Introduçao
O ensino de Administraçâo Pública (AP) no Brasil vem passando por um momento bem instigante. Desde o processo de sua criaçâo, com todos desafios inerentes ao desenvolvimento do setor público até hoje, registra-se uma expansäo continua do número de cursos de graduaçâo e pós-graduaçâo no Campo de Públicas em todo o país. Tais cursos estäo surgindo com denominaçöes variadas como: Administraçâo Pública, Políticas Públicas Gestäo de Políticas Públicas e Gestäo Social, dentre tantas outras.
Como aponta (Coelho, 2008; Martes et al., 2010; Farah, 2016; Gomes, Almeida e Lucio, 2016). Oldfield (2017), o setor público também passou por processos de mudanças e tornou-se mais questionador e incerto e por isso, os programas de ensino nos cursos relacionados com a administraçâo pública também precisaram se adequar. Analisando os programas de educaçâo executiva no Brasil, Pacheco e Franzese (2017) apontam que aqueles voltados a gestores em estágios intermediarios da carreira devem manter equidistancia entre o treinamento e os programas académicos, com foco na resoluçâo de problemas e na interdisciplinaridade. A necessidade de inovaçâo e integraçâo entre pesquisa-ensino nos programas executivos também aparecem em artigos recentes (Knassmüller, 2016; Quinn, 2016; Notten, 2013).
Buscando compreender a importancia de inovaçöes pedagógicas voltadas para uma maior interaçâo entre pesquisa e ensino para alunos de graduaçâo em Administraçâo Pública, vamos, nesse artigo, refletir sobre as mudanças realizadas no Curso de Graduaçâo em Administraçâo Pública (AP) da Escola de Administraçâo de Empresas de Säo Paulo da Fundaçâo Getulio Vargas (FGV-EAESP) que foi feita com tal objetivo.
Em 2012, ocorreu uma grande reformulaçâo da grade curricular e do projeto pedagógico do curso de AP da FGV-EAESP. Sabemos que em termos de recursos disponíveis a realidade da experiéncia aqui analisada é diferente da realidade da grande maioria das universidades brasileiras, sobretudo nesse cenário recente de crise económica e política do país. Mas entendemos que alguns dos desafios que seräo elencados por nós podem ser compartilhados pelos(as) coordenadores(as) dos outros cursos do campo de públicas, merecendo reflexöes conjuntas.
O presente artigo está dividido da seguinte maneira. Além dessa introduçâo, apresentamos um brevíssimo histórico da trajetória do curso de AP na FGV-EAESP com énfase no redesenho do curso. Na sequencia se discute o ensino experiencial e seu vinculo com pesquisas, além da internacionalizaçâo do curso. Por fim, apresenta-se as reflexöes finais.
Trajetória da graduaçâo em Administraçâo Pública na FGV-EAESP
Formando profissionais para a área pública desde a década de 1960, o curso de graduaçao em Administraçâo Pública da FGV-EAESP passou por várias transformaçöes até chegar ao seu atual formato. Entre as décadas de 1960 e 1990, a graduaçao em AP, como resultado de convenio com o governo do Estado de Sao Paulo, era gratuita. Esse fato propiciava atrair um grande número de candidatos que, apesar de receberem formaçao de excelencia para atuarem no setor público, em sua maioria acabava buscando espaço de atuaçao profissional no setor privado. Ou seja, formavamse administradores públicos com apoio de recursos governamentais, mas estes, em sua maioria, optavam por uma inserçao profissional no mercado (ABRUCIO; TEIXEIRA, 2017).
O fato de o convenio nao preve e também nao condicionar que o egresso tivesse como destino uma carreira no governo, como ocorre na Fundaçao Joao Pinheiro (FJP), deixava aberta essa possibilidade de optar pela inserçao no setor empresarial, apesar do aporte de recurso governamental que foi feito para que o profissional atuasse no setor público. Bom lembrarmos que o espaço para contrataçao de profissionais em governos, quando excluimos as indicaçöes de caráter político e o acesso por concurso público, é bastante restrito. Nesse sentido, a experiencia da FJP de já preparar o graduando em AP para uma carreira pública é bastante importante para garantir que o investimento público se traduza na profissionalizaçao de qualidade destinada para quadros qualificados que terao como destino a atividade governamental.
Entre a metade das décadas de 1990 e 2011, a graduaçao em Administraçâo Pública da FGV-EAESP, após o fim do convenio de gratuidade das mensalidades com o governo estadual, passou a ter cobrança de mensalidades e a compor uma Linha de Formaçao do curso de Administraçâo num mesmo processo seletivo com 200 vagas semestrais: sendo 150 para a Linha de Formaçao em Empresas e 50 para Administi^ao Pública. Como o vestibular era classificatório, e a maior parte dos candidatos aplicava para Empresas, a maioria das vagas em Pública, cerca de 40 em 50, era ocupada por candidatos de Empresas que nao foram classificados em primeira chamada para aquela linha de formaçao. O problema, dessa forma, persistía: a FGV-EAESP continuava formando administradores públicos cuja maioria era absorvida profissionalmente pelo setor empresarial.
Nesse contexto, após sofrer pressao de importantes Stakeholders como: governos, terceiro setor, organismos internacionais, fundaçöes empresariais, consultorias e lideranças políticas que buscavam egressos da FGV-EAESP para atuarem em suas organizaçöes, a direçao da Fundaçao Getulio Vargas tomou a decisao de extinguir a Linha de Formaçao em Administraçâo Pública existente no Curso de Administraçâo e apoiar a criaçao de um bacharelado independente com estrutura curricular e processo seletivo próprio. Ou seja, a partir de entao aplicaria para candidatura ao curso de AP quem efetivamente tivesse interesse em atuar na área.
Esse reconhecimento institucional da importancia da área Pública por parte da direçao da FGV-EAESP foi um passo decisivo para a reformulaçao do curso e a viabilizaçâo de um curriculo mais conectado com as transformaçöes pelas quais o chamado campo ampliado da Administraçao Pública. O novo curriculo contemplou para além da discussao de conteúdos importantes para a formaçao de profissionais para atuarem em de governos, conteúdos igualmente importantes para a atuaçao profissional no conjunto de organizaçöes estatais e nao-estatais que se relacionam diretamente em atividades em prol do interesse público, além dos demais poderes do Estado, organismos internacionais e consultorias.
O redesenho do curso de Administraçâo Pública
Em 2012, o curso de Graduaçao em Administraçâo Pública da FGV EAESP ganhou um novo formato e a missao de formar lideranças e gestores públicos com o objetivo de ajudar no desenvolvimento do país. Para tanto, assumiu caráter inovador, tanto no conteúdo quanto na forma abordando questöes fundamentais do mundo contemporáneo, visando formar lideranças com ampla visăo das ciencias sociais, conhecimento em gestăo e políticas públicas com capacidade de negociaçao e tomadas de decisăo, além de sólida capacitaçao para tratar de questöes nacionais e internacionais. A busca é por preparar um aluno que tenha, ao mesmo tempo, formaçao humanista e capacidade gestora, por meio de um ensino multidisciplinar, aberto ao debate, e com experiencias de imersăo em contextos locais, nacionais e internacionais.
A estrutura do curso garante flexibilidade curricular, na medida em que considera o aluno sujeito do processo de aprendizagem. Sao utilizadas diversas metodologias pedagógicas, como o uso de estudos de caso, debates e oficinas sobre questöes contemporáneas, atividades extraclasse e trabalho de campo, com vistas a formar um aluno autónomo e capaz de acompanhar as transformaçöes sociais e profissionais do mundo contemporáneo.
O curso contém dez blocos temáticos, considerados de suma importancia para a formaçao do administrador público, e possui uma estrutura mista (bimestral e semestral). Cada bimestre é composto por cinco ou seis disciplinas, obrigatórias ou eletivas, e há um tema transversal para cada semestre, que unifica os conteúdos bimestrais. Estes temas sao tratados também em oficinas temáticas e instrumentais.
Do primeiro ao quarto semestre os alunos tem Oficinas Práticas de Políticas Públicas onde sao desafiados a entenderem os processos de formulaçao, implementaçao, monitoramento e avaliaçao de políticas públicas em diferentes contextos e setores. Esse é um espaço em que é possível mobilizar conteúdos trabalhados em diferentes disciplinas na produçao de conhecimento multidisciplinar durante a elaboraçao de dossies temáticos.
A partir do segundo ano, os alunos participam de atividades que os colocam frente ao desafio de enfrentarem realidades concretas de um administrador público como: Imersao Federal, alocada no terceiro semestre, é o momento em que passam um período em Brasília estudando políticas públicas de alcance nacional; Imersao Subnacional, alocada no quinto semestre, ocorre por meio da vivencia de uma experiencia em estados ou municípios para a produçao de diagnósticos de políticas públicas e elaboraçao de propostas para soluçao de problemas; Conexao Sul-Sul, em que os alunos vao a diferentes países do eixo Sul para conhecerem tecnologías sociais de soluçöes de políticas públicas em contextos diferentes dos nossos e partilharem conhecimentos adquiridos no Brasil caso sejam importantes para a realidade visitada.
Apresentar de forma mais detalhada essas diferentes metodologias de ensino trabalhadas nas mais diversas disciplinas durante todo o percurso da graduaçao em AP da FGV-EAESP, com destaque para as abordagens experienciais, é o principal objetivo desse artigo. Além disso, também serao discutidos os efeitos da articulaçao direta entre conteúdo e prática no aprendizado do aluno, principal diretriz metodológica para o trabalho do docente de AP na FGV. Como dito anteriormente, nao foi feita a opçao por uma metodologia específica, mas sim uma orientaçao pelo uso de diferentes estratégias metodológicas, sempre pensando em qual será a mais adequada para formar um aluno que esteja capacitado para intervir positivamente com açöes voltadas a melhoria das condiçöes de vida dos brasileiros.
O ensino experiencial
Um dos principais objetivos dos cursos do campo de públicas é modificar a realidade social brasileira. Para isso, um primeiro passo fundamental é conhecer profundamente como funcionam as organizaçöes e estruturas administrativas que formulam e/ou elaboram as políticas e açöes, entender como funciona o processo de implementaçâo e entender as instituiçöes e organizaçöes que monitoram, avaliam e fiscalizam os resultados das políticas. Nesse sentido, proporcionar aos alunos e alunas a vivencia nesses espaços é fundamental.
Na FGV-EAESP, estas atividades foram transformadas em um eixo estruturante do curso de graduaçâo, chamado de Imersöes e Conexöes, composto por tres disciplinas obrigatórias. A primeira, chamada Imersăo Federal, tem como objetivo aproximar os(as) alunos(as) do 3o semestre do cotidiano das equipes que coordenam algumas das principais políticas públicas do país. A Imersăo Federal dura uma semana, de domingo a sábado, e a turma é dividida em grupos de aproximadamente oito alunos(as).
Durante quatro períodos da semana (manhăs ou tardes), estes grupos săo alocados em diferentes ministérios para conhecer os programas pré-selecionados pela Coordenaçăo e suas equipes. Supervisionados sempre por um(a) estudantes de mestrado ou doutorado, a turma aprende a fazer uma rica descr^ăo de como funciona as etapas de formu^ăo, monitoramento e aval^ăo, com base em entrevistas, palestras e conversas com servidores(as). Além disso, nos demais períodos, os(as) alunos(as) realizam tres a quatro visitas institucionais ao Congresso Nacional, ao Palácio do Itamaraty, a Escola Nacional de Administraçăo Pública (ENAP), a Controladoria Geral da Uniăo (CGU) ou ao Tribunal de Contas da Uniăo (TCU) e, eventualmente a alguma agencia do sistema ONU.
No último dia da Imersăo Federal, ocorre a apresentaçăo do resultado da pesquisa sobre o programa ou política para a banca avaliadora formada pelo professor responsável pela disciplina, o coordenador do Curso de Administraçăo Pública, o(a) supervisor(a) que acompanhou o grupo, e um(a) representante do Ministério receptor, para auxiliar no processo de aval^ăo da pesquisa realizada pelos alunos(as). Essa apresentaçăo tem como foco principal, a descr^ăo do programa e, secundariamente, que o grupo apresente os principais desafios identificados durante a semana de re^ăo com os 0rgăos.
Na nossa opiniăo, esta primeira Imersăo possui um papel fundamental no curso. Após dois semestres iniciais em que estudam a estrutura do Estado brasileiro e buscam compreender do ponto de vista administrativo, sociológico e jurídico os desafios da administi^ăo pública, este é o momento em que os(as) alunos(as) entendem efetivamente o que faz o governo federal na prática. Além disso, ao conviver com servidores(as) federais, em sua grande maioria, profissionais totalmente dedicados as suas tarefas, com muita experiencia e com uma boa formaçăo academica, nossos(as) alunos(as) encontram algumas pessoas que servirăo como referencia profissional para o restante do curso.
A segunda disciplina é a Imersăo Local. Inicialmente, o objetivo da disciplina era levar os(as) estudantes do quinto semestre para conhecer boas experiencias, buscando aproximá-los dos desafios enfrentados pelos diferentes estados e municípios para implementar políticas de educaçăo, saúde, cultura, desenvolvimento local, meio ambiente, gestăo pública, defesa dos direitos de minorias e segurança pública. Durante os dez dias da experiencia, o grupo de aproximadamente dez alunos(as) também era acompanhado por algum(a) estudante dos cursos de Mestrado e/ou Doutorado. A ideia é que pudessem conviver com a equipe administrativa e principalmente com os técnicos dos programas e popu^ăo beneficiária, para entender as especificidades de cada área, assim como os seus resultados e impactos na vida dos cidadăos, em uma realidade muito diferente de Săo Paulo.
A partir de 2016, fizemos uma alteraçâo na Imersăo Local1. Ao invés de apenas apresentar boas experiencias, optamos por estabelecer parcerias com municipios - que inicialmente foram selecionados em parceria com a Comunitas e depois, com base nas redes pessoais dos(as) professores(as) do curso - que estivessem dispostos a receber os(as) estudantes. Novamente, a sala é dividida e cada grupo é acompanhado por um(a) supervisor(a). Mas a diferença é que a partir de entăo, cada estudante ficava responsável por uma secretaria, e com base em um diagnóstico elaborado previamente e das entrevistas ou conversas (Spink, 2008) com as equipes locais, elabora tres propostas para lidar com alguns dos problemas definidos por cada Secretaria Municipal.
A escolha por essa mudança de foco na Imersăo Local teve dois motivos. O primeiro foi ajudar a forjar nos(as) estudantes a perspectiva de resol^ăo de problemas. Entendemos que esse é um diferencial dos cursos do campo de públicas em re^ăo aos cursos de Sociologia, Economia, Relaçöes Internacionais ou outros das áreas das ciencias sociais. Assim, nossos(as) estudantes, que nesse momento já estăo na segunda metade do curso, passam a focar suas atençöes na busca por soluçöes e năo apenas na realizaçăo de bons diagnósticos. O segundo motivo é mostrar a realidade dificil pela qual estăo passando os municipios brasileiros atualmente, com grande carencia de recursos financeiros, humanos, informacionais, patrimoniais, e outros. Para nós, é fundamental que a lógica do "ensino experiencial" ocorra em situaçöes comuns e năo somente, naqueles casos tidos como boas práticas de gestăo pública.
A terceira disciplina é a Conexăo Sul-Sul, cujo objetivo é levar os(as) estudantes para conhecer as realidades socioeconómica dos países da América Latina e aprender com as políticas públicas que os governos estăo formulando e implementando para enfrentar os principais desafios nacionais. Durante o periodo de 22 dias (tres semanas), o grupo de estudantes de sexto e sétimo semestres permanecem em contato com as equipes dos governos nacional e local (quando for o caso) para compreender as açöes, projetos e programas de determinada área, mas também relacionam-se com organizaçöes da sociedade civil, organismos internacionais, universidades e centros de pesquisa que desenvolvam atividades relacionadas com o tema escolhido.
A escolha inicial pela América Latina deve-se a dois motivos. Em primeiro lugar, nossos(as) estudantes, quando tem oportunidade, normalmente optam por conhecer o hemisfério norte, com destaque para Estados Unidos e Europa. Em segundo lugar, porque entendemos que nosso contexto é semelhante aos dos países vizinhos, tanto em termos de problemas como em recursos para solucioná-los. Assim, a ideia da cooperaçăo internacional e da troca de saberes entre realidades próximas ajuda no processo final de formaçăo das turmas e também colabora com o aumento do sentimento de pertencimento a realidade latino-americana.
Vale a pena ressaltar que a grande maioria das despesas de hospedagem e deslocamento das tres imersöes săo de responsabilidade da FGV-EAESP - sendo que aproximadamente 20% do custo é pago diretamente pelos(as) estudantes - e que a experiencia desta disciplina năo representa qualquer custo para os governos e/ou organizaçöes que estăo recebendo nossos(as) alunos(as).
A proximidade com a pesquisa
A integraçăo entre ensino e pesquisa também se constitui como um dos eixos fundamentais do nosso curso. O FGV Pesquisa é a estrutura própria para o financiamento da pesquisa, tanto para professores(as) como para estudantes de todos os cursos. No caso da graduaçăo, temos tres projetos que săo oferecidos aos(as) estudantes, dentro do Programa de Iniciaçâo a Pesquisa (PIP). O primeiro deles é o Conexăo Local, que leva duplas de estudantes para conhecer experiencias inovadoras de gestăo pública, empresarial e da sociedade civil durante o mes de julho. O segundo é o Residencia em Pesquisa, onde os(as) estudantes selecionados passam período de quatro meses - prorrogáveis por mais quatro - nos vários Centros de Estudos da EAESP, convivendo com pesquisadores(as) de diferentes áreas e recebendo uma bolsa mensal para auxiliar nas pesquisas. O terceiro é o Programa Institucional de Bolsas de Iniciaçâo Científica (PIBIC) que segue os mesmos moldes estabelecidos pelo CNPq.
Além destes programas institucionais - e que sao oferecidos tanto para os(as) alunos de Administraçao Pública como de Administraçao de Empresas - criamos na reforma curricular de 2012, as Oficinas de Pesquisa. Isso significa que nos quatro primeiros semestres do curso, os(as) alunos(as) escolhem um tema e ao longo do semestre, utilizam diferentes metodologias para compreender o tema, coletar dados (quantitativos e qualitativos), interpretá-los e analisa-los. Por tratar-se de um conjunto de disciplinas obligatorias, garantimos que todo o nosso corpo discente conheça os elementos básicos da realizaçao da pesquisa científica, mesmo que opte por nao aproveitar nenhuma das oportunidades oferecidas pelo FGV Pesquisa.
Utilizando os recursos do Projeto Residencia em Pesquisa, mas principalmente recursos de outras fontes, nosso desafio também é incluir os(as) estudantes nos projetos realizados pelos centros de estudo da EAESP. O CEAPG (Centro de Estudos em Administraçao Pública e Governo), por exemplo, estabeleceu a diretriz que recomenda que em qualquer projeto aprovado haja a presença de estudantes de graduaçao na equipe de pesquisadores(as). Embora isso ainda nao seja seguido pelos outros Centros, principalmente no CEPESP (Centro de Política e Economia do Setor Público) e no FGV-Saúde (Centro de Estudos em Planejamento e Gestao de Saúde) é muito comum ter estudantes da graduaçao envolvidos.
Nos últimos semestres, tanto nas Oficinas como nos projetos do CEAPG, a procura dos(as) estudantes tem se concentrado em seis temas principais: combate a corrupçao, mobilidade urbana, segurança pública, educaçao, genero e pobreza e desigualdades. É interessante notar que esse interesse tem se refletido também nos Trabalhos de Conclusao de Curso e nos desejos de dar continuidade as pesquisas em nível de pos-graduaçao.
A internacionalizado da graduaçao
A FGV-EAESP, por meio da Coordenadoria de Relaçöes Internacionais, criada em 1991, possui uma extensa rede com mais de 100 universidades parceiras no exterior. Desde a reformulaçao do curso, o interesse dos(as) estudantes de Administraçao Pública na realizaçao de algum intercambio regular permanece alto. Embora haja uma clara preferencia por universidades europeias, principalmente em países como França, Alemanha, Espanha e Itália, e em menor grau pelos Estados Unidos ou Canadá, temos percebido uma mudança interessante nos últimos anos, com alguns alunos(as) que optaram por intercambios na América Latina e na Ásia.
Além destes intercambios regulares, temos procurado oferecer outras oportunidades de experiencia internacional para o corpo discente. Uma delas é o programa "Experiencia Buenos Aires Internacional" criado pelo Governo da Cidade Autónoma de Buenos Aires, para receber estudantes das universidades parceiras durante algumas semanas. Os(as) estudantes selecionados sao alocados em alguma secretaria ou órgao governamental para auxiliar em projetos estratégicos. O programa preve também o acompanhamento de um tutor, reuniöes com funcionários de alto escalao do governo local e uma série de atividades culturais na cidade. Apesar de o(as) estudantes terem que pagar suas despesas de transporte aéreo e de hospedagem em Buenos Aires, aqueles(as) que participaram das ediçöes de 2017 e 2018 do EBAI gostaram muito e, em alguns casos, passaram a considerar a possibilidade de seguir a carreira de administraçâo pública em um contexto totalmente diferentes.
Outra experiencia de estágio internacional interessante para os(as) nossos(as) alunos é o programa do The Washington Center. Além de promover estágios em organizaçöes baseadas na capital norte-americana, essa organizaçao promove uma importante rede de contatos e de troca de conhecimentos. Nas últimas ediçöes, alguns alunos(as) foram contemplados como bolsas do programa, viabilizando sua participaçâo mesmo para aqueles(as) que năo possuíam recursos financeiros para permanecer durante um semestre em Washington DC.
Mais recentemente, o curso de Administraçâo Pública firmou, em caráter de reciprocidade, um convenio de Duplo Diploma com a Universidade Luigi Bocconi, em Milăo, na Itália. Nessa modalidade, o aluno de AP faz os tres primeiros anos no Brasil e um ano na Itália, conseguindo com isso um segundo diploma no curso de Política Internacional e Governo da citada universidade. Alunos da Bocconi poderao vir ao Brasil para cursar créditos durante dois anos e, assim, também obterem um segundo diploma: de bacharel em Administraçâo Pública pela FGVEAESP. Na Itália, diferente do Brasil, uma graduaçâo pode ser integralizada em tres anos.
A integraçâo com o mercado de trabalho
Nao há dúvidas de que os 5.570 municipios, 27 estados e a Uniâo precisam de profissionais cada vez mais capacitados para gerir suas políticas. Neste sentido, e apenas considerando o campo governamental, aparentemente, nâo haveria problema de empregabilidade dos(as) egressos(as) dos cursos do campo de públicas.
No entanto, a empregabilidade nao depende apenas da oferta de vagas. É fundamental que os(as) profissionais estejam alinhados ao perfil desejado pelas organizaçöes empregadoras.
Se no ámbito estatal, estes(as) alunos(as) precisam conhecer sobre formulaçâo e implementaçâo de políticas, assim como saber realizar o monitoramento e avaliaçâo das açöes. Precisam também aplicar ferramentas de planejamento, conhecer as regras do Direito Administrativo e, claro, saber ouvir e interpretar os anseios oriundos da participaçâo popular, entre outras competencias.
Já na esfera nao estatal, o fato de estarmos em Sao Paulo, maior centro empresarial da América do Sul, ajuda de maneira decisiva. Isso porque muitas das sedes das organizaçöes nao-governamentais, das empresas e consultorias estao localizadas na cidade. Isso gera uma grande oferta de postos de trabalho e estágios para os(as) estudantes. Por outro lado, um grande desafio é prepara-los para atuar nessas organizaçöes, que possuem lógicas e culturas organizacionais diferentes da administraçâo pública estatal. Nesse sentido, a possibilidade de realizar disciplinas nos demais cursos da FGV em Sao Paulo como Adminisú^ao de Empresas, Direito ou Economia, como eletivas tem sido fundamental para complementar a formaçao do nosso corpo discente.
Outra possibilidade professional que interessa muito aos(as) nossos(as) alunos(as) sao as organizaçöes internacionais. Além da obrigatoriedade de realizar a Conexao Sul Sul já mencionada, o sexto semestre do curso está totalmente focado no tema das relaçöes internacionais. Assim, a grade curricular das disciplinas obrigatórias preve seis disciplinas específicas: Teoria das Relaçöes Internacionais, Organizaçöes e Regimes Internacionais, Geopolítica Contemporánea e o papel da América Latina, Direito Internacional, Política Externa Brasileira e Administraçao Pública Comparada. Entendemos que com essa preparaçao, nossos(as) alunos(as) estarao mais preparados(as) para entender o contexto internacional e, caso seja o desejo deles, para buscar colocaçao profissional na área internacional.
Reflexóes Finais
Neste artigo buscamos destacar o que o curso de Administraçâo Pública da FGV-EAESP vem fazendo em quatro grandes eixos: ensino experencial, proximidade com a pesquisa, internacionalizaçâo e integraçâo com o mercado de trabalho. Entendemos que a quase totalidade dos cursos do campo de públicas busca lidar com esses aspectos cotidianamente. Mas sabemos que falamos a partir de um ponto absolutamente privilegiado, em funçâo dos diferentes recursos que dispomos dentro da nossa instituiçâo.
Estamos buscando inovar sempre, mas há muitos desafios pela frente. O primeiro deles refere-se ao financiamento, dado que inovaçöes muitas vezes sāo altamente custosas. Embora a FGV-EAESP seja financiada pelas suas mensalidades, nossa situaçâo nem sempre é confortável dado que algumas das inovaçöes estāo sujeitas as variaçöes de preços (como as passagens aéreas nacionais) ou mesmo ao câmbio (como no caso das passagens e hospedagens da Conexáo Sul Sul). Mas estamos muito longe da situaçâo financeira enfrentada por muitos de nossos(as) colegas das universidades públicas nos últimos anos. E somos totalmente solidários a busca pelo aumento dos recursos financeiros destinados as estas universidades, seja em termos de custeio como em termos de infraestrutura. Sabemos que é extremamente difícil inovar sem recursos!
O segundo desafio refere-se as desigualdades dentro do corpo discente. Embora tenhamos ampliado muito o número de bolsas reembolsáveis e, principalmente, nao reembolsáveis desde 2012, sabemos que para um(a) aluno(a) com dificuldades financeiras permanecer dentro do ambiente geveniano é um desafio diário. Desde o tempo gasto com o deslocamento das áreas mais periféricas, passando pelo acesso a livros caros, e pelo alto custo de alimentaçao e das atividades extra que sao parte fundamental da vida universitária, seguimos tendo que lidar com inúmeras desigualdades entre os(as) alunos(as). Possuir uma estrutura de moradia, alimentaçao nutritiva e barata, e de serviços de apoio aos(as) estudantes, assim como as grandes universidades do mundo possuem, segue sendo um grande desafio.
O terceiro desafio é ampliar as parcerias com governos, empresas, organizaçöes internacionais e do chamado terceiro setor e movimentos sociais para estar sempre atentos as necessidades do mercado de trabalho. Sabemos que a crise económica é muito forte e que o desemprego - ou os empregos de baixa qualidade - segue sendo uma grande preocupaçao dos(as) alunos(as), egressos(as) e seus responsáveis. Manter o nosso projeto pedagógico alinhado com o que as diferentes organizaçöes precisam é fundamental. Já mencionamos que o fato de que estarmos em Sao Paulo gera uma série de vantagens em termos de mercado de trabalho para nosso curso, mas entendemos que em cada localidade onde estao as demais universidades do campo de públicas possui uma dinámica económica diferente. Estar atento a isso e sempre tentando aumentar e melhorar as oportunidades profissionais para os(as) egressos(as) é fundamental.
Finalmente, temos o quarto desafio. Na nossa opiniao, a democracia é um valor fundamental para qualquer sociedade e isso precisa ser garantido diariamente pelas nossas instituiçöes republicanas. A busca pela melhoria da gestao pública brasileira é um projeto de todo o campo de públicas. Para isso, precisamos ter liberdade para fazer avaliaçöes positivas e negativas, críticas e elogios, seja dentro do ambiente académico ou fora dele. Nós estaremos sempre atentos a isso, apoiando nossos(as) colegas internamente da FGV-EAESP e, claro, os(as) colegas de todo o campo. Somente com democracia e liberdade de expressăo é que melhoraremos a gestăo pública, e assim, conseguiremos diminuir as enormes desigualdades do nosso país.
Texto convidado em Outubro/2018
Editor Científico: Edson Sadao Iizuka
DOI 10.13058/raep.2019.v20n1.1378
Dados dos Autores
Fernando Burgos Pimentel dos Santos [email protected] Doutor em Administraçâo Pública e Governo pela FGV-EASP Instituiçâo de vinculaçâo: Escola de Administraçâo de Empresas de Sao Paulo da Fundaçâo Getulio Vargas Sao Paulo/SP - Brasil Áreas de interesse em pesquisa: Desenvolvimento Local, Políticas Públicas.
Av. 9 de Julho, 2029 - 11 andar Bela Vista Sao Paulo/SP 04210-061
Marco Antonio Carvalho Teixeira [email protected] Doutor em Ciencias Sociais pela PUC/SP Instituiçâo de vinculaçâo: Escola de Administraçâo de Empresas de Sâo Paulo da Fundaçâo Getulio Vargas Sâo Paulo/SP - Brasil Áreas de interesse em pesquisa: Orgâos de Controle, Gestâo Democrática.
1 Para maiores informaçöes sobre esta mudança, ver Burgos e Sandim (2017).
Referencias
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Abstract
Além disso, nos demais períodos, os(as) alunos(as) realizam tres a quatro visitas institucionais ao Congresso Nacional, ao Palácio do Itamaraty, a Escola Nacional de Administraçăo Pública (ENAP), a Controladoria Geral da Uniăo (CGU) ou ao Tribunal de Contas da Uniăo (TCU) e, eventualmente a alguma agencia do sistema ONU. GOMES, S.; ALMEIDA, L. S. B.; LUCIO, M. B. A new agenda for teaching public administration and public policy in Brazil: Institutional opportunities and educational reasons. NOTTEN, T. Changing times: A changing public sector may require changes to public management education programmes. QUINN, B. C. Teaching and research in mid-career management education:
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