabilidade entre as variáveis que desejávamos comparar, maximizar os resultados. No caso do último modelo (que visa comparar o meio de comunicaçao), nosso objetivo central era cotejar a resposta por midia social (Facebook) com uma ferramenta mais tradicional (e-mail). Dessa forma, optamos por nao segmentar os conteúdos das mensagens enviadas por aquela via, já que isso é desnecessário para a comparaçao objetivada. Acreditamos que a parcimonia no desenho de pesquisa é uma de suas vantagens.
Adicionalmente, após testarmos as tres variáveis que compoem o centro desta pesquisa, optamos por colocar a prova a força delas, testando seus efeitos com 15 variáveis intervenientes, sobre perfil social e político dos parlamentares. Seria razoável alguém supor que os incentivos que testamos talvez nao afetem todo o conjunto de parlamentares da mesma forma. Isto é, individuos poderiam reagir de forma distinta aos incentivos que lhes sao impingidos, de acordo com sua filiaçao partidária, background educacional, faixa etária, e assim por diante. Ainda que todos estejam, de fato, sob o mesmo conjunto de regras do sistema democrático e da Cámara dos Deputados brasileira, eles também detem e se filiam a uma série de outros marcadores sociais, de nivel individual, que podem influenciar seu comportamento. Embora tal argumento seja válido - e o testamos -, tomamos por hipótese a negativa de tal argumento, como apresentado na Introduçao, por uma questao de coerencia lógica com o arcabouço teórico que adotamos. Apresentamos a lista das variáveis utilizadas na próxima seçao no momento de realizaçao do teste. Importante notar que essas variáveis sao utilizadas como intervenientes, nao como variáveis explicativas. Isto é, vamos verificar se, colocadas como covariantes, interferem no modo como as tres variáveis explicativas - objeto de nosso artigo - comportam-se. Para isso, utilizamos a análise de covariáncia (Ancova), que identifica se existe variaçao intragrupo.
Questoes éticas
Experiencias com seres humanos demandam que tratemos dos aspectos éticos relativos a sua manipulaçao. Como descrevemos na seçao "Resposividade e incentivos", nosso estudo segue o mesmo procedimento utilizado no experimento de Vaccari (2014) em seis países europeus e Estados Unidos. Além de Vaccari, esse desenho de pesquisa também foi aplicado por Broockman (2013), entre diversos outros estudos com procedimentos semelhantes. A manipulaçao, no caso, nao ocorreu em termos que pudesse influir em qualquer conduta dos outputs desses gabinetes - como está, no limite, em Broockman (2013), o que implicaría questoes muito mais delicadas - mas tao somente nos insumos providos para verificar quando respondiam ou nao aos cidadaos.
As respostas demandadas aos parlamentares exigiam o mínimo de tempo possível para ser redigida, de modo que nao houve prejuízo potencial para o serviço público do trabalho dos gabinetes.
Nenhum nome dos deputados que responderam ou deixaram de responder foi ou será divulgado. Todas as identidades estao sob sigilo. O objetivo nao é fazer avaliaçoes individuais, mas verificar as tendencias gerais do comportamento político dos gabinetes parlamentares na questao em estudo, identificando possíveis determinantes para tais tendencias.
Isso posto, nao há maiores questoes éticas envolvendo o experimento.
Resultados
Como já explicamos, o objetivo deste artigo é controlar os incentivos dados aos deputados federais nas mensagens recebidas de hipotéticos cidadaos, a fim de verificar possíveis influencias sobre a probabilidade de responderem ou nao aos questionamentos enviados.
Temos, portanto, tres modelos distintos, que comparam os parámetros propostos, a fim de isolar os possíveis efeitos. O primeiro modelo compara somente o conteúdo das mensagens 1 e 2. O segundo modelo se propoe a comparar os períodos das mensagens e apresenta duas variaçoes: a primeira compara a mensagem 3 (nao eleitoral) com a 1 (eleitoral, com incentivos para resposta); a segunda compara a mensagem 3 com a 2 (eleitoral, mas sem incentivos). O terceiro modelo compara as mensagens 3 e 4, enviadas no mesmo período (nao eleitoral), por plataformas distintas (e-mail e Facebook).
Primeiramente, vamos apresentar nos Gráficos 1, 2 e 3 as taxas de respostas simples obtidas, para todos os cenários. Os casos de missing em e-mails se devem aqueles que retornaram ao remetente, acusando nao terem sido entregues devido a caixa de e-mails estar lotada. No caso do Facebook, os missings se referem aos deputados que, no momento da aplicaçao do experimento, nao possuíam página oficial nessa plataforma ou nao permitiam o envio de mensagens privadas10. Esses dados sao apresentados nesse momento a título de informaçao. Os cálculos dos testes apresentados posteriormente (diferença de médias e regressao) consideram apenas os valores válidos, como é o procedimento estatisticamente correto.
Podemos, desde já, verificar as distinçoes claras entre cada tipo de incentivo. As mensagens sem incentivos eleitorais geraram apenas 12 respostas, enquanto aquelas com incentivos eleitorais (mesmo que nessa categoria existam 141 missings) obtiveram 76 respostas. Ambos os tipos de mensagem em período eleitoral. Já no período nao eleitoral, mesmo com incentivos, foram obtidas apenas 33 respostas. Já no Facebook, mesmo que apenas 395 representantes estivessem presentes na rede ou permitissem envio de mensagens privadas, foram obtidas 118 respostas.
As taxas de respostas dos parlamentares, em praticamente todos os momentos, sao substancialmente baixas. Nos e-mails, variam de apenas 2,3% a 14,8% dos deputados federais. A taxa máxima de retorno obtida, via Facebook, chega a 29,8% do universo dos representantes. Acreditamos que podemos considerar isso, em termos gerais, como um indicador da reduzida "responsividade virtual" dos representantes junto aos seus constituents.
A seguir, o teste de Bonferroni para diferenças de médias averigua as diferenças estatísticas em quatro comparaçoes. Como já explicado, o primeiro modelo calcula o e-mail com incentivos em relaçao ao e-mail intrusivo (e-mails sem incentivos ou de conteúdo técnico), ambos no período eleitoral. A segunda e a terceira comparaçoes testam os e-mails enviados no período eleitoral, com base nos e-mails enviados no período nao eleitoral. A distinçao é que a segunda comparaçao utiliza os e-mails com incentivos e a terceira os e-mails intrusivos. Enfim, por último, comparam-se as mensagens enviadas via Facebook em relaçao aos e-mails, ambos no mesmo período (nao eleitoral).
Antes de mais, percebemos que a terceira comparaçao nao tem validade, como indicado pelo intervalo de confiança e pelo p-value. Os incentivos da mensagem e o período eleitoral, nesse momento, se apresentam em patamares próximos. Mas a plataforma utilizada é a que apresenta os resultados mais elevados de diferença de médias, além de ser o único modelo em que o erro-padrao nao ultrapassa a diferença de médias. Vamos comentar esses resultados de modo mais aprofundado adiante, a luz do próximo teste.
A seguir, realizamos uma regressao logística, apropriada para variáveis dependentes binárias, a fim de identificar as probabilidades de que um evento ocorra em relaçao a outro. Ou seja, qual porcentagem a mais de chances de obter uma resposta dos representantes cada tratamento implica? As bases de comparaçao utilizadas no teste sao as mesmas já descritas anteriormente para as diferenças de médias. Como já ficou mostrado no teste de diferenças de médias que o período eleitoral sem incentivos confrontado com o período nao eleitoral com incentivos nao produz diferenças relevantes, nao utilizamos esse modelo na regressao, remanescendo os tres demais.
Apesar de, nas diferenças de médias, o período eleitoral e o conteúdo da mensagem estarem no mesmo patamar, percebemos na regressao que o período eleitoral nao teve um peso tao grande quanto esperávamos: embora tenha sido significativo, foi o mais baixo dos fatores testados. O modelo 2 indica que as chances de uma mensagem com incentivos ser respondida é tres vezes maior em períodos eleitorais do que em períodos nao eleitorais, ainda que ambas contenham incentivos para resposta. Mas o R2, baixo, explica somente 0,082 da distribuiçao das respostas.
Os dois modelos mais significativos apresentam resultados no mesmo patamar. O beta padronizado do modelo 1 indica que mensagens que, em seu conteúdo, tem incentivos eleitorais possuem dez vezes mais chances de serem respondidas do que mensagens com conteúdo técnico, sem incentivos eleitorais. Por fim, o modelo 3 indica que uma mensagem enviada por mídia social (Facebook) possui nove vezes mais chances de ser respondida, em comparaçao com uma mensagem enviada no mesmo período e com os mesmos incentivos via e-mail. Podemos concluir que, embora o período eleitoral exerça alguma influencia, o que mais importa é o conteúdo da mensagem e a plataforma por meio da qual essa mensagem é enviada.
Contudo, eventualmente alguém pode questionar a constancia desses efeitos sobre deputados com perfis distintos. Podemos ilustrar a questao dessas distinçoes com partido político. O Gráfico 3 apresenta a taxa de respostas por partido, para todos os contatos realizados:
Embora seja possível, a partir das taxas de respostas por partidos, tentar visualizar algumas distinçoes e semelhanças, a simples porcentagem de respostas nao indica diferença estatística, já que, por exemplo, pode ser afetada pelo número de respondentes em cada categoria (por exemplo, o PTN, que apresenta a taxa de respostas mais elevada, possuía apenas quatro deputados), consistindo o Gráfico 3 em apenas uma ilustraçao. Para identificar se, verdadeiramente, existem diferenças estatísticas intragrupos nos tres modelos testados, realizamos o teste Ancova (análise de covariaçao) para 15 variáveis intervenientes, de perfil social e político dos parlamentares testados. A seguir apresentamos as variáveis intervenientes que utilizamos.
Idade
Essa variável indica se há distinçoes geracionais entre os deputados. Hipoteticamente, parlamentares mais jovens tenderiam a adotar de forma mais ampla as novas tecnologías para comunicar-se com seu eleitorado.
Sexo
Essa variável aponta se há distinçoes em relaçao ao sexo do deputado ou deputada. Nao é esperado, do ponto de vista da teoria dos incentivos racionais, que tal variável tenha qualquer influencia.
Escolaridade
Essa variável se refere ao nivel educacional do parlamentar, conforme autodeclaraçao ao TSE. Hipoteticamente, parlamentares com educaçao superior poderiam ser mais adeptos de novas tecnologías.
Ocupagäo profissional
Ocupaçao profissional autodeclarada ao TSE, classificada nos termos da proposta teórico-metodológica apresentada por Codato, Costa e Massimo (2014) de afinidade com a atividade política. Ela verifica se a classe social de origem do parlamentar, medida por meio do referido proxy, influi em sua açao de responder ou nao aos contatos que realizamos.
Titular/Suplente
Essa variável indica se o parlamentar é titular do mandato ou suplente que assumiu posteriormente, conforme resultados eleitorais do TSE.
Partido político
Partido político, identificado sem agregaçoes.
Ideologia partidaria
Escala de ideologia política, com cinco niveis, que vai da esquerda a direita. A classificaçao realizada foi a seguinte: esquerda: PSOL; centro-esquerda: PT, PSB, PCdoB; centro: PV, PSDB, PPS, PMDB, PDT; centro-direita: PP, PR, PRB, PROS, PSD, PTB, PTC, SD; direita: DEM, PEN, PHS, PMN, PRP, PRTB, PSDC, PTdoB, PTN. Nao classificado: Sem partido.
Tamanho do partido
Dado pelo número de deputados no momento do contato. Testa se o tamanho da estrutura partidária pode exercer influencia nos resultados.
Governo/Oposiçâo
Posiçao do partido em relaçao ao executivo federal. Hipotéticamente, estar na oposiçao seria um incentivo para ser mais responsivo perante o eleitorado.
Protagonismo
Essa variável testa se deputados com atuaçao mais destacada e notoria liderança exercem alguma influencia no modelo. A variável separa os deputados de atuaçao mais destacada daqueles de atuaçao mediocre, entre os quais inclui-se o chamado baixo clero. Para essa variável, foi utilizada a classificaçao realizada pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) e disponibilizada em sua publicaçao anual (Diap, 2015). Hipoteticamente, os deputados de maior atuaçao podem ter maior preocupaçao em responder aos seus eleitores, dada sua preocupaçao reputacional.
Um achado correlato foi o de Marques, Aquino e Miola (2014), que argumentaram que exercer funçoes de liderança era um dos aspectos mais preditivos para atuaçao em redes sociais, naquele caso, o Twitter. Embora existam distinçoes entre a variável desses autores e a nossa, elas podem caminhar paralelamente, já que procuram medir aspectos semelhantes.
Magnitude do distrito
Magnitude do estado do deputado. Hipoteticamente, deputados vindos de estados com maior magnitude tenderiam a ser menos accountables em relaçao aqueles vindos de distritos de menor magnitude, conforme hipótese erguida por Carey (2016).
Competiçâo eleitoral
Índice de competiçao eleitoral do estado do deputado. Hipoteticamente, deputados vindos de estados com maior competiçao teriam mais incentivos para serem responsivos aos eleitores.
A competiçao eleitoral é medida pelo número efetivo de candidatos, aplicando-se a mesma fórmula do número de partidos efetivos:
onde Pi2 é o quadrado da proporçao de votos de cada candidato i. Para tornar os dados comparáveis entre estados com distintas magnitudes, utilizamos neste artigo o número de candidatos efetivos pelo número de cadeiras disponiveis em cada estado. Dessa forma, o
valor será sempre igual a 1 quando houver o mesmo número de candidatos efetivos e cadeiras, negativo, quando houver mais cadeiras do que candidatos reais e positivo na situaçao inversa. Quando houver maior número de candidatos que de cadeiras, o valor será 2, e assim por diante.
Densidade eleitorai
Dada pela porcentagem de votos obtidos pelo deputado em sua eleiçao. Hipoteticamente, parlamentares com maior densidade, portanto, possuindo maior base eleitoral, tenderiam a possuir maior capital político e, como consequencia da preocupaçao reputacional, serem mais responsivos.
Concentraçâo eleitoral
Índice de concentraçao/dispersao eleitoral, que mede se o parlamentar foi eleito por um "distrito informal" (Ames, 1995b, 1995a) ou votaçao dispersa por todo o estado. Hipoteticamente, deputados com alta concentraçâo eleitoral tendem a adotar práticas de pork barrell e, portanto, tenderiam a responder menos mensagens que chegam por e-mail e mídias sociais. Para medir isso, utilizamos o índice G de Florence, calculado da seguinte forma:
onde Vdm sao os votos do candidato no municipio, Vd sao os votos totais do candidato, Vm é o total de votos do municipio e Vt é o total de votos no distrito eleitoral.
Receitas de campanha
Valor das receitas de campanha. Hipoteticamente, maior receita de campanha pode indicar estrutura organizacional mais bem definida e profissionalizada, o que poderia se refletir na capacidade do staff do parlamentar de responder as demandas. Para comparar adequadamente as receitas entre diferentes estados, utilizamos o índice proposto por Sachett e Speck, calculado da seguinte forma:
onde Rc sao as receitas do candidato, Nc é o número de candidatos no pleito e Rt, o total de receitas de todos candidatos naquele pleito.
A seguir, apresentamos os resultados gerais do teste Ancova. Os tres modelos foram rodados de forma separada, tal como a regressao da Tabela 2, mas colocados na Tabela 3 por uma questao de síntese. No Anexo, podem-se consultar os detalhes dos resultados completos de cada teste.
Como se percebe pelos resultados nos p-values, dos tres modelos, com 15 variáveis cada, apenas em dois casos há força estatística para afirmar que a variaçao intragrupo nao se deve a uma distribuiçao aleatória. No modelo 1 (conteúdo da mensagem), a variável significativa é "protagonismo". E no modelo 3 (meio), a variável significativa é "ocupaçao profissional". Ou seja, quando se trata de mensagens cujo conteúdo tem incentivos eleitorais, políticos apontados como "protagonistas" do Congresso (com atuaçao mais destacada) tendem a responder mais. E, quando se trata do meio (e- mail versus Facebook), deputados com ocupaçoes profissionais classificadas nos níveis mais altos de afinidade com a atividade política (categoria mais elevada na qual se encontram os políticos profissionais) tendem a responder mais pelo Facebook. Ou seja, políticos profissionais tendem a responder mais pelo Facebook, comparativamente aos deputados com outras origens profissionais. Pelos dados, podemos verificar que a maioria dos fatores nao incide sobre a responsividade dos parlamentares por distintas mídias. Com efeito, apenas protagonismo (no modelo 1) e ocupaçâo (no modelo 3) tiveram índices significativos. Isso equivale a afirmar que parlamentares mais influentes nas deliberaçoes do Congresso e com maior expertise política previa tendem a interagir mais com os cidadaos por intermedio das mídias digitais e da internet, especialmente no caso das mídias sociais comentadas.
Discussao
Apresentamos, inicialmente, tres hipóteses centrais sobre nossas variáveis, além da quarta hipótese que versava somente sobre a variância dos resultados em conjunto com outras variáveis. A luz dos resultados, podemos constatar que a primeira, a terceira e a quarta se confirmaram de forma consistente: políticos tendem a responder mais a mensagens que possuem em seu conteúdo incentivos eleitorais e tendem a responder mais mensagens enviadas por meio de mídias sociais (Facebook). E esses resultados nao sao afetados por aspectos sociais e políticos de cada parlamentar. A segunda hipótese, de que políticos tendem a responder mais a mensagens em períodos eleitorais, embora possua resultados positivos, é apenas parcialmente mantida, devido aos baixos valores obtidos nos testes apresentados. Nesta seçao, discutimos algumas implicaçoes teóricas dos principais resultados.
Começando pelo fim, a quarta hipótese, podemos afirmar que os dados a confirmam. Isto é, colocados sob os mesmos incentivos racionais, parlamentares, mesmo com distintos perfis sociais e políticos, tendem a reagir de forma semelhante. Ou, colocado de forma mais precisa, tais perfis nao apresentaram força estatística para explicar a variaçao intragrupo entre as variáveis explicativas testadas. Esse resultado é um achado importante, se considerarmos que fatores como idade já foram considerados marcadores importantes para explicar o uso de ferramentas digitais. Isso também corrobora a força do modelo baseado em incentivos.
Prosseguindo na análise, podemos nos atentar a taxa de resposta que obtivemos. Ela apresenta dois patamares distintos, que podemos cotejar com resultados de estudos análogos ao redor do mundo. Nos e-mails, obtivemos respostas que variam de 2,3% a 14,8%. Esses valores estao muito abaixo de resultados encontrados nos Estados Unidos, 42,3% (Broockman, 2013), em países europeus, entre 35% e 41% (Vaccari, 2014), ou 36% na Suça (Lloren, 2017). No entanto, sao patamares muito próximos aos 12,9% encontrados na África do Sul (Mcclendon, 2016). Contudo, quando verificamos a taxa de respostas que obtivemos nas mídias sociais, de 29,8%, percebemos que o nível de respostas sobe para um patamar próximo ao dos estudos citados sobre a responsividade aos e-mails nos Estados Unidos e na Europa.
Essa comparaçao com os resultados da literatura pode indicar duas hipóteses, a serem testadas no futuro. Primeiro, talvez possa existir uma distinçao entre países desenvolvidos, cujos representantes tenderiam a ter maior responsividade, e países em desenvolvimento, cuja taxa de responsividade é menor. Essa é uma possibilidade de abordagem futura em estudos comparativos. Segundo, a comparaçao desses resultados parece indicar que, independentemente do contexto, talvez exista um "teto" em quao responsivos os parlamentares sejam.
Nossa primeira hipótese, sobre o conteúdo da mensagem, pode ser explicada pelos incentivos racionais (eleitorais). Downs (2013) escreveu que políticos nao se elegem para fazer políticas públicas, mas sim fazem políticas públicas para se (re)eleger. Isto é, o primeiro objetivo de um político é obter e manter o poder. Dessa forma, os deputados federais brasileiros tendem a reagir e ser responsivos aos eleitores de modo substancialmente maior quando existem incentivos eleitorais em jogo. Curiosamente, isso vai em sentido contrario aos achados de Vaccari (2014), que nao encontrou influencia dos incentivos eleitorais em seu experimento. Nossos achados, no entanto, dialogam bem com os de Broockman (2013). Esse autor mostrou que, enquanto existem incentivos eleitorais (que ele chama incentivos extrínsecos), o comportamento de congressistas brancos e negros é estatisticamente indistinguível.
Nossa terceira hipótese versa sobre o meio pelo qual é realizado o contato. Sobre os resultados em relaçao a plataforma de mídias sociais, existem tres explicaçoes possíveis para esses resultados, nao excludentes entre si. A primeira, mais simples, remete a ascensao dessas ferramentas e a seu uso intenso, tanto pela populaçao quanto pela elite política, como outros estudos já apontaram para o caso brasileiro (Braga, Rocha e Vieira, 2015; Carlomagno, 2015). Como dito, a arquitetura das redes digitais é fortemente ancorada em princípios de interaçao, participaçao e transparencia de todos os seus usuarios (Chadwick, 2009). Isso tende a significar que, se determinado ator ignora as formas de interaçao, nao responde as demandas de outros usuarios e nao é transparente em absoluto, ele poderá ser rechaçado pelos outros participantes. Atores políticos, apesar do receio de perder o controle do fluxo e da direçao da comunicaçao (Stromer-Galley, 2014), teriam entao interesse em ser atores ativos nas mídias sociais, precisando, assim, obedecer a sua lógica para alcançar bons resultados em termos de visibilidade, reputaçao e influencia nesses meios (Aggio, 2015; Coleman e Brumler, 2009; Marques e Sampaio, 2011). Todavía, parece ser uma explicaçao limitada e, mesmo, contestável11.
Uma segunda explicagao, mais cética, poderia ser que a demanda de trabalho para o gerenciamento dos contatos via mídias sociais ainda nao é tao grande, em termos de fluxo de informagoes, possibilitando respostas mais ágeis se comparada ao e-mail, por onde chega um montante substancialmente maior de mensagens - nas quais se incluem "correntes", mensagens repassadas automáticamente para muitas listas de e-mails, o que nao é ainda usual no Facebook, e a pressao realizada pelos intermediários digitais, como é o caso do Avaaz. Além disso, o Facebook propicia uma navegagao mais informal e lúdica na internet por parte do cidadao comum, além dificultar o anonimato e facilitar a identificagao de fakes e de spams, o que pode servir como um incentivo para o uso dessa ferramenta pelos políticos em geral e pelos deputados em particular. Com efeito, como apontam outros estudos (Braga, Rocha e Vieira, 2015; Carlomagno, 2015), o Facebook já é há algum tempo a plataforma preferida pelos deputados e seus assessores para interagir com o cidadao, tanto em período eleitoral como fora dele.
Em terceiro, a explicagao de caráter organizacional nos parece importante. Pode ser que o Facebook seja mais eficaz pois, geralmente, os responsáveis pelas comunicagoes via mídias sociais sao diferentes dos responsáveis por checar e responder os e-mails. A comunicagao via mídias sociais é majoritariamente - para nao dizer exclusivamente - com o eleitor/cidadao, podendo ser, portanto, de acesso exclusivo do responsável pela comunicagao de gabinete. Carlomagno (2015) argumentou que gabinetes parlamentares tendem a possuir assessores dedicados especificamente a gerenciar a presenga online nas mídias sociais dos deputados. Dessa forma, o contato é mais direto e a resposta mais ágil. O e-mail, por outro lado, recebe muitas mensagens de natureza distinta, como já argumentamos, desde contatos dos cidadaos, passando por informes, convites para cerimônias e eventos, contatos de aliados políticos, imprensa, e um longo et cetera (Marques, 2007). Dessa forma, o responsável usualmente é alguém de cargo distinto, que redistribui os e-mails a depender do tema. Nisso, potencialmente menos respostas podem ser obtidas.
Acreditamos que esses tres aspectos, complementares, trabalhem em conjunto para explicar por que deputados - e suas assessorias - tendem a ser mais responsivos em mídias sociais do que através de e-mails.
Consideraçoes finais
Este artigo mostra os resultados de um experimento conduzido para identificar quais fatores levam os políticos a responder aos contatos dos cidadaos que chegam aos seus gabinetes. Nossa primeira e terceira hipóteses foram confirmadas. Políticos tem dez vezes mais chance de responder a mensagens que possuem em seu conteúdo incentivos eleitorais do que a mensagens sobre projetos de lei, com aspectos técnicos. Políticos também tem nove vezes mais chance de responder a mais mensagens enviadas por meio de mídias sociais do que as enviadas por e-mail.
Nossa segunda hipótese foi apenas parcialmente confirmada, de modo muito fraco. Embora políticos tendam, de fato, a responder mais mensagens em períodos eleitorais, os valores dos testes, embora estatisticamente significativos, nao possuem robustez.
Isso indica que, primeiro, mais importante do que o período (eleitoral ou nao) em si sao os incentivos objetivos que a mensagem contém. Segundo, indica que, como os pesquisadores de internet tem apontado, de fato, as mídias sociais sao um canal de comunicaçao efetivo entre populaçao e representantes (Braga, Rocha e Vieira, 2015).
Apesar disso, a taxa de respostas é muito reduzida no geral. Em termos mais amplos, a contribuiçao deste artigo consiste em discutir as implicaçoes desse fato. Em tempos em que tanto se fala sobre uma suposta crise de representaçao, podemos resgatar a observaçao de Coleman e fazer nossas suas palavras: "The problem might not be permanent representation per se, but the weak and inappropriate modes of mediation that support it" (Coleman, 2005, p. 181). Isto é, a representaçao necessita conectar os atores políticos e os cidadaos representados. Nisso, o pressuposto básico é a existencia de comunicaçao entre as duas partes e o fortalecimento das ferramentas - básicas ou mais sofisticadas - para que isso ocorra.
Dito de outra forma, quando deputados (ou quaisquer outros membros da elite política) oferecem contatos de e-mail, perfis em redes sociais online ou mantem algum tipo de plataforma digital, isso gera a expectativa difusa de que sejam canais oficiais e significativos de interaçao entre representantes e representados, e, consequentemente, que possam ser usados para alguns fins de monitoramento e responsabilizaçao do exercício do mandato. O nao cumprimento dessa expectativa, no limite, pode gerar efeitos contrários aos esperados originalmente com os usos das tecnologías digitais; ou seja, a diminuiçao, e nao o aumento, da confiança dos cidadaos em seus representantes e instituiçoes políticas. Por outro lado, nosso artigo mostra que, além da vontade política do parlamentar e de seu staff de empreender essa interaçao, há um segundo elemento a ser levado em conta: a expertise dos cidadaos em utilizar a ferramenta adequada para estabelecer esses canais de participaçao e expressar suas demandas, o que envolve um processo incremental de aprendizado do uso das ferramentas digitais para fins políticos. Os dados apresentados em nosso experimento evidenciam que o e-mail pode nao ser a ferramenta mais adequada para o estabelecimento desse tipo de interaçao, mesmo em períodos eleitorais.
A abordagem experimental com parlamentares e, especificamente, sua responsividade em plataformas digitais sao uma seara aberta a pesquisas na ciencia política brasileira. Os futuros interessados podem testar uma série de outros incentivos ou variáveis independentes. As diferenças no plano da política subnacional, que continuam sendo grandes, sao um amplo campo de pesquisa ainda a ser explorado. Finalmente, como já observado, a comparaçao entre Brasil e países com democracia mais consolidada é outra área que ainda carece de pesquisas e resultados, assim como estudos longitudinais que observem eventuais movimentos incrementais em direçao a um aumento da responsividade e accountability dos políticos através do uso de suas ferramentas digitais.
Artigo submetido â publicaçao em 16 de junho de 2017.
Versao final aprovada em 26 de junho de 2018.
Opiniäo Pública adota a licença Creative Commons CC-BY.
4 Em seu trabalho sobre os legislativos subnacionais dos EUA, Ferber e seus colaboradores propoem um "modelo de ciberinteratividade em seis dimensőes", baseado nos seguintes níveis de interaçao propiciados pelas tecnologias digitais: (i) monólogo, em que há envio de comunicaçao somente de um lado; (ii) feedback, em que há comunicaçao de uma via com possibilidade de resposta do receptor; (iii) diálogo responsivo, em que há capacidade de resposta do destinatário, mas com elevado grau de controle do emissor; (iv) resposta controlada, em que as mensagens sao publicizadas, mas com elevado grau de controle do emissor; (v) discurso mútuo, em que há trocas públicas de mensagens sem inicio de processo deliberativo; (vi) debate pûblico/deliberaçao, em que há trocas de ideias nas mensagens publicizadas com baixo grau de controle do emissor. Para os autores, cada um desses níveis de interaçao está associado a uma etapa do uso das tecnologias digitais e a determinada cultura política predominante entre os usuários das mídias digitais (cf. Ferber, Foltz e Pugliese, 2007; Perna e Braga, 2012). Em nosso experimento, nos concentramos no segundo nível de interatividade, que é o do feedback ou responsividade do parlamentar as interpelaçoes dos cidadaos e potenciais eleitores.
5 No original: "accountability of representatives to the represented is the most fundamental requirement of democratic governance".
6 Sem, por exemplo, a mediaçao realizada por partidos políticos ou mesmo pela indústria da informaçao, nomeadamente, o jornalismo (cf. Coleman, 2005).
7 O "Mapa da Democracia" (<http://www.mapadademocracia.org.br/>), por exemplo, enviava mensagen s aos parlamentares indecisos para que votassem contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Enquanto o "Mapa do Impeachment" fazia justamente o contrário, pressionando a favor do impeachment (<http://mapa.vemprarua.net/>). Acesso em: 9 jan. 2017.
8 Como já frisado, nao encontramos experimentos semelhantes ao nosso, mas o uso do Facebook em momentos eleitorais (ver Cervi, Massuchin, Carvalho, 2016) ou mesmo em conversaçoes políticas (Carreiro, 2017) já tem recebido atençao da academia brasileira.
9 Embora a quase totalidade atenda a critérios básicos de satisfaçao de resposta, vale notar, a título de curiosidade, poucas exceçoes cuja resposta foi insuficiente. Por exemplo, uma assessoria informou que a PEC sobre reduçao da maioridade penal havia sido aprovada e, entao, iria para o Senado e depois para sançao presidencial. Trata-se de um erro fatual sobre o processo legislativo, uma vez que emendas constitucionais sao promulgadas diretamente pelo Congresso Nacional, sem passar por sançao ou veto presidencial.
10 Uma característica do Facebook é que o usuario pode ter uma página, mas nao autorizar que outros usuarios lhe enviem mensagens privadas. Como essa foi a abordagem escolhida para contato, consideramos esses casos como ausentes.
11 Por exemplo, ao analisar as diferentes campanhas online nos Estados Unidos, Stromer-Galley (2014) defende que chegamos, no máximo, a um modelo de "interatividade controlada". Na prática, as campanhas interagem em algum nível, porque agentes e meios demandam isso dos candidatos, mas essa interaçao ocorre em pouca intensidade e dentro de temas e agendas controladas, que sejam do interesse direto das campanhas.
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(ProQuest: Appendix omitted.)
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© 2018. This work is published under https://creativecommons.org/licenses/by/4.0 (the “License”). Notwithstanding the ProQuest Terms and Conditions, you may use this content in accordance with the terms of the License.
Abstract
Este artigo apresenta os resultados de um experimento conduzido entre setembro de 2014 e julho de 2015 para verificar a responsividade dos parlamentares brasileiros a questoes enviadas por cidadaos, sob distintas condiçoes. Para isso, foram enviadas quatro rodadas de mensagens, ao longo do período, aos 513 deputados federais, controlando os incentivos. Testamos tres fatores: a) o conteúdo da mensagem (potencial eleitor versus uma questao sobre votaçao de projeto de lei em plenário); b) o período em que a mensagem foi enviada (eleitoral e nao eleitoral); c) a plataforma por meio da qual a mensagem foi enviada (e-mail e mídias sociais). Em geral, a taxa de respostas é muito pequena, indicando a baixa responsividade digital dos parlamentares brasileiros. O modelo de regressao logística demonstra que "período eleitoral" nao exerce grande influencia, que "incentivos do conteúdo da mensagem" aumentam em dez vezes a probabilidade de resposta e que "mensagens enviadas via mídias sociais" aumentam em nove vezes a probabilidade de resposta. Discutimos os resultados sob a luz da teoria dos incentivos políticos e da ampliaçao das possibilidades de accountability trazidas pelas ferramentas de comunicaçao política online. Acreditamos que a pesquisa abre caminho para futuras abordagens experimentais nessa seara.