Resumo
Introdução: O Trauma Cranioencefálico constitui a principal causa de morte, de sequelas irreversíveis nos politraumatizados e tem custo elevado para o poder público, além de estar entre os principais problemas de saúde pública no país. Leva a várias complicações, entre elas a morte encefálica que é definida como a parada total e irreversível das funções cerebrais, sendo incompatível com a vida. Desta forma faz-se necessário uma equipe capacitada e treinada para abordar as vítimas de Trauma Crânioencefálico. Este estudo teve como objetivo descrever os fatores clínicos/ traumáticos presentes nas vítimas de trauma crânioencefálico que evoluíram para morte encefálica. Materiais e Métodos: Estudo descritivo, retrospectivo e documental realizado em hospital público de referência do Estado de Pernambuco. Resultados: Foram analisados 121 prontuários de vítimas de Trauma Cranioencefálico, no período de janeiro de 2013 a dezembro de 2014. Houve predominância do sexo masculino (83%), na faixa etária de 21-30 anos (34,7%), etiologia do trauma acidentes automobilísticos (35%) seguido de agressão por arma de fogo (21%). Ocorrendo os acidentes aos domingos (27,3%), sendo a maioria Trauma Crânioencefálico grave (78,5%) chegando ao local de atendimento em uso de via aérea definitiva (73,6%). Discussão: As vítimas que evoluem para morte encefálica são geralmente homens, em idade produtiva, envolvidos em acidentes automobilísticos graves, com atenção para o aumento da violência por agressão com arma de fogo. Conclusões: Essas informações podem auxiliar a prática clínica dos enfermeiros e a elaboração de protocolo de avaliação mais sistematizado para as vítimas de Trauma Crânioencefálico que evoluem para morte encefálica.
Palavras chave: Lesões Encefálicas Traumáticas; Morte Encefálica; Doação de Órgãos; Emergências.
Abstract
Introduction: Cranioencephalic Trauma is the main cause of death and irreversible sequelae in polytraumatized patients, which represents a high cost for the public authorities. This is also one of the main public health problems in the country since it leads to several complications, including brain death, defined as the total and irreversible interruption of brain functions, which is incompatible with life. As a result, it is necessary to have a trained and qualified team to address the victims of Cranioencephalic Trauma. The aim of this study is to describe the clinical/traumatic factors present in Cranioencephalic Trauma victims who evolved to brain death. Materials and Methods: Descriptive, retrospective and documentary study carried out in a public hospital of reference in the State of Pernambuco. Results: 121 medical records of cranioencephalic trauma victims who evolved to brain death victims were analyzed from January 2013 to December 2014. A predominance of males (83%) was observed in the age range of 21 to 30 years (34.7%), etiology of road traffic trauma (35%), followed by assault with firearms (21%). Accidents occurred on Sundays (27.3%), of which the majority were in severe Cranioencephalic Trauma (78.5%), with patients arriving at the site of care using a definitive airway (73.6%). Discussion: The victims who evolve to brain death are generally male, of productive age, involved in serious traffic accidents, with attention to the increase in violence due to aggression by firearm. Conclusions: This information may assist in the clinical practice of nurses and in the development of a more systematic assessment protocol for Cranioencephalic Trauma victims who evolve to brain death.
Key words: Traumatic Brain Injuries; Brain Death; Organ Donation; Emergency.
Resumen
Introducción: El Trauma Craneoencefálico constituye la principal causa de muerte y de secuelas irreversibles en pacientes politraumatizados y representa un alto costo para el poder público, además de estar entre los principales problemas de salud pública del país, dado que conduce a varias complicaciones, entre ellas, la muerte encefálica definida como la interrupción total e irreversible de las funciones cerebrales, lo cual es incompatible con la vida. A raíz de lo anterior, se hace necesario contar con un equipo capacitado y entrenado para abordar a las víctimas de Trauma Craneoencefálico. Este estudio tiene por objeto describir los factores clínicos/traumáticos presentes en las víctimas de trauma craneoencefálico que evolucionaron a muerte encefálica. Materiales y Métodos: Estudio descriptivo, retrospectivo y documental realizado en un hospital público de referencia del Estado de Pernambuco. Resultados: Se analizaron 121 historias médicas de víctimas de trauma craneoencefálico, en el período comprendido entre enero de 2013 a diciembre de 2014. Se observó predominio del sexo masculino (83%), en el rango de edad de 21 a 30 años (34,7%), etiología del trauma por accidentes de tránsito (35%), seguido de agresión por arma de fuego (21 %). Los accidentes ocurrieron los domingos (27,3%), de los cuales la mayoría correspondió a Trauma Craneoencefálico grave (78,5%), con pacientes que llegaron al lugar de atención utilizando vía aérea definitiva (73,6%). Discusión: Las víctimas que evolucionan a muerte encefálica son generalmente hombres, en edad productiva, involucrados en accidentes de tránsito graves, con atención hacia el aumento de la violencia por agresión con arma de fuego. Conclusiones: Esta información puede ayudar en la práctica clínica de los enfermeros y en la elaboración de un protocolo de evaluación más sistematizados para las víctimas de Trauma Craneoencefálico que evolucionan a muerte encefálica.
Palabras clave: Lesiones Traumáticas del Encéfalo; La Muerte Cerebral; Donación de Órganos; Emergencia.
INTRODUÇAO
O Traumatismo crânio encefálico (TCE) segundo classificaçao internacional de doenças (CID-10) é qualquer lesăo traumática que pode apresentar comprometimento anatómico ou funcional tanto do crânio em si, como do couro cabeludo, meninges e encéfalo1. O TCE passou a ser relatado como importante fator de óbito em suas vítimas a partir de 1682, tomando dimensöes cada vez maiores devido ao aumento de sua incidencia estar diretamente relacionado com a evolução da humanidade e o desenvolvimento da tecnología2. Pesquisas3 mostram que ocorrem 1.700.000 casos de TCE por ano nos Estados Unidos, compreendendo 275 mil internações, 52 mil mortes, e cerca de 80.000 a 90.000 pessoas apresentam incapacidade em longo prazo por lesăo cerebral. No Brasil as lesöes traumáticas relacionadas aos acidentes de trânsito constituem a maior causa de morte entre 10 e 29 anos de idade. Sendo uma importante causa de morbidade e mortalidade no Brasil3.
É dividido em leve, moderado e grave, para essa classificaçăo o indicador clínico utilizado é a Escala de Coma de Glasgow (ECGl)4, que é utilizada mundialmente na identificaçăo de disfunções neurológicas, acompanhamento e evol^ăo do nivel de consciencia; prediz prognóstico e ainda padroniza a linguagem entre os profissionais de saúde5. Aqueles classificados com lesöes graves tem maior risco de morrer, e sua mortalidade está geralmente relacionada a presença e progressăo das lesöes encefálicas6.
As lesöes encefálicas decorridas do TCE săo divididas em primárias, quando ocorrem no momento do trauma e secundárias, quando é tardia ao acidente e dependem de fatores intra e extracerebrais7,8. O tratamento do TCE visa prevenir a lesăo secundária, fornecer oxigenio e manter a pressăo arterial adequada para perfusăo cerebral, quando a vítima năo evolui para morte encefálica e óbito decorrente do TCE grave, muitos sobrevivem com danos que resultam em invalidez ou incapacidade para realização de suas atividades no trabalho e até mesmo cotidianas7.
Etiologicamente, as principais causas do TCE săo acidentes automobilísticos, quedas, assaltos e agressöes, esportes e recreações e por projétil por arma de fogo9. As mortes por trauma em crianças săo causadas pelos TCE's chegando a marca de 75% a 97% das mortes por trauma4. O Brasil segue a mesma linha e as ocorrencias aumentam a cada ano, caracterizando-se como um desafio aos gestores de políticas públicas, os dirigentes e profissionais da área de saúde, considerando que atinge preponderantemente a porçăo jovem e produtiva da sociedade. O TCE apresenta destaque quando săo analisados os mortos e feridos, sendo uma das lesöes mais frequentes4.
Acredita-se que o TCE seja responsável por praticamente metade dos óbitos relacionados a eventos traumáticos5. Nos Estados Unidos, a quarta causa de morte săo os traumas mecânicos, entre a faixa etária de 1 a 45 anos de idade, sendo 40% desses óbitos ocorridos por TCE10. Em 2009, estimou-se em 500/ano o número de casos novos de TCE. Dos quais, 50 mil văo a óbito antes de chegar ao hospital, de 15 a 20 mil morrem após o atendimento hospitalar e, dos 430 mil restantes, 50 mil apresentaram sequelas neurológicas de maior ou menor intensidade9.
Além das estimativas mostradas acima o TCE leva a várias complicações, entre elas a morte encefálica (ME), esta que possibilita a doação de órgäos. A ME é definida como a parada total e irreversível das funções cerebrais, sendo incompatível com a vida11. Os critérios para o diagnóstico da Morte Encefálica săo: coma profundo sem nenhuma reação a estímulos dolorosos, ausencia de reflexos do tronco encefálico e ausencia de movimentos respiratórios espontáneos (apneia), esses sinais devem ser constatados para o diagnóstico. A causa da lesăo neurológica determinante do coma deve ser conhecida, nenhum disturbio eletrolítico ou ácido-base grave pode estar presente, os pacientes năo podem estar sob efeito de drogas sedativas ou paralisantes neuromusculares e a temperatura corporal deve estar acima de 32°C11.
O protocolo utilizado para o diagnóstico da ME, instituido pela Resolução 2173/2017 do CFM (Conselho Federal de Medicina), dispöe o seguinte: săo necessários dois exames clínicos realizados por profissionais diferentes e capacitados, năo pertencente a equipe de transplante , realizar esse procedimento de conhecimento de ME com intervalo de 1 hora (para maiores de 2 anos) e um exame obrigatório (Doppler Transcraniano, eletroencefalografia ou arteriografia) que detecta a ausencia de perfusăo cerebral ou atividade elétrica cerebral11.
É importante destacar que, desde 1997, o enfermeiro está legalmente inserido no processo de captação de órgäos como membro ativo da equipe, conforme a primeira Resol^ăo n° 1.480, do Conselho Federal de Medicina12. Posteriormente, em 2004, o Conselho Federal de Enfermagem por meio da Resolução n° 292/2004 regulamenta a atuação do enfermeiro na captação, bem como no transplante de órgäos e tecidos13. No entanto, quando este profissional desconhece o processo de doaçăo-transplante e a execução correta de suas etapas, dificulta que a obtenção dos órgäos e tecidos seja realizada de uma forma segura e com qualidade.
Sabendo que as vítimas que evoluem para morte encefálica säo vítimas graves em sua maioria estäo internadas em unidades intensivas e em setores de emergencia o conhecimento do enfermeiro acerca de cuidados intensivos säo indispensáveis a sua prática assistencial. Um estudo realizado em 2017 em Buenos Aires trouxe como objetivo tornar visível a prática dos cuidados intensivos de enfermagem lendo e escrevendo, concluindo que a leitura melhora a prática profissional14.
Dessa forma o enfermeiro que năo possui conhecimento no processo de morte encefálica (reconhecimento do possível doador de órgäos e seus cuidados) contribui para recusa da doaçăo dos órgäos por parte dos familiares e com o manejo inadequado do potencial doador nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI) e Prontos Socorros (PS)13.
Neste contexto, o presente estudo justifica-se uma vez que o TCE tem grande consequencia na saúde da população em geral, tanto na morbidade quanto na mortalidade. E se tratando de pacientes de TCE que evoluem para Morte Encefálica faz necessário encontrar enfermeiros qualificados, experientes e com conhecimento nesta área, com o objetivo de identificar precocemente pacientes com suspeita de ME, realizar sua manutenção colaborando assim com o processo de doação de órgäo nas instituições hospitalares.
Atendendo toda essa problemática o objetivo deste estudo foi descrever os fatores clínicos/ traumáticos presentes nas vítimas de trauma cránioencefálico que evoluiram para morte encefálica. Essas informações podem auxiliar na implantação de medidas preventivas, de conhecimento, atendimento e identificação precoce de potenciais doadores pelos profissionais da enfermagem.
MATERIAIS E MÉTODOS
Pesquisa descritiva, retrospectiva e documental, realizada no Hospital da Restauração (HR) e Instituto Materno Infantil Professores Fernando Figueira (IMIP), localizados em Recife, Pernambuco. O HR foi selecionado por ser a maior unidade da rede de saúde pública do Estado e, também, o maior e mais complexo serviço de urgencia e trauma das Regiöes Norte e Nordeste do Brasil. É referencia para o atendimento de alta complexidade, como casos de vítimas de acidentes de tránsito nas especialidades de traumato-ortopedia, cirurgia geral, cirurgia vascular periférica, neurocirurgia, neurologia e cirurgia bucomaxilofacial. O IMIP conta com a central de transplante onde todos os prontuários das vítimas de morte encefálica identificada pela Comissăo Intrahospitalar de doação de órgáos e Tecidos para transplante (CIHDOTT) ficam arquivados.
Para coleta de dados, utilizou-se como base o relatório emitido pela CIHDOTT do IMIP, com a relação de todos os protocolos de morte encefálica cuja causa do coma tenha sido o TCE e os dados clínicos colhidos foram os encontrados no prontuário em formato tradicional do Hospital da Restauração no momento da admissăo da vítima (avaliação primária, exame de reflexos, exame de tomografia de crânio). Foram incluidos no estudo todos os pacientes atendidos no hospital vítimas de TCE que tinham evoluído para ME.
Os dados foram coletados em prontuários tradicionais, da Central de Transplante do IMIP e complementados com os prontuários do Serviço de Arquivo Médico (SAME) do HR, no período de janeiro de 2013 a dezembro de 2014. Para tanto, utilizou-se um formulário específico (elaborado pelo autor). Foram estudadas variáveis sociodemográficas (sexo e faixa etária), relacionadas a ocorrencia do acídente (dia da semana e etiologia do trauma); clínicas relacionadas ao trauma (gravidade do TCE, tipo de ventilação e tomografia); relacionada avaliação clínica de morte encefálica (avaliação pupilar e avaliação de reflexo de tronco).
Para a análise da gravidade das vítimas, foi utilizada Escala de Coma de Glasgow (ECGl), que é o indicador clínico mais empregado para se quantificar a gravidade, no qual foram estipulados os seguintes escores para classificar a gravidade do trauma: Grave - 3 a 8; Moderado -9 a 13; Leve - 14 a 15. Devido a falta de informações năo puderam ser analisadas as seguintes variáveis: escolaridade, ocupação, habilitação, uso de álcool e o uso do capacete. Os dados foram analisados descritivamente através de distribuições absolutas e percentuais uni e bivariadas e para os testes de independencia entre os grupos, foi utilizado o teste Exato de Fisher e odds ratio (OR), com intervalo de confiança de 95%, sendo considerado significativo p<0,05. Os dados foram digitados na planilha EXCEL e o programa estatístico utilizado para obtenção dos cálculos estatísticos foi o SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) na versăo 21.
Năo foi necessário Termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE), pois o estudo foi realizado com prontuários, sendo realizado um termo de aceitaçăo da comissăo Intra-Hospitalar de Doaçăo de Órgäos e Tecidos para Transplante (CIHDOTT) do IMIP e do Arquivo de serviço médico (SAME) do Hospital da Restarn^ăo para autorizaçăo da pesquisa. O projeto de pesquisa foi aprovado do Comite de Ética em Pesquisa do Complexo Hospitalar do Hospital Universitário Oswaldo Cruz - HUOC (CAEE de 42775114.4.0000.5192).
RESULTADOS
Foram coletados dados de 121 prontuários durante o período de coleta de dados, sendo a maioria do sexo masculino procedentes de diversas cidades de Pernambuco, conforme a Tabela 1.
Em relaçao a ocorrencia de TCE observa-se que a etiologia do trauma predominante foi acídente de moto (35%), seguindo com um percentual significativo de agressöes por arma de fogo (21%) ultrapassando a marca de acídente automobilístico (9%) e que maioria ocorreu no domingo (27,3%) (Tabela 2).
Na Tabela 3, podemos identificar que houve associação significativa entre a faixa etária da vítima e etiologia do trauma (Tabela 3), onde há um maior risco de (Perfuração por Arma de Fogo) PAF nos jovens com faixa etária entre 16 e 30 anos quando comparados a vítimas >31 anos (p=0,0234, OR=3,23, IC=1,18-8,8), ou seja, há um grande número de jovens envolvendo-se em brigas, tráfico de drogas o que poderia estar levando ao seu óbito precoce nessa faixa etária.
Considerando as características clínicas das vítimas que evoluiram para ME, observa-se que 78,5% foram classificados como graves (escore 3-8), o tipo de ventilaçao realizado na admissăo foi ventilaçao mecánica, com a introduçao de um tubo orotraqueal (73,6%) (Tabela 4).
Em relaçao a avaliaçao da presença de reflexos ou năo, verifica-se que 35,5% dos profissionais năo informam no prontuário a presença ou ausencia de reflexos do paciente em sua avaliaçao clínica inicial, o mesmo acontece sobre avaliaçao pupilar das vítimas, onde năo há registro na avaliaçao inicial em 35,5% dos casos.
Na descr^ăo da Tomografia Axial Computadorizada (TAC) de cránio realizada pelas vítimas de TCE que evoluíram para ME, foi observado que (31,4%) dos profissionais responsáveis pela aval^ăo e descr^ăo, năo descreveram as características dos resultados nas 12 horas decorridas de internaçao hospitalar das vítimas, sabendo-se ainda que segundo o protocolo de ME a causa do coma deve ser conhecida por exame de imagem ou líquor11. (Tabela 4).
DISCUSSÄO
Observou-se na Tabela 1, um predominio de adultos j ovens, do sexo masculino, envolvidos em acidentes. A ocorrencia dos acidentes de motos no sexo masculino pode-se inferir que acontece devido a atração dos homens por velocidade, somando-se a isso em muitas ocasiöes a mistura do álcool com a direção, ocasionando acidentes, e em sua maioria chegando ao TCE grave2,3. Observa-se o predominio de adultos jovens nos acidentes (34,7%) de 21 - 30 anos o que produz impacto na economia, por atingir individuos na idade produtiva.
Esse perfil reflete urna consequencia do comportamento sócio-cultural dos jovens, que se expöem mais a situações de risco na condução de veiculos, a inexperiencia, a alta velocidade, a impulsividade, utilização de manobras e o uso de álcool4,9, certamente a relação idade, pouca experiencia, comportamento de risco e atitudes inseguras săo fatores que contribuem para a ocorrencia de acidentes4.
Os dados apresentados na Tabela 2 corroboram com estudos anteriores, nos quais a principal causa de TCE săo os acidentes motociclistico e automobilísticos6,7. Estudos afirmam que os dados ditos anteriormente se devem a alta velocidade, a falta de ate^ăo, ao alcoolismo, ao năo uso de equipamentos de proteçăo e a falta de fiscalizaçao e mau planej amento das vias de tráfego3,7,15.
Outro estudo15, realizado no mesmo hospital, analisou as características das vítimas de acidentes motociclisticos, a faixa etária predominante foi de 15-24 anos e maioria do sexo masculino 474, identificando a maior parcela de adultos jovens, envolvidos em acidentes de moto, como foram vistos em nossos resultados15. Vale destacar ainda que há diversos estudos nacionais que analisaram o perfil dos acidentes com vítimas de TCE por causas extemas e identificarăm também o predominio de homens jovens4,6,7.
Outro estudo4 analisou Vitimas de acidentes de moto com traumatismo e identificou a maior frequéncia de acidentes durante os finais de semana, corroborando com nosso estudo e atribuiu a isso o aumento da ingestăo de bebida alcoólica de forma mais exagerada motivando o excesso de velocidade, realizaçăo de manobras arriscadas, disfi^ăo e descumprimento das normas de segurança, fatores que contribuem tanto para a ocorrencia quanto para as lesöes mais graves4,15.
Houve associaçao significativa entre a faixa etária da vitima e etiologia do trauma (Tabela 3), onde há um maior risco de (Perfrn^ăo por Arma de Fogo) PAF nos jovens com faixa etária entre 16 e 30 anos quando comparados a vitimas >31 anos (p=0, 0234, OR=3,23, IC=1,18-8,8), ou seja, há um grande número de jovens envolvendo-se em brigas, tráfico de drogas o que poderia estar levando ao seu óbito precoce nessa faixa etária.
Analisando o número de vitimas de TCE por queda, o risco aumenta nos maiores de 31 anos (p= 0,0034, OR=4,1 IC=1,5-10,8), o que pode inferir que nesta faixa etária há adultos que trabalham em locais que envolvem altura, muitos sem equipamento de proteçao individual (EPI) adequado e, principalmente idosos que podem apresentar alterações no equilibrio postural, diminuição de força muscular decorrente da sarcopenia, presença de comorbidades ou uso de determinados medicamentos. Em relação ao acídente motociclístico năo houve diferença significativa entre as idades (p>0,05), mostrando a ocorrencia devido a outras etiologías como năo utilização de equipamentos de segurança, desrespeito as leis de tránsito, imprudencia ao dirigir e ingestăo de bebidas alcoólica.
Associando os dados encontrados na tabela 4 que descreve a dassificaçăo do TCE e o tipo de ventilação, obtemos neste estudo que as vítimas graves (78,5%) apresentavam-se com uma venti^ăo por tubo orotraqueal (IOT) (73,6%) corroborando com a literatura que afirma, vítimas com ECGl menor que 8 pontos (TCE grave), devem ser submetidos a uma via aérea definitiva (IOT) e mantidas em assistencia ventilatória até que seja viável a venti^ăo sem aparelhos, subsequente a melhora do quadro neurológico8,16.
De forma semelhante um estudo avaliou o perfil clínico e sociodemográfico de pacientes com TCE identificou que TCE grave prevaleceu (55,2%). O mecanismo de trauma predominante no citado estudo foi o de acidente motociclístico com (62,5%) das vítimas corroborando com os resultados desta pesquisa17.
Houve divergencia na literatura quanto a classificaçăo do TCE, pois outros estudos identificaram que a maioria dos TCE's săo classificados como leve seguidos de moderado e grave3,15. Vale destacar que no presente estudo foram avaliados os pacientes que evoluíram para morte encefálica, portanto consideramse acidentes com cinemática grave já sendo esperado um mau prognóstico, diferente dos estudos anteriores.
Para continuidade da avaliação da vítima de TCE que é atendida na unidade hospitalar os reflexos, a pupila e o exame de imagem devem ser observados e avaliados e redigidos aos prontuários, pois o registro em saúde de forma adequada melhora a qualidade do cuidado prestado ao paciente, porém problemas frequentes vem sendo apontados pelas pesquisas, como a qualidade desse registro devido a ausencia de informações básicas, bem como informaçăo escrita de forma as vezes incoerente e inadequada , diagnósticos ilegíveis, contraditórios e até mesmo ausentes, falta de itens básicos e registro inadequado18.
Houve limitações de análises e associações de alguns aspectos clínicos como aval^ăo pupilar, aval^ăo de reflexos de tronco e discr^ăo de tomografia devido á falta de registro nos prontuários e fichas de atendimento por parte dos profissionais envolvidos, năo vindo a esclarecer ou corroborar, com dados clínicos para abertura de protocolo de morte encefálica de maneira ágil e adequada. Desta forma esse estudo também atenta para importáncia da descrição de dados clínicos em prontuários para possíveis estudos de melhoria do sistema de saúde, assistencia de saúde corroborando para a qualidade de assistencia prestada a vítima.
CONCLUSÖES
Neste estudo, verificou-se que o perfil das vítimas de TCE que evoluiram para ME era predominantemente do sexo masculino, na faixa etária de 21-30 anos, tendo o acídente motociclístico como o principal tipo de impacto, com as maiores ocorrencias nos finais de semana predominando o domingo.
Observou também o grande número de jovens que evoluiram para ME devido a agressăo por arma de fogo, com associação significativa na faixa etária entre 16 e 30 anos. Por meio da ECGl, foi observada a prevalencia dos traumas graves (escore de 3-8) necessitando de intubação orotraqueal e ventilação artificial.
Houve limitações em algumas variáveis devido a falta de registro nos prontuários prejudicando o objetivo do estudo, porém este resultado vem intensificar que o registro é de alta relevância no exercício profissional e que apesar do perfil do serviço de emergencia dificultar essa prática, cabe aos gestores e supervisores elaborar protocolos junto a equipe que possibilite o registro da assistencia prestada contribuindo para o cuidado com o paciente/vítima como colaborando com dados para as pesquisas que săo indispensáveis para melhoria da assistencia em saúde.
Os dados coletados permitiram a construção de discursos na prática clínica do enfermeiro como também debates académicos acerca do conhecimento dos enfermeiros sobre o TCE, suas características e o processo de Morte Encefálica assim como a identificação precoce de potenciais doadores pelos profissionais de saúde (médicos e enfermeiros) através de formulação de protocolos sistematizados para avaliação das vítimas de TCE que evoluem para morte encefálica.
Conflito de interesses: Os autores declaram que năo há conflito de interesses.
Histórico
Recibido:
13 de junio de 2018
Aceptado:
08 de agosto de 2018
Como citar este artigo: Silva PF, Silva AS, Olegário WKB, Furtado BMASM. Caracterizaçao das vítimas de traumatismo encefálico que evoluíram para morte encefálica. Rev Cuid. 2018; 9(3): 2349-60. http://dx.doi.org/10.15649/cuidarte.v9i3.565
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Abstract
Introdução: O Trauma Cranioencefálico constitui a principal causa de morte, de sequelas irreversíveis nos politraumatizados e tem custo elevado para o poder público, além de estar entre os principais problemas de saúde pública no país. Leva a várias complicações, entre elas a morte encefálica que é definida como a parada total e irreversível das funções cerebrais, sendo incompatível com a vida. Desta forma faz-se necessário uma equipe capacitada e treinada para abordar as vítimas de Trauma Crânioencefálico. Este estudo teve como objetivo descrever os fatores clínicos/ traumáticos presentes nas vítimas de trauma crânioencefálico que evoluíram para morte encefálica. Materiais e Métodos: Estudo descritivo, retrospectivo e documental realizado em hospital público de referência do Estado de Pernambuco. Resultados: Foram analisados 121 prontuários de vítimas de Trauma Cranioencefálico, no período de janeiro de 2013 a dezembro de 2014. Houve predominância do sexo masculino (83%), na faixa etária de 21-30 anos (34,7%), etiologia do trauma acidentes automobilísticos (35%) seguido de agressão por arma de fogo (21%). Ocorrendo os acidentes aos domingos (27,3%), sendo a maioria Trauma Crânioencefálico grave (78,5%) chegando ao local de atendimento em uso de via aérea definitiva (73,6%). Discussão: As vítimas que evoluem para morte encefálica são geralmente homens, em idade produtiva, envolvidos em acidentes automobilísticos graves, com atenção para o aumento da violência por agressão com arma de fogo. Conclusões: Essas informações podem auxiliar a prática clínica dos enfermeiros e a elaboração de protocolo de avaliação mais sistematizado para as vítimas de Trauma Crânioencefálico que evoluem para morte encefálica.