RESUMO
O presente estudo tem como objetivo gerai analisar como a govemança corporativa contribuí para a melhoria do desempenho em um hospital privado. Como objetivos específicos, esta pesquisa propöe a caracterizar o processo de governança corporativa no hospital, identificar as estratégias de governança corporativa utilizadas, levantar as barreiras e dificuldades encontradas no processo de implementaçâo e verificar as contribuiçöes da governança corporativa para o desempenho do hospital na percepçâo dos gestores. Trata-se de um estudo de caso único por meio de pesquisa exploratoria de natureza qualitativa. A coleta de dados ocorreu em visita de campo e por entrevistas semiestruturadas com profissionais de um hospital particular de Säo Paulo e a análise de dados foi realizada por meio da análise de conteúdo de Bardin. A pesquisa proporcionou o entendimento das dimensöes de pesquisa sobre a estrutura de governança implantada, fatores sobre a implantaçâo e impactos no desempenho. Foi possível observar com a pesquisa que o Conselho de Administraçâo passou a ser o instrumento catalizador de todas as iniciativas dentro do corpo das boas práticas de governança, porém toda a cadeia de gestores estava engajada no sentido de prover decisöes mais céleres e pelas pessoas adequadas. Poucas barreiras de implantaçâo foram identificadas no processo e os impactos mapeados no desempenho hospitalar säo menos tangíveis, sendo direcionados para os aspectos de gestäo: linha decisoria mais clara e rápida, melhor alinhamento de esforços por toda a organizaçâo, desenvolvimento de lideranças, criaçâo de cultura de prestaçâo de contas mais efetiva (accountability).
Palavras-chave: Avaliaçâo de Desempenho; Governança Corporativa; Hospital.
ABSTRACT
The present study aims to analyze how corporate governance contributes to performance improvement in a private hospital. As specific objectives, this research proposes to characterize the corporate governance process in the hospital, to identify the corporate governance strategies used, to overcome the barriers and difficulties encountered in the implementation process and to verify the contributions of corporate governance to hospital performance in the hospital context in the perception of managers. It is a unique case study through exploratory research of a qualitative nature. Data were collected through field visits and semi-structured interviews with professionals from a private hospital in Säo Paulo, and data analysis was performed through Bardin content analysis. The research provided an understanding of the dimensions of research on the implanted governance structure, implementation factors, and performance impacts. It was noted from the survey that the Board of Directors became the catalyst for all initiatives within the body of good governance practices, but the entire chain of managers was committed to providing faster decisions and by the right people. Few implementation barriers have been identified in the process and the mapped impacts on hospital performance are less tangible, addressing management aspects: clearer and faster decision making, better alignment of efforts across the organization, leadership development, creation of a culture of more effective accountability.
Keywords: Performance Evaluation; Corporate Governance; Hospital.
INTRODUÇÂO
As descobertas e os avanços na medicina trouxeram mudanças na imagem dos hospitais e nas expectativas trazidas pelos usuários desses serviços. A sociedade despertou para novos valores, inclusive para aqueles que buscam o bem-estar físico, social, mental e espiritual. A funçâo do hospital agora é muito maior que apenas um local para o tratamento de doentes, passa a ser reconhecido como uma fábrica de esperanças tecnológicas na corrida por salvar vidas ou melhorar a qualidade de vida daqueles que nao possuem cura. Todas essas expectativas dos usuários estao envoltas aos aspectos económicos e de sustentabilidade financeira dos hospitais.
As entidades hospitalares inseridas em ambientes competitivos e dinámicos, e em sincronia com a realidade das empresas de outros ramos, buscam a sobrevivencia diante de um cenário difícil procurando se adaptarem as transformaçöes e exigencias de mercado. Mamédio (2014) afirma que em razao da evoluçao tecnológica e das novas necessidades de assistencia a saúde, as instituiçöes hospitalares passaram a ser gerenciadas como empresas complexas, usando modernas técnicas de gestao e buscando maior competitividade no mercado.
Os hospitais exigem uma estrutura administrativa bem ajustada e eficiente, direcionada para entender as particularidades da área da saúde e as expectativas dos usuários. Segundo Eeckloo, Van Herck, Van Hulle e Vleugels (2004), nas entidades hospitalares, devido as suas diferenças contextuais e principalmente pelas suas características e especificidades, o modelo de governança deverá sofrer adaptaçao a essa realidade do setor, ou seja, a governança pode proporcionar um "quadro de referencia" abrangente, ao qual o setor hospitalar terá que dar a sua interpretaçao. Dessa forma, o desenvolvimento de estudos direcionados para essa área apresenta contribuiçao significativa para implementaçao prática das ferramentas de governança corporativa em hospitais.
Para Bonacim e Araújo (2011) a discussao acerca dos mecanismos de gestao e avaliaçao económico-financeira nas organizaçöes da área da saúde assumiu papel mundialmente relevante e vem desafiando os gestores quanto ao desempenho (eficiencia e eficácia) dos processos relacionados. Nas pesquisas realizadas por Barbiba e Tita (2014), confirmou-se que o desempenho da gestao hospitalar conjectura de forma precisa com o desempenho geral do hospital, e que a melhoria da eficiencia da gestao é capital para a obtençao de melhores resultados.
Analisando as pesquisas encontradas envolvendo a relaçao entre governança corporativa e desempenho, seus resultados nao apresentam uma conclusao unánime se uma estrutura de governança tem relaçao positiva com o desempenho. A pesquisa de Mendes da Silva e Grzybovski (2006) revelou a existencia de diferenças significativas de desempenho, valor e estruturas de governança corporativa entre empresas familiares e nao-familiares. Love (2011) concluiu que uma melhor governança pode resultar em ganhos de eficiencia e valor agregado pela empresa. Para Rogers, Ribeiro, & Sousa (2007), há indicios de que melhores práticas de governança corporativa, medidas por meio do índice de governança corporativo, reduzem a exposiçao dos retornos das açöes a fatores macroeconómicos.
Por sua vez, Ferreira, Santos, Lopes, Nazareth e Fonseca (2013) constataram que o valor de mercado das empresas dos segmentos de governança corporativa da Bovespa é inferior ao das empresas de outros segmentos de negociaçao de açöes.
Abordando especificamente a governança corporativa em hospitais, identificou-se poucos estudos. Pirozek, Komarkova, Leseticky e Hajdikova (2015) analisaram 100 hospitais e identificaram um impacto significativo da governança corporativa sobre a eficiencia económica dos hospitais na República Checa.
Monken et al. (2015) estudaram hospitais filantrópicos da cidade de Sao Paulo inseridos na Associaçao Nacional de Hospitais Privados (ANAHP). O estudo mostrou que, na amostra analisada, os hospitais mantem os princípios de transparencia e prestaçao de contas refletidos na divulgaçao de suas demonstraçöes financeiras; e que 60% dos hospitais apresentaram giro do ativo abaixo do esperado. Monken et al. (2015) também mapearam a produçao científica no setor saúde sobre governança corporativa e evidenciaram a necessidade de aprofundamento do tema de governança no segmento hospitalar.
Assim, frente a necessidade de aprofundar o tema, os problemas cotidianos vividos no contexto hospitalar e considerando que a profissionalizaçao dos processos gerenciais das instituiçöes hospitalares constitui-se em uma necessidade, tanto do ponto de vista da eficiencia como da competitividade, elegeu-se como foco deste estudo o seguinte problema de pesquisa: Como a governança corporativa contribui para a melhoria do desempenho de um hospital privado?
Dessa forma este estudo tem como objetivo principal analisar como a governança corporativa contribui para a melhoria do desempenho de um hospital privado. Específicamente, esta pesquisa propöe caracterizar o processo de governança corporativa em um hospital, identificar as estratégias de governança corporativa utilizadas, levantar as barreiras e dificuldades encontradas no processo de implementaçao da governança corporativa e verificar as contribuiçöes da governança corporativa para o desempenho do hospital estudado na percepçao dos gestores. Trata-se de um estudo de caso único por meio de pesquisa exploratória de natureza qualitativa. A coleta de dados ocorreu em visita de campo e por entrevistas semiestruturadas com profissionais de um hospital particular de Säo Paulo e a análise de dados foi realizada por meio da análise de conteúdo de Bardin.
Este artigo está estruturado em cinco seçöes, além desta introduçâo. A seguir explora-se a fundamentaçâo teórica sobre o tema, seguida pela descriçâo dos aspectos metodológicos empregados, evidenciando todas as etapas para a obtençâo dos dados e do objeto de estudo. Em sequencia apresenta-se o detalhamento da análise dos dados e as consideraçöes finais com síntese dos resultados, limitaçöes e recomendaçöes para futuros estudos, finalizando com a apresentaçâo das referencias bibliográficas utilizadas.
REVISÄO DA LITERATURA
Esta seçâo apresenta a revisäo de literatura referente a governança corporativa e sua relaçâo com a área hospitalar, além da abordagem academica sobre os conceitos de avaliaçâo de desempenho e a aplicaçâo do tema em hospitais, sustentando os temas envolvidos nesta pesquisa.
Governança Corporativa
A aplicaçâo das boas práticas de governança corporativa tem como finalidade orientar o modelo de gestäo das empresas e aumentar a capacidade de agregaçâo de valor ao negócio. De acordo com o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa - IBGC (2015), "as boas práticas de governança corporativa tem por finalidade de aumentar o valor da sociedade, facilitar o acesso ao capital e contribuir para a sua perenidade". Ainda de acordo com o IBGC (2015) a boa governança corporativa proporciona aos acionistas ou cotistas a efetiva monitoraçâo da direçâo executiva e tem como ferramentas o Conselho de Administraçâo, a Auditoria independente e o Conselho Fiscal.
O estudo da Governança Corporativa rege-se fundamentalmente por uma série de bons princípios, especialmente aqueles relativos a: transparencia; equidade; prestaçâo de contas; e responsabilidade corporativa, como mostra a Quadro 1.
Segundo o IBGC (2015):
A governança corporativa é o conjunto de práticas pelas quais as sociedades säo dirigidas e monitoradas/controladas, por meio de regras, procedimentos e relacionamentos entre os acionistas/sócios, conselho de administraçâo, diretoria, conselho fiscal e auditoria independente e terceiros (stakeholders), a fim de que elas possam aumentar a eficiencia administrativa e a otimizar o desempenho operacional, de modo a facilitar o acesso ao capital.
Staub, Martins e Rodrigues (2002) discutem uma temática relevante dentro das práticas da governança corporativa no mundo contemporáneo dos negócios, das finanças e dos investimentos financeiros: a maximizaçâo do valor para o acionista e o seu impacto nas organizaçöes. Essa análise da criaçâo de valor como estratégia no modelo financeiro de governança resultou na adoçâo de uma estrutura organizacional que explora o potencial máximo dos processos produtivos bem como melhores decisőes operacionais e de investimentos.
Um dos elementos propulsores no incentivo de busca e aplicabilidade da governança corporativa nas empresas brasileiras se deu a partir do momento que os investidores internacionais passaram a levar seus investimentos para longe das suas próprias fronteiras, uma vez que os seus mercados domésticos se evidenciava certa saturaçâo (Macedo & Corrar, 2012).
Os mecanismos de governança podem ser caracterizados como sendo internos ou externos a empresa. Os mecanismos internos de interesse primario säo o conselho de administraçâo e a estrutura societaria da empresa. Os principais mecanismos externos säo o mercado externo para o controle corporativo (o mercado de aquisiçâo) e o sistema legal propriamente dito (Denis & Mcconnell, 2003).
As corporaçöes na maioria dos países tem Conselhos de Administraçâo. Nos EUA, o Conselho de Administraçâo é específicamente empoderado para representar os interesses dos acionistas, ou seja, existe principalmente para maximizar o valor para o acionista (Denis & Mcconnell, 2003).
Pesqueux (2005) chama a atençâo em relaçâo a estrutura do Conselho de Administraçâo, que originalmente se refere a uma substancia independente de controle que atua democraticamente, mas poderia estabelecer a base de um ativismo de acionistas, mascarando assim o verdadeiro projeto ideológico da governança corporativa.
A governança corporativa afeta o desenvolvimento e o funcionamento dos mercados de capitais e exerce uma forte influencia na alocaçâo de recursos. Em uma era de crescente mobilidade de capital em virtude da globalizaçâo, tornou-se também uma importante condiçâo que afeta a competitividade industrial e as economias de uma forma geral (Maher & Andersson, 2000).
A governança corporativa tem sido apontada como um dos fatores cruciais do desempenho das instituiçöes. Ao mesmo tempo, segundo as boas práticas de governança, deve-se reservar atençâo especial a forma com a qual se constituem e atuam os conselhos de administraçâo das companhias de capital aberto (Bruere, Mendes-Da-Silva, & Santos, 2007).
A abordagem de Lameira, Ness Junior e Macedo-Soares (2007) procurou verificar se a melhoria da prática de governança corporativa promoveu impacto no valor das empresas. Foi um trabalho mensurado por meio de uma amostra näo-probabilística de companhias abertas com açöes listadas para negociaçâo em bolsa de valores que tivessem liquidez. O resultado do trabalho revelou que a melhoria de práticas de governança corporativa promoveu impacto no valor das companhias inseridas na amostra estudada.
Uma das hipóteses levantadas sobre os benefícios das boas práticas de governança corporativa é que, ao adotá-las, as empresas tem seu custo de capital reduzido e, consequentemente, o retorno sobre o investimento incrementado. A conclusäo de que o custo de capital e o retorno do investimento säo menores para empresas com práticas de governança corporativa superiores foi evidenciado no trabalho de Rogers, Securato e Ribeiro (2008).
Love (2011) examina a literatura que explora a relaçâo entre governança corporativa e desempenho. A maioria das evidencias sugeriu uma associaçâo positiva entre governança corporativa e várias medidas de desempenho, como o desempenho operacional, valor da empresa no mercado e retorno das açöes (retorno do investimento). Ainda explora nesse estudo algumas consequencias positivas com a implantaçâo da governança: melhores práticas na metodologia de acompanhamento fazem com que os gestores foquem na maximizaçâo do valor e na melhor eficiencia dos projetos; menos recursos desperdiçados em atividades näo produtivas; com a diminuiçâo dos riscos que os investidores estejam expostos o custo de capital tende a reduzir; aumento de financiamento externo em virtude da credibilidade na gestäo.
No trabalho de Macedo e Corrar (2012) foram ressaltados alguns estudos que apontaram vantagens, em termos de desempenho, quando adotadas as boas práticas de governança corporativa. Na pesquisa desses autores ficou corroborado que as empresas com boas práticas de governança tem desempenho contábilfinanceiro superior as demais sem essa implementaçâo.
Dentro do espectro de análise sobre a influencia da governança corporativa na eficiencia financeira das empresas brasileiras veiculadas a Bovespa, outra pesquisa trouxe evidencias sobre essa correlaçâo. Como resultados verificou-se que a eficiencia financeira dos bancos, ao longo dos seis anos analisados, manteve-se estável e superior ao das empresas de outros ramos. Este estudo contribuiu para identificaçâo das dimensöes da governança corporativa que influenciam a eficiencia de empresas e bancos. (Bach, Kudlawicz, & Silva, 2015).
Governança Corporativa na Área Hospitalar
O processo de mudanças no Setor da Saúde nas últimas décadas, principalmente em funçâo da sua amplitude e complexidade, além do panorama mundial de regulaçâo do setor, vem fomentando novas modelagens, formas de pagamento na cadeia de suprimentos da saúde, coberturas assistenciais e crescente utilizaçâo dos serviços pelo envelhecimento da populaçâo e criticidade dos casos clínicos (Monken, Schwach, Shinohara, & Assis, 2015).
A evoluçâo nos cuidados de saúde bem como os efeitos em toda a cadeia de valor do segmento hospitalar vem desafiando os gestores desse setor em refletir sobre o significado da boa governança hospitalar e como esta pode ser melhor implementada, e em que medida os modelos de governança desenvolvidos no mundo empresarial podem servir de inspiraçâo na implantaçâo das melhores práticas (Eeckloo et al, 2004).
A Lei 13.097 publicada em 2015 homologou a entrada de capital estrangeiro nas operaçöes de hospitais privados de modo a permitir investimentos nesse setor. Nesse sentido, os hospitais ao se habilitarem a receber recursos pelo mercado de capitais estrangeiros, se viram obrigados a se adequarem as práticas de Governança Corporativa, o que atualmente já é obrigatório para as organizaçöes internacionais.
Devido a posiçâo social atribuida aos hospitais, onde envolve uma grande diversidade de partes interessadas (stakeholders), os principios de governança corporativa näo podem ser traduzidos para o setor hospitalar sem ajustes específicos.
Há diferenças nos tipos de propriedade nas estruturas hospitalares existentes. Alguns hospitais säo empresas de propriedade dos acionistas, enquanto outras säo sem fins lucrativos e säo administradas por diferentes grupos como organizaçöes religiosas, grupos de médicos, governos e Municipios.
Segundo Eldenburg, Hermalin, Weisbach e Wosinska (2004), no caso de uma empresa com fins lucrativos, a Governança é clara: a estrutura de governança gerencia o processo de maximizaçâo do valor presente de seus lucros por meio de incentivos e monitorizaçâo da gestäo de topo. Esse estudo analisou a hipótese de que diferentes tipos de organizaçöes, com ou sem fins lucrativos possuem diferentes objetivos e assim apresentam diferenças na governança.
Eeckloo et al. (2004) desenvolveram uma proposta de governança para hospitais Belgas, onde preliminarmente pesquisaram 82 hospitais sobre a sua estrutura de gestäo, a composiçâo das entidades de gestäo, a definiçâo das competencias e a relaçâo entre os gestores e a equipe médica. Concluiu-se que há diferenças entre a gestäo hospitalar pública e privada, especialmente entre o profesionalismo e delimitaçöes das competencias. Propuseram uma delimitaçâo mais clara entre as atribuiçöes do Conselho de Administraçâo e o grupo gestor, de modo a facilitar a transparencia e a tomada de decisäo e assim o Conselho atuando como amortecedor dos interesses das partes.
Pettersen, Nyland e Kaarboe (2012) estudaram a implementaçâo da governança em um hospital da Noruega. Os achados indicam uma transiçâo dos papéis atribuidos ao Conselho, onde esses papéis säo uma mistura entre as tarefas de um órgäo de decisäo formal e o de assegurar os diferentes interesses dos agentes veiculados a instituiçâo.
Para Calve, Nossa, Pagliarussi e Teixeira (2013), a abordagem corporativa nas instituiçöes filantrópicas näo se limita as informaçöes financeiras, pois a participaçäo estratégica em açöes sociais e educacionais estäo expressivamente presentes. Os resultados organizacionais dos hospitais filantrópicos estäo relacionados a capacidade de gerar beneficios a sociedade, com a participaçao desses hospitais nas açöes que promovam a manutençao da saúde, o controle de epidemias e a participaçäo nas estratégias governamentais em beneficio da populaçao, mantendose o equilibrio económico financeiro da institu^äo.
Pirozek, Komarkova, Leseticky e Hajdikova (2015) realizaram um estudo com o objetivo de avaliar o sucesso da transformaçao em conexäo com o desempenho da governança corporativa em hospitais. Foram analisados 100 hospitais em 2009 e posteriormente em 2012. Os achados foram identificados em dois eixos principais: o impacto significativo sobre a eficiencia económica dos hospitais e o efeito sobre o sistema de prestaçao de cuidados de saúde na República Checa. Portanto, a eficácia da governança corporativa dos hospitais pode afetar a fiscalizaçao do sistema de saúde e, indiretamente, a politica de saúde para todo o pais.
Monken et al. (2015) buscaram identificar se os principios de governança corporativa favorecem a investigaçao da eficiencia sobre os ativos dos hospitais filantrópicos inseridos na Associaçao Nacional de Hospitais Privados (ANAHP) com base no indicador Giro de Ativo (GA). Esse estudo mostrou que, na amostra analisada, os hospitais mantem como cultura organizacional, os principios de transparencia e prestaçao de contas, refletidos na divulgaçao de suas demonstraçöes financeiras como também póde-se verificar que, para cada R$ 1,00 de ativo, estes hospitais geraram em média R$ 0,76 de receita.
As boas práticas da Governança Corporativa se revelam competentes no que se refere a manutençao da sustentabilidade, longevidade e agregar valor as organizaçöes. Com o crescente interesse em monitorar a utilizaçao dos recursos nas instituiçöes hospitalares, a observaçao dos principios da governança corporativa de transparencia e prestaçao de contas, por parte dos hospitais, geram confiança e protegem interesses dos principais stakeholders da saúde (Monken et al., 2015).
Avaliaçâo de desempenho hospitalar
Em busca da sustentabilidade dos hospitais diante de um cenário dificil e competitivo, a avaliaçao de desempenho vem se transformando em importante instrumento de mediçao e controle da gestäo, servindo como apoio aos gestores na conquista de maior eficiencia e nas suas tomadas de decisäo.
Kirigia, Emrouznejad, Cassoma, Asbu e Barry (2008) realizaram pesquisa sobre avaliaçao de desempenho em 28 hospitais municipais de Angola. O estudo apontou a escala de eficiencia desses hospitais, identificou a necessidade de cortar despesas ou aumentar a produtividade para que a capacidade instalada se tornasse eficiente. Os resultados apontaram que em média 61% dos hospitais pesquisados foram gerenciados de forma ineficiente no periodo de 2000 a 2002.
No cenário em que a tecnología e a economia avançam rapidamente, o capital intelectual (seu conhecimento, experiencia, especializaçao) de uma empresa tem determinado cada vez mais o seu valor económico. As avaliaçöes de organizaçöes ou negocios dependem, em grande parte, das expectativas futuras de desempenho. Assim, o valor de uma empresa pode ser determinado por meio de um dos modelos de avaliaçâo de empresas, mas a aplicaçâo de uma simples equaçâo ou metodologia pode nao ser considerada suficiente.
Os modelos baseados no balanço patrimonial se propőem a determinar o valor de uma empresa pela estimativa de mensuraçao de seus ativos. Esses métodos consideram o valor de uma empresa basicamente pelo valor explícito em seu balanço patrimonial. Determinam o valor de um ponto de vista estático; entretanto, nao contemplam a possível evoluçao da empresa no futuro, incorporando o conceito de valor do dinheiro no tempo (Bonacim & Araujo, 2010). Pesquisa realizada por esses autores teve como objetivo demonstrar como pode ser mensurado o impacto da atividade de ensino no valor económico agregado por um hospital universitário público a sociedade. A grande relevancia desse estudo foi trazer a importancia da prestaçao de contas para a sociedade quanto ao uso do recurso público.
Bonacim e Araujo (2011) relatam que em qualquer contexto, o atendimento com qualidade tem sido uma exigencia crescente, fato esse nao diferindo para a área da saúde. A cada dia, os pacientes tem demandado maiores níveis de desempenho da instituiçao que os atendem. Esta, por sua vez, deve "responder" a seus pacientes (usuarios) com um atendimento qualificado, envolvendo questőes como tempo de espera, segurança do paciente e do trabalhador, além da confiabilidade. Neste cenário, uma nova discussao merece destaque entre os profissionais da saúde. É preciso mudar e avançar em muitos conceitos, sobretudo a visao de que qualidade e custos sao conflitantes: qualidade e custos devem ser aliados. A avaliaçao económica da saúde aborda esse tema e vem assumindo um papel de destaque em todo o mundo, exigindo dos gestores novos desafios na busca continua da eficiencia e eficácia das atividades.
Lima Neto (2011) desenvolveu uma pesquisa sobre análise da situaçao económico-financeira de 31 hospitais da regiao metropolitana de Sao Paulo, entre os anos de 2003 a 2008, por meio de dados secundários de 127 demonstraçöes financeiras desses hospitais. Foi observado um bom desempenho financeiro no período de análise e que esse bom desempenho estava sendo influenciado pelo volume de recursos em aplicaçao financeira. Esse colchao de reserva parece indicar uma decisao estratégica no sentido de aproveitar as altas taxas do mercado financeiro em períodos em que a lucratividade do negocio hospitalar revelava baixas a negativas margens de lucro operacional.
Em um estudo sobre como os gestores hospitalares utilizam indicadores de desempenho Vignochi, Gonçalo e Lezana (2014) analisaram a gestao estratégica sob a ótica da gestao do conhecimento baseada em evidencias de um hospital público e outro filantrópico. Os autores concluíram que o compartilhamento de informaçöes é essencial para a aplicaçao do sistema de indicadores; o uso de indicadores no hospital público privilegia o desenvolvimento do conhecimento e o uso de indicadores no hospital filantrópico tem enfase na gestao da qualidade. Porém, de acordo com Cunha e Correa (2013) em 70 hospitais estudados na pesquisa de campo concluiu-se nao haver grande disponibilidade de informaçöes gerenciais nos hospitais brasileiros, sendo uma barreira para o alcance de um melhor desempenho operacional e de qualidade.
De maneira geral se evidencia uma fragilidade financeira nas instituiçöes hospitalares. Alguns problemas de gestao influenciam de maneira fundamental o desempenho dessas organizaçöes, portanto um adequado planejamento da gestao hospitalar é vital para reverter a ineficiencia dos hospitais. Os indicadores amplamente utilizados na análise financeira de empresas também podem ter um papel essencial na gestao das organizaçöes hospitalares (Souza et al, 2013). Indicadores podem variar conforme as necessidades da organizaçao, estando em consonancia com as características e demandas de saúde da populaçao. Indicadores sao, portanto, essenciais para proporcionar informaçöes mensuráveis que permitam descrever a realidade organizacional (Vignochi et al, 2014).
No estudo de Souza et al. (2014) quando analisados 20 hospitais públicos e filantrópicos entre 2006 e 2011, evidenciou-se resultados financeiros bastante incipientes no que se refere a lucratividade e rentabilidade. Os autores ressaltam que a utilizaçao de uma multiplicidade de análises e variáveis pode ser útil na investigaçao das deficiencias dessas organizaçöes.
Em estudo de Barbiba e Tita (2014) que abordou o sistema de saúde da Romenia, os autores mostram que neste país a avaliaçao de desempenho da saúde baseiase em quatro categorias de indicadores, quais sejam: recursos humanos, recursos aplicados, económicofinanceiros e qualidade. O desdobramento da categoria de indicadores económico-financeiros apresenta-se nos seguintes grupos: despesas com serviços, receitas e custos com recursos aplicados (Barbiba & Tita, 2014).
De acordo com Barbosa, Souza e Santos (2015) os métodos de avaliaçao de desempenho que agregavam perspectivas financeiras e operacionais passaram a ser criticados por nao serem suficientes para a compreensao da performance hospitalar. Faz-se necessária a consideraçao de outros atributos, denotando a necessidade de se contemplar a maior quantidade possível de variáveis intervenientes nos processos organizacionais. Para tanto, a confecçao de uma técnica de avaliaçao de desempenho necessita de um modelo bastante complexo e específico em que se destacam aspectos internos e externos as organizaçöes e indicadores que retratem a eficiencia operacional e financeira dos hospitais, mas que também considerem perspectivas, tais como a social, a tecnológica e a de caráter inovador.
De acordo com Trivelato, Soares, Rocha e Faria (2015), a ausencia de informaçöes confiáveis com relaçâo a estrutura dos custos hospitalares é um dos principais problemas dos hospitais, o que dificulta os esforços para melhorar a eficiencia na prestaçâo de serviço. Barbiba e Tita (2014) complementam que um significativo fator de risco a gestâo é a execuçâo orçamentâria em relaçâo ao orçamento aprovado.
Picchiai e Nery (2015) desenvolveram um estudo de caso de dois hospitais onde foram observadas questőes ligadas as estratégias, estrutura, competencias organizacionais e desempenho financeiro. A importancia do desempenho organizacional foi explorada nessa pesquisa e ressalvou que esta deve estar relacionada aos demais resultados empresariais, principalmente o resultado económico. Esse trabalho trouxe também a relevancia quanto ao alinhamento entre as estratégias, estrutura e competencias, e se assim estiver, maior o desempenho financeiro do hospital.
A importancia de se medir e avaliar o desempenho é revelada em cada artigo científico analisado. Além da necessidade de engajar cada colaborador a participar de todo processo visando agregar vantagens para a organizaçâo e para o próprio profissional em seu crescimento de carreira. Os gestores que estâo míopes sobre a relevancia em acompanhar a performance da sua unidade de negócio, estâo perdendo em eficiencia, competitividade e principalmente na geraçâo de valor empresarial.
Governança corporativa e avaliaçâo de desempenho
Foram mapeadas pesquisas que exploraram estudos envolvendo a relaçâo entre governança corporativa e desempenho, buscando caracterizar essa relaçâo por meio de métodos econométricos ou análises nâo paramétricas. Os resultados nâo apresentam uma conclusâo unánime se uma estrutura de governança tem relaçâo positiva com o desempenho.
Mendes da Silva e Grzybovski (2006) aprofundaram numa pesquisa objetivando verificar a existencia de diferenças de desempenho, valor e estruturas de governança corporativa entre empresas familiares e nâo-familiares. Os resultados alcançados revelam a existencia de diferenças significativas de desempenho, valor e estruturas de governança corporativa entre empresas familiares e nâo-familiares. A análise da governança corporativa, incluindo-se a transparencia da administraçâo, tem se tornado um fator chave para conhecer as grandes empresas.
Love (2011) relata em sua pesquisa que a governança corporativa é susceptível a se desenvolver de forma endógena e depender de características da empresa e do seu ambiente. Como consequencia desse processo uma melhor governança pode resultar em ganhos de eficiencia e valor agregado pela empresa.
Corroborando com esses achados, Rogers, Ribeiro, & Sousa (2007) ressaltaram que a adoçâo de modelos de governança corporativa eficazes pode aumentar a liquidez, o volume de negociaçâo e a valorizaçâo das açöes das empresas, diminuindo assim a exposiçâo dos retornos das açöes a fatores macroeconómicos. A conclusâo desse trabalho foi que há indícios de que melhores práticas de governança corporativa, medidas por meio do índice de governança corporativo, reduzem a exposiçâo dos retornos das açöes a fatores macroeconómicos.
Por outro lado, Ferreira, Santos, Lopes, Nazareth e Fonseca (2013) realizaram estudo objetivando verificar se existia diferenças entre a eficiencia de empresas dos segmentos de governança corporativa com a eficiencia de empresas de outros segmentos da Bovespa, constatando, nos tres anos analisados, que o valor de mercado das empresas dos segmentos de governança corporativa é inferior ao das empresas de outros segmentos de negociaçâo de açöes. O que nâo se pode negar é que a implantaçâo da governança corporativa vem sendo apontado como um indicador de confiança dos investidores nas decisőes tomadas pela administraçâo das empresas listadas em bolsas de valores.
Calve, Nossa, Pagliarussi & Teixeira (2016) buscaram relacionar o nivel de aderencia as práticas de governança corporativa em 21 hospitais filantrópicos do Espirito Santo e a relaçâo dessas práticas com os resultados operacionais, de acordo com a teoria de agencia. Os resultados apontaram que apenas um hospital conseguiu ultrapassar 50% da pontuaçâo máxima do Índice de Governança Corporativa para Hospitais Filantrópicos - IGHF. Quanto a análise dos indicadores de desempenho, foi relacionada com o IGHF, os resultados indicaram que os hospitais com maior índice do IGHF apresentaram médias diferentes dos hospitais com menor índice do IGHF para os indicadores de receita, ativos e internaçöes, por leito hospitalar.
Estudo teórico-empírico realizado por Rodriguez-Fernandez (2016) teve por objetivo investigar a relaçâo bidirecional entre Responsabilidade Social Corporativa e Desempenho Financeiro em empresas listadas espanholas. As conclusőes extraídas do estudo demonstram que as políticas sociais aumentam os recursos financeiros, e vice-versa, que o aumento do desempenho financeiro leva a maiores benefícios sociais. Como consequencia, o artigo encoraja todos os membros do conselho a pesar seriamente em investir recursos financeiros no desenvolvimento de políticas que impulsionem os níveis de componentes do comportamento social, a fim de contribuir globalmente para a melhoria da sociedade.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Nessa seçâo dá-se a sustentaçâo metodológica necessária para os leitores conhecerem sob qual ótica a pesquisa foi desenhada e como os resultados foram alcançados. A escolha do processo metodológico objetivou responder adequadamente a pergunta de pesquisa estabelecida.
Para obtençâo dos dados foi realizado um estudo de caso único por meio de uma pesquisa exploratória de natureza qualitativa. Com o objetivo de realizar o enquadramento metodológico deste estudo foi elaborada a Tabela 1.
A opçâo pelo estudo de caso se deu devido a necessidade de conhecer o processo de tomada de decisäo da consolidaçâo da governança corporativa e seus respectivos resultados. Schramm (1971 como citado em Yin, 2015, p. 16) reforça que a essencia de um estudo de caso é que ele tenta iluminar uma decisäo ou um conjunto de decisőes: porque elas säo tomadas, como elas säo implementadas, e com que resultado.
O método de coleta utilizado foi entrevista pessoal, individual e em profundidade, aplicada por meio de Conference Call. A ferramenta de entrevista a distancia foi necessária devido a localizaçâo dos sujeitos de informaçâo do estudo estarem em outro Estado e as dificuldades de conciliaçâo das agendas dos tres profissionais selecionados.
A pesquisa foi dividida em tres fases distintas conforme representado na Tabela 2.
A pesquisa se inicia com uma visita técnica para ambientaçâo e coleta de dados institucionais. O objeto de estudo é o Hospital A. C. Camargo de Säo Paulo, selecionado de forma intencional por se enquadrar nos seguintes criterios: ser referencia em um segmento específico na saúde suplementar denominado Cáncer Center; possuir um faturamento expressivo no segmento privado no patamar de 1,3 bilhőes por ano; e possuir sistema de Governança Corporativa implantado com o objetivo de contribuir no processo de tomada de decisőes estratégicas na Instituiçâo, reforçar o compromisso com a transparencia e consolidar o processo de acompanhamento e controles internos.
Para a fase diagnóstica, a amostra alvo da pesquisa foram tres profissionais da instituiçâo analisada: um professional responsável pelos processos de governança corporativa e dois gestores indicados por este, por serem membros da alta administraçâo e, portanto, participantes dos processos de governança corporativa implantados. Dessa forma, a amostra da pesquisa trata-se de uma amostra nao probabilistica do tipo acessibilidade. Segundo Vergara (2007), amostra nao probabilistica do tipo acessibilidade se caracteriza por estar longe de qualquer procedimento estatístico e é selecionado pela facilidade do acesso.
Para o processo de coleta foi utilizado como instrumento um roteiro de entrevista semiestruturado, com perguntas abertas, gravadas e transcritas para posterior análise interpretativa dos depoimentos. Segundo Anderson e Kanuka (2003) a entrevista é considerada como um método único no recolhimento de dados, por meio do qual o investigador reúne dados, por meio da comunicaçâo entre individuos.
Convém destacar que, após as entrevistas, os entrevistados continuaram a disposiçâo para dúvidas e novos questionamentos que aparecessem após a análise dos dados. Houve consentimento dos entrevistados para a publicaçâo das informaçöes levantadas. Todas as entrevistas foram realizadas no período de novembro a dezembro de 2016.
A fase final compreende a análise e conclusőes sobre os dados coletados nas fases anteriores, atendendo os objetivos traçados na pesquisa. Para o tratamento dos dados, foi utilizada a técnica da análise temática de Bardin (2011), que consiste em realizar a leitura do texto, desvendar significados e fazer seu reagrupamento em categorias. Para tanto, foram criadas categorias por similaridade com eixos recorrentes nas entrevistas, conforme apresenta a Tabela 3.
Desta forma, nesta pesquisa foi realizada a caracterizaçâo do processo de governança corporativa no hospital estudado, descritas as estratégias de GC, analisado o processo de implantaçâo, e verificado as contribuiçöes da GC na melhoria do desempenho hospitalar.
ANÁLISE E DISCUSSÄO DOS RESULTADOS
Apresentaçâo do objeto de estudo.
O objeto de estudo é um centro integrado de diagnóstico, tratamento, ensino e pesquisa do cáncer. Fundado em 1953, o A. C. Camargo Cancer Center está entre os maiores centros oncológicos integrados do mundo, contando com 441 leitos. Realiza tratamento de mais de 800 tipos de cáncer identificados pela Medicina, divididos em mais de 40 especialidades. Com um corpo clínico fechado e formado por 691 profissionais - conta com uma abordagem integral para todos os tipos da doença, além de ter a disposiçâo o que há de mais avançado em diagnóstico por Imagem e Molecular e uma infraestrutura em todo o ciclo de tratamento, seja com Radioterapia, Quimioterapia, Cirurgias ou Terapias complementares. Trata-se de uma instituiçâo privada sem fins lucrativos, mantida pela Fundaçâo Antonio Prudente, que em 2015, realizou 3,7 milhőes de atendimentos, sendo 62% dos ambulatoriais dedicados aos pacientes do SUS, atendendo assim o seu caráter filantrópico.
Há 63 anos, o A. C. Camargo é a principal instituiçâo de ensino em oncologia no país, responsável pela formaçâo de mais de mil especialistas e residentes, além de mais de 600 mestres e doutores. Em 2015, o A. C. Camargo conquistou a Certificaçâo Qmentum International - Padrâo Diamante e renovou a Acreditaçâo da Organizaçâo Nacional de Acreditaçâo - ONA (nivel III - Excelencia). Essas certificaçöes, assim como a ISO 14001, confirmam a trajetória da Instituiçâo direcionada pela qualidade de seus serviços, bem como a aderencia dos processos as melhores práticas internacionais de qualidade e segurança assistencial, governança e gestäo ambiental.
Análise das dimensðes de pesquisa
Para a melhor explanaçâo e tratamento dos dados, os participantes foram nomeados por "Entrevistado 1", "Entrevistado 2" e "Entrevistado 3". Entre os entrevistados tem-se um profissional ligado diretamente ao setor de governança corporativa do hospital, participando de todo o processo de implantaçâo e acompanhamento e atuando com o cargo de secretário do conselho de administraçâo. Os outros dois entrevistados exercem cargos em nivel de superintendencias.
Caracterizaçâo do processo de governança corporativa hospitalar
Nesta dimensäo säo analisadas as categorias referentes a estrutura organizational, processo de seleçâo dos gestores e linha decisória.
No que se refere a estrutura organizacional, cabe ressaltar que a Fundaçâo Antonio Prudente, mantenedora do A. C. Camargo Cancer Center, reforçou em 2015 sua estrutura de governança, com a revisäo e complementaçâo de estatutos e regimentos e das atribuiçöes dos órgäos, assim como a implantaçâo de comites de aconselhamento ao Conselho Curador (Conselho de Administraçâo), auditoria interna e secretaria de governança corporativa. O Conselho Curador é tido como o mais alto órgäo de governança, apoiado por cinco comites, que analisam e discutem temas de suas respectivas competencias, emitindo recomendaçöes para as questőes mais estratégicas, inclusive relacionadas a tópicos económicos, ambientais e sociais, para decisäo do Conselho Curador.
Segundo os entrevistados, os Conselheiros säo membros da sociedade em geral e com experiencia em gestäo, por isso säo independentes e trabalham como voluntários para a empresa. A enfase de um entrevistado releva: "Säo pessoas destacadas na sociedade, conhecedoras de gestäo e na funçâo que desenvolvem, na visäo da instituiçâo." Destaca-se que pelo conceito de filantropia a base de propriedade é vinculada a uma funda9äo e por isso o termo "acionistas" näo comporta as características dessa instituto.
Destaca-se que, segundo o IBGC (2016), os conselheiros näo precisam ser, necessariamente, sócios, podendo haver, uma divisäo entre conselheiros internos, externos e independentes. Sendo que a fu^äo dos conselheiros independentes é especialmente relevante em companhias com capital disperso, sem controle definido, em que o papel predominante da diretoria deve ser contrabalançado. Corroborando, Lodi (2000) afirma que um conselho essencialmente independente tem maior respaldo para impor regras e metas ao quadro de executivos, em contrapos4äo aos conselhos nos quais há membros que pertencem, simultaneamente, ao grupo de controle ou exercem fu^äo de direçäo executiva.
A estrutura organizacional também contempla a Diretoria Estatutária, indicada e eleita pelo Conselho Curador, e a Gestäo Executiva, nomeada pela Diretoria e com a liderança exercida pela Superintendencia Geral, conforme Figura 1.
Novos comites de apoio a gestäo estäo em fase de implementaçâo e a gestâo executiva foi renovada com a criaçâo da Superintendencia de Supply Chain (Cadeia de Suprimentos) e a ampliaçâo do escopo da Superintendencia de Marketing, que passou a se chamar Superintendencia de Negocios.
O sistema de governança corporativa é influenciado por diferenças nos padrees legais e estruturais, fatores históricos e culturais das empresas bem como a estrutura de propriedade (Maher & Andersson, 2000). Dessa forma, percebe-se que a instituiçâo pesquisada se preocupa com o constante enquadramento da estrutura formada com os objetivos da instituiçâo frente as necessidades mercadológicas.
O processo de seleçâo dos gestores se dá por meio de recrutamento externo, com contrataçâo de empresas especializadas para os cargos estratégicos. A direçâo pode sugerir ao conselho os profissionais para composiçâo dos cargos de superintendencia, porém a aprovaçâo final dos candidatos se dá por meio do conselho de administraçâo. Há tres superintendentes executivos: para a área corporativa, para a área de operaçöes e para a área de novos negocios.
O Conselho é o órgáo máximo de gestâo que supervisiona as questőes estratégicas e todos o direcionamento de valores da organizaçâo, além de atuar no acompanhamento do trabalho da diretoria e superintendencia. A diretoria exerce uma funçâo mista entre estratégico e executivo, atuando com deliberaçöes ditadas pelo Conselho.
Todos os entrevistados afirmaram que a linha decisória da instituiçâo está definida de forma clara. O Entrevistado 2 esclarece ainda que essa mudança se percebe após a implantaçâo do processo de governança corporativa e talvez tenha sido a sua maior contribuiçâo. Ele reforça: "acho que o primeiro aspecto que é percebido é a formalizaçâo e a celeridade com que algumas decisőes sâo tomadas. Na verdade, mais do que a celeridade, é a consistencia com que algumas decisőes säo tomadas." Ele acredita que: "quando se desdobra a linha decisoria em processos ou políticas para aprovaçöes, num nivel mais abaixo da CEO, voce empondera e desenvolve as pessoas para que possam assumir outras responsabilidades e fomenta a liderança nos diferentes niveis da organizaçâo." O Entrevistado 2 reforça: "Existe autonomia dentro do escopo da estratégia, dentro do escopo de atuaçâo de cada líder e dentro das alçadas de aprovaçâo. Entâo, essa autonomia está combinada, vamos dizer assim." A adequada transparencia resulta em um clima de confiança, tanto internamente quanto nas relaçöes externas da empresa. Näo deve restringir-se ao desempenho econömicofinanceiro apenas, outros fatores, inclusive intangíveis, que norteiam a açâo gerencial, também devem ser incorporados. Portanto, mais do que a obrigaçâo de informar, isto é, oferecer somente aquelas informaçöes determinadas por leis ou regulamentos, um processo formal, que disponibilize para os agentes envolvidos as informaçöes que sejam de seu interesse conduzem a criaçâo de valor (IBGC, 2016).
Estrategia de Governança Corporativa
Nesta dimensâo sâo analisadas as categorias referentes a metodologia de definiçöes estratégicas, metodologias de controles e acompanhamentos e as premissas de governança corporativa.
Ao investigar as metodologias adotadas para as definiçöes estratégicas o Entrevistado 3 esclarece que:
Desde 2015 está acontecendo uma revisâo profunda de planejamento estratégico e isso agora entra em ciclos anuais de acompanhamento, que precedem o período de planejamento orçamentrno, sempre com uma visâo de cinco anos da estratégia, uma visâo detalhada de um ano do orçamento e uma projeçâo de longo prazo, tres anos para investimentos. Aí, projeçâo da margem de EBTDA, projeçâo do fluxo de caixa, necessidade de capital para financiar investimento. O planejamento estratégico desse ano foi realizado de uma maneira colaborativa, envolvendo todos os colaboradores dos diferentes níveis de liderança da instituiçâo, coordenado pela superintendencia e validado também pela diretoria estatutária.
O Entrevistado 1 reforça ainda: "o superintendente executivo e os demais superintendentes de áreas sempre avaliam tudo o que acontece no mercado, e preparam todo um plano estratégico através dos comites, para apresentaçâo ao Conselho."
Sobre as metodologias de controles e acompanhamentos consegue-se perceber uma consolidaçâo dessas práticas, sendo reforçadas pelos tres profissionais participantes da pesquisa. O Entrevistado 1 afirma:
Isso é algo bastante rigoroso, todo o processo de controle. Entâo, mensalmente existe uma reuniâo formal com o conselho de administraçâo, onde sâo apresentados todos os resultados do orçado versus realizado, toda a estrutura e as metas do BSC que nâo sâo só quantitativas financeiras, mas também qualitativas, como exemplo, uma pesquisa de satisfaçâo, tanto do corpo clínico quanto dos colaboradores, além de pacientes e acompanhantes, aonde é estabelecido um score; uma pontuaçâo mínima para cada, nesses quesitos.
O processo de acompanhamento gera um ciclo de desenvolvimento e reavaliaçâo das práticas adotadas. Quando questionados sobre as formas de garantir que os resultados planejados estâo sendo obtidos, o entrevistado 3 afirma: "É nesses relatórios de acompanhamento mensal. Entâo, a gente tem o relatório mensal para a diretoria e para o conselho, e aí se discute os resultados e as correçöes, os redirecionamentos." Existe ainda uma área de auditoria interna diária com o suporte da área de governança, para assegurar que os processos estabelecidos estáo sendo devidamente implantados e cumpridos. O Entrevistado 2 reforça: "Os controles internos e a governança tem como funçâo ajudar a resgatar os processos e redesenhá-los. " Vignochi, Gonçalo & Lezana (2014) entendem que uma governança eficaz que alinhe as decisőes da alta gerencia aos interesses dos acionistas (estratégia), pode ajudar também a produzir uma vantagem competitiva para a organizaçao. Portanto, o exercício sistemático do planejamento estratégico tende a reduzir a incerteza envolvida na tomada de decisáo e consequentemente provocar o aumento da probabilidade do alcance dos objetivos, desafios e metas estabelecidos para a empresa.
Quando questionado aos entrevistados sobre suas avaliaçöes quanto as premissas da governança corporativa (transparencia, equidade, prestaçâo de contas e responsabilidade corporativa) atribuindo para cada premissa uma nota de zero a dez (sendo 10 um score de implantaçâo completa na instituiçâo), os resultados coletados remetem para uma diferença de visáo entre os profissionais gestores e o professional responsável pela implantaçâo da governança.
O entrevistado 1 atribuiu nota 10 para todas as premissas com apenas uma pontuaçâo 9 para o item "prestaçâo de contas". O entrevistado 3 apresentou maior dificuldade no estabelecimento da nota e afirmou:
A minha tendencia é dizer que todos säo 10, apesar de saber que há sempre uma evoluçâo. Governança näo é uma meta estática, voce vai ganhando consciencia e voce vai chegando a uma nova percepçâo e vai buscar um novo patamar.
Na visäo do Entrevistado 2, as notas atribuidas foram, 8, 8, 6 e 6 correspondendo respectivamente as premissas transparencia, equidade, prestaçâo de contas e responsabilidade corporativa. E reforça: "(...) com relaçâo a transparencia, nós evoluímos muito, acho que hoje a informaçâo é muito mais disponível, a estrutura é muito clara, o desempenho é reportado e tudo mais, o diálogo é constante e é honesto, assim, é aberto." Com relaçâo a prestaçâo de contas, o Entrevistado 2 Explica:
Acho que o processo é feito de forma... é muito mais claro agora, tem alçada, responsabilidade delegada para diversos níveis da instituiçâo, ainda que a gente precise trabalhar com a questäo de gestäo de consequencia, porque näo é só da responsabilidade, é trabalhar com a gestäo da consequencia das decisőes, das pessoas que receberam aquela deliberaçâo. O fluxo de informaçöes entre todos, eles melhoraram muito, mas acho que há espaço ainda para melhoria e tem formas para isso.
E continua:
Na questäo de responsabilidade corporativa, pensando no compromisso da instituiçâo com a comunidade, pensar no que faz com a unidade, pensar em instituir uma cultura de integridade do compromisso com a sociedade, comportamento ético, com a conformidade com a legislaçâo, com o meio ambiente, com a ética permeando todos os processos da instituiçâo (...) tem um caminho a seguir (...) säo longos processos a serem estruturados de uma melhor maneira. A intençâo está aqui, mas falta ainda o processo para poder entregar essa intençâo.
Acredita-se que essa diferença de visäo se refere ao fato do profissional especialista ter um conhecimento maior sobre as etapas e metas de implantaçâo da governança corporativa e, por participar ativamente dos processos, tenha maior consciencia sobre as lacunas existentes sobre o que se pratica e o que se deseja praticar.
implantaçâo
Nesta dimensäo seräo explorados os aspectos referentes ao processo de implantaçâo da governança corporativa bem como as barreiras e dificuldades vivenciadas nesse processo.
Os aspectos que motivaram a implantaçâo da governança corporativa no hospital estiveram vinculados com a busca crescente pela transparencia na prestaçâo de contas, uma maior clareza na tomada de decisäo e uma melhoria da gestäo, principalmente na formalizaçao e coordenaçâo dos processos. "Isso é uma evoluçâo de vários anos de um processo de amadurecimento da gestäo", afirma o Entrevistado 3.
Por unanimidade os entrevistados que participaram do processo afirmaram que houve um movimento de apoio muito grande na empresa, da alta administraçâo na implantaçâo de todo o processo de governança do hospital. O Entrevistado 2 enfatiza:
o mais importante é o comprometimento da administraçâo, porque se näo for de interesse esses assuntos de governança, compliance e outros processos, näo funciona. A gente pode até ter bonitinho os documentos lá, estatuto, regimento e todas as políticas desenhadas, mas na prática nada vai ser observado e nada vai ser cumprido.
No que se refere aos relatos sobre barreiras e dificuldades do processo de implantaçâo os entrevistados näo conseguiram destacar pontos relevantes. Acredita-se que por se tratar de um processo de amadurecimento da empresa, que já direcionava seus processos para os princípios de governança corporativa, a implantaçâo tenha ocorrida de forma "harmónica, saudável e sem conflitos", como enfatiza o Entrevistado 3. Ele afirma ainda que o aculturamento se deu também pela implantaçâo de sistema de qualidade pela busca das certificaçöes.
De forma geral os possíveis desafios mapeados nas entrevistas para a implantaçâo da governança corporativa seriam: cultura organizacional de resistencia a mudança, falta de apoio da administraçâo, falta de cultura de prestaçâo de contas, informalidades dos processos decisorios. "Eu acho que uma das principais barreiras e a questâo da cultura da organizaçâo, se a organizaçâo nâo tiver uma cultura de governança, de processo e de controle, e se nâo tiver abertura para mudança é impossível implementar", destaca o Entrevistado 2. Pontos esses que nâo foram observados no objeto de pesquisa.
Percebe-se que a nâo observancia de barreiras a implementaçâo da Governança Corporativa foi em virtude de a organizaçâo apresentar alguns fatoreschave, conforme destacam Candeloro e Benevides (2013), a alta administraçâo representa uma forte influencia na cultura organizacional. É ela que mobilizară as mudanças e seu modelo balizará a conduta dos demais, disseminando por toda a empresa. A conscientizaçâo de que a rentabilidade sustentada pela empresa pode ser positivamente impactada com a implantaçâo do programa tende a ser fator decisivo na disseminaçâo de uma nova cultura. O processo de autoavaliaçâo por parte da alta administraçâo é capaz de determinar o que deve ser alterado e de que forma as mudanças serâo conduzidas. Portanto, compromisso e açöes condizentes com o discurso é fundamental para a credibilidade do programa. A comunicaçâo formal por parte da alta administraçâo endossando o comprometimento inequívoco da organizaçâo em fomentar condutas éticas e transparentes e a observancia aos processos também pode ser considerado importantes para a eliminaçâo de possíveis resistencias.
Desempenho Hospitalar
Os achados referentes as contribuiçöes da implantaçâo da governança corporativa para a melhoria do desempenho no hospital se revelaram nos aspectos menos tangíveis. Os entrevistados ressaltaram que os principais ganhos foram direcionados aos aspectos de gestâo, principalmente na celeridade e formalizaçâo nos processos de tomada de decisâo. Além disso, evidenciou-se também que o melhor desdobramento das estratégias e o empoderamento das lideranças para a tomada de algumas decisőes guiadas por políticas, proporcionou o desenvolvimento das lideranças da empresa.
A otimizaçâo de recursos foi destacada ao mencionar a organizaçâo do processo decisorio, economizando tempo e recursos ao encurtar caminhos e direcionar a decisâo para a pessoa responsável pelo processo. O Entrevistado 2 afirma:
Todo mundo aprovava tudo, entâo voce perdia muito tempo e dinheiro, porque os setores investiam tempo nisso, (...) atraso na entrega dos processos e do produto que precisas entregar, entâo nesse aspecto melhora muito, acho que a segurança das pessoas para tomar as decisőes.
Foi possível observar também que a cultura dos controles foi mais um resultado alcançado levando em consideraçâo a implantaçâo dos processos de governança corporativa. O Entrevistado 2 destaca:
O resultado é coordenado porque todos trabalham numa mesma direçâo, de uma mesma maneira, gerando qualidade, e consolida a cultura, gera uniformidade de conduta e uma previsibilidade dos resultados, e no final das contas o que a direçâo quer também é isso, que os resultados planejados e desejados sejam ganhos.
Embora os entrevistados apontem mais para aspectos intangíveis (percepçâo) sobre a contribuiçâo da Governança Corporativa no desempenho organizacional, Melo, Batista, Macedo & Costa (2012) apontam outros estudos na literatura que organizaçöes que realizam práticas adequadas de Governança Corporativa tendem a se tornarem mais eficientes e competitivas, uma vez que, em virtude das boas práticas a organizaçâo reduz seu custo de capital, devido a proteçâo ofertada aos investidores contra possível oportunismo dos controladores da companhia, assegurando, dessa forma, retornos superiores sobre os investimento. E finalizam, afirmando que "em razäo dessas ideias, inúmeros trabalhos empíricos associam boas práticas de governança corporativa a desempenho superior.
CONSIDERAÇÖES FINAIS
Com base nos pressupostos da governança corporativa, o objetivo desse estudo foi analisar o processo de governança de um hospital privado identificando as estratégias utilizadas e analisando os possíveis impactos no desempenho hospitalar. Específicamente, esta pesquisa propôs caracterizar o processo de governança corporativa no A.C. Camargo Cancer Center, identificar as estratégias de governança corporativa utilizadas, levantar as barreiras e dificuldades encontradas no processo de implementaçâo da GC e verificar as contribuiçöes da governança corporativa para o desempenho do hospital estudado na percepçâo dos gestores.
A análise do estudo de caso sobre governança corporativa hospitalar, tendo como foco de investigaçâo analisar como a governança corporativa contribui para a melhoria do desempenho de um hospital privado, revelou as mudanças ocorridas no hospital objeto de estudo após a implantaçâo das boas práticas de governança corporativa. A consolidaçâo desse processo modelou toda a estrutura organizacional e implementou atitudes de gestâo mais acuradas quanto a prestaçâo de contas visando a maximizaçâo de resultados.
A área hospitalar em todo o seu processo de mudança se viu em uma maior complexidade do ambiente de negócios bem como uma crescente demanda dos órgäos reguladores e fiscalizadores por melhores práticas de gestäo e desempenho. Sendo assim, a chegada de investimentos oriundos de capital estrangeiro culminou nos estímulos necessários para a busca pela perenidade das instituiçöes, preservaçâo de seus objetivos e alta eficácia em seus processos, já que essas práticas já eram bastante comuns em outros países.
Uma forte evidencia revelada nas entrevistas e visita presencial foi que a governança näo estava concentrada no Conselho de Administraçâo, ou seja, este órgäo passou a ser o instrumento catalizador de todas as iniciativas dentro do corpo das boas práticas de governança, mas toda a cadeia de gestores estava engajada no sentido de prover decisőes mais céleres e pelas pessoas adequadas; um melhor alinhamento de esforços por toda a organizaçâo; um propósito voltado na reduçâo de riscos e proteçâo dos administradores e um esforço direcionado a uma prestaçâo de contas mais efetiva (accountability).
No que se refere as estratégias utilizadas pelo hospital em referencia houve uma preocupaçâo em assegurar um alinhamento dos propósitos estratégicos firmados pelo Conselho Curador (Conselho de Administraçâo) e Direçâo Estatutaria para atender as demandas resultantes do crescimento da instituiçâo. Os comites criados também foram uma ferramenta importante no monitoramento mais amplo da gestâo, assegurando transparencia e rigor nas decisőes da administraçâo.
Outra consideraçâo a ser destacada se refere as premissas da governança corporativa implementadas como pilares principais desse processo, onde a prestaçâo de contas e responsabilidade corporativa ainda sâo fatores a merecem mais esforços e atençâo voltada para melhoria de performance.
Desta forma, a busca por melhorias de eficiencia de gestäo no hospital levou a adoçâo progressiva de práticas de governança corporativa. Suas práticas contribuíram para o aperfeiçoamento e alinhamento das estratégias, portanto, da gestäo. Também possibilitou avanços na estruturaçâo da organizaçâo; no estabelecimento de normas e regras unificadas e transparentes em todos os níveis hierárquicos; destacase a celeridade e formalizaçâo nos processos de tomada de decisâo, propiciando um melhor entendimento das estratégias pelas lideranças da empresa, bem como criaçâo da cultura de controles e monitoramento dos resultados.
De forma geral, os desafios identificados nas entrevistas para a implantaçâo da governança corporativa sâo a cultura organizacional de resistencia a mudança, falta de apoio da administraçâo, falta de cultura de prestaçâo de contas, informalidades dos processos decisórios.
Destacam-se, como resultados dessa pesquisa, que os ganhos principais no desempenho sâo decorrentes de aspectos relacionados com a gestâo, como a celeridade e formalizaçâo nos processos de tomada de decisâo, propiciando um melhor entendimento das estratégias pelas lideranças da empresa, bem como criaçâo da cultura de controles e monitoramento dos resultados, confirmando os achados de Love (2011).
Considerando a relevancia do tema principalmente no contexto do segmento hospitalar, a pesquisa contribui com os gestores e outros interessados na área, no sentido de refletir sobre as boas práticas de governança corporativa que podem ser aplicadas na gestâo dos hospitais como forma de crescimento empresarial e melhorias no desempenho.
A realizaçâo deste trabalho estimula a imersâo de novas pesquisas em torno da governança corporativa nos hospitais focadas na avaliaçâo de desempenho. Como restriçâo reforça a carencia de estudos demonstrando assim que na área ainda se encontra lacunas a serem exploradas e com uma necessidade maior de discussâo dos temas.
Como sugestâo para pesquisas futuras: a realizaçâo de uma pesquisa comparativa com hospitais de outros estados, podendo trabalhar numa linha mais quantitativa com metodologia de estatística multivariada pesquisando por exemplo o índice de governança corporativa em hospitais semelhantes e comparando com empresas listadas na BOVESPA, bem como o estudo dos indicadores de desempenho dos hospitais.
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© 2017. This work is published under https://creativecommons.org/licenses/by-nc/4.0 (the “License”). Notwithstanding the ProQuest Terms and Conditions, you may use this content in accordance with the terms of the License.
Abstract
O presente estudo tem como objetivo gerai analisar como a govemança corporativa contribuí para a melhoria do desempenho em um hospital privado. Como objetivos específicos, esta pesquisa propöe a caracterizar o processo de governança corporativa no hospital, identificar as estratégias de governança corporativa utilizadas, levantar as barreiras e dificuldades encontradas no processo de implementaçâo e verificar as contribuiçöes da governança corporativa para o desempenho do hospital na percepçâo dos gestores. Trata-se de um estudo de caso único por meio de pesquisa exploratoria de natureza qualitativa. A coleta de dados ocorreu em visita de campo e por entrevistas semiestruturadas com profissionais de um hospital particular de Säo Paulo e a análise de dados foi realizada por meio da análise de conteúdo de Bardin. A pesquisa proporcionou o entendimento das dimensöes de pesquisa sobre a estrutura de governança implantada, fatores sobre a implantaçâo e impactos no desempenho. Foi possível observar com a pesquisa que o Conselho de Administraçâo passou a ser o instrumento catalizador de todas as iniciativas dentro do corpo das boas práticas de governança, porém toda a cadeia de gestores estava engajada no sentido de prover decisöes mais céleres e pelas pessoas adequadas. Poucas barreiras de implantaçâo foram identificadas no processo e os impactos mapeados no desempenho hospitalar säo menos tangíveis, sendo direcionados para os aspectos de gestäo: linha decisoria mais clara e rápida, melhor alinhamento de esforços por toda a organizaçâo, desenvolvimento de lideranças, criaçâo de cultura de prestaçâo de contas mais efetiva (accountability).