RESUMO
Este estudo analisou as barreiras ao deslocamento ativo de adolescentes para a escola, de acordo com o sexo, zona de moradia e estatuto socioeconômico. As variáveis foram coletadas através de questionários (Neighborhood Impact on Kids e Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa). Participaram 1.431 estudantes, com idade entre 12 e 17 anos. As variáveis categóricas dicotomizadas foram analisadas por meio do teste do Qui-quadrado com intervalos de confança de 95% e signifcância de p< 0,05. As principais barreiras para o deslocamento ativo reportadas foram: Na zona urbana: "o tempo é muito quente e transpiro muito" e "há muito trânsito"; na zona rural: "não existem calçadas ou ciclovias e "a escola fca longe"; moças da zona urbana: "a escola fca longe" e "há muito trânsito"; moças da zona rural: "o caminho era cansativo"; rapazes da zona rural: "o caminho não era bem iluminado"; estatuto socioeconômico: alunos de baixo estatuto socioeconômico da zona urbana e zona rural reportaram "a escola fca longe". As principais barreiras ao deslocamento ativo referem-se ao clima quente, às escolas distantes, ao trânsito e ao ambiente construído, impactando principalmente escolares de baixo estatuto socioeconômico das duas zonas de moradia, demandando uma tomada de decisão dos entes políticos visando facilitar o deslocamento ativo dos adolescentes. PALAVRAS-CHAVE: barreiras; deslocamento; adolescentes; urbano; rural; estatuto socioeconômico.
ABSTRACT
This study analysed the barriers to active commuting to school among adolescents according to gender, residential area, and socioeconomic status. The variables were collected through questionnaires (Neighborhood Impact on Kids and Associagao Brasileira de Empresas de Pesquisa). Atotal of 1,431 students aged between 12 and 17 participated. The dichotomized categorical variables were analyzed using the Chi-square test with a 95% confidence interval and a significance level of p< .05. The main reported barriers to active commuting were: in the urban area: "the weather is very hot, and I sweat a lot" and "there is a lot of traffic"; in the rural area: "there are no sidewalks or bike paths" and "the school is far away"; urban area girls: "the school is far away" and "there is a lot of traffic"; rural area girls: "the route was tiring"; rural area boys: "the route was not well-lit"; socioeconomic status: low socioeconomic status students from urban area and rural area reported "the school is far away". The main barriers to active commuting relate to hot weather, distant schools, traffic, and built environment, mainly impacting students with low socioeconomic status from both residential areas, requiring decision-making by policymakers to facilitate active commuting for adolescents. KEYWORDS: barriers; commuting; adolescents; urban; rural; socioeconomic status.
INTRODUÇÃO
A adoção de um estilo de vida ativo e saudável é um fator protetor contra o risco de doença ou morte, reduzindo a mortalidade por todas as causas (Lear et al., 2017). Mesmo diante desta evidência, uma parte signifcativa da população mundial não pratica a atividade física (AF) necessária para obter os ganhos para a saúde, realidade identifcada nomea-damente entre as meninas (Martins et al., 2017). No Brasil, mais da metade dos adolescentes se mostraram fsicamente inativos no lazer (Cureau et al., 2016).
A inatividade física na adolescência provavelmente con-tribui para os principais problemas globais de saúde, fato que coloca os adolescentes em situação de elevado risco, pois os estudos globais apontam que 80% dos jovens são insuf-cientemente ativos e muitos deles se envolvem em mais de 2 horas de tempo de tela recreativa (Guthold et al., 2020; Van Sluijs et al., 2021). Esta situação se agrava com a diminui-ção da prática da AF entre adolescentes mais velhos, meninas e jovens de países com baixo índice de desenvolvimento humano (Marques et al., 2020), realidade também encon-trada no Brasil (Silva et al., 2022).
As barreiras para a prática de AF (BAF) são fatores repor-tados que difcultam a sua execução, destacando-se o estatuto socioeconômico, questões culturais e o ambiente envolvente (Selk-Ghafari et al, 2022).
As BAF não são consensuais entre os adolescentes, podendo ser reportadas diferentemente de acordo com o sexo (Zelenovi? et al., 2021), com o estatuto socioeconômico (ESE) (Alliot et al., 2022), bem como, de acordo com a zona de moradia, seja zona urbana (ZU) ou zona rural (ZR), concluindo-se que existe uma variedade de BAF que são distintamente reportadas pelos jovens a partir das suas características biopsíquicas e seu contexto sociocultural (Martins et al., 2021).
Caminhar ou usar bicicleta para se deslocar para luga-res diversos representa uma forma acessível de transporte e oportunidade de praticar AF. No que se refere às barreiras para o deslocamento ativo (BDA) de crianças e adolescentes, um estudo multicontinental mostrou que no geral as principais BDA reportadas estavam relacionadas as ameaças sociais e fisicas, baixa motivacao e eficacia, falta de apoio social e comunitario, cultura de AF dominante e manutencao, acessi-bilidade e seguranca dos ambientes construfdos. Na America Latina a inseguranca no transito e a ma qualidade de calca-das foram as BDA mais reportadas (Buttazzoni et al., 2023). O deslocamento ativo contribui para melhores niveis de saude dos adolescentes, pois parece contribuir para o com-bate a obesidade (Martin-Moraleda et al., 2022), para uma maior probabilidade de cumprimento das recomendacöes de AF (Khan et. al, 2021) e melhores niveis de aptidao fisica (Henriques-Neto et al.,2020). Este estudo teve por objetivo identificar as principais BDA para a escola reportadas pelos adolescentes do Sertao Central de acordo com o sexo, zona de moradia e estatuto socioeconömico como forma de sub-sidiar a implementacao de polfticas de estimulo a pratica de AF e diminuir as lacunas existentes na literatura cientffica sobre BDA de adolescentes da ZU e ZR.
MÉTODO
Este estudo teve uma abordagem quantitativa e um dese-nho observacional e transversal.
Amostra
O estudo foi desenvolvido junto ao universo de estudan-tes do ensino fundamental II e ensino medio matriculados no municipio de Quixada - Ceara, Brasil, apresentando uma populacao de 14.957 alunos para intervalo de confianca de 99%, escala de proporcao populacional de 50% e erro estimado de 5%. O calculo amostral (Bonini & Bonini, 1972) deter-minou uma amostra inicial de 636 escolares de sete escolas de ensino fundamental (EEF) e sete escolas de ensino medio (EEM). Considerando que a coleta dos dados foi realizada por métodos indiretos, optou-se por ampliar a amostra inicial como forma de aumentar a fidedignidade dos resulta-dos, chegando a uma amostra final de 1.431 escolares (711 meninos e 720 meninas) sendo 769 da ZU e 662 da ZR. A distribuicao das amostras dos participantes da pesquisa e das escolas é apresentada naTabela 1.
A média da idade dos participantes foi de 14,6 anos (des-vio-padrão: 1,67; coefciente de variação: 11,34%; amplitude: 12-17 anos), sendo excluídos aqueles que apresenta-vam alguma defciência, os que não apresentaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido assinado (TCLE) e que não fossem residentes no município de Quixadá - Ceará, Brasil.
Instrumentos
As BDA foram identifcadas por meio do Neighborhood Impact on Kids (NIK) Self-Report Survey, um questionário internacionalmente validado, originalmente em inglês, que foi traduzido para o português. Após a tradução para o inglês, verifcou-se que estava adequado. A versão em português foi submetida à análise de cinco especialistas, que avaliaram positivamente todas as questões. O questionário em portu-guês foi então administrado a um grupo de 30 alunos, cujas dúvidas foram esclarecidas pelo pesquisador. Algumas ques-tões foram reformuladas com base nas dúvidas levantadas, visando facilitar o entendimento dos adolescentes.
O NIK é composto pelas seções de: hábitos de vida, opinião, educação física, fatores sociais, fatores ambientais, consumo de substâncias, bem-estar, vida e saúde, sentimen-tos e informação geral. Referente às BDA, o NIK exige que o aluno marque uma das duas opções de respostas categó-ricas (discordo ou concordo) de cada uma das 17 barreiras elencadas: Não existem calçadas ou ciclovias; O caminho é cansativo; O caminho não tem boa iluminação; Existe um ou mais cruzamentos perigosos; O tempo é muito quente e chego a transpirar muito; Nenhum outro adolescente vai; Não é bem visto pelos colegas; Tenho muito material para carregar; É mais fácil alguém levar-me de carro; Envolve muito planejamento prévio; Não existem locais seguros para deixar a bicicleta; No caminho há cães vira-latas; A escola fca muito longe; Iria ter de passar por locais perigosos onde podem ocorrer crimes; Não gosto de ir a pé ou de bicicleta para a escola; Existem muitas subidas e descidas; Há muito trânsito no caminho.
Para determinar o ESE, utilizou-se o Critério de Classifcação Econômica Brasil da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP), um questionário amplamente reconhecido para a avaliação econômica das famílias brasileiras. Esse ques-tionário aborda diversos aspectos, como a presença e quanti-dade de eletrodomésticos, banheiros, empregados domésti-cos, automóveis (avaliados numa escala de 0 a 4+) e o nível de escolaridade do chefe da família (avaliado numa escala de 0 a 8). A classifcação do ESE da família é determinada pela soma dos pontos de cada item, conforme uma tabela de refe-rência que inclui as classes A1, A2, B1, B2, C1, C2, D e E. As famílias classifcadas nas faixas de A1 a B2 foram consideradas de médio/alto ESE, enquanto aquelas classifcadas nas faixas de C1 a E foram consideradas de baixo ESE.
Procedimentos
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Centro Universitário Católica de Quixadá (Processo nº 2.013.703) e recebeu autorização prévia dos gestores da rede municipal e estadual de ensino para coleta de dados. A seleção das escolas participantes foi feita com base no interesse mani-festado pelos diretores das unidades escolares, conforme sua conveniência. Os alunos participantes apresentaram TCLE assinado por seus responsáveis. Foi garantida a participação voluntária, bem como o anonimato e a confdencialidade dos dados. A coleta ocorreu entre abril e outubro de 2017, conduzida por um grupo de cinco pesquisadores treinados, sob a supervisão do pesquisador responsável, que realizou uma leitura prévia do questionário e dos procedimentos de preenchimento, além de esclarecer dúvidas dos alunos antes da aplicação dos questionários.
Análise estatística
Os dados foram analisados considerando as variáveis independentes dicotomizadas de sexo em "Masculino" e "Feminino", zona de moradia em "Urbana" e "Rural" e o ESE em "Baixo" e "Médio/Alto" em relação as variáveis dependen-tes dos 17 itens dicotomizados em "Discordo" e "Concordo" do instrumento sobre BDA.
Diferentes procedimentos estatísticos foram utilizados para a descrição das variáveis de interesse e para alcançar os objetivos do estudo. Estatísticas descritivas foram emprega-das para a descrição das variáveis categóricas por meio de fre-quências absolutas e relativas por meio do SPSS versão 23.0.
Para avaliar as diferenças entre os estudantes de ZU e ZR, entre os sexos, bem como, entre os ESE (baixo e médio/ alto) no que concerne as BDA, foi utilizado o teste do Qui-quadrado para realizar comparação de proporções para as variáveis categóricas, apresentando os intervalos de confança de 95% (IC95%) e o nível de signifcância de 5% (p< 0,05).
RESULTADOS
Barreiras para deslocamento ativo à escola e sua distribuição de acordo com a zona de moradia
A maioria dos adolescentes afrmou que "o caminho é cansativo" (59,3%; IC95% 56,7-61,8), que existem cruza-mentos perigosos (55,3%; IC95% 52,7-57,9), a temperatura
elevada e a transpiração (56%; IC95% 53,4-58,6), o peso que tem de transportar (50,6%; IC95% 48,0-53,3), a facilidade de ir de carro (51,2%; IC95% 48,6-53,8) e a distância que a escola fca de casa (57,2%; IC95% 54,6-59,8).
Quando comparados aos adolescentes da ZR, uma maior proporção de adolescentes da ZU reportou como BDA o número de cruzamentos (61,5%; IC95% 58,0-64,9 versus 48,2%; IC95% 44,4-52,0; p< 0,001), a temperatura elevada e a transpiração (59,6%; IC95% 56,0-63,0 versus 51,8%; IC95% 48,0-55,7; p< 0,001) e o trânsito (60,5%; IC95% 57,0-64,0 versus 32,9%; IC95% 29,4-36,6; p< 0,001).
Por outro lado, foi observada maior proporção de ado-lescentes da ZR que reportou como BDA a ausência de cal-çadas e ciclovias (51,8%; IC95% 47,9-55,6 versus 39,4%; IC95% 36,0-43,0; p< 0,001), a distância que a escola fca de casa (60,5%; IC95% 56,6-64,2 versus 54,4%; IC95% 50,8- 57,9; p= 0,022) e a existência de subidas e descidas (55,0%; IC95% 51,1-58,8 versus 35,9%; IC95% 32,5-39,4; p< 0,001). A Tabela 2 apresenta as barreiras para deslocamento ativo à escola e sua distribuição de acordo com a zona de moradia.
Barreiras de deslocamento ativo à escola entre meninos e meninas conforme zona de moradia
Ao se comparar aos adolescentes da ZU, observou-se uma proporção maior de moças que indicavam como BDA o caminho é cansativo (64,5%; IC95% 59,5-69,2 versus rapa-zes: 51,7%; IC95% 46,7-56,7; p< 0,001), a distância que a escola fca de casa (58,2%; IC95% 53,1-63,2 versus rapa-zes: 50,7%; IC95% 45,6-55,7; p= 0,037) e muito trânsito (66,9%; IC95% 62,0-71,5 versus rapazes: 54,2%; IC95% 49,2-59,2; p< 0,001).
As moças da ZR tiveram maior prevalência em reportar o caminho cansativo (64,7%; IC95% 59,4-69,6 versus rapazes: 56,5%; IC95% 50,9-61,9; p= 0,031), enquanto os rapazes da ZR reportaram a iluminação precária do caminho (51,4%; IC95% 45,9-56,9 versus moças: 41,8%; IC95% 36,7-47,2; p= 0,014). A Tabela 3 apresenta as diferenças entre os sexos para as barreiras para deslocamento ativo à escola conforme a zona de moradia.
Diferenças entre os estatutos socioeconômicos nas barreiras ao deslocamento ativo para escola conforme a zona de moradia
Nas duas zonas de moradia, apenas o indicador referente à distância que a escola fca de casa foi signifcativo, sendo reportado como BDA majoritariamente pelos escolares com baixo ESE ZU (59,6%; IC95% 53,8-65,1 versus médio/alto:
51,1%; IC95% 46,5-55,7; p= 0,023) e ZR (64,3%; IC95% 59,5-68,9 versus médio/alto: 54,4%; IC95% 48,1-60,5; p= 0,011). A Tabela 4 apresenta as diferenças entre estatuto socioeconômico nas barreiras para deslocamento ativo para escola conforme a zona de moradia.
DISCUSSÃO
No geral, as BDA mais reportadas foram o cansaço para percorrer o caminho, a distância da escola, o calor e a transpiração, a facilidade em usar carro em detrimento do transporte ativo, a existência de cruzamentos e o material para carregar". Entende-se que estas BDA sejam comuns às duas zonas de moradia, dada a oferta limitada de escolas na ZR e a dispa-ridade na qualidade das escolas existentes na ZU, levando os adolescentes a realizar maiores deslocamentos em busca de escolas de melhor qualidade. O clima quente da região pode ter infuenciado a sensação de cansaço, a predileção por ir de carro para a escola e a percepção de calor e transpiração.
A barreira referente a existência de cruzamentos perigo-sos também se aplica à ZR que apresenta locais de traves-sia perigosa na conjunção de ruas e até mesmo de estradas, mesmo tendo menor fuxo de automóveis. A implementa-ção de medidas como a uniformização do nível de ensino das escolas, a presença de agentes de trânsito, a instalação de mais semáforos e faixas de pedestres elevadas, bem como uma ampla sinalização nas principais vias de acesso às escolas, são passos cruciais para reduzir o deslocamento dos alunos para bairros vizinhos e entre diferentes zonas residenciais. Além disso, a expansão da arborização das ruas não apenas contribui para uma sensação térmica mais agradável, mas também promove um ambiente mais seguro e agradável. A disponibilização de armários individuais para uso dos alunos é outra medida importante, visando diminuir a quantidade de material levado diariamente para a escola e, consequen-temente, aliviando as barreiras relacionadas ao transporte. Essas ações são essenciais para reduzir as BDA reportadas. Esses achados estão em linhas com a realidade portuguesa (Martins et al., 2016), brasileira (Silva et al., 2020; Teles et al., 2020), espanhola (Aranda-Balboa et al., 2021) e eslo-vena (Jurak et al., 2021).
Os escolares da ZU, quando comparados com escolares da ZR, reportaram como BDA, os cruzamentos perigosos, a tem-peratura elevada e a transpiração e o trânsito. Os fatores "trânsito" e "clima" emergiram signifcativamente na ZU, corrobo-rando os achados de Molina-García et al. (2020). Esses achados ressaltam a urgência de ações citadas aqui anteriormente pelos gestores municipais. É essencial implementar melhorias no trânsito, expandir a rede de ciclovias, investir na arborização urbana e promover aprimoramentos na qualidade do ensino em todas as escolas, sem distinção de bairro ou distrito. Embora o número atual de instituições educacionais seja adequado para atender à demanda, é crucial direcionar o foco para garantir que todas elas proporcionem um ensino de excelência. Essas iniciativas não apenas abordarão as barreiras identifcadas, mas também promoverão um ambiente mais seguro e propício ao bem-estar e ao desenvolvimento dos alunos em toda a comunidade escolar.
Os jo vens da ZR reportaram como as pr incipais BDA a ausên-cia de calçadas e ciclovias, subidas e descidas e a distância que a escola fca de casa. Estes resultados se alinham com os achados de outros estudos (Christiana et al., 2021; Molina-García et al., 2020). O reduzido número de estradas pavimentadas, ruas cal-çamentadas, calçadas com padrões de segurança e conforto e a ausência de ciclovias difcultam sobremaneira o deslocamento a pé ou de bicicleta destes escolares. Melhorar a qualidade de ensino das escolas da ZR e possibilitar o acesso dos adolescentes a esco-las próximas de sua residência também facilitará o deslocamento ativo, dadas as evidências de que há uma distância limítrofe a partir da qual adolescentes tendem a não se deslocar ativamente para a escola (Chillón et al., 2015) e a diminuição do número de esco-lares que se deslocam ativamente na proporção em que aumenta a distância para a escola (Martins et al., 2016).
Na ZU as moças superaram os rapazes ao reportar como BDA o caminho cansativo e a distância entre a escola e suas residências, coadunando com a perspectiva de que as moças reportam fortemente o ambiente construído e a distância como BDA (Jurak et al., 2021; Pandolfo et al., 2016; Silva et al., 2020), diferindo dos achados de Javadpoor et al. (2023). O fato de a maioria das moças se cansar ao percorrer o trajeto para a escola a pé ou de bicicleta pode sinalizar uma preocu-pante questão de saúde. Essa fadiga pode indicar potenciais níveis reduzidos de aptidão física relacionada à saúde, o que, por sua vez está associado a doenças crônico-degenerativas.
Ainda na ZU, as moças também superaram os rapazes ao citar o indicador referente ao trânsito como uma BDA, estando de acordo com o estudo brasileiro de Silva et al. (2020). Este resultado pode ser explicado pelas defciências estruturais do trânsito, bem como pela cultura das famílias, na qual os rapazes são estimulados a se deslocarem sozinhos pela cidade mais cedo do que as moças, o que faz com que eles estejam mais familiarizados com o trânsito.
Referente à ZR, as moças superaram os rapazes ao repor-tarem como BDA o caminho cansativo, reforçando os acha-dos de outros estudos ( Jurak et al., 2021; Pandolfo et al., 2016; Silva et al., 2020). Isso pode ser justifcado pelas vias de acesso às escolas, as quais, em muitos casos, são estradas de terra com muitas subidas e descidas, além de calçadas irregulares em altura e pavimentação.
Os rapazes da ZR reportaram, em maior proporção, a BDA relacionada à falta de boa iluminação no caminho, o que pode ser explicado pelo fato de que eles tendem a se deslocar mais frequentemente a pé ou de bicicleta do que as moças. Essa maior exposição ao ambiente durante o deslo-camento possibilita uma percepção mais aguçada da insuf-ciência da iluminação pública para garantir a segurança dos estudantes durante os trajetos. Esta realidade, comum em diversos distritos, reforça a compreensão de que o ambiente construído exerce infuência signifcativa sobre as decisões de mobilidade dos jovens (Buttazzoni et. al, 2023), contra-pondo-se aos achados de Teles et al. (2020).
A predominância dos alunos de baixo ESE sobre os de médio/alto ESE, em ambas as zonas residenciais, que rela-tarem a distância entre suas casas e a escola como uma BDA evidencia que indivíduos com menor condição socioeconô-mica são os mais afetados pela distância entre residência e instituição de ensino, o que consequentemente os torna mais propensos a enfrentar difculdades no deslocamento ativo até a escola, reforçando assim o quadro de desigualdade social. Este resultado está em consonância com alguns estudos (Araújo et al., 2020; Dias et al., 2019; Molina-García et al., 2020; Teles et al., 2020), contrapondo-se a outros (Gálvez-Fernández et al., 2021; Jurak et al., 2021). A cidade vem se expandindo com novos bairros, gerando a necessidade de escolas nas novas regiões, demanda para a qual os gestores não estão conseguindo sucesso, reforçando a realidade das escolas distantes das residências dos alunos. Já na ZR a dis-ponibilidade de escolas de ensino fundamental e médio é limitada, destacando a necessidade premente de ampliar e aprimorar a qualidade do ensino nas instituições já estabele-cidas. Esta abordagem visa evitar que os alunos precisem se deslocar de suas comunidades para frequentar escolas loca-lizadas no centro dos distritos ou na ZU.
A ampliação e melhoria da infraestrutura educacional na ZR não apenas reduziriam os deslocamentos desnecessários, mas também garantiriam o acesso equitativo a uma educação de qualidade, promovendo o desenvolvimento acadêmico e social dos estudantes dentro de suas próprias comunidades.
Apesar da importância dos resultados encontrados, este estudo apresenta algumas limitações que merecem destaque. Ele foi conduzido de forma transversal, o que impossibilita o acompanhamento longitudinal das BDA nessa população ao longo do tempo. Além disso, os dados foram autorreferidos, o que pode introduzir alguns vieses nas informações coletadas. No entanto, vale ressaltar que o uso generalizado de questio-nários sobre BDA em estudos realizados em várias partes do mundo atesta a qualidade do estudo, minimizando possíveis preocupações sobre a validade dos resultados.
Apesar das limitações, este estudo apresenta importan-tes implicações para a literatura, ao demonstrar diferenças e algumas similaridades nas BDA reportadas por adolescentes, de cordo com o sexo, zona de moradia e ESE. Isso reforça a tese de que as diferenças socioeconômicas do país incidem negativamente sobre os adolescentes de baixo ESE. Como sugestão para trabalhos futuros, recomendamos a realização de investigações longitudinais que permitam avaliar as pos-síveis mudanças das BDA ao longo do tempo.
CONCLUSÕES
Os resultados deste estudo indicam que as principais BDA para a escola referem-se as questões do clima quente, das escolas distantes, do trânsito e do ambiente construído (calçadas, ciclovias e iluminação pública). O fato dos escola-res de baixo ESE das duas zonas de moradia terem reportado majoritariamente "a escola fca muito longe", demonstra que as políticas públicas ainda não contemplam devidamente os menos favorecidos economicamente e indica a necessidade de ações que diminuam as iniquidades sociais tão presen-tes na realidade brasileira. Diante destes achados sugere-se algumas ações para a classe política: reestruturação do trânsito, adequação das calçadas para o bom fuxo de pedestres, ampliação das ciclovias, ampliação da arborização e melhoria da iluminação pública; gestores educacionais: melhoria do nível de ensino das escolas nas duas zonas de moradia, adoção de critérios de matrícula a partir da distância da escola para a casa do estudante e ampliação do número de escolas na ZR.
AGRADECIMENTOS
Ao Centro Universitário Católica de Quixadá pelo auxílio fnanceiro que viabilizou a participação no curso de douto-rado, possibilitando assim a realização deste estudo.
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Abstract
Este estudo analisou as barreiras ao deslocamento ativo de adolescentes para a escola, de acordo com o sexo, zona de moradia e estatuto socioeconômico. As variáveis foram coletadas através de questionários (Neighborhood Impact on Kids e Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa). Participaram 1.431 estudantes, com idade entre 12 e 17 anos. As variáveis categóricas dicotomizadas foram analisadas por meio do teste do Qui-quadrado com intervalos de confança de 95% e signifcância de p< 0,05. As principais barreiras para o deslocamento ativo reportadas foram: Na zona urbana: "o tempo é muito quente e transpiro muito" e "há muito trânsito"; na zona rural: "não existem calçadas ou ciclovias e "a escola fca longe"; moças da zona urbana: "a escola fca longe" e "há muito trânsito"; moças da zona rural: "o caminho era cansativo"; rapazes da zona rural: "o caminho não era bem iluminado"; estatuto socioeconômico: alunos de baixo estatuto socioeconômico da zona urbana e zona rural reportaram "a escola fca longe". As principais barreiras ao deslocamento ativo referem-se ao clima quente, às escolas distantes, ao trânsito e ao ambiente construído, impactando principalmente escolares de baixo estatuto socioeconômico das duas zonas de moradia, demandando uma tomada de decisão dos entes políticos visando facilitar o deslocamento ativo dos adolescentes. PALAVRAS-CHAVE: barreiras; deslocamento; adolescentes; urbano; rural; estatuto socioeconômico.