RESUMO
Este estudo objetivou analisar as associações entre diferentes domínios da atividade física (AF) e a dor lombar não especifica em adolescentes. Estudo transversal de base escolar realizado com adolescentes de uma cidade do sul do Brasil. Foram analisadas a dor lombar inespecífica, diferentes domínios da AF (deslocamento até a escola, a participação nas aulas de educação física escolar, a participação em escolinhas esportivas e o nível de atividade física geral), sexo, idade, nível socioeconómico e zona de moradia. Participaram do estudo 1.455 adolescentes (50.9% do sexo feminino) com média de idade de 13.5 (±2.02) anos. A prevalência de dor lombar foi de 16.1% (IC95%:14.2-17.9). A não participação nas aulas de Educação Física escolar foi o único dominio da AF a se associar com a presença de dor lombar (OR:2.26; IC95%:1.48-3.47). A não participação nas aulas de Educação Física aumenta a chance de adolescentes apresentarem dor lombar inespecífica.
Palavras-chave: Atividade Motora, Coluna Vertebral, Educação Física, Adolescentes.
ABSTRACT
This study aimed to analyze the associations between different domains of physical activity (PA) and nonspecific low back pain in adolescents. A school-based study with adolescents randomly selected from a city in the south Brazil. Analyzed variables were nonspecific low back pain, different domains of PA (commuting to school, participation on physical education classes, participation on classes of sports teams, and the general physical activity level), sex, age, socioeconomic status and living area. 1,455 adolescents (50.9% female) with a mean age of 13.5 (± 2.02) years participated of the study. Low back pain prevalence was 16.1% (95% CI: 14.2-17.9). The non-participation in physical education classes was the only domain of PA to be associated with the presence of low back pain (OR: 2.26; 95% CI: 1.48-3.47). Non-participation in Physical Education classes increases the chance of adolescents presenting nonspecific low back pain.
Keywords: Motor activity, Spine, Physical education, Adolescents.
(ProQuest: ... denotes formulae omitted.)
INTRODUÇÃO
A prática regular de atividade física (AF) na adolescencia está relacionada a benefícios a saúde em curto e longo prazo (Warburton & Bredin, 2017). Esse comportamento durante a infancia e adolescencia aumenta a chance de uma vida adulta físicamente ativa (Corder et al., 2019). Sendo assim, estimular a AF durante os anos da infancia e adolescencia é uma importante ação de saúde pública para todas as populaçöes, pois estima-se que de 6 a 10% das principais doenças nao transmissíveis estao atribuidas a falta de AF regular (Lee et al., 2012).
Dentre os problemas de saúde associados a inatividade física, a dor lombar nao específica merece atençao, uma vez que as prevalencias tem se apresentado elevadas já na adolescencia (De Vitta et al., 2011; Hoy et al., 2012; Noll et al., 2016). A partir disso, uma recente revisao de literatura (O'Sullivant al., 2017) demonstrou que a dor lombar nao específica na adolescencia está associada a outras dores músculo-esqueléticas, ao aumento da procura por atendimento médico, ao uso de medicamentos, ao afastamento mais frequente da escola e do trabalho, além de modificar as atividades físicas e funcionais.
Apesar de evidencias indicarem o efeito positivo da AF na prevenção e na redução da intensidade dos quadros de dor lombar (Gordon & Bloxham, 2016), tais associaçöes no período da adolescencia nao sao consistentes. Resultados de alguns estudos indicam que praticar pouca AF ou ser sedentário (Graup et al., 2010; Hestbaek et al., 2008; Wedderkopp et al., 2009) assim como praticar AF de forma exagerada(Costa & Palma, 2005; Graup et al., 2010; Harreby et al., 1999; Lemos et al., 2013) podem se associar positivamente com os quadros álgicos, embora a magnitude das associaçöes sejam baixas (Minghelli, 2017). Desta forma, análises envolvendo diferentes domínios, padrÐes e tipos de AF e a dor lombar nao específica podem disponibilizar informaçöes adicionais para a melhor compreensao destas associaçöes e para direcionar a prescrição de práticas corporais adequadas, principalmente no ámbito da prevenção da dor em adolescentes. Diante dessas informaçöes, o objetivo do presente estudo é analisar a associação entre diferentes domínios da AF e a dor lombar nao específica de adolescentes.
MÉTODO
Este estudo transversal de base escolar faz parte do macroprojeto intitulado "Atividade física habitual e fatores associados em escolares de Uruguaiana/RS" realizado com adolescentes de 10 a 17 anos de idade, matriculados no turno diurno das redes de ensino público municipal e estadual de Uruguaiana, Brasil. O projeto foi analisado e aprovado pelo comite de ética em pesquisa da instituição dos pesquisadores (protocolo 042/2010) e desenvolvido em 2011.
População e Amostra
A população do estudo, de acordo com o Censo Escolar da Educação Básica do ano de 2010, foi de 15.210 (N) adolescentes na faixa etária determinada. O cálculo amostral para estimativa de prevalencias foi realizado a partir dos seguintes critérios: prevalencia de 50% (P), pois o projeto abordaria múltiplos desfechos; intervalo de confiança de 95% (1,96 dp); erro amostral de 3 pontos percentuais (d); e o acréscimo de mais 20% para suprir possíveis perdas e recusas. Com a utilização da equação (1), posteriormente a equação (2); por fim, (3) amostra + 20%(amostra), foi estimada a necessidade de avaliar 1.196 escolares:
... (1)
... (2)
... (3)
O critério de amostragem adotado foi probabilístico em múltiplas etapas. O município foi dividido em cinco áreas geográficas, quatro na zona urbana e a zona rural. Foi identificado o número de escolas e de alunos matriculados em cada área. A partir disto, foram selecionadas nove escolas, tres em uma das áreas urbanas e duas em cada uma das tres áreas restantes. Para os adolescentes da zona rural foi necessário selecionar, entre todas as escolas desta zona, apenas uma escola. Todos os escolares, da faixa etária proposta, foram convidados a participar do estudo e nesta ocasiao os objetivos e os procedimentos do estudo foram apresentados e os termos de consentimento livre e esclarecido e de assentimento entregues.
Os criterios de inclusao utilizados foram: a) estar matriculado na rede pública de ensino (estadual ou municipal) do municipio; e, b) apresentar o termo de consentimento livre e esclarecido assinado por um responsável e manifestar vontade em participar (assinando o termo de assentimento). Foram excluidos das análises os adolescentes fora da faixa etária de interesse e aqueles que apresentassem algum tipo de deficiencia que os impedissem de praticar AF e/ou de compreenderem a realização das medidas e que nao preencheram completamente os questionários especificos para o presente estudo. Nesses casos, com as devidas autorizaçöes os adolescentes participaram das coletas de dados, porém nao fizeram parte do presente estudo.
Variáveis e procedimentos de coleta de dados
O processo de coleta dos dados detalhado do macroprojeto supracitado já foi descrito anteriormente (Bergman net al., 2013). Para o presente estudo foram utilizados dados recolhidos de um questionário que continha questÐes relativas a: a) indicadores sociodemográficos (zona de moradia e estatuto socio económico); b) comportamentais (incluindo diferentes dominios da AF); e, c) histórico de dor lombar nao especifica. Os dados do macroprojeto foram coletados por um grupo de avaliadores capacitados (docentes, discentes e bolsistas da instituição onde o estudo foi conduzido).
A variável desfecho deste estudo foi a dor lombar nao especifica e as variáveis testadas como preditoras foram os quatro diferentes dominios da atividade fisica. Além disto, as variáveis sexo (masculino e feminino), idade (anos completos), nivel socioeconómico (Classificação Económica Brasil - Associação Nacional de Empresas de Pesquisa, 2011) e zona de moradia (rural e urbana, conforme informações da prefeitura municipal) foram usadas para o ajuste das análises. O nivel socioeconómico no Brasil é oficialmente classificado a partir dos bens materiais que a familia possui, como por exemplo, carro, televisor, geladeira, etc. As classificações variam entre A e E, podendo algumas letras ser desmembradas em 1, 2 e 3.
Dor lombar nao específica
A dor lombar nao especifica foi estimada com uma questao a adaptada do instrumento proposto por Sjolie (2004). Os adolescentes responderam a seguinte questao: "Voce já teve dor ou desconforto nas costas na regiao lombar? (ao lado da questao havia uma figura indicando a localização da regiao lombar)". A questao original pergunta sobre traumas e nao dores específicamente. A modificação na questao foi realizada para atender os objetivos deste estudo. As respostas possiveis foram: nunca; poucas vezes; muitas vezes e sempre. Para a realização das análises as categorias nunca e poucas vezes foram agrupas e consideradas como "sem dor lombar" e as categorias muitas vezes e sempre foram agrupadas e consideradas como "dor lombar".
Domínios da atividade física
Os dominios da atividade fisica considerados foram o deslocamento até a escola (ativo ou passivo), a participação nas aulas de educação fisica escolar (sim ou nao), a participação em escolinhas esportivas em dois ou mais dias da semana (sim ou nao) e o nivel de atividade fisica geral estimado pelos questionários Physical Activity Questionnaire for Older Children - PAQ-C e Physical Activity Questionnaire for Adolescents - PAQ-A em suas verÐes para crianças e adolescentes brasileiros (Guedes & Guedes, 2015). O estudo de Guedes e Guedes (2015) demonstrou que estes questionários possuem consistencia interna (a = 0,71 e a = 0,76, respectivamente). Os escores dos questionários demostraram correlações moderadas com AF geral (rho = 0,40; rho = 0,50) estimadas pelo acelerômetro.
As respostas as questÐes do PAQ-C e PAQ-A possibilitam a criação de um escore, que consiste em somatórios do tempo em atividade relatada e a quantidade de vezes por semana de todas as questÐes do questionário. A partir deste escore, conforme a proposta original, podem ser criadas cinco categorias de classificaçao: muito ativo, ativo, moderadamente ativo, sedentário e muito sedentário. No entanto, no presente estudo as categorias muito ativo e ativo foram agrupadas para fins estatísticos.
Análise estatística
As variáveis estudadas foram descritas em frequencias absolutas e relativas (proporçÐes) e intervalo de confiança de 95% (IC95%). Para identificar possíveis diferenças nas propon;Ðes de adolescentes que relataram dor lombar de acordo com as categorias das variáveis independentes foram utilizados os testes QuiQuadrado para heterogeneidade e Qui-Quadrado para tendencia linear. Para testar as assoc^Ðes entre os diferentes domínios da AF e a dor lombar foi utilizada a regressao logística binária, tendo o tamanho dos efeitos estimados pelas Odds Ratio (OR) brutas e ajustadas e seus respectivos intervalos de confiança. Na análise ajustada, que consiste em testar mais se uma variável se associa com a variável desfecho em um mesmo modelo de regressao, o método de entrada das variáveis no modelo foi "enter" e todos os domínios da AF foram inseridos, independente do nivel de significancia encontrado nas análises de Qui-quadrado. Além destas, as variáveis de ajustes foram inseridas no modelo. Permaneceram no modelo multivariável final os domínios da AF que se associaram a variável dependente a um nivel de significancia de p<0,05. Todas as análises foram realizadas utilizando-se o SPSS for Windows versao 20.0.
RESULTADOS
Foram avaliados 1.455 alunos com média de idade de 13,5 anos (DP=2,02). A prevalencia de dor lombar foi de 16,1% (IC 95%:14,2-17,9), sendo superior (p<0,05) nas meninas do que nos meninos. Vale ressaltar que foram considerados 1.377 indivíduos para o cálculo destas prevalencias, pois 78 adolescentes foram excluidos das análises porque nao preencheram as informaçÐes sobre dor lombar. A descrição das demais variáveis está apresentada na tabela 1.
Considerando os domínios da AF, a maioria dos adolescentes se desloca ativamente para a escola (75,7%) e participam das aulas de Educação Física (84,6%). É possível identificar ainda, que apenas cerca de um quarto dos adolescentes participam de alguma escolinha esportiva no mínimo duas vezes por semana e a maioria deles (68%) foram classificados como sedentário ou muito sedentário.
A ocorrencia de dor lombar de acordo com os diferentes domínios da atividade física está apresentada na tabela 2. É possível identificar que, na amostra total, a prevalencia de dor lombar foi superior entre os adolescentes que relataram nao participar das aulas de Educação Física escolar (p<0,001), e com tendencia linear de aumento a medida que o nível de AF diminui (p = 0,038). Quando estratificados por sexo, a prevalencia de dor lombar se mantém superior tanto para meninas quanto para meninos que relataram nao participarem das aulas de Educação Física Escolar (p<0,05).
Nas análises de regressao, considerando toda a amostra, os valores de Odds Ratio (OR) bruta, confirmam parcialmente os resultados das análises dos testes Qui-quadrado (tabela 3), pois apenas a nao participação das aulas de Educação Física manteve associação com a dor lombar, sendo que esta condição se manteve quando analisada em conjunto com as demais variáveis (OR ajustada).
Nas análises estratificadas por sexo, a nao participação nas aulas de Educação Física manteve associação com a dor lombar em meninos e meninas, tanto na análise bruta quanto na ajustada (Tabela 4). Adolescentes que relataram nao participar das aulas de Educação Física apresentaram chance significativamente maiores (meninos OR=3,50; meninas OR=2,06) de ter dor lombar em relação aqueles que relataram a participaçao.
Além deste resultado, a análise ajustada indicou que as meninas que nao participam de escolinhas esportivas no mínimo duas vezes por semana apresentaram 75% mais chances de exposição a dor lombar.
DISCUSSÃO
O presente estudo tem como proposta investigar a relação entre a dor lombar nao específica de adolescentes e os diferentes dominios da AF. A partir disso, nossos principais achados indicam que adolescentes que nao participam da educação física escolar (um dos dominos da AF) possuem mais chances de relatar dor lombar nao específica.
No presente estudo, o sexo feminino apresentou prevalencia superior (22%) a de seus pares do sexo masculino (10,5%), fato que vai ao encontro dos resultados de uma revisao sistemática sobre a prevalencia global de dor nas costas (Hoy et al., 2012). Esta prevalencia nos remete a um cuidado especial com os jovens, na medida em que o estudo de Noll et al. (2016) indicou que aproximadamente 16% dos adolescentes que sentem dor nas costas pelo menos uma vez por mes referem-se a essa dor como um impedimento a participação em esportes, brincadeiras e atividades diárias que requeiram esforço.
As maiores prevalencias no sexo feminino podem ser explicadas, ao menos em parte, pelas diferenças anatomofisiológicas que repercutem em diferenças no sistema endógeno de modulação da dor, isso contribui para a maior frequencia de quadros álgicos, além das características funcionais específicas, como articulaçöes mais frágeis e menor adaptação ao esforço físico vigoroso (Minatto et al., 2015). Ainda, a percepção da dor pode ser afetada por alteraçöes hormonais na puberdade, e que geralmente as meninas relatam mais sintomas dolorosos. A diferença na percepção da dor pode ser uma influencia neste aspecto, pois o ciclo menstrual faz com que as jovens respondam de forma distinta a sensibilidade a dor. Portanto, os resultados realcionados aos diferentes sexos, apesar de coerentes com a literatura (De Vitta et al., 2011; Gordon & Bloxham, 2016; Hoy et al., 2012; Noll et al., 2016; O'Sullivan et al., 2017) devem ser observados com cautela, visto que as dores relacionadas ao ciclo menstrual nao foram controladas pelos pesquisadores.
Com relação as análises de associaçao, a participação nas aulas de Educação Física Escolar se relacionou com ausencia dos quadros de dor lombar. No entanto, para analisar este resultado é necessária prudencia, pois a relação entre a AF e a dor lombar é complexa e os resultados encontrados na literatura nao sao consistentes. Neste cenário, existem evidencias de que tanto os baixos níveis de AF estao associados a dor lombar em adolescentes (Lemos et al., 2013; Wedderkopp et al., 2009), quanto a prática vigorosa de forma excessiva parece aumentar a chance de lombalgia nesta faixa etária (Shehab & Al-Jarallah, 2005).
Outro fator que deve ser considerado é que no presente estudo a participação nas aulas de Educação Física teve a maior frequencia positiva entre os domínios analisados, reforçando o fato de que este domínio se caracteriza como uma das principais oportunidades de acesso das crianças e adolescentes a prática de AF regular e orientada. Desta forma, nao apenas a frequencia das aulas é importante, mas também os tipos de atividades realizadas, pois a intensidade dessas atividades parece estar relacionada com a presença ou ausencia de dor lombar nos jovens (O'Sullivan et al., 2017). Esta atenção com as diferentes atividades conduzidas durante as aulas deve ser considerada como uma importante característica, visto que algumas evidencias sugerem um padrao nos conteúdos abordados nas aulas de Educação Física centrado apenas nas práticas esportivas (Hino et al, 2007).
Nesta perspectiva, o estudo de Coelho et al. (2005) verificaram que 69,8% dos avaliados que referiram praticar esporte na escola relataram nao possuir dores na lombar. Contudo, o mesmo estudo mostra que 54,4% dos sujeitos, que referiram nao participar de práticas esportivas, relataram ter lombalgia. Todavia, alguns autores (Fritz & Clifford, 2010; Polito et al., 2003; Skoffer & Foldspang, 2008) sugerem atenção na interpretação da prática esportiva e sua relação com a dor lombar. O estudo de Skoffer e Foldspang (2008) mostrou que com exceção da natação e do futebol, os outros esportes relatados por uma amostra de estudantes nao sao idealmente considerados como ferramentas para a prevenção de dor lombar, reforçando que o tipo de atividade pode estar relacionado aos quadros de dor. Corroborando esta afirmaçao, o estudo de Fritz e Clifford (2010) mostrou que o inicio dos sintomas de dor lombar em 40% dos adolescentes avaliados estava diretamente relacionado a prática esportiva de alto rendimento.
A ação protetora das aulas de educação Física Escolar para a dor lombar pode estar associada aos efeitos que estas aulas promovem sobre a aptidao física e, neste sentido, a flexibilidade tem se apresentado como um importante componente relacionado a prevenção de quadros de lombalgia (Polito et al., 2003). Considerando a relação das aulas de Educação Física escolar sobre os componentes da aptidao física, o estudo de Oliveira et al. (2017), comparando um programa de Atividade Física Programada com as aulas regulares de Educação Física ao longo de um período letivo, identificou que os níveis de flexibilidade aumentaram em ambos os grupos. Desta forma, nossa hipótese é que as aulas de Educação Física escolar podem promover estímulos suficientes para o aprimoramento da flexibilidade e esse efeito pode repercutir indiretamente na saúde lombar dos adolescentes.
Vale destacar que no presente estudo, nao foi encontrada associação significativa entre a participação em escolinha esportiva e os quadros de dor lombar no grupo geral. Resultado semelhante foi evidenciado em crianças e adolescentes de Porto Alegre/RS (Lemos et al., 2013) e Teutônia/RS (Noll et al., 2016) no qual a prática de AF regulares para além das aulas de Educação Física ou a prática de exercícios físicos sistematizados, nao apresentou associação significativa com a dor nas costas. Por outro lado, no estudo realizado por De Vitta et al. (2011), a prática de esportes fora das aulas de Educação Física esteve associada aos sintomas dolorosos na coluna lombar em uma amostra de 1.236 adolescentes de Bauru, SP.
Nesta perspectiva, considerando o sexo, na análise ajustada o grupo feminino apresentou associação significativa entre a participação em escolinha esportiva e os quadros de dor lombar, na qual, as adolescentes que nao participam apresentam chance 75% maior de exposição a lombalgia. Esta associação pode estar relacionada ao tipo de modalidade física praticada, pois mesmo nao considerando esta variável no presente estudo, existem evidencias de que as preferencias esportivas sao distintas entre os sexos (Junior et al., 2006) e, portanto, as posturas adotadas durante as práticas podem ser diferentes.
Considerando o domínio do deslocamento ativo, no presente estudo nao foi encontrada associação com a dor lombar, contrariando os resultados de Gunzburg et al. (1999) que indicam que adolescentes que vao caminhando ou de bicicleta para a escola apresentam menor ocorrencia de dor lombar e diagnóstico de lombalgia em comparação aqueles que vao para a escola de carro ou de transportes públicos.
Com relação ao nível de AF, assim como no presente estudo, Wedderkopp et al. (2003), analisando jovens dinamarqueses nao encontraram associação entre a inatividade física auto relatada e dor lombar. No entanto, um estudo longitudinal com uma coorte dinamarquesa mostrou que a AF na adolescencia nao foi associada a dor lombar, mas foi um fator preventivo 25 anos mais tarde (Harreby et al., 1999).
As diferenças entre os resultados do presente estudo e algumas evidencias disponíveis na literatura podem estar relacionadas as limitaçöes metodológicas, nas quais nao é possível identificar o tipo de atividade, a intensidade e a distancia percorrida no deslocamento ativo para a análise dos dados. Em futuros estudos, estes fatores devem ser controlados, pois evidencias científicas indicam que a participação em mais de seis horas de atividades intensas por semana, está relacionada com a dor lombar auto relatada (Auvinen et al., 2007).
CONCLUSÕES
Em conclusão, a associação dos diferentes dominios da AF com a dor lombar, no modelo ajustado, indicou que a nao participação nas aulas de Educação Física aumenta em mais de duas vezes a chance dos adolescentes apresentarem dor lombar inespecifica.
Agradecimentos:
Agradecemos a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nivel Superior (CAPES) pela bolsa de doutorado do autor JBM.
Conflito de Interesses:
Nada a declarar.
Financiamento:
Nada a declarar
Artigo recebido a 25.06.2019; Aceite a 05.06.2020
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© 2020. This work is published under https://creativecommons.org/licenses/by-nc/4.0/ (the “License”). Notwithstanding the ProQuest Terms and Conditions, you may use this content in accordance with the terms of the License.
Abstract
Este estudo objetivou analisar as associações entre diferentes domínios da atividade física (AF) e a dor lombar não especifica em adolescentes. Estudo transversal de base escolar realizado com adolescentes de uma cidade do sul do Brasil. Foram analisadas a dor lombar inespecífica, diferentes domínios da AF (deslocamento até a escola, a participação nas aulas de educação física escolar, a participação em escolinhas esportivas e o nível de atividade física geral), sexo, idade, nível socioeconómico e zona de moradia. Participaram do estudo 1.455 adolescentes (50.9% do sexo feminino) com média de idade de 13.5 (±2.02) anos. A prevalência de dor lombar foi de 16.1% (IC95%:14.2-17.9). A não participação nas aulas de Educação Física escolar foi o único dominio da AF a se associar com a presença de dor lombar (OR:2.26; IC95%:1.48-3.47). A não participação nas aulas de Educação Física aumenta a chance de adolescentes apresentarem dor lombar inespecífica.