Resumo
Introduçao: A Parada Cardiopulmonar é uma condiçao de saúde crítica, com taxa de sobrevivencia ligada å rapidez com que a ressuscitaçao cardiopulmonar é efetuada. Objetivo: Avaliar autoconfiança, conhecimento e habilidade acerca da ressuscitaçao cardiopulmonar de internos de enfermagem. Materiais e Métodos: Estudo descritivo e quantitativo, realizado de abril a julho de 2018, em Universidade Pública do Nordeste do Brasil, com 80 internos de enfermagem. Aplicou-se teste de conhecimento, escala de autoconfiança em situaçao de emergencia e avaliaçao prática de habilidades com uso de manequim. Foram utilizados testes Kruskal-Wallis e Qui-Quadrado de Pearson. Resultados: Os internos apresentaram baixas médias de autoconfiança em situaçao de emergencia. QuestÐes teóricas sobre local para verificar pulsaçao e posicionamento da vítima tiveram mais acertos entre internos. Principais déficits no conhecimento foram sobre inicio das compressÐes (p=0,245) e número de compressÐes/respiraçÐes (p=0,034). Nas habilidades, os déficits foram no posicionamento das maos e braços do socorrista (p=0,058), movimentar tronco (p=0,062) e profundidade correta das compressÐes (p=0,086). Discussāo: Há necessidade de treinamentos periódicos e educaçao continua para capacitar os futuros enfermeiros para atendimento rápido, seguro e eficaz. Conclusöes: Foi evidenciado fragilidades no conhecimento e habilidade, o que destaca a relevância de novas metodologias para intensificar e garantir a efetividade do processo de ensino-aprendizagem. Palavras chave: Parada Cardíaca; Ressuscitaçao Cardiopulmonar; Estudiantes; Enfermagem.
Abstract
Introduction: Cardiac arrest is a critical health condition whose survival rate is associated with the speed with which cardiopulmonary resuscitation is performed. Objective: To assess self-confidence, knowledge and skills of nursing interns about cardiopulmonary resuscitation. Materials and methods: A quantitative descriptive study was conducted between April and July 2018 with 80 nursing interns at a public university in northeastern Brazil. A knowledge test, a self-confidence scale for emergency intervention and an assessment of CPR practical skills using a mannequin were applied. Kruskal-Wallis and Pearsons Chi-square tests were also used. Results: Nursing interns showed low self-confidence before an emergency. The theoretical questions about the location to check the victims pulse and position were correctly answered by most of the nursing interns. The main gaps in knowledge were related to the initiation of compressions (p = 0.245) and the rate of compressions/breaths (p = 0.034). In terms of skills, the gaps in knowledge were related to the position of the rescuers hands and arms (p = 0.058), trunk movement (p = 0.062) and the right depth of compressions (p = 0.086). Discussion: Regular training and continuing education are necessary for rapid, safe and effective care which will be provided by future nurses. Conclusions: Gaps in knowledge and skills were evident, highlighting the importance of new methodologies to intensify and ensure the effectiveness of the teaching-learning process.
Key words: Heart Arrest; Cardiopulmonary Resuscitation ; Students; Nursing.
Resumen
Introducción: El paro cardiorrespiratorio es una condición de salud crítica, cuya tasa de supervivencia está asociada a la velocidad con la que se realiza la reanimación cardiopulmonar. Objetivo: Evaluar la autoconfianza, el conocimiento y las habilidades de reanimación cardiopulmonar de los practicantes de enfermería. Materiales y métodos: Se trata de un estudio descriptivo de enfoque cuantitativo que fue realizado de abril a julio de 2018 en una universidad pública del noreste de Brasil con 80 practicantes de enfermería. Se realizó un examen de conocimiento, escala de autoconfianza en situaciones de emergencia y evaluación práctica de las habilidades con el uso de un maniquí. Se utilizaron las pruebas de Kruskal-Wallis y Chi-cuadrado de Pearson. Resultados: Los practicantes mostraron tener poca confianza en sí mismos ante una emergencia. Las preguntas teóricas sobre la ubicación para verificar el pulso y la posición de la víctima fueron las que más acertaron los practicantes. Los principales vacíos de conocimiento estaban relacionados con el inicio de las compresiones (p = 0.245) y el número de compresiones/respiraciones (p = 0.034). En términos de habilidades, los vacíos estaban relacionados con la posición de las manos y brazos del rescatador (p = 0.058), el movimiento del tronco (p = 0.062) y la profundidad correcta de las compresiones (p = 0.086). Discusión: Es necesario impartir capacitación periódica y formación continua para una atención rápida, segura y efectiva de parte de los futuros enfermeros. Conclusión: Se evidenciaron insuficiencias en los conocimientos y aptitudes, lo que pone de relieve la importancia de las nuevas metodologías para intensificar y garantizar la efectividad del proceso de enseñanza-aprendizaje.
Palabras clave: Paro Cardíaco; Reanimación Cardiopulmonar; Estudiantes; Enfermería.
INTRODUÇAO
A Parada Cardiopulmonar (PCR) é uma condiçâo de saúde crítica, caracterizada pela ausencia de pulso central palpável, perda de consciencia do paciente e apneia ou gasping1. Para tentar restabelecer a circulaçâo espontánea do paciente, devem ser realizadas manobras de ressuscitaçâo cardiopulmonar (RCP), as quais fazem parte de conjunto de procedimentos que visam manter artificialmente a perfusão arterial de órgaos vitais2.
Segundo o Centers for Disease Control (CDC), no ano de 2014, ocorreram mais de 350 mil mortes nos Estados Unidos decorrentes de PCR3. A Sociedade Brasileira de Cardiologia, estima a ocorrencia de 200 mil casos de PCR por ano no Brasil. A causa mais comum é a doença isquemica coronariana e outras doenças como ruptura aórtica, hemorragia subaracnóidea, tamponamento cardíaco e embolia pulmonar maciça4.
As taxas de sobrevivencia e resultados de pacientes após PCR estâo diretamente ligados a rapidez com que a RCP é iniciada e a qualidade de sua realizaçâo5. A rápida intervençâo na PCR de forma segura, eficaz e de alta qualidade pode dobrar ou triplicar a sobrevida6. Cada minuto reduz a chance de sobrevivencia da vítima em cerca de 7% a 10%7.
No atendimento as vítimas de PCR, o enfermeiro é participante ativo da equipe multiprofissional. Para que a participaçâo da enfermagem ocorra, é necessário que o profissional possua autoconfiança, conhecimento e habilidade para agir. O conhecimento e habilidade se fazem necessários para que seja possível agregar o "saber" e o "saber fazer" das etapas que integram a assisténcia a vítima de PCR8.
O desenvolvimento da autoconfiança é componente chave na tomada de decisöes corretas em contextos emergenciais. É vista como indicador da proatividade dos enfermeiros em que, diante de situaçöes de emergencia, deve sentir-se autoconfiante para atuar de forma adequada. A baixa autoconfiança pode levar a atrasos no socorro, maiores níveis de ansiedade e maior probabilidade de erros, principalmente relacionados a velocidade e profundidade das compressöes9.
O treinamento para realizar a ressuscitaçâo de alta qualidade, desde a graduaçâo, assegura a melhoria nas taxas de sobrevivencia de vítimas de PCR, além de favorecer o desenvolvimento de habilidades cognitivas, comportamentais e psicomotoras necessárias para realizar com sucesso a ressuscitaçâo cardiopulmonar8.
Nessa perspectiva, o processo de qualificaçâo profissional da enfermagem se inicia desde a formaçâo: nos últimos semestres do curso, o discente encerra suas atividades teóricas e passa a vivenciar a prática clínica no internato. A vivencia do internato busca tornar o académico preparado para enfrentar a realidade complexa e dinámica, o que possibilita a ressignificaçâo dos conhecimentos adquiridos ao longo do curso e fomenta o desenvolvimento da capacidade crítica-reflexiva de identificar problemas, analisar os fatores que compöem a situaçâo vivenciada e propor soluçöes10.
Diante o exposto, surgiu o questionamento: Como se encontra a autoconfiança para agir em situaçöes de emergencia, o conhecimento e a habilidade acerca da RCP de internos de enfermagem? Existe diferença na autoconfiança, conhecimento e habilidade para RCP, de internos de enfermagem que se encontram nos distintos semestres do internato?
Delinear o preparo técnico-científico e a autoconfiança de internos de enfermagem frente a PCR e o Suporte Básico de Vida (SBV) se fazem necessário, para sumarizar os conhecimentos e habilidades dos futuros enfermeiros, os quais poderao, em sua vida profissional, se deparar com situaçâo de PCR, na qual deverá saber agir de forma rápida, segura e eficiente.
Ademais, tal investigaçao científica pode favorecer o planejamento de intervençöes que objetivem aperfeiçoar o processo de formaçao em enfermagem a fim de subsidiar a formaçao de profissionais mais autoconfiantes e com mais conhecimento e habilidade.
A pesquisa foi realizada com o objetivo de avaliar autoconfiança para intervençao em emergencia, conhecimento e habilidade acerca da ressuscitaçao cardiopulmonar de internos de enfermagem.
MATERIAIS E MÉTODOS
Estudo descritivo com abordagem quantitativa realizado no período abril a julho de 2018 em Instituiçao de Ensino Superior (IES) de caráter público da Regiao Nordeste do Brasil. A referida IES oferece o curso de enfermagem em regime integral, organizado de forma modular, em 10 semestres, com regime conclusivo em cinco anos e carga horária de 5060 horas.
A populaçao-alvo foram os internos de enfermagem do 8°, 9° e 10° semestres do curso da referida instituiçâo. Essa populaçao foi escolhida por pressupor-se que a temática investigada tenha sido abordada de forma integral e recente, o que sinaliza que os internos possuem competencias básicas para atuar em situaçâo de emergencia durante o internato, uma vez que já concluíram todo conteúdo teórico do curso e estao apenas em atividades de estágio supervisionado. Dos internos de enfermagem matriculados, 80 possuíram disponibilidade para participar e, assim, compuseram a amostra do estudo. Os internos foram divididos em grupos (7°, 8° e 9° semestre) e cada grupo foi comparado entre si.
Os critérios de inclusao adotados foram: idade igual ou superior a 18 anos; estar devidamente matriculado no referido curso; em regime de internato I, II ou III (que corresponde ao 8°, 9° e 10° semestres). Os critérios de exclusao foram ser bombeiro ou estudantes com curso técnico em enfermagem que atuavam em serviços de saúde, que acarretaria viés ao estudo, diante do preparo previo; e se encontrar afastado das atividades académicas devido a licença saúde ou maternidade. Após a aplicaçao dos critérios, foram excluidos dois internos de enfermagem por atuar em unidade de emergencia coronariana.
Para coleta de dados ocorreu a aplicaçao de questionário com variáveis organizadas em trés partes: a primeira com oito questöes referentes ao perfil dos graduandos; a segunda com 24 questöes objetivas, que contemplavam a identificaçao do agravo, o acionamento por ajuda e a realizaçao da RCP para teste de conhecimento sobre a temática11 adaptado pelas pesquisadoras conforme a American Heart Association (AHA)12.
A terceira parte composta pela escala de autoconfiança para intervençao em emergencias, que possui 12 itens de respostas tipo likert de 5 pontos, onde 1 representa nada confiante; 2 pouco confiante; 3 confiante; 4 muito confiante e 5 extremamente confiante. As médias de autoconfiança foram calculadas por turma de internato, e foram consideradas autoconfiança baixa as médias de 1,0 a 2,99, autoconfiança moderada as de 3 a 3,99 e alta autoconfiança pontuada de 4,0 a 5,0-.
Após o preenchimento do questionário, os internos foram solicitados a realizar prática de PCR e conduzidos individualmente a uma sala em que duas monitoras estavam presentes e apresentaram caso clínico de paciente irresponsivo. A prática da habilidade de ressuscitaçâo cardiopulmonar foi realizada em manequim adulto Little Anne®, que se trata de boneco com proporçâo anatómica e resistencia torácica semelhante a humana e que possui funçao sonora de "click" que sinaliza a profundidade correta das compressöes.
As práticas foram filmadas com Smarthphone Samsung Galaxy J5 e os rostos dos participantes nao foram filmados. Cada interno foi identificado na filmagem com uma numeraçao. Os vídeos foram avaliados por uma doutora em enfermagem e dois especialistas em urgencia e emergencia, com expertise na temática, por meio de modelo padráo de avaliaçâo da prática de ressuscitaçâo cardiopulmonar sob a forma de checklist.
Os dados foram tabulados no Excel 2016 e analisados no programa estatístico Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versao 25. A análise estatística descritiva das variáveis categóricas foi apresentada em frequencias absolutas e relativas e, para as variáveis contínuas, utilizou-se média e desvio-padrao. Utilizou-se o Teste de Kruskal-Wallis para comparaçao entre os grupos e o QuiQuadrado de Pearson nas comparaçöes das variáveis categóricas. O nível de significância adotado foi 5% com intervalo de confiança de 95%.
A pesquisa foi aprovada pelo Comite de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Estadual Vale do Acaraú, sob parecer de n°2.529.077/2018, seguiu as recomendaçöes da Resoluçao n.° 466/12, do Conselho Nacional de Saúde, e todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
RESULTADOS
Os internos possuíam como principais características o predomínio do sexo feminino com 62 mulheres (77,5%) e média de idade de 22,7 anos (±2,8) no internato I (8° semestre), 25,7 anos (±6,9) no internato II (9° semestre) e 23,8 anos (±2,3) no internato III (10° semestre).
Em relaçao a autoconfiança para intervir em situaçao de emergencia (Tabela 1), os resultados demonstram que os internos de enfermagem do 10° semestre apresentaram maiores médias, seguidos pelo 9° semestre. Verificou-se que a dimensao que apresentou melhores médias de autoconfiança foi áquela relativa aos cuidados relacionados a respiraçâo do cliente em situaçao de urgencia e a dimensao menos pontuada foi a dos cuidados relacionados as emergencias psiquiátricas. Nota-se que em apenas quatro itens, pelo menos uma turma se perfilhou confiante. Nao houve registro de itens com autoconfiança alta.
Em relaçâo ao conhecimento, observa-se, na Tabela 2, que em quatro itens os grupos foram semelhantes em relaçâo aos acertos e diferirãm estatisticamente seis itens. Houve proporçâo de acertos maior que 70% em 12 itens, dentre eles, os com maiores acertos foram itens referentes a avaliaçâo da responsividade da vítima, local para verificar pulso, posicionamento da vítima para compressöes e principais fármacos utilizados na PCR. Já os itens nos quais os acertos se apresentaram mais baixos foram sobre o momento de iniciar as compressöes e elos da corrente de sobrevida.
Na avaliaçâo da habilidade, houve diferenças significativas estatisticamente em relaçâo a prática dos internos de enfermagem em seis itens, dos 15 avaliados. Observa-se que duas questöes apresentaram índice de acertos superiores a 70% em todas as turmas de internato, relacionadas a sobreposiçâo das mãos para realizar a compressão e inicio das compressöes após checar responsividade Table 3.
DISCUSSAO
Os resultados provenientes do desempenho dos estudantes nesta pesquisa apontam que houve déficits, tanto de autoeficácia, verificado pelos resultados da escala de autoconfiança para intervir em emergencias, como teórico, testado pela avaliaçao do conhecimento, e motor, verificado pela avaliaçao da habilidade (prática), frente as manobras de ressuscitaçao cardiopulmonar.
No presente estudo, internos de enfermagem do 10° semestre apresentaram maiores médias de autoconfiança para intervir em situaçöes de emergencia. A dimensão de emergencias respiratórias apresentou melhores médias de autoconfiança e a menos pontuada foi acerca de emergencias psiquiátricas. Em quatro itens, houve registro de autoconfiança moderada, porém, nao houve registro de itens com autoconfiança alta.
Tais resultados sao semelhantes com estudo realizado em Portugal que identificou média de autoconfiança baixa dos académicos para intervir em situaçöes de emergencias cardíacas, respiratórias e psiquiátricas9.
A autoconfiança em situaçöes de emergencia é relevante, pois poderá repercutir em melhores resultados para os pacientes, além de desempenho eficaz do profissional que poderá ofertar assisténcia física ou psicológica com qualidade e agilidade ao se sentir capaz de reconhecer e interver diante de um agravo clínico, seja ele cardiológico, respiratório ou neurológico.
Em relaçâo a avaliaçâo do conhecimento teórico, as tres turmas de internato responderam corretamente sobre a detecçâo de PCR, com percentual de acertos superior a 97%. Estudo realizado com académicos do 10° semestre de enfermagem de universidade em Belo Horizonte identificou que 100% dos participantes sabiam detectar a PCR14. Esse resultado se mostra favorável ao sucesso do atendimento, uma vez que somente com o reconhecimento correto e precoce da PCR, é possível instituir as demais etapas do atendimento e elevar a chance de sobrevivencia da vítima.
Após o reconhecimento do agravo é necessário acionar ajuda e, posteriormente, iniciar as compressöes torácicas. No presente estudo, menos da metade dos participantes dos internatos I e III responderam corretamente a questão sobre o momento adequado de iniciar as compressöes torácicas. Estudo realizado na Arábia Saudita demonstrou que 49% dos académicos estavam cientes de que as compressöes torácicas devem ser iniciadas imediatamente ao pedir ajuda e logo após o choque15.
Esse dado merece destaque, pois as compressöes devem ser ofertadas no momento correto, no intuito de garantir a perfusão de tecidos vitais até o restabelecimento espontáneo da circulaçâo, o que possibilita a prevençâo de sequelas irreversíveis. Porém, é importante o acionamento por ajuda previamente a realizaçâo da RCP devido a necessidade de trabalho efetivo em equipe.
No que tange ao conhecimento dos discentes sobre a cadeia de sobrevida recomendada pelas diretrizes da AHA, observou-se que o número de acertos nas turmas de internatos foi inferior a 50%, o que diverge de pesquisa realizada em universidade pública da Bahia, em que 84,4% dos graduandos de enfermagem do 9° e 10° semestres responderam corretamente sobre a cadeia de sobrevida16. Quando o enfermeiro/socorrista não possui conhecimento suficiente acerca da sequéncia correta de atendimento (cadeia de sobrevivencia), o diagnóstico de PCR e as açöes subsequentes podem ocorrer de maneira errónea, tardia ou em ordem errada.
Conforme as diretrizes da AHA, a sequéncia correta deve contemplar a identificaçâo imediata da PCR e ativaçâo de serviços de emergéncia/urgéncia/acionamento de ajuda e solicitaçâo do DEA, realizaçâo das compressöes torácicas, suporte avançado de vida e cuidados pós-PCR12.
O internato II obteve maiores acertos referente ao conhecimento de posicionamento correto do socorrista durante as manobras de compressöes torácicas. Estudo realizado na Índia identificou que 77,2% dos internos sabiam o posicionamento correto das mãos e braços durante a RCP17. Isso reforça a necessidade de maior qualificaçâo teórica e prática dos internos, pois a localizaçâo correta da região hipotenar da mâo sobre o esterno, no centro do tórax da vítima é fundamental para RCP efetiva.
No tocante aos ritmos cardíacos, observou-se que 80% dos graduandos do internato II conheciam os que sao chocáveis na PCR. Pesquisa realizada em universidade privada de Florianópolis verificou que 85,7% dos participantes identificaram corretamente os ritmos cardíacos chocáveis-. Em casos de fibrilaçâo ventricular ou taquicardia ventricular com auséncia de pulso, o tempo de realizaçâo da desfibrilaçâo eleva a sobrevivéncia, diante da efetividade para restabelecimento da circulaçâo espontánea19. A identificaçâo do ritmo e o conhecimento acerca dos casos nos quais existe indicaçâo de desfibrilaçâo sâo importantes para aumento de sobrevida.
Quanto ao conhecimento acerca dos fármacos utilizados na parada, finalidade e vias de administraçâo, observou-se elevado índice de acertos. Pesquisa realizada com enfermeiros de hospital público de alta complexidade em Pernambuco constatou que 77,7% tinham conhecimentos sobre fármacos utilizados na PCR e as vias de administraçâo-. A administraçâo de medicamentos integra o suporte avançado de vida e é indicada diante da açâo farmacológica de droga vasoativa ser associada a melhores desfechos12. Portanto, o conhecimento dos académicos de enfermagem é relevante, pois aponta para futuros profissionais que detém o conhecimento científico.
Em relaçâo as habilidades dos internos de enfermagem, os resultados desta pesquisa apontam diferença significativa entre desempenho teórico e prático. Investigaçâo realizada na Índia identificou que académicos de enfermagem tiveram bom desempenho no teste teórico sobre RCP, porém, habilidades de ressuscitaçâo encontraram-se deficientes17.
Estudo na Etiópia identificou que maioria dos enfermeiros tinham habilidades deficientes em Suporte Básico de Vida21. A esse respeito, ressalta-se a relevância do treinamento das habilidades em SBV dos graduandos de enfermagem para prestar assisténcia adequada e de qualidade, a fim de evitar sequelas e minimizar as taxas de mortalidade.
Na habilidade de comprimir o tórax na profundidade mínima de cinco centímetros, 25% dos internos do 8° semestre realizaram as compressöes na profundidade mínima estabelecida, e 29,7% dos internos do 10° semestre realizaram as compressöes torácicas na velocidade correta (100 a 120/min). Pesquisa com académicos de enfermagem da Índia identificou que 16,2% tinham habilidade para efetivar a profundidade correta da compressão torácica22.
Estudo realizado em hospital público da Bahia identificou déficit dos profissionais de enfermagem nas manobras de SBV, incluindo a profundidade correta da compressão torácica23. Tais achados apontam para a necessidade de preparo dos internos, na busca de solidificar suas habilidades, com o propósito de qualificar o atendimento as vítimas, prover um melhor prognóstico e o aumento da chance de sobrevida com sequelas mínimas.
O atendimento adequado da PCR exige organizaçâo, autoconfiança e rápida açâo dos envolvidos no atendimento. O enfermeiro deve possuir conhecimentos e habilidades para estabelecer imediatamente as medidas terapéuticas para manter a oxigenaçâo dos órgaos vitais. O nível de conhecimento e habilidade de futuros enfermeiros sobre PCR é algo que precisa ser considerado e aprimorado por meio de políticas de educaçâo continuada para garantir que a equipe de saúde tenha conhecimento atualizado e esteja preparada, na teoria e na prática, para evitar complicaçöes e desfechos fatais em situaçöes de emergéncia13.
Diante deste panorama, se faz pertinente resgatar que houve baixa média geral de acertos pelas trés turmas de internatos, o que ressalta a relevância da consolidaçâo do conhecimento e habilidade acerca das manobras de ressuscitação cardiopulmonar, os quais se apresentam escassos conforme os dados do estudo, e avigoram a primordialidade do aperfeiçoamento dos internos de enfermagem (futuros enfermeiros), o que irá impactar consequentemente em maiores níveis de autoconfiança para intervir apropriadamente em situaçöes de emergéncia.
Há necessidade de treinamentos periódicos e educaçâo contínua para capacitar os futuros enfermeiros para atendimento rápido, seguro e eficaz, dentro do que é preconizado pelas diretrizes internacionais, além de repetir as habilidades em intervalos regulares, para garantir a sustentabilidade nas habilidades de ressuscitaçâo cardiopulmonar24.
Na realizaçâo desta pesquisa, apontamos como limitaçöes a ausencia de treinamento, com pré e pósteste teórico e prático e a nao contemplaçâo de estudantes de instituiçöes privadas de ensino. Sugerese que novos estudos possam ser realizados, com comparaçâo de resultados entre universidade pública e privada, aliado a programas e estratégias de ensino, para assim, elencar e comparar novos dados e evidencias nesta temática.
CONCLUSÖES
Os achados do estudo permitem inferir que os internos se perfilharam com médias de autoconfiança majoritariamente baixas. Houve diferenças entre o conhecimento e habilidades dos académicos, dos variados semestres do internato, com déficits no conhecimento e nas habilidades em ressuscitaçâo cardiopulmonar.
Este estudo poderá contribuir com docentes de enfermagem, envolvidos na formaçâo dos discentes, para que atentem a relevância da autoconfiança para intervir em situaçâo de emergencias, associada ao conhecimento e habilidade dos academicos que vivenciam o internato.
Conflito de interesses: Os autores declaram que nao há conflito de interesses.
Histórico
Recebido: 10 de septiembre de 2019
Aceito: 13 de febrero de 2020
Como citar este artigo: Brandao, Maria Girlane Sousa Albuquerque; Fontenele, Natália Angela Oliveira; Ximenes, Maria Aline Moreira; Lima, Magda Milleyde de Sousa; Neto, Nelson Miguel Galindo; Araújo, Thiago Moura, Barros, Lívia Moreira. Autoconfiança, conhecimento e habilidade acerca da ressuscitaçao cardiopulmonar de internos de enfermagem. Revista Cuidarte. 2020; 11(2): e982. http://dx.doi.org/10.15649/cuidarte.982
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© 2020. This work is published under https://creativecommons.org/licenses/by/4.0 (the “License”). Notwithstanding the ProQuest Terms and Conditions, you may use this content in accordance with the terms of the License.
Abstract
Introduçao: A Parada Cardiopulmonar é uma condiçao de saúde crítica, com taxa de sobrevivencia ligada å rapidez com que a ressuscitaçao cardiopulmonar é efetuada. Objetivo: Avaliar autoconfiança, conhecimento e habilidade acerca da ressuscitaçao cardiopulmonar de internos de enfermagem. Materiais e Métodos: Estudo descritivo e quantitativo, realizado de abril a julho de 2018, em Universidade Pública do Nordeste do Brasil, com 80 internos de enfermagem. Aplicou-se teste de conhecimento, escala de autoconfiança em situaçao de emergencia e avaliaçao prática de habilidades com uso de manequim. Foram utilizados testes Kruskal-Wallis e Qui-Quadrado de Pearson. Resultados: Os internos apresentaram baixas médias de autoconfiança em situaçao de emergencia. QuestÐes teóricas sobre local para verificar pulsaçao e posicionamento da vítima tiveram mais acertos entre internos. Principais déficits no conhecimento foram sobre inicio das compressÐes (p=0,245) e número de compressÐes/respiraçÐes (p=0,034). Nas habilidades, os déficits foram no posicionamento das maos e braços do socorrista (p=0,058), movimentar tronco (p=0,062) e profundidade correta das compressÐes (p=0,086). Discussāo: Há necessidade de treinamentos periódicos e educaçao continua para capacitar os futuros enfermeiros para atendimento rápido, seguro e eficaz. Conclusöes: Foi evidenciado fragilidades no conhecimento e habilidade, o que destaca a relevância de novas metodologias para intensificar e garantir a efetividade do processo de ensino-aprendizagem. Palavras chave: Parada Cardíaca; Ressuscitaçao Cardiopulmonar; Estudiantes; Enfermagem.