EXIBIÇÃO DO FILME "UMA VIAGEM EXTRAORDINÁRIA" NAS AULAS DE FÍSICA: A IMPORTÂNCIA DA INTERLIGAÇÃO ENTRE CIÊNCIA E ARTE NA EJA

Abstract

ABSTRACT This article discusses the importance of the process of cultural formation of the students of the EJA, through the reflection of a film, since, the cinematographic language assists in the reading of the world, allowing the establishment of the relations between the scientific knowledge and the reality of the students. Understanding cultural formation as the process by which the individual connects to the world of culture through specific activities, we carried out a study with students from JSCA Professor Lia Campos who participated in an activity in the discipline of Physics, which aimed to promote the dialogue between Science and Art, from the screening of the film "An Extraordinary Journey". Aiming to have a better understanding of the reality of the students of the EJA, a questionnaire followed by an interview was applied. Based on the analysis of the data, we can see that the majority judged that cultural assets are easily accessible, however, they stated that they do not regularly attend these spaces (museums, theaters, cinemas, planetariums, etc.). [...]it is of fundamental importance to carry out activities of this nature within the context of the cultural formation of the student of the EJA, since, it allows moments of scientific literacy of the student citizen / worker.

Headnote

Submetido em 25/01/2019 e aceito em 17/02/2020

RESUMO

Esse artigo discorre sobre a importância do processo de formaçao cultural dos alunos da EJA, por intermédio da reflexao de um filme, visto que, a linguagem cinematográfica auxilia na leitura de mundo, permitindo o estabelecimento das relaçoes entre o saber científico e a realidade dos educandos. Compreendendo a formaçao cultural como o processo pelo qual o individuo se conecta ao mundo da cultura por meio de atividades específicas, realizamos um estudo com alunos do CEJA Professora Lia Campos que participaram de uma atividade na disciplina de Física, a qual tinha por objetivo promover o diálogo entre Ciencia e Arte, a partir da exibiçao do filme "Uma Viagem Extraordinária". Sinalizamos que os dados da pesquisa revelaram um cenário que está em consonância com os estudos realizados na área. Vale salientar que, a maioria dos estudantes envolvidos na atividade elencaram que as reflexoes sobre Ciencia e Arte provocadas através do filme foram significativas. Visando ter uma melhor compreensao da realidade dos alunos da EJA, foi aplicado um questionário seguido de uma entrevista. Os participantes foram questionados sobre como eles consideram o acesso a bens culturais, arte e literatura na regiao em que vivem. Com base na análise dos dados podemos perceber que a maioria julgou que os bens culturais sao de fácil acesso, no entanto, afirmaram que nao frequentam com regularidade esses espaços (museus, teatros, cinemas, planetários etc.). Portanto, é de fundamental importância a realizaçao de atividades dessa natureza dentro do contexto de formaçao cultural do aluno da EJA, uma vez que, possibilita momentos de alfabetizaçao científica do aluno cidadao/trabalhador.

PALAVRAS-CHAVE: Formaçao cultural, Ciencia, Física, Cinema, EJA.

ABSTRACT

This article discusses the importance of the process of cultural formation of the students of the EJA, through the reflection of a film, since, the cinematographic language assists in the reading of the world, allowing the establishment of the relations between the scientific knowledge and the reality of the students. Understanding cultural formation as the process by which the individual connects to the world of culture through specific activities, we carried out a study with students from JSCA Professor Lia Campos who participated in an activity in the discipline of Physics, which aimed to promote the dialogue between Science and Art, from the screening of the film "An Extraordinary Journey". We note that the research data revealed a scenario that is in line with the studies carried out in the area. It is worth noting that most of the students involved in the activity indicated that the reflections on Science and Art provoked through the film were significant. Aiming to have a better understanding of the reality of the students of the EJA, a questionnaire followed by an interview was applied. Participants were asked how they consider access to cultural assets, art and literature in the region in which they live. Based on the analysis of the data, we can see that the majority judged that cultural assets are easily accessible, however, they stated that they do not regularly attend these spaces (museums, theaters, cinemas, planetariums, etc.). Therefore, it is of fundamental importance to carry out activities of this nature within the context of the cultural formation of the student of the EJA, since, it allows moments of scientific literacy of the student citizen / worker.

KEYWORDS: Cultural training, Science, Physics, Cinema, EJA.

1INTRODUÇAO

O artigo apresenta uma discussao sobre a importancia do processo de formaçao cultural dos alunos da EJA (Educaçao de Jovens e Adultos), visto que, a linguagem cinematográfica auxilia na leitura de mundo, permitindo o estabelecimento das relaçöes entre o saber científico e a realidade dos educandos.

Por meio da utilizaçao do cinema buscamos pensar a Física como cultura, tendo em vista que, esse instrumento permitirá trazer, entre outras coisas, elementos presentes na História da Ciencia para a sala de aula. Portanto, a pesquisa tem por objetivo promover o diálogo entre Ciencia e Arte, a partir da exibiçao do filme "Uma Viagem Extraordinária", com foco na formaçao cultural do aluno da EJA.

Dentre os objetivos específicos temos : Compreender a Física como uma "instituięao social", em suas relaçöes com a cultura; Contribuir para promover a contextualizaçao e interdisciplinaridade no ensino da Física; Viabilizar a utilizaçao de procedimentos que possibilitem a apreciaçao e leitura fílmica, permitindo uma formaçao mais crítica e reflexiva dos alunos; Promover momentos de discussao a partir da leitura fílmica, com o intuito de que os conceitos debatidos tornem-se significativos para os alunos; Compreender como se estruturaram as leis que regem a Termodinámica, e que relaçao as máquinas de movimento perpetuo possui com o estabelecimento desses princípios.

A pesquisa foi desenvolvida no CEJA (Centro de Educaçao de Jovens e Adultos) - Professora Lia Campos, localizado na Av. Coronel Estevam, s/n - Dix-Sept Rosado, Natal - RN. O qual possui os níveis e modalidades de educaçao fundamental, medio e a Banca1. Vale salientar que, as turmas envolvidas na pesquisa foram as de nível medio.

O púbico da EJA, segundo Oliveira (1999), diferencia-se dos adolescentes e adultos estudantes. Para ela, o lugar social dos jovens e adultos que frequentam as aulas pode ser definido a partir de tres campos: o fato de nao serem crianças, a condiçao de excluídos da escola e a condiçao de pertencimento a um determinado grupo cultural. Sendo assim, buscando promover o diálogo entre dois campos do saber (Ciencia e Arte), no contexto de formaçao cultural do aluno da EJA, realizamos um estudo com discentes da escola citada que participaram da exibiçao do filme "Uma Viagem Extraordinária" durante as aulas da disciplina de Física.

Levando em consideraçao a natureza do problema, optamos por desenvolve-lo através da abordagem de pesquisa qualitativa (LUDKE e ANDRÉ, 1986; SEVERINO, 2007). O método utilizado é caracterizado como pesquisa de Campo, em que o objeto/fonte é abordado em seu meio ambiente próprio, uma vez que, procura o aprofundamento de uma realidade específica, e, é basicamente realizado por meio da observaçao direta das atividades do grupo estudado e de entrevistas com informantes para captar as explicates e interpretares que ocorrem naquela realidade (GIL, 2008; SEVERINO, 2007).

Quanto aos objetivos a pesquisa é de caráter exploratório e os instrumentos utilizados no trabalho de campo para coleta de dados foram questionários e entrevistas realizadas com os alunos. Segundo Lüdke & André (1986, p.34) essas entrevistas "se desenvolvem a partir de um esquema básico, porém nao aplicado rígidamente, permitindo que o entrevistador faça as necessárias adaptaçöes". A situaçao de entrevista apresenta uma oportunidade para a verificaçao da validade das descriçöes. O entrevistador pode observar nao apenas o que diz o entrevistado, mas também como o diz.

Compreendendo a formaçao cultural como o processo pelo qual o individuo se conecta ao mundo da cultura, mundo esse entendido como um espaço de diferentes leituras e interpretaçöes do real, concretizado nas Artes (música, teatro, dança, Artes visuais, Cinema, entre outros) e na literatura (NOGUEIRA, 2008). Torna-se evidente a necessidade de a escola assumir essa funçao de oportunizar momentos de formaçao cultural aos educandos. Pois, é de fundamental importancia a realizaçao de atividades dessa natureza dentro do contexto de formaçao aluno da EJA, uma vez que, possibilita momentos que alfabetizaçao científica do aluno cidadao/trabalhador (AUGUSTINHO, VIANA, ROÇAS, 2011).

CIENCIA E ARTE NA EJA

Buscando traçar o diálogo entre Ciencia e Arte na sala de aula por meio da utilizaçao do Cinema, torna-se pertinente a apresentaçao de dois conceitos envolvidos nesse processo de formaçao do aluno - a cultura e a Arte.

O conceito de Cultura é polissemico e etimologicamente origina-se do latim (cultur), cujo significado é cultivo dedicado ao campo, as plantas e animais. Consagrou-se pelo seu uso metafórico: cultiva-se o espirito, assim como se cultiva a terra (CUCHE, 1999 apud SUANNO, 2009). O conceito de Cultura utilizado por Nelson Werneck (ZENETIC, 1989, p.97), diz que,

Cultura - Conjunto dos valores materiais e espirituais criados pela humanidade, no curso de sua história. A cultura é um fenómeno social que representa o nivel alcançado pela sociedade em determinada etapa histórica: progresso, técnica, experiencia de produçao e de trabalho, instruçao, educaçao, ciencia, literatura, Arte e instituiçoes que lhes correspondem. Em um sentido mais restrito, compreende-se, sob o termo de cultura, o conjunto de formas da vida espiritual da sociedade, que nascem e se desenvolvem a base do modo de produçao dos bens materiais históricamente determinado. Assim, entendese por cultura o nivel de desenvolvimento alcançado pela sociedade na instruçao, na ciencia, na literatura, na Arte, na filosofia, na moral, etc., e as instituiçoes correspondentes. Entre os indices mais importantes no nivel cultural, em determinada etapa histórica, é preciso notar o grau de utilizaçao dos aperfeiçoamentos técnicos e dos desenvolvimentos científicos na produçao social, o nivel cultural e técnico dos produtores dos bens materiais, assim como o grau de difusao da instruçao, da literatura e das Artes entre a populaçao.

Segundo Nogueira (2009), a Arte é entendida como forma de conhecimento humano, como meio pelo qual a humanidade tem tentado compreender a realidade. Nessa perspectiva Nogueira (2009) afirma que,

A Arte é, portanto, uma forma de interpretaçao do real, nem superior, nem inferior as demais: é apenas mais uma. É também múltipla, pois varia de acordo com suas diferentes modalidades ou linguagens: música, Artes visuais, teatro, dança, Cinema, fotografia, entre outras. (NOGUEIRA, 2009, p.2, grifo nosso).

De acordo com Piassi (2013), a aproximaçao entre Ciencia e Arte na educaçao, proposta há tempos por Zanetic (2006) por meio da literatura, se faz também pelo uso de outras linguagens artísticas de caráter ficcional nos mais variados. Segundo Piassi (2013),

A ciencia, sendo uma prática sociocultural situada historicamente, está presente no discurso de inúmeras obras, literárias ou nao, didáticas ou nao, que em todo caso instituem significados em relaçao a interpretaçao que a ciencia dá aos fenómenos que sao objeto de seu estudo e a natureza da própria ciencia como prática social. Trata-se de uma produçao que desempenha papel central na difusao social dos conhecimentos científicos e na própria produçao do conhecimento científico em si. (PIASSI, 2013, p. 14).

Sendo assim, também a Poesia e a Arte, parecem constituir necessidades urgentes de afirmaçao da experiencia individual, e representam uma visao complementar e indispensável da experiencia humana, nao podendo ficar de fora das atividades interdisciplinares com os jovens nas escolas, mesmo aquelas ligadas ao aprendizado de Ciencias. (MOREIRA, 2002, p. 18 apud PIASSI, 2013, p.15).

Os filmes constituem uma fonte riquíssima de conhecimento (DUARTE, 2002), e o uso do Cinema na sala de aula poderá proporcionar mudanças no contexto escolar, que na maioria das vezes é marcado por falta de interesse, principalmente em relaçao as disciplinas da área de Ciencias da Natureza.

Para Napolitano,

trabalhar com o Cinema em sala de aula é ajudar a escola reencontrar a cultura ao mesmo tempo cotidiana e elevada, pois o Cinema é o campo no qual a estética, o lazer, a ideologia e os valores sociais mais amplos sao sintetizados numa mesma obra de Arte (NAPOLITANO, 2013, p.11).

Assim sendo, com o objetivo de pensar a física como cultura, compartilhamos das ideias de alguns pesquisadores da área, como Zanetic (1990), Candoti (2009), Martins (2009), entre outros, os quais consideram que:

Física é cultura, dela se alimenta e com ela estabelece o diálogo necessário para formular juízos de valor sobre os fatos que envolvem a ciencia e a sociedade. Pertence a cultura porque se expressa em uma linguagem que encontra seus significados nas complexas teias que os clássicos da literatura e da ciencia teceram ao longo dos tempos (CANDOTTI, 2009 apud MARTINS, 2009, p.17).

Deste modo, o uso do Cinema nos oferece a possibilidade de identificar e discutir algumas das conexôes que a Física estabelece na complexa teia da ciencia, Arte e cultura, possibilitando construir os elos de interdisciplinaridade entre o Ensino de Física e outras disciplinas do ensino médio.

Com base nas relaçöes entre Cinema e Educaçao no ámbito da EJA, alinhamos nosso pensamento a Souza (2000), ao afirmar que: "[...] a EJA necessita ser pensada como um modelo pedagógico próprios a fim de criar situaçöes pedagógicas e satisfazer necessidades de aprendizagem de jovens e adultos" (SOUZA, 2000, p. 31). No entanto, ao usar o Cinema na educaçao, nao devemos partir só do viés metodológico pedagógico, mas também dos próprios conceitos científicos do Cinema, bem como, a compreensao do Cinema enquanto Arte e sua devida contribuiçao para formaçao cultural do aluno.

Vale salientar que, a educaçao de jovens e adultos, no Brasil, constitui-se em um tema complexo, por isso exige uma análise mais crítica e aprofundada. Prevista na Lei 9.394/96 de Diretrizes e Bases da Educaçao Nacional, a modalidade EJA foi inserida na Educaçao Básica, tendo o objetivo de contribuir para uma formaçao adequada da populaçao de jovens e adultos que nao tiveram acesso ou nao obtiveram sucesso no Ensino Fundamental ou no Ensino Médio na faixa etária apropriada.

Portanto, a EJA no Brasil destina-se a uma populaçao com necessidade de atendimento educacional tardio. De acordo com Augustinho, Viana e Röças (2011), a seçao V, da LDB n° 9394/96 trata da Educaçao de Jovens e Adultos e diz que "O Poder Público viabilizará e estimulará o acesso e a permanencia do trabalhador na escola, mediante açöes integradas e complementares entre si".

Partindo desse pressuposto, a lei assegura nao apenas a oferta das vagas, mas também a permanencia destes jovens e adultos na escola. Isto implica em uma abordagem pedagógica, curriculo, metodologias, processos avaliativos diferenciados daqueles que sao desenvolvidos na organizaçao do ensino dos alunos que se encontram em idade própria (AUGUSTINHO, VIANA E RÖÇAS, 2011). Sendo assim,

a utilizaçao de novas tecnologías em sala de aula rompe com esta visao passiva do aluno, pois proporciona elementos para uma reflexao da realidade. O Cinema, portanto, reúne entretenimento, cultura e conhecimento, daí nao haver necessidade de exclusao entre entretenimento e saber escolar própria (AUGUSTINHO, VIANA E RÖÇAS, 2011, p.4).

As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio definida pela Resoluçao -02/2012 apresenta uma organizaçao curricular dividida em quatro áreas, a saber: Linguagens; Matemática; Ciencias da Natureza e Ciencias Humanas. Em todas elas encontramos como proposta:

[...] o tratamento metodológico que evidencie a contextualizaçao e a interdisciplinaridade ou outras formas de interaçao e articulaçao entre diferentes campos de saberes específico. Constitui-se como referencial legal e conceitual a indissociabilidade entre educaçao e prática social, considerando-se a historicidade dos conhecimentos e dos sujeitos do processo educativo, bem como entre teoria e prática no processo de ensinoaprendizagem. E conceitua-se a ciencia como "conjunto de conhecimentos sistematizados, produzidos socialmente ao longo da história na busca da compreensao e transformaçao da natureza e da sociedade" (BRASIL, 2012 - grifo nosso).

Diante das novas perspectivas que se apresentam pelas Leis e Diretrizes, o componente curricular de Física, necessita de redirecionamentos já que "pretende-se, uma reorientaçao no ensino de Física praticado, de maneira que este tenha significado para o aluno e o significado possa ser percebido por este no momento em que aprende, e nao em um momento posterior ao aprendizado" (BRASIL, 1999, p.230 apud FERNANDES, 2004, p.29). Assim, almeja-se que o ensino de Física:

Contribua para a formaçao de uma cultura científica efetiva, que permita ao individuo a interpretaçao dos fatos, fenómenos e processos naturais, situando e dimensionando a interaçao do ser humano com a natureza como parte da própria natureza em transformaçao. Para tanto é essencial que o conhecimento físico seja explicitado como processo histórico, objeto de continua transformaçao e associado as outras formas de expressio e produçao humanas. É necessário também que essa cultura em Física inclua a compreensao do conjunto de equipamentos e procedimentos, técnicos ou tecnológicos, do cotidiano doméstico, social e profissional (BRASIL, 1999, p. 229 apud FERNANDES, 2004, p.29- grifo nosso).

Nota-se, assim, que a abordagem histórica e contextualizada de fatos, fenómenos e processos naturais se torna imprescindivel para o ensino de Física, em especial, para o estudo das Leis da Termodinámica. Nessa perspectiva, a inserçao dos filmes nas aulas, visa contribuir para promover a contextualizaçao e interdisciplinaridade no ensino da Física e viabilizar a utilizaçao de procedimentos que possibilitem a apreciaçao e leitura fílmica, permitindo uma formaçao mais crítica e reflexiva dos alunos, no processo de formaçao cultural.

2A UTILIZAÇÂO DO FILME "UMA VIAGEM EXTRAORDINÁRIA" NAS AULAS DE FÍSICA

De acordo com Silva (2015), encontramos na literatura algumas experiencias ligadas ao ensino e a aprendizagem de Física e Cinema em autores como Ferreira et al. (2010), Braga, et al (2007), Almeida (2000), Xavier et al. (2010) e Piassi (2013; 2017), tanto no ámbito de atividades direcionadas aos estudantes do ensino médio, quanto as destinadas ao processo de formaçao dos professores. Outros autores como Fantin (2006) e Alves Ferreira (2010) consideram ambas as perspectivas inseridas no que compreendem ser mecanismo de Formaçao Cultural. Tal preocupaçao também é apresentada por Ferreira (2010):

[...]o uso da sétima arte no ensino de física é uma das questóes que se póe no panorama de formaçao do conhecimento científico. Destaca-se, assim, que sua aplicaçao na formaçao física permite nao somente que o professor desenvolva novas metodologias em sala de aula, mas, também, que perceba, como sujeito ativo, o papel que a expressao artística tem no desencadeamento de questóes. (FERREIRA et al. 2010, p.1).

Nesse sentido, com base no que foi exposto, o cinema é uma manifestaçao cultural extremamente eficaz e pode ser utilizado como um gerador de debates, permitindo a emergencia de reflexóes em sala de aula. Nesse caso, "no ámbito da Física, a discussao das películas pode corroborar ou refutar o conhecimento prévio trazido pelos estudantes, tornado mais significativa a aprendizagem" (PIASSI, 2017, p.30).

A atividade descrita no artigo se baseou no objetivo de promover o diálogo entre Ciencia e Arte, a partir da exibiçao do filme "Uma viagem extraordinária". O filme relata em sua narrativa a criaçao de uma máquina de movimento perpétuo, tal como o filme Kenoma (1998), no entanto a abordagem dada pelo diretor se revela em uma perspectiva diferente. O filme nos mostra uma visao mais poética do elemento histórico (máquina de movimento perpetuo), retratado no filme. Trazendo a imaginaçao como algo imprescindível ao desenvolvimento científico.

Sendo assim, é um filme extremamente pertinente para ser discutido no contexto de Formaçao Cultural dos alunos da EJA, pois traz no seu enredo aspectos de História da Ciencia, Filosofia, Sociologia, Cultura, Arte e Ciencia. Oportunizando momentos de reflexao e discussao em torno do papel cultural e educacional do Cinema nesse processo de formaçao.

3.1 Metodologia utilizada na exibiçao do filme

A metodologia utilizada na exibiçao do filme esteve pautada nos tres momentos propostos por Silva (2015, p. 250-251.): Cena 1: Sensibilizagäo; Cena 2: Exibigäo; Cena 3: Reflexäo.

Iniciamos a atividade com um momento de conscientizaçao dos alunos sobre a importancia da atividade realizada, a relevancia da utilizaçao do cinema, seu potencial didático e seu aspecto de linguagem educativa, bem como uma breve descriçao do filme que seria utilizado. Em seguida realizamos a exibiçao do filme na sua íntegra, para que os alunos pudessem compreender melhor a mensagem fílmica no desencadear da obra.

Sabendo que os filmes nos oferecem um leque de possibilidades para discussao, finalizamos a atividade com o momento da reflexao, visto que, tal como ressalta Silva (2015), o filme, assim como qualquer objeto cultural, deve ser problematizado, e a reflexao consistiu em um debate direcionado por fragmentos do filme que foram distribuídos entre os alunos. Esse momento teve como foco o debate entre os conteúdos que dialogavam com a Física, bem como, as múltiplas relaçöes interdisciplinares suscitadas a partir da leitura da obra

3RESULTADOS E DISCUSSOES

Descrevemos nessa seçao os resultados obtidos no questionário pós-filme, bem como os dados da pesquisa exploratória. Durante o processo de coleta de dados foi realizada uma entrevista estruturada com o objetivo de fazer uma sondagem sobre a formaçao cultural do aluno da EJA, bem como, outros dados pertinentes para o desenvolvimento do trabalho. Em conjunto, fizemos a aplicaçao de um questionário sobre o filme "Uma viagem extraordinária".

4.1 Questionário pós-filme

Apresentamos nessa seçao a análise do questionário aplicado após a exibiçao do filme, contendo questôes relacionadas ao Cinema no cotidiano dos alunos e ao Cinema na escola. É importante ressaltar que, a maioria das questôes foram organizadas seguindo o padrao da Escalar Likert2. Nossa amostragem no questionário pós-filme foi composta por 24 alunos (que aceitaram participar da pesquisa) das turmas nas quais o filme foi exibido. Vale ressaltar que, nas tres turmas, devido a evasao, tínhamos em média uma frequencia de 10 a 15 alunos por aula.

Analisamos algumas questôes com o objetivo de dialogar com o referencial teórico descrito no artigo. Ao serem questionados sobre com que frequencia visitavam salas de cinema fora do circuito comercial tivemos 67% dos alunos afirmando que nao tem o habito que participar de momentos de exibiçao de filmes fora desse contexto comercial. O gráfico a seguir mostra a distribuiçao das respostas.

No que se refere as reflexóes sobre Ciencia e Arte provocadas através do filme, a maioria (38%) atribuiu que esse momento foi significativo. Assim como, a aquisiçao de novas informaçöes relacionadas a várias áreas (História, Filosofia, Sociologia, Física, etc.) por meio do filme foi elencada pela maioria dos respondentes como suficiente.

Podemos observar no gráfico 2 a distribuiçao das respostas para questao que traz a base de nossa discussao no artigo, que é o diálogo entre ciencia e arte no contexto de formaçao cultural do aluno da EJA.

Dentre as demais questðes de nossa pesquisa, cabe ressaltar alguns comentários deixados pelos alunos no espaço destinado a críticas e sugestðes em relaçao ao filme exibido e a proposta da metodologia utilizada na aula de Física.

Portanto, finalizamos esse primeiro bloco de análise ressaltando a importancia da realizaçao de atividades dessa natureza dentro do contexto de formaçao do aluno da EJA, podemos perceber o envolvimento dos discente na atividade desenvolvida a partir dos relatos apresentados no quadro 1.

4.2Pesquisa exploratoria - Questionário 2 e entrevista

Visando ter uma melhor compreensao da realidade dos alunos da EJA, fez-se necessário a aplicaçao de um questionário seguido de uma entrevista.3 Para participar do questionário 2 e da entrevista contamos com a participaçao de 6 alunos (2 alunos de cada turma que assistiu ao filme). A escolha da amostragem para a entrevista foi uma opçao dos pesquisadores que tinham por objetivo fazer uma análise mais pontual e objetiva sobre a realidade dos alunos da EJA no que diz respeito a formaçao académica, cultural e profissional.

Em relaçao aos sujeitos envolvidos na pesquisa, a partir de uma caracterizaçao individual para os seis alunos pesquisados, concluimos que os sujeitos envolvidos no estudo, duas mulheres e quatro homens entre 19 e 42 anos, possuem em comum o fato de terem iniciado sua vida profissional muito cedo. Sendo assim, buscando conhecer o público da EJA e a sua necessidade de Formaçao para o Trabalho, questionamos os alunos sobre o que o trabalho representa em sua vida. Observamos no Gráfico a seguir, que a maioria classifica o trabalho como algo traz independéncia.

Com base nos dados sinalizamos a necessidade da oferta de uma educaçao que possibilite uma qualificaçao profissional para a busca de inserçao no mundo do trabalho, visto que, podemos definir o público da EJA como jovens e adultos inseridos no mundo do trabalho4 e, que, muitas vezes, já tém constituido um núcleo familiar.

Refletindo sobre a importância da formaçao cultural dos alunos da EJA, e compreendendo essa formaçao como o processo pelo qual o individuo se conecta ao mundo da cultura por meio de atividades especificas (NOGUEIRA, 2008), os participantes foram questionados sobre como eles consideram o acesso a bens culturais, arte e literatura na regiao em que vivem moram.

Com base no Gráfico 4 podemos perceber que a maioria julgou que os bens culturais sao de fácil acesso, no entanto, afirmaram que nao frequentam com regularidade esses espaços (museus, teatros, cinemas, planetários etc). Sendo assim, torna-se evidente a necessidade da escola assumir essa funçao de oportunizar momentos de formaçao cultural dos educandos. Pois, é de fundamental importância a realizaçao de atividades dessa natureza dentro do contexto de formaçao aluno da EJA, uma vez que, possibilita momentos que alfabetizaçao científica do aluno cidadao/trabalhador (AUGUSTINHO, VIANA, ROÇAS, 2011).

No que se refere a trajetória escolar dos entrevistados, apresentamos um Quadro resumo das suas respostas. Entretanto, cabe ressaltar que, apenas um aluno nao relatou interrupçöes na sua trajetória escolar, todavia, passou por múltiplas reprovaçöes, o que acarretou sua entrada na EJA.

Analisando o quadro resumo, percebemos que a maioria interrompeu sua trajetória escolar, buscando visualizar melhor o que levou essas paradas ao longo de sua formaçao, os alunos foram questionados sobre quais motivos contribuíram para essas interrupçöes. O Gráfico 5 nos traz um panorama das respostas.

Analisando o gráfico, percebemos que muitos foram os motivos elencados pelos participantes, no entanto, todos voltaram a escola visando concluir seus estudos. Sendo assim, questionamos os mesmo sobre os motivos que levaram o reingresso escolar. No Gráfico a seguir observamos a distribuiçao das respostas.

Portanto, a partir da análise do Gráfico 6, percebemos que a maioria sinalizou a necessidade de ter uma formaçao. Retomando os dados do Quadro resumo, os participantes foram questionados sobre o que esperam conseguir a partir da conclusao de seus estudos, e todos sinalizaram que pretendem continuar estudando, tentar o ingresso em uma faculdade, conseguir um emprego, dentre outras possibilidades.

5 CONSIDERAÇOES FINAIS

Concluimos, ressaltando que, as características do contexto em que o educando está inserido tém forte influencia na aprendizagem, perpassando os espaços socioculturais, institucionais e pessoais. Sendo assim, as atividades que visam contribuir com a formaçao cultural do aluno sao de extrema importancia no contexto académico.

Ressaltamos no decorrer do artigo a importancia do processo de formaçao cultural dos alunos da EJA, por intermedio da reflexao de um filme, visto que, a linguagem cinematográfica auxilia na leitura de mundo, permitindo o estabelecimento das relaçöes entre o saber científico e a realidade dos educandos.

Compreendendo a formaçao cultural como o processo pelo qual o individuo se conecta ao mundo da cultura por meio de atividades especificas, realizamos um estudo com alunos do CEJA Professora Lia Campos que participaram de uma atividade na disciplina de Física, a qual tinha por objetivo promover o diálogo entre Ciencia e Arte, a partir da exibiçao do filme "Uma Viagem Extraordinária".

Sinalizamos que os dados da pesquisa revelaram um cenário que está em consonancia com os estudos realizados na área. Vale salientar que, a maioria dos estudantes envolvidos na atividade elencaram que as reflexóes sobre Ciencia e Arte provocadas através do filme foram significativas. Portanto, é de fundamental importancia a realizaçao de atividades dessa natureza dentro do contexto de formaçao cultural do aluno da EJA, uma vez que, possibilita momentos que alfabetizaçao científica do aluno cidadao/trabalhador.

Nesse contexto, finalizamos ressaltando a importancia da proposta para nossa formaçao enquanto professoras/pesquisadoras da área de ensino. Sao atividades dessa natureza que procuram superar a perspectiva "tradicional" de ensino e visam contribuir para a formaçao de um cidadao crítico e participativo, que nos motivam a continuar as pesquisas na área, em especial, estudos voltados para a formaçao cultural do discente da EJA.

Footnote

1 A Banca permanente de avaliaçao aplica provas e emite certificado de escolaridade as pessoas que nao tiveram oportunidade de estudar na idade adequada.

2 Este tipo de escala está baseado no princípio de que a atitude geral do entrevistado remete as crenças sobre o objeto a ser investigado, assim a questao é constituida por afirmaçöes relacionadas com o objeto pesquisado, ou seja, sao afirmaçöes assertivas sobre o assunto.

3 Este questionário seguido de entrevista estava inserido em uma atividade interdisciplinar como requisito de avaliaçao das disciplinas: CONCEPÇÖES E PRINCIPIOS DO PROEJA; DIVERSIDADE CULTURAL E INCLUSĀO SOCIAL; PROCESSOS COGNITIVOS E CULTURAIS DA APRENDIZAGEM DOS JOVENS E ADULTOS, POLÍTICAS E LEGISLAÇAO EDUCACIONAL DO PROEJA; GESTĂO DEMOCRÁTICA; CONCEPÇÖES CURRICULARES EM PROEJA; E DIDÁTICA EM PROEJA. Do Curso Superior de Pos-Graduaçao LatoSensu em nivel de Especializaçao, em Educaçao Profissional Integrada a Educaçao Básica na Modalidade de Educaçao de Jovens e Adultos - PROEJA do IFRN Campus EAD - Natal central.

4Segundo Figaro (2008), a categoria mundo do trabalho é ampla, complexa e envolve uma série de fatores, que se encontram inter-relacionados. Em resumo, o mundo do trabalho passa a existir a partir das relaçoes geradas pela atividade humana do trabalho, e essas relaçoes, simultánea e retroativamente, configuram e regulam essa atividade humana.

References

6 REFERENCIAS

ALVES FERREIRA, Ricardo et al. Cinema e ensino de Física. In: XVIII Simposio Nacional de Ensino de Física. Vitoria, 2009.

AUGUSTINHO, Elizabeth; VIANA, Sandra da Silva; RÖÇAS, Giselle. O uso do Cinema como ferramenta pedagógica para o ensino de ciencias no curso PROEJA. Disponível em: http://www.nutes.ufri.br/abrapec/viiienpec/resumos/R1057-1.pdf, 2011. Acesso em 12/03/13.

BRASIL. Ministerio da Educaçao - MEC, Conselho Nacional de Educaçao e Cámara de Educaçao Básica. Resoluçao CNE/CBE 2/2012 - Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Brasília, 2012.

BRASIL. Ministerio da Educaçao - MEC, Secretaria de Educaçao Média e Tecnológica Semtec. Parámetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Brasília: MEC/Semtec,2000.

BRAGA, Marco; GUERRA, Andreia ; REIS, José Claudio. Cinema e História da Ciencia na Formaçao de Professores. In: XVII Simposio Nacional de Ensino de Física, 2007, Sao Luís. Sao Paulo: SBF, v. 1, p. 1-9, 2007.

DUARTE, R. Cinema e educaçao. Belo Horizonte: Autentica, 2002.

FANTIN, Monica. Produçao cultural para crianças e o cinema na escola. Caxambu: 29? Reuniao Anual da Anped, 2006.

FERNANDES, Simone Aparecida. O ENSINO DE FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO E OS PROCESSOS SELETIVOS PARA O ENSINO SUPERIOR. 2004. 155 f. Dissertaçao (Mestrado) - UFMG, Belo Horizonte.

FERREIRA, Valéria Fabiana S. et al. Cinema e Educaçao: Reflexöes sobre uma prática pedagógica. In: IV Coloquio Internacional: Educaçao e Contemporaneidade. Laranjeiras, 2010.

GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. Sao Paulo: Atlas, 2008.

KENOMA. Brasil: Warner Bros, 1998. P&B.

LEAL, Lucas. Cinema e/ou filme: Tecnología e Arte na educaçao de jovens e adultos. Encontro FunArte políticas para as Artes. RJ/2011.

LÜDKE, M.; ANDRÉ, M. E. D. A. de. Pesquisa em Educaçao: abordagens qualitativas. Sao Paulo: EPU, 1986.

MARTINS, André Ferrer P. Física ainda é cultura? Sao Paulo: Editora Livraria da Física, 2009.

MENEZES, Luís Carlos de. Uma física para o novo ensino médio. Física na Escola, Sao Paulo, v. 1, n. 1, p. 6-8, out. 2000.

NAPOLITANO, Marcos. Como usar o Cinema na sala de aula, 5^ ediçao - Sao Paulo: Editora Contexto, 2013.

NOGUEIRA, Monique Andries. A formaçao cultural de professores ou a arte da fuga. Goiânia: Editora da UFG, 2008.

NOGUEIRA, Monique Andries. Experiencias estéticas em sala de aula: possibilidades na formaçao cultural de futuros professores. ANPED. GE-01: Educaçao e Arte. Disponível em:<http://www.anped.org.br/reunioes/31ra/1trabalho/GE01-4022-Int.pdf.> Acesso em 12/03/13.

OLIVEIRA, Marta Kohl de. Jovens e adultos como sujeitos de conhecimento e aprendizagem. Revista Brasileira de Educaçao, n 12, p. 59-73 set/out/nov/dez 1999

PIASSI, Luís Paulo de Carvalho. Interfaces didáticas entre cinema e ciencia: um estudo a partir de 2001 uma odisseia no espaço. Sao Paulo: Editora Livraria da Física, 2013.

PIASSI, Luís Paulo. Literatura e cinema no ensino de Física: interfaces entre a ciencia e a fantasia/ Luís Paulo Piassi, Emerson Ferreira Gomes, Joao Eduardo F. Ramos; Maurício Pietrocola, (coordenador). - 1 ed. - Sao Paulo: Editora Livraria da Física, 2007. - (Coleçao professor inovador).

SEVERINO, Antonio Joaquim. Metodologia do Trabalho Científico. 23^ ed. Sao Paulo: Cortez, 2007.

SILVA, Maria Romenia da. A linguagem audiovisual do cinema como elemento integrador da arte e ciencia na formaçao cultural dos professores de ciencias e matemática. 2015. 273f. Dissertaçao (Mestrado Profissional em Ensino de Ciencias Naturais e Matemática) - Centro de Ciencias Exatas e da Terra, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal.

SOUZA, Joao Francisco (Org.). A Educaçao de Jovens e Adultos no Brasil e no Mundo. Recife: Bagaço, 2000.

SUANNO, Marilza Vanessa Rosa. Formaçao Cultural de professores: conhecimento e sentipensar. IX Congresso Nacional de Educaçao - EDUCERE, Porto Alegre: PUCRS, 2009

UMA VIAGEM EXTRAORDINARIA. Direçao de Jean-pierre Jeunet. França, Canadá: California Filmes, 2014. P&B.

XAVIER, Carlos H. Guergel et al. O uso do Cinema para o ensino de física no ensino médio. Experiencias em Ensino de Ciencias, Mato Grosso, p. 93-106, 2010.

ZANETIC, Joao. Física e Arte: uma ponte entre duas culturas. Pro-Posiçöes, v.17, n. I (49) - jan./abr. 2006.

ZANETIC, Joao. Física também é cultura. 1989. Tese (Doutorado em Educaçao) - Faculdade de Educaçao, Universidade de Sao Paulo, Sao Paulo.