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Abstract
Introdução:a restritiva legislação brasileira permite o aborto em casos excepcionais, como na gravidez que decorre de crime sexual. Entretanto, pouco se conhece sobre as mulheres que desistem de realizar o aborto após receber aprovação do procedimento.
Objetivo:verificar a associação entre religião e desistência do aborto legal em mulheres com gravidez decorrente de violência sexual.
Método:cross-sectional study com 941 mulheres com gravidez por crime sexual atendidas no Hospital Pérola Byington, São Paulo, Brasil, de agosto de 1994 a dezembro de 2012. Os casos foram agrupados segundo desistir ou não do aborto. As variáveis de estudo foram idade, escolaridade, raça/cor, situação conjugal, idade gestacional, religião, agressor e tipo de intimidação. Foram calculadas as razões de chances (Odds Ratio) e teste de qui-quadrado de Wald (χ2W). Foi empregada a regressão logística ajustada por análise das variáveis com stepwise backward. Dados analisados em software SPSS15.0. Pesquisa aprovada por Comitê de Ética e Pesquisa com parecer nº 6767, CAAE nº 00957512.3.0000.5505.
Resultado: em 92 casos (9,8%) ocorreu desistência do aborto legal e em 849 (90,2%) o aborto foi concluído. Mulheres que declararam religião e que foram violentadas por agressor conhecido desistiram quase 2,5 vezes mais do aborto (RC=2,46; p<0,001). As que declararam não ter religião e apresentaram baixa escolaridade apresentaram chance 13 vezes maior de desistir do aborto (RC=13,23; p=0,017). Mulheres sem baixa escolaridade e que declararam religião apresentaram chance 16 vezes maior de desistir do aborto (RC=16,32; p=0,014). Aquelas que declararam ter religião e foram vítimas de agressores conhecidos desistiram do abortamento 16 vezes mais do que as que não possuíam religião (RC=16,32; p=0,014).
Conclusão:Os resultados sugerem que crenças religiosas podem influenciar na desistência do aborto legal em determinadas subpopulações de mulheres.