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ENQUADRAMENTO
O exercício profissional da enfermagem tem o seu eixo na relação que se estabelece entre o enfermeiro e uma pessoa ou grupo de pessoas (OE, 2001), relação essa que se funda na confiança que o cliente tem na pessoa do enfermeiro. Sendo a confiança uma dimensão essencial de toda a convivência humana, ela desenvolve-se no âmbito do exercício pelo impacto positivo que as acções do enfermeiro têm na pessoa. A pessoa reconhece credibilidade no enfermeiro, sente a garantia que as suas acções se fundamentam no conhecimento e experiência, identifica-o como competente para realizar o cuidado de que necessita. Assim o conceito de competência não pode ser desligado do agir porque é na acção e numa situação específica que a competência se demonstra, ou seja que se mobilizam os recursos, conhecimentos e capacidades para a sua resolução (Le Boterf, 1995). O agir competente evidencia-se em "situações novas ou quando o contexto em que a acção se desenrola exige um maior controlo sob a mesma" (OE, 2009, p. 11). Ser competente é ser exemplar no sentido em que se demonstra o que se espera dum profissional, neste caso, de enfermagem.
O exemplo pode também ser descrito, evidenciando as competências que alguém demonstrou no exercício da sua profissão e que são reconhecidas por outros. E quando essa descrição ocorre em notícias na imprensa generalista de grande circulação permite-nos "conhecer as formas de sensibilidade, dos gostos dominantes, da actividade mental de certas camadas sociais e em determinadas épocas" (Tengarrinha, 1989, p.18) uma vez que ela é o reflexo directo do que ocorre na vida de um país.
Propomo-nos, neste artigo, desocultar a figura de José Bernardo, enfermeiro no Banco do Hospital de S. José, através das notícias sobre ele veiculadas no jornal Diário de Notícias num período entre Outubro de 1910 e Janeiro de 1929. O discurso produzido nessas várias notícias faz emergir as competências que tornaram o enfermeiro José Bernardo num profissional muito considerado. O limite temporal definido, nos primeiros decénios do século XX, remete-nos para a História e para a questão primordial de saber quem somos e donde viemos. Preservar o acontecido e, pela narrativa, dar-lhe um sentido (Nunes, 2009) poderá ajudar-nos a caracterizar a nossa identidade profissional, fazendo emergir os factores estruturantes dessa mesma...