RESUMO
Esta pesquisa objetivou compreender os impactos que a adoçâo do home office, no período da quarentena da Covid-19, teve no conflito trabalho-família vivida por trabalhadoras brasileiras. Para alcançar o objetivo, foram entrevistadas 14 profissionais com diferentes arranjos familiares. Todas as entrevistadas relataram sobrecarga de trabalho devido as exigencias organizacionais, as demandas com os filhos e com a casa. Apesar disso, cabe destacar que, de acordo com os depoimentos, a sobrecarga de trabalho nāo intensificou o conflito trabalho-família para todas, o que vai na contramāo do previsto na literatura. Algumas entrevistadas alegaram que o home office aproximou-as dos filhos e maridos e propiciou mais tempo para atividade físicas e de lazer. Tal achado pode contribuir para ampliar o debate sobre o conflito trabalho-família, muitas vezes conflituosa, ao postular que nāo apenas o tempo, a pressāo e o comportamento sāo fontes deste conflito, mas também a distancia física que as horas dedicadas ao trabalho fora de casa requerem.
PALAVRAS-CHAVES | Conflito trabalho-família, home office, Covid-19, quarentena, dupla jornada.
ABSTRACT
The aim of this research was to understand the impacts that working from home during the COVID-19 quarantine period had on the work-family conflict for Brazilian female workers. To reach the objective, fourteen professionals with different family arrangements, were interviewed. All the interviewees reported work overload due to organizational requirements, and the demands placed on them by their children and the home. Despite this, it is worth noting that, according to the testimonies, this work overload did not intensify the work-family conflict for all or them, contrary to what is claimed in the literature. Some interviewees stated that working from home brought them closer to their children and husbands, and provided more time for physical and leisure activities. This finding can contribute towards broadening the debate on work-family conflict, by postulating that it is not only time, pressure and behavior that are the sources of this conflict, but also the physical distance that the hours spent working away from the home imposes.
KEYWORDS | Family-work conflict, telework, COVID-19, quarantine, double shift.
RESUMEN
Esta investigación tuvo como objetivo comprender los impactos que la adopción del home office, durante el período de cuarentena de la COVID-19, tuvo sobre la relación trabajo-familia de las trabajadoras brasileñas. Para alcanzar el objetivo se entrevistaron catorce profesionales, con diferentes arreglos familiares. Todas las entrevistadas relataron sobrecarga laboral debido a las exigencias organizativas, obligaciones con sus hijos y con el hogar. A pesar de ello, cabe señalar que, según los testimonios, para ninguna de ellas la sobrecarga laboral dificultó la administración de la relación trabajo-familia, al contrario de lo previsto en la literatura. Algunas entrevistadas afirmaron que trabajar en el hogar las acercó a sus hijos y maridos y les proporcionó más tiempo para actividades físicas y de recreación. Este hallazgo puede contribuir a ampliar el debate sobre la relación trabajo-familia, a menudo conflictiva, al postular que no solo el tiempo, la presión y el comportamiento son fuentes de ese conflicto, sino también la distancia física impuesta por las horas dedicadas al trabajo fuera del hogar.
PALABRAS CLAVE| Conflicto trabajo-familia, oficina en casa, COVID-19, cuarentena, doble turno.
INTRODUÇÂO
Em 31 de dezembro de 2019, a Organizaçâo Mundial da Saúde (OMS) foi alertada sobre casos de pneumonia na cidade de Wuhan, na China, causados por um novo vírus. Poucos dias depois, a OMS declarou que o surto do coronavírus constituía uma Emergencia de Saúde Pública de Importancia Internacional e, em 11 de março de 2020, a Covid-19 foi caracterizada pela OMS como uma pandemia (OPAS, 2020).
Com o alerta da OMS, o Ministerio da Saúde do Brasil definiu uma série de medidas a serem adotadas para o combate ao coronavírus (Agencia Brasil, 2020). E, para adequar-se a essas diretrizes, muitas empresas suspenderam total ou parcialmente suas atividades ou, quando foi possível, passaram a operar na modalidade de home office. A interrupçâo de diversas atividades produtivas teve impactos imediatos na força de trabalho, mas esses impactos atingiram, de forma desigual, o contingente de trabalhadores/as. De acordo com Barbosa, Costa & Hechsher (2020), trabalhadores/as que já se encontravam em condiçöes desfavoráveis, tais como jovens, pretos/as, mulheres, pessoas pouco escolarizadas e informais, foram mais afetados/as pela crise, perdendo emprego e renda em proporçoes maiores do que os grupos privilegiados.
A crise produzida pela pandemia agravou o desemprego e a precarizaçâo do trabalho em curso no Brasil, nas últimas décadas (Martins, Lipp & Monteiro Junior, 2020; Melo & Cabral, 2020). A Pesquisa Nacional por Amostras de Domicilios (PNAD Covid-19), iniciada em maio de 2020, registrou, em setembro, um aumento de desempregados/as de 33%, o que se traduz em 3,4 milhÐes de pessoas em busca de empregos. Os dados dessa pesquisa indicam ainda o acirramento de desigualdades históricas no mercado de trabalho brasileiro: enquanto o desemprego entre as mulheres ficou em 17%, entre os homens o percentual foi de 11,8%, em setembro. Entre pardos e pretos, registrou-se 16,1%, contra 11,5% para brancos (IBGE, 2020).
Por afetar de forma desigual a força de trabalho, a pandemia trouxe impactos diversos para diferentes grupos ocupacionais. Se, conforme anteriormente relatado, ampliou a parcela de trabalhadores/as excluídos/as do mercado de trabalho, por outro forçou trabalhadores/as em cond^Ðes mais favoráveis a adaptarem-se ao trabalho remoto, como forma de manterem seus empregos. A estrategia do trabalho remoto ou home office foi adotada por 46% das empresas brasileiras (Agencia Brasil, 2020b). Todavía, a iniciativa desse tipo de trabalho acentuou a desigualdade social já mencionada. Uma pesquisa encomendada pela C6 Bank e realizada pelo Datafolha mostra que as classes A e B foram as que mais conseguiram aderir ao home office, configurando 52% dos trabalhadores desse grupo. Na classe C, esse foi o caso de apenas 29% dos profissionais; e os trabalhadores pertencentes âs classes D e E representam percentuais ainda menores de adoçâo do home office: 26% (C6Bank notícias, 2020). A pesquisa ainda alerta para o aspecto de que a desigualdade na adoçâo do home office nas cond^Ðes de pandemia reflete as desigualdades de genero, classe e cor da pele.
A adoçâo repentina do home office durante a quarentena (Savic, 2020; Waizenegger, McKenna, Cai & Bendz, 2020) obrigou os profissionais e suas famílias a adaptarem-se â nova realidade: os trabalhos domésticos se intensificaram devido â ausencia dos serviços habitualmente contratados; escolas e universidades passaram a ter o conteúdo ministrado através de plataformas digitais; os encontros sociais e as atividades físicas passaram a ser feitos â distancia. Tais mudanças produziram impactos diversos na vida profissional dos trabalhadores brasileiros, o que motivou a realizaçâo de estudos recentes com vistas a analisar os efeitos na produtividade do trabalho da adoçâo do home office, no contexto da pandemia (Mendes, Hastenreiter Filho e Tellechea, 2020).
Pesquisa realizada em abril de 2020 pelo LinkedIn indicou que 62% dos entrevistados estâo mais estressados com o trabalho do que antes. Estes afirmam que tem trabalhado mais horas (68% tem trabalhado pelo menos uma hora a mais por dia, sendo que 21% chegam a trabalhar até quatro horas a mais). Além disso, 20% apontam dificuldades para conciliar as demandas do trabalho com o cuidado dos filhos. Mas, apesar dessas dificuldades, 59% dos entrevistados afirmam que, com a quarentena, tem tido mais tempo de qualidade com a família (Tobias, 2020).
O entendimento de que a adoçâo do home office no contexto da pandemia produziu efeitos na relaçâo entre trabalho e vida familiar para os trabalhadores, em geral, e para as trabalhadoras, em particular, motivou a realizaçâo da presente pesquisa que buscou compreender os impactos da adoçâo dessa modalidade de trabalho no conflito trabalho-família das trabalhadoras. Tal interesse é decorrente da constataçâo de que, no Brasil (Melo & Thomé, 2018), cabe historicamente âs mulheres a maior responsabilidade pelos cuidados com a casa e com os filhos. Dados divulgados pelo IBGE (2019) sobre "outras formas de trabalho" apontam que a taxa de realizaçâo de afazeres domésticos das mulheres foi de 92,2% ratificando sua superioridade em relaçâo ao percentual de homens, que totalizou 78,2% (IBGE, 2019). Tais indicadores nos levaram a pressupor que a súbita necessidade de ter que trabalhar em casa, cuidar dos afazeres domésticos e dos filhos trouxe mais sobrecarga para as mulheres.
A literatura sobre o conflito trabalho-família corrobora essa pressuposiçao ao evidenciar que o conflito, quando ocorre, atinge de forma mais intensa as mulheres, sobretudo aquelas que sao m&acaron;es (Greenhaus & Beutell,i985; 2012; Roman, 2017). Dessa forma, o presente trabalho buscou contribuir para o debate com enfase na questao de genero. Cabe destacar que, embora já exista uma literatura expressiva sobre a pandemia da Covid-19, no campo da administraçao brasileira, a maioria dos trabalhos aborda temáticas ligadas ao turismo (Coelho & Mayer, 2020; Trigo, 2020) e â administraçao pública (Santos, 2020; Costa, 2020). Raros estudos abordam os impactos da questao do home office e a ocorrencia de conflitos entre trabalho e família, o que reforça a relevancia de se estudar o tópico.
Para alcançar o objetivo da pesquisa, foram realizadas entrevistas com 14 mulheres, com filhos e sem filhos, casadas e solteiras. As bases conceituais, a metodologia e os resultados do estudo sao apresentados nas seçöes seguintes.
CONFLITO TRABALHO-FAMÍLIA
O conflito trabalho-família é definido como um conjunto de pressóes que ocorrem quando, ao se desempenhar os papéis profissional e pessoal, o atendimento a um papel torna difícil a conformidade com o outro (Eby, Casper, Lockwood, Bordeaux & Brimley, 2005; Netmeyer, Boles & Mc Murrian, 1996; Leslei, King & Clair, 2019; Zhao, Cooklin, Richardson, Strazdins, Butterworth & Leach, 2020).
Há evidencias de que, para aqueles que tem filhos, os aspectos do trabalho invadem a vida familiar, algumas vezes de maneira positiva, considerando os ganhos financeiros, e, outras vezes, de maneira negativa, pois o tempo dedicado ao trabalho limita a atençao â família (Baxter & Alexander, 2008). As lutas no gerenciamento do trabalho e da família ocorrem quase diariamente e tem consequencias tanto para as atividades profissionais como para a vida pessoal (Pluut, Lies, Curseu & Liu, 2018).
As principais fontes do conflito trabalho-família sao: tempo, pressao e comportamento. Quanto mais importante um papel é para um indivíduo, mais tempo dedicará a ele e mais pressóes e comportamentos específicos serao exigidos para desempenhar um desses papéis, o que resultará em menos tempo e energia para o outro. As obrigaçoes em cumprir uma determinada funçao interferem na realizaçao da outra e o nível de desempenho em uma funçao pode sacrificar a outra (Greenhaus & Beutell, 1985).
A ocorrencia de conflito é mais comum entres casais com filhos do que sem filhos e é mais frequente quando a idade dos filhos é menor que 18 anos (Baxter & Alexander, 2008; Greenhaus & Beutell, 1985; Gordon e Whelan-Berry, 2004). Alguns fatores relacionados ao trabalho e â família diferem entre homens e mulheres (Beutell & O'Hare, 2018), o que torna o genero um fator central uma vez que as maes geralmente relatam níveis mais altos de conflito do que os pais (Minnotte, 2012; Roman, 2017; Leslei, King & Clair, 2019). No Brasil, estudos apontam que a taxa de realizaçao de afazeres domésticos das mulheres foi de 92,2% enquanto que os homens representam 78,2% (IBGE, 2019). Essa desigualdade de tempo e energia provoca maiores dificuldades para as mulheres dedicarem-se â área profissional (Melo & Thomé, 2018).
No modelo de família formada por um homem e uma mulher, o apoio do marido e a dedicaçao âs tarefas domésticas é primordial para que a mulher avance em sua carreira e consiga conciliar as esferas familiar e laboral (Gordon & WhelanBerry, 2004; Huffman, Casper & Payne, 2014; Lee, Zvonkovic & Crawford, 2014). Além disso, é sabido que outros membros da família podem dar suporte para os pais, no cuidado com os filhos (Dessen & Braz,2000). A terceirizaçao dos cuidados dos filhos, com a contrataçao de babás e creches, também auxilia as maes a conciliarem a maternidade com o trabalho (Lemos & Cavazotte, 2018).
A entrada da mulher no mercado propiciou a intensificaçâo do conflito trabalho-família (Santujá & Barham, 2005), o que leva muitas maes a restringirem sua participaçao na força de trabalho para atender âs necessidades familiares (Beutell & O'Hare, 2018; Peters & Blomme, 2019) ou mesmo a interromperem suas carreiras (Elliot, 2002; Warner, 2013).
O aumento da prevalencia de famílias monoparentais tem sido frequentemente mencionado como uma importante mudança demográfica. No Brasil, nas últimas décadas, as mulheres estao assumindo, cada vez mais, o posto de referencia nos domicílios (IPEA, 2017). No entanto, poucas pesquisas exploraram as experiencias de famílias monoparentais equilibrando trabalho e família. Pesquisas com maes solteiras mostram que seus níveis de conflito tendem a ser mais altos do que das maes que vivem com parceiros (Roman, 2017; Minnotte, 2012).
O número de horas trabalhadas e a inflexibilidade cronológica tem sido associados ao conflito trabalhofamília (Greenhaus & Beutell, 1985; Beutell & O'Hare, 2018), consequentemente, a flexibilidade do horario de trabalho torna-se uma aliada para conciliar essas esferas. E o home office é um dos meios adotados dentro dessa ideia da flexibilidade. Todavía, nem sempre esses arranjos oferecem mais equilíbrio, levando as demandas do trabalho a interferirem no tempo disponível para a vida pessoal (Greenhaus & Powell, 2006; Azara, Khana & Eerdeb, 2018; Beutell & O'Hare, 2018).
A exaust&acaron;o física está constantemente presente no conflito trabalho-família justamente por causa da sobrecarga envolvida (Pluut, et al., 2018). Além disso, podem surgir problemas como estresse, depress&acaron;o, hipertens&acaron;o, ansiedade, transtomos de humor e abuso de substancias como maior consumo de álcool (Eby et al., 2005; Oliveira, Cavazotte & Paciello, 2013).
HOME OFFICE: TENDENCIA EM ASCENSÄO?
Segundo a Organizag&acaron;o Internacional do Trabalho (OIT), o trabalho remoto ou home office - termo comumente utilizado no Brasil para designar essa modalidade - pode ser definido como atividades realizadas em espaços diferentes dos escritorios centrais, sendo a integração entre os profissionais mediada por tecnologías digitais como smartphones, laptops e computadores desktop, entre outros. Cabe destacar que as expressoes telework, home office, virtual work, telecommuting e remote work s&acaron;o indiscriminadamente empregadas quando se associa o trabalho desenvolvido fora do cenário laboral tradicional (OIT, 2017; Zerbini & Zerbini, 2020). Nos últimos anos, o home office ganhou força entre os brasileiros: entre 2016 e 2017 o número de adeptos aumentou 16,2% e entre 2017 e 2018 cresceu 21,1% (Agencia Brasil, 2020b).
A literatura sobre o tema destaca que o home office apresenta vantagens, pois permite melhor acomodação entre os horários dedicados ao trabalho e as responsabilidades domésticas e familiares, trazendo maior produtividade e melhor equilibrio entre essas esferas. Ademais, sua adoção reduz os custos com o transporte casa-trabalho. Como desvantagem menciona-se a tendencia a superindividualização do trabalho, o que pode gerar isolamento social, profissional e político. O aumento das horas dedicadas ao trabalho também é reportado como consequencia negativa do home office (Ferreira Jr., 2000; OIT, 2017; Haubrich & Froehlich, 2020).
N&acaron;o s&acaron;o todos os profissionais que se adaptam ao home office, pois este requer autodisciplina, organização, autonomia e prazer em trabalhar sozinho (Haubrich & Froehlich, 2020). Os profissionais com filhos pequenos enfrentam mais dificuldades para trabalhar em casa, o que indica que essa opção n&acaron;o é conveniente, para muitos (Habib & Conrford, 1996).
O home office implementado em decorrencia da pandemia da Covid-19 é um arranjo eventual, pois foi a modalidade de trabalho adotada por muitas empresas para contornar a crise (Agencia Brasil, 2020b). As pessoas que est&acaron;o trabalhando em casa muitas vezes tiveram horários de trabalho modificados e possuem grandes chances de interrupçöes e distraçöes com a presença da familia que também se encontra em casa devido a pandemia (Spurk & Straub, 2020).
METODOLOGIA
Para alcançar o objetivo de pesquisa, optou-se por uma investigação de natureza qualitativa, tendo sido entrevistadas 14 mulheres, com idades entre 33 e 55 anos, por meio de uma plataforma de comunicação digital, em junho de 2020. A maioria das entrevistadas é do Rio de Janeiro, todas trabalhavam de modo presencial e se adaptaram ao home office devido a pandemia. Como perfil, buscou-se por profissionais com carreiras consolidadas, atuantes em diferentes segmentos económicos. O acesso a essas mulheres deu-se por meio de círculos de relacionamentos, complementado pela técnica "bola-de-neve". Dentre as entrevistadas há mulheres casadas, solteiras, viúvas e divorciadas com e sem filhos. As entrevistas aconteceram com base em um roteiro semiestruturado, com perguntas que versavam sobre a rotina de trabalho antes e depois da pandemia e sobre as estratégias utilizadas para conciliar trabalho e vida pessoal/familiar, no novo contexto.
As entrevistas foram gravadas e duraram de 20 a 40 minutos. Os relatos obtidos foram analisados por meio da análise de conteúdo (Bauer & Gaskell,2002), com vistas a identificar os elementos que permitissem responder a principal indagação dessa pesquisa: quais os efeitos produzidos no conflito trabalhofamília de trabalhadoras em decorrencia da adoção do sistema home office, no contexto da quarentena da Covid-19? A tabela 1 apresenta os perfis e nomes fictícios das entrevistadas.
ANÁLISE E DISCUSSÄO DOS RESULTADOS
Esta pesquisa buscou compreender os impactos que a adoção do home office teve no conflito trabalho-família de trabalhadoras, no período da quarentena da Covid-19.
Ao se analisar os depoimentos obtidos, o primeiro ponto a merecer destaque diz respeito ao fato de todas as entrevistadas terem relatado aumento de volume de trabalho, no período investigado. Tal afirm^ão n&acaron;o causa surpresa, pois a condiçao excepcional em que se deu a passagem para o home office conjugou as exigencias do trabalho corporativo com as demandas dos cuidados da casa e dos filhos, no caso daquelas que s&acaron;o m&acaron;es. Ademais, o confinamiento social imposto fez com que toda a família ficasse em casa, simultaneamente. A sobrecarga de trabalho deveu-se, em parte, a necessidade das entrevistadas se dedicarem as tarefas domésticas, posto que dispensaram os serviços de suas empregadas e faxineiras e, também, a atençao com os filhos que passou a ser requerida, já que estes passaram a estudar em casa, remotamente. Além desses aspectos, as condiçöes abruptas em que se deu a passagem para o trabalho remoto (Savic, 2020; Waizenegger, McKenna, Cai & Bendz, 2020), sem planejamento ou preparaçao prévia, na contramao do preconizado pela literatura sobre o tema (Haubrich e Froehlich, 2020), apesar de compreensíveis no contexto estudado, também aumentaram as dificuldades das entrevistadas. Algumas se viram sem recursos materiais adequados para o trabalho, como computadores e mobiliário; outras se ressentiram da falta de organizaçao do trabalho, o que gerou ainda mais sobrecarga.
Mas o aumento da carga de trabalho vivido pelas entrevistadas nao intensificou o conflito trabalho-família para todas, como se poderia supor com base nos achados da literatura sobre o tema (Greenhaus & Beutell, 1985; Beutell & O'Hare, 2018). De fato, uma parte das entrevistadas confirmou essa situaçao: sobrecarregadas com cuidados da casa, dos filhos e com as exigencias do trabalho, elas relataram que nao estao dando conta de atender as múltiplas demandas e se mostraram bastante angustiadas com a vivencia atual. Alegam que nao conseguem fazer nada a contento: nao cuidam da casa e dos filhos como desejariam e nao atendem as demandas do trabalho, como deveriam. Estressadas, algumas recorrem ao consumo cotidiano de álcool para desanuviar. Nesse sentido, seus relatos corroboram os pressupostos que inspiraram este trabalho e que apontam para um acirramento do conflito, no contexto da quarentena.
Entretanto, parte das entrevistadas, apesar de também se sentir sobrecarregada, nao parece ter vivenciado a experiencia de home office como intensificadora do conflito trabalhofamília (Ferreira, 2000; Haubrich & Froehlich, 2020; OIT, 2017). Na contramao do que a literatura sobre o tema nos levaría a pressupor, elas alegam que estao gostando da vivencia, pois estao mais próximas dos filhos e dos maridos, além de terem mais tempo para atividades físicas e de lazer. Tal constataçao nos levou a querer entender melhor as nuances por trás dessas experiencias dispares: acirramento do conflito trabalho-família, para parte das entrevistadas, e atenuaçao do conflito, para outra parte, a julgar pelos depoimentos. Para aprofundar essa discussao foram criados dois tópicos: o primeiro discute os motivos que levaram algumas entrevistadas a aumentar suas vivencias de conflito; o segundo, aborda as condiçöes que amenizaram o conflito.
Home office na quarentena e intensificaçâo do conflito trabalho-família
Conforme destacado, parte das entrevistadas, assoberbadas pelas múltiplas demandas de trabalho geradas no contexto do home office da quarentena - trabalho corporativo, doméstico, e/ ou cuidado dos filhos - se mostraram insatisfeitas com a situaçâo vivida. Esse grupo é formado por Marcela, Fernanda, Larissa, Maria, Mariana e Fátima. Marcela, 42 anos, divorciada e com uma filha de 12 anos e outra de 1 ano, relata a dificuldade de conciliar as duas esferas com uma frase emblemática:
"Impossível, eles sabem que é impossível! O meu chefe, graças a Deus é um cara lega. Nâo é que eu esteja de má vontade, que eu sou uma empregada encostada, nunca fui, mas estou em uma situaçâo que é impossível (...) participo de reuniâo assim como tô falando com voce; o áudio só ligo quando vou falar e mesmo assim tem vezes que ela (filha de 1 ano) tá aqui gritando".
Fernanda, também solteira e com quatro filhos com idades de 18, 11 e gemeos de 3 anos, expÐe sua situaçâo:
"Eu me sinto mal por isso, porque eu nâo tô participando de nada; ao mesmo tempo eu tenho a compreensâo da equipe, mas nâo sei até quando. Eu nâo me sinto bem (...) quando chegou a ferramenta pra eu trabalhar eu nâo tive mais a ferramenta porque é disputada por tres pessoas nessa casa, mas nâo consigo me concentrar; eles (os gemeos) ficam aqui pendurados atrás de mim."
Esses dois relatos evidenciam as dificuldades em atender as demandas do trabalho vividas por essas duas entrevistadas que sâo mâes de crianças pequenas, condiçâo que é destacada na literatura como intensificadora do conflito (Greenhaus & Beutell, 1985; Gordon & Whelan-Berry, 2004). Ademais, o fato de nâo viverem com os pais de seus filhos aumenta suas dificuldades, aspecto apontado nos estudos que destacam que mulheres com essa configuraçâo familiar enfrentam desafios ainda maiores para conciliar as esferas domésticas/familiares com a profissional (Minnotte, 2012; Roman, 2017). Essas entrevistadas nâo estâo conseguindo se dedicar ao trabalho como precisariam, tendo que contar com a boa vontade de chefias e equipes, algo que provavelmente se dá, apenas, pela excepcionalidade do contexto pandémico. Tampouco conseguem dar atençâo adequada aos filhos. Nos casos relatados, as entrevistadas nâo se frustram apenas com a baixa performance no trabalho, mas também com a falta de atençâo aos filhos:
"As vezes nem me dedico tanto mesmo em casa, tô sempre me cobrando, mas tem dias que nâo leio pra eles, tem dias que nâo brinco, porque já enchi o saco ou nâo tô com paciencia, nem estando com eles significa que tô com o tempo bom de dedicaçâo". (Fernanda, solteira, quatro filhos com idades de 18, 11 e gemeos de 3 anos)
Mas nâo sâo apenas as mulheres com essa configuraçâo familiar que relatam aumento do desequilibrio entre as esferas familiar e profissional, vividas nesse contexto. Larissa e Fátima, casadas e com filhos, também se ressentem da nova situaçâo:
"Eu tô ficando bem mais cansada; além dessas coisas (tarefas domésticas) tem que ficar o tempo todo de olho nos deveres do (filho)...eu só acompanhava, entâo era mais fácil; agora nâo, voce tem que assistir o vídeo, tem um vai e volta, tem que fazer o trabalho, rever o vídeo." (Larissa, filho de 11 anos e filha de 4 anos)
"Teve vezes de eu tá trabalhando e daqui a pouco falar 'meu Deus! Caramba! Ele tem que jantar.' Ai quando eu pego ele no berço, a criança está toda mijada porque fiquei tâo focada no trabalho [...] e o tempo passou demais. Eu tenho vontade de chorar quando isso acontece". (Fátima, filho de 10 anos e de 1 ano)
Conforme observado nos relatos, apesar de a presença de filhos pequenos em casa ser um fator que amplifica o conflito vivido por essas mulheres, Maria e Mariana casadas, mas sem filhos e ocupantes de cargos gerenciais, tampouco se mostraram satisfeitas com o home office:
"A sobrecarga do trabalho que causou a pandemia no meu setor, eu nâo tô tendo tempo pra fazer outras coisas, nâo consigo equilibrar essa funçâo de casa, a falta de estrutura pra trabalhar em casa, pra gerenciar as pessoas que trabalham com voce, isso é pior ainda".(Maria)
"...hoje eu atuo como coordenadora de uma equipe [...] eu tinha que dar diretrizes de algo que eu nao fui preparada para e eu nem sabia como eu mesma ia lidar" (Mariana)
A dificuldade em conciliar o trabalho com a esfera doméstica e familiar, no caso das entrevistadas que sao maes, mas vivem sozinhas com filhos pequenos, pode ser explicada, em grande medida, pelo fato de nao haver outro adulto em casa para dividir os cuidados com os pequenos (Minnotte, 2012; Roman, 2017). Cabe destacar que o contexto da quarentena ampliou essa dificuldade, pois as aulas foram suspensas, as creches fechadas e as empregadas e babás, dispensadas. Sem muita ajuda, essas profissionais tiveram que cuidar, sozinhas, dos filhos e da casa, o que impactou fortemente em seu desempenho no trabalho.
Na tentativa de conciliar essas diferentes esferas, as entrevistadas tiveram que criar algumas estratégias: Marcela e Fernanda contam com a ajuda dos filhos mais velhos para conseguirem fazer as múltiplas atividades:
Entao eu peço pra ela (filha de 12 anos) pra ficar com a (filha de 1 ano) pra eu lavar a louça, (...) passar um pano na casa, estender roupa no varal." (Marcela)
Todavía, cabe destacar que a presença do parceiro em casa nao é garantia de uma divisao mais equilibrada das tarefas domésticas:
"...ele precisa que eu mande e gerencie, é chato pra caramba, eu vejo boa vontade nele, mas é assim: o que eu vou fazer pra janta? Quando a gente vai varrer? Toda essa organizaçao quem faz sou eu. Nao tô conseguindo equilibrar, acho que minha casa é só obrigaç5es(...) eu tô louca pra voltar a trabalhar presencialmente, porque a pandemia pra mim tá sendo horrível" (Maria, casada, sem filhos)
A falta de participaçao do marido nessas atividades é relatada de forma dramática por Fátima:
"Tinha dia de fazer a faxina chorando, sozinha, e ele deitado na cama vendo televisao [...] ele nao me ajudava era muito porque ele queria que eu fizesse que a empregada viesse." (Fátima, casada, dois filhos)
O aumento do estresse vivido na quarentena levou ao maior consumo de álcool, recurso usado por algumas dessas mulheres para suportar a pressao (Eby et al., 2005; Oliveira, Cavazotte & Paciello, 2013):
"Eu sempre gostei de beber aos finais de semana e na pandemia nao tem dia; pra sair do estresse, ter um momento de relaxamento eu estava indo pra cerveja todos os dias, o consumo de álcool aumentou." (Fernanda, solteira, quatro filhos)
"Beber entao nem se fala, [...] a gente acaba bebendo para relaxar." (Fátima, casada, dois filhos)
Os depoimentos dessas mulheres corroboram, em grande medida, a literatura que aponta que o conflito trabalho-família é maior para mulheres que tem filhos pequenos (Greenhaus & Beutell, 1985; Gordon e Whelan-Berry, 2004). Esse conflito se deve ao acúmulo de tarefas do trabalho e de cuidado da casa e dos filhos que ocorreu durante a quarentena. Porém, merece destaque o fato de duas mulheres casadas, a semelhança das solteiras, se sentirem sobrecarregadas com as tarefas de cuidado: seus maridos pouco participam dessas atividades, chegando ao caso extremo de Fátima que nao conta com nenhuma colaboraçao do marido. Seus casos confirmam os achados dos estudos que destacam que cabe historicamente as mulheres a maior responsabilidade pelos cuidados com a casa e com os filhos (Gordon & Whelan-Berry, 2004; Lee, Zvonkovic & Crawford, 2014; Melo & Thomé, 2018). No caso das mulheres casadas, essa desigualdade é evidente, pois, embora seus parceiros estejam em casa, o peso dos afazeres domésticos recaiu em seus ombros.
Home office na quarentena e atenuaçâo do conflito trabalho-família
Conforme anteriormente mencionado, apesar de sobrecarregadas, parte das entrevistadas alega ter encontrado, na nova situaçao, condiçöes para equilibrarem melhor a relaçao entre o trabalho e a vida familiar. Na contramao do que costuma ser ressaltado na literatura sobre o tema (Greenhaus & Beutell, 1985; Beutell & O'Hare, 2018), o aumento da carga de trabalho corporativo e doméstico nao reforçou a vivencia de desequilibrio, a julgar por seus relatos. Essa constataçao reforçou o interesse em entender as condiçöes que viabilizaram tal experiencia. Esses aspectos sao explorados nesta seçao.
Dentre as entrevistadas que reportaram maior equilibrio entre as esferas de trabalho e vida pessoal/familiar há tres sem filhos: Renata, Carolina e Diana. A ausencia de crianças pequeñas em casa e a participaçao dos maridos nas atividades domésticas explica, em grande medida, a nao intensificaçao do conflito para essas mulheres. Seus relatos apontaram que a participaçao masculina nos cuidados com a casa e com filhos aumentou durante a pandemia. Conforme destaca a literatura, a participaçao dos parceiros é chave para a conciliaçao das esferas laboral e doméstica, para as mulheres que trabalham (Huffman, Casper & Payne, 2014; Lee, Zvonkovic & Crawford, 2014). Renata, casada e sem filhos, descreve a nova rotina:
"Eu tenho um trabalho mais monitorado, com reuniÐes, acabo ficando mais ocupada durante o dia e meu marido tem o horário bem mais flexível porque trabalha junto com o sócio e por demanda. Entao enquanto eu tô em reuniao de manha, ele prepara o café da manha, e se tem alguma coisa pra adiantar pro almoço ele já adianta."
No caso de Diana, casada e sem filhos, a participaçao do marido nas tarefas domésticas já ocorria, o que permitiu uma condiçao mais favorável no equilibrio entre vida familiar e profissional:
"Tarefas domésticas a gente divide até bem, o (marido) nesse aspecto é até participativo, (...) eu nao tive grandes dificuldades frente aos grupos de mulheres que eu escuto(...) eu sou meditante, essas coisas ajudam, deixam voce um pouco mais equilibrada"
Carolina, também casada e sem filho, viveu uma experiencia semelhante â de Renata e Diana, relatando o saldo positivo desse novo arranjo:
"Consigo dar mais resultado que antes, tiro minha pestana, assisto novela, faço minha esteira, faço Pilates com minha mae e minha irma por chamada de vídeo, [...] pra mim tá incrível isso."
Mas chamou a atençao o fato de que nao foram apenas as entrevistadas sem filhos e casadas com parceiros que realizam afazeres domésticos que vivenciaram um maior equilibrio entre as esferas familiar e profissional. Entrevistadas com filhos, solteiras e casadas, também relataram que o trabalho em home office, durante a quarentena, contribui para conseguir maior equilibrio. A fala de Nayara, casada e com uma filha de 2 anos, resume o novo cenário:
"Eu tô com uma sobrecarga maior de trabalho, mas eu também tô satisfeita por ter mais tempo com a minha filha e com meu marido, coisa que nao tinha porque era só fim de semana praticamente, por passar o dia todo fora. A gente acaba ficando mais tempo junto e isso é bem interessante."
Vilma, casada e com dois filhos, de 16 e 14 anos, também ve aspectos positivos na nova situaçao:
"Estou trabalhando muito mais...tanto as tarefas domésticas eu trabalho mais, como as do trabalho, mas ainda assim estou preferindo porque eu consigo fazer os horários, eu consigo me planejar."
Valesca, casada, com dois filhos, contou com maior participaçao do marido nas tarefas de cuidado dos filhos, durante a pandemia, e também relatou adaptaçao ao home office:
"A minha rotina era muito ausente da minha vida pessoal (...) mas no momento de pandemia o meu mais novo teve febre e eu pude estar ao lado dele, dar um carinho, um colo, coisa que antes eu nao conseguia."
Nesse sentido, a flexibilidade de horário de trabalho que o home office propicia parece configurar-se em fator favorável para a conciliaçao trabalho-família, ao menos para parte das entrevistadas (Ferreira Jr., 2000; OIT, 2017; Beutell & O'Hare, 2018; Haubrich & Froehlich, 2020).
Mesmo vivendo sozinhas com seus filhos e nao contando com a ajuda de parceiros, o que as deixa ainda mais sobrecarregadas, Cassia e Lourdes valorizam a maior proximidade física com as filhas que o trabalho em home office na quarentena, propiciou. Apesar de trabalharem mais:
"Eu acho que tô trabalhando mais(... )porque agora as coisas se prolongam um pouco mais, nao tá todo mundo junto, entao a informaçao demora mais a ser passada de uma pessoa pra outra",
Cassia valoriza, sobretudo, o fato de estar mais próxima da filha única de 9 anos:
"Eu tenho mais tempo com ela, consigo ver um filme com ela, o que eu fazia muito pouco; eu consigo almoçar com ela, coisa que só fazia final de semana."
Lourdes, mae de uma menina de 10 anos, sente-se igualmente sobrecarregada, mas o fato de estar mais perto da filha e de poder participar mais de sua rotina a leva a comemorar:
"Meu trabalho optou pela reduçao de jornada de trabalho. Estamos ainda trabalhando 25% de reduçao, entao isso significa dizer que eu estou trabalhando 6 horas só que na prática nao é bem assim... nas últimas duas semanas eu estou trabalhando 11 a 12 horas. [...]Agora vai ser 100% home office e eu estou adorando, adorando!" (Lourdes, solteira, uma filha)
Mas cabe destacar que, â exceçao de Diana, que teve as demandas profissionais reduzidas no período da quarentena em funçao do setor em que atua, todas as demais reconheceram que a carga de trabalho aumentou. Nesse sentido, o relato de Lourdes, que está "adorando" o home office, é significativo:
"Eu estava extremamente cansada, nao vou negar porque tenho home office, tendo que lidar com o novo que foi o on-line das aulas dela (filha), tendo que [...]ver o que que eu ia comer com ela, eu tinha que pedir comida." (Lourdes, solteira, uma filha).
Apesar de ter a casa como local de sobreposiçao de funçoes (Ferreira Jr., 2000; OIT, 2017; Haubrich & Froehlich, 2020), essas mulheres parecem ter suportado melhor a sobrecarga do home office durante a quarentena por terem podido viver, também, momentos com a família que foram possíveis graças â proximidade física contingente ao contexto estudado.
CONSIDERAÇÖES FINAIS
Delineada com o objetivo de compreender os impactos que a adoçao do home office, no período da quarentena da Covid-19, teve no conflito trabalho-família de trabalhadoras, a presente pesquisa trouxe alguns achados para o debate acerca dos conflitos presentes, que sao explorados, a seguir.
A totalidade das entrevistadas acusou crescimento do volume de trabalho. Todavía esse aumento nao pode ser atribuido, apenas, ao aumento da carga de trabalho corporativo decorrente da adoçao do home office, nos termos descritos na literatura (Ferreira Jr., 2000; OIT, 2017; Haubrich & Froehlich, 2020). Ainda que tal fato esteja presente em muitos relatos, o contexto da quarentena trouxe mais sobrecarga para as entrevistadas, posto que, além de se dedicarem ao trabalho remoto, tiveram que cuidar da casa e dos filhos, simultaneamente. A dispensa das empregadas e faxineiras obrigou-as a realizar tarefas que nem sempre faziam e o fechamento das escolas e creches demandou mais atençao aos filhos, que ficaram integralmente, em casa. Nesse contexto excepcional, chamou atençao o fato de muitas relatarem que seus parceiros passaram a participar mais das atividades domésticas. Apenas Renata, Diana, Vilma e Mariana afirmaram que sempre dividiram com o marido as tarefas da casa; as demais alegaram que o parceiro passou a "ajudar mais", nesse período, expressao usada por muitas para se referir a essa participaçao, que ratifica o entendimento de que tais atividades sao fundamentalmente responsabilidade delas. Cabe, no entanto, indagar se essa "ajuda" estará presente no cenário pós-pandemia ou se terá sido apenas uma participaçao associada â excepcionalidade do contexto.
O peso do machismo nao apareceu apenas no uso da palavra "ajudar". Maria e, sobretudo, Fátima, nao contaram com muita "ajuda" de seus maridos, o que tornou a vivencia de home office mais penosa. O acúmulo de atividades pesou muito para as entrevistadas solteiras e com filhos pequenos, fato mais do que compreensível, pois a dispensa de suas funcionárias deixou-as diante da tripla tarefa de cuidar dos filhos, da casa e das demandas profissionais. Nos termos de Marcela, tal combinaçao é "impossível". Conforme anteriormente destacado, para um conjunto expressivo de entrevistadas, o acúmulo de atividades que caracterizou o período da quarentena intensificou o conflito trabalho-família, achado este que vai ao encontro de boa parte da literatura sobre o tema, que descreve este acúmulo como potencializador do conflito (Minnotte, 2012; Pluuit, et al., 2018; Roman, 2017).
Todavia, merece destaque o fato de parte significativa das entrevistadas, que também sentiu sua carga de trabalho aumentar, ter apontado ganhos nessa situaçao. Carolina, por exemplo, disse que está "achando incrível" e Lourdes, que está "adorando". Para a maioria das casadas, sem filhos, a experiencia permitiu um maior equilíbrio entre as diferentes atividades exercidas e a sobrecarga de trabalho reportada por elas refere-se, sobretudo, ao trabalho corporativo. A ausencia de filhos explica, em grande medida, essa realidade (Greenhaus & Beutell, 1985; Gordon & Whelan-Berry, 2004; Baxter & Alexander, 2008). Somada a este fato, a maior participaçao dos maridos na execuçao das atividades domésticas, no contexto da quarentena, atenuou a sobrecarga proveniente dessas tarefas, o que permitiu que as mulheres tivessem mais tempo para si e para estar com os parceiros.
Mas o achado que nos surpreendeu diz respeito ao fato de algumas entrevistadas com filhos, casadas ou n&acaron;o, terem relatado, simultaneamente, aumento da carga de trabalho e maior satisfag&acaron;o com o convivio familiar propiciado. Na contram&acaron;o da literatura que destaca que a falta de tempo é uma das principais fontes do conflito trabalho-familia (Greenhaus & Powell, 2006; Azara, Khana & Eerdeb , 2018; Beutell & O'Hare, 2018), para essas mulheres o trabalho em home office, durante a quarentena, ao invés de intensificar o conflito, amenizou-o. Argumentamos que, tal achado, traz uma contribuyo relevante para o debate. Aparentemente, para essas profissionais, a sobrecarga de trabalho foi suportada e relativizada, tendo em vista a oportunidade, propiciada pelo home office, de ficarem mais perto da familia. Possivelmente acostumadas a gerenciar uma sobrecarga usual de trabalho, essas mulheres valorizaram mais a proximidade física com a familia que a nova rotina possibilitou, do que o aumento de trabalho dela decorrente.
Nesse sentido, em linha com a literatura que destaca a flexibilidade que o home office traz (Spurk, Daniel; Straub, Caroline, 2020), constatou-se que este arranjo permitiu que elas tivessem mais convivio com a familia, principalmente durante as refeiçöes e entre as pausas do trabalho. A combinag&acaron;o flexibilidade e proximidade fisica permitiu que Valesca cuidasse do filho com febre e que Lourdes assistisse a apresentação da filha, experiencias que n&acaron;o teriam sido vividas se estivessem no trabalho convencional. Chamou a atenção o fato de que a n&acaron;o delimM^ão das fronteiras entre o espaço do trabalho e do n&acaron;o trabalho, que aparece na literatura como uma das causas da intensificação do conflito (Peters & Blomme, 2019), ter, nesses casos, contribuido para amenizá-lo.
Para ampliar o debate sobre o tema, merece destaque a consideração de que n&acaron;o apenas o tempo, a press&acaron;o e o comportamento intensificam o conflito (Greenhaus & Beutell, 1985), mas também a distancia fisica parece impactá-lo. O entendimento do impacto desse quarto fator: a distancia fisica da familia que as horas dedicadas ao trabalho fora de casa exigem ajudaria a explicar o fato de que, apesar da sobrecarga de trabalho, parte das entrevistadas terem vivenciado tal experiencia como atenuadora do conflito trabalho-familia. Tal constatação reforça o entendimento de que as profissionais que s&acaron;o m&acaron;es desejam exercer ambas atividades, profissional e materna, mesmo as expensas de sobrecarga de trabalho, e que a combinação flexibilidade e proximidade fisica da familia que o home office na quarentena propiciou foi valorizada pelas entrevistadas inseridas em contextos familiares mais equilibrados.
Todavía, n&acaron;o podemos perder de vista que várias entrevistadas que s&acaron;o m&acaron;es reportaram esgotamento e dificuldade em trabalhar. Essa constataçâo traz um alerta para a discuss&acaron;o que se avizinha sobre a implementação ampliada do home office no contexto pós-pandemia: ainda que este modelo de trabalho possa trazer ganhos para alguns(as) empregados(as) e empregadores/as, sua adoção de forma homogénea para o conjunto da força de trabalho, desconsiderando as particularidades dos diferentes arranjos domésticos/ familiares, pode acirrar, ainda mais, as desigualdades entre trabalhadores(as).
De forma conclusiva, a observação de que o trabalho em home office parece atender aos anseios de concily&acaron;o dessas duas esferas, ao menos para parte das entrevistadas, indica que tal modalidade deva ser considerada pelas organizaçöes que se querem mais inclusivas, ainda que tal discuss&acaron;o precise ser ponderada em fl^ão dos diferentes arranjos familiares de sua força de trabalho.
Cabe destacar, como lim^ão do presente estudo, o fato de que, em decorréncia do perfil pesquisado e da forma de acessar as participantes, há considerável homogeneidade no conjunto de entrevistadas, pois todas s&acaron;o mulheres heterossexuais, brancas e da chamada classe média. Nesse sentido, os achados da pesquisa refletem as especificidades desse subgrupo de mulheres. A especificidade do contexto estudado - a quarentena da Covid-19 - também traz limitaçoes, pois esta tanto agravou a sobrecarga de trabalho, como aumentou a participag&acaron;o masculina nas tarefas domésticas. Assim, sugere-se que pesquisas futuras aprofundem os impactos da adoção do home office no conflito trabalho-familia de mulheres com diferentes configuraçöes familiares, mas em contexto n&acaron;o atipico, como o estudado.
CONTRIBUIÇÂO DAS AUTORAS
Ana Heloisa da Costa Lemos e Alane de Oliveira Barbosa trabalharam na conceitualizaçao e abordagem teóricometodológica. A revis&acaron;o teórica foi conduzida por Alane de Oliveira Barbosa. A coleta de dados foi coordenada por Priscila Pinheiro Monzato. Participaram da análise de dados Ana Heloisa da Costa Lemos, Alane de Oliveira Barbosa e Priscila Pinheiro Monzato. Todas as autoras participaram da redaçao e revis&acaron;o final do manuscrito.
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Abstract
Esta pesquisa objetivou compreender os impactos que a adoçâo do home office, no período da quarentena da Covid-19, teve no conflito trabalho-família vivida por trabalhadoras brasileiras. Para alcançar o objetivo, foram entrevistadas 14 profissionais com diferentes arranjos familiares. Todas as entrevistadas relataram sobrecarga de trabalho devido as exigencias organizacionais, as demandas com os filhos e com a casa. Apesar disso, cabe destacar que, de acordo com os depoimentos, a sobrecarga de trabalho nāo intensificou o conflito trabalho-família para todas, o que vai na contramāo do previsto na literatura. Algumas entrevistadas alegaram que o home office aproximou-as dos filhos e maridos e propiciou mais tempo para atividade físicas e de lazer. Tal achado pode contribuir para ampliar o debate sobre o conflito trabalho-família, muitas vezes conflituosa, ao postular que nāo apenas o tempo, a pressāo e o comportamento sāo fontes deste conflito, mas também a distancia física que as horas dedicadas ao trabalho fora de casa requerem.