RESUMO: O nitrogenio (N) promove a fotossíntese, a produçâo e a translocaçâo de fotoassimilados, bem como aumenta a taxa de crescimento das plantas. Este estudo teve como objetivo avaliar a resposta da soja a desfolha e a doses de N, associada a inoculaçâo de B. japonicum. O delineamento experimental utilizado foi o de blocos casualizados, disposto em esquema fatorial 4 x 4, com quatro repetiçöes. Os tratamentos foram constituidos por quatro niveis de desfolha (0, 33, 66 e 99%) realizado no estadio R3 (legume - canivete com 5mm) e quatro doses de nitrogenio (0, 50, 100 e 150 kg ha-1 de N). A fonte de N utilizada foi a ureia (45% de N), sendo realizadas distribuiçöes manuais a lanço dois dias após a desfolha. Quando os grâos estavam perceptíveis ao tato - 10% de granaçâo (estadio R5.1) foram avaliadas a altura das plantas, teor de clorofila, área foliar e matéria seca aérea. Na colheita foram determinados a inserçâo do primeiro legume, número de legume, número de grâos por legume, massa de mil grâos, produtividade e o teor de proteínas dos grâos. A adubaçâo nitrogenada nâo teve a capacidade de amenizar o efeito da desfolha na cultura da soja, independentemente do nivel de desfolha e das doses de N na aplicaçâo. Níveis de desfolhas a partir de 30% durante a formaçâo do legume (canivete com 5mm) culminaram na reduçâo da área foliar, matéria seca da parte aérea, altura de plantas, número de legumes por planta, número de grâos por legume, massa de mil grâo, produtividade dos grâos e o teor de proteína dos grâos.
PALAVRAS-CHAVE: Área foliar; Fixaçâo biológica de nitrogenio; Glycine Max (L.) Merrill; Ureia.
ABSTRACT: Nitrogen (N) enhances photosynthesis, production and the translocation of photo-assimilates, coupled to an increase in plants' growth rates. Current paper evaluates response soybean response to defoliation and N doses associated to the inoculation of B. japonicum. Randomized blocks at factorial design 4 x 4, with four replications, were employed. Treatment comprised four defoliation levels (0, 33, 66 and 99%) at stage R3 (legume - with 5mm) and four doses of nitrogen (0, 50, 100 and 150 kg ha-1 N). N source consisted of urea (45% N), with manual distribution two days after defoliation. When the grain was perceptible to touch - 10% graining (stage R5.1), plant high, chlorophyll rate, leaf area and dry matter were evaluated. At harvest, the insertion of the first legume, number of legumes, number of grains per legume, mass of one thousand grains, productivity and protein rates of grains were determined. Nitrogen fertilization did not mitigate the effect of defoliation in soybean, regardless of defoliation level and N dose applied. Defoliation levels as from 30% during the formation of legume (with 5mm) culminated in a decrease of foliar area, dry matter of the aerial section, plant height number of legumes per plant, number of grains per legume, mass of one thousand grains, productivity of grains and grains' protein rate.
KEYWORDS: Biological fixing of nitrogen; Foliar area; Glycine Max (L.) Merrill; Urea.
INTRODUÇAO
A soja (Glycine max L. Merrill) é a principal oleaginosa cultivada no mundo, sendo o Brasil o segundo maior produtor de soja, com aproximadamente 36 milhöes de hectares cultivados com essa cultura na safra 2018/2019 (CONAB, 2019). Entre os fatores limitantes para o incremento da produtividade dos grãos de soja destaca-se a ocorrencia de insetos desfolhadores (SEDIYAMA, 2016) e a incidencia de doenças como a ferrugem asiática da soja (Phakopsora pachyrhizi Sydow) (REIS et al, 2019), que tem provocado danos expressivos a cultura.
No Brasil, os melhoristas já desenvolveram cultivares resistentes com a tecnología INTACTA RR2 PROTM, que tem proteçâo contra as principais lagartas da cultura da soja [lagarta da soja (Anticarsia gemmatalis), lagarta falsa medideira (Chrysodeixis includens), lagarta das maçâs do algodoeiro (Chloridea virescens), broca das axilas (Crocidosema aporema), e a supressão da lagarta helicoverpa (Helicoverpa armigera) e da lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus)], além da tolerancia ao herbicida glifosato. Mas nem todas as cultivares são contempladas com essas tecnologias, ou até mesmo, as que possuem, podem sofrer injurias por outros insetos e pragas desfolhadoras como as lagartas do complexo "S" Spodoptera: (Spodoptera eridania, S. cosmiodes, S. frugiperda e S. albula) (SEDIYAMA, 2016), assim, o monitoramento nas lavouras cultivadas com cultivares com a tecnologia INTACTA RR2 PRO deve ser constante. Há também a tecnologia Inox® e a Tecnologia Shield®; em ambas, as cultivares tem resistencia a ferrugem asiática.
Em condiçöes de campo, as pragas desfolhadoras e algumas doenças causam injurias, reduzem a área foliar e consequentemente a capacidade fotossintética da planta (ZUFFO et al., 2015). Todavia, o nivel de dano depende do tempo de permanencia da praga na planta, do percentual de desfolhamento e do estádio fenológico da planta (HOFFMAN-CAMPO et al., 2012), sendo que as desfolhas acima de 25% e no estádio reprodutivo são os estádios mais sensiveis a desfolha, ocorrendo maior red^ão no potencial produtivo da soja e a produtividade dos grãos de soja (GLIER et al., 2015; ZUFFO et al., 2015).
A soja é uma oleaginosa que necessita de 80kg de nitrogenio (N) para produzir uma tonelada de grãos (KASCHUK et al., 2016), principalmente no inicio do enchimento dos legumes (KASCHUK et al., 2010; HUNGRIA; MENDES, 2015), e são geralmente cumpridos por fíxação biológica de nitrogenio (FBN) pela simbiose que as raizes das plantas estabelecem com Bradyrhizobium japonicum e B. elkanii (DOMINGOS et al., 2015), além da absorção de N do solo (ZUFFO et al., 2018), que pode ser fornecido pela aplicação de N mineral.
Pesquisas recentes mostram que a aplicação de fertilizantes nitrogenados não melhora o rendimento e o teor de proteínas dos grãos (KORBER et al., 2017; ZUFFO et al., 2018; ZUFFO et al., 2019; ZUFFO et al., 2020). Todavia, em cond^ão do estresse abiótico, a exemplo a desfolha, o N mineral pode auxiliar na recuperação da planta principalmente na fase reprodutiva. Segundo Zuffo et al. (2015), como reflexo da red^ão da área foliar, há inib^ão na prod^ão de fotoassimilados, pois é nessa estrutura que ocorre a fotossintese e na fase reprodutiva são priorizados esses assimilados para a formação de legumes e enchimentos dos grãos.
Embora a soja tenha capacidade de expansão foliar (PROCÓPIO et al., 2003), em condiçöes de total desfolha, esta não é suficiente para a compensação (ZUFFO et al., 2015). Sendo assim, a aplicação complementar de N pode ser viável, pois, segundo Taiz et al. (2017) o N promove a formação das raizes, a fotossintese, a prod^ão e a translocação de fotoassimilados, bem como aumenta a taxa de crescimento entre folhas e raizes.
Portanto, a suplementaçâo com N mineral pode amenizar os efeitos da desfolha na soja. Assim, este estudo teve como objetivo avaliar a resposta da soja a desfolha e a doses de N, associada a inoculaçâo de B. japonicum.
2MATERIAL E MÉTODOS
2.1LOCALIZAÇÂO E CARACTERIZAÇÂO DA ÁREA EXPERIMENTAL
O experimento foi realizado em área experimental da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, em Chapadâo do Sul (MS), Brasil (18°46'17,9" Sul; 52°37'25,0" Oeste e altitude média de 810m), durante a safra 2018/2019. O clima da regiâo, segundo classificaçâo de Koppen, é do tipo tropical chuvoso (Aw), com verâo chuvoso e inverno seco, com precipitaçâo, temperatura média e umidade relativa anual de 1.261 mm, 23,97 °C e 64,23%, respectivamente. Os dados de precipitaçâo durante a conduçâo dos experimentos sâo mostrados na Figura 1.
O solo da área experimental foi classificado como Latossolo Vermelho baseado no Sistema Brasileiro de Classificaçâo do solo (SANTOS et al., 2018). Antes de iniciar o experimento, os solos foram amostrados nas camadas 0-0, 20m e as principais propriedades químicas sâo apresentadas no Quadro 1.
A correçâo da acidez do solo foi realizada com a aplicaçâo superficial de calcário (CaO: 29%; MgO: 20%; PRNT: 90,1%; PN: 101,5%), visando elevar a saturaçâo por base dos solos a 60%. A calagem foi realizada 60 dias antes da implantaçâo do experimento. Utilizou-se o método de saturaçâo por bases para cálculo da dose de calcário, para elevar a saturaçâo para 60%, seguindo as recomendaçöes de Sousa e Lobato (2004); dessa forma foi aplicado 0,4 t ha-1 desse calcário, considerando o Poder Relativo de Neutralizaçâo Total (PRNT).
2.2DELINEAMENTO EXPERIMENTAL E TRATAMENTOS
O delineamento experimental utilizado foi o de blocos casualizados, disposto em esquema fatorial 4 x 4, com quatro repetiçöes. Os tratamentos foram constituidos por quatro níveis de desfolha (0, 33, 66 e 99%) realizado no estádio R3 (legume - canivete com 5mm) de acordo com Fehr et al. (1981), e quatro doses de nitrogenio (0, 50, 100 e 150kg ha-1 de N). As desfolhas foram caracterizadas pela retirada de um (folíolo terminal), dois (folíolos opostos) e tres (todos os folíolos) de todas as folhas desenvolvidas na planta, com o auxilio de uma tesoura. A fonte de N utilizada foi a ureia (45% de N), sendo realizadas distribuiçöes manuais a lanço dois dias após a desfolha. Cada unidade experimental foi constituída por tres fileiras espaçadas em 0,45m entre si e com 5m de comprimento, totalizando 6,75m2. Como área útil, foi considerada a linha central, sendo-se desprezado 1m em cada extremidade, perfazendo uma área de 1,35m2.
2.3IMPLANTAÇAO E CONDUÇAO DO EXPERIMENTO
O preparo da área foi realizado com uma dessecaçâo usando os produtos Glifosato (720 g ha-1 i.a) + Haloxifope-P-metílico (63 g ha-1 i.a). Após 10 dias foi realizada a instalaçâo dos ensaios que seguiu o sistema de plantio direto (SPD). A cultura da soja cultivar BRASMAX BONUS IPRO (hábito de crescimento indeterminado, ciclo de 114 a 121 dias, grupo de maturaçâo 7,9) foi semeada no dia 04 de outubro de 2018 mecanicamente por meio de semeadora-adubadora, com mecanismo sulcador tipo haste (facāo), para SPD, a uma profundidade de aproximadamente 3 centímetros, com espaçamento de 0,45cm e 13 sementes por metro, para atingir estande final de 24.000 a 28.000 plantas por ha. A adubaçâo de base foi constituída de 150 kg ha-1 de MAP (11% de N-amoniacal e 52% de P2O5. A adubaçâo de cobertura foi 100 kg ha-1 de K2O, cuja fonte foi o cloreto de potássio aos 40 dias após a emergencia (DAE). Aos 40 DAE realizou-se a aplicaçâo de adubaçâo foliar dos produtos Actilase ZM (Zn 50,22 g L-1; S 41,65 g L-1; Mn 30,01 g L-1) e Racine (Mo 108,75 g L-1; Co 10,88 g L-1; Carbono total 123,25 g L-1) nas doses de 1 L ha-1 e 120 mL por ha-1, respectivamente.
As sementes de soja foram tratadas com piraclostrobina + tiofanato metílico + fipronil (Standak Top®) na dose de 2 mL p.c. kg-1 de semente, foram inoculadas com B. japonicum, utilizou-se o inoculante comercial líquido Simbiose Nod Soja® (Simbiose: Agrotecnologia Biológica) contendo as estirpes SEMIA 5079 e SEMIA 5080 (concentraçâo mínima de 7,2 x 109 células viáveis por mL), na dose de 150mL para 50kg de sementes. A quantidade de inoculante utilizada foi dissolvida em uma soluçâo contendo 2 mL p.c. kg-1 de semente de aditivo para inoculante Protege® TS (Total Biotecnología) e, entâo, ambos os produtos (inoculante + aditivo) foram aplicados nas sementes. O aditivo para inoculante é constituído de metabólitos ativos de bactérias, complexo de açÛcares e biopolímeros encapsulantes e tem a finalidade de melhorar a proteçâo e a viabilidade das bactérias sobre as sementes. Para potencializar a nodulaçâo da soja, as sementes também receberam a aplicaçao de micronutrientes, especialmente de molibdenio. A fonte utilizada foi o fertilizante comercial para sementes Nódulus® Premium 125 (Biosoja) contendo: Mo, 10%; Co, 1%; S, 1%; Ca, 1%; Fe, 0,2%.
Para o manejo de plantas daninhas, pragas e doenças durante o desenvolvimento da cultura, foram utilizados os produtos: glifosato, haloxifope-p-metílico, piraclostrobina + epoxiconazol, picoxistrobina + benzovindiflupir, mancozeb, azoxistrobina + ciproconazole, teflubenzurom, clorpirifós, cipermetrina e imidacloprido + beta-ciflutrina nas doses recomendadas pelos fabricantes.
2.4 MENSURAÇÂO DAS AVALIAÇÖES
Quando os graos estavam perceptíveis ao tato - 10% de granaçao (estadio R5.1) foram avaliadas em cinco plantas por parcela: teor foliar de clorofila - (índice de clorofila Falker, ICF) com clorofilômetro digital CFL 1030 (Falker, Porto Alegre (RS)), as leituras foram realizadas no terceiro trifólio desenvolvido de cima para baixo (folha diagnóstico); área foliar (cm2) com o auxilio de um medidor de área foliar eletrônico modelo Li-Cor, L1-3100®; matéria seca aérea (g planta-1) - as plantas foram acondicionadas em sacos de papel, colocadas para secar em estufa a 65°C por 72h e, posteriormente, pesadas em balança analítica com precisao de 0,0001g.
Por ocasiao da colheita (estadio Rs) foram obtidos em cinco plantas por parcela as seguintes variáveis: altura das plantas (cm) - determinada da superficie do solo até a inserçao da última folha com auxilio de uma régua milimetrada; altura de inserçao do primeiro legume (cm) - determinada da superficie do solo até a inserçao do primeiro legume; número de legumes e número de graos por legume (unidade) - por meio da contagem manual; massa de mil graos (g) - de acordo com a metodologia descrita em Brasil (2009); produtividade de graos (kg ha-1) - determinada com a colheita da área útil da parcela e padronizada para o grau de umidade dos graos de 13%; teor de proteina bruta pelo método de Kjeldahl conforme Detmann et al. (2012).
2.5 ANÁLISES ESTATÍSTICAS
Os dados experimentais foram submetidos aos testes de verificaçao dos pressupostos de normalidade e homogeneidade. Posteriormente, os dados foram submetidos a análise de variância (ANOVA) utilizando o programa estatistico Sisvar® versao 5.3 para Windows (Software de Análises Estatisticas, UFLA, Lavras (MG), BRA). Para as variáveis que obtiveram efeito significativo para desfolha e doses de N isoladas foram analisadas por equaçao de regressao polinomial e escolhidas as equaçöes significativas pelo teste t de Student com os maiores coeficientes de determinaçao (teste F, p < 0,05). A análise de regressao foi realizada usando o software SigmaPlot 11.0 para Windows (Systat Software, Inc., San José, CA, EUA).
3RESULTADOS E DISCUSSAO
Os resultados da análise de variância não mostraram efeitos significativos (p > 0,05) para as interaçöes entre os fatores estudados (níveis de desfolha e doses de N) para nenhuma das características avaliadas (Quadro 2). Portanto, os resultados são apresentados separadamente para os principais efeitos desses fatores. A ausencia das interaçöes significativas entre os fatores estudados indica que a adubagão nitrogenada apresenta resposta coincidente na cultura da soja, independentemente do nivel de desfolha, bem como não tem a capacidade de aliviar o efeito da desfolha na cultura da soja. Com exceção da clorofila e da altura de inserção de legumes, para as demais variáveis os resultados reportaram efeitos significativos entre os níveis de desfolha da soja (Quadro 2). Reduçöes nas características agronómicas da soja em fungão dos níveis de desfolha também foram verificadas por Glier et al. (2015) e Zuffo et al. (2015).
3.1 EFEITO DOS NÍVEIS DE DESFOLHA NAS CARACTERÍSTICAS AGRONÓMICAS DA SOJA
Para as variáveis teor foliar de clorofila (Figura 2a), e altura da insergão do primeiro legume (Figura 2e), os resultados não reportaram efeitos significativos entre os níveis de desfolha da soja, sendo que a média geral foi 45,16 e 16,59cm, respectivamente. Souza et al. (2014) também verificaram que o índice de clorofila em plantas de soja não é afetado pela desfolha. Portanto, nas folhas remanescentes não houve alteragão na concentragão de clorofilas e, possivelmente, na taxa fotossintética.
De maneira geral, percebe-se que todos os níveis de desfolha afetam linearmente a área foliar (Figura 2b), matéria seca da parte aérea (Figura 2c), altura de plantas (Figura 2d), número de legumes por planta (Figura 2f), número de graos por legume (Figura 2g), massa de mil graos (Figura 2h), produtividade dos graos (Figura 2i) e o teor de proteína dos graos (Figura 2j). Reduçöes no número de legumes por planta, número de graos por legumes e produtividade dos graos da soja em funçao dos níveis de desfolha também foram verificados por Glier et al. (2015) e Zuffo et al. (2015).
Os níveis de desfolha reduziram drasticamente a área foliar, sendo que esta nao conseguiu se recuperar após 15 dias. Sabe-se que nas folhas há clorofilas e essas por sua vez sao responsáveis pela produçao de fotoassimilados que culminam no crescimento da planta (TAIZ et al., 2017). Assim, com a reduçao das folhas foi inibida a produçao de fotoassimilados e translocaçao para os drenos, como galhos, raizes e graos. Dessa forma, a inibiçao na altura de plantas, massa seca aérea, número de legumes, número de graos, massa de mil grao, produtividade dos graos e o teor da proteina dos graos estao relacionados a reduçao da produçao de fotoassimilados em virtude da reduçao da área foliar, demonstrando assim a importancia da manutençao das folhas no estádio reprodutivo a formaçao do legume (canivete com 5mm) e a reduçao linear descrente nessas variáveis quando as plantas sao submetidas a níveis de desfolha.
3.2 EFEITO DAS DOSES DE N ASSOCIADAS A INOCULAÇÂO COM B. JAPONICUM NAS CARACTERÍSTICAS AGRONÓMICAS DA SOJA
Ao avaliar as doses de N na cultura da soja, sao percebidas diferenças na variável matéria seca da parte aérea (Quadro 3). Entretanto, nao houve reflexos nos componentes produtivos e no teor de proteina da soja com o uso de N mineral associada a inoculaçao com B. japonicum. Esses resultados corroboram os obtidos por Zuffo et al. (2018) e Zuffo et al. (2020), que observaram efeito significativo do N mineral na matéria seca da parte aérea, contudo, para os demais componentes de produçao nao houve efeito significativo.
Para a matéria seca da parte aérea os resultados foram ajustados ao modelo quadrático de regressao, sendo que o ponto máximo foi de 23,8g e foi verificado na dose de 130 ha-1 de N. Esse fato está relacionado ao N envolvido na síntese de clorofilas, enzimas, compostos proteicos e, consequentemente, maximizar a capacidade das plantas em produzir gemas reprodutivas (MALAVOLTA, 2006).
Assim, as doses de N favoreceram o crescimento vegetativo das plantas, entretanto, tais efeitos nao foram observados nos componentes de produçao da soja, bem como no teor de proteina. Tais achados também foram verificados por Werner et al. (2016) e Zuffo et al. (2018), que também observaram que a fertilizaçao com N mineral no inicio do ciclo de desenvolvimento, dependendo das condiçöes ambientais, pode aumentar o crescimento das plantas, mas nao reflete os incrementos no rendimento e o teor de proteina dos graos de soja.
Segundo Zuffo et al. (2020) em relaçâo ao N não melhorar a produtividade dos grãos, pode ser atribuído a utilizaçâo pelas plantas de soja do N fixado pela simbiose Bradyrhizobium, que pode ter sido a fonte de todo o N que as plantas necessitaram. Assim, a quantidade de nitrogenio fixada pela cultura mais a aplicaçâo do MAP estava dentro das necessidades das plantas, tornando dispensável a adubaçâo complementar com N mineral. Dessa forma, fica evidente a importancia da inoculaçâo com as bacterias do genero Bradyrhizobium para o fornecimento de N na cultura da soja. Adicionalmente, as reservas de N do solo pela própria mineralizaçâo da materia orgánica (22,8 g dm-3) foi suficiente para atender a exigencia para formaçâo dos legumes e dos grâos. Portanto, para essas condiçöes, a escolha de se fazer a aplicaçâo ou nâo de N nâo resultará em melhorias quantitativa e qualitativa dos grâos de soja.
De modo geral, mesmo em condiçâo de desfolha severa (100%), as plantas supridas com N nâo apresentaram a capacidade de se recuperar do estresse sofrido. Para Sangoi et al. (2014) com a eliminaçâo total da área foliar, a radiaçâo fotossinteticamente ativa nâo é interceptada, prejudicando a fotossíntese. Assim, mesmo sobre essas condiçöes as plantas de soja podem ser suprimidas apenas com o N fixado pela simbiose Bradyrhizobium. Para Souza et al. (2014) quando ocorre o ataque das pragas desfolhadoras a planta realiza a remobilizaçâo de reservas e que podem contribuir para o suprimento, pelo menos temporário, dos 0rgâos drenos.
Sangoi et al. (2014) verificaram que o sucesso da aplicaçâo de N como estrategia para atenuar os prejuízos ocasionados pela desfolha depende do estádio do milho em que esta é imposta, da área foliar perdida e da dose de N utilizada. Assim, a aplicaçâo em V8 (oito folhas expandidas) aumentou a área foliar verde da planta no espigamento, mas nâo incrementou a produtividade da cultura. Já a aplicaçâo de nitrogenio após a desfolha em V15 (quinze folhas expandidas) nâo interferiu na área foliar remanescente da planta no espigamento, mas aumentou o rendimento de grâos. E desfolhas realizadas em Vt (pendoamento) causam grandes prejuízos a produtividade do milho que nâo pode ser recuperada pela aplicaçâo de nitrogenio em cobertura.
O milho é pertence a família das gramíneas e nâo tem a capacidade de FBN. Portanto, é totalmente dependente do N do solo e da aplicaçâo do N mineral. Mas evidencia-se que o sucesso da aplicaçâo de N como estratégia para atenuar os prejuízos ocasionados pela desfolha depende do estádio em que a perda de área foliar ocorre. Dessa forma, novos trabalhos devem ser realizados, testando outros estádios fenológicos da soja, haja vista que nesse estudo foi avaliado apenas no estádio R3.
Em resumo, nossos resultados mostraram que é possível obter altos rendimentos de soja sem fornecimento de fertilizante N, corroborando os resultados demonstrados por Kaschuk et al. (2016), Korber et al. (2017), Zuffo et al. (2018), Zuffo et al. (2020). Portanto, além da eficácia conhecida desse processo biológico de fixaçâo de N, é possível agregar a alta eficiencia das cepas de Bradyrhizobium utilizadas no Brasil e sua alta competitividade com os microrganismos nativos desses solos tropicais (HUNGRIA; MENDES, 2015). Assim, atualmente os produtores brasileiros de soja adotam a inoculaçâo de Bradyrhizobium sp. como a principal fonte de N para as lavouras, por se tratar de uma prática eficiente, com baixo custo económico, quando comparado ao uso de minerais N fertilizante.
4CONCLUSÖES
A adubaçao nitrogenada não tem a capacidade de amenizar o efeito da desfolha na cultura da soja, independentemente do nível de desfolha e das doses de N na aplicaçao.
Níveis de desfolhas a partir de 30% durante a formaçao do legume (canivete com 5mm) culminaram na reduçao da área foliar, matéria seca da parte aérea, altura de plantas, número de legumes por planta, número de graos por legume, massa de mil grāo, produtividade dos grāos e o teor de proteína dos graos.
As estirpes de B. japonicum sao eficientes para a nutriçao de soja cultivada em solo de média fertilidade, nao havendo necessidade de se aplicar nitrogenio durante a formaçao do legume (canivete com 5mm).
5AGRADECIMIENTOS
Os autores expressam seus agradecimentos a Fundaçao Agrisus (Projeto n° 2530/18) pela concessao de recursos financeiros, a Fundaçao Chapadao e a Universidade Federal do Mato Grosso do Sul pelo apoio logistico.
Autor correspondente:
Alan Mario Zuffo: [email protected]
Recebido em: 11/12/2019
Aceito em: 03/03/2020
REFERENCIAS
BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Regras para análise de sementes. Brasilia: MAPA/ACS, 2009. 399p.
CONAB. Companhia Nacional de Abastecimento. Acompanhamento da safra brasileira: graos, décimo primeiro levantamento, agosto 2019. Brasilia: Conab, 2019. 107p.
DETMANN, E.; QUEIROZ, A. C.; CABRAL, L. S. Avaliaçao do nitrogenio total (proteina bruta) pelo método de Kjeldahl. In: DETMANN, E.; SOUZA, M. A.; VALADARES FILHO, S. C.; BERCHIELLI, T. T.; CABRAL, L. S.; LADEIRA, M. M.; SOUZA, M. A.; QUEIROZ, A. C.; SALIBA, E. O. S.; PINA, D. S.; AZEVEDO, J. A. G. (ed.). Métodos para análise de alimentos: INCT - Ciencia Animal. Visconde do Rio Branco: Suprema, 2012. v. 1, cap. 4, p. 5168.
DOMINGOS, C. S.; SILVA LIMA, L. H.; BRACCINI, A. L. Nutriçao mineral e ferramentas para o manejo da adubaçao na cultura da soja. Sci. Agrar. Paran., v. 14, n. 3, p. 132-140, 2015. Disponível em: https://doi.org/10.18188/1983-1471/sap.v14n3p132-140 Acesso em: 21 ago. 2019.
FEHR, W. R.; LAWRENCE, B. K.; THOMPSON, T. A. Critical stage of development for defoliation soybean. Crop Science, v. 21, n. 2, 1981. Disponível em: https://doi.org/10.2135/cropsci1981.0011183x002100020014x Acesso em: 10 nov. 2019.
GLIER, C. A. da S.; DUARTE JÚNIOR, J. B.; FACHIN, G. M.; COSTA, A. C. T. da.; GUIMARÄES, V. F.; MROZINSKI, C. R. Defoliation percentage in two soybean cultivars at different growth stages. Rev. bras. eng. agríc. ambient., v. 19, n. 6, p. 567-573, 2015. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1807-1929/agriambi.v19n6p567-573 Acesso em: 10 nov. 2019.
HOFFMAN-CAMPO, C. B.; CORREA-FERREIRA, B. S.; MOSCARDI, F. Soja: manejo integrado de insetos e outros Artrópodes-Praga: Artrópodes que atacam as folhas da soja. Embrapa Soja. 2012. 859p.
HUNGRIA, M.; MENDES, I. C. Nitrogen fixation with soybean: the perfect symbiosis? In: BRUIJN, F. (ed.). Biological Nitrogen Fixation. John Wiley & Sons, New Jersey, 2015. p. 1005-1019.
KASCHUK, G.; HUNGRIA, M.; LEFFELAAR, P. A.; GILLER, K. E.; KUYPER, T. W. Differences in photosynthetic behaviour and leaf senescence of soybean (Glycine max [L.] Merrill) dependent on N2 fixation or nitrate supply. Plant Biology, v. 12, p. 60-69, 2010. Disponível em: https://doi.org/10.1111/j.1438-8677.2009.00211.x Acesso em: 22 ago. 2019.
KASCHUK, G.; NOGUEIRA, M. A.; LUCA, M. J. de; HUNGRIA, M. Response of determinate and indeterminate soybean cultivars to basal and topdressing N fertilization compared to sole inoculation with Bradyrhizobium. Field Crops Res., v. 195, p. 21-27, 2016. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.fcr.2016.05.010 Acesso em: 21 ago. 2019.
KORBER, A. H. C.; PINTO, L. P.; PIVETTA, L. A.; ALBRECHT, L. P.; FRIGO K. D. de A. Adubaçâo nitrogenada e potássica em soja sob sistemas de semeadura. Rev Agricultura Neotropical, v. 4, n. 4, p. 38-45, 2017. Disponível em: https://doi.org/10.32404/rean.v4i4.1653 Acesso em: 20 ago. 2019.
MALAVOLTA, E. Manual de nutriçao mineral de plantas. Piracicaba: Editora Ceres, 2006. 631p.
PROCÓPIO, S. O.; SANTOS, J. B.; SILVA, A. A.; COSTA, L. C. Desenvolvimento foliar das culturas da soja e do feijão e de planta daninhas. Cienc Rural, v. 33, n. 2, p. 207-211, 2003. Disponível em: https://doi.org/10.1590/s0103-84782003000200005 Acesso em: 10 nov. 2019.
REIS, E. M.; ZANATTA, M.; REIS, A. C. Relationship between soybean plant defoliation and Asian soybean rust severity. Summa phytopathol, v. 45, n. 3, p. 252-254, 2019. Disponível em: https://doi.org/10.1590/0100-5405/186505 Acesso em: 15 nov. 2019.
SANGOI, L.; PICOLI JÚNIOR, G. J.; VARGAS, V. P.; VIEIRA, J.; SCHMITT, A.; ZOLDAN, S. R.; SIEGA, E.; CARNIEL, G. Cobertura nitrogenada como estrategia para reduzir os prejuízos da desfolha em diferentes estádios fenológicos do milho. Semina: Cienc. Agrár., v. 35, n. 2, p. 671-682, 2014.
SANTOS, H. G.; JACOMINE, P. K. T.; ANJOS, L. H. C.; OLIVEIRA, V. A.; LUMBRERAS, J. F.; COELHO, M. R.; ALMEIDA, J. A.; ARAUJO FILHO, J. C.; OLIVEIRA, J. B.; CUNHA, T. J. F. Sistema Brasileiro de Classificaçao de Solos. 5. ed. Rio de Janeiro: Embrapa, 2018.
SEDIYAMA, T. Produtividade da soja. Londrina: Mecenas, 2016. 310p.
SOUSA, D. M. G.; LOBATO, E. Cerrado: correçâo do solo e adubaçâo. 2. ed. Brasília: Embrapa Informaçâo Tecnológica, 2004. 416p.
SOUZA, V. Q.; NARDINO, M.; FOLLMANN, D. N.; BAHRY, C. A.; CARON, B. O.; ZIMMER, P. D. Caracteres morfofisiológicos e produtividade da soja em razâo da desfolha no estádio vegetativo. Científica, v. 42, n. 3, p. 216-223, 2014. Disponível em: https://doi.org/10.15361/1984-5529.2014v42n3p216-223 Acesso em: 15 nov. 2019.
TAIZ, L.; ZEIGER, E.; MØLLER, I. M.; MURPH, A. Fisiología e desenvolvimento vegetal. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. 888p.
ZUFFO, A. M.; ZAMBIAZZI, E. B.; GESTEIRA, G. de S.; REZENDE, P. M. de.; SOARES, I. O.; GWINNER, R.; BIANCHI, M. C. Agronomic performance of soybean according to stages of development and levels of defoliation. Afr. J. Agric. Res., v. 10, n. 19, p. 2089-2096, 2015. Disponível em: https://doi.org/10.5897/ajar2014.9369 Acesso em: 15 nov. 2019.
ZUFFO, A. M.; STEINER, F.; BUSCH, A.; ZOZ, T. Response of early soybean cultivars to nitrogen fertilization associated with Bradyrhizobium japonicum inoculation. Pesqui. Agropecu. Trop., v. 48, n. 4, p. 436-446, 2018. Disponível em: https://doi.org/10.1590/198340632018v4852637 Acesso em: 20 ago. 2019.
ZUFFO, A. M.; STEINER, F.; BUSCH, A.; SANTOS, D. M. S. Adubaçao nitrogenada na soja inibe a nodulaçao e não melhora o crescimento inicial das plantas. Rev. Agro. Amb., v. 12, n. 2, p. 333-349, 2019. Disponível em: https://doi.org/10.17765/2176-9168.2019v12n2p333-349. Acesso em: 10 nov. 2019.
ZUFFO, A. M.; RATKE, R. F.; AGUILERA, J. G.; SANTOS FILHO, F. N.; YOKOTA, L. A.; MORAIS, D. B. Adubaçao nitrogenada associada a inoculaçao de Bradyrhizobium _ japonicum pode aumentar a produtividade e o teor de proteínas de graos de soja? Rev. Agro. Amb, v. 13, n. 4, 2020. Disponível em: https://doi.org/10.17765/2176-9168.2020v13n4p1391-1407. Acesso em: 10 nov. 2019.
WERNER, F.; BALBINOT JUNIOR, A. A.; FERREIRA, A. S.; MARCELO, A. De A.; DEBIASI, S. H.; FRANCHINI, J. C. Soybean growth affected by seeding rate and mineral nitrogen. Rev. bras. eng. agríe. ambient., v. 20, n. 8, p. 734-738, 2016. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1807-1929/agriambi.v20n8p734-738. Acesso em: 22 ago. 2019.
You have requested "on-the-fly" machine translation of selected content from our databases. This functionality is provided solely for your convenience and is in no way intended to replace human translation. Show full disclaimer
Neither ProQuest nor its licensors make any representations or warranties with respect to the translations. The translations are automatically generated "AS IS" and "AS AVAILABLE" and are not retained in our systems. PROQUEST AND ITS LICENSORS SPECIFICALLY DISCLAIM ANY AND ALL EXPRESS OR IMPLIED WARRANTIES, INCLUDING WITHOUT LIMITATION, ANY WARRANTIES FOR AVAILABILITY, ACCURACY, TIMELINESS, COMPLETENESS, NON-INFRINGMENT, MERCHANTABILITY OR FITNESS FOR A PARTICULAR PURPOSE. Your use of the translations is subject to all use restrictions contained in your Electronic Products License Agreement and by using the translation functionality you agree to forgo any and all claims against ProQuest or its licensors for your use of the translation functionality and any output derived there from. Hide full disclaimer
© 2021. This work is published under https://creativecommons.org/licenses/by-nc/4.0/ (the “License”). Notwithstanding the ProQuest Terms and Conditions, you may use this content in accordance with the terms of the License.
Abstract
O nitrogenio (N) promove a fotossíntese, a produçâo e a translocaçâo de fotoassimilados, bem como aumenta a taxa de crescimento das plantas. Este estudo teve como objetivo avaliar a resposta da soja a desfolha e a doses de N, associada a inoculaçâo de B. japonicum. O delineamento experimental utilizado foi o de blocos casualizados, disposto em esquema fatorial 4 x 4, com quatro repetiçöes. Os tratamentos foram constituidos por quatro niveis de desfolha (0, 33, 66 e 99%) realizado no estadio R3 (legume - canivete com 5mm) e quatro doses de nitrogenio (0, 50, 100 e 150 kg ha-1 de N). A fonte de N utilizada foi a ureia (45% de N), sendo realizadas distribuiçöes manuais a lanço dois dias após a desfolha. Quando os grâos estavam perceptíveis ao tato - 10% de granaçâo (estadio R5.1) foram avaliadas a altura das plantas, teor de clorofila, área foliar e matéria seca aérea. Na colheita foram determinados a inserçâo do primeiro legume, número de legume, número de grâos por legume, massa de mil grâos, produtividade e o teor de proteínas dos grâos. A adubaçâo nitrogenada nâo teve a capacidade de amenizar o efeito da desfolha na cultura da soja, independentemente do nivel de desfolha e das doses de N na aplicaçâo. Níveis de desfolhas a partir de 30% durante a formaçâo do legume (canivete com 5mm) culminaram na reduçâo da área foliar, matéria seca da parte aérea, altura de plantas, número de legumes por planta, número de grâos por legume, massa de mil grâo, produtividade dos grâos e o teor de proteína dos grâos.