RESUMO
A falta de sintonía entre a pesquisa academica e as necessidades dos práticos na área de contabilidade e gestäo (rigor-relevance gap) é fato conhecido e que vem sendo discutido na academia. O presente ensaio tem por objetivo contribuir para a discussäo do papel dos mestrados profissionais na mitigaçâo deste problema (rigor-relevance gap), ao discutir as principais razöes para a falta de alinhamento entre a pesquisa academica e a prática profissional, ou seja, a resistencia na incorporaçâo da técnica pela cultura e resistencia da academia na aceitaçâo de paradigmas de pesquisas alternativos. Propöe a utilizaçâo da pesquisa intervencionista como uma metodologia de pesquisa alternativa a ser utilizada pelos mestrados profissionais na soluçâo de problemas práticos e criaçâo de conhecimento, sugerindo que, para que diminuiçâo do rigor-relevance gap, alguns passos precisam ser dados, o que inclui aperfeiçoamento dos critérios de avaliaçâo da CAPES, além da aceitaçâo, por parte da academia, de paradigmas de pesquisas alternativos e ampliaçâo do espaço para a divulgaçâo da produçâo dos mestrados profissionais.
Palavras-chave: rigor-relevance gap, mestrado profissional, pesquisa intervencionista, prática.
ABSTRACT
Rigor-relevance gap between academic-practitioner relationships is a constant dilemma in the academic scenario. Considering the postgraduate matter, this essay deals with the role of professional master course in order to present some issues related to avoid the mentioned gap. The article stresses the resistance by the academy in accepting the importance of practitioner aspects in the elaboration of alternative ways of research, especially in the professional master courses related to areas such as accounting and business. The interventionist research is discussed like an option to promote the development of practitioner ways of teaching and researching, considering the role of professional master programs, assuming that the empirical field promotes effective learning. The article propose that government departments such as CAPES should concentrate efforts in order to mitigate the rigor-relevance gap, as well as the dissemination of professional master research results, assuming the crucial role in marketing scenario, organizations and society.
Keywords: rigor-relevance gap, professional master course, interventionist research, practice.
INTRODUÇAO
A falta de sintonia entre a pesquisa academica e as necessidades dos práticos na área de contabilidade e gestäo (rigor-relevance gap) é um fato sensivelmente conhecido e que vem sendo discutido de forma recorrente na literatura (HOPWOOD, 1983; SCAPENS, 2006; VAN DE VEN; JOHNSON, 2006; AHRENS; CHAPMAN, 2007; HUGHES; O'REGAN; WORNHAM, 2008; MALMI; GRANLUND, 2009; MALMI, 2010; SCAPENS, 2010; SEAL, 2010; NICOLAI; SCHULZ; GÖBEL, 2011; BARTUNEK; RYNES, 2014; COLEMAN, 2014).
Em editorial escrito para um número especial do periódico Management Accounting Research, dedicado a relaçâo entre a teoria e a prática em contabilidade gerencial, Baldvinsdottir, Mitchell e Nørreklit (2010) manifestaram seu desapontamento diante do reduzido número de artigos submetidos para discutir o tema, perguntando se tal fato não revela a falta de preocupaçâo da comunidade academica com a relevancia de suas pesquisas para o aprimoramento da prática. Scapens (2010), neste mesmo número do Management Accounting Research, alertou que, se a resposta a este questionamento for positiva, o papel social da pesquisa academica merece ser questionado.
A literatura sugere também que este desalinhamento não se limita a pesquisa, mas se estende também ao ensino. Hughes, O'Regan e Wornham (2008) registram que " [...] grande parte do ensino e da pesquisa realizada nas universidades é irrelevante para as necessidades das empresas" (p. 216).
Bennis e O'Toole (2008), por sua vez, salientam que os cursos da área de gestão, ao adotarem um modelo de ciencia baseado em análises económicas e financeiras abstratas e estatísticas multivariadas, produzem algumas pesquisas de qualidade, mas que são cada vez menos relevantes para os práticos. Além disto, não conseguem desenvolver em seus alunos habilidades úteis, não formam líderes e falham em conferir-lhes normas de comportamento ético. Apontam ainda os autores que as escolas de direito e de medicina adotam um modelo diferente, privilegiando a experiencia prática, modelo este no qual as escolas de gestão deveriam se espelhar, afinal, continuam os autores (2008), "administição não é uma disciplina científica, mas uma profissão e, portanto, seus cursos devem ensinar aquilo que uma educação professional requer" (p. 99).
Nesta mesma linha crítica, baseado nos resultados de uma pesquisa realizada junto a 34 administradores de fundos de investimento de Nova Iorque, Melbourne, Londres e Istambul, Coleman (2014) constatou que: "[...] a teoria de finanças tem uma relevancia limitada para os práticos porque sua abordagem quantitativa requer dados sobre o futuro (que não estão disponíveis) e porque ignora os objetivos e as habilidades dos práticos [...]" (p. 226). Afirma ainda Coleman (2014) que "desta forma, há um intrigante paradoxo na área de finanças: a teoria neoclássica de investimento forma a base do ensino academico e de sua principal linha de pesquisa; enquanto que os práticos em finanças preferem utilizar métodos alternativos" (p. 226).
A realidade brasileira, neste aspecto, não é diferente. Aqui, a literatura também sugere um descompasso semelhante entre a pesquisa e a prática (SOUZA; LISBOA; ROCHA, 2003; FREZATTI, 2005), descompasso este que já vem sendo discutido há algum tempo também em trabalhos relacionados ao papel dos mestrados profissionais.
Wood Jr. e Paes de Paula (2004), por exemplo, analisaram uma polemica ainda bastante atual, promovida por alguns críticos que sugerem que os mestrados profissionais nada mais são do que cursos de lato sensu MBA (Masters Business Administration) com uma nova roupagem e concluem que os mestrados profissionais possuem características próprias que os diferenciam dos MBAs, destinando-se a um público diferenciado, ao responderem as demandas do mercado. Por outro lado, Moura Castro (2005) defende com veemencia a crção dos mestrados profissionais argumentando que o mercado empresarial necessita de profissionais com um nível de preparação que supera a graduação, mas critica a vincução desses cursos de mestrados profissionais a programas de pós-graduação académicos, observando, no entanto, que "o que está freando o desenvolvimento do mestrado profissional é a sua estrutura atrelada a pós-graduação academica, que lhes tira a vida própria e os converte em premios de consoção ou mendigos, no olimpo dos cursos academicos" (MOURA CASTRO, 2005, p. 17). Na mesma linha, Fischer (2005) propöe que "o mestrado professional seja valorizado como uma experiencia inovadora capaz de contribuir para a renovação da pós-graduação brasileira" (p. 24).
Apesar desta discussão já datar de mais de uma década, o papel a ser desempenhado dos mestrados profissionais ainda nao está, na prática, claramente definido e a sua aceitaçâo pela academia ainda está longe de um consenso, conforme se pode constatar nas declaraçöes de Fischer (2010a, p. 373) "[...] defendo uma posiçao favorável ao mestrado professional como inovaçao em processo, que necessita ser objeto de pesquisa nao só de modelos e práticas, como estruturas de superficie". Em outra obra, a mesma autora (FISCHER, 2010b) continua o debate:
"Provavelmente já sabemos formar pesquisadores e talvez bons professores. De certa forma, o espelho do que pensamos ser e as vezes somos. Mais desafiador e mais interessante é formar profissionais para o mundo do trabalho nestes novos tempos que resgatam ideais desenvolvimentistas" (FISCHER, 2010b, p. 359).
Dentro deste contexto, este artigo tem por objetivo contribuir para a discussao do papel dos mestrados profissionais na mitigaçao deste problema (rigor-relevance gap). A partir desta introduçao, o texto desenvolve-se em quatro partes. A primeira parte analisa, com base na literatura e na experiencia académica e professional dos autores deste texto, as principais razöes para a falta de alinhamento entre a pesquisa académica e a prática profissional (rigor-relevance gap). A segunda apresenta algumas reflexöes dos autores sobre as características dos mestrados profissionais da área de contabilidade e gestao e a terceira apresenta uma discussao sobre as abordagens metodológicas de pesquisa que julgamos mais adequadas para o desenvolvimento de pesquisas nestes mestrados. Esta busca de abordagens metodológicas alternativas, alinha-se com o pensamento de Bennis e O'Toole (2008), ao declararem que o problema das escolas de gestao e negócios nao é a adoçao do rigor científico, mas o abandono de outras formas de conhecimento. A quarta e última parte refere-se as consideraçöes finais.
PESQUISA ACADEMICA, PRÁTICA PROFISSIONAL E RIGOR-RELEVANCE GAP
A principal dificuldade apresentada pela literatura para o fato em questao está relacionada a incorporaçao da técnica pela cultura. Antes de iniciar esta discussao, cabe mencionar os conceitos de técnica e tecnología. De acordo com o Dicionário de Filosofía de Abbagnano (2012), a técnica "[...] compreende qualquer conjunto de regras aptas a dirigir eficazmente uma atividade qualquer" (p. 1106). Já tecnologia é definida como o "estudo dos processos técnicos de determinado ramo da produçao ou de vários ramos" (p. 1109), ou ainda, em uma acepçao mais antropológica do termo, como "a totalidade das técnicas dominadas por determinado grupo ou cultura" (p. 1109). Lalande (1973), por sua vez, define técnica da mesma forma que Abbagnano, mas define tecnologia como "[...] a teoria de uma técnica; mas algumas vezes (por uma metonimia frequente no uso dos termos em "logia") a palavra é empregada para técnica ou conjunto de técnicas" (p. 597). Esta última definiçâo de Lalande (1973) nos parece mais adequada para o propósito deste artigo.
Em relaçao as resistencias de incorporaçao da técnica pela cultura, Simondon (1958/2012, 2005) observa que "[...] a cultura ignora na realidade técnica uma realidade humana e que, para desempenhar completamente seu papel, a cultura deve incorporar os seres técnicos sob a forma de conhecimento e senso de valor" (SIMONDON, 1958/2012, p. 9). O autor é bastante crítico em relaçao a esta situaçao, ressaltando que:
"A oposiçao levantada entre a cultura e a técnica, entre o homem e a máquina, é falsa e sem fundamento; ela só encobre a ignorancia e o ressentimento. Ela esconde, por trás de um humanismo fácil, uma realidade rica em esforços humanos e em forças naturais, e que constitui o mundo dos objetos técnicos, mediadores entre a natureza e o homem" (SIMONDON, 2012, p. 9).
Ainda segundo o autor, esta situaçâo de reconhecer certos objetos como estéticos (lhes concedendo um lugar de destaque no mundo das significaçöes e recusando outros), em particular os técnicos, como algo que não possui um significado, mas somente um uso, torna a cultura desequilibrada. Este desequilibrio cultural pode, e muitas vezes tem, consequencias desastrosas, pois, diante desta recusa pronunciada por uma cultura parcial, os homens que conhecem o objeto técnico e sentem seu significado procuram justificar o seu julgamento, dando a ele o único status atualmente valorizado além do objeto estético, o de objeto sagrado. Nasce assim, uma idolatria, um tecnicismo, uma aspiraçâo tecnocrática ao poder incondicional (SIMONDON, 2012, p. 10). Para recolocar na cultura o caráter geral que ela perdeu, continua o autor, é necessário reintroduzir nela a consciencia da natureza da técnica, de suas relaçöes mútuas com o homem, e dos valores implicados nestas relaçöes (SIMONDON, 2012, p. 15).
Esta preocupaçâo com a incorporaçâo da técnica a cultura advém do século XVIII, e é explicitada com a publicaçâo da Encyclopédie (dictionnaire raisonné des sciences, des arts et des métiers), escrita sob a direçâo de Denis Diderot (1713 - 1784) e Jean Le Rond D' Alembert (1717 - 1783) publicada na França em 17 volumes de texto e 11 de pranchas (desenhos técnicos) entre 1750 e 1772. Conforme observa Bombart, "[...] ciencias e conhecimentos práticos estão estreitamente associados: uma das grandes novidades da enciclopédia é a importancia e a dignidade que ela atribui aos conhecimentos técnicos, as ocupaçöes (trabalho) e as artes mecánicas [...]" (BOMBART, 2008, p. 7-8).
Salienta ainda Bombart (2008, p. 125) que a grande força da enciclopédia é o papel de destaque que ela reserva aquilo que surge do conhecimento prático, sobretudo as tecnologias manufatureiras. O autor destaca que Diderot, se insurgindo contra a hierarquia tradicional que despreza a mão em favor do espirito, mostra que a reflexão teórica necessita da realizaçâo prática. A reflexão filosófica, para Diderot, é o resultado de idas e vindas permanentes entre a especulaçâo e a observação, abstração e experimentação concreta.
Apesar de todos os esforços desenvolvidos, ainda falta muito a ser feito e, neste sentido, a constatação de Ellul (1990/2008) ainda permanece atual: "Nenhum fato social, humano, espiritual, tem tanta importáncia como o fato técnico no mundo moderno. Nenhum dominio, no entanto, é tão desconhecido como o técnico" (ELLUL, 1990/2008, p. 1). Ainda relacionada com a incorporação da técnica a cultura, há que se observar também o aspecto ético, pois como observa Hotttois (1988, p. 10), a filosofía atual, mesmo partindo de uma perspectiva teórica de reflexão sobre a ciencia contemporánea, vai encontrar no centro de seu objeto a atividade técnica:
"Em uma época em que o grande projeto ocidental de saber - a ciencia - se torna cada vez mais operacional, ativo, manipulador; em uma época em que o saber é, em todos os niveis, sinónimo de poder e ação, a reflexão filosófica sobre a ciencia deve ressaltar menos a razão pura do que a razão prática e, portanto, a ética" (HOTTTOIS, 1988, p. 10).
Malmi (2010), ao tratar dos paradigmas vigentes no campo da contabilidade gerencial, observa que estes são úteis para qualquer comunidade científica, pois fornecem o foco, organizam o esforço e ajudam esta comunidade a acumular conhecimento sobre questöes de seu interesse. Todavia, o autor ressalta que paradigmas podem se mostrar problemáticos quando restringem a criatividade e deixam certas questöes sem respostas, questöes que podem ser importantes tanto para as organizaçöes como para a sociedade em geral. Além disto, comenta o autor: "Paradigmas também produzem elites académicas; como todos sabem, as elites tem uma tendencia e uma habilidade de reter seus privilégios; talvez isso explique, em parte, porque paradigmas parecem ser tão aderentes" (MALMI, 2010, p. 121).
Neste contexto, na visão Malmi (2010), existe uma forte resistencia da elite academica em patrocinar, ou mesmo aceitar, a realização de pesquisas baseadas em paradigmas alternativos. Esta elite vai preferir direcionar seus alunos a trabalhar dentro de um paradigma no qual se sintam confortáveis e "evitarão tentativas de realizar algo mais criativo, e mais arriscado" (MALMI 2010, p. 121). Esta visão reforça a opinião de Scapens (2006, p. 28), de que uma das possíveis causas do desalinhamento entre a pesquisa e as necessidades da prática é a falta de conhecimento prático por parte dos pesquisadores.
Já Baldvinsdottir, Mitchell e Nørreklit (2010) destacam que as pesquisas realizadas em contabilidade gerencial nos últimos anos tem focado, principalmente, no entendimento do comportamento dos práticos, não para orientar esse comportamento, o que é um grande avanço; os autores ressaltam ainda que as conclusöes destes estudos estão muito mais voltadas para a realizaçâo de novas pesquisas do que para a prática. Dessa forma, os beneficios para o aperfeiçoamento da prática desta agenda de pesquisa são solapados, e esta é uma lacuna a ser preenchida, uma vez que "[...] o objetivo final da pesquisa em ciencias sociais é o de melhorar a vida (ao invés de descreve-la ou simplesmente entende-la)" (BALDVINSDOTTIR; MITCHELL; NØRREKLIT, 2010, p. 82).
Ora, esta afirmaçâo, "melhorar a vida", implica, evidentemente, abandonar o paradigma da neutralidade, tão arraigado naqueles pesquisadores mais alinhados ao positivismo, cujo cenário pouco tem conseguido produzir mudanças para o aprimoramento da prática professional, limitando-se a explicar e predizer algumas práticas em situaçöes específicas (LEE, 2009, p. 153); "melhorar a vida", significa intervir na realidade.
É curioso (e até irónico) notar que, até recentemente (final do século passado e inicio deste), predominavam no Brasil, na área de negocios, pesquisas académicas que adotavam uma abordagem normativa, com resultados práticos bastante significativos, não só para os profissionais, como para a sociedade em geral. Ora, nada menos neutro do que uma norma que, ao regular, intervém de forma contundente na realidade, para o bem ou para o mal.
Cabe ainda o registro de que a constrção do conhecimento contábil foi realizada pelos práticos. Colasse (2004) observa que a Contabilidade só passou a fazer parte da preocupação dos académicos no final do século XIX, quando pesquisadores americanos passaram a "[...] formular enunciados para as noçöes operacionais e princípios utilizados pelos práticos" (COLASSE, 2004, p. 79) em uma tentativa de clarificar e normatizar essas noçöes e principios.
Além das razöes anteriormente relacionadas, que, aparentemente, são as mais relevantes, a literatura sugere outras que apontamos a seguir sem, evidentemente, pretendermos esgotar o assunto. Alguns autores, como Van de Ven e Johnson (2006) e Bogt e Helden (2012), dentre outros, colocam a questão do gap entre teoria e prática como uma questão de transferencia de conhecimento. Segundo Van de Ven e Johnson (2006), o pressuposto desta abordagem é a de que o conhecimento prático no campo profissional se origina, ao menos em parte, do conhecimento científico e que, portanto, o gap entre teoria e prática é um problema de tradção e difusão do conhecimento científico gerado pelas pesquisas científicas para a prática.
Os mesmos autores (VAN DE VEN; JOHNSON, 2006) identificam uma segunda abordagem para o tratamento da questão, que parte do pressuposto de que os conhecimentos teórico e prático são tipos distintos de conhecimento. Ainda segundo os autores, cada um reflete uma ontologia (significado de verdade) e uma epistemologia (método) diferentes para abordar questöes diferentes. Todavia, argumentam que reconhecer que esses conhecimentos sejam diferentes não significa afirmar que estejam em oposção, ou que um substitui o outro, mas que, na verdade, se complementam. Baseados nestas duas abordagens, os autores propöem uma terceira abordagem que denominam de engaged scholarship, na qual pesquisadores e profissionais coproduzem conhecimento que pode fazer avançar a teoria e a prática em um determinado domínio. Esta abordagem é muito próxima da pesquisa intervencionista, discutida mais adiante neste artigo.
Outro aspecto relacionado a falta de alinhamento entre a pesquisa academica e a prática professional refere-se, ao menos no caso da academia brasileira, a aspectos ideológicos. Em texto recente, Giannotti (2016), que está longe de poder ser considerado um pensador conservador, defende que "[...] a criaçâo e distribuiçâo mais justa da riqueza económica nos dias atuais dependem da produçâo capitalista [...]" (p. 32) e que os países que lograram sair da crise de 2008 o fizeram por meio de inovaçöes tecnológicas, e que o desenvolvimento depende destas revoluçöes. No Brasil, continua o autor, apesar de contarmos com alguns centros de excelencia, a pesquisa tecnológica abandonou a universidade e está desorganizada. E conclui: "quantas vezes se ouve nos campi que a universidade não deve colaborar com o capital? Mas onde procurar a riqueza para socorrer a populaçâo mais pobre?" (GIANNOTTI, 2016, p. 32).
Cumpre ressaltar que, evidentemente, esta preocupaçâo com o estreitamento do rigor relevance gap não é uma unanimidade entre os pesquisadores. Alguns, inclusive, rechaçam tal possibilidade: Kieser e Leiner (2009), fundamentados na teoria dos sistemas, defendem que os sistemas sociais são auto referenciais ou autopoiéticos, ou seja, produzem suas próprias estruturas e os elementos de comunicação constituintes sem relaçâo com seu entorno. Nesse sentido, os elementos de comunicação de um sistema, tal como a ciencia, não podem ser autenticamente integrados a comunicação de outros sistemas, como o sistema de uma organização empresarial.
Outra linha crítica que se posiciona contra a aproximação da academia com a prática é aquela formada por académicos preocupados com a industrialização do ensino. Sob esta ótica, já na década de 1950, Harold Innis, professor e pesquisador da Universidade de Toronto, propugnava que a abordagem utilitarista da formação universitária resulta do processo de mercantilização e industrialização do ensino, com tendencia a fazer da universidade uma vasta escola professional que responda as necessidades de mão de obra das empresas (TREMBLAY; PAQUELIN, 2016). Ainda segundo esse pesquisador canadense, a industrialização do ensino apresenta em seu escopo práticas universitárias como mercados que visam satisfazer o gosto dos estudantes e o interesse dos professores, respectivamente percebidos como clientes e fornecedores. Em contraponto, Moeglin (2016) identifica em Jacques Piveteau um defensor, na década de 1970, de uma nova educação, indicando a utilização de métodos ativos centrados nas pessoas, de modo a obstruir a forte e desastrosa ligação entre o autoritarismo e a industrialização da educação. No Brasil, a questão da industrialização do ensino também é preocupação dos pesquisadores, sendo que a literatura sobre o papel social da universidade - desvinculado dos interesses do mercado - é vasta e relevante, conforme demonstram os trabalhos de Araújo (2012), Dias e Serafim (2015), Sobrinho (2014) e Spatti, Serafim e Dias (2016).
MESTRADO PROFISSIONAL
Os cursos de mestrado profissional (MP) foram regulamentados no Brasil pela Portaría Normativa n° 17, de 28 de dezembro de 2009, do Ministério da Educação, que dispöe sobre o mestrado profissional no ámbito da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nivel Superior - CAPES. De acordo com esta Portaria, em seu Art. 4°, são objetivos do mestrado profissional:
I - capacitar profissionais qualificados para o exercicio da prática profissional avançada e transformadora de procedimentos, visando atender demandas sociais, organizacionais ou profissionais e do mercado de trabalho; II - transferir conhecimento para a sociedade, atendendo demandas especificas e de arranjos produtivos com vistas ao desenvolvimento nacional, regional ou local; III - promover a articulaçâo integrada da formaçâo profissional com entidades demandantes de naturezas diversas, visando melhorar a eficacia e a eficiencia das organizaçöes públicas e privadas por meio da soluçâo de problemas e geraçâo e aplicaçâo de processos de inovaçâo apropriados; IV - contribuir para agregar competitividade e aumentar a produtividade em empresas, organizaçöes públicas e privadas (BRASIL, 2009).
No documento referenciado, a CAPES enfatiza ainda que o objetivo do MP é contribuir para o aumento da competitividade do setor produtivo nacional e, para tanto, "[...] deve apresentar uma estrutura curricular que enfatize a articulaçâo entre conhecimento atualizado, dominio da metodologia pertinente e aplicaçâo orientada para o campo de atuaçâo professional específico" (CAPES, 2014). Além disso, a CAPES dispöe que "o trabalho final do curso deve ser sempre vinculado a problemas reais da área de atuaçâo do profissional-aluno e de acordo com a natureza da área e a finalidade do curso". (CAPES, 2014).
Conforme observam Takahashi, Verchai, Montenegro e Rese (2010, p.565), a principal diferença entre o Mestrado Academico (MA) e o Mestrado Professional (MP) é o produto final. No primeiro caso, espera-se que o curso forme um pesquisador (foco na academia) enquanto que, no segundo, espera-se a formaçâo de um profissional pesquisador (foco no mercado), ficando claro que a pesquisa é considerada relevante em ambos os casos. O quadro 1 apresenta uma sintese das principais características (e distinçöes) entre as duas modalidades.
Nas consideraçöes finais de seu artigo, Takahashi, Verchai, Montenegro e Rese (2010, p. 573) concluem que "percebe-se que o MA é uma proposta consolidada no Brasil, enquanto o MP é uma modalidade 'em construçao'. Esse caráter 'inacabado' dos MPs gera contradiçöes, ambiguidades e muitas críticas sobre seu papel, os quais muitas vezes os aproximam dos MAs ou dos MBAs, modalidades que 'antecedem' os MPs".
O que se constata atualmente é que o MP, nas áreas de contabilidade e de gestão, ainda continua sendo uma modalidade em construçao. Sua aceitaçao pela comunidade academica, que, cabe ressaltar, foi quem o criou, ainda está longe de ser unánime. Os critérios de avaliaçâo da CAPES, embora tenham evoluído bastante nestes últimos anos, ainda se apegam a critérios de calculabilidade, sem se preocupar muito com o seu produto final, que é o desenvolvimento de tecnologías de gestão, tal qual as ideias de Armstrong e Sperry (2006) e Bennis e O'Toole (2008), quando observam que a academia adotou um modelo inadequado de excelencia academica que, ao invés de se basear na competencia de seus graduados, privilegia rigor científico.
Além disto, os meios para a divulgaçâo da produçâo técnica destes mestrados (relatos tecnológicos) ainda são muito escassos, uma vez que periódicos classificados como técnicos pela CAPES ainda são em número muito reduzido. Este fato inibe este tipo de produçâo, uma vez que os pesquisadores são avaliados em suas instituiçöes pelos mesmos critérios de calculabilidade adotados pela CAPES. A grande maioria dos periódicos indexados da área de gestão no Brasil sequer cogita avaliar para uma eventual publicaçâo este tipo de trabalho (relato tecnológico), embora já se registrem algumas exceçöes em periódicos bem classificados, como é o caso da Revista de Administraçâo Contemporánea (RAC). No caso dos eventos científicos (congressos, seminários, encontros etc.), a flexibilidade é um pouco maior, uma vez que existe um evento específico para área, o Encontro dos Mestrados Profissionais em Administraçâo (EMPRAD), já em sua quinta ediçâo. Outros eventos tradicionais da área (Enanpad, Semead, dentre outros) também reservam espaço para submissão de relatos tecnológicos. Entretanto, cabe ressaltar que a maioria dos avaliadores ainda carrega o "olhar académico" para apreciaçâo dos trabalhos, ou seja, é mister discutir também o preparo destes avaliadores. Afinal, existem até casos em que relatos tecnológicos foram recusados por não terem "hipóteses a serem testadas".
Outro aspecto a ser mencionado é o caráter "científico" do produto final desses mestrados, ou seja, de sua dissertaçâo. Este fato já foi discutido por Mattos (1997):
'[...] se a academia se supöe credenciada, pela natureza do que produz, a falar ao mundo da empresa e da produçâo, é forçoso que aceite discutir formas alternativas de produzir conhecimento crítico com finalidades práticas que não o atendimento de suas próprias preocupaçöes e polémicas internas, ou a manutençâo de suas tradiçöes e instituiçöes" (MATTOS, 1997, p. 163).
São essas "formas alternativas de produzir conhecimento crítico com finalidades práticas" que são discutidas na sequéncia, em especial a pesquisa intervencionista.
PESQUISA INTERVENCIONISTA E A CRIAÇÂO E O DESENVOLVIMENTO DE TECNOLOGIAS
De acordo com Suomala e Yrjänäinen (2012), a pesquisa intervencionista tem sido sugerida como uma forma possível de produzir pesquisa em contabilidade gerencial com releváncia prática. Nela, "[...] ao invés de um simples observador, o pesquisador está ativamente tentando exercer uma influencia na organizaçâo em observaçâo, ou seja, intervir" (SUOMALA; YRJÄNÄINEN, 2012, p. 9). Ainda segundo os autores, a pesquisa intervencionista pode ser vista como uma espécie de estudo de caso, no qual o pesquisador está profundamente envolvido com o objeto de estudo. A pesquisa intervencionista, continuam os autores, faz parte de um cluster de abordagens metodológicas que inclui posturas como action research, action science, design science, clinical research, constructive research, innovation action research e conditional-normative research. Estas formas alternativas de pesquisa intervencionista diferem, segundo Suomala e Yrjänäinen (2012), pela importancia que atribuem as visöes práticas e teóricas do estudo, bem como a intensidade da intervençâo do pesquisador.
Com base nas proposiçöes de Labro e Tuomela (2003), Suomala e Yrjänäinen (2012, pp. 11-12), além de discorrerem sobre fatores críticos no tocante a preparaçâo de um projeto de pesquisa, apresentam algumas sugestöes metodológicas para conduçâo de uma pesquisa intervencionista: assegurar o compromisso e o entusiasmo não só dos pesquisadores, mas também de vários colaboradores da empresa; checar a disponibilidade de recursos suficientes para a conduçâo da pesquisa; confirmar a consistencia entre os valores dos pesquisadores e administradores; investir na compreensão da gestão e da lógica da pesquisa; e estabelecer um acordo em relaçâo a publicaçâo dos resultados da pesquisa.
Os autores registram também que o trabalho em equipe, durante a fase empírica do estudo, é importante nao só para garantir a aceitaçâo do constructo desenvolvido, mas também para assegurar a interpretaçâo dos resultados do trabalho, uma vez que diferentes tipos de contribuiçöes teóricas devem ser reconhecidos.
Com relaçao ao caráter da intervençâo, Suomala e Yrjänäinen (2012, pp. 17-22), baseados em Jönsson e Lukka (2007), desenvolveram um modelo mais refinado para medir expost a intensidade e o foco da intervençâo. Os autores usaram uma escala de 1 a 5 para avaliar a intensidade da intervençâo, sendo que o nivel 1 refere-se a uma intervençâo fraca, e o nivel 5 a uma intervençâo forte. Também utilizaram uma escala de 1 a 5 para avaliar o foco da intervençâo, sendo que o nivel 5 refere-se a pesquisa com foco em constructos de contabilidade gerencial e o nivel 1 refere-se a outros campos do conhecimento. As Tabelas 1 ilustra este modelo.
No exemplo ilustrado na Tabela 1, identifica-se uma pesquisa intervencionista com nivel 4 de intensidade, e também nivel 4 de foco. O significado destes niveis é apresentado no Quadro 1.
Faz-se necessário reconhecer, no entanto, que a pesquisa intervencionista está longe de ter uma aceitaçâo unánime e recebe criticas severas por setores da academia. Van de Ven e Johnson (2006) relatam que muitas destas criticas estâo relacionadas com o envolvimento dos práticos na formulaçâo das questöes de pesquisa, e rebatem: "ironicamente, este argumento parece assumir que a formulaçâo das questöes de pesquisa deve ser deixada para os académicos" (VAN DE VEM; JOHNSON, 2006, p. 810). Ressaltam ainda que, ao interagir com os práticos, os pesquisadores podem ser cooptados pelos interesses de stakeholders poderosos.
Huang (2010) define a action research, da qual a pesquisa intervencionista é uma derivaçâo, como uma orientaçâo para criaçâo do conhecimento que surge em um contexto da prática e requer que os pesquisadores trabalhem junto com os práticos. Ao analisar as relaçöes da action research com outras abordagens de pesquisas e de práticas, a autora apresenta algumas observaçöes importantes, que sintetizamos a seguir: a) action research é semelhante a pesquisa qualitativa, e frequentemente utiliza os mesmos métodos. Todavia, a pesquisa qualitativa é uma pesquisa sobre a prática e nâo com os práticos; b) consultoria é um trabalho feito para práticos (normalmente para elite deles, ou seja, por aqueles que podem pagar para terem as suas preocupaçöes solucionadas). Action research necessariamente se estende para além de um relacionamento de consultoria, por se engajar de forma mais sistemática com a criaçâo do conhecimento; c) segundo a autora, alguns podem confundir action research com pesquisa aplicada, mas esta última também é distinta, pois é sobre a prática e gerada por pesquisadores académicos, sendo depois oferecida por estes para serem usadas pelos práticos.
Em suma, buscamos desfazer os preconceitos em relaçâo a esta metodologia de pesquisa, salientando que seu uso já está consolidado em outros campos do conhecimento, tanto nacional quanto internacionalmente, como por exemplo no campo da medicina, do direito e da engenharia, e os resultados obtidos nâo deixam dúvidas com relaçâo a sua eficácia. Evidentemente que nâo pretendemos reivindicar a exclusividade deste método de pesquisa para os mestrados profissionais, mas apenas que ele seja reconhecido, sem "restriçöes a priori', como mais uma metodologia capaz de resolver problemas práticos e criar conhecimento.
CONSIDERAÇÖES FINAIS
O objetivo deste artigo foi o de contribuir para a discussão do papel dos mestrados profissionais na mitigaçâo do rigor-relevance gap. Neste sentido, o que podemos sugerir após esta reflexão é que, para que essa contribuyo se torne mais efetiva, alguns passos importantes ainda precisam ser dados.
O primeiro (e talvez o mais importante) é o aperfeiçoamento dos critérios de avaliaçâo da CAPES, para que se tornem mais focados no produto final, do que no rigor académico e na calculabilidade da produçâo académica. É necessário reconhecer o esforço que já vem sendo aplicado nesse sentido, mas permanece ainda muito a se fazer.
Embora o caminho a ser percorrido seja longo, certas açöes são urgentes. Um esforço conjunto da CAPES, instituiçöes de ensino, pesquisadores e discentes é necessário, a menos que concordemos com Kieser e Leiner (2009): "pesquisadores e práticos não podem produzir pesquisa de forma colaborativa, eles só podem irritar uns aos outros, mas mesmo estes céticos reconhecem que, todavia, algumas vezes, irritaçöes ou provocaçöes se tornam inspiradoras" (p. 516).
Aqui cabe mencionar as advertencias de Worrall, Lubbe e Klopper (2007, p.311) de que "[...] há riscos reais para os académicos, caso eles não consigam cooptar seus principais stakeholders para formas mais colaborativas de pesquisa", caso contrário, continuam os autores, "esta lacuna será preenchida pelos próprios práticos". Ou seja, corre-se o risco da ausencia do rigor científico necessário para ampliar o conhecimento do campo em questão.
Outros aspectos a serem considerados incluem: aceitação, por parte da academia, da utilização de paradigmas de pesquisas alternativos; constatação de que a pesquisa intervencionista é um método de pesquisa como qualquer outro, capaz de resolver problemas práticos e gerar conhecimento; ampliar o espaço para a divulgação da prodção dos mestrados profissionais, incluindo os relatos tecnológicos. Só assim os mestrados profissionais poderão consolidar sua atuação na academia brasileira da área, e contribuir de forma mais efetiva para o desenvolvimento social, por meio da crção de tecnologías de contabilidade e gestão.
Por fim, cabe o registro de que estas sugestöes reverberam discussão recorrente na academia. Sidor (2015), por exemplo, em seu trabalho sobre o debate do rigor e da relevancia na academia, apresenta uma série de indicaçöes, dentre as quais destacam-se: os académicos devem examinar os problemas com os quais os profissionais realmente se preocupam, para ganhar mais relevancia sem abandonar o rigor; adotar medidas, nas escolas de negócio, uma vez que métodos de instrção e pesquisa podem impactar na atitude que os pesquisadores tém em reção a relevancia e a prática; publicar estudos específicamente para as pessoas que trabalham no campo da gestão em linguagem acessível para estes. Assim, tais medidas tendem a minimizar um grande obstáculo, responsável pelo rigor-relevance gap. Os pesquisadores devem produzir versöes alternativas de suas pesquisas, focando no que é relevante para os práticos, mesmo que as versöes originais enfatizem mais o rigor científico. Ademais, líderes empresariais devem ser incentivados a viabilizar um melhor fluxo de informação entre os dois grupos, de modo a possibilitar alcance do nível apropriado de rigor ou relevancia que desejam.
Para continuação da análise do cenário aqui desenhado, propöe-se discussão do tema a partir de provocaçöes apresentadas por autores brasileiros, como Mascarenhas, Zambaldi e Moraes (2011), Oyadomari, Cardoso, Mendonça Neto, Antunes e Aguiar (2013), Oyadomari, Silva, Mendonça Neto e Riccio (2014) e Antunes, Mendonça Neto e Vieira (2016), que também tém se preocupado com o tema, produzindo trabalhos voltados para sugestão de metodologias de pesquisa alternativas com o objetivo de reduzir o rigor-relevance gap, notadamente metodologias de características intervencionistas, na linha proposta por Suomala e Yrjänäinen. Ademais, a questão de, tradicionalmente, a universidade concentrar sua missão em desenvolver conhecimento com énfase na "ciéncia pura", relegando muitas vezes as necessidades práticas presentes em seu entorno, pode servir também como provocação para investigaçöes futuras.
Recebido em: 19/07/2018 Aprovado em: 16/10/2018
Avaliado pelo sistema double blind review
Editor Científico: Edson Sadao Iizuka
DOI 10.13058/raep.2019.v20n1.1213
Dados dos Autores
Octavio Ribeiro de Mendonça Neto [email protected]
Doutor em Ciencias Contábeis pela USP
Instituiçâo de vinculaçâo: Universidade Presbiteriana Mackenzie
São Paulo/SP - Brasil
Áreas de interesse em pesquisa: Pesquisa Intervencionista - Contabilidade Gerencial; Educaçâo Contábil; Sociologia das Profissöes.
Rua da Consolaçâo 896 - Prédio Rev. Modesto Carvalhosa
Consolaçâo
São Paulo/SP
01302-907
Almir Martins Vieira [email protected]
Doutor em Educação pela UNESP
Instituto de vinculação: Universidade Metodista de São Paulo
São Bernardo do Campo/SP - Brasil
Áreas de interesse em pesquisa: Ensino de Adminisbção; Pesquisa Qualitativa.
José Carlos Tiomatsu Oyadomari [email protected]
Doutor em Ciencias Contábeis pela USP
Instituto de vincução: Universidade Presbiteriana Mackenzie
São Paulo/SP - Brasil
Áreas de interesse em pesquisa: Pesquisa intervencionista, Contabilidade gerencial, Indicadores organizacionais e Desempenho organizacional.
REFERENCIAS
ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofía (obra original publicada em 1971). São Paulo: Editora WMF Martins Fontes Ltda, 2012.
AHRENS, T.; CHAPMAN, C. S. Management accounting as practice. Accounting, Organizations and Society, v. 37, n.1-2, p. 1-27, 2010.
ANTUNES, M. T. P.; MENDONÇA NETO, O. R.; VIEIRA, A. M. Pesquisa intervencionista e mestrados profissionais: perspectivas de sua prática nos cursos da área de gestão. Indagatio Didactica, v. 8, n. 3, p. 53-68, 2016.
ARAÚJO, A. J. Ensaio sobre a universidade e sua funçâo social. Filosofando: Revista de Filosofia da UESB, v.1, n.1, p. 38-47, 2012.
ARMSTRONG, S.; SPERRY, T. Business School prestige - research versus teaching. Revista Organizaçoes em Contexto, v. 2, n. 3, p. 83-101, 2006.
BALDVINSDOTTIR, G.; MITCHELL, F.; NØRREKLITC, H. Issues in the relationship between theory and practice in management accounting. Management Accounting Research, v. 21, p. 79-82, 2010.
BARTUNEK, J. M.; RYNES, S. L. Academics and practitioners are alike and unlike: the paradoxes of academic-practitioner relationships. Journal of Management, v. 40, n. 5, p. 11811201, 2014.
BENNIS, W.; O'TOOLE, J. How Business Schools Lost Their Way. Harvard Business Review, v. 83, n. 5, p. 96-115, 2005.
BOGT, H.; HELDEN, J. The practical relevance of management accounting research and the role of qualitative methods therein. Qualitative Research in Accounting & Management, v. 9, n. 3, p. 265-273, 2012.
BOMBART, M. Encyclopédie, ou dictionnaire raisonné des sciences, des arts et des métiers - textes choisis. Paris: Editions Gallimard, 2008.
BRASIL. Portaría Normativa n° 17, de 28 de dezembro de 2009, Ministerio da Educaçâo, 2009.
CAPES. (2014). Mestrado Profissional: o que é? 2014. Disponível em http://www.capes.gov.br/avaliacao/sobre-a-avaliacao/mestrado-profissional-o-que-é. Acesso em 20 de novembro de 2017.
COLASSE, B. La comptabilité: um savoir d'action em quete de theories. In : BARBIER, F. M. (ed.). Savoirs théoriques et saviors d'action. 2 ed., Paris: Presses Universitaires de France, 2004.
COLEMAN, L. Why finance theory fails to survive contact with the real world: a fund manager perspective. Critical Perspectives on Accounting, v. 25, p. 226-236, 2014.
DIAS, R ; SERAFIM, M. Comentários sobre as transformaçöes recentes na universidade pública brasileira. Avaliaçao, v. 20, n. 2, p. 335-351, 2015.
ELLUL, J. La technique ou l'enjeu du siecle (obra original publicada em 1990). Paris: Editions Economica, 2008.
FISCHER, T. Mestrado profissional como prática academica. Revista Brasileira de PósGraduaçao, v. 2, n. 4, p. 24-29, 2005.
FISCHER, T. Reimaginar a pos-graduaçâo: resgatando o elo perdido. Revista de Administraçao Contemporánea, v. 14, n. 2, p. 372-376, 2010a.
FISCHER, T. Sobre maestria, profissionalizaçâo e artesanato intelectual. Revista de Administraçao Contemporánea, v. 14, n. 2, p. 353-359, 2010b.
FREZATTI, F. Management accounting profile of firms located in Brazil: a field study. Revista de Administraçao Contemporánea, v. 9, n. 2, p. 147-165, 2005.
GIANNOTTI, J. A. Pátria Falastrona. Cult, n. 209, p. 32, 2016.
HOPEWOOD, A. G. On trying to study accounting in the contexts in which it operates. Accounting, Organizations and Society, v. 8, n. 2-3, p. 287-305, 1983.
HOTTOIS, G. Évaluer la technique. Paris: Librarie Philosophique J. Vrin, 1988.
HUGHES, T.; O'REGAN, N.; WORNHAM, D. The credibility issue: closing the academic/practitioner gap. Strategic Change, n. 17, p. 215-233, 2008.
JÖSSON, S.; LUKKA, K. There and back again: doing interventionist research in management accounting. Handbook of Management Accounting Research, v. 1, Elsevier, Oxford, p. 399414, 2007.
KIESER, A.; LEINER, L. Why the Rigour-Relevance Gap in Management Research is Unbridgeable. Journal of Management Studies, v. 46, n. 3, p. 516-533, 2009.
LABRO, E.; TUOMELA, T. S. On bringing more action into management accounting research: process considerations based on two constructive case studies. European Accounting Review, v. 12, n. 3, p. 409-442, 2003.
LALANDE, A. Vocabulário técnico e crítico da filosofia - v. II. Porto: Rés Editora Ltda, 1973.
LEE, T. A. Financial Accounting Theory. In: EDWARDS, J. E.; WALKER, S. (eds.), The Routledge companion to accounting history. Abingdon: Routledge, 2009.
MALMI, T. Reflections on paradigms in action in accounting research. Management Accounting Research, v. 21, p. 121-123, 2010.
MALMI, T.; GRANLUND, M. In search of management accounting theory. European Accounting Review, v. 18, n. 3, p. 597-620, 2009.
MASCARENHAS, A. O.; ZAMBALDI, F.; MORAES, E. A. Rigor, relevância e desafios da academia em administraçao: tensöes entre pesquisa e formaçao profissional. Revista de Administraçao de Empresas, v. 51, n. 3, p. 265-279, 2011.
MATTOS, P. L. Dissertaçöes nao académicas em mestrados profissionais: isso é possível? Revista de Administraçao Contemporánea, v. 1, n. 2, p. 153-171, 1997.
MOEGLIN, P.; PETIT, L. Jacque Piveteau, comme la prodution industrielle, le systéme scolaire? In: MOEGLIN, P. (Ed.). Industrialiser l'education: anthologie commentée (1913-2012). Vincennes: Presses Universitaires de Vincennes, 2016.
MOURA CASTRO, C. A hora do mestrado profissional. Revista Brasileira de Pös-Graduaçao, v. 2, n. 4, p. 16-23, 2005.
NICOLAI, A. T.; SCHULZ, A. C.; GÖBEL, M. Between sweet harmony and a clash of cultures: does a joint academic-practitioner review reconcile rigor and relevance? The Journal of Applied Behavioral Science, v. 47, n. 1, p. 53-75, 2011.
OYADOMARI, J. C. T.; CARDOSO, R. L.; MENDONÇA NETO, O. R.; ANTUNES, M. T. P.; AGUIAR, A. B. Criaçao de conhecimento em práticas de controle gerencial: análise dos estudos internacionais. Advances in Scientific and Applied Accounting, v. 6, n. 1, p. 4-30, 2013.
OYADOMARI, J. C. T.; SILVA, P. L.; MENDONÇA NETO, O. R.; RICCIO, E. L. Pesquisa intervencionista: um ensaio sobre as oportunidades e riscos para pesquisa brasileira em contabilidade gerencial. Advances in Scientific and Applied Accounting, v. 7, n. 2, p. 244-265, 2014.
SCAPENS, R. W. Understanding management accounting practices: a personal journey. The British Accounting Review, n. 38, p. 1-30, 2006.
SCAPENS, R. W. Practice, theory and paradigms. Management Accounting Research, v. 21, p. 77-78, 2010.
SEAL, W. Managerial discourse and the link between theory and practice: from ROI to valuebased management. Management Accounting Research, v. 21, p. 95-109, 2010.
SIDOR, J. Debate over rigor and relevance in scientific study of management. Management and Business Administration, v. 23, n. 2, p. 32-46, 2015.
SIMONDON, G. L 'invention dans les techniques. Paris: Éditions du Seuil, 2005.
SIMONDON, G. Du mode d'existence des objets techniques (obra original publicada em 1958). Paris: Éditions Aubier, 2012.
SOBRINHO, J. D. Universidade e novos modos de produçâo, circulaçâo e aplicaçâo do conhecimento. Avaliaçao, v. 19, n. 3, p. 643-662, 2014.
SOBRINHO, J. D. Universidade fraturada: reflexöes sobre conhecimento e responsabilidade social. Avaliaçao, v. 20, n. 3, p. 581-601, 2015.
SOUZA, M. A. ; LISBOA, L. P. ; ROCHA, W. Práticas de contabilidade gerencial adotadas por subsidiárias brasileiras de empresas multinacionais. Revista Contabilidade e Finanças, v. 32, p. 40-57, 2003.
SPATTI, A. C.; SERAFIM, M. P.; DIAS, R. D. Universidade e pertinencia social: alguns apontamentos para reflexão. Avaliaçao, v. 21, n. 2, p. 341-360, 2016.
SUOMALA, P.; YRJÄNÄINEN, J. L. Management research in practice. New York: Routledge, 2012.
TAKAHASHI, A. R. W.; VERCHAI, J. K.; MONTENEGRO, L. M.; RESE, N. Mestrado professional e mestrado académico em administraçâo: convergencias, divergencias e desafios aos programas de pos-graduaçâo stricto sensu no Brasil. Administraçao: Ensino e Pesquisa, v. 11, n. 4, p. 551-578, 2010.
TREMBLAY, G.; PAQUELIN, D. Harold A. Innis: um doyen contre les derives de l'industrialisation. In: MOEGLIN, P. (Ed.). Industrialiser l'education: anthologie commentée (19132012). Vincennes: Presses Universitaires de Vincennes, 2016.
VAN DE VEN, A. H.; JOHNSON, P. E. Knowledge for theory and practice. Academy of Management Review, v. 31, n. 4, p. 802-821, 2006.
WOOD JR., T.; PAES DE PAULA, A. P. O fenómeno dos MPAs brasileiros: hibridismo, diversidade e tensöes. Revista de Administraçao de Empresas, v. 44, n. 1, p. 116-129, 2004.
WORRALL, L.; LUBBE, S.; KLOPPER, R. Academic Research and Management Practice: Is the Relevance Gap Closing? Alternation, v. 14, p. 292-316, 2007.
You have requested "on-the-fly" machine translation of selected content from our databases. This functionality is provided solely for your convenience and is in no way intended to replace human translation. Show full disclaimer
Neither ProQuest nor its licensors make any representations or warranties with respect to the translations. The translations are automatically generated "AS IS" and "AS AVAILABLE" and are not retained in our systems. PROQUEST AND ITS LICENSORS SPECIFICALLY DISCLAIM ANY AND ALL EXPRESS OR IMPLIED WARRANTIES, INCLUDING WITHOUT LIMITATION, ANY WARRANTIES FOR AVAILABILITY, ACCURACY, TIMELINESS, COMPLETENESS, NON-INFRINGMENT, MERCHANTABILITY OR FITNESS FOR A PARTICULAR PURPOSE. Your use of the translations is subject to all use restrictions contained in your Electronic Products License Agreement and by using the translation functionality you agree to forgo any and all claims against ProQuest or its licensors for your use of the translation functionality and any output derived there from. Hide full disclaimer
© 2019. This work is published under https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/ (the “License”). Notwithstanding the ProQuest Terms and Conditions, you may use this content in accordance with the terms of the License.
Abstract
A falta de sintonía entre a pesquisa academica e as necessidades dos práticos na área de contabilidade e gestäo (rigor-relevance gap) é fato conhecido e que vem sendo discutido na academia. O presente ensaio tem por objetivo contribuir para a discussäo do papel dos mestrados profissionais na mitigaçâo deste problema (rigor-relevance gap), ao discutir as principais razöes para a falta de alinhamento entre a pesquisa academica e a prática profissional, ou seja, a resistencia na incorporaçâo da técnica pela cultura e resistencia da academia na aceitaçâo de paradigmas de pesquisas alternativos. Propöe a utilizaçâo da pesquisa intervencionista como uma metodologia de pesquisa alternativa a ser utilizada pelos mestrados profissionais na soluçâo de problemas práticos e criaçâo de conhecimento, sugerindo que, para que diminuiçâo do rigor-relevance gap, alguns passos precisam ser dados, o que inclui aperfeiçoamento dos critérios de avaliaçâo da CAPES, além da aceitaçâo, por parte da academia, de paradigmas de pesquisas alternativos e ampliaçâo do espaço para a divulgaçâo da produçâo dos mestrados profissionais.