Resumo
Este trabalho se propöe a investigar a aquisiçâo das vogais nasais [e], [ä] e [5] da Língua Francesa por aprendizes do curso de licenciatura em Letras Portugues/Frances. Em termos articulatorios, essa classe de segmentos caracteriza-se pelo abaixamento do véu palatino, o que gera o acoplamento dos tubos nasal e oral (SEARA, 2000; MEDEIROS e DEMOLIN, 2006; BARBOSA e MADUREIRA, 2015) e, consequentemente, por aspectos acústicos diferentes daqueles encontrados nas vogais orais. Com a passagem livre do ar no trato nasal, o primeiro formante (F1) tende a abaixar e o terceiro (F3) a aumentar (HAWKINS e STEVENS, 1985; DELVAUX, 2003). Há também uma modificaçâo na amplitude de picos espectrais - menor para as nasais -, aparecimento de picos espectrais adicionais e uma maior duraçâo para os referidos segmentos (MORAES e WETZELS, 1992; SOUSA, 1994). Para desenvolver essa pesquisa, foram realizadas coletas de dados articulatórios com tres grupos de informantes: Grupo I - dois aprendizes de FLE de semestres distintos (2° e 8°) do curso de licenciatura; Grupo II - uma nativa de frances; e Grupo III - uma nativa de portugues brasileiro. O instrumento de coleta articulatoria consistiu em um teste de produçâo de logatomas em frase-veículo. As coletas foram realizadas na cabine acústica do Laboratório Emergencia da Linguagem Oral (LELO/UFPel). Para a coleta e análise dos dados articulatórios, foi utilizado o software Articulate Assistant Advanced (AAA), versäo 2.16.11. A análise dos segmentos dos dois grupos de nativas constatou que: (i) para diferenciar o segmento nasal do oral, a nativa do frances posterioriza seus movimentos de língua, já a do portugues, eleva-os. Quanto aos dados das aprendizes, foi possível constatar: (i)generalizaçâo dos gestos de língua da informante do 2° semestre para as tres vogais nasais do FR e (ii) distinçâo vocálica acurada da informante do 8° semestre. Ainda, a ultrassonografia demonstrou ser uma ferramenta promissora para a realizaçâo de pesquisas acerca da nasalidade, evidenciando diferenças estatísticas significativas nos movimentos de língua entre os segmentos orais e nasais.
Palavras-chave: Vogais nasais; Aquisiçâo de língua estrangeira; Frances
Abstract
This work aims at investigating the acquisition of the nasal vowels [e], [a] and [5] of French by learners in an undergraduate course in Languages (Portuguese and French). In articulatory terms, this class of segments is characterized by a lowering of the velum, which makes a connection between nasal and oral tubes (SEARA, 2000; MEDEIROS e DEMOLIN, 2006; BARBOSA e MADUREIRA, 2015). Consequently, these vowels are characterized by acoustic aspects different from those found in oral vowels. With the free passage of air in the nasal tract, the first formant value (F1) tends to lower and the third formant value (F3) tends to rise (HAWKINS e STEVENS, 1985; DELVAUX, 2003). here is also a change in the width of spectral peaks - which is smaller for nasal vowels -, as well as the appearance of additional spectral peaks and a longer duration for these segments (MORAES e WETZELS, 1992; SOUSA, 1994). In order to develop this research, sessions of articulatory data collection have been made with three groups of informants: Group I - two learners of French as a Foreign Language (FFL) in different semesters (2nd and 8th) of the course; Group II - a native speaker of French; and Group III - a native speaker of Brazilian Portuguese. he articulatory data collection instrument consisted in a test involving the production of pseudowords in a carrier phrase. he sessions of data collection were made in an acoustic cabin of the Emergence of Oral Language Laboratory (LELO/UFPel). For the purpose of collection and analysis of articulatory data, the software Articulate Assistant Advanced (AAA, version 2.16.11) has been used. he analysis of the segments produced by both groups of native speakers has demonstrated that in order to distinguish the nasal segment from the oral one, the native speaker of French posteriorizes her tongue movements, whereas the speaker of Portuguese elevates them. Regarding the data produced by learners, it was possible to verify: (i) generalization of tongue gestures by the 2nd semester informant for the three French nasal vowels and (ii)accurate vocalic distinction by the 8th semester informant. Additionally, ultrasonography has shown to be a promising tool for research on nasality, evidencing significant statistic differences in tongue movements between oral and nasal segments.
Keywords: Nasal vowels; Foreign language acquisition; French
1 Introduçao
O presente trabalho se propöe a investigar a aquisto das vogais nasais [G], [a] e [5] por aprendizes brasileños de Frances Lingua Estrangeira (FLE), de um curso de formaçao de professores. Para os aprendizes de FLE, é relevante o entendimento sobre o sistema fonético e fonológico da lingua alvo, pois, enquanto profissionais, precisarao lançar mao desses conhecimentos para tornarem o ensino e aprendizagem efetivos.
O foco de investigaçao do presente artigo - vogais nasais do francés -, justifica-se pelo fato de parte expressiva dos trabalhos voltados para a aquisiçao fonético/fonológica do francés como lingua estrangeira por brasileiros, como Alcántara (1998), Pompeu (2010), Restrepo (2011), Rombaldi et. al. (2012) e Silva-Pinto (2016), dentre outros, pesquisarem sobre as vogais arredondadas (y, oe, s) por se tratarem de fonemas nao existentes no sistema fonológico do Portugués Brasileiro (PB). No entanto, sao raros os trabalhos voltados para a aquisiçao das vogais nasais do Francés (SCARDUELLI e SEARA, 2006). Cabe salientar, ainda, os obstáculos encontrados durante o processo de ensino dessas vogais como lingua estrangeira, pois os professores, apesar de compreenderem e observarem dificuldades, por parte dos alunos, na produçao dos sons, na maioria das vezes, nao conseguem estabelecer estratégias que possam auxiliar efetivamente na aquisiçâo desses segmentos. Pretende-se desenvolver, dessa forma, um estudo que contribua com o processo de ensino em sala de aula, visto que apresentará descriçao articulatória das produçöes dos aprendizes, revelando, assim, os obstáculos encontrados pelos alunos na realizaçao de tais segmentos vocálicos.
Por fim, a releváncia desta pesquisa se expressa, ainda, na utilizaçao de uma ferramenta metodológica pouco utilizada no Brasil em investigaçöes da área: o ultrassom. Segundo Ferreira-Gonçalves e Brum-de-Paula (2013), a ultrassonografia é vista como uma técnica nao invasiva, segura e "bastante promissora em relaçâo a investigaçâo da arquitetura do conduto vocal, das posiçöes e dos movimentos realizados pelos articuladores durante a produçâo da fala" (FERREIRA-GONÇALVES; BRUM-DE-PAULA, 2013, p.69). Logo, a análise articulatoria dos dados recolhidos poderá apresentar resultados e informaçöes relevantes no que concerne a produçâo das vogais nasais.
Dessa forma, com foco em um tema ainda pouco abordado - aquisiçâo das vogais nasais do francés por falantes nativos de portugués brasileiro -, sob uma perspectiva metodológica diferenciada - emprego da ferramenta de ultrassonografia -, pretende-se verificar as diferenças articulatórias na produçâo das vogais [8], [â] e [5], nos dados de dois aprendizes de semestres distintos do curso de licenciatura em Letras Portugués/ Francés (2° e 8°) e de duas nativas da Língua Portuguesa e da Língua Francesa.
Para a composiçâo da amostra, foram coletados dados de produçâo oral para fins de análise articulatoria. Embora a análise acústica possa revelar pistas acerca dos movimentos articulatórios envolvidos em uma determinada produçâo, ferramentas metodológicas outras, como a ultrassonografia, podem ser de grande valia para os estudos linguísticos, pois revelam a movimentaçâo dos articuladores em tempo real (FERREIRA-GONÇALVES & BRUM-DE-PAULA, 2013). Ainda, com tal tecnología, é possível estabelecer associaçöes entre as pistas acústicas e os movimentos do trato vocal.
A partir do objetivo geral deste trabalho e das escolhas metodológicas feitas, foram estabelecidos os seguintes objetivos específicos: (i) descrever as características articulatórias, por meio de imagens ultrassonográficas, das vogais nasais [8], [â] e [5] produzidas por aprendizes de FLE, pela informante com francés como língua nativa e pela informante com portugués como língua nativa; (ii) investigar o papel da influéncia da língua materna no que diz respeito as estratégias articulatórias utilizadas pelos aprendizes na produçâo das vogais nasais; (iii) avaliar a importancia da variável nível de proficiéncia1 para a apropriaçâo de gestos articulatorios envolvidos na aquisiçâo das vogais [8], [â] e [5], e (iv) verificar se a utilizaçâo da ultrassonografia é eficaz para o desenvolvimento de estudos sobre o processo de aquisiçâo das vogais nasais do francés.
O presente artigo está dividido em cinco seçöes: Introduçâo, Fundamentaçâo teórica, Metodologia, Descriçâo e análise dos dados articulatórios e Conclusâo. A primeira teve como objetivo apresentar, de uma maneira geral, a proposta de desenvolvimento do trabalho. A segunda está dividida em duas subseçöes e é destinada a apresentar a fundamentaçâo teórica sobre a qual esta pesquisa se baseou. Inicia com informaçöes a respeito das características acústicas e articulatórias das vogais nasais, apontadas pela literatura como padröes para todas as línguas. Na sequéncia, uma descriçâo acústica e articulatória no que concerne especificamente as vogais nasais do portugués brasileiro e do francés, bem como informaçöes sobre a aquisiçâo das vogais nasais francesas como LE. A terceira seçâo apresenta o método elaborado para o desenvolvimento deste trabalho e está dividida em trés subseçöes. A primeira apresenta os sujeitos que farâo parte desta pesquisa; a segunda e terceira falam sobre as coletas de dados articulatórios. Reportam também os procedimentos a serem realizados, as formas de análise, o número de dados coletados e os corpora selecionados. A quarta seçâo é destinada a descriçâo e a análise dos dados da pesquisa, apresentando gráficos, a fim de se ter uma melhor visualizaçâo dos resultados articulatórios obtidos. A última seçâo é dedicada as consideraçöes finais.
2 Fundamentaçâo Teórica
2.1Sobre a nasalidade
Segundo Ladefoged & Maddieson (1996) e Rossato et al. (2006), quase todas as línguas do mundo possuem um som nasal no seu sistema fonético-fonológico; porém, somente 20% delas tém vogais nasais, como o francés. Conforme Moraes (2013), dentre as línguas do mundo, sâo pouquíssimas as que tém a nasalizaçâo vocálica distintiva. Nas línguas indo-europeias, por exemplo, somente o polonés, francés e portugués apresentam essa característica.
Sabe-se, de antemâo, que as vogais sâo caracterizadas, de uma maneira geral, pela passagem livre de ar, isto é, sem obstruçâo no trato vocal, ao contrário das consoantes (FANT, 1960; LADEFOGED, 2001; CUKIER, 2006). Essa classe é caracterizada, tradicionalmente, pelos seguintes aspectos articulatórios: abertura da cavidade oral; arredondamento dos lábios; posiçâo da língua na cavidade oral e abertura ou fechamento do segmento velofaríngeo (GREGIO, 2006; CAMARGO et al, 2008). Para as vogais nasais, ocorre o abaixamento do véu do palato, o que condiciona o acoplamento do trato oral ao nasal (SEARA, 2000).
Já acusticamente, segundo Fant (1960), esses segmentos podem gerar vários formantes; porém, sao dois aqueles mais utilizados para análises. O primeiro deles (F1) diz respeito a altura (abertura) e o segundo (F2), em geral associado a anterioridade e posterioridade da língua.
Segundo Hawkins e Stevens (1985), as principais diferenças entre vogais orais e nasais estao calcadas (i) no primeiro formante, que tende a abaixar para a nasal, pois, para a faringe estar mais aberta, permitindo a passagem do ar, é preciso que a posiçâo da língua esteja mais alta e (ii) no aumento da sua largura de banda, o que também está associado a abertura da faringe. Segundo esses autores, pode-se constatar, ainda, mudanças nas frequéncias de formantes mais altos - como o aumento dos valores de F3 -, modificaçâo na amplitude de picos espectrais - menores para as nasais - e o aparecimento de informaçöes espectrais adicionais, como os antiformantes. Esses últimos, característicos das vogais nasais, aparecem no espectro, pois sâo consequencia do acoplamento de tubos - oral e nasal.
2.2As vogais nasais do portugués brasileiro e do francés
Medeiros (2012) aponta cinco vogais nasais constituintes do sistema do portugués brasileiro: /â, e, i, ö, ú/, conforme Figura 1. Segundo a autora, essas vogais podem aparecer em construçöes do tipo VnCoV, CVnCoV, CVn, onde Co é uma consoante oclusiva ou uma fricativa e Vn corresponde a uma das vogais nasais.
De acordo com alguns estudos, como Machado (1993), as vogais nasais sao diferentes, quanto a articulaçâo, das suas correlatas orais pelos seguintes aspectos: (i) abaixamento do véu palatino, (ii) diminuiçâo da cavidade bucal, (iii) diminuiçâo da cavidade faríngea para as vogais [i], [e] e [ö] e aumento para [â] e [új; (iv) contraçâo da parede da faringe e (v) maior duraçâo.
Sabe-se que as características articulatórias de uma classe de segmentos, nesse caso, as vogais nasais, refletem diretamente em suas propriedades acústicas. Como já dito, o abaixamento do véu palatino gera, por exemplo, formantes nasais, antiformantes, aumento de duraçâo, bem como alteraçöes nos valores de F1 e F2.
Quanto ao francés, possui, em seu sistema fonéticofonológico, quatro vogais nasais - /a/, /e/, /œ/, /5/. Segundo Léon (2007), esses segmentos tém uma porcentagem de ocorréncia na língua de 3,09% para /â/, 1,39% para / e/, 0,45% para /œ/ e 0,63% para /ö/. Logo, a vogal nasal /â/ é a mais presente na língua, enquanto a vogal nasal / œ/ é a menos recorrente. Da mesma forma, em Catach (1995), /â/ tem frequéncia de 3,3%, /e/ de 1,4%, /ö/ de 2% e /œ/ de 0,5 %. Na Figura 2, Landercy e Renard (1977) representam as quatro vogais nasais do francés.
Como visto, a vogal nasal /œ/ é a menos usada pelos falantes da língua. O que se tem implicado nesse resultado é, segundo Léon (2007), o fenômeno de neutralizaçâo no francés standard (FS) moderno em relaçâo ao /8/. Logo, as vogais nasais francesas sao reduzidas para trés, conforme a Figura 3.
Para Delvaux (2003), existem diferentes graus de nasalidade, que variam de acordo com o grau de abaixamento do véu palatino. A autora mostra, por meio de imagens de ressonância magnética, que o abaixamento do véu varia para cada vogal do sistema francés, [a, 8, 5, œ].
Delvaux (2003) coloca em evidéncia, ainda, que essas variaçöes no grau de abaixamento do palato variam conforme contexto e informante, havendo diferenças significativas entre homens e mulheres. Verificou que o véu, de uma maneira geral, abaixa-se mais em [a] se comparado com [5] e apresenta posiçâo intermediária em comparaçâo com [8] e [œ]. No entanto, em seus dados relacionados ao fluxo de ar nasal, verificou que este é maior em [ö] do que em [a].
Em relaçâo as configuraçöes da língua no momento de produçâo dessas nasais, Delvaux (2003) verificou diferenças entre as nasais anteriores [8] e [œ], visto que essa última parece ser mais centralizada e posterior. Em relaçâo as nasais posteriores, constatou que [5] é nítidamente mais fechado, posterior e arredondado do que [â].
No que concerne a aspectos acústicos, Delvaux (2003) observa que, com o acoplamento do tubo nasal ao oral, há uma mudança na regiao espectral de F1. Dessa forma, as vogais baixas podem sofrer a diminuiçao do seu primeiro formante, tendo em vista a introduçao de ressonâncias extras que podem levar a um alargamento da largura de banda do F1. Ou, entao, o primeiro formante das vogais baixas pode ser alterado por conta da influéncia de um antiformante entre a regiao de F0 e F1.
De acordo com a autora, ainda, é possível destacar quatro aspectos em relaçâo as características acústicas das nasais do FR: (i) as ressonâncias nasais variam entre as vogais do sistema; (ii) o nivel de energia dos formantes é menor do que em suas contrapartes orais; (iii)dependendo da vogal, há perda de energia de Fn1 (formante nasal) ao longo do segmento; e (iv) F2 e F3 apresentam menor intensidade. Segundo Delvaux et al (2002), a nasalidade na língua francesa pode ser descrita por uma diminuiçao generalizada de energia.
Conforme Hansen (1998) e Léon (2007), as principais diferenças entre as vogais orais e nasais do francés se encontram nos dois primeiros formantes. Quanto a isso, Delattre (1953) atenta para o fato de haver, para as vogais nasais, forte atenuaçao do primeiro formante em relaçao a oral correspondente, enquanto que o F2 apresenta, de uma maneira geral, a mesma intensidade quando comparado a sua contraparte oral.
O Quadro 1, adaptado de Delvaux (2003), contém os resultados gerais encontrados pela autora, estabelecendo a comparaçao vogal oral x vogal nasal.
Scarduelli e Seara (2006) analisaram a produçâo das vogais nasais de trés sujeitos brasileiros com diferentes períodos de aquisiçâo do francés. O primeiro e o segundo aprenderam a língua antes dos doze anos de idade e o terceiro aprendeu já na idade adulta, via método formal. Ao compararem os resultados com os de Delvaux (2003), perceberam que o primeiro sujeito apresentou menos diferenças em relaçâo a produçâo dos falantes nativos; o segundo mostrou-se interme- diário; e o terceiro, por ter aprendido o francés somente na fase adulta, apresentou diferenças significativas. Notaram também que a diferença estava relacionada fundamentalmente a valores do primeiro formante, enquanto que, em relaçâo ao F2, todos os aprendizes mantinham o padrâo francés, seguindo o previsto por Llisterri (1995).
Outro estudo, de Seara e Berri (2009), cujo objetivo era também investigar a produçâo das vogais nasais francesas por aprendizes brasileiros, constatou que os aprendizes de Francés Língua Estrangeira (FLE) em nivel intermediário apresentaram um espaço acústico vocálico muito mais próximo do PB do que do FR, principalmente em relaçâo a altura (F1).
3 Metodologia
3.1 Os sujeitos
Os sujeitos desta pesquisa estâo divididos em trés grupos: Grupo I - aprendizes de FLE; Grupo II - nativa de francés (FR); e Grupo III - nativa de portugués brasileiro (PB). Todas as informantes assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido para participarem da pesquisa.
Tendo em vista que o sexo predominante no curso de Letras Portugués/Francés da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) é o feminino, foram selecionadas apenas informantes mulheres. Ainda, segundo a literatura, numa coleta articulatória, com base na ultrassonografia - técnica aqui utilizada-, informantes do sexo feminino sâo capazes de gerar imagens mais claras do contorno da língua (STONE, 2005). Foi estabelecida a idade das informantes entre 18 e 25 anos, pois é essa a faixa-etária apontada como esperada, de uma maneira geral, para ingresso e término de ensino superior.
Para o Grupo I, foram selecionadas duas informantes, uma aprendiz do segundo semestre do curso e uma do oitavo, ambas com 22 anos. A justificativa para os semestres distintos se dá pela obtençâo de produçöes que comportem os niveis básico e avançado em relaçâo ao adiantamento do curso. Para a constituiçâo do Grupo II, participou uma nativa francesa, com idade de 24 anos, cursando o ensino superior. Por fim, do Grupo III, como forma de controle dos padröes das vogais orais e nasais do portugués brasileiro, participou uma informante, com idade de 22 anos.
3.2O instrumento de coleta
Para a coleta de dados, foi considerada a produçâo de logatomas em frases-veículo. Julgou-se importante o uso desse instrumento devido ao controle que se pode ter em relaçâo a palavra inventada; isto é, pode-se escolher um padrâo para contexto, número de sílabas e tonicidade.2 É também relevante a quantidade de trabalhos que pesquisam vogais e que lançaram mâo de logatomas para melhor compreenderem os fenómenos estudados, como Seara (2000), Delvaux (2003), Restrepo (2011) e Svicero (2012).
Em relaçâo aos Grupos I e II, foram criados logatomas dissílabos oxítonos, com as vogais orais e nasais da língua francesa no contexto de /p/, conforme Quadros 2 e 3. Cada logatoma foi repetido cinco vezes pelos sujeitos, inserido na frase veículo "Le mot_peut bien colier" (RESTREPO, 2011).
O Grupo I realizou também a coleta de logatomas das vogais orais e nasais do portugués, juntamente ao o Grupo III. Novamente, os logatomas foram criados com as vogais inseridas no contexto de /p/, todos dis- sílabos e paroxítonos. Da mesma forma, cada logatoma foi repetido cinco vezes pelos sujeitos na frase veículo "Digo_pra voce".
3.3A coleta articulatoria
A ultrassonografia é utilizada para fins de análise de fala desde a década de 60. No Brasil, sao poucos os trabalhos que utilizam essa ferramenta, embora já sejam comprovadas as suas contribuiçöes para o estudo de outras linguas em processo de aquisiçao como LE, como nos trabalhos de Tsui (2005). Por meio do ultrassom, tornou-se possível descrever e investigar os movimentos da língua em tempo real. Essa técnica possui muitas vantagens em relaçao a outras utilizadas em trabalhos científicos, como o raio-X, a eletropalatografia e a articulografia eletromagnética, pois, por ser nao invasiva, nao desencadeia nenhum tipo de alteraçao na fonaçao. Permite, assim, a observaçao estática e dinámica da língua, auxiliando no processo de ensino-aprendizagem de uma língua estrangeira.
Para a coleta de dados, foi utilizado um ultrassom modelo Mindray DP 6600 e uma sonda endocavitária, 65EC10EA, com frequéncia de 6.5 Hz.3
Uma das desvantagens no uso do ultrassom é a dificuldade de manter a cabeça do informante imobilizada no momento de coleta de imagens, desta forma, foi utilizado um capacete criado pela Articulate Instruments, a fim de estabilizar a cabeça do sujeito e, dessa forma, possibilitar uma posterior análise quantitativa dos dados, conforme modelo disposto na Figura 4.
Outros materiais também se fizeram necessários para a realizaçao da coleta: (i) placa de captura de vídeo, responsável pela ligaçao entre o ultrassom e o computador; (ii) sincronizador de áudio e imagem Sync Bright Up modelo SBU 1.0; (iii) gravador modelo Zoom H4n; (iv) software AAA - Articulate Assistant Advanced, versao 2.14, para coleta e análise dos dados; (v) computador de mesa; e, por fim, (vi) gel, responsável pelo bloqueio da passagem de ar entre a sonda e a pele do informante, o que prejudicaria a obtençao de imagens.
Na realizaçao das coletas, em um primeiro momento, a pesquisadora explicava os procedimentos a informante e fazia uma etapa de habituaçao para verificar a compreensao do sujeito acerca dos procedimentos. Em seguida, eram feitos testes com a sonda e o gel para ajustar as configuraçöes do equipamento e, assim, obter a melhor imagem possível da borda da língua. As configuraçöes foram realizadas fundamentalmente em quatro funçöes:
i. Depth - segundo Ferreira-Gonçalves e Brum-de -Paula (2013), como a distância entre o queixo e o palato, de uma maneira geral, nao ultrapassa 8 cm, ajustar depth entre 7 e 8 cm, para um informante adulto, é adequado;
ii. Gain - essa funçao permite aumentar a intensidade na regiao da superficie da lingua e diminuir a intensidade de outras regiöes, deixando, entao, a primeira mais visivel. Esse parámetro foi ajustado diferentemente para cada informante;
iii. posiçao do foco - o posicionamento do foco foi feito na parte superior do palato duro, na regiao velar da lingua, conforme sugere Stone (2005), assim, a cada coleta, foi necessário ajustá-lo, e
iv. IP - configurado como valor de 5.0 para todas as informantes. Segundo Ferreira-Gonçalves e Brumde-Paula (2013), quanto maior o valor, menor o contraste e melhor a suavizaçao da imagem.
Logo após a realizaçao dos ajustes, o sujeito foi posicionado de forma adequada para a coleta e lhe foi colocado o estabilizador de cabeça. Foi encaixada, no capacete, a sonda com o gel, buscando-se a melhor localizaçao possivel para haver uma distribuiçao equânime entre sombra da mandibula e sombra do hioide. As imagens foram captadas no modo sagital.
As aprendizes produziram os logatomas das duas linguas, enquanto as nativas somente da respectiva lingua materna. Considerando que cada item lexical foi repetido cinco vezes pelo informante, foi obtido um total de 239 produçöes: Grupo I (2 x 80) = 160; Grupo II = 40 e Grupo III = 39.4
Os passos para a realizaçao das análises articulatórias foram os seguintes:
i. sincronizaçao do áudio e do video, seguindo instruçöes reportadas em Wrench (2013), com taxa de sincronizaçao, para todos os dados e informantes, de 59.597;
ii. criaçao de etiquetas de anotaçöes;
iii. delimitaçao do ponto de análise - para desenhar as bordas das linguas, é necessário estabelecer um frame da produçao do segmento. Foi escolhido o PM (ponto médio), ou seja, em 50% do tempo em que transcorre a produçao do segmento. Assim, ao ser selecionado o PM, eram feitos os desenhos sobre a borda da lingua naquele exato momento da produçao;
iv. contorno das bordas foram feitos, manualmente, desenhos sobre a borda5 da l?ngua de cada produ??o de todas as informantes, considerando o frame correspondente ao ponto m?dio, conforme Figura 5;
v.criaçao de gráficos - no espaço Publisher do software ÅÅÅ, foi possivel gerar gráficos com as bordas das linguas, estabelecendo comparaçöes intrasujeitos. O eixo y foi ajustado para o valor máximo de 8, o x, para 10. Para ambos, o valor minimo foi 0,5. Os valores foram mantidos em todos os Gráficos.
A análise estatistica dos dados articulatórios foi feita pelo software AAA, utilizado para coleta e análise de dados de ultrassom. Para isso, foi ajustado o valor de p<0,05. Assim, o programa rodava o Teste-t, identificava as regiöes de diferença e criava, automaticamente, uma tabela. Foram descartadas as diferenças significativas encontradas no inicio da ponta da lingua e no final da raiz, já que sao as regiöes de menor visibilidade, ten- do em vista as sombras geradas pela mandíbula e pelo osso hioide.
4 Descriçâo e análise dos dados articulatorios
Nesta seçâo, primeiramente, serâo apresentados os resultados da nativa do portugués, em seguida, os da nativa do francés e, por fim, os das aprendizes do segundo (S1) e oitavo semestre (S2) do curso de Letras Portugués/Francés.
4.1 Dados da nativa do PB e da nativa do FR
A informante nativa de portugués produziu oito vogais do portugués brasileiro: as orais [a, e, e, o, o] e as nasais [а, ё, o]. Na Figura 6, podem ser visualizadas as médias dos contornos das bordas da lingua para as cinco repetiçoes de cada vogal.
A vogal [ё], embora seja da mesma altura de [o], aparece, aqui, como a de maior elevaçâo da ponta da lingua e de parte do dorso. As vogais [â] e [o] apresentaram médias e traçados muito próximos. A vogal [o] se mostra levemente mais posterior do que [а], sendo que diferenças expressivas entre essas duas vogais parecem residir fundamentalmente no gesto labial presente na produçâo de [o].
Para averiguar a presença ou nâo de pistas articulatórias que tenham relaçâo com a nasalidade, foi rodado o Teste-t, comparando as médias das vogais nasais e de suas contrapartes orais, como pode ser constatado na Figura 7 para o par [â]/[a].
Na Figura 7, a linha preta horizontal, na parte superior da imagem, indica a regiâo de diferenças estatisticas. O quadro ao lado mostra os valores de p. Nota-se que a vogal nasal [â] apresenta elevaçâo significativamente maior de dorso, com quatorze pontos de diferença, apresentando valores de p entre 0,02 e 0,001, indicando uma diminuiçâo no valor de F1, em comparaçâo a sua contraparte oral. Para a vogal [ё], uma maior elevaçâo da lingua para raiz, dorso e ponta, com 24 pontos de diferença - valores de p entre 0,01 e 0,001, com consequente diminuiçâo do valor de F1 para a vogal nasal. Assim, estatisticamente, a parte anterior e a posterior sâo apontadas como significativamente relevantes, com vários pontos de diferenças em relaçâo a sua contraparte oral. Já a comparaçâo de [o] com [o] nâo apresenta diferenças significativas entre os gestos de dorso de lingua (p > 0,05) envolvidos na produçâo da vogal nasal e da oral. Para a produçâo da nasal, verifica-se somente uma leve elevaçâo de altura da raiz da lingua, conforme resultados na Figura 7c (p = 0,05).
A informante nativa da Lingua Francesa produziu as cinco vogais orais do FR e também as trés vogais nasais. Na Figura8, as médias dos cortornos das bordas da lingua das cinco repetiçoes de cada vogal.
Nota-se que o contorno das bordas da língua de cada uma das tres nasais do FR (Figura 8b) corrobora o já reportado pela literatura, ou seja, [ä] aparece em posiçâo central com leve movimento posterior, sendo a vogal nasal de menor altura. Já em [e], evidencia-se seu movimento para a parte frontal e [o] para a parte posterior do trato.
Ao se comparar a média do contorno das bordas da língua da vogal nasal e a média da sua contraparte oral (Figura 8a e b), encontram-se diferenças estatísticas em relaçâo aos contornos das línguas.
Em relaçâo ao par [ä] e [a] (Figura 9a), a nasalidade parece ser caracterizada pela leve posterioridade do dorso, sinalizando para uma diminuto de F2. Léon (2007) também constatou essa diferença ao comparar vogais nasais e orais francesas. Segundo o autor, "les voyelles nasales du français standard ont une articulation légerementplus postérieure que celle des voyelles correspondantes". Essa diferença foi identificada pelo Teste-t, que apresentou, exatamente nesse ponto, valor de p = 0.05.
As diferenças entre as vogais [e] e [e], reveladas por meio da Figura 9b, evidenciam uma maior elevaçäo da vogal oral, com oito pontos de diferença na regiäo anterior, com valores de p entre 0,01 e 0,001, o que corrobora os resultados da literatura (DELVAUX, 2003), em que as nasais apresentam valores mais altos de F1. Para a vogal nasal, identifica-se, ainda, movimento de elevaçäo da raiz, com mais seis pontos de diferença, com valores de p entre 0,05 e 0,001. Mais uma vez, a nasalidade apresenta um movimento de posterioridade, assim como em [ä]. Embora se tratando, agora, de vogais anteriores, a oral, ao ser produzida, tem o seu movimento mais direcionado para a parte frontal da boca, enquanto a nasal para a parte posterior. Pode-se observar também que a vogal nasal ocupa pos^äo mais centralizada quando comparada a oral, o que Delvaux (2003) também observou em seu estudo.
Os resultados apontados pelo Teste-t revelaram, portanto, diferenças significativas da ponta da língua até o dorso, o que corrobora a utilizaçäo da ultrassonografia como metodologia compatível para a diferenciaçäo entre segmentos vocálicos orais e nasais, nesse caso, da língua francesa.
Mesmo para as vogais posteriores (Figura 8c), o recuo da língua é realizado na prod^äo nasal, como pode ser constatado na comparaçäo das médias de [o] e [o] - corroborando Delvaux et al (2002). Assim, novamente, a ponta da língua e parte do dorso säo mais elevados para a oral (16 pontos de diferença, com valores de p entre 0,05 e 0,001).
Segundo Hansen (1998) e Léon (2007), existe um tipo de mutaçäo envolvendo as vogais nasais francesas. Para os autores, no Norte da França, regiäo de onde vem a informante nativa da presente pesquisa, a vogal [ä] está sendo substituída por [o]. Léon (2007) diz ainda que a vogal [e] está sendo substituída, aos poucos, por [ä]. Nesse sentido, foram lançadas as médias dos contornos das bordas da língua dessas tres vogais nasais, a original e aquela pela qual está sendo substituída, a fim de serem constatadas ou näo as hipóteses dos autores via análise estatistica. Em re^äo ao Teste-t, envolvendo [ä] e [5], foram encontrados varios pontos de diferenças significativas, com 14 pontos de diferença, com valores de p entre 0,02 e 0,001. As regioes envolvidas, mais precisamente, säo a ponta da lingua e parte do dorso, isto é, a parte anterior da lingua, o que pode indiciar que a informante nativa ainda näo está realizando essa substituRäo.
No que concerne a [ä] e [ě] (Figura 10b), foram encontradas diferenças nas partes anterior, com valores de p entre 0,01 e 0,001, e posterior da lingua, com valores de p entre 0,02 e 0,05. Conforme os resultados, portanto, näo é possivel afirmar que a informante nativa realize as trocas apontadas pela literatura em relaçâo ås vogais nasais francesas.
A vogal [ä] é no FR a de menor altura, o que näo acontece no PB, em que os traçados das médias de [ä] e [o] (Figura 10a) säo bastante próximos. Para a nativa francesa, [ä] é bastante central, enquanto para a brasileira, a vogal tem movimento levemente posterior, exatamente ao contrario do que é verificado com a sua contraparte oral. No PB, [o] ainda aparece mais posterior quando comparado å [ä], conforme esperado. A comparaçäo das vogais nasais com suas contrapartes orais evidencia que o aspecto nasal é caracterizado nos dados do FR, de uma maneira geral, pela posterioridade dos movimentos de lingua. Em contrapartida, nos dados da nativa do PB, a elevaçäo da lingua é o que parece caracterizar a nasalidade de uma vogal via análise ultrassonográfica. O par [ä] e [a] do PB, além da altura, diferencia-se também pelo aspecto encontrado nos dados da nativa do FR: a nasal do PB apresenta movimento levemente mais posterior.
Em re^äo ao par [ä] - [a], nos dados da nativa do FR, há apenas um ponto de diferença estatistica, com p = 0.05, na parte posterior do dorso. Esse par é, para essa informante, o de maior número de semelhanças entre nasal-oral. No entanto, nos dados da nativa do PB, [ä] e [a] tém, quando comparadas, 14 pontos de diferenças estatisticas. O dorso da nasal, aqui, tem significativa elevaçäo quando comparado å oral. Já no FR, as vogais parecem ter a mesma altura.
Em re^äo aos pares das nasais anteriores, constataram-se muitas diferenças significativas para ambas as linguas: 14 pontos no francés com p = 0.001,0.01, 0.002 e 0.05; 12 pontos no portugués, a maioria deles com p = 0.001. Embora sejam da mesma altura, segundo a literatura, no FR, a oral tem maior elevaçäo de movimento de lingua; já no PB, como dito anteriormente, a nasal se sobressai em altura de lingua.
Quanto aos pares das posteriores, para o FR, foi a comparaçäo com maior número de pontos de diferenças significativas, ou seja, 16. Já para o PB, foi o par com menor número de diferenças significativas, somente 3 pontos com p = 0,05. Ou seja, as médias-baixas posteriores säo aquelas, nos dados da nativa do FR, que mais se diferenciam articulatoriamente quando presente a nasalidade. Já as médias-altas posteriores säo, nos dados da nativa do PB, as mais semelhantes; isto é, pouco mudam, no que concerne ao movimento de lingua, ao terem a presença da nasalidade.
Os dados da nativa do FR indiciam, pela análise aqui realizada, maiores diferenças dos movimentos de lingua para a prod^äo de vogais nasais e orais. No FR, o eixo horizontal é o mais relevante, pois mostra o aumento da posterioridade; já no PB, relevancia maior é dada ao eixo vertical.
A seçäo a seguir discorrerá acerca dos dados das aprendizes. Primeiramente, aqueles referentes ao teste de PB e, após, aqueles referentes ao FR.
4.2 Dados articulatórios das aprendizes
Nesta seçäo, seräo descritos os dados articulatórios das duas aprendizes: uma do segundo semestre do curso de Letras Portugués/Francés (S1) e outra do oitavo semestre (S2). As duas aprendizes produziram as oito vogais, orais e nasais, de cada lingua - [a, e, e, o, o, ä, e/ e, 5/ö], totalizando 160 produçöes.
4.2.1 Dados do portugués
Na Figura 11, säo apresentados gráficos das medias dos contornos das bordas da lingua das produçöes das vogais orais e nasais.
As vogais [ä] e [a] do PB apresentam traçados similares; no entanto, a nasal tem mais elevaçäo no gesto de dorso, sinalizando para uma diminuto no valor de F1. Essa constataçäo vai ao encontro dos resultados obtidos por meio dos dados da nativa do PB. O Teste-t encontrou 5 pontos com diferenças significativas, no que concerne a S1, conforme Figura 12a, e 14 pontos no que concerne a S2, conforme 12b. O valor de p variou entre 0.01, 0.02 e 0.05.
Quanto ao par [e] - [e] do PB, o resultado das medias dos contornos das bordas da lingua obtido para as aprendizes está disposto na Figura 13.
Da mesma forma como em [ä], a vogal nasal [e] tem maior elevaçâo no gesto de dorso quando comparada a [e], indicando, novamente, uma reduçâo no valor do primeiro formante; [e] apresenta também traçado um pouco mais anterior. O Teste-t mostrou, para essas vogais, 18 pontos de diferença significativa, nos dados de S1, com valores de p sendo menores do que 0,001, 0,01, 0,02. Esses pontos perpassam todo o traçado, isto é, da ponta a raiz. Já para S2, em alguns pontos, próximos a raiz, os traçados se sobrepöem; isto é, as vogais tem movimentos de lingua muito similares. O Teste-t encontrou somente um ponto de diferença estatistica, com valor de p=0.05. Esse ponto encontra-se na regiäo de elevaçâo do dorso para a nasal, conforme pode ser observado na Figura 13b. O ponto está marcado na seta.
Por fim, na Figura 14, é exibida a comparaçao entre a vogal nasal [ö] e a oral [o] do PB, apenas no que concerne aos dados de S2, pois, para S1, o Teste-t nao encontrou diferenças significativas entre essas duas vogais, corroborando, assim, os resultados encontrados para a nativa do PB.
Conforme a Figura 14, para S2, as vogais [ö] - [o] se encontram na mesma posiçao e tém vários pontos de traçado que se sobrepöem. Nota-se, somente, maior altura para a oral na raiz e parte final final do dorso. O Teste-t encontrou 6 pontos estatisticamente relevantes na regiao de maior elevaçao da raiz para a oral, todos com p = 0.05.
Foi possível constatar, para os dados do portugués de S1, que a inserçao do traço nasal no segmento vocálico provoca, articulatoriamente, maior elevaçao do gesto de dorso. Para essa informante, assim como para as nativas do PB, as imagens ultrassonográficas se mostram adequadas para a caracterizaçao das vogais nasais, principalmente no que concerne aos pares [e] - [e] e [a] - [a]. Para o par [ö] - [o], as imagens ultrassonográficas nao evidenciaram diferenças significativas. Ao contrário de S1 e das duas nativas do PB, nao foi possível identificar, claramente, para S2, a característica articulatoria do segmento nasal.
Na próxima seçao, a descriçao das produçöes articulatorias das aprendizes para os segmentos vocálicos franceses.
4.2.2 Dados do francés
Na Figura 15, estão exibidas as médias dos contornos das bordas da lingua das vogais orals e nasais francesas produzidas por Si e S2.
Nota-se semelhança entre o traçado das trés vogais nasais francesas produzidas por S1, principalmente entre [a] e [e]. Nas produçöes do PB da mesma aprendiz, notou-se semelhança entre os traçados de [a] e [ö], embora a primeira ainda se mostrasse mais central; no entanto, [e] assumiu claramente a posiçao anterior. Aqui, nao foi possível estabalecer diferenças quanto a anterioridade e posterioridade no que concerne as trés vogais nasais do FR. Tal fato parece indiciar que a informante faz uso, provavelmente, da mesma constelaçao gestual da produçao de [э] para as demais vogais nasais francesas, ainda que haja uma maior elevaçao de dorso na sua produçao.
Na comparaçao das médias dos contornos das bordas da língua das trés vogais nasais produzidas pela aprendiz do oitavo semestre, S2, nota-se muita seme- lhança entre as vogais [a] e [5]. O Teste-t rodado para essas duas vogais nao apresentou diferença significativa. No entanto, parece que [e] é bem distinguida por S2, pois ocupa a posiçao anterior no trato e tem traçado bastante diferente das outras duas nasais, o que nao ocorreu com S1, do segundo semestre, em que todas as vogais nasais do francés ocupavam posiçao posterior. Observa-se também semelhança entre as vogais [a] e [5] na produçao da nativa de FR; porém, para [e] ,em S2, salientam-se aspectos relativos a anterioriedade, o mesmo nao sendo constatado nos dados da nativa do FR. Tal fato pode indiciar uma tentativa da aprendiz de distinguir as vogais nasais, embora a tarefa nao tenha sido cumprida com éxito em relaçao a vogal nasal central e a posterior.
Ao comparar a vogal nasal francesa e a sua contraparte oral, foi obtido o o resultado para o par [a] - [a], mostrado na Figura 16.
Conforme Figura 16a, a vogal nasal [a] se mostra com maior elevaçao de movimentos quando comparada a sua contraparte oral; também se apresenta mais posterior em relaçao a [a], o que indicia diminuiçao no valor de F1 e aumento no valor de F2. S1, nesse par, faz uso das duas estratégias encontradas nos dados das nativas e também nos seus próprios dados do PB: maior altura e maior posterioridade para a nasal. O Teste-t encontrou 14 pontos de diferença significativa, envolvendo dorso e ponta. Os valores de p variaram entre 0.001, 0.01 e 0.05. É importante salientar que, nesse mesmo par, os dados da nativa de FR apresentaram somente uma diferença estatística de 0.05, enquanto nos da nativa do PB foram também constatados 14 pontos, embora em regiöes diferentes. Para S2 (Figura 16b), o Teste-t encontrou somente dois pontos de diferença estatítica, ambos na ponta da língua, com valores de p = 0.02 e p = 0.05.
Ao comparar o par [e] - [e], foi obtido o resultado disposto na Figura 17.
Quanto aos dados de S1 (Figura 17a), o Teste-t encontrou 15 pontos de diferença significativa, com valores de p variando entre 0.001, 0.01, 0.02 e 0.05. Quanto aos dados de S2 (Figura 17b), na raiz e em parte do dorso, como pode ser visto na imagem, os traçados se sobrepöem. Assim como no par [a] - [a], a ponta da língua da nasal é mais baixa quando comparada a oral. Nota-se, sutilmente, maior elevaçao de dorso para a nasal. Para S2, o Teste-t encontrou, na regiao da ponta da língua, cinco pontos de diferença significativa, com p variando entre 0.001 e 0.01.
De modo geral, em relaçao ao par [5] - [5], conforme Figura 18, novamente, a vogal nasal é mais posterior do que a oral, embora esta última também tenha seu movimento direcionado para a parte de trás da boca. O dorso da vogal nasal tem maior elevaçâo do que na vogal oral. Aqui, mais uma vez, parece que temos as duas estratégias para a produçao de nasalidade: posterioridade e altura.
O Teste-t, para S1 (Figura 18a), apresentou 15 pontos com diferença estatística, com valores de p variante entre 0.001,0.02, 0.01. O par das posteriores correspondentes no PB, no caso [ö] e [o], para a mesma informante, nao apresentou diferença estatística. Em relaçâo a S2 (Figura 18b), novamente, nota-se maior elevaçao do gesto de ponta de lingua e parte do dorso para a vogal oral. Na raiz, observam-se pontos no traçado que se sobrepöem. O Teste-t encontrou 9 pontos com diferença significativa, com os valores de p variando entre 0.001, 0.01, 0.02 e 0.05. As regiöes em que esses pontos estao sao justamente aquelas de maior elevaçao para a oral: ponta e parte do dorso.
Foi possível constatar, a partir da análise dos dados do teste de FR de S1, que, para diferenciar a vogal nasal da oral, a informante lança mao da posterioridade, isto é, as vogais nasais sao produzidas com movimentos direcionados para a parte de trás da boca, assim como a nativa do FR e como os resultados encontrados na tese de Delvaux (2003). Os pares [5] - [o] e [a] - [a] também apresentaram maior elevaçao de dorso.
Em relaçâo aos dados de S2, observou-se, diferentemente do que aponta a literatura, [a] e [a] com movimento posterior, ao invés de central. Nos dois casos, as vogais tinham traçados semelhantes aos de [o], [o] e [ö]. Ao compararmos as vogais nasais e suas contrapartes orais, buscávamos pelas pistas articulatorias encontradas nas nativas, isto é, maior posterioriedade e/ou elevaçao de dorso para a nasal. No entanto, somente se encontrou padrao na diminuiçao da altura da ponta da língua quando presente a nasalidade. Assim, em todos os pares, a ponta da língua da vogal oral era mais alta. Os pares [5] - [o] e [a] - [a] foram aqueles de menores diferenças, isto é, as vogais com movimentos articulatorios mais semelhantes. É importante ressaltar que, para a nativa francesa, o par [a]-[a] também foi aquele com menos pontos de diferença estatística. Em todos os pares, as vogais tinham traçados muito semelhantes, o que dificultou um pouco a nossa análise.
4.3Dados do PB X FR
Para se observar mais claramente as diferenças entre as vogais nasais do FR e do PB, foram comparadas as médias dos contornos das bordas da língua dos pares [a]/[a], [ě]/[ě] e [ö]/[5].
Quanto å vogal [a], para S1(Figura 19a), a parte anterior da língua tem maior elevaçao para a nasal do FR, o que indica valores menores de F1. O Teste-t apresen- tou diferença estatística somente na regiâo da ponta da lingua, com oito pontos de p = 0.001 e 0.05. Conforme a Figura 19b, para S2, a vogal nasal do PB tem dorso e ponta mais elevados. A do PB parece tomar uma posiçâo mais anterior, enquanto a da lingua estrangeira mais central. O Teste-t encontrou oito pontos com diferença significativa entre essas vogais, também na parte anterior da língua.
Quanto a vogal nasal anterior, no PB [e] e no FR [e], as diferenças sao bem mais expressivas, como esperado. Nas Figuras 19c, fica bastante clara a posterioridade da vogal nasal francesa, nas produçöes de S1, embora, segundo a literatura da área, seja uma vogal anterior, assim como a do PB. Na lingua estrangeira, conforme já averiguado, a aprendiz parece nao saber exatamente os gestos envolvidos na produçâo de [e], tornando-a muito parecida com [5]. Tendo em vista a diferença de altura entre uma vogal média baixa e uma vogal média alta, o Teste-t encontrou 18 pontos de diferenças estatísticas, com valores de p entre 0,01 e 0,001, para as produçöes de S1, e 11 pontos para as produçöes de S2, com valores de p entre 0,05 e 0,001.
O par [ö] do PB e [5] do FR parece ser o de traçados mais semelhantes entre as vogais nasais das duas linguas. Estatisticamente, nao foi encontrada diferença significativa para os dados de S1. Já para S2 (Figura 19e), o Teste-t identificou 10 pontos de diferença significativa, todos na regiao do dorso, onde a nasal do PB tem maior elevaçao. Os valores de p variaram entre 0.001, 0.01 e 0.02.
Por fim, para S1, foram encontradas muitas semelhanças de traçado no par [â] do PB e [e] do FR. Esta última, como já dito, tem posiçao bastante posterior e [a] do PB também, conforme pode ser observado na Figura 20.
O Teste-t nao acusou diferenças significativas entre essas vogais, o que indicia que a aprendiz (S1), para a produçâo de [e], está utilizando a mesma configuraçâo gestual da vogal nasal [a], de sua lingua materna.
6 Conclusäo
Por meio da análise dos dados articulatorios de duas nativas, uma do PB e outra do FR, foi possível constatar que, para diferenciar vogais nasais de suas contrapartes orais, a nativa do FR posterioriza os segmentos vocálicos em suas produçöes; isto é, o eixo horizontal é determinante para se diferenciar uma vogal oral de uma nasal na lingua francesa. No entanto, a nativa do PB realiza movimentos diferenciados de elevaçao da lingua (raiz, dorso e ponta) quando produz uma vogal nasal; isto é, o eixo vertical é decisivo na inserçao da nasalidade nas vogais do PB.
Os dados articulatorios das aprendizes mostraram que, para S1, do segundo semestre, existe ainda certa confusao em relaçao aos gestos articulatorios envolvidos na produçao das vogais nasais. [a], [e] e [5] parecem ter movimentos em direçao a regiao posterior da boca; isto é, nao é possivel estabalecer diferenças quanto a anterioridade e posterioridade. Infere-se, assim, que a informante generaliza os gestos; ou seja, faz uso, provavelmente, da mesma constelaçao gestual da produçao de [5] para todas as vogais nasais francesas. Ao serem comparadas as vogais [a] do PB e [e] do FR, foi possivel notar muitas semelhanças de traçado e nenhuma diferença estatistica; ou seja, talvez exista a possibilidade de a aprendiz usar os mesmos gestos envolvidos na produçao da nasal central da lingua materna para produzir a anterior da LE. Foi possivel constatar, a partir da análise dos dados do FR dessa informante, que, assim como a nativa do FR e como os resultados encontrados na tese de Delvaux (2003), para diferenciar a vogal nasal da oral francesas, a informante lança mao da posterioridade; isto é, as vogais nasais sao produzidas com movimentos direcionados para a parte de trás da boca.
Quanto aos dados de S2, do oitavo semestre, nota-se muita semelhança entre as vogais [a] e [5], assim como ocorre com as produçöes da nativa do francés. No entanto, parece que [e] é bem distinguida, pois ocupa a posiçâo anterior no trato e tem traçado bastante diferente das outras duas vogais, o que nao ocorreu com S1, do segundo semestre, em que todas as vogais nasais do francés ocupavam posiçâo posterior. A francesa também nao distinguiu tâo claramente [e] como a aprendiz; porém, foi possível observar leve anterioridade da vogal. Pode-se pensar que é uma tentativa da informante de distinguir a vogal nasal anterior, já que é considerada, segundo os professores e relatos das próprias informantes, a de mais difícil aquisiçâo e, portanto, de produçâo. De uma maneira geral, essa informante, ao realizar as vogais nasais, apresentou menor altura da ponta de língua; isto é, há um abaixamento da ponta quando produzidas as vogais nasais francesas e uma elevaçâo quando produzidas as orais. Essa aprendiz pareceu diferenciar as nasais da sua língua materna e da estrangeira, fazendo uso de estratégias como maior elevaçâo de dorso e maior anterioridade dos movimentos.
A coleta articulatória trouxe achados interessantes sobre a nasalidade do PB e do FR via análise ultrassonográfica. A configuraçâo do traçado da lingua, no FR e no PB, é capaz de distinguir, significativamente, os segmentos orais de suas contrapartes nasais. Desta forma, a análise ultrassonográfica pode lançar novas luzes aos estudos de aquisiçâo das vogais nasais francesas e contribuir, assim, com o ensino-aprendizagem dessa língua estrangeira.
Agradecimentos ao Conselho Nacional de Desenvolvimento em Pesquisa (CNPq), por auxilio obtido por meio de Bolsa de Produtividade em Pesquisa e por meio do Processo n. 472225/2014-6.
* Mestre em Letras pela Universidade Federal de Pelotas, Professora Substituta da Universidade Federal de Pelotas. Seu e-mail é [email protected].
** Doutora em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande Sul, Professora Associada da Universidade Federal de Pelotas, docente do Programa de Pos-Graduaçâo em Letras, Coordenadora Administrativa do Laboratorio Emergencia da Linguagem Oral (LELO/UFPel), Pesquisadora do CNPq. Seu e-mail é [email protected].
*** Doutora em Sciences du Langage Linguistique et Phonétique pela üniversite de Paris X-Nanterre, Professora Associada da Universidade Federal de Pelotas, docente do Programa de Pos-Graduaçâo em Letras, Coordenadora Científica do Laboratorio Emergencia da Linguagem Oral (LELO/UFPel). Seu e-mail é [email protected].
Notes
1. Foram consideradas produçöes orais de alunos de semestres distintos, ainda que nem sempre a relaçâo entre semestre académico e nivel de proficiéncia possa ser estabelecida.
2. É importante salientar que, entre os logatomas, há algumas palavras, tanto no teste de francés, quanto no de portugués ("pápa e pampa"). Isso ocorreu porque, após a realizaçâo de uma primeira coleta - a qual foi posteriormente descartada -, verificou-se que a informante apresentava dificuldades em pronunciar os logatomas com trés sílabas, como por exemplo papapa, para o PB. Assim, suprimiu-se a terceira sílaba de todos os logatomas, de forma que o padrâo de tonicidade da língua ainda fosse mantido, logo, paroxítono para o portugués e oxítono para o francés. Destaca-se que, no caso do francés, as palavras sâo de baixa frequéncia, provavelmente desconhecidas para o grupo de aprendizes.
3. No caso de análises linguísticas, o tipo de sonda é selecionado de acordo com o tamanho do trato vocal do informante e com o alvo da pesquisa. Portanto, foram feitos testes a fim de identificar qual melhor se aplicava aos sujeitos e foi identificada a endocavitária como a de maior eficácia.
4. Nâo foi possível visualizar a borda da lingua da informante em uma das repetiçöes da vogal [o]. Logo, o dado foi descartado.
5. As imagens geradas pelo aparelho sâo transmitidas em escalas de cinza e preto, sendo que a presença de artefatos pode muitas vezes dificultar o aparecimento da borda da língua. Assim, os contornos somente foram feitos quando a imagem era realmente visível. Nesse sentido, apenas um dado - relativo a produçâo da nativa do PB - foi descartado, o que revela um bom éxito na obtençâo das imagens.
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Recebido em: 09/04/2017
Aceito em: 05/07/2017
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© 2017. This work is published under https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/ (the “License”). Notwithstanding the ProQuest Terms and Conditions, you may use this content in accordance with the terms of the License.
Abstract
Este trabalho se propõe a investigar a aquisição das vogais nasais [ɛ̃], [ã] e [ɔ̃] da Língua Francesa por aprendizes do curso de licenciatura em Letras Português/Francês. Em termos articulatórios, essa classe de segmentos caracteriza-se pelo abaixamento do véu palatino, o que gera o acoplamento dos tubos nasal e oral (SEARA, 2000; MEDEIROS e DEMOLIN, 2006; BARBOSA e MADUREIRA, 2015) e, consequentemente, por aspectos acústicos diferentes daqueles encontrados nas vogais orais. Com a passagem livre do ar no trato nasal, o primeiro formante (F1) tende a abaixar e o terceiro (F3) a aumentar (HAWKINS e STEVENS, 1985; DELVAUX, 2003). Há também uma modiicação na amplitude de picos espectrais – menor para as nasais –, aparecimento de picos espectrais adicionais e uma maior duração para os referidos segmentos (MORAES e WETZELS, 1992; SOUSA, 1994). Para desenvolver essa pesquisa, foram realizadas coletas de dados articulatórios com três grupos de informantes: Grupo I - dois aprendizes de FLE de semestres distintos (2º e 8º) do curso de licenciatura; Grupo II - uma nativa de francês; e Grupo III - uma nativa de português brasileiro. O instrumento de coleta articulatória consistiu em um teste de produção de logatomas em frase-veículo. As coletas foram realizadas na cabine acústica do Laboratório Emergência da Linguagem Oral (LELO/UFPel). Para a coleta e análise dos dados articulatórios, foi utilizado o sotware Articulate Assistant Advanced (AAA), versão 2.16.11. A análise dos segmentos dos dois grupos de nativas constatou que: (i) para diferenciar o segmento nasal do oral, a nativa do francês posterioriza seus movimentos de língua, já a do português, eleva-os. Quanto aos dados das aprendizes, foi possível constatar: (i) generalização dos gestos de língua da informante do 2º semestre para as três vogais nasais do FR e (ii) distinção vocálica acurada da informante do 8º semestre. Ainda, a ultrassonograia demonstrou ser uma ferramenta promissora para a realização de pesquisas acerca da nasalidade, evidenciando diferenças estatísticas signiicativas nos movimentos de língua entre os segmentos orais e nasais.