Introducao
Dentre os inúmeros debates da historiografía italiana relativos ao período fascista, varios dos mais fecundos e intensos têm sido aqueles relacionados à política externa do regime. Realmente, os historiadores italianos têm dedicado muito tempo e energia ao estudo dos varios aspectos da política externa de Mussolini durante os vinte anos do fascismo. As reflexöes produzidas em décadas de traballio merecem ser conhecidas também pelos nao especialistas em historia italiana, pois abordam questöes e problemas de interesse direto para todos os analistas de relaçoes internacionais, especialistas ou nao no período. É no esforço para tornar essa produçâo hi storiogràfica italiana mais conhecida pelo público brasileiro que me decidi a escrever este artigo de síntese.
No entanto, mesmo artigos de síntese nao podem prescindir de um eixo, de um ponto centrai que sirva para articular as reflexöes, sob pena de se tornar mero elenco de livras e artigos. Dado este problema, escolhi abordar, neste texto, a relaçào entre a política externa fascista e as diretrizes tradicionais da política exterior italiana desde a unificaçâo em 1860. Näo apenas é esta a questäo-chave para a compreensäo e definiçâo do caráter da política externa de Mussolini, como eia nos permite a articulaçâo lógica de varios dos debates que permeiam a historiografía relativa à política externa fascista.
Nesse sentido, inicio com urna apresentaçâo pontual de alguns dos autores mais importantes que trabalharam com esse tema. Posto isto, faço urna discussäo de algumas questöes-chave a respeito da historia da política externa fascista (como o dominio dos interesses ideológicos ou geopolíticos na sua conduçâo; o papel da política interna ñas relaçôes internacionais italianas pré e pos- 1922; o caráter do imperialismo italiano nos dois momentos e as variaçôes temporals dos interesses internacionais italianos nos anos 20 e 30) e que estäo diretamente relacionadas ao nosso problema central. Concluo com urna análise sobre os aspectos políticos dessa problemática, especialmente no tocante a urna possível reabilitaçâo do fascismo, através de novas abordagens historiográfícas de sua política externa.
Por firn, gostaria de destacar que näo tenho a pretensâo de ter esgotado a imensa bibliografia relativa à política extema fascista, que atinge seguramente, entre livros e artigos, milhares de referencias . Tenho certeza, contudo, que a seleçâo feita aqui é suficiente para atingir meu duplo propósito de discutir a questâo da contínuidade e da mudança na política exterior italiana no entreguerras e de apresentar alguns dos debates correntes na historiografía italiana para o público brasileiro.
Contínuidade ou Mudança?
Descartadas as hipótcses de que a política externa fascista era irracional e que era gestada e conduzida unicamente pela pessoa de Mussolini (o que simplificaría bastante nossos problemas, mas nos afastaria da realidade), varias questöes se apresentam. A principal délas é determinar se o fascismo representou um rompimento radical com as diretrizes que conduziam a política externa italiana desde a Unificaçâo ou se ele realizou apenas urna reestruturaçâo cosmética das mesmas.
Nesse sentido, para alguns estudiosos, como Lowe e Marzari (1971), Santoro (1991), Ragionieri (1976) e Barros (1965), há varios pontos comuns (equilibrismo entre as grandes potencias européias para superar as debilidades económicas e militares, aproveitamento dos momentos de vacuo de poder para tentar a expansäo imperial, o nacionalismo e o desejo italiano de que o país fosse aceito como grande potencia, a ênfase ñas ambiçôes italianas no Mediterráneo e no Adriático etc.) entre a política externa italiana pré e durante o fascismo que demonstrarían! como a política externa fascista nao teria rugido muito dos padröes anteriores da política externa italiana.
Para Segrè (1991), por exemplo, a única grande diferença da política externa fascista comparada com a anterior era que os fascistas nao sabiam aceitar os limites do poder italiano como seus predecessores liberáis, o que teria levado a urna ambiçâo imperial desmedida e às catástrofes da Segunda Guerra. Outros autores, como Sergio Romano (1984; 1991; 1991a) e Richard Bosworth (1979; 1991),refinamisto ao insistir, utilizando os pressupostos teóricos da "Nova Historia" francesa, que a confirmaçâo da continuidade poderia ser encontrada tanto no pensamento nacionalista (o elo entre a política externa liberal e a fascista) quanto nos "mitos" que norteavam a cultura da política exterior italiana, só superados com a República em 1945.
Sergio Romano (1991 ; 1991a), alias, fornece urn bom panorama sobre os "continuístas" ao demonstrar como eles se dividem entre os que vêem a continuidade a partir da manutençâo de traeos negativos (o nacionalismo exacerbado, o imperialismo) ou positivos (o equilibrismo, o realismo, as motivaçôes justas de buscar um lugar para a Italia no mundo) entre os dois períodos (basicamente, a esquerda e a corrente de De Felice, respectivamente).
Outros autores invertem esse raciocinio. Alan Cassels (1983), McGregor Knox (1982; 1991), Denis Mack Smith (1976) e Carlo Vallami ( 1 964), por exemplo, afirmam que, após alguns anos de transiçâo, o fascismo teria implantado urna política externa muito diferente da do periodo anterior. Urna agressividade intensa, objetivos imperials desmedidos, rompimento da tradicional aliança com a Inglaterra, a ideologizaçâo da política externa (incluindo urna "diplomacia paralela" de base expressivamente subversiva e ideologica ) e o uso delà para a mobilizaçâo e mudança internas seriam as marcas dessa nova política externa fascista.
Evidentemente, ninguém nega que existam continuidades entre os dois períodos, como as mencionadas acima, e que o fascismo trouxe algumas mudanças. O problema é definir o que predominou, pois apenas dizer que continuidades e rupturas sao a chave da Historia (e desse problema em particular) e que ambas podem coexistir em um mesmo sistema, como faz Romano (1983 ; 1 984), nao passa de reafírmaçâo do obvio.
Para evitar esse problema, traballio com alguns elementos-chave abordados pelos historiadores acima citados, de forma a verificar pontualmente a validade da argumentaçâo por eles apresentada. Nesse sentido, o primeiro elemento a ser analisado é a relaçao entre as políticas externa e interna durante o regime fascista.
A Relaçao entre Política Interna e Externa
Para autores como Ettore Archieri (1977) e Giampiero Carocci (1969), a opiniäo pública e as classes dominantes italianas apoiavam o fascismo basicamente pelo seu combate à esquerda e pelo seu projeto de estabilidade e crescimento económico para a Italia. Suas bravatas e excessos internacionais seriam apenas tolerados em nome desses bons serviços que o fascismo prestava à política nacional. Política externa, pois, desconectada da interna.
Para Ennio Di Nolfo ( 1 975), urna proposta como esta, de que a política externa fascista seria algo desligado da política interna e exclusivamente determinada pelos caprichos de Mussolini, seria empobrecedora, pois reduziria o regime fascista a algo criado única e exclusivamente para atender aos interesses de estabilidade, paz social e poder das classes dominantes italianas, o que difícilmente correspondería à realidade, pois o fascismo efetivamente teria um projeto para a Italia.
Para outros autores, a relaçâo política interna/política externa era mais dinàmica, e eles relacionam as atitudes dos fascistas no plano internacional com suas necessidades políticas dentro da Italia. George Baer (1970), Renzo De Felice (1973) e Francesco Perfetti (1979), por exemplo, concordam que, ao menos nos anos 20 (e, para Baer, por todo o entreguerras), a política externa era vista essencialmente como instrumento da política interna. Já o militante antifascista Gaetano Salvemini (1932; 1967) era ainda mais direto e considerava a politica externa fascista simples teatro para manter os italianos ligados ao fascismo , enquanto a historiografía vinculada ao antigo Partido Comunista Italiano (PCI) via no capitalismo italiano a fonte do imperialismo fascista, o que também levava à consideraçâo de que a política interna predominava sobre a externa (Lyttelton, 1982). Urna outra análise, mais sofisticada, mas isolando a politica interna da externa, trabalhou a idéia da segunda como o campo privilegiado de açâo do fascismo, em oposiçâo à primeira4.
Ainda nessa linha de consideraçoes, mas de urna perspectiva oposta, Simona Colarizi (1984) näo só näo acredita nessa independencia da política externa ou no dominio das questôes internas, como propöe que, na verdade, era a política interna do fascismo que era condicionada pela extema. A aliança com o nazismo, por exemplo, tena sido posta em pràtica apenas pela necessidade de conseguir aliados para subverter a ordem internacional e afetado a pròpria estrutura do regime (que adquiriu tons mais totalitarios), em total desacordó com o bloco de poder (Monarquía, Exército e Igreja) que dava sustentaçâo a ele.
Na verdade, seria difícil acreditar que Mussolini pudesse manter urna diretriz de relacionamento internacional totalmente desfocada das suas necessidades de política interna ou que urna pudesse ser completamente descolada da outra. Urna interaçâo das duas estava presente e o maior peso de urna ou outra variável depende claramente do momento e da situaçâo considerada.
Sergio Romano (1983a) (ver, também, Malvolio, 1975) escreveu palavras elucidati vas a esse respeito, mostrando como foi o positivismo do século XIX que criou a idéia de que a política externa estaría separada da interna e que os países teriam, se nao fossem mal influenciados, objetivos permanentes e comportamentos naturais determinados pela geografia e pela natureza. Na realidade, como demonstra esse autor, os intéresses permanentes de um país sao históricamente datados - o objetivo nacional só existe a partir da concepçâo momentánea que urna naçâo tem de si e de seu papel no mundo - e política interna e externa nao sao, assim, dimensöes opostas, mas esferas diversas de urna mesma concepçâo de Estado e sociedade. Essa análise poderia servir, em um primeiro momento, para todos os Estados nacionais conhecidos.
O proprio Sergio Romano, Giuseppe Candeloro (1981) e, especialmente, McGregor Knox (1984; 1991; 1995), contudo, ressaltam como a conjugaçao política interna/política externa teve configuraçôes especiáis no universo do fascismo italiano e também no nazismo. Para eles, nesses dois regimes a consolidaçâo interna era vista como base para urna política externa agressiva, enquanto essa agressividade seria essencial para mudar instituiçoes e valores nacionais, além de fazer urna revoluçâo interna. Já a paz seria o caminho certo para a decadencia e esclerose. Para esses autores, essa notável inter-relaçao entre política interna e externa seria urna singularidade desses dois regimes e ainda mais do fascismo italiano, que quería criar um povo italiano viril, guerreiro e conquistador em um país onde esses valores näo estavam täo presentes e o grau de controle do partido sobre o Estado e a sociedade era menor do que na Alemanna.
Essa visäo das especificidades da política italiana sob o fascismo parece ser realmente a mais interessante. No caso da opiniäo pública, por exemplo, o regime procurou, a exemplo do Estado liberal italiano pré-Primeira Guerra Mundial, reafirmar a idéia de que a politica externa era algo independente da interna e que näo poderia nem deveria ser influenciada por eia, mas unica e exclusivamente pelos "interesses naturais" do país, e buscou, até certo limite, transformar essa teoria em pratica. Com a continua e inédita mobilizaçâo das massas que o regime promovía, ainda que em caráter instrumental, na defesa de seus projetos (internos e externos), contudo, difícilmente a opiniäo pública poderia ser completamente ignorada na formulaçao da política externa, sendo pouco provável, porém, que eia pudesse alterar as decisöes do regime ( Vi gezzi, 1979; Romano, 1983; Milza, 1981). De qualquer modo, o simples fato de a opiniäo pública ser considerada seria algo que surpreenderia os formuladores da política externa italiana da era liberal.
Provavelmente nada os surpreenderia mais, contudo, do que a inclusäo dos principios ideológicos do fascismo ñas diretrizes da política externa italiana. Se essa inclusäo foi realmente expressiva é outro dos debates-chave na historiografía italiana sobre a política extema fascista.
Realpolitik ou Política Ideológica?
Em outro texto (Bertonha, 2000), trabalhei com a questao da "Internacional fascista" e os problemas e ambigüidades presentes no relacionamento entre os Estados e os movimentos fascistas. Retomando algumas informaçôes presentes ali, quero destacar o esforço do fascismo em fazer alianças com os movimentos fascistas no exterior, dado que se trata de um excelente filâo para discutirmos a presença de principios ideológicos ou de realismo na política externa fascista.
Alguns analistas (Milza e Bernstein, 1995:377-382; Santarelli, 1981:500) apresentam o esforço internacionalista do fascismo, acima de nido, como um instrumento de projeçâo do poder italiano. Nessa concepçâo, o regime nâo teria interesse real em instaurar o fascismo em países como a Franca, pois isso acabaría por gerar, no limite, países fortes que se oporiam à Italia. Os fascismos no exterior só seriam apoiados enquanto força de desestabilizaçâo dos adversarios geopolíticos da Italia ou nos locáis onde esses movimentos poderiam dar origem a Estados satélites controlados por Roma ou, no mínimo, aumentar a influencia italiana local. É fácil comprovar que tal condicionamento geopolítico esteve muitas vezes presente no pensamento do regime voltado para o relacionamento interfascismos e que este era imaginado muitas vezes como instrumento de substituiçâo da fraqueza militar e económica italiana .
Difícilmente, porém, seria factível separar, na estrutura de um regime fortemente fundado em principios ideológicos, os interesses diretamente geopolíticos e aqueles ideológicos. De fato, é possívcl identificar urna tendencia na política externa fascista que esteve presente desde os anos 20, mas que adquiriu força e visibilidade nos anos 30: a fusäo dos objetivos nacionais do Estado italiano com aqueles de divulgaçâo e expansäo da ideologia fascista.
No bojo dessa tendencia, os interesses nacionais e a ideologia fascista fundiam-se em um todo muitas vezes contraditório e ambiguo, mas que pas sou a condicionar cada vez mais a política externa italiana a partir de entäo: os interesses do Estado italiano podiam ser atingidos através da carta ideològica (isto é, do respeito e dependencia de outros povos e naçoes à ideologia fascista, os quais se converteriam em aumento de prestigio e poder político da Italia), enquanto a propria expansào da ideologia fascista se daria, por sua vez, pelos mecanismos e instituiçoes do Estado italiano.
Nesse contexto, falar em Realpolitik ou em "política baseada na ideologia" como polos totalmente opostos seria equivocado , e apenas confirmaría a tentativa de parte dos pensadores e políticos italianos de dissociar a política externa fascista daquela pretendida pelos tradicional s formuladores da política externa italiana, integralmente voltados para os "interesses nacionais italianos". O mesmo poderia ser dito da Alemanna nazista e seu esforço para tornar o Estado nacional alemäo senhor da Europa e, ao mesmo tempo, reorganizar racialmente o mundo.
Um exemplo classico nesse sentido é a análi se que a revista Anti Europa, de Asvero Gravelli, fazia do apoio do fascismo italiano aos ustaches croatas. Para a revista, o sustento ao fascismo croata seria um primeiro passo para urna aliança austríaca/croata/húngara que deveria ser a base nao só da hegemonía política italiana nos Baleas, como de urna "Internacional fascista" de cunho italiano no coraçâo da Europa (Santarelli, 198 1 : 1 16). Ideologia e Realpolitik estâo, pois, em muitos casos, tao entrelaçadas que seria difícil separá-las.
A discussäo sobre a ideologizaçâo da política externa dividía, inclusive, o proprio partido. Para os fascistas mais próximos do padrào nacionalista, como Balbo, Federzoni e Grandi, a "carta alema" (ou seja, jogar com o medo da Alemanna entre os países ocidentais para valorizar urna aliança destes com a Italia), por exemplo, deveria ser usada para conseguir concessöes dos aliados ocidentais em proveito da Italia, mas nao haveria sentido em urna aliança com a Alemanha que, no limite, poderia prejudicar os interesses italianos no mundo. Já os fascistas radicáis queriam urna aliança com os nazistas justamente para destruir as debéis democracias oci dentai s, em um padräo claramente ideológico .
Na verdade, apesar de Mussolini e o fascismo terem se apropriado ampiamente dos conceitos e mitos dos nacionalistas para criar urna cultura fascista de política externa, esta jamais foi unitaria, tendo se transformado de tal modo no decorrer do tempo que criou valores e tendencias que geraram perplexidade entre os fascistas mais conservadores. Näo é à toa que foram justamente estes últimos que se voltaram inmediatamente contra Mussolini quando a situaçâo externa se deteriorou na década de 40.
Apesar desses enormes conflitos internos e de efetivamente näo existirem "intéresses nacionais" neutros que nao fossem readaptados e redefinidos a partir das realidades políticas nacional e internacional, algum nivel de diferenciaçâo entre ideologia e Realpolitik existe e, certamente, a política externa fascista (especialmente a dos anos 30) näo seguiu diretrizes exatamente iguais às da Italia liberal, absorvendo padröes de açâo derivados da doutrina fascista que näo se coadunarían! com urna política de poder clàssica, como a seguida pela velha Italia.
O fascismo, por exemplo, seguiu claramente urna política imperialista no estilo das potencias européias e da pròpria Italia antes da Primeira Guerra Mundial. O Imperio fascista difícilmente seria, contudo, o mesmo ambicionado pelos dirigentes da Italia liberal e tendía a se confundir, como vimos há poueo, com a idéia de urna mis sao civilizadora do fascismo no mundo ocidental
Nos anos 20, há indicios de que as preocupaçôes de ordern nacionalista dominaram a política externa italiana e de que, apesar de as ambigüedades prosseguirem, os intéresses ideológicos estavam subordinados aos intéresses estratégicos nacionais italianos. Nesse sentido, mesmo quando subsidiava e apoiava movimentos fascistas, ou simpáticos ao fascismo, no exterior (o que fazia desde o inicio da década de 20 - Petersen, 1975 e Blatt, 1971), o objetivo central do regime nao seria espalhar o "fascismo universal", mas sim instrumentalizar esses movimentos afins para a defesa dos designios italianos.
Para Olla (1978) e, especialmente, Quartararo (1980), até o último segundo o fascismo agiu seguindo esses moldes realistas, flertando com Berlim e Londres em busca de recompensas até o momento em que parecía que um dos lados havia vencido (1940) e que Valeria a pena, assim, entrar para um dos blocos ostensivamente.
Quartararo baseia-se intensamente em De Felice (1981:626 e ss.) para suas reflexöes e é ele, efetivamente, o grande defensor da idéia de que Mussolini foi um grande realista, sempre girando entre os blocos e em busca de acordo com o Ocidente. Para ele, até mesmo a intervençâo italiana na Guerra Civil Espanhola tena se originado, basicamente, de preocupaçoes de Realpolitik (De Felice, 1988).
Esta é urna posiçào que autores como Fulvio D' Amoja (1967), Jens Petersen (1975), Nicola Tranfaglia (1995:598-608), Marco Palla (1985), McGregor Knox (1984; 1995) e James Burgwyn (1978; 1 979) väo recusar, propondo que o espaço que a Italia havia desfrutado entre 1 932 e 1 936 para girar entre o Ocidente e a Alemanha estava progressivamente se fechando com o desencanto do Ocidente diante de Mussolini e a crescente ideologizaçao da política mundial no final da década de 30, o que teria levado Londres e Paris a aceitar a idéia de apaziguar Mussolini, mas sem acreditar que ele poderia ainda ser afastado realmente do Eixo. Nesse contexto, o Eixo e a intervençâo conjunta ítalo-germánica na Espanha nao eram, seguramente, apenas instrumentais e só as aproximaçôes ideológicas entre nazismo e fascismo poderiam fornecer alguma expli cacào.
Há referencias (Borejsza, 1971 ; 1974:314), inclusive, de que a ideologizaçao da politica externa italiana durante o fascismo havia atingido tal nivel, por volta de 1940, que os italianos teriam defendido ardentemente urna ajuda aos finlandeses agredidos pelos soviéticos em nome dos principios fascistas de luta anticomunista (Petracchi, 1979), sinal de que a crescente caminhada do regime rumo ao totalitarismo afetava-o interna (leis raciais etc.) e externamente (menor pragmatismo).
Cannistraro e Wynot Jr. (1973) fornecem mais elementos para a questäo ao demonstraren! que o anticomunismo nâo foi fundamental para a formaçâo das diretrizes de política exterior da Italia ao menos até 1 936. Até essa data, Mussolini teri a preferido tratar com a URSS com base no interesse nacional italiano, ainda que nao de forma absoluta. A conversäo ao anticomunismo militante so teria se dado com a formacao do Eixo, por ser o anticomunismo o único ponto onde as versoes italiana e alema do fascismo poderiam ser soldadas completamente. Mussolini teria levado tao a serio essa nova diretriz da sua política externa que teria preferido apoiar os finlandeses, mesmo contra a posiçao de Hitler de, pragmáticamente, apaziguar os soviéticos.
Concluindo, o que parece evidente é que há urna fratura temporal bem clara e explícita quando se pensa na questäo da ideologia na política externa fascista. Os problemas oriundos da ideologia fascista que, antes de 1936/37, eram subordinados às necessidades geopolíticas e de expansionismo mais clássicas da Italia, passaram, a partir daquele momento, a ter um papel crescente na formaçâo da política extema.
O grande laboratorio, contudo, para o estudo das prioridades ideologia/ Realpolitik na política externa fascista é a constituiçâo do Eixo. Nao tenho interesse aqui em apresentar em detalhes o processo de formaçâo da aliança Roma/Berlim emfins da década de 30 (que pode ser visto em outros autores - Toscano, 1956; 1967; Deakin, 1962; Petersen, 1976), mas em verificar se foi a ideologia ou a geopolítica que aproximou Hitler de Mussolini.
A questäo da ideologia é pensada pela historiografía tanto em termos de repulsäo como de atracäo das duas potencias fascistas. Para autores como Denis Mack Smith (1976), Alan Cassels (1970; 1983) e Elisabeth Wiskemann (1955), as ideologías fascista e nazista eram tao semelhantes que seria obvia e natural urna aliança entre a Italia e a Alemanna. Para outros estudiosos, como Karl Hoepke (1971), por exemplo, o viés é o oposto: considera- se que Mussolini pensava centralmente em termos de concurrencia ideológica quando se relacionava com o nazismo. Ele, de fato, em urna análise racional e baseada em criterios de poder e disputa geopolítica, deveria ter preferido, em principio, apoiar integralmente os nazistas , mas teria optado por dividir seu apoio entre os nacionalistas e os nazistas, com alguma preferencia pelos primeiros, pois estes seriam candidatos menos serios a estabelecer concurrencia com o fascismo italiano no interior da familia ideológica fascista. Só os continuos sucessos eleitorais de Hitler, a partir de 1 930, teriam convencido o governo italiano de que a opçâo nazista, mesmo nao sendo necessariamente a melhor, era a única disponível para aumentar a influencia italiana na Alemanha, o que teria levado à ampliaçâo dos contatos entre os movimentos, inclusive com a instalaçâo de seçoes do Partido Nazista na Italia. A ideologia levaria, pois, à competiçâo, e apenas os interesses geopolíticos superarían! essa desconfiança.
Já as observaçôes de Jens Petersen (1975; 1976) invertem o raciocinio de Hoepke e procuram demonstrar como o apoio de Mussolini ao nazismo desde 1925 era derivado de preocupaçôes ideológicas claríssimas (difundir a idéia fascista na Europa a qualquer custo), preocupaçôes estas que, inclusive, iam de encontró ao interesse nacional italiano ao criar um polo alternativo de poder geopolítico. Nesse raciocinio, os intéresses geopolíticos seriam irrelevantes e a ideología levaría à solidariedade.
Na verdade, os dados de Hoepke (1971), Michaelis (1975) e De Felice (1975) indicam que, em ultima instancia, havia mais desconfiança e arnbigüidade do que solidariedade completa entre nazistas e fascistas - por motivos ideológicos e estratégicos - no periodo pré- 1930, e que o interesse de Roma pelo nazismo nos anos 20 era mais instrumental que qualquer outra coisa, o que levava a contatos com toda a direita alemä e nâo só com o Partido Nazista (NSDAP). Como visto anteriormente, contudo, difícilmente a conjuntura poderla ser considerada täo cristalina nos anos 30, quando a situaçao internacional mudou e todas as ambigüidades e problemas acima descritos vieram à tona.
James Burgwyn (1978; 1979) apresenta urna outra hipótese para a questäo ideológica como aproximadora entre Italia e Alemanna na segunda metade da década de 30. Para ele, a simpatia dos dois regimes pelo totalitarismo fornecia um potencial de aliança, mas nao mais do que isso. O problema italiano, para Burgwyn, é que Roma ainda almejava, pos-guerra da Abissínia, a expansäo imperial, mas, com seu espaço de manobra diminuindo no sistema de potencias mundial e a resistencia dos países ocidentais a permitir maiores acréscimos ao Imperio, a única alternativa restante era a aliança com a potencia revisionista mais forte e que nao desejava um espaço no Mediterràneo, a Alemanna. A ideologia revisionista dos dois países (e näo o problema do totalitarismo) teria levado à aliança. Do mesmo modo, segundo Lammers (1971), o problema ideológico que separava a Inglaterra e a Franca da Alemanna e da Italia näo era a incompatibilidade entre o totalitarismo e a democracia, mas a expansäo imperial que fazia parte da ideologia dos dois últimos.
Que a falta de urna rivalidade estratégica absoluta e a forte radicalizaçao político-ideológica mundial dos anos 30 (Hobsbawm, 1997), fazendo as duas versôes centrais do universo fascista se aproximarem dentro de urna luta maior contra a esquerda e a democracia, indicava um enorme potencial de alianças, é aceitável. A aliança entre a Italia e a Alemanna nunca foi, porém, inevitável por pressupostos ideológicos, como querem Petersen e outros autores, ao mesmo tempo que as relaçoes entre Berlim e Roma e entre os diferentes fascismos, no firn da década de 30, jamais conseguiram se livrar desses problemas de fundo, dessas contradiçôes entre solidariedade e competiçào ideológica e entre solidariedade ideológica e competiçào geopolítica que marcaram o relacionamento entre os Estados fascistas.
Este é, alias, um outro aspecto fundamental da questäo. No caso das duas matrizes centrais do universo fascista (a italiana e a alema), a ideologia fascista que, em linhas gérais, ambos compartilhavam, nao era fonte apenas de solidariedade (em oposiçao ao nacionalismo e à competiçào geopolítica, que os separariam), mas também de competiçào. Como vimos, de fato, se em urna polarizaçâo maior direita/esquerda e democracia/ditadura, fascismo e nazismo podiam ser vistos como membros da mesma familia, eram irmäos que discutiam e disputavam o tempo todo nao só poder e espaço, mas também projetos de mundo em boa medida diversos. Essa situaçâo implicava novos problemas para o relacionamento de ambos e dificultava a aliança Roma/Berlim se esta for pensada em termos exclusivamente de solidariedade ideológica.
A corrente de feliciana (Olla, 1978; Quartararo, 1980; Funke, 1971; 1972; Pastorelli, 1973, entre outros), por sua vez, define, como já indicado, a aproximaçâo Hitler/Mussolini como total e completamente instrumental desde os anos 20, e considera que eia teria continuado assim até a entrada da Italia na Segunda Guerra Mundial. Para essa corrente, o Eixo nao passarla de um instrumento de pressäo contra a Inglaterra, posiçào esta difícilmente sustentável empiricamente (Lyttelton, 1982). Certamente, Mussolini pensava em obter concessöes dos ocidentais através do recurso da "carta alema" (como havia fei to antes de e durante a Guerra da Abissínia), mas nunca houve urna total e completa "neutralidade ideológica" na política das grandes potencias européias na cada vez mais politizada década de 30 (Palla, 1985; Tranfaglia, 1995), o que indica que a liberdade de movimento da Italia ou da Alemanna näo era tao absoluta como quer essa historiografía, e que tal liberdade só se restringiu com o passar dos anos.
Corno mostra Di Nolfo (1988; 1990), Mussolini pode ter até desejado continuar a jogar com a Alemanna e o Ocidente (seja para ter maior poder dentro do universo fascista, seja para garantir sua independencia em face de ambos) no pós-1 938, corno havia fei to antes, mas o crescente desequilibrio de poder entre a Alemanna e a Italia e a falta de urna determinaçao firme dos aliados de separar os dois países impediu-o, levando a Italia a se subordinar ao Reich nazista. O esforço de Mussolini, a partir de um certo momento, näo era o de sair do abraco alemào, mas o de ganhar espaço dentro da aliança. Para Di Nolfo, contudo, a caminhada do regime fascista para o totalitarismo näo parece contar para explicar as oscilaçôes de Mussolini.
Simona Colarizi (1984) é mais ponderada ao demonstrar como o espaço para o "isolamento espléndido" de Mussolini estava se fechando no firn da década de 30 e como, ao ser colocado diante da escolha final "Aliados ou Alemanna", escolheu o nazismo näo porque a Inglaterra näo o apaziguou o suficiente (ainda que, obviamente, isso tenha ajudado - Moscati, 1 972; Mori, 1 978), mas porque ele já considerava que o futuro pertencia aos regimes fascistas e que urna aliança com o Ocidente decadente näo passaria, assim, de urna perda de tempo que daría muniçâo, inclusive, aqueles que domesticamente questionavam a virada totalitaria do regime. Ser um escravo da Alemanna nunca esteve nos planos de Mussolini, mas a idéia de urna "oscilaçâo pendular realista", imutável até 1940, seria, para essa autora e para outros críticos de De Felice, pouco praticável, do que näo é possível discordar.
Outra questäo que podemos enfatizar nessa nossa discussäo sobre a força da ideologia fascista na política externa italiana do entreguerras e sobre a sua continuidade ou ruptura é o problema do imperialismo. Comparar o imperialismo fascista com o italiano da era liberal é realmente urn bom caminho para discutir a genese da política externa fascista.
Para Carocci (1967; 1969; 1971), o imperialismo italiano do período anterior à Primeira Guerra Mundial era fundamentalmente económico, pois se destinava basicamente à exportaçào do excedente de capital. No período posterior, ele era mais político, nao refletindo diretamente necessidades económicas do capitalismo italiano nem os desejos de sua burguesía. Esta diferença separaría os dois imperialismos, mas os articularía em alguma medida aos estágios do capitalismo italiano, revelando urna continuidade entre eles. Tese discutível se nos recordarmos dos indicios de que, também no período liberal, o imperialismo italiano era sui generis, näo respondendo aos imperativos da economia italiana, mas especialmente a questöes de prestigio e poder (Bertonha, 1999). Ainda assim, parece haver algum sentido em vincular o imperialismo italiano aos estágios de desenvolvimento do capitalismo nacional.
Salvatore Secchi (1972) trabalha na mesma direçâo e procura demonstrar que o que associarla os imperialismos da Italia liberal e do fascismo (e as suas respectivas políticas externas) seria, justamente, a ligaçao destes com as necessidades do capitalismo italiano e mundial nos dois períodos, sendo quaisquer novidades que o fascismo pudesse trazer para o imperialismo italiano explicáveis a partir justamente das alteraçôes no papel do Estado na economia capitalista no entreguerras. A base, contudo (vínculo do imperialismo com o capitalismo), seria sempre a mesma. Webster (1964:17) e Santarelli (1969) jáhaviamantecipadoisto, sugerindo que o imperialismo teria sido um traço de continuidade entre as Itálias pré e pós-tomada do poder pelo fascismo e relacionando-o com as mudanças no capitalismo mundial. Outros autores, como Miège (1976) e Segrè (1991), procuram ressaltar que näo haveria diferença entre o modo que os governos italianos buscaram colonias e trataram os dominados desde 1860 até 1943, e que as colonias sempre foram pensadas como instrunientos de política interna e do jogo de poder europei!, o que aproximaría, por exemplo, Mussolini e Sonnino.
Autores como Giorgio Rumi (1968; 1974) negaräo isso ao identificaren! no imperialismo e no expansionismo fascistas um instrumento para que, como já explicitado, o partido e o Estado pudessem modificar fascisticamente a naçâo italiana e mobilizar as massas. Para Rumi, esse traço separaría o imperialismo defendido pelos nacionalistas e pelos fascistas, o que nâo é perfeitamente correto, pois os nacionalistas também idealizavam o imperialismo como construtor da naçâo italiana. Ainda assim, o imperialismo preconizado pelos nacionalistas estava mais perto do padrâo mais geral do imperialismo europeu dos séculos XIX e XX do que o fascista.
Um exame do pensamento geopolítico italiano no que se refere aos emigrantes, entre 1870 e 1943, pode indicar melhor um padrâo de continuidade inicial, mas onde a diferença rapidamente se destacou. Tanto a Italia liberal como a fascista pensaram no uso dos emigrantes como instrumento geopolítico para ampliar seu poder e ajudar a criar um Imperio, sendo o pensamento nacionalista fundamental para servir de ponte entre os dois momentos. A Italia fascista, contudo, tentou (especialmente nos anos 30) mobilizar os emigrantes em um nivel inimaginável para os políticos da era liberal (inclusive, em al guns casos, concebendo-os como quintas-colunas potenciáis e pretendendo sua doutrinaçâo ideológica), além de procurar articular as coletividades italianas no exterior com os movimentos políticos próximos ao fascismo para tentar ampliar a influencia política italiana (e ideológica fascista) no mundo (Bertonha, 1999). Isto e a expansäo desmedida dos intéresses imperials italianos nos anos 30 já seriam suficientes para demonstrar como a política externa fascista realmente se afastou da matriz da tradicional política externa italiana, mas com maior ênfase nos anos 30 do que nos 20. Isso apenas ressalta a importancia da questäo temporal para a nossa discussäo das continuidades e rupturas da política externa fascista.
Variaçoes Temporals
Que a política externa fascista e seu imperialismo variaram enormemente conforme a área geográfica trabalhada (e isto tanto em termos de ambiçoes e agressividade, como no papel da ideologia e dos interesses geopolíticos na sua delimitaçâo) é ponto já demarcado. Também é fato reconhecido pela maioria dos autores que a política externa fascista foi muito menos agressiva na década de 20 do que na de 30. Percorrer a historiografía em busca das razöes dessa disparidade é um exercício que também pode nos fornecer elementos para discutir a genese da política externa fascista.
Muitos autores (Carocci, 1969; De Felice, 1973) concordara que, no inicio do regime, as necessidades de consolidaçâo do poder internamente e o contexto externo desfavorável levaram a urna relativa moderaçâo ñas ambiçoes italianas, com esforços expansionistas onde foi possível, mas sem desafíos reais à ordern internacional. Nesse sentido, aventuras como as de Corfu, em 1923, e a agressividade diante da Iugoslavia e da Turquía (Burgwyn, 1979) seriam sinais do que viria depois, da agressividade firmemente presente desde sempre na ideologia fascista, mas a ênfase da política externa fascista ainda estaría no status quo, como Locamo, a defesa da independencia da Austria e a amizade com a Inglaterra demonstrariam.
Na década de 30, com o fascismo consolidado no poder e um contexto mais favorável à sua agressividade (dado o interesse das potencias ocidentais em conseguir o apoio italiano diante da Alemanna e, posteriormente, o continuo desafio ao sistema internacional feito por Hitler), ele teria exercido suas sempre presentes tendencias expansionistas e o resultado teria sido a guerra. Urna ideologia com um potencial agressivo permanente, combinada com variaçoes no contexto internacional (ver Vallauri, 1964) , explicariam, pois, a relativa moderaçào italiana nos anos 20 e sua maior contundencia nos 30 (Senesi, 1984; Knox, 1982).
Como vimos, para a historiografía ligada a De Felice, a "política pendular" e o realismo teriam sido sempre os mesmos por todo o regime de Mussolini, e a maior agressividade nos anos 30 so se explicaría pela mudança do contexto geopolítico mundial. Para essa corrente, o potencial agressivo da ideologia fascista nao é fator a ser levado em conta: Mussolini, o realista supremo, so ficou agressivo ao verificar que o contexto internacional era favorável a ganhos para a Italia. O pròprio bom comportamento italiano nos anos 20 seria urna demonstraçâo de corno a ideologia pouco contava para o grande realista, que so se tornou agressivo quando verificou que era possivel se-Io.
Para outros analistas, como Veneruso (1975), seria impossivel esquecer que os fascistas identificaram, no mundo pós-crise de 1929, urna situaçâo que lhes parecía favorável. Sua ideologia näo seria, nessa linha de pensamento, exatamente a mesma nos anos 20 e 30, e a ideologizaçâo da política mundial nos anos 30 teria sido fundamental para explicar a renovada agressividade da política externa fascista. Traeos des sa agressividade estariam, de fato, presentes no seu corpo ideológico desde sempre, mas só a politizacäo da política internacional (e da italiana) nos anos 30 poderia explicar essa situaçâo. McGregor Knox (1991) reforça essa idéia ao demonstrar que um dos grandes motores do surto expansionista italiano nos anos 30 foi a avaliaçâo do regime da absoluta necessidade desse expansionismo para rejuvenescer o regime. A renovada agressividade nao teria surgido, assim, pura e simplesmente, de urna constataçâo das oportunidades abertas por um sistema internacional mutante.
Outra maneira (normalmente associada à primeira) de explicar essa mudança seria pelas necessidades políticas internas do regime. No inicio, o fascismo estaría buscando a consolidaçâo no poder e apenas depois que esta se deu é que teria sido possível pensar cm avanços no exterior. Posteriormente, com o regime já firme no poder, em busca de legitimaçâo e decidido a implantar efetivamente na Italia e no mundo o seu ideario, sua crescente agressividade era uma derivaçâo lógica (Di Nolfo, 1960; Robertson, 1979; D'Amoja, 1981).
Um dos eixos dessa análise está no Ministero degli Affari Esteri: enquanto este manteve sua independencia, teria conseguido conter Mussolini; quando perdeu sua autonomia, a partir dos anos 30, a política externa fascista pôde se manifestar em todo o seu irracionalismo e violencia (Torre, 1963; Hughes, 1972; Cassels, 1970). É fácil perceber, contudo, como essa visäo é mais uma maneira de separar a diplomacia tradicional da fascista e identificar as desgraças que a política externa fascista trouxe à Italia única e exclusivamente com o fascismo (Di Nolfo, 1960). Isso nâo significa negar, é claro, o fato de que a diplomacia tradicional nao usaría muitas das técnicas de Mussolini e que controlar o MAE foi a chave para a alteraçâo na política externa fascista (Milza e Bernstein, 1995), mas difícilmente se pode atribuir ao MAE esse papel pacifista inquestionável.
Minhas reflexôes levam à conclusâo de que o rompimento temporal na historia das relaçôes internacionais do regime fascista é um fato inquestionável e que essa ruptura foi delimitada centralmente tanto pela mudança do sistema internacional, como pela ideologizaçâo da política internacional e pela caminhada do fascismo para o totalitarismo. Talvez possamos até dizer que a política externa fascista foi mais continuista nos anos 20 e mais fascista nos 30, o que é confirmado pela preponderancia, na década de 20, de fatores de continuidade (aliança com a Inglaterra, política pendular etc.) que desaparecen! depois (Santoro, 1991). O padräo de gastos militares italianos entre 191 1 e 1930, que segue a média histórica de 4% do PIB de 1860 a 1945, e sobe para 12% do PIB entre 1931 e 1940 (Battistelli, 1980; Vallauri, 1964), confirma essa nova fase na política externa italiana, muito mais agressiva, na década seguinte. As diferenças entre os períodos, contudo, nunca foram absolutas e o potencial para o rompimento com a tradiçào estava dentro da pròpria base da ideologia fascista. As mudanças de contexto interno e externo apenas permitiram que esse potencial fosse levado ao extremo, conduzindo à agressividade e à guerra.
Conclusäo
É impossível compreender a gênese da política externa fascista sem pensar nas mudanças vivenciadas por esse regime, pela sociedade italiana e pelo mundo no periodo entreguerras. O regime tinha em sua base ideològica, desde à sua implantaçâo, os elementos que permitiram a liberaçâo de todo o seu potencial agressivo nos anos 30. Nessa linha de consideraçôes, nâo faz sentido pensar em urn "bom" fascismo nos anos 20 e um "mau" nos anos 30, como se as suas bases ideológicas e políticas tivessem se alterado substancialmente nesses anos. O que realmente mudou foram os contextos nacional e mundial, cujas transformaçoes levaram o regime a abandonar urna política externa relativamente comedida e ligada as tradiçoes internacionais italianas em favor de outra que, sem renegar completamente essas tradiçoes, apresentava inovaçoes (o endeusamento da guerra como forma de mudar a sociedade, a entrada dos elementos ideológicos na sua constituiçâo, o rompimento da aîiança com a Inglaterra, urna "diplomacia subversiva" paralela à oficial etc.) suficientes para torná-la diferente.
Teoricamente, podemos imaginar um regime fascista que continuasse, eternamente, a ser aquilo que ele foi nos anos 20, ou seja, urna ditadura revolucionaria apenas na teoría, preocupada em consolidar seu poder interno e conformada com seu papel subordinado no sistema internacional. A ideologizacäo da política mundial, o surgimento de urna aliada/concorrente (a Alemanha nazista) que abria as portas para mudanças significativas no sistema internacional (mas, ao mesmo tempo, lançava desafíos ao regime), as alteraçôes no sistema capitalista internacional após a crise de 1929 e a consolidaçâo do regime, com sua tentativa de caminhada para o totalitarismo, contudo, mudaram os termos da equaçâo e aquela ideologia que poderia ter continuado mera teoria desbordou para a pràtica, alterando os padrees da política externa italiana e levando ao desastre conhecido.
Avaliar essas mudanças nos padröes da política externa fascista, contudo, nao é apenas um processo teórico ou um exercício académico, mas um problema político importante. Realmente, um dos debates mais intensos no ámbito da historiografía italiana no pós-guerra (De Felice, 1988a) é aquele que busca incluir o fascismo no seio da historia italiana. ? es se debate, urna das maneiras de isolar a sociedade italiana de suas responsabilidades vis-à-vis o fascismo é encará-lo como um intervalo, um parêntese na historia da Italia, sem maiores relacöes com as tradiçoes nacionais, acidental e que podia, assim, ser rapidamente esquecido. O reflexo desse tipo de visào na análise da política externa parece evidente em varios dos trabalhos aquí mencionados.
A escola de Renzo de Felice (com sua ampia produçâo sobre a política externa fascista - Quarato, 1 987), por exemplo, recusa a existencia de pressupostos políticos por tras de seus posicionamentos e defende a idéia de que os debates entre os historiadores devem se concentrar em argumentos históricos, e näo na política (Ledeen, 1976). No limite, urna solicitaçâo justa. No entanto, ao escrever a historia do fascismo da maneira como a escreve, a corrente de De Felice colabora firmemente para a reabili taçào do regime , e negar os efeitos políticos dessa reabilitaçâo caminha entre a ingenuidade e a hipocrisia.
De Felice e seus discípulos, por exemplo, têm urna imensa admiraçào pela figura de Dino Grandi, ministro do Exterior entre fins dos anos 20 e inicio dos 30. Ele seria o símbolo de um "fascismo conservador" que estaría conduzindo a Italia para urna adaptaçâo ao sistema internacional vigente e à ordern capitalista (Bianchi, 1984). Com ele e seus seguidores no poder, as tragedias da guerra teriam sido evitadas, a Italia teria permanecido longe da Alemanna nazista e näo teria tomado os caminhos do totalitarismo.
Em síntese, a conclusäo é verdadeira, mas a moderacäo da política fascista sob Grandi so pode ser entendida também pela avaliaçâo de que os contextos externo e interno nao favoreciam urna política agressiva (Rumi, 1973). Ou seja, a perda de influencia do "fascismo conservador" no ambito do regime, a partir dos anos 30, com certeza, ajuda a explicar os caminhos que ele tomou, mas nao é possível isolar seus atos de contextos mais ampios nem pensar neles como pacifistas. Fazer isso significa apenas dar urna face respeitável ao menos a urna parte dos amigos membros do regime e dizer, ñas entrelinhas, que o fascismo conservador teria sido, para a Italia, urna opçâo melhor do que a República instalada no pós-guerra.
Defender as continuidades da política externa fascista com relaçao à da era liberal, a partir dos seus traeos positivos (como apresentou Sergio Romano, 1991; 1991a), também é urna forma de resgatar a face benigna do regime ou, ao menos, da sua ala mais conservadora, pois teria sido eia a que mais se esforçou para evitar o rompimento com a tradiçâo. Por outro lado, negar que haja um componente ideologico na aproximaçao ítalo-germánica e na formaçâo do Eixo é ressaltar a diferença entre fascismo e nazismo (um dos fundamentos da análise do fascismo de De Felice) e separar o fascismo, e seus herdeiros, dos crimes nazistas. O efeito político dessa separaçào entre fascismo e nazismo está presente na nova direita italiana até hoje.
E no traballio de alguns discípulos de De Felice, contudo, que a questuo assume características mais assustadoras. Rosaria Quartararo (1980), por exemplo, apresenta, como vimos, a politica externa fascista como o apogeu do realismo e do oportunismo. Para eia, teria sido a cupidez británica que conduziu Mussolini a se aproximar de Hitler. Se a Inglaterra tivesse sido menos intransigente, a Italia continuaría sua aliada, a Segunda Guerra Mundial poderia ter sido evitada e o regime fascista näo teria se manchado com a imagem negativa do nazismo (Borgogni, 1982). Urna troca total de posiçao entre acusados e acusadores, entre derrotados e vencedores na guerra.
A historiografía da política externa fascista, assim, mostra-nos como o historiador deve ter discernimento suficiente para abandonar seus preconceitos ideológicos e permitir que o passado fale com sua pròpria voz, seja ou nao agradável para nos. No entanto, pretender que a historia se torne urna ciencia pura, tecnocràtica, imune aos problemas da política, näo só é propor urna impossibilidade, como também é destruir urna das características que faz da Historia urna disciplina em continua renovaçâo.
(Recebido para publicaçâo em maio de 2001)
Resumo
Entre Continuidade e Ruptura. A Política Externa Fascista como um Problema Histórico e Político
O objetivo deste artigo é discutir a questao da continuidade e da mudança na política externa da Italia no período entreguerras, utilizando como material de análise os debates da hi storiografia italiana relativos ao período fascista. Como recorte específico, o texto examina a produçâo referente à política externa de Mussolini durante os vinte anos do regime e a relaciona com a que se refere às diretrizes tradicionais da política externa da Italia desde a unificaçào do país em 1 860.
Palavras-chave: Política Externa Fascista - Regime Fascista - Historiografía Italiana
Abstract
Between Continuing and Rupture. Fascist Foreign Policy as a Historical and Political Problem
The article seeks to analyze the Italian foreign policy between the First and the Second World Wars. It does so by examining the debate of the Italian historiography regarding the fascist period, in particular about the foreign policy implemented by Mussolini in the first twenty years of his government. By way of conclusion, the author relates the former with the traditional guidelines of the Italian foreign policy since the unification of Italy in 1860.
Key words: Fascist Foreign Policy - Fascism - Italian Historiography
Notas
1- Para guias bibliográficos sobre a poliüca externa fascista, ver Pastorelli (1971); Perfetti (1979); Clementi (1985); Bonaparte (1990:280-307 e 337-354); Cassels (1991) e De Felice (1991:325-368). Grandes panoramas historiográficos estâo disponíveis em Rumi (1967); Petersen (1972); Burgwyn (1997); Quarato (1987) e Di Nolfo (1990a).
2. Sobre a "diplomacia paralela" de Mussolini, inimaginável no período liberal, e que enfatizava especialmente açôes indiretas de influencia ñas políticas locáis dos outros países, a manipulaçâo das coletividades de italianos fora da Italia e o contato com os movimentos fascistas no exterior, ver Bertonha ( 1 999; 2000; no prelo) e Luconi (2000).
3. Boa parte da historiografía de esquerda italiana baseou-se ñas idéias de Salvemini para definir Mussolini como totalmente irracional e sua política externa como impulsiva, incoerente e inteiramente dedicada à busca de prestigio interno, o que foi questionado posteriormente. Ver exemplos em Silvestri (1964), Baer ( 1 970) e Mack Smith (1976). Urna boa discussäo sobre os efeitos das obras de Salvemini e de Sforza nessa tendencia da historiografía italiana está em Robertson (1979), Carocci (1968) e Petersen (1972).
4. Para os autores dessa corrente, corno Carocci, a verdadeira essência do fascismo seria encontrada na política extema, pois, no plano interno, suas diretrizes origináis teriam sido contidas e dissolvidas para fins de aliança com os conservadores e a conquista do poder. Ver Carocci ( 1 969) e um comentario a respeito em Aquarone (1986:286-290). Giorgio Rumi (1974) concorda que a força que mantinha unido o corpus ideológico do fascismo era a política externa.
5. A açao italiana de apoio ao fascismo suiço do coronel Fonjallaz parece ter seguido esse padràb, tanto que ele diminuiu quando se tornou claro que os fascistas suiços näo seriam capazes de cumplir as metas desejadas (ver Cerutti, 1986:388-477). O mesmo pode se dizer da Inglaterra, onde os italianos usaram os fascistas de Oswald Mosley para sua propaganda durante a guerra da Abissínia, mas sem se empenharem em apoio aberto a eles (Goglia, 1984), e do apoio italiano ao integralismo no Brasil (Bertonha, 1997).
6. A combinaçâo variava, inclusive, segundo criterios geográficos. A ambiçâo fascista em relaçào ao Mediterráneo e aos Baleas era muito maior, por exemplo, do que aquela dirigida à China ou ao Japao. Do mesmo modo, enquanto à solidari edade ideológica era reservado papel fundamental para a expansäo do poder italiano na América Latina, o trato fascista com os gregos, por exemplo, seguía muito mais os ditames tradicionais do imperialismo, urna prova da flexibilidade do fascismo na sua política externa, que nunca foi nem totalmente ideológica nem totalmente realista (ver, também, Whealey,1967).
7. Ver Mori (1976; 1978) e De Grand (1975). Ver, tambera, sobre Grandi, Nello (1985; 1987; 1993). Essa contradiçâo entre os fascistas mais "conservadores", mais centrados no antigo nacionalismo e na conservaçào da ordern, e os "revolucionarios", interessados em subverter a ordern estabelecida no mundo ocidental, transpareceu na guerra civil espanhola, quando os fascistas moderados davam como aceitável urna simples ditadura apoiada nos militares e nos católicos, soluçâo que radicáis como Farinacci consideravam conservadora, preferindo a "Falange" para subverter a realidade espanhola (ver Veneruso, 1975; 1981:221).
8. Os nacionalistas alemäes, de falo, apesar de verem com bons olhos a ideologia fascista, nao conseguiam esquecer a "traiçâo" italiana na Primeira Guerra Mundial e a questäo do Tirol alemäo dominado pela Italia, enquanto o nascente Partido Nazista tinha sua italofobia controlada por Hitler, que era notoriamente pró-Itália e admirador de Mussolini e que aceitava até a continuaçao do dominio italiano sobre o Tirol do Sul (ver Hoepke, 1971; Veneruso, 1971).
9- Urna variante dessa análise é o trabalho de Migone (1980) e Migone e De Ceceo ( 1 99 1 ), que relacionam a explosao de agressividade da Italia fascista nos anos 30 com a destruiçâo da ordem económica internacional pela crise de 1 929. Ver, também, Catalano (1963).
10. Nâo é aquí o espaço para verificarmos as posiçôes gérais da escola de feliciana sobre o fascismo, suas justas críticas à visao tradicional de esquerda que dominou o panorama histórico italiano por varias décadas e os limites mais que evidentes darevisäo que eia se propöe a fazer. Para alguns comentarios a respeito, ver Ledeen (1976) e Tranfaglia (1995).
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Copyright Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro Jul-Dec 2001
Abstract
The article seeks to analyze the Italian foreign policy between the First and the Second World Wars. It does so by examining the debate of the Italian historiography regarding the fascist period, in particular about the foreign policy implemented by Mussolini in the first twenty years of his government. By way of conclusion, the author relates the former with the traditional guidelines of the Italian foreign policy since the unification of Italy in 1860. [PUBLICATION ABSTRACT]
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