Introdução
Gilberto Freyre (1900-1987) foi um dos mais célebres intelectuais brasileiros do século XX, produzindo uma interpretação do país que também o inventa. Apesar de pertencer a uma geração que antecede à criação dos primeiros cursos de ciências sociais - portanto, anterior à formação de cientistas sociais profissionais, no sentido estrito do termo -, Freyre participou do processo de institucionalização deste campo, assumindo a cátedra de sociologia na Escola Normal de Pernambuco, ainda no final da década de 1920, além das de antropologia, sociologia e pesquisas sociais na Universidade do Distrito Federal na década seguinte (Meucci, 2015). Ademais, distingue-se de outros contemporâneos seus brasileiros por ter possuído formação acadêmica em ciências sociais, quando prevaleciam intelectuais autodidatas nesta seara1.
Nos últimos anos, seu trabalho tem sido intensamente revisitado, por autores brasileiros e estrangeiros (Lehmann, 2008; Lima, 2013; Motta & Fernandes, 2013; Tavolaro, 2013; Mendonça & Porto, 2017), o que tem possibilitado o lançamento de novos olhares sobre seu legado. Nesta direção, também almejo contribuir neste breve trabalho com o reexame da obra de Freyre, explorando-a a partir de um ponto particular: sua análise acerca da Região Sul do Brasil, ou, em outros termos, do Brasil Meridional2.
Em certa medida, busca-se com isso responder às indagações recorrentemente realizadas acerca do fato de que Freyre teria dado demasiada ênfase ao Nordeste para pensar o Brasil, ou, de forma mais específica, a Pernambuco, generalizando sua interpretação desta região para o resto do país (Burke, Pallares-Burke, 2009). A questão que tentarei responder, portanto, é a seguinte: como Freyre analisou o Brasil Meridional, e que tipo de relações ele desenvolveu com esta região?
Interessante destacar, em meio à pluralidade de abordagens possíveis à vasta obra de Freyre busco articular o binômio região e nação, destacando como, por meio da chave do patriarcado, o autor busca interpretar a unidade nacional, assumindo como ponto fulcral a questão do Brasil Meridional.
Para responder a tal questão desdobrarei este artigo em mais quatro partes que versarão sobre as seguintes questões:
1.
como que a questão do nacional aparecia em Freyre, e como ele percebia a possibilidade de generalizar certas categorias para entender o Brasil;
2.
a forma que em seu trabalho o Brasil Meridional é retratado e compreendido dentro de uma perspectiva nacional;
3.
a ideia de formar um eixo intelectual entre Recife e Porto Alegre, partindo principalmente de entrevistas concedidas por Freyre a jornais na década de 1940 após uma viagem ao Sul do Brasil; e
4.
as considerações finais.
Em torno do nacional: forma e substância
Como bem nos elucida Benedict Anderson (2005), a nação, longe de ser um dado, é uma construção produzida ao longo de um processo histórico, cujos arranjos particulares são compostos a partir de uma miríade de fatores. Tal perspectiva conflui com o que fora apontado por Norbert Elias (2006), que destaca a necessidade de distinguir as ideologias nacionais - que levam uma nação a parecer um sistema social de grande valor, imutável e bem integrado - e o processo de integração e desintegração no longo prazo, no qual podem ser observadas as diversas tensões postas. Max Weber (2002) contribui para este debate ao desenvolver uma clássica definição de nação, que poderia ser compreendida como
[…] uma comunidade de sentimento que se manifestaria adequadamente num Estado próprio; daí, uma nação é uma comunidade que normalmente tende a produzir um Estado próprio (Weber, 2002: 123).
Parto dessa concepção, em diálogo com as ideias desenvolvidas por Elias, para compreender nação neste trabalho.
Certamente não apenas Freyre, como também toda sua geração, estava profundamente envolvido com o debate sobre os rumos da nação. A passagem do século XIX para o XX se dá no bojo de transformações sociais relevantes para a definição do que seria o Brasil, e, por consequência, a nação brasileira, destacando-se aí a abolição da escravidão em 1888 e o advento da República no ano seguinte. Como bem nos elucida Élide Rugai Bastos (2006), referindo-se aos ensaios produzidos anos de 1920:
Encontrei nesses ensaios, como pontos temáticos principais, dois elementos - a questão da cultura e a busca da identidade nacional - elementos estes que lhes dão unidade. Em outros termos, os autores buscam respostas à indagação: afinal, que país é este? Os textos são marcados pela necessidade de discutir o problema da formação, característica da produção intelectual das regiões de constituição nacional recente.
Esses trabalhos assumem, no contexto em que são produzidos, um caráter imaginário: procuram “inventar” a cultura para legitimar a “invenção” da identidade nacional. O autor que conseguir articular esses dois elementos terá decifrado o dilema e dará o salto para uma nova etapa dos estudos sociais. Levanto a hipótese de que tal proeza será realizada por Gilberto Freyre (Bastos, 2006: 61).
Esta preocupação de Freyre com a questão do Brasil manifesta-se fortemente ao menos desde seu famoso prefácio à primeira edição de Casa-Grande & Senzala, publicado em 1933, no qual ele indica o seguinte:
Creio que nenhum estudante russo, dos românticos, do século XIX, preocupou-se mais intensamente pelos destinos da Rússia do que eu pelos do Brasil na fase em que conheci Boas. Era como se tudo dependesse de mim e dos de minha geração; da nossa maneira de resolver questões seculares. E dos problemas brasileiros, nenhum que me inquietasse tanto como o da miscigenação (Freyre, 2005: 31).
É amplamente conhecido o fato de que a miscigenação, compreendida a partir da interpenetração de raças e cultura e do equilíbrio de antagonismos, será a chave explicativa que Freyre se utilizará para interpretar o Brasil. Soma-se a isso a ideia de sociedade patriarcal que o autor elabora, também explicitada neste mesmo prefácio:
A formação patriarcal do Brasil explica-se, tanto nas suas virtudes como nos seus defeitos, menos em termos de “raça” e de “religião” do que em termos econômicos, de experiência de cultura e de organização da família, que foi aqui a unidade colonizadora. Economia e organização social que às vezes contrariaram não só a moral sexual católica como as tendências semitas do português aventureiro para a mercancia e o tráfico (Freyre, 2005: 34).
O Brasil seria, portanto, uma sociedade essencialmente patriarcal. Ora, essa é uma chave relevante no arsenal interpretativo do autor, mas que também, em certa medida, o tornou passível de inúmeras críticas, principalmente de universalizar algo que seria próprio do Nordeste para o resto do Brasil. Nesta direção, Freyre buscou responder a seus críticos, especialmente através de inúmeras notas de rodapé e prefácios a seus trabalhos. Ainda em Casa-Grande & Senzala ele indica o seguinte, em nota inserida nas edições seguintes:
Não nos esqueçamos, a propósito de áreas e subáreas, de que a influência do patriarcado monocultor e escravocrata que teve seus centros mais intensos e de vida mais constante e longa em Pernambuco, na Bahia e no Rio de Janeiro foi, no Norte, até a subárea amazônica, no Sul, até o Rio Grande do Sul e, no Centro, até Mato Grosso. Constituiu assim aquele sistema - talvez o de maior influência na fixação de característicos nacionais e gerais no Brasil - um sistema ou complexo trans-regional e não apenas regional, como supõem alguns pesquisadores de história ou de sociologia da gente brasileira. Formou uma constelação de áreas ou subáreas ou uma espécie de supra-área de cultura, original em sua configuração e extensão, e não apenas correspondente à área ou região geográfica a que é geralmente associada: o Nordeste ou o Norte agrário do Brasil (Freyre, 2005: 145).
Apesar de não nomear seus opositores, ele destaca os autores e as obras que convergiriam com suas ideias, como Tales de Azevedo (1904-1995), no livro Gaúchos - notas de antropologia social (1943), Dante Laytano (1908-2000) no texto “O português dos Açores na consolidação moral do domínio lusitano no extremo Sul do Brasil” (1940/1941), Athos Damasceno Ferreira (1902-1975) em Imagens sentimentais da cidade (1940), e Ernani Correia (1900-1982) no artigo “A arquitetura do Rio Grande do Sul” (1944), reafirmando, assim, a relevância das ideias que apresenta. Não me parece ser mero acaso o fato de que dos quatro autores citados, três sejam gaúchos, era como se Freyre buscasse explicitar que mesmo entre os pensadores do extremo Sul do Brasil havia clareza sobre a ideia de que ali também se desenvolveu uma sociedade patriarcal. O diálogo com alguns destes autores Freyre manteve de forma mais intensa, como no caso de Laytano, que é indicado na “nota metodológica” de Ordem e Progresso, lançado em 1957, como um de seus colaboradores na coleta de material para a produção deste trabalho, notadamente no Rio Grande do Sul (Freyre, 2004).
A preocupação constante de Freyre em afirmar o caráter nacional de sua interpretação do Brasil pode ser melhor compreendida em meio ao próprio debate intelectual que estava instaurado naquele momento, uma vez que
[...] talvez o debate intelectual que marcou a década tenha sido o da “unidade” dos estados da Federação, perceptível a partir de dois movimentos: de um lado, o de porta-vozes de províncias menores visando fazer conhecida a história cultural e a singularidade de seus territórios, só agora reconhecidos pelo sentimento de unidade pelos estados fortes; de outro, o crescimento da competição pelo monopólio regional da representatividade dos símbolos do bem comum. Neste quadro, uma clivagem maior era marcada pela disputa entre o Norte e o Sul (Sorá, 1998: 4).
A afirmação do modelo freyreano como válido para a compreensão do Brasil insere-se, portanto, em meio a estes embates. Esta questão era cara não apenas aos intelectuais do Nordeste - região que fora o polo de desenvolvimento mais importante do país e que vinha perdendo espaço gradativamente -, como também para os intelectuais do extremo Sul do Brasil, pois, como nos elucida Letícia Nedel (2007) ao debater a recepção de Freyre no Rio Grande do Sul, sua obra foi incorporada e utilizada recursivamente, de modo que se possibilitasse que a formação regional “desviante” fosse incorporada nos quadros de uma cultura brasileira elaborada segundo a linha de representação plural.
A afirmação de Freyre (2006) em torno da validade nacional de seus argumentos mostra-se ainda mais enfática no prefácio da segunda edição de Sobrados e Mucambos, que fora publicada em 1948. O autor inicia o prefácio indicando, justamente, que a sociedade patriarcal no Brasil não teve um começo linear, mas sim inícios diversos e contraditórios no tempo e no espaço:
[…] de tal modo variando de substância do extremo norte ao extremo Sul do país, a ponto de estudiosos que, em sociologia, se orientam mais pelo conteúdo que pela forma dos acontecimentos ou dos fatos perderem, diante dessa diversidade antes etnográfica, geográfica ou econômica que sociológica - o pastoreiro, aqui, a extração da borracha, ali, o café, em São Paulo, o ouro e os diamantes, nas Minas Gerais, o açúcar, o tabaco, o algodão ou o cacau, no Norte - o sentido da unidade sociológica de forma e de processo (Freyre, 2006: 44).
Como bem nos elucida Bastos (2005), esta distinção entre forma e substância Freyre retira diretamente de Simmel, ainda que assuma neste caso um papel mais metafórico. Neste sentido, para demarcar uma distinção em relação ao que o sociólogo alemão elabora, é relevante rememorar que para Simmel (2006) forma e conteúdo, na experiência concreta, são elementos inseparáveis. Um dos autores que explicitamente criticou Freyre neste ponto foi Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982), que, como sabemos, publicou Raízes do Brasil no mesmo ano que Freyre publicou Sobrados e Mucambos, contando com um prefácio elaborado por Freyre que foi retirado a partir da segunda edição, o que, de certo modo, indica as divergências interpretativas dos dois autores. Segundo Holanda,
[...] é bastante significativo que, apesar do seu insistente empenho de emancipar a “forma” social da “substância” ou do “conteúdo”, Gilberto Freyre raramente consegue desunir estes elementos quando se trata de distinguir, entre esta e aquela área de povoamento e ocupação do solo, as que lhe parecerem mais adultas ou completas (Holanda, 1979: 107).
A argumentação de Freyre utiliza-se recursivamente de exemplos provindos do Rio Grande do Sul, além do diálogo com autores deste estado, que representaria de forma mais enfática o Brasil Meridional. Tal movimento reforçaria a ideia de que suas ideias se aplicam de uma ponta a outra do país. Como ele nos indica:
Não importa que o conteúdo ou a substância econômica sobre a qual se desenvolveu tal forma de hierarquia social ou de convivência humana tenha sido, no Rio Grande do Sul, principalmente o gado ou a banha (Freyre, 2006: 63).
Também ao longo de sua trilogia - que compõe a introdução à história da sociedade patriarcal no Brasil3 -, nota-se que as referências aos estados do Sul, não apenas o Rio Grande do Sul, tornam-se cada vez mais recorrentes, buscando demonstrar como esta região do Brasil pode também ser compreendida a partir do modelo analítico por ele desenvolvido, em que pese certas particularidades por ele percebidas, o que será explorado mais adiante neste trabalho.
Quero destacar com isso que nação e região não são pensados como um par de opostos que não dialogam, tendo a pensar que eles podem ser compreendido dentro da ideia de equilíbrio de antagonismos desenvolvida pelo autor (Freyre, 2005). Porém, este antagonismo não implica na ausência de pontos que os costure, para tanto, a ideia de patriarcado é fundamental, uma vez que articula ao mesmo tempo a diversidade regional e a unidade nacional. Nesta direção, apresentar o Brasil Meridional como parte da nação brasileira é um passo fundamental para esse desdobramento no pensamento de Freyre.
Ao recorrer uma vez mais a Anderson (2005), se a nação pode ser interpretada como uma invenção, acredito que o patriarcado também deve ser lido nestes termos. É o patriarcado enquanto categoria analítica (mas também como experiência vivida) que anima a nação brasileira na leitura de Freyre, o Brasil se torna Brasil por meio da unidade que o patriarcado propicia, ao mesmo tempo em que não sendo uma entidade estanque, incorpora a diversidade regional. Podemos ainda voltar às teses acerca da plasticidade do português, explicitamente defendidas por Freyre ao menos desde Casa-Grande & Senzala, compreendendo que o tipo de patriarcado desenvolvido no Brasil - esse patriarcado católico e lusitano - difere de outras formas de patriarcado, sendo também plástico, e, por isso mesmo, capaz de incorporar a diversidade e a unidade.
De retorno à compreensão weberiana de nação como comunidade de sentimento, entende-se então que o cimento de uma tal comunidade, na perspectiva de Freyre, é a família patriarcal. E, seguindo ainda as pistas de Weber (2002), se a nação tende a produzir um Estado próprio, é importante salientar que, sempre segundo Freyre, o Estado representou no Brasil em sua gênese uma continuidade da universidade familiar, unidade familiar patriarcal por excelência (Freyre, 2005). De modo geral, podemos perceber que os esforços de Freyre confluem com a mudança de tônica mais geral elaborada pelas elites brasileiras a partir da década de 1930, que passam a positivar o povo brasileiro (Carvalho, 1977), o que, no caso de Freyre, passava, necessariamente, pela valorização da região, bem como do elemento lusitano, associado em período anterior às razões do atraso nacional4.
Gilberto Freyre e as outras províncias
Como já apontado anteriormente, uma das críticas que incidiu sobre Freyre, especialmente em Casa-Grande & Senzala, foi de que ele centrou demasiadamente sua análise no Nordeste e, mais especificamente, em Pernambuco. Em que pese a tentativa de elaboração de justificativas por parte de Freyre, incluindo a distinção entre forma e substância que ele realizou, a ênfase no Nordeste tornou-se cada vez menos justificável nos volumes que tratavam do século XIX. E apesar de ter prometido no prefácio da edição de 1949 de Casa-Grande & Senzala de que o livro Ordem e Progresso seria mais dedicado ao Sul e ao Centro que ao Norte do país, em grande medida ele acabou por se apoiar mais nos respondentes nordestinos de seu questionário (Burke & Pallares-Burke, 2009).
Outro contra-argumento que pode ser utilizado encontra-se no exame de seu trabalho de mestrado, de 1922, intitulado “Vida social no Brasil nos meados do século XIX” (2008), que, apesar de se voltar para um período no qual já havia ocorrido um deslocamento geopolítico no Brasil, marcado pelo declínio da região Nordeste em relação ao Sul do país, ainda assim a ênfase da análise de Freyre recai sobre a primeira região.
Entretanto, é fato que gradativamente as demais regiões do país vão ganhando mais espaço em seus trabalhos, ainda que se possa questionar em que medida o espaço dado representaria a real relevância que revestiam no contexto analisado. Neste ponto, não podemos esquecer o caráter saudosista que o trabalho de Freyre apresenta, a saudade é um recurso metodológico para o autor, através do qual ele pode reviver o passado (Villas Bôas, 2006), não à toa Casa-Grande & Senzala é dedicado a seus avós, Sobrados e Mucambos a seus pais.
Ao se voltar para o Sul, Freyre tem a preocupação de inseri-lo em grande medida nos paradigmas interpretativos de que se utiliza para compreender o Brasil, de modo que um dos pontos relevantes, para tanto, é afirmação da presença negra no Sul do país. Em diálogo com Dante Laytano, já em Sobrados e Mucambos, Freyre realiza essa afirmação, indicando:
Desse modo, o negro, na área ou na região gaúcha, se sobrepôs ao próprio índio. Deste modo e por sua situação de companheiro dos brancos das estâncias. Essa situação, superando a de servo, teria condicionado, naqueles extremos do Brasil, o comportamento ou a figura do africano ou do seu descendente, empregado no pastoreiro ou engajado no serviço militar (Freyre, 2006: 489).
O destaque que ele dá não é à toa, pois, ele compreende que
o africano [foi] um agente de fixação e de propagação de cultura que não pode nem deve ser esquecido em síntese nenhuma da formação brasileira (Freyre, 1973: 156)5.
Ele reconhece, notadamente, que no próprio Rio Grande do Sul haveria uma diversidade em termos de composição étnica, percebendo uma presença indígena mais incisiva no que ele denominou de área “missioneira”.
Os homens da região ou área missioneira não são gaúchos típicos; e tendo mais sangue índio do que os gaúchos típicos […] são silenciosos, introspectivos, sutis, realistas, distantes, frios (Freyre, 2011: 140).
Enfatiza ainda a presença portuguesa no Brasil Meridional, principalmente através dos açorianos, demonstrando assim que os elementos básicos de composição étnica anunciados desde Casa-Grande & Senzala também se fariam presentes nesta região.
É em meio a esse dilema que se estabelece a síntese entre a unidade e a pluralidade que Freyre elaborou em sua célebre conferência “Continente e ilha” (ver Freyre, 1973), e que, como ele mesmo assume, se inspira fundamentalmente nas ideias elaboradas por Viana Moog na conferência “Uma interpretação da literatura brasileira”6. A ideia de que no Brasil nos desenvolveríamos social e culturalmente em ilhas, e estas ilhas em arquipélagos, ou numa enorme ilha-continente, é explorada por Freyre a partir da concepção de América Portuguesa, de tal modo que apesar da diversidade, haveria uma base cultural lusitana (e também cristã) que nos daria unidade, e, por consequência, brasilidade. Os sentimentos de continente e de ilha seriam antagonismos constitutivos do Brasil, e enquanto tais estariam em equilíbrio, uma vez que o contrário disso nos sujeitaria “[…] a uma verdadeira guerra civil na sua psicologia social e dentro de sua cultura” (Freyre, 1973: 155). Ora, lembremos que para Freyre (2005) uma das marcas fundamentais da cultura brasileira é o equilíbrio de antagonismos, existentes em diversas ordens desde nossa gênese.
Ao pensar especificamente o caso de Porto Alegre, Freyre aponta que o “processo sociológico de povoamento” se desdobrou em dois sentidos: no de ilha e no de continente. Destaca ainda as contribuições italianas e alemãs à cultura nacional, na formulação do que ele denominou de “valores neobrasileiros”, mas que, como já fora destacado, só ganham espaço na medida em que são assimilados pela cultura nacional. Afirma claramente que deseja que Porto Alegre continue sendo Porto Alegre, posicionando-se assim contra qualquer possibilidade de uniformização cultural, ainda que perceba uma unidade cultural de base portuguesa. É válido destacar que esse dilema da diversidade regional cimentada em uma base cultural comum só se faz possível ante a plasticidade do português, que incorpora diversas contribuições culturais, sociais e étnicas.
Neste sentido, um desafio interpretativo que se colocava para Freyre neste contexto se dava a partir da presença de outros grupos étnicos, especialmente das comunidades formadas por migrantes de origem germânica e italiana no Sul do Brasil. Neste ponto, são interessantes as colocações realizadas por Giralda Seyferth (2003) ao indicar que a ideia de brasilidade desenhada por Freyre, em alguns momentos, apresentava um sentido unívoco, não associado ao Brasil-nação, mas sim a uma região representativa. Ainda segundo a autora, Freyre advogaria
[…] a existência de uma totalidade plural, uma nação luso-brasileira cuja característica mais marcante é a mestiçagem, que aceita contribuições de outras que não comprometam o todo. Nessa concepção de nação certamente não existe espaço para etnias e culturas singulares, mesmo que, sob certos aspectos, assimiladas e ciosas de cidadania brasileira, conforme a referência ao Estado deixa entrever (Seyferth, 2003: 166).
É interessante observar, para o aprofundamento desta questão, que há uma evolução no pensamento de Freyre, que pode ser constatado sobretudo na mudança de tom entre o artigo que ele publica no Diário de Pernambuco, em 28 de novembro de 1943, intitulado “Nacionalização do ensino em Santa Catarina”, e a posição que assumiria durante I Colóquio de Estudos Teuto-Brasileiros, em 1963, nos quais ele vai destacar as contribuições germânicas para a formação do Brasil (Freyre, 1971)7.
No artigo publicado em 1943, Freyre, partindo o livro de Ivo D’Aquino (1896-1974)8, chama a atenção para o “pangermanismo”, que representaria uma ameaça real que deveria ser combatida, uma vez que haveria
inimigos que tomaram aspectos mais doces e seráficos para melhor se instalarem entre nós com suas máquinas de destruição do Brasil de formação lusitana (Freyre, 1943),
o que se dava, dentre outras formas, através do
(…) ensino em língua alemã. O ensino baseado na fidelidade aos valores alemães e ultimamente impregnado de força nazista e de fervor racista,
de tal modo que a iniciativa de “nacionalização” do ensino neste estado representaria um esforço louvável neste embate. Interessante perceber que se releva aí uma determinada concepção de nação presente em Freyre, de um “[…] Brasil da formação lusitana e franciscanamente católica ou cristã”, de tal modo que a diversidade regional defendida pelo autor faz sentido diante de uma articulação que se constrói a partir dessa unidade social e cultural.
De Recife a Porto Alegre: a formação de um eixo intelectual
Quando Freyre viajou para o Rio Grande do Sul ele já era bastante conhecido e reconhecido nacionalmente, e chegou a realizar duas viagens em um relativo curto período para esse estado. Em 1939, a convite do interventor Osvaldo Cordeiro de Farias (1901-1981), viajou em companhia de José Lins do Rego (1901-1957), tendo ainda conhecido o interior do estado, acompanhado de Dante Laytano e Clodomir Vianna Moog (1906-1988). Já em 1940, realizou uma viagem mais acadêmica, acompanhado de Gastão Cruls (1888-1959), quando proferiu a palestra “Sugestões para o estudo histórico e social do sobrado no Rio Grande do Sul”, além da conferência “Continente e ilha”. E como bem destaca Letícia Nedel:
Vale assinalar de passagem que, no encerramento do mesmo congresso, Freyre assistiu à entrega do diploma de sócio benemérito do Instituto a Getúlio Vargas. Na ocasião, os eruditos manifestaram publicamente o apoio à decisão sobre os “destinos nacionalistas” do país, tomada em face da antevisão de um “revolucionismo alarmante” e da proliferação de “ideologias contrabandeadas”, que estariam “ameaçando a tranquilidade pública” do Brasil.
Depois dessas duas visitas, vieram outras (até 1969, data da última), preenchidas, nos intervalos, por prefácios e recepções ocasionais oferecidas no solar de Apipucos a autodenominados discípulos e admiradores do Sul. Mas de todos os encontros, os dois primeiros é que, talvez pelo caráter inaugural e de mútuo reconhecimento que tiveram, acabaram se tornando lendários entre os membros do chamado “grupo da Livraria do Globo” com quem Freyre travou contatos na ocasião (Nedel, 2007: 86).
Nestas viagens, Freyre passou também por Santa Catarina e pelo Paraná, mas inegavelmente é com o Rio Grande do Sul, e seus intelectuais, que ele acabou por desenvolver uma relação mais estreita. Na volta da viagem realizada em 1940, Freyre concedeu algumas entrevistas. Destaco aqui duas, uma publicada no Correio da Manhã, em 3 de dezembro de 1940, e outra publicada no Dário de Pernambuco, em 4 de dezembro de 1940. Em ambas, as manchetes que trazem as entrevistas fazem alusão à formação de um eixo intelectual entre Recife e Porto Alegre. Na primeira, Freyre inicia ponderando que sua palestra versou sobre o pluralismo cultural brasileiro do ponto de vista das regiões ou províncias brasileiras, reafirmando a avaliação positiva do cenário intelectual gaúcho, apontando para obras que estão para ser lançadas, sendo explorada a questão da formação deste eixo intelectual mais adiante na entrevista:
- E as notícias que correm de um “eixo intellectual” Porto Alegre-Recife?
Creio que quer referir-se à fundação, que decidimos agora, de uma revista literária e de cultura, Província, que será dirigida por mim e por Erico Veríssimo. Ambos planejávamos fundar tal revista, com o título Província e um programma vamos dizer provinciano…
- Que consiste em…
Que consiste na tentativa de valorização ou revalorização das energias provincianas ou, no bom sentido regionais, da vida intellectual e cultural brasileira.
- Um movimento contra o Rio de Janeiro, contra a metrópole?
De modo algum. Nada de simplificarmos a questão pois cairemos no peor dos simplismos. Repito-lhe que uma tentativa de revalorização de energias provincianas compromettidas, nos últimos tempos, pelo que consideramos um metropolitanismo esterilizante, que para tornar-se saudável precisa justamente de um provincianismo bom e vigoroso que não o deixe desprender-se do Brasil - terra do Brasil - passado, do Brasil por assim dizer rotina, cuja diversidade regional é uma das forças da nossa unidade de cultura, toda ella de base portugueza e christã. Essa cultura tem tido seus postos avançados, no Rio Grande do Sul e em Pernambuco, sem desconhecermos o facto de que suas expressões mais dynamicas têem sido, sob vários aspectos, a paulista, a cearense, a sergipana e suas maiores expressões de estabilidade, em phases diversas de nossa economia e cultura, a Bahia, o Rio de Janeiro, o Maranhão, Santa Catharina. É natural que ellementos daqueles postos avançados se encontrem para uma iniciativa que há de ter, por certo, a sympathia do Brasil intellectual inteiro e das expressões diversas de sua força ou, pelo menos, potencialidade de cultura (Correio da Manhã, 03 Dez. 1940).
Na entrevista concedida ao Diário de Pernambuco ele também principia sintetizando as falas que proferiu, ainda que de outro modo, indicando que elas versaram sobre a formação social do Brasil - e a do Rio Grande do Sul em particular -, procurando examinar o que ele denominou de sentimento insular em face do sentimento continental da formação brasileira. Volta a apresentar esse projeto de formação de um eixo intelectual, reafirmando que ele não se opõe à ideia de metrópole, buscando sim valorizar a província. Nesta oportunidade, ele chega a dar mais detalhes sobre a possível publicação de Província:
A revista será de literatura. Mensal. Collaboração solicitada e paga. Direcção mutua e de Érico Veríssimo. Collaboração effectiva de bons escriptores nossos e estrangeiros. Tenho uma velha promessa de Prudente de Moraes Netto - o “Pedro Dantas” - de collaborar activamente numa revista do typo de Província. Creio assim que teremos novamente em actividade esse admirável escriptor, há annos retraído.
O primeiro número deverá sair em março, primeiro de março. Tenho também o plano de sair no próximo anno uma revista de cultura, dedicada a estudos sociaes, principalmente de anthropologia e historia sociaes, com o nome de Anthropologia. É projecto. Provincia, porém, já se pode considerar realidade. Creio que, ao lado da Revista do Brasil, dirigida com elevado critério pelo meu amigo Octavio Tarquinio de Souza, poderá prestar, pelas collaborações que reunir, alguns bons serviços às letras brasileiras (Dário de Pernambuco, 04 Dez. 1940).
Chama a atenção o fato de que o nome escolhido para a revista era quase homônimo de um jornal editado em Recife que se denominava A Província. No período compreendido entre 1928 e 1930, Freyre dirigiu este jornal, tendo havido uma aproximação relevante entre ele e Manuel Bandeira (1886-1968) a partir deste periódico, o qual teve um papel relevante no cenário cultural de Recife entre as décadas de 1920 e 1930, tendo agregado diversos nomes da intelectualidade nacional que colaboravam com a publicação (Vicenti, 2007). Posteriormente, entre 1945 e 1957, a Livraria O Globo veio a publicar a revista Província de São Pedro, que teve como seu primeiro editor Moysés Vellinho (1902-1980), de modo que podemos compreender que, em grande medida, este projeto intelectual acabou por se concretizar.
Oras, o que se pode observar com isso, em que pese os limites para a implementação de algo desta envergadura, é que havia um projeto em curso, que convergia com uma série de movimentos que vinham sendo orquestrados por Freyre ao menos desde a década de 1920. Compreendo assim, que este projeto intelectual de Freyre representa uma continuidade e, ao mesmo tempo, uma ampliação do que fora indicado com a organização do Congresso Regionalista de 1926, havendo uma diferença substantiva em termos da visibilidade do trabalho do autor em nível nacional. Porém, como indica o manifesto “resultante” deste congresso9, além do Nordeste haveria outras regiões culturais brasileiras, referindo-se à “arte do doce”, por exemplo, ele faz referência à relevância do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul (Freyre, 1955; Oliveira, 2015).
A centralidade da ideia de região - e também de província como atesta o sugestivo nome da revista - neste projeto intelectual leva-nos, inevitavelmente, até o binômio tradição e modernidade, que na obra de Freyre não são colocadas em polos opostos.
Para Freyre, tradição significa as experiências sociais, estáticas e culturais que, advindas das raízes lusas, ibéricas, afros e ameríndias foram se miscigenando e se transformando em novas manifestações estéticas e culturais, terminando por moldar as características socioculturais do Brasil como um todo. Já por região, ele acata o que é proveitoso dessas mesmas experiências sociais, estéticas e culturais no âmbito de cada circunscrição federativa do país. Ou seja, a tradição não é somente o que firma a unidade brasileira - a exemplo da língua, das crenças religiosas, das raízes musicais, das bases alimentares etc. -, mas também o que urde o presente de cada região com o seu passado, o que religa passado e presente e, por sua vez, definirá os caminhos do futuro (Vieira, 2013: 46).
Como nos indica Mariana Chaguri (2014), este debate ganha espaço nos jornais pernambucanos ainda na década de 1920, ao passo que no Rio Grande do Sul o mesmo só teria ocorrido na década de 1940. Ainda seguindo a autora:
De um lado, o regionalismo nordestino mobilizará a tradição para a construção de uma noção de região capaz de singularizar o patriarca como ator social decisivo do processo histórico, a um só tempo, local, regional e nacional
No extremo Sul, no entanto, a definição da região é apoiada pela noção de soberania, isto é, a articulação entre o local, o regional e o nacional passa pela recuperação das lutas políticas expressas nas inúmeras guerras e batalhas que marcaram o território sulino e, pouco a pouco, orientaram a construção de uma socialização que tem na guerra um de seus mais fortes pilares (Chaguri, 2014: 196-197).
Em que pese tais diferenças, nas quais a ideia de região é pensada a partir de chaves analíticas distintas, ela é fundamental para o projeto intelectual de Freyre. Não é por acaso, que pouco tempo depois das referidas viagens Freyre, publicadas no livro Região e tradição (1941), apesar de ser composto por artigos escritos em período anterior a esta viagem. Tal coletânea contém um prefácio de José Lins do Rego, que o acompanhou na jornada pelo Sul do Brasil, no qual é destacado que:
[…] na nossa viagem ao Rio Grande, 16 annos após o Congresso Regionalista do Recife, as idéias de Gilberto Freyre foram se encontrando com ele na realidade, todas ellas confirmadas no contacto com a gente e a terra que mais cultivaram as suas particularidades e eram, no entanto, tão irmãs dos nordestinos, dos bahianos, dos mineiros, de todo o Brasil. O Rio Grande foi um campo prodigioso para o sociologo confirmar e sentir a força da colonização portuguesa. O que elle sustentara em Casa-Grande víamos ali ao nosso contacto. Casas, móveis, jeitos de falar, de andar, de sentir, de comer, de rezar e por tudo isto bem á mostra a marca lusitana, o açoriano de cara comprida de rio Pardo vivo e bulindo ainda por toda parte (Rego, 1941: 20).
Essa percepção fica evidente na própria comparação que Freyre realiza entre o sobrado gaúcho e a casa-grande, atribuindo essa “unidade” à ação portuguesa (Freyre, 1973), especialmente açoriana nessa região do país. Percebe-se ainda que a valorização da província é parte do projeto intelectual de Freyre (Lippi, 2011), o que volta a aparecer também em trabalhos posteriores do autor, mesmo quando a metrópole muda de endereço. Em Brasis, Brasil e Brasília (1968), escrito bem após o referido debate, Freyre indica que a República que adveio no final do século XIX aprofundou a desvalorização da província, de modo que seria um desafio urgente diminuir tanto física como socialmente entre as populações das diversas regiões do país, sem procurar uniformizá-las de acordo com um padrão considerado superior.
Sinteticamente, apreendo com isso que: a valorização da província e a oposição à imposição de determinados culturais sobre outros, baseadas unicamente na assimetria de poder estabelecida em um dado contexto histórico entre as regiões do Brasil, é o grande fio condutor do projeto intelectual que Freyre começa a tecer ainda nos anos de 1920, no qual se insere sua relação particular com o Brasil Meridional, com ênfase para o Rio Grande do Sul e seus intelectuais.
Considerações finais
Ao fim deste ensaio, volto novamente a Elias (2006) em sua concepção de nação, na medida em que ele nos convida a pensar as diferenças entre as ideologias nacionais e as contradições presentes nos processos de integração. Acredito que Freyre buscou realizar ao mesmo tempo esses dois movimentos, produzindo uma ideologia nacional, que almejava apresentar uma concepção de Brasil a partir de certa unidade, mas também ressaltou a pluralidade e as tensões existentes a partir da ideia de diversidade regional.
Compreendo, desse modo, que a crítica dirigida ao autor de que ele apenas teria generalizado para o Brasil um modelo interpretativo que se aplicaria a uma região - o Nordeste - não se sustenta completamente. A relação entre o todo e as partes que ele estabelece - bem como entre forma e conteúdo - integra um esforço intelectual realizado para demonstrar que suas ferramentas heurísticas também são válidas para outras partes do país, incluindo o Brasil Meridional, no qual o Rio Grande do Sul é tomado como um principal objeto de reflexão empírica.
Apesar das diferenças percebidas entre o Nordeste e o Brasil Meridional, ou entre este e o resto do país, com destaque para a presença de italianos e alemães em sua constituição étnica e cultural, Freyre reafirma continuamente a base lusitana e católica da formação nacional, na qual também esta região do país estaria implicada. E mesmo apresentando claras preocupações com a “ameaça aos valores nacionais”, ele também reconhece o processo de incorporação de novos valores à cultura brasileira.
Não sem menor importância, deu-se relevo neste trabalho ao projeto intelectual de Freyre de produzir um “eixo intelectual” entre Recife e Porto Alegre, que apesar de não ter se concretizado nos termos esperados, não perde com isso totalmente seu valor, na medida em que durante toda sua trajetória ele continuou a realizar inúmeras outras trocas com intelectuais localizados em “outras províncias”; e mais que isso, compreendo que seu maior projeto nunca se esvaziou por completo, o de valorização da província e da oposição à qualquer tentativa de uniformização cultural do Brasil.
Se concordamos com Weber (2002) sobre o fato de os intelectuais estarem predestinados, em grau específico, a propagarem a “ideia nacional”, devemos reconhecer, portanto, que Freyre foi um dos que cumpriu esse papel de forma mais enfática ao longo do século XX no Brasil, situando sua concepção de nação em oposição a outros projetos em curso, uma nação lusitana e católica de Norte a Sul.
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Abstract
In recent years the work of Gilberto Freyre (1900-1987) has been deeply reexamined, which has led researchers to explore this intellectual legacy from new angles. In order to contribute to this debate, in this article I will analyze the way in which Freyre incorporates South Brazil in his wider interpretation of the Brazilian culture, at the same time that he develops a dialogue with intellectuals from the South of Brazil. I understand that this double movement is part of Freyre's intellectual project of valorizing the province, articulating the idea of a region with that of national unity, with a Portuguese and Catholic cultural base.
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