RESUMO
Adesóes a livre admissáo de membros e incorporaçoes sao transformaçoes na estrutura de propriedade comuns no cooperativismo de crédito brasileiro. Sob a lógica de que sao motivadas pelas expectativas de membros e diretores, este trabalho associou essas transformaçoes as taxas de serviços bancários operacionalizadas pelas cooperativas. Modelos logit ordenado e multinomial foram utilizados para investigar se spreads bancários anormais positivos, refletindo taxas pouco vantajosas aos membros e beneficios privados obtidos pelos diretores, aumentam a probabilidade de transformaçao e de adesao a livre admissáo. Os resultados apontam que as expectativas de membros e diretores foram táo determinantes a transformaçao quanto o porte e o desempenho da cooperativa. As evidencias reforçam que, sob expectativas de ganhos, membros e diretores tem controle ativo na decisáo de transformaçao da estrutura de propriedade nas cooperativas de crédito, sugerindo melhoria na governança corporativa e incentivo as incorporaçoes para que o cooperativismo cresça beneficiando os membros.
PALAVRAS- CHAVE Cooperativas de Crédito, Estrutura de Propriedade, Livre Admissao, Incorporaç0es
1.INTRODUÇÂO
Cooperativas de crédito transformam a estrutura de propriedade mesmo que suas quotas nao sejam negociáveis (McKillop et al., 2020). No Brasil, essas transformaçoes se tornaram comuns após a regulaçao permitir a chamada livre admissao de membros, na qual requisitos ocupacionais para associaçao podem ser removidos dos estatutos. Somente nos 15 primeiros anos após a permissao a livre admissao, entre 2003 e 2018, 809 cooperativas aderiram a ela, dispersando a propriedade, ou foram incorporadas, transferindo a estrutura de propriedade para outra cooperativa. Como consequencia, cooperativas entraram em novos mercados e serviços, alavancando a escala do setor (Banco Central do Brasil, 2019). Compreender os motivos para essa decisao de transformaçao, portanto, é primordial para definir políticas que ajudem o cooperativismo a lidar com a crescente complexidade operacional.
Sendo assim, foi objetivo deste trabalho associar as decisóes de adesao a livre admissäo de membros ou de ser incorporada as taxas de serviços bancários operacionalizadas pelas cooperativas de crédito brasileiras. Neste trabalho, as taxas refletem expectativas de membros e diretores quanto aos beneficios que conseguiriam com a transformaçao. Os membros foram motivados pela oportunidade de acessar melhores taxas de serviços bancários, mesmo motivo que anteriormente os fez se associarem a cooperativa (Hart & Moore, 1998, 1996). Já a livre admissäo permite aos diretores aumentar seus beneficios privados na forma de segurança no cargo, status e maior remuneraçao, que, por sua vez, sao perdidos se a cooperativa for incorporada (Nan et al., 2019; D'Souza & Nash, 2017; Gorton & Schmid, 1999).
Dessa forma, este trabalho assume que membros e diretores exerceram controle sobre a decisao de transformaçao da estrutura de propriedade, distinguindo-se de estudos anteriores que os consideraram passivos. Para esses estudos, que evidenciam transformaç0es (no caso, incorporaç0es) ocorrendo em cooperativas pequenas com mau desempenho (Goddard et al., 2014; Worthington, 2004; Thompson, 1997), membros e diretores de cooperativas que nao sobreviveriam em seus mercados teriam se restringido a acatar decisóes tomadas por outras cooperativas maiores ou mesmo por órgaos reguladores. Esses estudos nao consideraram que membros e diretores podem ter tomado decisóes sobre a estrutura de propriedade visando a seus próprios ganhos, como já se sabe que ocorre nas empresas voltadas ao lucro (Reiff & Tykvová, 2021; Ewens & Farre-Mensa, 2020; Fidrmuc & Xia, 2019).
Para tal, modelos logit ordenado e multinomial foram utilizados para investigar se valores positivos do spread bancário anormal, medida para taxas pouco vantajosas aos membros, aumentam a probabilidade de transformaçao e se maiores spreads anormais sao associados a adesao a livre admissao de membros, refletindo a propensao dos diretores por beneficios privados. Os resultados dao suporte as propostas, indicando que taxas pouco vantajosas motivam transformaç0es na estrutura de propriedade das cooperativas de crédito e as adesóes a livre admissao ocorrem sob taxas menos vantajosas do que as incorporaç0es.
Esses resultados sao importantes, pois indicam que as transformaç0es na estrutura de propriedade nas cooperativas de crédito nao ocorrem ao acaso e nao sao oriundas apenas de fatores externos a cooperativa, sendo determinadas e refletindo as expectativas de membros e diretores. Destaca-se que sao resultados distintos a pesquisas como as de Bauer, Miles e Nishikawa (2009) por tratarem da decisao, e nao de impactos, da transformaçao. Os resultados também tem implicaç0es para órgaos reguladores já que sugerem a necessidade de medidas as quais contenham a busca por beneficios privados dos diretores que aderiram a livre admissao de membros e políticas de incentivo as incorporaç0es. Ambas sao implicaç0es importantes para que o setor cooperativista de crédito cresça sem deixar de gerar beneficios aos membros.
2.TRANSFORMAÇOES NA ESTRUTURA DE PROPRIEDADE DAS COOPERATIVAS DE CRÉDITO BRASILEIRAS
Cooperativas de crédito sao instituyes financeiras reguladas pela lei cooperativa e pelo Banco Central do Brasil que intermedeiam depósitos e empréstimos entre seus membros (Pinheiro, 2008; Lei n° 5764, 1971). Membros fundam as cooperativas e se associam a elas para acessar taxas de serviços bancários melhores do que as encontradas em bancos comerciais. Sendo proprietarios da cooperativa, membros tem direito a um voto em assembleia sobre questóes organizacionais importantes, como a eleiçao de diretores, incorporaęóes e alteraęóes estatutarias (Rubin et al., 2013). Votar é a forma de exercer a autoridade formal de seus direitos residuais de controle como proprietários. Por sua vez, cabe aos diretores o controle sobre as atividades cotidianas da cooperativa, como a produçao de serviços bancários (Hart & Moore, 1990; Grossman & Hart, 1986; Rasmusen, 1988).
Qualquer individuo pode se associar a uma cooperativa desde que cumpra os requisitos socioeconómicos e adquira o valor minimo em quotas estipulado em seu estatuto. Os requisitos para associaçao objetivam conter a dispersao da propriedade, já que esta cresce com a entrada de membros (Rubin et al., 2013; Leggett & Strand, 2002). Historicamente, o Banco Central exigiu que as cooperativas estabelecessem vinculos ocupacional e geográfico entre seus membros, mas em 2003 permitiu que cooperativas aderissem a chamada livre admissao de membros removendo o vinculo ocupacional (Pinheiro, 2008; Resoluçao n° 3106, 2003).
Mudanças regulatórias, como a livre admissao de membros, geram oportunidades e precedem transformaç0es no cooperativismo de crédito. Ondas de incorporaç0es e intercooperaç0es ocorreram nos Estados Unidos, Austrália, Nova Zelandia, Espanha e Reino Unido após cooperativas serem permitidas a entrar em novos mercados e serviços (McAlevey et al., 2010; Worthington, 2004; Goddard et al., 2002; Thompson, 1997; Grifell-Tatjé & Lovell, 1996; Ingham & Thompson, 1995). No Brasil, 132 cooperativas aderiram a livre admissao entre 2003 e 2007, primeiros anos após ser permitida, com 46 incorporadas e 100 liquidaç0es no periodo. Entre 2008 e 2018, 267 aderiram a livre admissao, e 364 foram incorporadas, com liquidaç0es reduzidas a 56 casos. Como comparaçao, nos 15 anos anteriores a livre admissao, apenas 37 foram incorporadas, e 330 foram liquidadas.1 Houve uma mudança de perspectiva sobre o futuro da cooperativa, que antes se restringía a manter as mesmas operaç0es até ser liquidada.
A adesao a livre admissao de membros ou a incorporaçao por outra cooperativa transformam a estrutura de propriedade de uma cooperativa de crédito. Neste trabalho, transformaç0es na estrutura de propriedade sao aquelas em que os membros da cooperativa continuam proprietários embora sob termos diferentes. Por exemplo, fusóes, cisóes e ofertas públicas iniciais transformam a estrutura de propriedade de empresas listadas, pois mesclam, concentram ou diluem a propriedade dos investidores. Membros nao deixam de ser proprietários como ocorreria nas liquidaçóes e nao há mudança no tipo de propriedade cooperativa como nas demutualizaçóes. Mesmo que a incorporaçao encerre sua cooperativa original, os membros se tornam proprietários na incorporadora (Josephy et al., 2017). Adesóes a livre admissao de membros, que altera o estatuto, incorporaçóes e cisóes dependem da aprovaçao dos membros (Pinheiro, 2008; Resoluçao n° 3106, 2003; Lei n° 5764, 1971).
Cada transformaçao na estrutura de propriedade tem seu próprio efeito sobre as cooperativas. A livre admissao de membros torna qualquer residente na regiao da cooperativa de crédito um possível novo membro, dispersando a propriedade e aumentando a escala sem causar diretamente outras mudanças. Incorporaçóes transferem ativos, passivos e património liquido da incorporada a incorporadora. A estrutura de propriedade também é transferida, com os membros da incorporada se unindo aos da incorporadora. Mesmo que os diretores da incorporada recebam funçoes dentro da incorporadora, isso ocorre em cargos menores. Os diretores da incorporadora recebem o controle sobre as atividades da incorporada. Cisóes dividem uma cooperativa em cooperativas menores. Os membros e os diretores sao distribuidos nas cooperativas, concentrando a dispersáo da propriedade (Tirole, 2006; Manne, 1965).
3.TAXAS DE SERVIÇOS BANCÁRIOS E TRANSFORMAÇOES NA ESTRUTURA DE PROPRIEDADE DE COOPERATIVAS DE CRÉDITO
Mudanças regulatórias precedem, mas nao determinam quais cooperativas de crédito irao transformar sua estrutura de propriedade. Contudo, existe pouca investigaçao sobre os motivos para essa decisao. As pesquisas existentes assumem uma lógica de empresas listadas voltadas ao lucro, na qual cooperativas pequenas e com mau desempenho financeiro nao conseguem sobreviver em seus mercados e sao incorporadas ou liquidadas (Carvalho et al., 2015; Bressan et al., 2011; Goddard et al., 2009, 2014; Worthington, 2004; Thompson, 1997). Mesmo importantes, esses fatores por si sós nao parecem motivar transformaęóes porque cooperativas com essas características sempre existiram, mas as incorporaęóes só se tornaram frequentes depois de mudanças regulatórias. A única particularidade das cooperativas de crédito investigada foi a exigencia do mesmo requisito para se tornar membro das cooperativas envolvidas em incorporaç0es (Worthington, 2004).
Sendo assim, este trabalho associa as transformaç0es na estrutura de propriedade de cooperativas de crédito as expectativas de quem detém o controle. A lógica se pauta nas mudanças regulatórias criando novas perspectivas a membros e diretores e nas propostas de Bebchuk (1999) e Zingales (1995) para empresas voltadas ao lucro, as quais sugerem expectativas de ganhos determinando decisóes de investidores sobre a propriedade das empresas que fundaram. Sao ponderadas expectativas de retorno na venda de aç0es e beneficios privados ao manter o controle majoritário. O pacote que maximiza seus beneficios determina como negociam a propriedade e o quanto de controle é retido. Reiff e Tykvová (2021), Ewens e Farre-Mensa (2020), Fidrmuc e Xia (2019) e Masulis e Simsir (2018) trazem evidencias dessa lógica de expectativas de ganhos para os fundadores nas ofertas públicas e nas incorporaç0es.
Para cooperativas de crédito, é preciso entender quais expectativas podem ter membros, que sao proprietários, e diretores, que assumem as funç0es executivas. Sugestóes vem de pesquisas sobre consequencias das incorporaçóes. Foram identificados ganhos aos membros das incorporadas, que acessam melhores taxas de serviços bancários, mas pouco ou nenhum ganho operacional as incorporadoras embora tenham aumentado a escala e se tornado mais robustas financeiramente (Wilcox & Dopico, 2011; Bauer et al., 2009; Wilcox, 2005; Ralston et al., 2001; Fried et al., 1999; Garden & Ralston, 1999).
A sugestao de taxas de serviços bancários mais vantajosas aos membros se relaciona ao motivo pelo qual fundam e se associam a cooperativas de crédito. Membros buscam taxas que lhes sejam vantajosas, sendo proprietários com direitos residuais de controle sobre a cooperativa (Rubin et al., 2013; Hart & Moore, 1990; Grossman & Hart, 1986). Como cada membro tem apenas um voto, decisóes em assembleia refletem as expectativas individuais da maioria dos associados (Hart & Moore, 1996), e como seus beneficios decorrem das transaçóes junto a cooperativa, é natural que tomem decisóes visando transacionar com a cooperativa. Assim, decisóes tomadas pelos membros, em assembleia, refletem expectativas quanto as taxas operacionalizadas pela cooperativa (Hart & Moore, 1998). A legislaçao assegura a decisao sobre transformaçóes na estrutura de propriedade aos membros através de votaçao em assembleia (Resoluçao n° 3106, 2003; Lei n° 5764, 1971).
Portanto, é possível apontar que a expectativa de acesso a melhores taxas de serviços bancários determinou a transformaçao da estrutura de propriedade. Caso contrário, membros nao teriam incentivos para aprová-la.
Contudo, membros tem comportamento free-rider devido ao investimento pequeno realizado para associaçao, e é improvável que tenham proposto transformaçoes na estrutura de propriedade. Eles se limitam a aprovar ou rejeitar propostas de diretores (Gorton & Schmid, 1999; Rasmusen, 1988) os quais, por sua vez, tem expectativas distintas quanto a livre admissao de membros ou incorporaçao por outra cooperativa. Aqui, embora órgaos reguladores possam ter influencia na proposta, assume-se que sejam indiferentes entre as transformaçoes visto que ambas geram cooperativas resultantes maiores e robustas financeiramente (Bauer et al., 2009).
Existem incentivos para diretores de cooperativas de crédito buscarem a adesao a
livre admissao de membros. O aumento da escala é associado a maiores remuneraçoes e margem para shirking pela segurança no cargo, já que cooperativas maiores sao mais protegidas por órgaos reguladores, e status adquirido para fins eleitorais (Nan et al., 2019; D'Souza & Nash, 2017; Jensen, 1986). O comportamento freerider dos membros também cresce com a dispersao da propriedade, dando maior margem para oportunismos gerenciais (Gorton & Schmid, 1999; Bebchuk, 1999). Por outro lado, diretores de incorporadas perdem seus cargos ou, mesmo se realocados para algum cargo na incorporadora, seus status (Tirole, 2006; Manne, 1965). Portanto, quanto maior o consumo de benefícios privados pelos diretores, maior a propensao a propor a adesao a livre admissao e maior a resistencia a ter a cooperativa incorporada.
Ao buscarem benefícios privados, diretores diminuem os benefícios gerados aos proprietários (Bebchuk, 1999; Jensen & Meckling, 1976). Assim, as taxas de serviços bancários se tornam menos vantajosas aos membros, que tem maiores expectativas de melhorias através da transformaçâo na estrutura de propriedade. Contudo, taxas pouco vantajosas também podem refletir pouca habilidade gerencial, sendo mais relacionadas ao mau desempenho financeiro do que aos beneficios privados dos diretores (Carvalho et al., 2015). Esse pode ser o caso das incorporadas, cujo desempenho financeiro ruim sempre é ressaltado (Worthington, 2004; Thompson, 1997). É possível que os diretores tenham sido menos resistentes a uma incorporaçao influenciada por órgaos reguladores já que seus beneficios privados eram menores comparados aos diretores que aderiram a livre admissao de membros. Portanto, é possível apontar que adesoes a livre admissao estejam associadas a taxas de serviços bancários menos vantajosas comparadas com as taxas das incorporadas devido a maior propensao dos diretores a buscarem beneficios privados. Consequentemente, quanto menos vantajosas as taxas, maior a probabilidade de a adesao a livre admissao ter sido proposta e aprovada pelos membros.
4.MÉTODOS
4.1. Amostra e dados
Este trabalho utilizou uma amostra de 1.376 cooperativas de crédito singulares, investigando transformaçoes na estrutura de propriedade ocorridas entre os anos de 2008 e 2018. Sao todas as cooperativas em atividade no período menos as fundadas depois da livre admissao ser permitida em 2003. Como foram fundadas antes da permissao a livre admissao e da onda de incorporaçoes, características de membros e diretores foram formadas quando ainda nao tinham expectativas de beneficios gerados pela transformaçâo. A mudança regulatória gerou novas expectativas sobre perfis consolidados de membros e diretores. Isso minimiza possíveis vieses de cooperativas fundadas sob expectativa de transformaçâo. Analisar possíveis transformaçoes entre 2008 e 2018 também evita o possível viés para as adesóes a livre admissäo nos anos entre 2003 e 2007, quando as incorporales ainda nao eram comuns no Brasil. As cooperativas liquidadas após 2008 foram mantidas porque existiram junto com as demais.
Cada cooperativa de crédito é representada por uma observaçao, com 20 incorporadas após aderirem a livre admissäo de membros sendo consideradas apenas para a livre admissäo para nao haver sobreposiçao de observaęóes. Adesóes a livre admissäo foram identificadas na Relaçao de Instituięóes Financeiras do Banco Central do Brasil e incorporaęóes no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas da Receita Federal Brasileira. Além da data da transformaçao da estrutura de propriedade, essas bases de dados contem a afiliaçâo aos sistemas cooperativistas de crédito, data de fundaçao e quantidade de postos de atendimento. Os dados financeiros säo dos balancetes das institutes financeiras disponibilizados pelo Banco Central, atualizados pelo IGP-M para 2019. Mesmo que este trabalho investigue transformaçóes ocorridas entre 2008 e 2018, foram coletados dados para as demais variáveis, descritas nas próximas subseçóes, desde 2003, para que representem as cooperativas desde a permissäo a livre admissäo.
4.2. Modelo econométrico e variáveis
Modelos multinomiais säo utilizados quando existem mais de duas alternativas sobre uma decisäo (Cameron & Trivedi, 2005). Neste trabalho, é o caso das decisóes de näo transformar a estrutura de propriedade da cooperativa de crédito (j = 0), de ser incorporada (j = 1) ou de aderir a livre admissäo de membros (j = 2). Säo esperadas taxas de serviços bancários menos vantajosas aos membros a medida que j aumenta. Cisóes näo foram consideradas para j devido a baixa frequencia (4 casos), e liquidaçóes näo foram consideradas transformaçóes pois os membros deixam de ser proprietários. O modelo econométrico base está em (1).
y· = ßo + ßi spread· + â...∂· + у2 li + 9t +st (1)
Onde y é um valor latente estimado para a cooperativa de crédito i inserido dentro de uma funçâo densidade multinomial f(Y) construida sobre as probabilidades p de decisóes sobre alternativas j de transformaçâo da estrutura de propriedade. spread· é a medida para as taxas de serviços bancários e X, Z e в säo conjuntos de controles sugeridos pela literatura. Todas essas variáveis seräo descritas nas próximas subseçóes. f(Y) é construida como em (1.1):
...
f( Y) é o produtório de probabilidades pj = Pr( Y=j) de uma decisäo j sobre as transformaçóes na estrutura de propriedade. Neste trabalho, näo transformar é Y0= 1 (j = 0); ser incorporada é Y1 = 1(j = 1); e aderir a livre admissäo de membros éY2 = 1(j = 2). Y0 é a alternativa reserva sobre a qual as outras se pautam. Sob Y0, as demais possiveis decisóes näo geraram expectativas de acesso a melhores taxas de serviços bancários para os membros.
A funçâo f(Y) permite que o modelo (1) seja estimado por logit ordenado e multinomial. O logit ordenado estima uma regressäo assumindo j - 1 limiares a dentro de f(Y) separando j, ou seja, as variáveis independentes aumentam ou diminuem a probabilidade de aprovaçâo de uma transformaçâo de maior ordem (Y2 = 1 >Y¡1 = 1). Portanto, permite investigar se as adesóes a livre admissäo säo associadas a taxas de serviços bancários menos vantajosas do que as operacionalizadas pelas incorporadas, dada a propensáo dos diretores a buscar beneficios privados. Já o logit multinomial estima j - 1 regressóes sem apontar ordem entre j, isto é, regressóes onde as variáveis independentes aumentam ou diminuem a probabilidade de aderir a livre admissáo (Y2 = 1) ou ser incorporada (Yi1= 1). Os coeficientes de Y0 sao restritos a zero, indicando uma decisáo tomada sobre diversas alternativas e nao várias decisóes tomadas sobre duas alternativas como seria um conjunto de logit binários (Cameron & Trivedi, 2005).
Análises deste trabalho sao pautadas pelos resultados da estimaçao logit ordenado devido a proposta de ordem entre as decisóes de transformaçao da estrutura de propriedade. Os resultados da estimaçao logit multinomial sao complementares. Cameron e Trivedi (2005) apontam alguns pressupostos para validade desses resultados. As decisóes j devem estar sob as mesmas premissas de fatores nao observáveis, o que foi controlado pela seleçao da amostra descrita na subseçao anterior. Também, as decisóes j devem ser mutuamente excludentes, ou seja, uma cooperativa de crédito nao pode aderir a livre admissáo de membros ao mesmo tempo em que é incorporada. Porém, isso nao é possível visto que as incorporadas deixam de operar. Por fim, modelos multinomiais sao sensiveis a alternativas irrelevantes, nas quais seria indiferente aderir a livre admissao ou ser incorporada. A relevancia de cada j foi verificada por testes de Wald. No logit ordenado, testou-se a igualdade estatística entre os limiares a. A rejeiçao da hipótese nula indica que limiares a nao se sobrepóem, distinguindo a e sugerindo ordem entre j. No logit multinomial, foi checada a igualdade estatística entre os conjuntos de coeficientes B e B^ obtidos, respectivamente, nas regressóes para Ya e Y2. A rejeiçao da hipótese nula aponta diferença entre B e B , indicando que as decisóes j sao distintas e relevantes.
4.2.1.Taxas de serviços bancários
As taxas de serviços bancários foram estimadas como o spread bancário da cooperativa de crédito. O spread é a diferença entre as taxas médias de juros cobradas aos empréstimos e as taxas médias de remuneraçao aos depósitos. Para que sejam vantajosas, as taxas para empréstimos devem ser baixas e para depósitos devem ser altas. Assim, quanto menor o spread, melhores as taxas disponiveis aos membros (Rubin et al., 2013). O spread está em (2):
...
Onde o spread bancário médio operacionalizado pela cooperativa de crédito i no semestre t é a razao das rendas com ope^óes de crédito (r_oc) pelas operaçóes de crédito totais (oc) menos a razao das despesas com captaçao (d_cap) pelos depósitos totais (dep).
No modelo (1) é utilizada a média do spread bancário anormal (spread;) da cooperativa de crédito i entre o primeiro semestre de 2003 e o semestre t de transformaçao da estrutura de propriedade (segundo semestre de 2018 caso j = 0). O spread anormal é o quanto do spread nao é explicado por características organizacionais, pois cooperativas de diferentes portes, operaçóes e regióes naturalmente operam com spreads distintos. Com o spread anormal, é possível sugerir o quanto os membros esperariam que as taxas disponibilizadas por sua cooperativa fossem melhores, caso descontentes. O spread anormal também reflete, indiretamente, os benefícios privados dos diretores já que tornam as taxas da cooperativa menos vantajosas aos membros (Jensen & Meckling, 1976). D'Souza e Nash (2017) indicam que medidas indiretas para benefícios privados, como o spread anormal, estimam o efeito sobre a produçao organizacional de regalias como altas remuneraçóes e perdas dado o shirking.
Neste trabalho, o spread anormal é o termo de erro de uma regressâo por mínimos quadrados ordinarios (MQO) empilhando observaçoes de todos os semestres de todas as cooperativas da amostra, onde o spread dado por (2) é funçâo de determinantes a produçâo apontados por Brickley et al. (2015). O termo de erro é a diferença entre o spread operacionalizado e o esperado a partir da regressâo. Como a distribuiçâo dos termos de erro se tem média zero, valores positivos indicam spreads operacionalizados mais altos do que o esperado. Valores positivos de spread anormal aumentam a probabilidade de transformaçâo, pois sugerem a expectativa dos membros por melhores taxas de serviços bancários. Maiores spreads anormais refletem diretores propensos ao consumo de benefícios privados, aumentando a probabilidade de adesâo a livre admissâo de membros. O spread anormal está em (3):
spread·· = eit = spread· -b'H· (3)
Em que spread·' é o spread bancário anormal da cooperativa de crédito i no semestre t, que é o termo de erro e para i em t estimado por uma regressâo MQO com o spread dado em (2) sendo funçâo de um conjunto de determinantes H.b é o conjunto de coeficientes da regressâo. H inclui um benchmark de produto (a mediana do spread operacionalizado por cooperativas voltadas ao mesmo tipo de serviço bancário que i em t), tamanho (logaritmos naturais do ativo total e da quantidade de postos de atendimento). H também tem dummies para controle de efeitos fixos das operaçoes bancárias que i é permitida a atuar e da economia dos estados sede de i. O uso de médias de spreadem (1) sugere que cooperativas que operaram altos spreads anormais com maior frequencia transformaram a estrutura de propriedade.2
4.2.2.Controles
X contém indicadores financeiros do PEARLS3 identificados por Bressan et al. (2011) como determinantes a insolvencia de cooperativas de crédito. Todos sâo importantes para controle do mau desempenho dada a pouca habilidade gerencial esperada nas incorporadas. P2 é a proteçâo contra o risco, sendo a razâo entre as operaçoes de crédito vencidas pelo total das operaçoes de crédito. E1, E3 e E4 representam a estrutura financeira efetiva, sendo as proporçoes de operaçoes de crédito líquidas, capital social e reservas, respectivamente, em relaçâo ao ativo total da cooperativa. A3 aponta a qualidade dos ativos, sendo a proporçâo de ativos nâo relacionados a produçâo de serviços bancários em relaçâo ao ativo total. R5, R6 e R11 controlam taxas de retorno e de dispendios sendo, respectivamente, as razoes entre a margem bruta e o ativo total, as despesas operacionais e o ativo total, e as rendas de prestaçâo de serviços e as despesas administrativas. O asterisco em X· indica que, assim como para o spread, no modelo (1) foram utilizadas médias de termos de erro de regressoes de cada um dos indicadores listados em funçâo do mesmo conjunto H de controles de (3). Isso visou remover a influencia de outros possíveis fatores sobre o desempenho, estimando a habilidade dos diretores.
Em Z estâo controles sobre características organizacionais das cooperativas de crédito. Foram utilizadas as médias do logaritmo natural do ativo e da quantidade de postos de atendimento para representar o tamanho da cooperativa de crédito, que é determinante a longevidade ou incorporaçâo por outra cooperativa (Goddard et al., 2009, 2014; Worthington, 2004; Thompson, 1997). Z também contém a média do logaritmo natural da idade da cooperativa (em semestres), pois cooperativas mais antigas podem tanto aderir a livre admissâo de membros para expandir operaçoes, quanto estar muito consolidadas para serem incorporadas. в controla efeitos fixos. Uma variável dummy identifica se a cooperativa é categorizada como capital e empréstimo, cujo menor risco de suas operaçoes voltadas ao crédito consignado influencia tanto as taxas de juros quanto o próprio desempenho financeiro. Um vetor de variáveis dummy identificando o estado sede da cooperativa controla a influencia da economia regional e a competiçao com outras cooperativas. Por fim, um vetor de variáveis dummy identifica o sistema cooperativista de crédito ao qual a cooperativa é associada, cuja importancia, notadamente, se dá na influencia regulatória sobre decisóes das afiliadas.
4.2.3.Estatística descritiva da amostra
A Tabela 1 contém estatísticas das variáveis do modelo (1) para a amostra geral e para os grupos j de decisóes quanto a transformaçâo da estrutura de propriedade. Para variáveis continuas sao apresentadas médias (desvios-padrao), enquanto para os controles sobre efeitos fixos sao apontadas modas (respectivos percentuais). Na Tabela 1, spread · e controles X estao em percentual e controles Z nao estao em logaritmo natural para facilitar a descriçao, embora, ressalta-se, nao sejam utilizados assim no modelo (1). Aumentos ([+]) ou reduęóes ([-]) no risco de insolvencia identificados por Bressan et al. (2011) acompanham os controles X·.
As taxas de serviços bancários menos vantajosas estao no grupo que aderiu a livre admissao de membros (média do spread bancário anormal de 0,511, contra 0,122 para a amostra geral), com o grupo que nao transformou a estrutura de propriedade operando spreads mais baixos do que o esperado (média de -0,106). As incorporadas detem o pior desempenho médio em quatro dos oito indicadores de X (E1 [0,275], E3 [-8,351], A3 [1,330] e R5 [0,291]), sendo piores que as nao transformadas em um indicador (P2 [2,332]). Como o spread anormal médio das incorporadas (0,409) foi menor do que o das que aderiram a livre admissao apesar do pior desempenho, pode-se sugerir a pouca habilidade de seus diretores. Isso também reforça que diretores que aderiram a livre admissao sao propensos a buscar beneficios privados, já que o spread anormal dessas cooperativas nao decorre, necessariamente, do mau desempenho.
As maiores cooperativas de crédito sao as que aderiram a livre admissao de membros (médias de R$ 91,0 milhóes em ativo total e 3,1 postos de atendimento). As incorporadas sao pequenas e jovens comparadas as demais (médias de R$ 20,1 milhóes em ativo total e 1,6 postos de atendimento, cerca de 22 semestres em operaçao), o que se alinha a estudos como o de Goddard et al. (2009, 2014). Cooperativas que nao transformaram a estrutura de propriedade sao antigas (35,6 semestres) e, muitas vezes, grandes (evidenciado pelos desvios-padrao de R$ 174,8 milhóes no ativo total e 4,6 nos postos de atendimento). Sao cooperativas consolidadas cujos membros, aparentemente, nao tiveram motivos para transformar a estrutura de propriedade. As modas em Sao Paulo, Minas Gerais e Sicoob refletem os estados e o sistema com mais cooperativas, sendo relevante destacar a tendencia de incorporaçóes dentro da Cresol.
5.RESULTADOS E DISCUSSÁO
Os resultados das estimaçóes logit ordenado e multinomial para o modelo (1) estao na Tabela 2. Abaixo dos coeficientes, entre parenteses, estao os respectivos erros-padrao.
O modelo (1) foi validado, uma vez que os testes de razao de verossimilhança rejeitam a hipótese nula de nao haver efeito das variáveis independentes (x2[43] = 541,06, p-valor<0,01, para Logit Ordenado [1] e x2[86] = 914,15, p-valor<0,01, para Logit Multinomial [2.1] e [2.2]). Além disso, Logit Ordenado (1) acertou 65,99% das previsóes de transformaçóes na estrutura de propriedade em Logit Multinomial (2.1) e (2.2) acertou 70,93%. Como comparaçao, ambos os percentuais de acertos sao similares aos logit ordenado e multinomial estimados por Ingham e Thompson (1995) para casos de intercooperaçao após mudança regulatória no Reino Unido (64,6% e 70,2%, respectivamente). Por fim, as alternativas j sao relevantes, pois o teste de Wald rejeitou a igualdade entre os conjuntos de coeficientes В (x2[43] = 192,37, p-valor<0,01).
Os coeficientes para o spread bancário anormal foram positivos e significantes em todas as estimaçoes (5,471 para Logit Ordenado [1] e 7,462 e 13,707 para Logit Multinomial [2.1] e [2.2], todos p-valores<0,05), indicando que taxas de serviços bancários pouco vantajosas aos membros aumentam a probabilidade de transformaçâo da estrutura de propriedade. Portanto, as evidencias da Tabela 2 apontam que a expectativa dos membros por melhores taxas foi tao determinante a transformaçâo da cooperativa quanto o mau desempenho e o porte destacados por trabalhos como os de Goddard et al. (2009, 2014), Worthington (2004) e Thompson (1997). Destacam-se os resultados de Logit Multinomial (2.1) e (2.2) visto que, embora os efeitos organizacionais de aderir a livre admissáo ou ser incorporada sejam muito distintos aos diretores, a autoridade dos membros predominou na cooperativa. Como argumentam Hart e Moore (1996, 1998), decisóes dos membros sao pautadas pelo preço dos serviços a disposiçâo e, assim, incorporates para acessar melhores taxas foram aprovadas mesmo podendo existir resistencia dos diretores. Por fim, essas evidencias acrescentam a trabalhos como os de Wilcox e Dopico (2011) e Bauer et al. (2009) ao sugerir que os membros das incorporadas já estariam esperando melhorias nas taxas de serviços bancários quando a aprovaram em assembleia.
Há significancia para os limiares a(2,103 com p-valor<0,05 para as incorporadas^ = 1] e 3,598 com p-valor<0,01 para as que aderiram a livre admissao de membros [j = 2]), e o teste de Wald aponta que nao se sobrepóem (х2[Ц = 360,39, p-valor<0,01). Existindo uma ordem entre as alternativas j, é possível investigar a associaçao entre maiores spreads bancários anormais e a probabilidade de adesao a livre admissao. Assim, a Tabela 3 contém os efeitos marginais do spread anormal e controles A·com significancia em Logit Ordenado (1). Os erros-padráo dos efeitos marginais, obtidos através do método delta, estao entre parenteses.
Os efeitos marginais evidenciam como as taxas de serviços bancários determinam a transformaçao da estrutura de propriedade das cooperativas de crédito. Com as demais variáveis em suas médias (ou modas, para os controles de efeitos fixos), o aumento de uma unidade em spread bancário anormal reduz a probabilidade de nao haver transformaçao em cerca de 90,7% (-0,907, p-valor<0,05).
Mesmo que os valores observados para o spread anormal variem apenas entre -0,153 e 0,133, a reduçao de probabilidade de nao transformaçao é considerável.
O principal resultado da Tabela 3, contudo, é o efeito marginal do aumento unitário do spread bancário anormal sobre a probabilidade de adesao a livre admissao, que é maior do que o dobro do efeito marginal sobre a probabilidade de ser incorporada (0,660 contra 0,248, p-valores<0,05). Ou seja, quanto menos vantajosas as taxas de serviços bancárias aos membros, maior a probabilidade de uma transformaçâo na estrutura de propriedade de maior ordem. Como as estatísticas da Tabela 1 indicam que as cooperativas de crédito que aderiram a livre admissâo tinham desempenho melhor do que as incorporadas, esse spread anormal recai principalmente a discricionariedade dos diretores. Existindo incentivos para buscarem beneficios privados (Gorton & Schmid, 1999), pode-se inferir que os diretores propuseram a livre admissâo aos membros pela expectativa de aumentar esses beneficios privados. Os membros, por sua vez, aprovaram a livre admissâo pela expectativa de grandes melhorias nas taxas de serviços da cooperativa, entâo muito pouco vantajosas devido aos beneficios privados dos diretores (Jensen & Meckling, 1976). Incorporaçoes, por outro lado, dependeriam da influencia de órgaos reguladores visando a robustez no setor devido ao mau desempenho (Bauer et al., 2009).
Tabela 3
5.1. Robustez dos resultados
Duas estimaçoes do modelo (1) foram realizadas visando checar a robustez dos resultados. Um logit utilizando apenas cooperativas de crédito que transformaram a estrutura de propriedade, com a livre admissáo de membros sendo alternativa a ser incorporada (Y = 1 j = 2]),verificou o aumento de probabilidade de transformaçâo de maior ordem (Y2 = 1 >Y1 = 1) decorrente de spreads bancários anormais mais altos. Outro logit utilizou como variável dependente casos de transformaçâo sem distingui-las (Y = 1 [j = {1, 2}]) para atestar o efeito do spread anormal sobre a probabilidade de transformaçâo. Os resultados estâo na Tabela 4.
Ambas as estimaçoes apontam associaçâo positiva do spread bancário anormal com a probabilidade de transformaçâo da estrutura de propriedade (20,647 em Logit [3] e 6,490 em Logit [4], p-valor<0,05), convergindo aos resultados anteriores. Destaca-se que o spread anormal manteve a significancia em Logit (3) enquanto muitos controles a perderam. Isso reforça a importancia das taxas de serviços bancários para a decisâo de transformaçâo e a existencia de uma ordem entre a adesâo a livre admissâo de membros e ser incorporada.
6.CONCLUSÓES
Este trabalho associou a transformaçâo na estrutura de propriedade das cooperativas de crédito brasileiras a expectativas refletidas nas taxas de serviços bancários. Foi investigado se o spread bancário anormal, representando a diferença entre o spread operacionalizado pela cooperativa e o spread esperado dadas as suas características, aumenta a probabilidade de adesáo a livre admissâo de membros ou incorporaçâo por outra cooperativa. Os resultados apontam a associaçâo positiva entre o spread anormal e ambas as transformaçoes, sugerindo que os membros as aprovaram sob expectativa de acesso a melhores taxas de serviços bancários. Há também uma ordem na qual spreads anormais mais altos sâo associados a uma maior probabilidade de adesâo a livre admissâo de membros, refletindo a busca dos diretores por beneficios privados, enquanto as incorporaçoes decorrem da má habilidade da gestâo.
Contribuiçöes deste trabalho se voltam a teoria e a prática. A contribuiçao teórica está na identificaçâo de expectativas de atores internos da cooperativa de crédito determinando transformaçoes na estrutura de propriedade. Isso distingue este trabalho dos anteriores, que assumiram uma lógica passiva na qual as transformaçoes, notadamente as incorporaçoes, decorreriam apenas do desempenho financeiro e seriam determinadas por fatores exógenos a cooperativa como a pressáo das demais cooperativas em seu mercado ou a influencia de órgáos reguladores. Isso destaca a importancia do controle exercido por membros e diretores. Sao esses individuos que, efetivamente, tomam as decisoes sobre a cooperativa. Assim, sugere-se a continuidade da investigaçao de possiveis expectativas de membros e diretores nas grandes decisoes organizacionais para que essa lógica ativa de controle, e nao passiva, se fortaleça.
Sao duas implicaçoes práticas. Como a adesao a livre admissao de membros aumenta a margem para diretores buscarem beneficios privados, é possível que as taxas de serviços bancários disponiveis aos membros nao melhorem após aprovada. Isso sugere o reforço do monitoramento e incentivo a melhores práticas de governança corporativa nessas cooperativas para que os membros nao sejam prejudicados. Já o mau desempenho nas incorporadas destaca a importancia das incorporaçoes como mecanismo de transferencia de controle, devendo ser incentivadas para beneficiar o cooperativismo de crédito como um todo. Os membros da incorporada continuam associados a uma cooperativa e nao tem que arcar com possiveis perdas que existiriam caso suas cooperativas fossem liquidadas. Órgáos reguladores se beneficiam pela escala, robustez financeira e manutençao de ativos que seriam perdidos nas liquidaçoes.
Existem limitaçoes neste trabalho, como a dificuldade de tratar a possível relaçao entre as taxas de serviços bancários e o desempenho financeiro por serem variáveis que se determinam durante o tempo. Mesmo assim, pesquisas podem ser inspiradas por este trabalho. Cisoes nao foram investigadas devido a baixa frequencia, mas podem ser abordadas através de estudos qualitativos. O lado das incorporadoras pode ser utilizado em pesquisas sobre a busca por beneficios privados pelos diretores, pois se trata de um choque na dispersao de propriedade maior do que a adesao a livre admissao. Incorporaçoes sao benéficas ao cooperativismo de crédito, mas precisam ser bem monitoradas. Por fim, pesquisas podem investigar a interaçao entre diretores e órgaos reguladores. Diretores podem influenciar nao apenas os membros, mas também os sistemas cooperativistas para conseguir transformaçoes que os beneficiem.
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Recebido: 10/09/2021. Revisado: 07/12/2021. Aceito: 29/12/2021. Publicado Online em: 15/09/2022.
NOTAS
1 Dados do Banco Central do Brasil e da Receita Federal Brasileira.
2 Os tipos de produto sao o serviço bancário predominante da cooperativa, sendo crédito consignado, crédito rural, ou, nao havendo predominancia, serviços bancários em geral. As categorias operacionais de cooperativas sao capital e empréstimo, clássicas e plenas.
3 Sao indicadores financeiros para cooperativas de crédito, detalhes em Bressan et al. (2011).
CONTRIBUIÇ0ES DE AUTORIA
Os autores contribuíram em todas as etapas, com a escrita conduzida pelo autor correspondente.
FINANCIAMENTO
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenaçao de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nivel Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.
CONFLITO DE INTERESSE
Declaramos nao haver conflito de interesse.
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Abstract
Adesóes a livre admissáo de membros e incorporaçoes sao transformaçoes na estrutura de propriedade comuns no cooperativismo de crédito brasileiro. Sob a lógica de que sao motivadas pelas expectativas de membros e diretores, este trabalho associou essas transformaçoes as taxas de serviços bancários operacionalizadas pelas cooperativas. Modelos logit ordenado e multinomial foram utilizados para investigar se spreads bancários anormais positivos, refletindo taxas pouco vantajosas aos membros e beneficios privados obtidos pelos diretores, aumentam a probabilidade de transformaçao e de adesao a livre admissáo. Os resultados apontam que as expectativas de membros e diretores foram táo determinantes a transformaçao quanto o porte e o desempenho da cooperativa. As evidencias reforçam que, sob expectativas de ganhos, membros e diretores tem controle ativo na decisáo de transformaçao da estrutura de propriedade nas cooperativas de crédito, sugerindo melhoria na governança corporativa e incentivo as incorporaçoes para que o cooperativismo cresça beneficiando os membros.