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No início do século XX havia em Portugal dois tipos de enfermeiras. As religiosas ou congreganistas e as laicas ou seculares.
Se até ao início da terceira década do século XIX os cuidados de enfermagem no país eram essencialmente prestados por pessoal pertencente a ordens religiosas, esta situação foi alterada, em 1834, com a sua extinção pelos liberais. Apesar disso, a partir da segunda metade desse século, a congregação das Filhas da Caridade e outras similares foram autorizadas a estabelecer-se tanto em hospitais como noutras instituições de assistência existentes no território português, com especial incidência no norte (Soares, 1997) 1. No nosso país, durante o século XIX e XX, Azevedo (2000), reconhece a influência de várias congregações religiosas nos serviços de saúde e assistência, identificando nesse âmbito a importância das congregações das: Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição; das Irmãs Franciscanas Missionárias de Nossa Senhora e das Irmãs Franciscanas Missionárias de Maria, desde respetivamente 1871; 1875 e 1895. Apesar disso, os hospitais onde, no último quartel do século XIX, foram criadas as primeiras escolas de enfermagem não tinham religiosas entre o pessoal de enfermagem (Silva, 2008). Contra a enfermagem exercida por essas mulheres, que se haviam devotado a Deus, opunham-se muitos médicos entre os quais Costa Simões (Soares, 1997; Silva, 2008), e o republicano Miguel Bombarda que nesta luta se salientou (Bombarda, 1910). Mas as enfermeiras religiosas eram absolutamente necessárias para o funcionamento das instituições de saúde do país, de entre as quais sobressaiam os hospitais das Misericórdias, nomeadamente os que tinham sido criados em cidades da província como por exemplo o Hospital da Misericórdia de Lamego, onde se instalaram as Irmãs Franciscanas Hospitaleiras (Bastos, 1974).
Com esta investigação pretendi compreender a posição dos detratores da enfermagem religiosa e identificar as representações que dela tinham os seus defensores.
Com tal finalidade utilizei duas fontes existentes na Biblioteca Nacional de Portugal. A obra, A Enfermagem religiosa, da autoria de Miguel Bombarda, publicada em 1910; e a coletânea de depoimentos colhidos por Rebelo Bastos em 1941, e publicada em 1974, sob o título Para a história da enfermagem religiosa no Hospital da Santa Casa da Misericórdia de Lamego. Na interpretação dos dados utilizei autores como Catroga (1988), Silva (2008) e Moura (2010), entre outros.
Foi a...