RESUMO
Este trabalho objetivou entender o que säo projetos de software livre comunitarios e quais características de governança (estrutura e controle) que os diferenciam das organizaçoes tradicionais, trazendo reflexóes sobre esse modelo de negocio. Foi realizada revisäo de literatura que delineou as principais percep&ecedil;óes dos estudos no tema, bem como pesquisa exploratoria qualitativa, envolvendo analise documental e entrevistas com quatro participantes brasileiros que atuam na gestäo de projetos distintos. A pesquisa exploratoria tratou-se de contato preliminar com o campo investigado, para tornar os argumentos trazidos mais robustos. Dentre as reflexóes, observa-se que mesmo sendo possível distinguir os projetos de software livre comunitarios das organiza&ecedil;óes tradicionais, um fator crucial nem sempre considerado refere-se as transforma&ecedil;óes decorrentes do desenvolvimento desses projetos. É preciso que os estudos considerem o contexto de funcionamento, bem como as mudanças e relacionamentos interorganizacionais estabelecidos pelos projetos ao longo do tempo. Consideradas essas questóes, acredita-se que aproxima&ecedil;óes dos projetos com as organiza&ecedil;óes tradicionais possam acontecer, ainda que características comunitarias sejam mantidas.
PALAVRAS- CHAVE
Projetos de Software Livre, Comunidades, Estrutura, Controle, Governança
1. INTRODUÇÂO
O cenário atual em que as organizaçoes estäo inseridas tem possibilitado o surgimento de negocios modernos e flexíveis, em resposta a complexidade e as mudanças constantes do ambiente (Adler, Heckscher, & Prusak, 2011; Fjeldstad, Snow, Miles, & Lettl, 2012; Zebari, Zeebaree, Jacksi, & Shukur, 2019). Nesse cenário, arranjos organizacionais com essas características e que utilizam intensivamente as tecnologías da informaçao e comunicaçao (TIC) na interaçao dos seus integrantes surgiram na sociedade, como é o caso das comunidades virtuais (Faraj, Jarvenpaa, & Majchrzak, 2011; Seidel & Stewart, 2011). Um exemplo bastante disseminado na literatura científica e profissional de empreendimento baseado no modelo comunitário virtual sao os projetos de software livre. Esses projetos caracterizam-se pela disponibilizaçao do código-fonte do software em comunidades abertas ao público, para recebimento de contributes direcionadas ao seu aprimoramento (Crowston et al., 2007; Santos Júnior, Kuk, Kon, & Pearson, 2013; Viseur & Charleux, 2019). Os projetos de software livre sao espaços de promoçao da inovaçao aberta que dependem fortemente das TIC para a operaçao das comunidades, uma vez que as equipes de trabalho geralmente estao distribuidas geograficamente (Mäenpää; Munezero, Fagerholm, & Mikkonen, 2017; Eseryel, Wei, & Crowston, 2020).
De acordo com as investigaçoes no tema, os projetos de software livre comunitarios tem uma forma de funcionar que difere da perspectiva tradicional de organizaçao de software (Panchal, 2010; Lindberg, Berente, Gaskin, & Lyytinen, 2016; Miscione, Ziolkowsk, Zavolokina, & Schwabe, 2018). Compreender como as comunidades organizam suas atividades com a intençao de alcançar os resultados esperados constitui um importante foco de investigaçao para posicionar esses empreendimentos na literatura organizacional. Em relaçao as formas mais burocráticas de organizaçao, as comunidades permanecem tendo um papel de menor destaque, o que leva a necessidade de aperfeiçoamento desse campo de pesquisa (O'Mahony & Ferraro, 2007; O'Mahony & Lakhani, 2011; Zheng, Zhao, & Stylianou, 2013). Além disso, torna-se imprescindível que os estudos expliquem melhor como produtos complexos e inovadores sao desenvolvidos nos modelos comunitários (Lindberg et al., 2016).
Na área de software livre normalmente sao encontrados estudos que retratam as comunidades como empreendimentos cuja gestao se destaca pelo pouco uso, ou ausencia, de estruturas e controles tradicionais ou formais (Raymond, 1999; Panchal, 2010; Arazy, Daxenberger, & Lifshitz-Assaf, 2016; Miscione et al., 2018; Eseryel et al., 2020). Mesmo quando reconhecem que formalizaçoes possam ocorrer em funçao da maturidade alcançada, é comum nas pesquisas a visao de que sobressai nas comunidades a lógica informal de funcionamento (Xu et al., 2005; Latterman & Stieglitz, 2005; O'Mahony & Ferraro, 2007); ou a percepçao de que ainda é necessário obter melhor entendimento de como os aspectos formais ocorrem na prática (Santos Junior, Kuk, Kon, Suguiura, 2011; Mäenpää et al., 2017; Viseur & Charleux, 2019).
Sendo assim, o que se nota é que independente do desenvolvimento apresentado, parte significativa das investigaçoes no tema trazem associaçoes nas quais os projetos de software livre sao percebidos como representantes da lógica informal de operaçao das comunidades. A existencia dessas visoes demonstra que o cenário dos empreendimentos de software livre ainda precisa ser mais bem compreendido, uma vez que sao negocios inovadores e competitivos que podem assumir contornos mais complexos do que aquele que vem sendo retratado. No alcance dessas questoes, o conceito de governança é fundamental, pois envolve os meios que direcionam e controlam os indivíduos em iniciativas total ou parcialmente autónomas, como sao as comunidades de software livre (Markus, 2007; Li-Ying & Salomo, 2013). Esse conceito caracteriza-se por ter múltiplas dimensoes, ao envolver diversos princípios, práticas e processos encontrados nas organizaçoes (Mäenpää et al., 2017; Glass & Newig, 2019).
A partir do contexto apresentado, esta pesquisa tem a intençâo de contribuir com a literatura organizacional ao examinar a governança dos projetos de software livre comunitários, na perspectiva da estrutura e dos processos controle. Pretende-se promover o entendimento do que seria o funcionamento comunitário e informal desses projetos, diferenciando-o do modelo tradicional ou burocrático de organizaçâo. Ademais, também foram trazidas reflexóes que possam servir de base para investiga&ecedil;óes futuras na área.
O objetivo principal é responder aos seguintes questionamentos: 1) Quais características gerais e de governança diferenciam os projetos de software livre comunitários das organiza&ecedil;óes tradicionais? 2) Quais reflexóes podem ser realizadas para auxiliar a elaboraçâo de pesquisas futuras no tema? Para o alcance do objetivo, este artigo utilizou especialmente a literatura da área organizacional e de software livre. No curso da elaboraçâo deste trabalho, os pesquisadores optaram também por efetivar uma pesquisa exploratoria, mediante análise documental e entrevistas com quatro brasileiros que participam da gestâo de diferentes comunidades de software livre. É importante destacar que a pesquisa empírica exploratoria teve caráter complementar a revisâo de literatura, com o propósito de desenvolver reflexóes mais robustas sobre o tema proposto, de maneira que possam ser verificadas posteriormente.
2. PERSPECTIVAS DA LITERATURA SOBRE OS PROJETOS DE SOFTWARU LIVRE COMUNITÁRIOS
2.1. Projetos de Software Livre Comunitarios
Os projetos comunitários sâo formados por individuos com interesse em abrir as suas atividades produtivas para uma coletividade mais ampla (Santos Junior et al., 2013; Seidel & Stewart, 2011; Eseryel et al., 2020). Esses projetos incorporam de forma expressiva o trabalho voluntário e sâo representados por grupos cujos integrantes atuam conjuntamente em torno de um objeto comum de trabalho, que pode resultar na resoluçâo de um problema, na produçâo de determinada inovaçâo ou de outros novos conhecimentos (Panchal, 2010; Seidel & Stewart, 2011; O'Mahony & Lakhany, 2011; Zheng, Zhao, & Stylianou, 2013; Lindberg et al., 2016; Miscione et al., 2018).
Como os integrantes dos projetos comunitários nâo necessariamente se encontram em um mesmo espaço físico, o uso das tecnologías da informaçâo e comunicaçâo (TIC) é algo crucial para o surgimento e operaçâo dessa arquitetura (Seidel & Stewart, 2011; O'Mahony & Lakhany, 2011; Eseryel et al., 2020). Sâo os ambientes online propiciados pela dilusâo das TIC que tornam possível que os integrantes de uma comunidade virtual, mesmo que dispersos no tempo e no espaço, tenham um lugar comum para trabalhar, de modo que possam compartilhar conhecimentos e criar de forma aberta e colaborativa novos produtos (Lee & Cole, 2003; Li-Ying & Salomo, 2013).
Os projetos de software livre constituem um dos domínios mais disseminados no estudo da arquitetura em comunidade, especialmente na literatura de sistemas de informaçâo e organizacional, sendo o sistema operacional Linux um dos casos mais famosos (Demil & Lecocq, 2006; Panchal, 2010; Grabher & Ibert, 2014). Esses projetos funcionam em comunidades virtuais, nas quais indivíduos ou organizaçóes abrem o seu programa, com o propósito de receber contribuyes de voluntários e desenvolvedores de software heterogéneos, para resolver problemas ou criar novos produtos de software (Li & Cole, 2003; Li, Yoo, & Zang, 2016). Apesar de as pesquisas sobre software livre frequentemente serem citadas como exemplo de organizaçâo que representa a nova geraçâo de comunidades viabilizadas pelos avanços das TIC, esse formato organizacional se estende também para domínios distintos (Seidel & Stewart, 2011; Kolbjørnsrud, 2016).
2.2. Governança de Projetos de Software Livre Comunitarios
Embora existam varias pesquisas que investigam a arquitetura comunitaria (Shaikh & Vaast, 2016), a teoria da governança ainda se encontra concentrada no modelo convencional de organizaçâo, com estrutura hierárquica e processos marcados pela formalizaçâo (Child & Rodrigues, 2003). Diante dessa realidade, é necessario que a disciplina da governança seja aprofundada nos estudos sobre as comunidades virtuais (O'Mahony & Ferraro, 2007; Li-Ying & Salomo, 2013), evidenciadas por uma organizaçâo do trabalho que, mesmo se diferenciando dos arranjos tradicionais, tém operado na produçâo de inovaçoes de alta qualidade (Lee & Cole, 2003; Panchal, 2010; Miscione et al., 2018).
A abordagem da governança nas organizaçoes, em especial na esfera dos arranjos comunitarios, é algo complexo e multidimensional, pois envolve diversos elementos tais como a estrutura organizacional e decisoria, os processos técnicos e de gestâo e os direitos de propriedade da produçâo realizada (Markus, 2007; Mäenpää et al., 2017; Glass & Newig, 2019). Li-Ying e Salomo (2013) destacam que a dificuldade em compreender a governança nos modelos comunitarios advém das divergencias sobre quais meios de direçâo sâo apropriados aos diferentes tipos de comunidades existentes. Além disso, a própria governança é um fenómeno intrincado nos projetos comunitarios (Markus, 2007), ja que esses coletivos possuem natureza colaborativa aberta e distribuida, na qual individuos heterogéneos decidem onde, com quem e no que trabalhar, dificultando o gerenciamento das atividades produtivas (Dahlander & Wallin, 2006; Dahlander et al., 2008). Em funçâo dessas questóes, as pesquisas no tema encontram-se dispersas em diversos aspectos, o que dificulta a projeçâo da governança nos agrupamentos comunitarios (Li-Ying & Salomo, 2013; Kolbjørnsrud, 2016).
Apesar do desafio em alcançar um entendimento pratico e teórico comum da governança nas comunidades (Markus, 2007; Li-Ying & Salomo, 2013), algumas definiç0es do termo sâo encontradas na literatura do tema. Demil e Lecocq (2006) compreendem a governança como um framework institucional que regula as transaç0es entre os atores da comunidade. Para Markus (2007), a governança é representada pelos meios usados para alcançar a direçâo e o controle dos individuos em um projeto comunitario. Com base nas definiç0es anteriores, Li-Ying e Salomo (2013) concebem a governança como uma estrutura dinámica de mecanismos formais e informais que regulam as praticas conjuntas desenvolvidas pelos membros das comunidades, de modo a ensejar o controle.
A principal finalidade dos mecanismos de governança é assegurar o direcionamento e o controle dos individuos que integram ambientes comunitarios (Demil & Lecocq, 2006; Dahlander et al., 2008). Outra questâo referente a governança diz respeito a percepçâo de que esse conceito é algo dinámico e abrange diferentes elementos organizacionais (Markus, 2007; O'Mahony & Ferraro, 2007; Li-Ying & Salomo, 2013). Este trabalho optou pelo entendimento da governança por meio de duas vertentes: a estrutural, que envolve o desenho organizacional, de papéis e de decisóes do projeto (Demil & Lecocq, 2006; Markus, 2007); e a processual, que envolve os esquemas de controle empregados na dinâmica do trabalho colaborativo (Child & Rodrigues, 2003; Lattemann & Stieglitz, 2005; Xu et al., 2005).
2.2.1.Estrutura
A estrutura constitui o alicerce sobre o qual se apoiam todos os mecanismos organizacionais (Simeray, 1978) e fornece a base para que pessoas, recursos e tarefas sejam coordenados com foco no atingimento de objetivos (Mintzberg, 2011). Os dois tipos basicos de estrutura encontrados nas organizaç0es sâo a formal, baseada nas relaç0es oficiais de trabalho, e a informal, surgida espontáneamente pelas interaçoes sočiais (Vasconcellos & Hemsley, 2002; Mintzberg, 2011). Os elementos que compóem a estrutura sao representados pela especializaçâo, departamentalizaçâo, centralizaçâo, formalizaçâo, hierarquia e amplitude de controle (Aldrich, 2007; Robbins, 2010). A combinaçâo entre os tipos de estrutura e as variaç0es entre esses elementos possibilitam que diferentes formatos organizacionais sejam estabelecidos (Mintzberg, 2011). Enquanto os modelos tradicionais exibem maior nivel de formalizaçâo, unidade de comando, especializaçâo elevada e comunicaçâo vertical, os modelos mais modernos apresentam menor grau de formalizaçâo, baixa especializaçâo e comunicaçâo que nao depende de niveis hierárquicos (Vasconcellos & Hemsley, 2002). Os projetos comunitários estâo inseridos no cenário das tipologías modernas (Seidel & Stewart, 2011; Li-Ying & Salomo, 2013)
A definiçâo de autoridade nos arranjos comunitários nâo se configura pela existencia de uma hierarquia (Aldrich, 2007; Robbins, 2010). Nesses arranjos, o trabalho apresenta uma perspectiva horizontalizada, que é definida pelo estabelecimento de relaç0es laterais de autoridade entre os membros do agrupamento (Dahlander & O'Mahony, 2011; Seidel & Stewart, 2011). Nas relaç0es laterais, a autoridade é funçâo das habilidades dos individuos e notada pelos direitos de decisâo ou responsabilidades que eles assumem, tornando-se maior, quanto mais próximos esses individuos se encontram do centro da comunidade (Dahlander & O'Mahony, 2011).
O ordenamento do trabalho nas comunidades possui algumas especificidades, uma vez que a adesâo dos membros aos projetos depende fortemente do trabalho voluntário e, nesses casos, nâo é estabelecido um vinculo empregaticio por contrato formal de trabalho nem remuneraçâo financeira (Lattemann & Stieglitz, 2005; Shah, 2006; Seidel & Stewart, 2011). Ademais, os projetos comunitários estâo fundamentados no compartilhamento aberto de conhecimentos, um indicativo de que qualquer individuo pode participar e ter acesso ao que é produzido, bem como deixar de participar da comunidade (Lee & Cole, 2003; Seidel & Stewart, 2011). Por ter esse perfil, as fronteiras que definem os contornos de um arranjo comunitário sâo fluidas e pouco definidas (Faraj et al., 2011), de modo que as contribuiç0es dos integrantes tendem a ser mais fracas nas imediaç0es periféricas do agrupamento e se tornam mais fortes conforme se aproximam do núcleo central, onde estâo os individuos mais ativos do projeto e que tem maior autoridade (Seidel & Stewart, 2011).
No que tange ao sistema de comunicaçâo dos projetos comunitários, como os seus integrantes estâo distribuidos geograficamente, os recursos de TIC sâo essenciais para desenvolver as atividades colaborativas do grupo e de tomada de decisâo (Zheng et al., 2013; Hamersly, 2015; Eseryel et al., 2020). Dentre os recursos que compóem a infraestrutura tecnológica das comunidades, destacam-se o uso de listas de e-mail, chat, videoconferencias, grupos virtuais, fóruns de discussâo, sites, rastreadores de bugs, repositórios de código-fonte, dentre outros (Zhan et al., 2007; Seidel & Stewart, 2011; Eseryel et al., 2020). O uso desses recursos diminui a assimetria de informaç0es nas comunidades e dá suporte a transparencia das aç0es desempenhadas (Lattemann & Stieglitz, 2005).
Em relaçâo a definiçâo de responsabilidades, ainda que alguns papéis sejam identificados, o fato de a cadeia de comando ter um caráter mais informal e pouco definido, principalmente quando os integrantes se afastam do núcleo da comunidade (Seidel & Stewart, 2011), faz com que os individuos realizem diversas funç0es e tarefas que se sobrepóem (Faraj et al., 2011; Arazy et al., 2016). Nesse contexto, em vez de papéis formais de trabalho, sâo comumente encontrados nas comunidades papéis emergentes, os quais surgem a medida que as atividades de trabalho sâo estabelecidas (Arazy et al., 2016). Sâo papéis em que nâo há um planejamento ou alguém designado previamente para aquela funçâo especifica (Lee & Cole, 2003), e isso demonstra, em geral, uma baixa especializaçâo deles nas comunidades. Contudo, ainda que exista essa mobilidade dos papéis no nível individual, a estabilidade do trabalho na arquitetura comunitária é conseguida pelo fato de a atividade colaborativa ser centrada em torno do artefato produzido (Arazy et al., 2016).
Um dos papéis de destaque e que normalmente é bem definido no ambiente comunitário é o da liderança, pois a sua atuaçâo tem um relevante impacto no sucesso dos projetos, no sentido de possibilitar a construçâo dos relacionamentos, fornecer informaçoes sobre o trabalho, persuadir as pessoas e de avaliar os membros da equipe (Druskat & Wheeler, 2003; Guimaráes, Korn, Shin, & Eisner, 2013; Mäenpää et al., 2017). É a liderança que desempenha o papel mais importante no controle dos projetos comunitários virtuais, tomando decisóes relevantes e implementando estratégias e práticas de gestáo que tém impacto no desempenho e na viabilidade do projeto (Xu et al., 2005; Hamersly, 2015; Mäenpää et al., 2017).
2.2.2.Processos de Controle
Os processos de controle identificados na governança sáo executados com o propósito de assegurar que individuos heterogéneos, cujos objetivos divergem parcialmente, direcionem os seus comportamentos para a consecuçâo dos resultados organizacionais (Ouchi, 1979; Das & Teng, 1998). Várias tipologías de controle sáo encontradas na literatura do tema.
Ouchi (1979) divide o controle em trés mecanismos: 1) os de mercado, os quais mensuram e remuneram as contributes individuais com base nos resultados alcançados; 2) os burocráticos, que estáo centrados na hierarquia e na legitimaçâo da autoridade para controle dos comportamentos; e 3) os de clá, que tém como cerne a socializaçâo dos individuos para convergencia de objetivos. Vilariño e Schoenherr (1987) dividiram o controle em trés categorias: 1) o direto, praticado por meio da ordem e vigilancia expressa; 2) o estrutural, envolvendo aspectos técnicos e burocráticos; e 3) o difuso, baseado em pressupostos culturais. Scott (1995), por sua vez, trouxe os seguintes enfoques de controle: 1) o regulativo, que usa um nivel superficial e direto, ao abranger leis, sanç0es, normas e vigilancia; 2) o normativo, que está respaldado na certificaçâo, por meio do reconhecimento e titulaçâo; e 3) o cognitivo, que se encontra alicerçado em premissas culturais.
A partir das tipologias exemplificadas, é possivel entrever que o controle varia ao longo de duas vertentes fundamentais, a dos mecanismos formais e informais de controle (Ouchi, 1979; Vilariño & Schoenherr, 1987; Scott, 1995; Das & Teng, 1998; Xu et al., 2005). Seguindo essa orientaçâo, dentre as espécies formais de controles, localiza-se o controle de comportamento e de resultados. Já como modalidade informal, encontra-se o controle social (Ouchi, 1979; Das & Teng, 1998; Xu et al., 2005).
No contexto dos projetos comunitários, sáo utilizados meios de governança que visam aumentar o compromisso dos participantes, agindo náo só sobre a motivaçâo em contribuir (Shah, 2006), mas também no sentido de adequar os comportamentos aos objetivos delineados (Lattermann & Stieglitz, 2005; Xu et al., 2005). No curso dessas questóes, o modo de assegurar o controle nas comunidades é viabilizado especialmente por procedimentos com perfil mais democrático e informal (O'Mahony & Ferraro, 2007; Miscione et al., 2018), voltados a socializaçâo dos individuos (Seidel & Stewart, 2011), em contraponto ao uso de meios formais e centrados no comportamento e resultados (Lattermann & Stieglitz, 2005; Xu et al., 2005). Contudo, é relevante frisar que, mesmo diante da fluidez dos arranjos comunitários (Li et al., 2016), procedimentos de controle burocráticos, tais como o estabelecimento de regras e normas, também podem ser empregados e combinados com as formas de controle social existentes (Markus, 2007; O'Mahony & Ferraro, 2007; Chen & O'Mahony, 2009, Mäenpää et al., 2017; Viseur & Charleux, 2019). Xu et al. (2011) também perceberam a presença de controle de resultados no estudo de comunidades de software livre, porém, de forma menos formalizada do que acontece nos times tradicionais. Os processos de controle democráticos atuam por meio de maior oportunidade de participaçâo dos integrantes nas atividades produtivas (German, 2003; O'Mahony & Ferraro, 2007), assim como pela transparencia das açoes de governança e do conteúdo desenvolvido nas comunidades (Vincent & Camp, 2004; Markus, 2007). Eles dependem da existencia de um contexto de meritocracia nos projetos que incentive contributes de qualidade dos membros (O'Mahony & Ferraro, 2007), por meio do reconhecimento de mérito técnico e profissional (Dahlander & O'Mahony, 2011), status, assunçâo de responsabilidades e oportunidades para melhorar o seu próprio desenvolvimento (Stewart, 2005). Markus (2007) afirma que essa abertura democrática das comunidades também apresenta caráter motivacional, o que torna os projetos com esse formato participativo e transparente mais bem-sucedidos na missâo de atrair colaboradores.
No que se refere a socializaçâo, nota-se nos projetos comunitários o emprego de formas de controle que promovem a conscientizaçâo dos individuos para alinhamento dos seus objetivos com os propósitos do agrupamento (Lattermann & Stieglitz, 2005; Xu et al., 2005). Com base nas tipologías de controle exemplificadas, esses mecanismos tem como pressuposto o processo de socializaçâo intensiva dos membros da organizaçâo por meio do estabelecimento de uma cultura compartilhada (Xu et al., 2005; Seidel & Stewart, 2011). Envolvem a promulgaçâo de valores, crenças e normas os quais devem ser internalizados pelos atores (Ouchi, 1979) e funcionam como um contrato coletivo ao ajudar os participantes a entenderem os comportamentos que sao aceitos e os que nao sao permitidos nas comunidades (Xu et al., 2005; Li-Ying & Salomo, 2013).
Seidel e Stewart (2011) afirmam que esse controle cultural, reforçado pela interaçâo entre os fundadores e os contribuintes dos projetos, é algo critico para a manutençâo e o crescimento dos arranjos comunitários. Por meio dele pode-se fortalecer a cooperaçâo entre os atores de um grupo e promover a integraçâo de pessoas heterogéneas, distantes entre si e que se comunicam principalmente pelo suporte das TIC (Lattermann & Stieglitz, 2005; Zhan et al., 2007). Assim, as açoes executadas nas comunidades, na ausencia de proteçâo contratual explicita, acontecem em torno de um propósito comum (Dahlander & Wallin, 2006; O'Mahony & Ferraro, 2007).
A cultura estabelecida nas comunidades se consolida mediante as práticas compartilhadas construidas pelos individuos ao longo da realizaçâo do trabalho colaborativo (Wenger, 1998). Essas práticas manifestam-se por meio de rotinas, simbolos, histórias, protótipos, ritos, linguagem etc., que integram o repertório de representaçoes da comunidade (Wenger, 1998; Seidel & O'Mahony, 2014). Esse repertório compartilhado de representaçoes produz entre os membros das comunidades uma referencia sobre como interagir, alinhar o trabalho e ter um entendimento mútuo das açoes que executam (Okhuysen & Bechky, 2009; Seidel & O'Mahony, 2014). Ademais, o senso de identificaçâo e de pertencimento ao coletivo torna-se fortalecido (Seidel & O'Mahony, 2014), principalmente quando os membros estâo mais próximos do centro do agrupamento, o que permite a definiçâo dos limites do grupo e a consolidaçâo da sua identidade (Wenger, 1998; Seidel & Stewart, 2011).
Em consonancia com o direcionamento dado pelos mecanismos sociais, outras formas de controle verificadas nos projetos comunitários sao representadas pelo controle entre pares e autocontrole (Child & Rodrigues, 2003; Arazy et al., 2016; Kolbjørnsrud, 2016). O controle entre pares tem como pressuposto o ajustamento mútuo dos atores por meio da interaçâo durante a realizaçâo de determinada tarefa (Sutanto, Kankanhalli, & Tan, 2011), sendo verificado principalmente em ambientes caracterizados pela incerteza sobre os fins e os meios, como é o caso dos projetos comunitários (Fjeldstad et al., 2012). Já o autocontrole diz respeito aquela modalidade em que o individuo regula a si próprio em relaçâo as açoes que executa (Lattermann & Stieglitz, 2005; Kolbjørnsrud, 2016), tendo como antecedentes a complexidade da tarefa, a avaliaçâo ambigua do desempenho e a falta de regras e de procedimentos para completar uma tarefa (Xu et al., 2005).
2.2.3.Visâo Geral da Governança: Organizaçâo Tradicional x Organizaçöes Comunitarias
O Quadro 1, elaborado com base na literatura organizacional e de software livre, apresenta um resumo das características gerais e de governança (estrutura e controle) que tem maior predominancia nos projetos comunitarios, em comparaçâo com as organizaçöes tradicionais.
3. PESQUISA EXPLORATORIA
3.1. Procedimentos Metodológicos Empregados na Pesquisa Exploratória
A realizaçâo de pesquisa exploratória e descritiva teve orientaçâo qualitativa, na qual foram acessados documentos e efetivadas entrevistas com quatro integrantes brasileiros participantes da gestáo de diferentes projetos de software livre comunitarios. É importante mencionar que essa pesquisa exploratória almejou trazer um entendimento complementar, além daquele trazido pela literatura da área. Nao houve a intençâo de ser uma pesquisa qualitativa aprofundada, mas sim de permitir que os pesquisadores pudessem compreender mais sobre esses projetos numa perspectiva prática. Tratou-se, portanto, de um primeiro contato com o campo de investigaçâo, o que auxiliou no acréscimo de conhecimentos além da literatura, bem como na realizaçâo de reflexóes mais robustas sobre o tema, auxiliando na realizaçâo de pesquisas futuras. Tal fato justifica o número reduzido de participantes do estudo e o caráter descritivo das análises.
Para ter acesso aos entrevistados, os pesquisadores recorreram nao só as indicaç0es fornecidas por docentes e profissionais da área de software livre da sua rede de contatos, mas também realizaram pesquisa documental em sites de eventos que ocorreram no Brasil. Dentre esses eventos encontraram-se o Fórum de Tecnología em Software Livre, o Fórum Internacional de Software Livre e o Fórum Goiano de Software Livre. Com esse mapeamento foi possível conseguir o e-mail de individuos participantes de diferentes projetos, de modo que, por meio dos contatos estabelecidos previamente, quatro deles aceitaram participar da pesquisa mediante a realizaçâo de entrevistas.
Os quatro projetos comunitarios de software livre foram representados pelas letras W, X, Y e Z. Para as entrevistas, houve o uso de um roteiro de perguntas semiestruturado, com questóes amplas o suficiente para obter informaç0es sobre as características gerais e de governança dos projetos. As dimensóes de análise concentraram-se na obtençâo das percepç0es dos entrevistados sobre a dinámica de iúncionamento e os aspectos da governança envolvidos pela estrutura e processos de controle observados nos coletivos. O Quadro 2 apresenta a relaçâo entre as dimensóes de análise da pesquisa e as perguntas que integraram o roteiro de entrevista.
Cada entrevista teve cerca de 60 minutos de duraçâo, sendo gravadas e transcritas posteriormente. A pesquisa documental foi empregada nos sites dos projetos investigados, com a intençâo de complementar as informaç0es obtidas nas entrevistas. A análise dos dados coletados foi viabilizada por meio da técnica de análise de conteúdo (Bardin, 2010 Krippendorff, 2013), conforme as dimensóes de análise estabelecidas previamente.
3.2. Descriçâo das Principais Percepçöes Observadas na Pesquisa Exploratória
As entrevistas e análise dos documentos permitiram delinear os principais atributos da governança, em termos estruturais e de controle, dos quatro projetos comunitários a que pertenciam os entrevistados. Todos os projetos tem o código-fonte disponibilizado em plataforma de software livre própria (projeto W) ou no GitHub (demais projetos). Na plataforma e nos sites desses projetos foram encontradas informaç0es gerais sobre o empreendimento e a licença utilizada. As características gerais de cada um dos projetos investigados sâo descritas no Quadro 3.
Os projetos W e X sao fork, ou seja, constituem ramificaçoes de outras iniciativas de software livre já existentes previamente. Ambos possuem comunidades de diferentes nacionalidades, sendo os entrevistados integrantes das comunidades brasileiras. Outra característica dos projetos é que eles contam com a presença de fundaçoes em sua governança. As fundaçoes caracterizam-se por serem entidades sem fins lucrativos que fazem o gerenciamento administrativo do empreendimento com o propósito de garantir a qualidade do software produzido. No projeto W, a fundaçao foi criada concomitantemente ao inicio do coletivo, enquanto no projeto X o funcionamento da fundaçao ocorreu sete anos após o surgimento desse projeto.
Os projetos Y e Z, a seu turno, sao iniciativas brasileiras de software livre que diferentemente dos dois projetos anteriores nao possuem comunidades segmentadas em diversos países e nao contam com o suporte de fundaçoes na sua gestao. No entanto, sao coletivos que agrupam individuos de diferentes nacionalidades e também possuem vínculos organizacionais. Conforme relatado pelos entrevistados, ao passo que o projeto Y nasceu no ámbito de uma cooperativa voltada para a produçâo de soluçoes de software livre, o projeto Z foi criado em um contexto corporativo privado e só posteriormente tornou-se software livre.
De maneira geral, percebeu-se que na estrutura de cada um dos projetos averiguados o relacionamento com alguma organizaçâo aconteceu, seja ela uma fundaçâo, cooperativa ou empresa privada. De acordo com os entrevistados, cada uma dessas organizaçoes tem forma própria de estruturar e controlar as suas rotinas administrativas que ocorrem em um contexto de relaçoes formais de trabalho. Por meio das entrevistas, foi possível compreender que tais organizaçoes exercem papel crucial na governança dos projetos aos quais estâo vinculadas, especialmente na garantia da qualidade do software, bem como na captaçâo e fornecimento de recursos físicos, tecnológicos e financeiros necessarios as atividades produtivas.
Em paralelo a estrutura formal das organizaçoes com as quais se relacionam, os entrevistados relataram que os projetos possuem a sua comunidade funcionando. Nos projetos W e X constatouse que embora as comunidades tenham certa autonomia para operar, as açoes executadas precisam estar em conformidade aos direcionamentos fornecidos por suas respectivas fundaçoes. Sendo assim, mesmo que os projetos tenham comunidades formadas por integrantes dispersos geograficamente e com intensa participaçâo de voluntarios, a produçâo conjunta dos individuos precisa ter alinhamento as diretrizes fornecidas pelas fundaçoes. A mesma situaçâo foi notada nas comunidades dos projetos Y e Z, uma vez que existe relaçâo de dependencia dessas estruturas com a cooperativa e a empresa criadoras dessas iniciativas. Nesse aspecto, notou-se que o fato de essas organizaçoes terem contratos de trabalho que oportunizam ganhos financeiros com o suporte e customizaçâo do software, faz com que elas exerçam influencia sobre o processo produtivo comunitario. Em vista disso, ainda que o programa seja disponibilizado abertamente para receber contribuiçoes, na prática, a gestâo das comunidades acontece, sobretudo, pela atuaçâo dos integrantes pertencentes a essas organizaçoes. Ditoisso, foi possível constatar que para o entendimento de qualquer um dos projetos (W, X, Y, Z), é inevitável nâo considerar a influencia exercida pelas organizaçoes formais com as quais as respectivas comunidades se relacionam.
Considerando específicamente a dinámica das comunidades, por meio das entrevistas, constatouse que formalizaçoes da estrutura e do controle acontecem em determinados momentos para garantir a gestâo das açoes descentralizadas em torno do software. Em relaçâo a hierarquia, todos os entrevistados relataram ser comum que as açoes desenvolvidas no ámbito das comunidades tenham uma liderança ou responsável que faça a gestâo e tome as decisoes necessárias. Nos projetos W e X, a liderança é exercida notadamente pelos membros mais ativos que integram as comunidades brasileiras. O entrevistado do projeto W, inclusive, em virtude do papel proativo assumido no coletivo, foi convidado a se tornar membro da fundaçâo que faz a governança desse projeto. Nos projetos Y e Z, os integrantes atuantes com maior frequencia na gestâo das atividades coincidem com aqueles que pertencem as organizaçoes que iniciaram o projeto. Além dessa liderança formal que assume a gestâo de determinadas iniciativas do projeto, os entrevistados relataram que nas comunidades existe também uma hierarquia informal, a qual acontece em funçâo do mérito e dos conhecimentos que os individuos possuem sobre o projeto.
No tocante aos papéis executados, os entrevistados demonstraram auxiliar as suas respectivas comunidades principalmente por meio das seguintes atividades: promoçâo de eventos de divulgaçâo do software, suporte no lançamento de versoes do software, desenvolvimento de código-fonte do software, atualizaçâo do site do projeto, elaboraçâo de respostas aos questionamentos dos fóruns de discussâo e e-mails, traduçâo de documentos, etc. Em comum, todos os entrevistados relataram que além de ser percebido nos projetos o papel da liderança atuando em diferentes frentes, existe também o papel de committer, representado pelo membro com acesso e poder de escrita no repositorio do código-fonte do software. No projeto Y, particularmente, encontrou-se o papel do release manager, executado pelo integrante da comunidade responsável pelo lançamento das versóes do software. Também foi relatado nas entrevistas que apesar de alguns papéis serem definidos, os participantes das comunidades nao necessariamente se limitam ao exercício de uma única funçao, visto que podem participar de múltiplas atividades concomitantemente, conforme seus interesses.
Em termos de decisao, os membros dos projetos relataram que é comum a busca de consenso e da participaçao dos integrantes nas escolhas realizadas pelas comunidades. No entanto, quando as decisóes sao de nivel estratégico e tém repercussao na qualidade do software, os entrevistados frisaram que a tomada de decisao pode acontecer de maneira formal, envolvendo a realizaçao de votaçao e contando com a participaçao efetiva das organizaç0es que atuam na governança dos projetos.
No que se refere ao controle, notou-se nas entrevistas que apesar de os aspectos informais se destacarem, algumas formalizaç0es aconteceram nos coletivos. Essas formalizaç0es apareceram atreladas especialmente aos processos do core (núcleo produtivo) do projeto, a exemplo do lançamento de versóes do software, bem como nas interfaces entre as comunidades e as organizaç0es com as quais elas se relacionam.
Nas entrevistas foi relatada a existencia de regras a fim de contribuiç0es serem incorporadas ao código-fonte, de forma que elas precisam necessariamente passar pela revisao de algum outro integrante. Os entrevistados dos projetos W e X relataram que as regras e normativos desenvolvidos pelas fundaç0es norteiam e repercutem nas atividades das comunidades. Outro momento das entrevistas em que o controle formal foi destacado esteve associado aos relacionamentos entre as comunidades e as organizaç0es com as quais se vinculam, que revelaram ser essenciais para a captaçao de recursos ao projeto. Sobre isso, nos projetos W e X, foi citado o recebimento de doaç0es de empresas cuja mediaçao ocorre por meio das fundaç0es. No projeto Y, o entrevistado relatou que os projetos paralelos desenvolvidos com outras organizaç0es permitem que a cooperativa tenha ganhos financeiros para investir na comunidade do software. No projeto Z, o entrevistado relatou o recebimento de um fundo de investimento americano, o qual oportunizou aquisiç0es por parte da empresa que gerencia o software, trazendo melhorias também para a comunidade do projeto. Nas fundaç0es, cooperativa e empresa privada participantes da governança dos projetos, percebeu-se que existem profissionais remunerados, os quais integram concomitantemente a organizaçao e a comunidade do projeto, convivendo em paralelo com os participantes voluntários.
Nos aspectos informais, os projetos demonstraram ter preocupaçao com a socializaçao dos membros, no sentido de desenvolver um senso de pertencimento ao coletivo. Os entrevistados dos projetos W e X destacaram que costumam organizar eventos abertos para promover a interaçao entre as pessoas, assim como para promover a divulgaçao do software. Os entrevistados dos projetos Y e Z relataram que é frequente a participaçao dos membros da comunidade em entrevistas, eventos académicos ou da área de software livre para falar sobre o projeto. Todas essas vias de socializaçao fazem com que, mesmo os membros distantes geograficamente, ou que tenham maior autonomia por serem voluntários, alinhem os seus comportamentos aos objetivos do projeto. A socializaçao pareceu ser mecanismo, portanto, que influencia o autocontrole, principalmente dos integrantes voluntários com maior liberdade de atuaçao nas atividades executadas. Outra forma de controle informal verificada nos projetos foi o controle entre pares, pois mesmo quando os integrantes assumem o papel de committer, a revisao do código-fonte por outro participante do agrupamento antes de ele ser inserido no repositorio do projeto é algo comum.
4. REFLEXÓES SOBRE OS PROJETOS DE SOFTWARE LIVRE COMUNITARIOS
A partir da comparaçao entre a forma como a literatura costuma abordar os projetos de software livre comunitarios e as percepçoes alcançadas por meio da pesquisa exploratoria, algumas reflexóes foram delineadas.
Ao retratar o desenvolvimento de projetos comunitarios, os estudos da área costumam afirmar que os processos de governança sao dinámicos, podendo ser estabelecidos, ajustados ou abandonados conforme a necessidade. Em decorrencia dessa dinamicidade sao encontradas variaç0es das comunidades em funçao da complexidade e do crescimento alcançado (Xu et al., 2005; Forte, Larco, & Bruckman, 2009; Li-Ying & Salomo, 2013; Mäenpää et al., 2017; Viseur & Charleux, 2019). Convergindo com essas visóes, as entrevistas trouxeram a percepçao de que, embora existam semelhanças, os projetos investigados tiveram trajetorias de desenvolvimento distintas, vistas como fundamentais para explicar a configuraçao atual da sua governança. Sendo assim, a governança demonstrou ser fenómeno flexível e adaptável as situaç0es ocorridas ao longo da historia, o que traz características particulares para os coletivos. Como exemplo dessa situaçao, é possível citar o contexto de funcionamento dos projetos. Apesar de os agrupamentos W e X serem fork, as suas respectivas fundaç0es foram criadas em momentos distintos, segundo a necessidade de cada um desses projetos. O projeto Y originou-se no ámbito de uma cooperativa, enquanto Z desde o inicio esteve vinculado a uma empresa privada, mas só em momento posterior se tornou uma iniciativa de software livre.
Até os dias de hoje, as pesquisas sobre os projetos de software livre comunitários permanecem tentando diferenciar a governança deles daquela das organizaç0es ditas tradicionais (Miscione et al., 2018). Com base nos estudos de Raymond (1999; 2005), enquanto as comunidades sao vistas como arranjos do tipo "bazar", com troca aberta de conhecimentos e configuraçao informal, as organizaç0es tradicionais se aproximam de uma arquitetura "catedral", com estrutura e processos de controle formalizados. Na prática, no entanto, o relato dos entrevistados constatou que formalizaç0es aconteceram, especialmente, nas relaç0es estabelecidas entre os projetos e as organizaç0es as quais eles estao vinculados, ou até com outras organizaç0es externas, voltadas principalmente para obtençao de recursos. No ámbito da comunidade, específicamente, as formalizaç0es ocorreram sobretudo para garantir a qualidade do software. Dentre os exemplos de situaç0es formais vistas nas comunidades, destacaram-se: as definiç0es de papéis; a centralizaçao das decisóes mais estratégicas do projeto; os processos de controle direcionados para a produçao e divulgaçao do software.
Ainda que determinados autores reconheçam que os projetos de software livre comunitários no curso do seu desenvolvimento possam se formalizar, assim como ser geridos ou patrocinados por outras organizaç0es (West & O'Mahony, 2005; Panchal, 2010; Li-Ying & Salomo, 2013; Mäenpää et al., 2017; Viseur & Charleux, 2019), o entendimento de como isso acontece permanece pouco explorado empiricamente. Tal fato é visível quando projetos em estágios avançados de maturidade, como é o caso do Linux, Apache, Gnome, dentre outros, sao citados como exemplos de iniciativas comunitárias (Lee & Cole, 2003, Shah, 2006; Seidel & Stewart, 2011; Lindberg et al., 2016), sem existir o aprofundamento acerca das transformaç0es que levaram a configuraçao atual dessas estruturas.
É preciso considerar que existe uma diversidade de projetos comunitários na Internet, envolvendo tanto comunidades que nao tem muitos contribuintes além dos seus fundadores iniciais, ou que perderam sua popularidade ao longo do tempo, até comunidades em estágio avançado de desenvolvimento (Stewart & Gosain, 2006; Seidel & Stewart, 2011). Em virtude disso, e conforme percebido na pesquisa exploratória, é preciso que as investigaçoes sobre governança de projetos comunitarios, tais como as iniciativas de software livre, abordem o tema por meio de uma perspectiva mais ampla. Nessa perspectiva, os projetos comunitarios devem ser compreendidos considerando as mudanças que sofreram no decorrer do seu desenvolvimento, bem como o contexto no qual estáo inseridos. Esse contexto envolve nao só o arranjo comunitario em si, mas também os relacionamentos estabelecidos com outras organizaçoes e que exercem influencia no funcionamento dessas comunidades. Assim, evita-se que projetos dos mais diversos tipos sejam retratados como representantes do modelo comunitario, ou como opostos as organizaçoes tradicionais, sem que haja contextualizaçao suficiente nesse sentido. A Figura 1 resume a ideia central trazida no presente artigo.
5. CONCLUSÓES
Os resultados alcançados com base na literatura e na pesquisa exploratória permitiram notar que a governança das comunidades de software livre nao demonstrou ser algo rígido e definitivo. Ao contrario, constituiu um arcabouço dinámico, de contornos flexíveis e forte adaptabilidade ao ambiente e a evoluçao do projeto (Lattermann & Stieglitz, 2005; Xu et al., 2005; Crowston et al., 2007; Panchal, 2010; Li-Ying & Salomo, 2013; Mäenpää et al., 2017; Viseur & Charleux, 2019).
A despeito de o aspecto do desenvolvimento ser crucial para o estudo da governança e reconhecido por alguns autores (Lattermann & Stieglitz, 2005; Xu et al., 2005; Panchal, 2010; Guimaraes et al., 2013; Mäenpää et al., 2017; Viseur & Charleux, 2019), nem sempre ele é discutido nas pesquisas empíricas de forma detalhada. Sendo assim, é comum que projetos de software livre de sucesso sejam investigados como arranjos que seguem a lógica comunitaria, em contraste as organizaçoes tradicionais, sem haver, em parte significativa dos casos, a preocupaçao em debater a circunstáncia temporal e de amadurecimento em que eles se encontram. Projetos como os que foram observados na pesquisa exploratória, que surgiram no ámbito organizacional e/ou estabeleceram relacionamentos interorganizacionais, por exemplo, apresentaram formalizaçoes da estrutura e dos processos de controle convivendo de forma intrincada com a informalidade típica das iniciativas comunitarias. Tal fato demonstra a complexidade da governança no ámbito do cenário examinado, visto que a comunidade é parte integrante de um ambiente que exerce influencias mutuas sobre ela ao longo do tempo.
Embora didaticamente e para fins teóricos seja possível traçar as características de governança que diferenciam os empreendimentos comunitarios de software livre das organizaçoes tradicionais, na prática, a realidade pode näo acontecer dessa forma. Sendo assim, trazer abordagens que envolvam as transformaçoes vivenciadas pelos projetos, considerando o contexto no qual a comunidade está inserida e as interfaces com outras organizaçoes, permite a apresentaçao de visóes mais realistas sobre o tema. A realizaçao de contribuiçoes nesse sentido será fundamental para o posicionamento criterioso dos arranjos comunitários nas pesquisas organizacionais, especialmente no que se refere a dicotomia comunidades versus organizaçoes tradicionais. Apesar de o estudo da governança em comunidades ainda ser algo controverso e nao existir consenso na literatura, os resultados alcançados aqui permitem observar que alguns projetos de software livre, em funçao das características apresentadas, podem operar de modo próximo ao das organizaçoes tradicionais, ainda que mantenham traços comunitários.
Realizadas essas consideraçoes, espera-se que estudos futuros tragam novos aportes de conhecimentos que complementem as perspectivas discutidas no presente artigo. Tais ideias, uma vez levadas a prática, nao só na área de software livre, mas também em outros tipos de comunidades, permitiriam esclarecer se as transformaçoes vivenciadas pelos coletivos que apresentam trajetória de crescimento se aproximam das constituiçoes típicas das organizaçoes tradicionais, ou se de fato continuam preservando, em diferentes graus, os seus valores comunitários de origem. A abordagem dessas questóes, nos campos teórico e empírico, preencheria importantes lacunas sobre as mudanças nos atributos da governança eventualmente ocorridas, desde o surgimento do agrupamento até o seu estágio atual ou mais avançado de desenvolvimento.
A partir do exposto, é possível perceber nas conclusóes apresentadas que houve neste artigo a preocupaçao em trazer contribuiçöes para os pesquisadores que pretendem aprofundar no entendimento dos projetos comunitários de software livre. Esses empreendimentos, merecem, inclusive, maior destaque no cenário dos estudos organizacionais, visto que já sao bem consolidados na área de sistemas de informaçao. Isso se justifica em virtude da complexidade trazida pelo modelo comunitário e pela sua importáncia na industria de software, atuando na elaboraçao de produtos inovadores e competitivos em relaçao a produçao tradicional de tecnologías. Destacase, mais uma vez, que este trabalho tem a limitaçao de ser uma pesquisa preliminar e com foco na proposiçao de reflexóes. A ideia do artigo é demonstrar que o campo de software livre pode permitir o avanço no entendimento do modelo comunitário de produçao, indo além da visao comumente disseminada, na qual se destaca que a estrutura e os processos de controle desses negócios funcionam, sobretudo, mediante os moldes de informalidade da governança.
Recebido: 26/06/2020.
Aceito: 19/10/2020.
Publicado Online em: 13/04/2021.
DOI: http://dx.doi.org/10.15728/bbr.2021.18.3.6
CONTRIBUIÇ0ES DE AUTORIA
Todos os autores contribuíram para a elaboraçâo do estudo. O pesquisador principal participou da elaboraçâo da pesquisa e análise dos dados. O outro pesquisador participou da orientaçâo de todo o processo de pesquisa e revisâo do texto, realizando os ajustes necessários.
AGRADECIMENTOS
Pesquisa desenvolvida parcialmente com o suporte da CAPES (processo 88881.173270/2018-01), e do laboratorio LATECE (üniversite du Québec a Montreal - UQAM).
CONFLITO DE INTERESSE
Nao há conflitos de interesse no presente artigo ou durante sua elaboraçâo.
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Abstract
Este trabalho objetivou entender o que são projetos de software livre comunitários e quais características de governança (estrutura e controle) que os diferenciam das organizações tradicionais, trazendo reflexões sobre esse modelo de negócio. Foi realizada revisão de literatura que delineou as principais percepções dos estudos no tema, bem como pesquisa exploratória qualitativa, envolvendo análise documental e entrevistas com quatro participantes brasileiros que atuam na gestão de projetos distintos. A pesquisa exploratória tratou-se de contato preliminar com o campo investigado, para tornar os argumentos trazidos mais robustos. Dentre as reflexões, observa-se que mesmo sendo possível distinguir os projetos de software livre comunitários das organizações tradicionais, um fator crucial nem sempre considerado refere-se às transformações decorrentes do desenvolvimento desses projetos. É preciso que os estudos considerem o contexto de funcionamento, bem como as mudanças e relacionamentos interorganizacionais estabelecidos pelos projetos ao longo do tempo. Consideradas essas questões, acredita-se que aproximações dos projetos com as organizações tradicionais possam acontecer, ainda que características comunitárias sejam mantidas.