Em 1 967, Samuel Huntington previu que o traço mais caracterfstico do último quarte! do século XX seria o avanço de potencias regionais, tais como China, Indonèsia e Brasil.1 Por duas décadas esta previsäo pareceu ser penetrante, e concordavam com eia ninguém menos do que os estrategistas do Itamaraty, o ministro das Relaçoes Exteriores e os líderes dos governos militares brasileiros de 1 964a 1 985. 0 Brasil tinha, tudo indicava, os recursos, a vontade e a habilidade diplomática para obter a supremacía regional, especialmente quando a influencia da Argentina, sua tradicional rival, continuou a declinar após a morte de Juan Perón em 1974, e a torca do Chile, seu informal aliado, cresceu dramáticamente após a morte de Salvador Allende em 1 973.
Nao obstante, essa perspectiva parece singularmente ultrapassada em 1991. A despeito do cresci mento e dive rsif icacào económica substanciáis durante os anos 70, e apesar das impressionantes receitas de exportaçâo e de ter se tomado a decima maior potencia industrial do mundo, o Brasil nao conseguili alcançaro nivel de hegemonía regional que Huntington e outros especialistas previam há um quarto de sóculo. Com uma queda expressive na produçao económica no ano passado e uma divida externa assombrosa, que tem se revelado difícil de renegociar, o Brasil está absorvido pelos processos de privatizacáo e racíonalizaçâo de sua economia, que hoje também afetam outros países, da Polònia e Uniáo Soviética à Argentina e Chile. Se, em algum momento, o Brasil realmente conquistar uma hegemonía regional mais substancial, isto ocorrerá em algum ponto do século XXI, após mudanças ñas esferas económica e política que sao hoje impossíveis de se prever. Se, de fato, a hegemonía provar ser algo mais que uma perpétua ilusáo, um concerto com o quai os estrangeiros estäo sem dúvida aiguma mais preocupados que os brasileiros, isto deverà ocorrer no contexto de um mercado comum abrangendo de Ottawa a Buenos Aires, um contexto no qual a natureza, soja do regionalismo, soja da hegemonía, se revista de significados muito diferentes dos que desfrutou durante o sóculo XX.
A especificidade da situaçao brasileira necessita, entâo, ser apreciada dentro do contexto mundial mais ampio, onde, como conseqüencia da Guerra do Golfo Pérsico, os conceitos de hegemonía voltaram à moda. O Iraque, certamente, demonstrou que mesmo pequeñas naçoes podem construir grandes e modernos estabelecimentos militares e invadir Estados vizinhos com resultados profundamente destrutivos. Se a influencia de potencias hegemônicas regionais pode prevenir esses efeitos,.entâo, pederíamos argumentar, a hegemonía se torna tanto mais importante e, ao menos em alguns aspectos, benéfica. Mas a situaçâo da política sul-americana difere substancialmente da do Oriente Medio. Nao há hoje na América do Sul qualquer figura comparável a Saddam Hussein ou ao maréchal Francisco Solano López que, em 1 865, do Paraguai, lançou contra Brasil, Argentina e Uruguai a prof u ndamente destrutiva Guerra da Tríplice Aliança. Se, em dado momento, a guerra ameaçasse novamente a América do Sul, entäo, o crescente poder brasileiro poderia, de fato, revelar-se urna influencia apaziguadora. As guerras sul-americanas mais recentes, tais como aGuerrado Chaco (1933-35) e a Guerra das Falkland/Malvinas (1982), permanecem, todavía, como aberrantes exceçoes ñas, em geral, pacíficas relaçoes internacionais da regiáo.
Para delinear a natureza e os efeitos de urna possívei hegemonía brasileira no futuro, é necessario apreciaros processos históricos, avallar o que é característicamente brasileiro na luta por desenvolvimiento e influencia, e julgar os interesses de policymakers brasileiros contemporáneos no contexto de seus recursos e de seu potencial. Apenas um julgamento sobrio do que aconteceu - e do que deixou de acontecer - no último quartel do século XX pode nos ajudar a apreciar o quanto a realidade foi diferente daquela que parecía ser a mais provável de ocorrer e, assim, nos f ornecer os subsidios necessários para a interpretacäo da temática do "regionalismo" ao longo do tempo. O passado é, como sempre, prólogo do futuro, mas na política externa brasilei ra, como em outras dimensöes da vida nacional, este aforismo toma o aroma de cravo e canela, isto é, urna especificidade um pouco difícil para aqueles de clima mais temperado saborearen) como o fazem os próprios brasileiros.
As Perspectivas Brasileiras sobre Segurança e Hegemonía
Antesde continuar investigando as visöes das elites brasileiras, ó útil observar que, no ámbito da opiniáo pública, os brasileiros nao vêem a hegemonía regional ou outras questöes da política internacional como figurando entre os maiores problemas que enfrentara Os brasileiros torn, dentro de seu proprio país, metade de um continente a povoar e desenvolver, exatamente como o f izeram o Canadá e os EUA no sáculo XIX. Como aparecem ref letidas em filmes populares como Bye Bye Brazil (1980), suas preocupaçôes se referem ao que significa ser brasileiro, as desigualdades entre cidadâos e regiöes dentro do país e à exploraçâo da fronteira, do Nordeste a Rondônia.
Preocupaçôes similares aparecem em pesquisas de opiniáo pública, como as conduzidas pelo IBOPE em 1990. O Quadro 1 retrata as opiniöes dos brasileiros quanto aos maiores problemas enfrentados pela naçâo durante o primeiro ano da Presidencia de Fernando Collor de Mello. Já ñas pesquisas de opiniáo na América do Norte e na Europa, particularmente em 1990, a saliência dos assuntos internacionais é marcante.
Os Quadros 2 e 3 mostram como essas preocupaçôes variam de acordo com os diferentes segmentos da populaçâo, tendo em vista a educaçâo, a idade e o voto dado nas eleiçôes ? residenciáis a Collor ou a Lula. Nesse sentido, os adolescentes estâo mu ito mais voltados para a quest áo da educaçâo que as pessoas corn mais de 40 anos; à medida que a idade cresce, aumenta o interesse pela situaçâo dos aposentados. Aqueles com maiores níveis de educaçâo, que tendem a desfrutar de maiores níveis de renda e maior status, preocupam-se menos com os salarios e com a situaçâo dos aposentados, mas sao mais conscientes quanto às deficiencias educacionais nacionais. Os que votaram em Lu la estâo mu ito mais preocupados com a educaçâo e um pouco mais preocupados com os salarios. Significativamente, os brasi leiros mais jovens ? os que têm maiores níveis de educaçâo vêem o meio ambiente como um dos maiores problemas nacionais. Em todas essas áreas, entretanto, os brasileiros definem suas preocupaçôes em termos essencialmente domésticos, enquanto as questöes de hegemonía regional ou mesmo das influencias internacionais sobre as preocupaçôes domésticas permanecem remotas.
Seguindo a tendencia verificada pelas pesquisas de opiniao pública realizadas em 1 990, também o pensamento clàssico dos geopolíticos brasileiros co ncentra-se muito mais ñas conquistas dentro do Brasil que na expansäo do poder brasileiro no Cone Sul. As formulaçoes clássicas do general Golbery do Couto e Silva, por exemplo, sublinham que a segurança brasileira repousa, em algum grau, nas suas relaçôes com países da África e de outras partes do mundo, mas que essa segurança deve ser vista mais fundamentalmente em termos da defesa global do Ocidente.2 Na literatura sobre o Brasil, o general Golbery se destaca porseu trabalho, após 1952, junto àquela que se transformou na politicamente influente Escola Superior de Guerra. Couto e Silva ó considerado o mais importante formulador do concerto de "Estado de Segurança Nacional", mas urna leitura cuidadosa de seu trabalho mostra que tal conceito é bem diferente dos estereotipos que algumas vezes se supöe terem sido dele derivados.
Assim, os escritos do general Golbery nao sao ameaçadores para os Estados vizinhos. Ao contrario, ele critica a "doutrina Lebensraum" como parte da "megalomania histérica" de Hitler, e exorta os brasileiros a adotarem urna política externa, no geral, pacífica, a defenderem o status quo territorial na América do Sul, a cooperarem com os países vizinhos em iniciativas específicas e a trabalharem com os EUA na defesa mais ampia do hemisferio e civilizacáo ocidentais.3 Sugere que, por intermedio dessas políticas, os brasileiros devem manter um "modo democrático de vida" e garantir autonomia local e regional dentro de seu sistema federativo.4 Internamente, devem fortalecer a economia brasileira, colonizar a Bacía Amazónica e ligar o Norte e o Sul ao núcleo central da naçâo.8 Em seu mais extenso livra, o general Golbery afirma, com particular elegancia, tanto a importancia da segurança nacional, como a necessidade de se incorporar mais completamente a hinterlândia ao resto da naçâo.«
Os que estáo preocupados com a geopolítica brasileira nos países vicinais frequentemente revelam urna perspectiva muito semelhante. Eles descrevem, por exemplo, como "a 'hinterlândia' brasileira (a Bacia Amazónica), vista de urna perspectiva geopolítica, está sendo gradualmente ocupada, exercendo pressáo natural sobre as mais fracas e mais acessíveis f ronteiras económicas e demográficas".7
A política amazónica do Brasil terá efeitos de longo prazo nas relaçôes com seus vizinhos, Venezuela, Peru e mesmo o Chile," mas as iniciativas amazónicas requererâo décadas para se completarem, nao havendo portanto nenhum senso de urgencia ou ameaça para os Estados fronteiriços ao Brasil.9 De fato, se o ex-presidente chileno Augusto Pinochet está correto na sua sugestâo de que a cultura é o elemento central unificador na constituiçâo dos Estados,10 entäo os vizinhos do Brasil devem estar bastante satisfeitos ao verificarem que a cultura brasileira vem se expandindo pelas imensas distancias da Amazonia.
Debates travados em 1991 com alguns dos principáis intelectuais brasileiros apontaram para a mesma preocupaçâo com o desenvolvimento doméstico, mais do que com qualquer postura ameaçadora ou hegemónica em relacáo aos Estados vizinhos. Numa entrevista realizada para o presente artigo, por exemplo, Helio Jaguaribe, um eminente dentista politico brasileiro e decano do Instituto de Estudos Políticos e Sociáis do Rio de Janeiro, sintetizou as visôes de muitos autores brasileiros e membros do Estado sobre a questâo da hegemonía.11 Ele considera que o Brasil desfruta da "economia predominante" dentro da América do Sul, mas que a cultura política brasileira nao contóm quaisquer "propensöes agressivas" e que, como a Historia demonstra, o Brasil se defenderá com força se atacado ou ameaçado, mas nâo agirá para colocar seusvizinhossobcontrole. Realisticamente, Jaguaribe observa que as áreas "colonial's" dentro das quais o Brasil precisa se expandir estäo interamente no interior de suas fronteiras atuais: os vastos territorios do Norte e do Oeste onde estáo estabelecidas tao poucas pessoas e as zonas urbanas de extrema pobreza onde milhöes de brasileiros vivem sem ter acesso à qualtficaçâo, à educaçâo ou à moderna tecnologia que poderia transformá-los em cidadäos mais produtivos, vivendo mais próximamente do padräo de vida que a nata de 40% dos brasileiros agora desfruta. Jaguaribe concluiu parte da entrevista, afirmando: "nenhum brasileiro pensa em si mesmo como hegemônico; de ifato, ele nemsequer pensa no assunto".
Indicadores do Poder Brasileiro
Pode-se afirmar, portante em virtude do exposto acima, que os brasileiros, sejam da elite ou do povo, näo sentem nenhuma necessidade premente de exercer sua hegemonía vis-à-vis os Estados vizinhos. Näo obstante, o simples tamanho do Brasil, com seus extensivos recursos humanos e naturais, deu-aos brasileiros um nivel de poder e influencia nacionais que ultrapassa em muito os de outrosEstados-naçoes na América do Sul, Assim como o poder relativo do Brasil aumentou dramáticamente durante a última metade deste século, juntamente com a industrializaçâo e o desenvolvimento, também cresceram os iaços com as naçoes ao seu redor e, em algum grau, a responsabilidade que os brasileiros devem manterem relaçâo à política internacional e ao desenvolvimento da regiâo como um todo. Essa situaçâo estabelece os parámetros da "hegemonía" em termos de urna influencia econòmica e estratégica que nao tem nada a ver com urna política externa agressiva, e para apreciar tais dimensöes detalhadamente é necessario avallar, com a maior precisäo possível, e em bases comparativas, as mudanças nos varios elementos do poder brasileiro.
Tais avaliaçoes indicam que o Brasil é e vaicontinuarsendo a mais importante potencia regional dentro da América Latina, em virtude de sua força e diversidade económicas, populaçâo, extensáo territorial, recursoseForças Armadas. Numasíntese recente produzida pela Agencia Central de Inteligencia (ver Quadro 4), o Brasil destaca-se como um dos tres únicos países do Terceiro Mundo ase projetar entre as maiores naçoes e blocos de poder. Em 1989 ele detinha, aproximadamente, 1 ,7% do Produto Nacional Bruto (PNB) do mundo e 2,9% da populaçâo mundial. Apenas em termos económicos, seu poder era substancialmente maior que o da Ìndia e aproximadamente um terco do da Alemanha Ocidental, muito embora dentro das Americas ele permaneça dramáticamente ofuscado pelos EUA.
O Quadro 5 elabora essas dimensóes do poder brasileiro em termos comparativos. No plano mundial, o Brasil possui o quinto maior territòrio e a sexta maior populaçâo da Terra.12 Sua produçâo económica total (PIB e PNB), ainda a melhor medida isolada de poder que se tem,13 colocava-o, em 1 988, logo atrás da Espanha, bem à frente da Australia e da Ìndia, ampiamente mais poderoso que qualquer outro Estado latinoamericano e cerca de quatro vezes mais forte que a Argentina, sua tradicional rival na América do Sul. O crescimento da força da economia brasileira ñas tres últimas décadas também ref lete-se no Quadro 6, onde se verifica que o aumento percentual nos valores das exportaçôes de 1 960 a 1 989 é très vezes maior que o da Argentina e cinco vezes o da Venezuela. O crescimento nos valores das exportaçôes brasileiras está bem atrás do obtido pelo Japäo, Hong Kong ou Coréia do Sul neste periodo, mas na América Latina o único rival importante é o México, onde o aumento nos preços do petróleo responde sozinho pela maior parte do novo valor ñas exportaçôes. O Brasil diversificou, tanto quanto expandiu, suas exportaçôes nessas décadas, tornando-se muito menos vulnerável as oscilacóes cíclicas dos preços mundiais de materias-primas.
Assim, no Quadro 7, o Brasil está em terceiro lugar, atrás apenas da Coróia do Sul e do Japäo, entre as maiores naçoes do mundo em crescimento percentual do PNB real entre 1 960 e 1 989. Esta é urna grande conquista para qualquer naçâo, especialmente para um país do Terceiro Mundo que näo possui maiores reservas de petróleo. As melhores estimativas do PNB real para 1 989 sugerem, entäo, que o poder nacional do Brasil é substancialmente maior que o do México, Argentina e Venezuela, dentro das Americas, como também bem maior que o de naçoes tradicionalmente descritas como potencias hegemônicas reg ionais, tais como India, Indonèsia e Nigeria.
Existem, entretanto, limitaçoes significativas ao poder econòmico e nacional brasileiro, e estas podem ser melhor apreciadas numa perspectiva comparada. Porum lado, como aparece no Quadro 5, lado a lado com os valores básicos da "força brasileira", o Brasil tem se autolimitado no que se refere à alocaçao de recursos para as suas Forças Armadas. Situada em 4%, a proporçâo de gastos federáis com a defesa foi um quinto da do Peru em 1 988, menos da metade da do Chile ou Uruguai e muito menorque a da Argentina e Venezuela. Apenas no México e na Costa Rica o custo relativo corn este item foi muito mais baixo. Os gastos brasileros com a sua defesa, em relaçao ao restante do orçamento nacional, também ficam bem abaixo dos de outras naçoes como Australia, Canadá, Gra-Bretanha, Alemanna Ocidental e EUA, sugerindoque, se de fato há alguma dimensäo na qual os planejadores brasileiros estejam buscando um status hegemónico na regiäo, certamente näo é por intermedio do poderío militar. Tanto no padräo de gastos como na política externa existem profundos contrastes entre o Brasil e outras Estados que, como o Iraque, durante a última década, buscaram o dominio militar em suas respectivas áreas do mundo.
A distribuiçâo de renda e a divida externa representam outras realidades económicas que limitam o poder nacional brasileira. Um dos mais sofisticados cientistas sociais do Brasil refere-se as desigualdades económicas de seu país como simplesmente "medíevais",14 e livras didáticos padräo adotados ñas universidades citam o Brasil como o país corn a distribuiçâo de renda mais desigual do mundo.15 Éssas perspectivas sao confirmadas pelos dados do Banco Mundial presentes no Quadro 8. Tal distribuiçâo de renda priva a maioria dos consumidores brasileiros do poder aquisitivo que necessitarla para sustentar urna industria doméstica mais ampia, e age no sentido de manter tanto os cidadáos como a naçao menos educados, menos desenvolvidos tecnologicamente e, por conseqiiência, substancialmente mais f ráeos do que poderiam ser.
A distribuiçâo de renda no Brasil nao sofreu nenhuma alteracáo marcante durante a última década, e este fato certamente aponta para um contexto e sistema políticos resistentes à mudança. Näo obstante, os melhores estudos que temos sobre as atitudes das elites brasileiras sugerem que tal mudança poderia, de tato, estar próxima. Em 1981, Peter McDonough sintetizou os resultados do seu estudo clàssico sobre as elites ao escrever que:
"As elites se prendem à terminologia da esquerda-direita, mas apenas escassamente, e näo favorecem os extremos (...). Questöes como a da distribuiçâo de renda (...) sao vistas como negociáveis. A renda, como o capital, é pensada como passível de ser dividida. As elites tendem a ver um tema como o da redistribuicáo de renda como urna questâo de mais ou menos, nao de sim ou nao, da mesma forma como vêem a controversia sobre o investimento estrangeiro como algo que envolve a quantia, o tipo e os termos deste capital, näo sua presença ou ausencia".16
Esta descoberta coincide com os resultados da pesquisa sobre a elite brasileira, realizada por Bolivar Lamounier e Amaury de Souza, em 1990, que verificou urna notaveltendênciaàmudançajncluindo entre estas ado sistema presidencial ista para um sistema parlamentarista, näo apenas entre a elite empresarial, mas também no corpo de oficiáis das Forças Armadas.17
Näo se pode negar o fato de que a divida externa brasileira, tal como a distribuiçâo de renda, minimiza hoje o poder nacional, assim como o desenvolvimento económico e o padrâo de vida do pais. Contudo, a divida brasileira deve ser vista também em termos da força dos recursos brasileiros e das dividas de outros Estados latino-americanos. Robert Wesson relembrou recentemente o impacto debilitador da divida, tanto pública como privada, ao escrever que "o Brasil, que devia US$ 53 bilhöes em 1980, pagou US$ 105 bilhöes de juros e ainda deve US$ 1 1 5 bilhöes".18 Wesson tambóm observa que, em 1990, um grupo japonés tentou pagar o total de US$ 1 1 5 bilhöes em troca do acesso a depósitos brasileiros em ouro.cujo valoré estimado emcerca de tres vezes a divida nacional.19 Dado o fato de que o Brasil detém em torno de um terco do minério de ferro mundial,20 e que possui, aproximadamente, metade das pedras preciosas e semipreciosas de todo o mundo, o tamanho da divida parece menos preocupante.
As mesmas conclusöes podem ser tiradas do Quadro 9, onde se constata que, como percentual do PNB, a divida brasileira é bem menor que as do Chile, Peru, Argentina, México e Venezuela. Todavía, a soma despendida no pagamento do serviço da divida é substancial, tanto em termos absolutos, como em valores percentuais do PNB e das exportaçoes. Esta quantia deveria ter urna destinaçao mais produtiva corn investimentos na industria, agricultura, infra-estrutura, educaçâo ou tecnologia. Contudo, assim como a divida externa é enorme, também o é a capacidade do pais de pagala, desde que os líderes brasileiros voltem a operar estrategias mais eficazes para elevar o PNB e, simultaneamente, baixar a inflaçâo e reconquistar a confiança dos investidores. Casos como os da Coréia do SuloudoChile.queaumentaramoseuPNB suficientemente rápido para estarem aptos a pagar o principal, e também os juros de suas pesadas dividas, demonstramque isto pode ser feito. Reproduzida essa situaçâo de forma mais ampia, beneficiaria enormemente tanto as nacöes da OECD, quanto as doTerceiro Mundo, permitindo a expansäo do comercio, do emprego e dos salarios na Europa e América do Norte, assim como na América Latina e Asia. Nesse sentido, é no contexto de urna ampia cooperaçao internacional, e näo no àmbito mais limitado do regionalismo ou do poder ou hegemonía brasileiros, que as dimensöes mais significativas da divida brasileira realmente repousam.
Laços Regionais e Performance Econòmica
Muito embora um desenvolvimento mais pleno de se us ampios recursos básicos tenha permitido ao Brasil exercer mais influencia na América do Sul que há meio século atrás, o crescimento dessa influencia nâo foi de forma alguma uniforme ao longo do período. Retrospectivamente, o nivel de poder e influencia nacionais do Brasil no Continente tendeu a variar um pouco, tanto no curto como no longo prazos. Aqui, pode-se fazer urna analogia com relaçâo ao que Marshall Shulman observou ñas o rie ntaçoes da política externa da URSS: flutuaçoes de curto prazo no que os soviéticos designam como política de esquerdadireita, mas urna mudança de longo prazo na orientaçâo fundamental para a direita.21 No Brasil, similarmente, tern havido urna tendencia consistente durante o século XX para que a força da economia cresca mais que a de seus vizinhos e, conseqüentemente, para que também aumente a sua influencia global na área. Vis-à-vis a Argentina, por exemplo, o Brasil ó agora significativamente mais forte do que era em 1930, em 1 950 e em 1 970, com cada um desses períodos coincidindo com ganhos relativos para o Brasil.
Ao mesmo tempo, entretanto, existem variaçôes de curto prazo naforça relativa do Brasil e, naturalmente, tambóm na influencia brasileira. O inicio dos anos 70 foi um ponto culminante para a naçâo, um período de repressáo militar interna que os brasileiros repudiavam, mas também um período de crescimento econòmico impressionante e de considerável confiança internacional. Com o PNB aumentando cerca de 1 0% ao ano entre 1 968 e 1 973, igualando as taxas alcançadas por aqueles que seriam proclamados como "os quatro tigres" da Asia, o Brasil parecía firmemente a caminho de um expressivo status mundial. Se, de um lado, Coréia do Sul, Cingapura, Tailandia e Hong Kong puderam progredir tao rapidamente em termos de renda nacional, por outro, seu tamanho e recursos básicos e ram tao pequeños que nunca poderiam se transformar em "potencias mundiais", ou mesmo desafiar efetivamente o Japáo dentro de sua regiáo. À exceçâo do seu crescimento, que era igualmente impressionante, o caso do Brasil parecía, todavía, diferente: seu territorio, populaçâo e recursos eram muito vastos; o país estava construindo capacidade industrial e diversificando sua base de exportaçoes; competía com a Europa e a América do Norte mesmo em tecnologías como as do àlcool, de veículos militares leves e aviöes a jato.22 Como concluiu Georges-André Fiechter, em 1972, "parecería impossível retroceder agora. Se esse crescimento for mantido, o Brasil se tornará de fato urna naçâo industrializada (sic) no modelo americano, ? mais jovem dos gigantes'".23
No inicio dos anos 70 o Brasil também detinha o predominio nofutebol.umesporte com capacidade única para conferir status e orgulho na América do Sul, e que parece ser um tema bem mais importante nesta regiäo que na América do Norte. Em 1 970, o Brasil tornou-se o primeiro país a ganhar tres vezes a Copa do Mundo, tendo obtido Vitorias anteriores em 1 958 e 1 962, ganhando em definitivo a taca que simboliza a dominaçâo mundial naquele esporte. Durante as fináis da Copa do Mundo de 1 970, a televisäo brasileira veiculava anuncios nacionalistas cuidadosamente dirigidos, declarando que o Brasil estava avançando para um status mundial, tanto no desenvolvimento econòmico quanto nos esportes, e assim como o trabalho de equipe dos célebres jogadores brasíleiros no campo era capaz de derrotar o que de meíhor os poderosos países europeus podiam reunir, algum dia o trabalho brasileiro de equipe na indùstria e no comercio também poderia suplantar o dos europeus. O presidente Emilio Garrastazu Mèdici, que liderava, entáo, o mais repressivo regime militar dos que governaram o Brasil de 1 964 a 1 986, julgou, em parte por esta razáo, conveniente desviar a atencáo da populaçâo para as Vitorias no futebol internacional em lugar da política doméstica. Com efeito consíderável, ele gostava de se deixar fotografar ao lado de membros da seleçâo, encorajando jornalistas simpatizantes a chamá-lo de "o décimo segundo hörnern do time". No Cone Sul, muitosigníficativamente.tócnicos brasíleiros treinaram as seleçôes do Uruguai e do Paraguai no estilo de jogar característicamente brasileiro, reforcando a imagern do status do Brasil e sugerindo a esses pequeños Estados a necessidade de estar ao lado desse país para vencerem.
Tudo isso mudou ao final dos anos 70 e no correr dos anos 80, como também a prosperidade económica do Brasil. A Argentina, sua histórica rival, ganhou as Copas do Mundo de 1 978 e 1 986, desperdigando, ñas fináis do campeonato de 1 990, ? urna cobrança de penalti a seis minutos do final do jogo, a chance de derrotar a Alemanna Ocidental e ganhar, assim, aquele que seria o seu terceiro campeonato mundial. Agora é o presidente argentino Carlos Menem que ó visto no campo corn Diego Maradona - e nao o presidente Mòdici com Peló -, conquistando o orgulho nacional dos argentinos. Alóm disso, a Italia venceu sua terceíra Copa do Mundo em 1982, assim como a Alemanha Ocidental em 1 990, ambas igualando a façanha brasileira e deixando implícito, ao menos para os fas do futebol, que o Brasil nao pode, pelo menos nesse momento, derrotar as melhores seleçôes europóias. Pode ser em grande parte casual que o sucesso brasileiro no futebol tenha coincidido, ñas tros últimas décadas, com o desempenho espetacular da economia brasileira mas, especialmente por se dare m urna após a outra, as duas ocorrências agiram no sentido de estabelecer o torn para diferentes eras.
O passado recente certamente tern sido dése neo rajador para a economía brasileira. Mais de um milhâo de pessoas perderam seus empregos no primeiro ano da Presidencia de Fernando Collorde Mello, e a política projetada para acabar com a hiperinf laçâo causou urna séria recessáo no país. Aqui, corno em outras casos, incluindo os EUA ? a URSS, quando a recessáo económica reduz o PNB, eia também ateta o melhor indicador global que temos do poder e influencia nacionais. A performance económica recente também foi inexpressiva para outros países da América do Sul, tendo em vista que as receitas em petróleo da Venezuela nao conseguiram atingir os aumentos dramáticos do inicio dos anos 70, e que a Argentina, tal como o Brasil, trabalha comsucesso incerto paracombaterahiperinflacáo e privatizar empresas públicas que drenam constantemente o Tesouro Nacional. Cotejado com seus vizinhos, entáo, o Brasil nao foi especialmente mal nos anos recentes, mas se comparado aos sucessos e ao espirito de otimismo do inicio dos anos 70, os brasileiros estäo muito menos seguros quanto ao seu futuro. Essa situaçâo sugere que, especialmente se John Ravenhill estiver correto em sua previsáo de que "os assuntos internacionais, nos anos 90, seräo dominados pelas questöes económicas", ele também pode estar sendo preciso ao concluir que "é altamente improvável que países do Sul estejam coletivamente aptos a exercer a influencia de que desfrutaram brevemente nos anos 70". 24
O inicio da década de 70 foi também o ponto culminante do reconhecimento, pelos EUA, dos progressos brasileiros. Armin ?. Ludwig exagera um pouco ao escreverque quando Henry Kissinger foi a Brasilia em 1973, "os EUA virtualmente conferiram o manto da llderança latino-americana ao Brasil",25 mas o reconhecimento norte-americano das realizacóes brasileiras neste períodofoi seguramente expressive. Aconcessâo de um manto de liderança era algo, no entanto, que estava além da capacidade dos EUA ou de seu secretario de Estado; secretarios posteriores divergiram do Dr. Kissinger em inumeras questöes, incluindo o firme apoio a regimes militares. Mas em 1 973 as conquistas brasileiras se tornaram tao impressionantes que requeriam reconhecimento.
Na análise da historia das relaçôes do Brasil com os Estados vizinhos durante essas décadas, urna dimensáo que se destaca ó a rejeiçâo brasileira a ameaças, intímídacóes e ao uso da força, características que atuam no sentido de definirás relaçôes internacionais da América do Sul e tornar o seu contexto muito diferente daquele, digamos, do Oriente Mèdio ou da península coreana. A tradiçâo brasileira enfatiza a diplomacia e nào a guerra, sendo este principio de fato colocado em pràtica mesmo nos anos de 1 964 a 1 985, quando o país esteve sob governo militar. Conforme o discurso do diplomata José Oswaldo de Meira Penna, em 1972, na Escola Superior de Guerra, onde o general Golbery do Couto e Silva e outros sublinhavam aspectos semelhantes ao desenvolverem a doutrina do "Estado de Segurança Nacional",
"se o Brasil realmente deseja ser uma grande potencia, e isto implica o potencial e concreto exercício da força bruta, estaremos nos dispostos, neste nivel, a repudiar a tradiçâo diplomática pacífica para nos engajarmos em aventuras militares que, infelizmente neste mundo cruel das relaçôes internacionais, sao as únicas a consolidar o status político de um país?".26
O Brasil emergiu de duas décadas de governo militar por meio de urna transiçâo gradual para a democracia dirigida pela elite militar que, em nenhum momento, durante os anos em que esteve no poder, tentou obter apoio interno via o aventureirismo militar externo.27 Entäo, como agora, muitos brasileiros concordavam com a perspectiva de Geraldo Lesbat Cavagnari Riho de que "o cenário sul-americano nâo se mostrou propicio à solucáo violenta dos conflitos, e uma pretensâo hegemónica, seja eia quai for, tern um custo alto na América do Sul".28
Esta orientacáo, fundamentalmente pacífica, foi importante porque sem eia haveria a possibilidade de que conflitos entre o Brasil e um de seus vizinhos pudessem alterar a balança de poder na América do Sul de forma imprevisível. Como demonstrou recentemente Bruce Bueno de Mesquita, no caso da hegemonía alema, guerras que criam novos padróes de hegemonía podem ser restritas e desencadeadas sem nenhuma intençâo de atingir a hegemonía perse.29 Da mesma forma, como argumenta persuasivamente Jorge Domínguez, quando os presidentes sao traeos, os burócratas podem buscar novas iniciativas nos assuntos externos, como no caso da moratoria brasileira da divida externa sob a Presidencia de José Sarney em 1 987, das novas iniciativas venezuelanas para a América Central sob o governo de Luís Herrera Campins, ou do comprometimento militar soviético no Afeganistäo com Leonid Brejnev.30 Em vez de encorajar a burocracia aasseguraracontinuidade política, a fraqueza de um presidente pode, de fato, permitir que se tomem novas e problemáticas iniciativas, de tal forma que, sem orientaçoes fundamentáis, como a atitude pacífica do Brasil na América do Sul, esta fraqueza pode criar um serio perigo de intervençâo para a naçâo e seus vizinhos. A intervençâo soviética no Afeganistäo é apenas um dos exemplos.
Além disso, quando as Forças Armadas brasiletras atuaram em conjunto corn suas contrapartes no Cone Sul, seus membros estavam, tambóm, fortemente influenciados poressasmesmas normas da cultura e tradiçâo políticas brasileiras. Por exemplo, quando o Brasil e o Chile eram governados por regimes militares de "linha-dura", após a queda de Salvador Allende em 1973, os brasileiros ajudaram oficiáis chilenos a estabelecer o aparato repressivo da administraçâo Pinochet. O falecido Kaiman Silvert, naquela época um importante especialista norte-americano no Cone Sul, observou que os brasileiros levaram aparelhos de tortura para o Chile, ficaram la durante os primeiros meses do regime de Pinochet e, entâo, característicamente, deixaram o país horrorizados com o prazer com que alguns chilenos usavam os aparelhos.31 Ligaçoes globais entre as elites brasileira e chilena permaneceram existindo, especialmente como um contrapeso à Argentina, todavía isto nao encorajou os brasileiros a perseguirem urna política expansionísta na regiáo.
Urna outra dimensáo na quai a orientacáo pacífica do Brasil se revelou importante foi o crescimento da industria nacional de armamentos. O Brasil é regularmente citado como o maior exportador de armas do Terceiro Mundo e o quinto maior exportador do mundo; as vendas externas de armamentos melhoraramsignificativamente a balança de pagamentos brasileira por muitos anos. Ironicamente, entretanto, essas vendas também se contrastam com a atitude fundamental do Brasil no seu proprio Continente, e também eoloeam os brasileiros na defensiva quanto à venda de armas para o Terceiro Mundo, particularmente para o Oriente Medio.
Ao mesmo tempo em que desenvolvía a industria doméstica de armamentos o Brasil expandía seus laços económicos na América do Sul, redefinindo a natureza de sua influencia na regiáo. Estabeleceu-se urna cooperacelo económica marcante com a Argentina, e estâo sendo implementadas políticas para ampliar essa iniciativa no ámbito do Cone Sul. Baseado em protocolos de 1 986, num tratado brasi leiro-arge mino de 1 988 e na açâo congressual levada a efeito em 1 989, o programa prevé acriaçâo do livre comercio entre Brasil e Argentina num período de dez anos.32 A queda das barreiras comerciáis e a ligacáo já realizada entre as duas economías sao conquistas expressivas e, tal como no caso da Comunidade Européía, a estrategia oferece a promessa de minimizar a competicáo nacional por meio dos laços económicos, elevando, simultaneamente, o nivel de vida em ambos os países. Foi nesse contexto que o ministro das Relaçôes Exteriores brasileiro, Francisco Rezek, respondeu à Iniciativa das Americas do presidente Bush, observando que nao era "urna idóia tâo ambiciosa quanto o Mercado Comum do Cone Sul" e que, nesta área, "existe urna vontade política irreversível para estabelecer um mercado comum até 1 994".» Esses objetivos, na extensâo em que possam ser realizados, fortalecerían! ampiamente a prosperidade econòmica e as institutes democráticas na regiáo.
O Paraguai, que continua sendo o país mais problemático na área em termos de transiçâo para a democracia, também fornece um interessante "caso-teste" (test-case) para o crescimento da hegemonia brasileira. Foi no Paraguai do general Alfredo Stroessner que o presidente Juan Perón primeiro se exilou quando as Forças Armadas argentinas depuseram-no em 1 955; foi de Stroessner que o atual presidente peronista da Argentina, Carlos Saul Menem, recebeu um dos muitos carros de corrida que ele adora dirigir, antes da expulsäo do general da Presidencia paraguaia em 1 9S9.34 Näo obstante, para a década de 1 990, Wayne Selcher provavelmente está correto quando escreve que "o Paraguai será progressivamente incorporado à crescente e diversificada economia do sul do Brasil",35 especialmente porque os brasileiros compram a maior parte da parcela paraguaia da energia hidrelétrica gerada pela represa de Itaipu, que o Brasil construiu conjuntamente com o governo de Stroessner. Para que a Argentina voltasse a exercer urna maior influencia sobre o Paraguai, sua economia teria de crescer num curto espaço de tempo o que a economia do Brasil cresceu em décadas, e isto continua sendo bastante improvável. Históricamente, durante a última metade do século XX, a influencia brasileira no Paraguai tem crescido, näo apenas por causa das iniciativas do Brasil neste país, mas também pelo declínio relativo da Argentina, que, por sua vez, näo apresenta quaisquer sinais de reversäo.
Num contraste acentuado com a cooperaçâo que mantém com os países do Sul, Paraguai, Argentina, Uruguai e Chile, o Brasil enfrenta urna situaçâo diferente em suas fronteiras do Norte, onde os esforços brasileiros devem ser vistos sob urna perspectiva bem diferente. Là, a presença de garimpeiros de o uro e de traficantes de drogas implica tarefas para as Forças Armadas brasileiras semelhantes àquelas desempenhadas pelos "Comandos do Texas" durante os anos 40 do século passado, ou pela Policía Montada do Noroeste, no que hoje é Alberta, na década de 70 do mesmo século, tarefas essas absolutamente distintas daquelas próprias aos soldados de naçôes que buscam maior hegemonía por meios militares. Os planejadores militares brasileiros referem-se as suas tropas ñas fronteiras do Norte como "senti nelas avançadas", o que parece urna desig naçao apropriada, dado o fato de que apenas 600 homens patrulham 1 1 mil km ao longo das fronteiras com a Colombia e a Venezuela, deixando trechos de ató 3 mil km sem patrulhamento. O projeto Calha Norte, para incrementar a presença brasileira na regiäo, permanecía apenas no papel em 1 991 ,36 sugerindo que ainda se passaräo muitos anos antes que a colonizaçao se torne extensiva.
Na imensa Bacia Amazónica, ao norte e a oeste de áreas densamente povoadas do Brasil, sucessivos govemos seguiram políticas lógicas e consistentes, tendo em vista incorporar mais efetivamente esta área à naçao. De grupos guerrilheiros como o Sendero Luminoso, no Peru, ou o M-19, na Colombia, a regimes outrora simpáticos a Cuba e à Libia no Suriname e na Guiana, o Brasil tem se defrontado com urna situaçâo relativamente instável e com movimentos de orientaçao marxista em suas fronteiras Norte e Oeste. Contra esta ameaça, urna resposta foi a construcáo, nos anos 70, da rodovia Transamazônica, abrindo caminho para a colonizaçao vinda do resto do Brasil e, incidentalmente, dando aos militares brasileiros acesso mais fácil às fronteiras, no caso da instabilidade ali tornar este acesso necessario. A liderança brasileira na Bacia Amazónica ficou evidente näo so pela sua iniciativa do Tratado de Cooperaçâo Amazónica em 1 978, como também, mais recentemente, pela coordenaçao de atividades de pesquisa sobre questöes amazónicas empreendidas por universidades da regiáo.37 O Brasil tem fornecido ajuda, tecnologia e assistência militar ao Suriname,38 numgrau de preocupacäo quanto à possível instabilidade nesta pequeña naçao, que se esperaría de urna potencia hegemónica regional.
Um outro desafio para o Brasil no que se refere à questäo da Amazonia tem como base as severas críticas feitas por alguns setores da comunidade internacional quanto às políticas ambientáis ali sancionadas. Em resposta, os brasileiros revelaram-se altamente sensíveis ao criticismo internacional. E nquanto técnicos especialistas repudiam a letargia da burocracia brasileira em lidar com os problemas ambientáis,39 personalidades políticas enfatizam a soberanía brasileira, apontam para os progressos recentes e observam que os recursos amazónicos devem ser usados para aliviar a pobreza nacional.40
Em junho de 1 992 o presidente Collor será o anfitriáo de urna importante Conferencia das Naçoes Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, e a Roberto Guimaräes, um destacado especialista brasileira nos aspectos políticos das mudanças ambientáis, foi dado o encargo de coordenar as estrategias brasileiras para esse evento. Além disso, esforços impressionantes estäo sendo realizados para reverter a degradaçâo ambiental no Rio de Janeiro, onde ocorreräo alg urnas sessöes dessa Conferencia, simultaneamente a outras sessöes na pròpria Bacia Amazónica. Entre esses esforços destaque-se os novos regulamentos que requerem que até 1997 as emissöes das descargas dos auto move is no Rio de Janeiro e em Sâo Paulo cheguem aos padröes que hoje vigoram em Los Angeles e Tóquio.41 Durante o seu primeiro ano de governo, o presidente Collor certamente concedeu prioridade às questöes amazónicas e ambientáis, e parece provável que esta prioridade vá permanecer no decorrer do seu mandato.
O Brasil, os EUA e as Iniciativas Hemisféricas
Ao longo da maior parte dos séculos XIX e XX as relaçôes do Brasil com os EUA influenciaram o contexto das suas relaçôes com outros países da América do Sul, e dadas as iniciativas hoje em discussäo para urna maior integraçâo económica no hemisferio na próxima década, aquela relaçâo promete ser tao importante nos anos 90 e no século XXI como o foi durante quase 200 anos. Emtermos históricos, diferentemente de seus vizinhos sul-americanos, o Brasil aceitou e apoiou oficialmente tanto a Doutrina Monroe, de 1 823, quanto o corolario Roosevelt daquela doutrina, em 1904. Por causa do tamanho e da força de sua naçâo, os brasileiros se sentiam menos ameaçados pelos EUA que os países menores aodefenderem seus díreitos de fronteira no Norte contra as potencias européias. Além disso, como escreve Bradford Burns em relaçâo ao Barâo do Rio Branco, o legendario ministro das Relaçôes Exteriores brasileira de 1 902 a 1 91 2, o exercício da hegemonía norte-americana no Caribe levantava a questáo de se o Brasil também poderia exercer maior influencia e maior hegemonía ñas suas fronteiras. Como observa Burns:
"quando Rio Branco admitiu que a intervençao dos EUA em Cuba, em 1906, era 'necessaria', ele estava possivelmente desejando que o Brasil pudesse fazer o mesmo, sobcondiçoes semelhantes, no Paraguai e Uruguai. Ele se preocupava com a questáo de como se poderia impor responsabilidad aos governos menos estáveis da América do Sul".42
Alguns diplomatas do Itamaraty passaram a acreditar que os líderes norteamericanos queriam ver a influencia brasileira expandida na América do Sul,43 e esta crença ganhou maior proeminência durante a cooperaçâo Brasil-Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial,44 especialmente por causa do medo dos EUA em relaçâo aos simpatizantes fascistas na Argentina durante a guerra e suas tentativas de golpear a influencia de Juan Perón após aquela.45
Burns sintetiza as relaçôes Brasil-EU A na era do Baräo do Rio Branco ao afirmar que "parece ter havido um acordo tácito pelo qual o Brasil reconhecia a hegemonía dos EUA para a América do Norte e os EUA respeitavam as pretensöes brasileiras de hegemonía na América do Sul".46
Para ser mais preciso a esse respeito, seria necessario definir mais claramente o conceito de "hegemonía" e suas limitaçôes, com o objetivo de especificar quais líderes em cada país conferiam algumas dimensöes de hegemonía a outra Estado-naçâo, e de registrar corno essas percepçôes de hegemonía entre os tomadores de decisáo (decision-makers) mudaram, no Brasil e nos EUA, à medida que o século XX avançava.
As relaçoes bilaterais envolvidas nesses cálculos precisarci seranalisadas com grande cuidado, urna vez que sao muito mais complexas do que podem indicar simples resumos ou breves estatísticas. Na Argentina, claramente, os intéresses dos EUA se movimentaram no sentido de preencher o vacuo deixado pela retirada parcial dos interesses británicos ñas décadas de 30 e 40.47 A despeito do apoio dos EUA à Grä-Bretanha na Guerra das Falkland/ Malvinas em 1982, e apesar do esaltamento dos laços argentino-brasileiros durante os anos 80, o presidente Carlos Menem tern agido no sentido de aproximar seu país dos EUA, como íicou evidente no envió de dois navios da Marinha argentina para se juntarem à coalizáo que combatía o Iraque na Guerra do Golfo Pérsico.48 Em contraste, noParaguai.emborasepossacaminharao longo da Avenida Huey Long em Assunçâo, os EUA sempre permaneceram como um poder distante, bem mais af astado e menos ameaçador do que os "gigantes" ao longo dasfronteiras paraguaias. Durante os anos 70 e 80, a influencia brasileira no Paraguai tendeu a substituir a da Argentina e näo a dos EUA, como também, em menor grau, no Uruguai.
Ao menos em alguma medida, a Guerra do Golfo Pérsico, em 1991, alterou a relaçâo especial entre Brasil e EUA criada entre 1 937 e 1 945. Como escreveu recentemente Stanley Hilton, tal relacionamento "significava, da perspectiva brasileira, que os EUA nao apenas reconheceriamasreivíndicaçôes brasileiras de supremacía na América do Sul, como subscreveriam o seu impulso para estabeleceresta primazia em face do desafio perpetuo vindo da Argentina".49 O Brasil e os EUA foram aliados muito próximos durante a Segunda Guerra Mundial, em contraste corn a neutralídade que a Argentina manteve até praticamente o firn da mesma, e este fato ditou as orientaçoes políticas dos EUA em relacáo ao Brasil e à Argentina nos anos posteriores. Por outro lado, na Guerra do Golfo Pérsico o presidente Collor apoiou publicamente as resolucöes das Naçôes Unidas e criticou as violaçoes iraquianas da Convençâo de Genebra sobre prisioneiros de guerra,50 mas nao comprometeu quaisquer forças brasileiras semelhantes as que lutaram com os aliados na Italia durante a Segunda Guerra Mundial. No campo de batalha, os iraquianos carregavam equipamentos produzidos no Brasil, incluindo o Astros-2, urna arma de artilharia defensiva terra-a-terra.51 Quando o presidente Collor foi indagado, após discurso em almoço na prestigiosa Americas Society, em Nova lorque, a respeito das armas brasileiras para o Iraque durante a Operaçao Tempestade no Deserto, respondeu correta mas defensivamente, afirmando que "as vendas brasileiras sao responsáveis por menos de 1% da máquina militar do Iraque; nâo foi o Brasil que armou Saddam Hussein, foram os países desenvolvidos".52
Se a posiçâo do Brasil com relaçâo à Guerra do Golfo Pérsico foi marcadamente diferente que havia sido na Segunda Guerra Mundial, a da Argentina também o foi. Dessa vez, os argentinos decidiram servir ao lado das forças do Canadá, Grá-Bretanha, Australia, EUA e outros membros da coalizáo. Ao comprometer navios argentinos na guerra, ao mesmo tempo em que desafiava abertamente a opiniao pública de seu país quanto a esta questäo, o presidente Menem posicionou solidamente a Argentina junto as forças de coalizáo lideradas pelos EUA, construindo, assim, capital diplomático para o futuro e possibi litando às companhias argentinas a reivindicacáo de um papel especial na reconstruçâo do Kuwait. Evidentemente, as duas guerras em questäo foram muito diferentes em seu alcance; de todo modo o apoio dos EUA ao Brasil nâo irá se alterar em grandes proporçoes, dada a relevancia brasileira na America do Sui, os laços históricos entre os dois países e os interesses nacionais envolvidos. Mas, especialmente para um presidente como George Bush, para quem a lealdade pessoal se classifica entre as maiores virtudes, o apoio argentino na guerra näo será esquecido brevemente.
Em retrospecto, as relaçoes Brasil-Estados Unidos na era da Guerra do Golfo Pérsico seräo mais urna etapa em um processo de evoluçâo que vem aiterando este relacionamento desde fináis dos anos 60, quando membros da Força Expedicionaria Brasileira que serviram na Italia durante a Segunda Guerra Mundial figuravam proeminentemente no governo estabelecido em 1 964. A iniciativa brasileira de estreitarlaços cornos Estados vizinhosdesdeaquelaépoca esteve intimamente ligada à orientaçâo que o país mantinha em relaçâo aos EUA, mas, um tanto surpreendentemente, nao visava qualquer competiçâo direta por hegemonía na regiäo. Como resumiu hábilmente Alexandre Barros, com um penetrante olhar brasileiro para as mitologías e ironías envolvidas, foi a decisáo de "diversificar a dependencia", no final dos anos 60 e nos anos 70, que tornou possível tal iniciativa. Diversificaçâo aquí significava que o Brasil deveria se tornar menos dependente dos EUA, menos dependente do café e mais integrado as outras partes do mundo.53 Esta orientaçâo representava claramente os interesses nacionais brasìleiros, e näo necessariamente solapava a solidez histórica das relaçoes Brasil-Estados Unidos. Urna conseqüencia lógica de tal orientaçâo foi o aumento expressivo do número de visitas presidenciais, a partir de 1979, com o presidente Joáo Figueiredo, aos países vizinhos,54 näo tanto com o objetivo de ali suplantar a influencia de outras naçoes, mas muito mais para expandiré diversificar o alcance das políticas e intéresses brasìleiros. Outro desdobramento dessa diversificaçâo é que, a despeito de sua enorme divida externa, no que se refere àsdecisoes básicas de sua economia e de seu sistema politico, os brasìleiros näo estäo à mercè de companhias estrangeiras, de organizaçôes internacionais ou dos preços no mercado mundial para um ùnico produto primario. O fato de apenas 18 empresas entre as 50 maiores no Brasil serem estrangeiras, em 1985, deve, como argumenta Ronaldo Muncke, "dispersar quaisquer 'ilusoes dependentistas' remanescentes quanto a pobres países subdesenvolvidos sendo man ipu lados por mu ttinacionais e pelo FM I".55
Nesso contexto, urna das possibilidades dos anos 90 que podere ter efeitos de longo prazo, é a sugestáo de que ató o sóculo XXI o mundo estará crescente mente dividido entre tros grandes blocos comerciáis: um bloco asiático lideradopelo Japáo, umbloco europeu com urna vibrante e mais inclusiva ComunidadeEuropéiae urna área americana de livre comercio abrangendo de Ottawa a Buenos Aires. Seria do interesse de todos um corte de tarifas mundial e nâo apenas regional; mas para obter as condiçôes necessárias à liberalizaçâo comercial, a razáo básica para a construçâo do bloco ó forcar concessöes tarifarias da Europa e da Asia. O governo mexicano já demonstrou interesse consideravo! em se incorporar à zona de livre comercio estabelecida entre o Canadá e os EUA, e os brasìleiros estäo trabalhando para criar algo semelhante no Cone Sul. Se tal zona pudesse ser definida de forma a englobaras Americas do Norte, do Sul e Central, corn os governos atingi ndo seus atuais objetivos de combate à inflaçâo crònica e privatizaçâo de empresas estatais ineficientes, entáo a uniäo seria ainda muito mais efetiva, especialmente em termos de recursos naturais e do tamanho de seu mercado consumidor.
Lembrando em linhas gérais a "regionale açao" do mundo imaginada por George Orwell, em 1984, esta uniäo diferiría categoricamente da visäo de Orwell tambómem outros aspectos: nâo envolvería a guerra constante, o autoritarismo do "Grande Irmâo" ou a perversäo da tecnologia pela "Policía do Pensamento". Que lugar caberia ao Brasil em tal hemisferio e em tal mundo? Talvez, se nos permitirnos urna visäo do futuro mais rósea que a do passado, o Brasil podería desfrutar de urna economia e comercio mais estáveis, de considerável influencia política na América do Sul e de urna distribuiçâo de renda bem mais equitativa, de forma que seu mercado consumidor seja significativamente expandido e suas instituiçôes democráticas fortalecidas.
Falando por muitos intelectuais brasìleiros, o decano Helio Jaguaribe considerou a proposta inicial do presidente Bush para urna maior integraçâo económica das Americas do Norte, Central e do Sul "extremamente interessante". Entretanto, de urna perspectiva brasileira ele observa que, para que sejaefetivo, o modelo deve adotar "políticas nao-discriminatorias para países comníveiscientífico.tecnológicoeeconómico mais baixos".66 O Brasil é, segundo ele, um país ocidental com laços de sofidariedade com outras naçôes ocidentais, e seus líderes querem ve-?? assim reconhecido. Nao obstante, na era da Guerra Fría o Brasil näo adotou urna postura militantemente antí-soviética, porque os brasileiros viam o poder soviético como "um elemento estabilizador no sistema mundial". Jaguaribe acredita que, após o período de Gorbachev, "o futuro problema que a nossa diplomacia terá de enfrentar é exatamente como proceder, maniendo nossa orientaçâo ocidental, corn suas relaçoes próximas aos E UÀ, e ao mesmo tempo evitando a posicäo de um satélite, devido à hegemonía internacional que os EUA estâo adotando".
Jaguaribe prossegue acrescentando que a nova pax americana, como ele a chama, vai ao encontró dos valores e de muitos dos objetivos do Brasil, mas poderia também diminuir sua margem de manobra. Para o Brasil, um caminho que foge a esta hegemonía americana, e que nao tem nada a ver com a posicäo brasileira no Cone Sul, é o de reforçar laços com as naçôes lusófonas na Europa e na África, usando os vínculos brasileiros com Portugal para ganhar "urna porta de entrada" no Mercado Comum Europeu, e, ao mesmo tempo, construir laços económicos e culturáis com as naçôes de lingua portuguesa na África. Se a perspectiva do decano Jaguaribe for confirmada ñas próximas décadas, o interesse dos brasileiros pela África deveria ser prestigiado e se possível encorajado por Estados da Europa e América do Norte, urna vez que ainda há tanto por realizar no desenvolvimento africano.
Um perigo que outras brasileiros vêem numa integraçâo económica mais ampia dentro das Americas é a possibilidade de um controle excessivo por parte dos EUA. Esta preocupaçâo foi intrigantemente prenunciada, em 1 985, por María da Conceícao Tavares, urna economista brasileira que an a lis ou a reafirmaçâo da hegemonía dos EUA nos anos 80 nao apenas dentro das Americas, mas também vis-à-vis o Japáo e a Alemanha. Escrevendo como brasileira, eia declara apertamente, por exemplo, que "estamos totalmente subordinados à política económica americana em relacáo a exportaçôes, taxas de càmbio e divida".67 Com urna afirmaçâo que surpreendentemente antecipa as constantes referencias do presidente Bush em 1 990 e 1 991 a urna "nova ordern internacional", Tavares escreveu em mais detalhes:
"Até 1980 ou 1981 nâo seria razoável supor que os EUA teriam sucesso em reafirmar sua hegemonía sobre os competidores ocidentais, muito menos que marchassem em direçâoa urna nova ordern económica internacional e urna nova divisáo do trabalho sob seu controle. Hoje, é bastante provável que isto aconteca".58
Tavares vê a nova ordern económica se efetivando nâo pelo planejamento, mas pela coni usáo e disputa corpo a corpo no interior da administraçâo do presidente Ronald Reagan, por intermedio de urna combinaçao entre a política fiscal expansiva, que redirecionou a renda para os ricos, e urna política monetaria restritiva que manteve altas as taxas de juros e atrai u mais e mais capital de investimento para os EUA.59
Embora Tavares, de urna perspectiva brasileira, claramente tema a hegemonía norte-americana,60 nâo obstante eia sintetiza a mudança global em termos que agradariam aos estrategistas de Reagan e Bush: "os EUA estâo abrindo sua economia e, ao fazê-lo, estimulam umatransferência maciça de renda e capital do resto do mundo para os EUA".6' Outras certamente criîicariam a enorme divida que os EUA adquiriram sob seus dois últimos presidentes, ou as dificuldades em financiar adequadamente avanços educacionais ou tecnológicos no setor civil. Mas, vinda no rastro da vitória da coalizáo na Guerra do Golfo Pérsico, a previsáo de Tavares quanto a urna reafirmaçâo da hegemonía norte-americana parece tanto mais justificada. De fato, urna vez que a diplomacia do presidente Bush foi capaz de manter a coalizáo unida em tempo de guerra, que as ameaças da URSS e do Pacto de Varsóvia declinaram marcantemente com o firn da Guerra Fria e que a tecnologia militar aliada se revelou notavelmente eficaz contra o Iraque, toma-se necessario pensar sobre as formas pelas quais os EUÀvêm reafirmando sua influencia fora das dimensöes puramente económicas.
Um aspecto da situacáo internacional que poderia diminuir o peso da influencia dos EUA seria a expansáo da ligacáo histórica entre Japáo e Brasil. Cerca de 200 mil japoneses imigraram para este país ñas décadas de 30 e 40, e hoje o Brasil mantém laços mais extensos com o Japáo que qualqueroutra naçâo da América Latina. Os descendentes de imigrantes japoneses sao importantes no comercio e tecnologia brasileiros, assim como ñas culturas agrícolas intensivas em áreas como os famosos "cinturóes verdes" ao redor de Brasilia. Recentemente, mais da metade dos lugares em enormes aviöes tem sido ocupada por "trabajadores visitantes" luso-japoneses, tanto homens como muIheres, que migram, temporariamente, para os trabalhos mais subalternos no Japáo, para entäo retomarem ao Brasil, muitos anos depois, com dinheiro suficiente para abrir seus próprios negocios. Esses Jacos étnicos torn am o investimento japonés no Brasil um tanto mais provável, talvez algum dia influenciando também a compra de bens imobiliarios como os que os japoneses vém adquirindo na Australia e no Havaí. Ferias ou aposentadoria no Brasil nao sao tao "estrangeiras" para os japoneses como o sâo em outras naçôes latino-americanas, e os recursos naturais brasileiros certamente impressionam os japoneses. Conseqüentemente, se um bloco comercial americano nao operar apenas para confrontar os da Europa e da Asia nos próximos anos, urna das razöes poderia ser o fato de que as relaçôes entre Brasil e Japäo atuariam no sentido de multilateralizaros vínculos entre as principáis naçôes dentro dos blocos.
A futura eficacia das ligaçôes entre o Brasil, os EUA e as outras naçôes das Americas dependerá nao só do reconhecimento da mutualidade dos beneficios a serem alcançados por meio da intensificaçâo da cooperaçâo, mas também da capacidade das elites políticas de convencer, seja o público ou os principáis grupos da elite em seus respectivos países sobre a realidade desses beneficios. Por exemplo, os EUA também sao atetados pelas pesadas dividas dos Estados latino-americanos porque, como apontou recentemente Sol Linowitz, desde 1 982 os mercados latinoamericanos para as exportaçôes norteamericanas tém-se reduzido de 20 a 30 bilhöes de dólares por ano.62 Um crescimento económico mais efeti vo na América Latina produziria mais prosperidade e mais empregos também nos EUA, ao estimular as industrias de exportacáo. Se os líderes norte-americanos podem perdoar o Egito por bilhöes de dólares de sua divida em troca da participacáo na coalizáo contra o Iraque, nao poderiam eles agir até mais efetivamente com os latino-americanos para reduzir o f ardo da divida na regiáo, especialmente quando isto é do interesse de todos os Estados americanos?
A longo prazo, a paz e a harmonía ñas Americas seráo também fortalecidas por governos democráticos, e a elevacáo do padráo de vida real da maioria dos latinoamericanos continua sendo a forma mais segurado defenderás instit uiçoes democráticas novamente implantadas, durante a última década, e m naçôes como o Brasil, Argentina e Chile. Os líderes políticos destas naçôes devem promover a efetiva articulaçâo e coordenaçâo dos interesses nao só da massa de cidadáos e eleitores, mas também dos principáis grupos da elite que ali exercem tanta influencia, como o empresariado, os sindicatos, as Forças Armadas e a Igreja Católica. Para dar apenas um exemplo, o corpo de oficiáis das Forças Armadas brasileiras tem-se dividido, desde os anos 60, corn relaçâo as estrategias de desenvolvimento mais apropriadas para o Brasil e aos melhores padrôes de ligaçâo do país a outros Estados-naçôes. De um lado, internacionalistas dentro do corpo de oficiáis favo rece m a colaboraçâo com os EUA ? outras naçôes, enquanto oficiáis mais nacionalistas defendem urna estrategia de desenvolvimiento mais independente. Como é possível se avallar pelos escritos do corpo de oficiáis, os nacionalistas cresceram dramáticamente em força entre 1 963 e 1 973, mas declinaram um pouco entre 1973 e 1 983.» Urna chave para a liderança efetiva dentro do Cone Sul será o reconhecimento, por parte de chefes-de-governo e seus conselheiros, das perspectivas e padrees de interesse que existem hoje dentro desses segmentos principáis da elite; o estabelecimento de objetivos e estrategias para o desenvolvimento económico que levem em conta esses interesses; e, entäo, o convencimento dos membros das elites a contribuir para que tais estrategias funcionem. Se as elites forem genuinamente consultadas quanto às estrategias, será tanto mais provável que ajudem na sua ímplementacáo.
Conclusôes
A imagern que emerge de urna avaliacáo cuidadosa das intençôes e capacidades brasileiras em relaçâo à hegemonía regional é a de urna naçâo de estatura pròpria e parcialmente realizada, se comparada à de seus vizinhos, cujos cidadaos, porém, ainda estäo preocupados com o desenvolvimento doméstico e säo constrangidos por urna variedade de forças tanto internas como externas. Por décadas, os planejadores e estrategistas brasileiros articularam visöes claras do desenvolvimento e divers if icaçâo econòmica direcionados para o aumento do poder nacional; porém, essas visöes estavam muito mais próximas da realizaçâo no período de rápido crescimento económico anterior a 1 973 que ñas duas décadas posteriores. Enquanto alguns no corpo diplomático e ñas Forças Armadas däo atençâo às questöes de segurança e influencia regional do Brasil, tanto as pesquisas nacionais de opiniáo pública como discussöes com destacados especialistas brasileiros em assuntos externos demonstrain que os problemas prementes da economia doméstica permanecem sendo a preocupaçâo básica das elites e do povo. A alocaçâo de recursos governamentais coincide com essas preocupaçôes, urna vez que sao comparativamente pequeños os gastos com as Forças Armadas, com a colonizaçâo da Bacía Amazónica ou ainda com ajuda externa.
Numa perspectiva mais ampia, a abordagem brasileira em relaçâo à hegemonía regional parece ser bem mais construtiva que a de algumas outras naçôes na Europa, Asia ou Oriente Medio, no curso do sóculo XX. A visäo militar da hegemonía revelouse desastrosa para Hitler, para Saddam Hussein e para os militaristas japoneses dos anos 30; os brasileiros rejeitaram-na ao longo de sua Historia, e continuam a rejeitáia atualmente. Sua pròpria visäo constituí, de fato, um modelo bem mais eficaz, já que os brasileiros se concentraran! no crescimento económico interno e na integraçâo nacional, ao mesmo tempo atuando crescentemente no sentido de avançar esses objetivos por intermedio da cooperacáo internacional, tanto dentro de sua regiäo quanto fora delà.
E quanto ao futuro do Brasil? No clima da séria recessâo económica de 1 990 e 1 991 , com a economia se contraindo e as expectativas seriamente abaladas, é difícil manter o velho otimismo e acreditar, como as pessoas sempre disseram no maíor país católico da Terra, que Deus é realmente brasileiro.64 Nao obstante, no longo prazo, a economía irá progredir, talvez de umaf orma dramática novamente, e assim o poder nacional e as capacidades do Brasil. Para tanto, urna grande parte depende de liderança e da política, isto é, da capacidade dos políticos brasileiros de entenderem as bases de renovaçâo do crescimento e de convencerem os cidadaos e os diversos grupos a aceitarem as políticas que traráo crescimento mais efetivo. Decisóes cruciais deveräo sertomadas ñas áreas de geraçâo e distribuiçâo da renda nacional e em relaçâo ao meio ambiente, como tambóm em áreas de decisäo que parecem tocar mais diretamente a política externa e as capacidades nacionais.
Na América Latina, o Brasil permanecerá sendo, de longe, o Estado mais poderoso; no hemisferio e no mundo, sua influencia permanecerá circunscrita ao poder de outras naçôes e por forças sobre as quais os brasileiros têm controle apenas limitado. Quâolongeainfluênciabrasileirairaavançar dentro de cada um desses contextos vai depender, como no passado, da visáo da burocracia pública e dos políticos brasileiros com relaçâo à mescla de políticas que sâo do interesse nacional a longo prazo, e também de suas habilidades para persuadir seus concidadâos a compreenderem esses objetivos e implementarem tais políticas. No futuro, corno no passado, o poder nacional, seja ele exercido regional ou internacionalmente, dependerá nao apenas dos obvios recursos da naçâo brasileira, mas também da liderança política e das decisöes coletivas quanto à utilizaçâo daqueles recursos de formas específicas.
(Recebido para publicaçâo em maio de 1991)
Resumo
Hegemonía Regional e o Caso do Brasil
Durante m uito tempo, observadores acreditaram que o Brasil tornar-se-ia um poder hegemônico na América do Sul e alguns avanços ocorridos entre os anos 60 e 90 just ifica ram tal cren ça. Esses avanços incluíram o aumento espetacular do Produto Nacional Bruto brasileiro, a expansäo acelerada da industrializaçâo, a constituiçâo de urna moderna industria de armamentos, a diversif icacao das exportaçoes e a criaçâo de algumas tecnologías nacionais importantes. Contudo, nomesmoperiodo, apossibilidade de o Brasil alcançar um status hegemônico foi limitada pela sua crescente divida externa, pelo fraco desempenho de sua economia nos últimos anos da década de 80 e nos primeiros da década seguinte, e pela consolidaçao da influencia norte-americana na regiao. Por outro lado, pesquisas de opiniäo pública mostram que os brasileiros permanecen) mais interessados no desenvolvimento interno do país que na sua condiçao hegemônica regional, o que reflete a necessidade de urna melhoria no nivel de vida da populaçao e de urna melhor utilizaçâo do vasto territorio do pais em beneficio de todos os brasileiros. Mais que um desafio a seus vizinhos, a influencia brasileiraexpressa-se, regionalmente, na sua marcha para o Mercosul e na diminuiçâo de suas barreiras alfandegárias, instancia esta consistente com a tradiçâo da pol it ica externa brasileira e que beneficiará, certamente, tanto o Brasil quanto os seus vizinhos.
Abstract
Regional Hegemony and the Case of Brazil
Observers have long believed that Brazil would become a hegemon in South America, and some developments between the 1960's and the 1990's lend credence to this belief. Such developments include the dramatic increase in Brazilian Gross National Product, greatly expanded industrialization, a modern armaments industry, the diversification of exports, and some impressive indigenous technologies. Nevertheless, in the same period, hegemonic status for Brazil has been limited by its increased international debt, by the poor economic performance of the late 1980's and of 1990, and by the assertion of United States influence in the region. Moreover, public opinion data show that Brazilians remain most concerned withthe internal development of their nation rather than its hegemonic status abroad, reflecting the need to raise the standard of living at home and to utilize more of the vast interior of the country for the benefit of all Brazilians. Rather than threatening its neighbors, therefore, Brazilian influence is expressed regionally in the drive for Mercosul, for lowering trade barriers, a stance consistent with the traditions of Brazilian foreign policy and one likely to benefit both Brazil and its neighbors.
Résumé
L'Hégémonie Régional· et ?· Cas du Brésil
Pendant longtemps, les observateurs ont cru que le Brésil deviendrait une puissance hégémonique en Amérique du Sud et certains progrès réalisés entre les années 60 et 90 justitiaient cette croyance. Parmi ces progrès, on peut citer l'augmentation spectaculaire du Produit National Brut brésilien, l'expansion accélérée de l'industrialisation, la constitution d'une moderne industrie d'armements, la diversification des exportations et la création de quelques technologies nationales importantes. Toutefois, au cours de la môme époque, plusieurs facteurs ont empêché le Brésil d'atteindre un ste/ushégémonique: sa dette externe croissante, les faibles résultats de son économie à la fin des années 80 et au début des années 90, la consolidation de l'influence des ÉtatsUnis sur la région . Par ailleurs , des enquêtes d'opinion publique montrent que les brésiliens continuent à être plus intéressés par le développement interne du pays que par sa condition hégémonique régionale. Ceci montre la nécessité d'une amélioration du niveau de vie de la populat ion et d'une meilleure utilisation du vaste territoire du pays en faveur de tous les brésiliens. L'influence du Brésil ne constitue pas tellement un défi pour les pays voisins mais plutôt, à mesure que l'on avance vers la constitution du Mercosul, elle s'exprime sur le plan régional par la diminution des barrières douanières. Il s'agit là d'une instance cohérente avec la tradition du Brésil en matière de politique étrangère et qui lui sera certainement tout autant bénéfique à lui-même qu'à ses voisins.
* Traducao de Alexandra de Mello e Silva. Uma versáo simplificada deste artigo foi publicada em InternatbnalJournal, veráo 1991.
NOTAS
1 Huntington escreveu: "Por volta do ano 2000 deverà ficar claro, retrospectivamente, que a característica dominante da política internacional durante os 30 anos posteriores à Segunda Guerra Mundial foi(...)aexpansáo do poder dos EUA. Um trago cruciai desta expansâo foi a extensâo do poder americano dentro dos vacuos deixados após o declínio da influencia européia na Asia, África e mesmo América Latina (...). Isto é preliminar à hipótese de que no ano 2000 o sistema mundial americano que foi desenvolvido durante os últimos 20 anos estará num estado de desintegraçâo e decadencia. Como a influencia americana substituiu a influencia européia durante o período atual, assim também o poder americano comecará a declinar durante o último quartel deste século, e outros países se moverâo para preencher a lacuna. Entre aqueles que irào dése m - penhar um papel proeminente a esse respeito estäo a China na Asia Continental, a Indonesia no sudoeste asiático, o Brasil na América Latina e nâo sei quais outros no Oriente Mèdio e África". Samuel P. Huntington, "Political Development and the Decline of the American System of World Order", Daedalus, vol. 96, nB 3, verâo 1967, pp. 927-8.
2 Veja Golbery do Couto e Silva, Geopolítica do Brasil (3* ed.), Rio de Janeiro, Livraria J. Olympic Editores, 1981. Sobre as surpreendentemente diversas at i vida des, contatos e influencia do general Golbery do Couto e Silva, veja Peter Flynn, Brazil: A Political Analisis, Boulder, Westview Press, 1979, p. 474.
3 Golbery do Couto e Silva, Geopolítica do Brasil, op.cit., pp. 75, 93, 137-8, 192. 0 general Gobery era especialmente firme na questäo das relacöes do Brasil com os EUA. Ele escreve que "o Brasil depende essencialmente - e como! - do resto do Ocidente, e particularmente dos EUA, para seu comercio, para seu desenvolvimento econòmico, para seu progresso técnico e cultural e mesmo para sua pròpria segurança (...)". Idem, p. 247.
4 Idem, p. 74.
5 Idem, pp. 75, 87 e 92. Nos últimos escritos, o general Golbery enfatiza esse mesmo ponto, continuando a defender a "ávüizacao" da Bacia Amazónica a partir de urna base avançada no Centro-Oeste. Veja Golbery do Couto e Silva, "Las Categorías Geopolíticas Fundamentales y la Realidad Brasileña", Geopolítica, n° 1 , outubro de 1975, p. 42.
6 Ele afirma que aqueles que hoje estudam e lidam com o problema da segurança nacional no Brasil sao como os bandeirantes, os heróis e os exploradores nacionais do passado que se des locaram doCentro-Sulparainvestigaropafs.Comoescreve, "um país como o Brasil, urna vasta coletividade, com a Ig um as partes ainda nao integradas à unidade orgánica, com áreas em níveis dispares de desenvolvimento e maturidade, de progresso e riqueza, avancera acima de tudo com seus próprios pioneiros (gente bandeirante), os reconhecidos e incontestes sentinelas avançados de urna poderosa exptoraçâo, em outras eras, das desconhecidas dimensöes das imensas e desconhecidas áreas da hinterland, que devem (hoje) ser pioneiros num outro nivel de exploracao, ainda mais poderosa, para o grande e fértil futuro da máe-pátria". Golbery do Couto e Silva, Planejamento Estratégico (2a ed.), Brasilia, Editora Universidade de Brasilia, 1981 , p. 413.
7 Edgardo Mercado Jarrin, "Pacto Amazónico: Nuevo Esquema Geopolítico", Estudios Geopolíticosy Estratégicos, nfi4, maiode 1980, p. 63.
8 Idem, p. 61.
9 Sobre o pensamento geopolítico argentino, veja J. A. Fraga, Ensayos de Geopolitica, Buenos Aires, Instituto de Publicaciones Navales, Cèntro Naval, 1985. Mais ampiamente, veja Jack Child, "The Status oí South American Geopolitical Thinking", in G. Pope Atkins, ed., South America into the 1990s: Evolving International Relationships in a New Era, Boulder, West view Press, 1990; e Geoffrey Parker, Western Geopolitical Thought in the Twentieth Century, Londres, Croom Helm, 1985.
10 Augusto Pinochet ligarte, Geopolítica (2a ed.). Santiago, Editorial Andres Bello, 1 974, p. 149.
11 A entrevista com Helio Jaguaribe foi conduzida por Marcos Duboc, no Rio de Janeiro, em 8 de marco de 1991.
12 Em 1970, a populaçao brasileira era a 8- maior do mundo, mas passou ao 6C lugar por causa da separaçâo de Bangladesh do Paquistäo e de urna taxa de crescimento populacional mais lenta no Japäo. O contraste do crescimento populacional, educaçâo e tecnologia entre o Brasil e o Japäo enfatiza urna vez mais que o poder nacional, como também o padrâo de vida global que urna naçâo atinge, depende muito mais das características e da qualidade de urna populacao nacional do que simplesmente do seu tamanho. Para comparaçôes com o final dos anos 60 e para urna variedade de medidas sugestivas das dimensöes do poder nacional, veja Charles Lewis Taylor e Michael C. Hudson, World Handbook of Political and Social Indicators, New Haven, Yale University Press, 1972.
13 Sobre as fórmulas para avallar o poder nacional, veja Ray S. Cline, World Power Assessment: A Calculus of Strategie Drift, Boulder, Westview Press, 1975.
14 Bolivar Lamounier, "Brazil: Inequality Against Democracy", in L. Diamond, J. J. Linz e S. M. Lipset, eds., Democracy in Developing Countries: Latin America, Boulder, Lynne Rienner Publishers, 1989, p. 135.
15 Daniel S. Papp, Contemporary International Relation: Frameworks for Understanding, Nova lorque, Macmillan Publishing Company, 1991, p. 168.
16 Peter McDonough, Power and Ideology in Brazil, Princeton, Princeton University Press, 1981, pp. 28-9.
17 Os professores Lamounier e Souza apresentaram seu trabalho, intitulado Political Elites and Democracy in Brazil, na Conferencia Regional da Associaçâo Mundial de Pesquisa de Opiniäo Pública, em Säo Paulo, em 17-18desetembrode 1990. Para urna síntese das conclusoes desta conferencia, veja Orjan Olsen, "WAPOR Opens a New Frontier in Public Opinion Research in Brazil", The WAPOR Newsletter, Janeiro de 1 991 , pp. 8-9.
18 Robert Wesson, "Wrapping Up the Debt Problem", PS: Political Science and Politics, vol. 23, nß 3, setembro de 1990, p. 421.
19 Idem, p. 422. Para urna visäo mais ampia da questáo da divida, veja também David Felix, "Latin America's Debt Crisis", World Policy Journal, vol. 7, n° 4, outono 1990.
20 Sobre as reservas minerais brasileiras e progresses recentes na sua exploraçâo, veja a Economist Intelligence Unit, Brazil: Country Profile, 1990-91, Londres, The Economist Intelligence Unit, 1990, pp. 24-6.
21 Marshall D. Shulman, Stalin's Foreign Policy Reappraised, Cambridge, Harvard University Press, 1963, pp. 4-9.
22 Na importante quest äo do àlcool, em que a tecnologia brasileira tern sido líder mundial desde os anos 30, veja F. Joseph Demetrius, Brazil's National Alcohol Programa: Technology and Development in an Authoritarian Regime, Nova lorque, Praeger Publishers, 1 990. Para urna avaliaçao detalhada dos veículos, navios e aviaçao militar produzidos no Brasil, e para comparaçôes de forças entre o poderío militar do Brasil, Argentina, Chile, Peru, Colombia e Venezuela em meados dos anos 70, veja William Perry, "The Brazilian Armed Forces: Military Policy and Conventional Capabilities of an Emerging Power", Military Review, vol. 58, ?d 9, setembro de 1978. O comentario sintético de Perry expressa o esp into dos tempos. Ele escreveu: ? rápido desenvolvimiento socioeconómico do Brasil nos últimos dez anos permitiu à naçâo progredir em suas capacidades convencionais de segurança (...). Embora o Brasil vá permanecer como um amigo próximo dos EUA, a relaçao de dependencia com os EUA é urna coisa do passado (...). As Forças Armadas do Brasil possibilitam flexibilidade na política militar, contribuem para a estabilidade nacional, ajudam no desenvolví mento económico e sâo crescentemente capazes de implementar a política militar de seu país como urna potencia regional emergente". Idem, p. 10.
23 Georges-André Fiechter, Brazil since 1964: Modernization under a Military Regime, trad, de Alan Braley, Nova lorque, John Wiley and Sons, 1975, p. 212. A VersSo original em francos deste livro foi publicada em 1 972 pelo Institut Universitaire de Hautes Études Internationales.
24 John Ravenhill, "The North-South Balance of Power", International Affairs, vol. 66, nfl4, outubro de 1990, p. 731.
25 Armin ?. Ludwig, "Two Decades of Brazilian Geopolitical Initiatives and Military Growth", Air University Review, vol. 27, nfi 5, julho/agosto de 1986, p. 63.
26 Apud Cliford A. Kiracofe Jr., "Brazil: An Emerging Strategic Factor in the Southern Atlantic", Journal of Social and Political Studies, vol. 5, n° 3, outono 1980, p. 231.
27 Sobre os anos de regime militar, veja Wilfred A. Bacchus, Mission in Mufti: Brazil's Military Regimes, 1964-1985, Westport Ct., Greenwood Press, 1990; e Maria Helena Moreira Alves, State and Opposition in Military Brazil, Austin, University of Texas Press, 1988. Sobre a transiçâo para a democracia, veja Alfred Stepan, ed.. Democratizing Brazil: Problems of Transition and Consolidation, Nova lorque, Oxford University Press, 1989.
28 Geraldo Lesbat Cavagnari Filho, "La Perspectiva Brasileña", in M. Hirst, ed., Argentina-Brasil: El Largo Camino de la Integración, Buenos Aires, Editorial Legasa S.A., 1988, p. 138.
29 Bruce Bueno de Mosquita, "Pride of Place: The Origins of Germany Hegemony", World Politics, vol. 43, nfi 1, outubro de 1990. Como escreve Bueno de Mesquíta, "guerras hegemônicas säo geralmente conhecidas como tal apenas depois do falo". Idem, p. 51.
30 Jorge I. Domínguez, "Teoríay Cambios Internacionales: Implicaciones para América Latina", Foro Internacional, vol. 29, n° 4, abril/junho de 1989, pp. 658-60.
31 Palestra proferida por Kaiman H. Silvert, Departamento de Ciencia Política, Universidade de Connecticut, Storrs, Connecticut, 27 de marco de 1975. Silvert condonava fortemente o uso da tortura no Brasil e em qualquer outro lugar da América Latina, mas ele observou também que aqueles que a empregavam no Brasil sentiam sinceramente que estavam fazendo o melhor por seu país, tanto para por firn à ameaça de subversâo interna corno para avançar na estrategia de desenvolvimento econòmico, da quai todos os brasileiros se beneficiariam ñas décadas seguintes.
32 Entre o grande número de estudos queja trataram do tema desta integracelo, urna das melhores sínteses é de Daniel Chudnovsky e Fernando Porta, On Argentine-Brazilian Economie Integration", CEP AL Review, nfl 39, dezembro de 1989.
33 Foreign Broadcast Information Service, FBISLAT-91 -001 , 2 de Janeiro de 1 991 , p. 24.
34 Sobre a politica no Paraguai com Stroessner, veja Carlos R. Miranda, The Stroessner Era: Authoritarian Rule in Paraguay, Boulder, West view Press, 1990.
35 Wayne A. Selcher, "Brazil and The Southern Cone Subsystem", in G. Pope Atkins, ed., South America into the 1990s ..., op. cit., p. 98.
36 Foreign Broadcast Information Service, FBISLAT-91 -006, 9 de Janeiro de 1 991 , p. 25.
37 O professor Candido Mendes de Almeida, presidente do International Social Science Council (ISSC), discutiu em detalhes essas iniciativas académicas em sous comentarios de abertura aos membros da Conferencia do ISSC sobre as Dimensöes Humanas da Mudança Ambiental Global, Palma de Maiorca, 26 de novembre de 1990.
38 Para urna análise mais ampia das relaçôes do Brasil com o Suriname e o projeto Calha Norte, que foi iniciado secretamente em 1985, veja Thomas G. Sanders, Brazilian Geopolitics: Securing the South and the North, Indianapolis, Universities Field Staff International, 1987, pp. 7-8
39 Por exemplo, em atento trabalho apresentado no XIV Congresso Mundial da International Political Science Association, em 1988, Roberto Guimaräes concluí que a "realidade ecologica e ambiental do Brasil ainda näo foi introduzida ao planejamento (...). Os líderes brasileiros definiram a situaçao em termos de que o destino ïmpoe' o desenvolvimento, arrasando, removendo. Opals é visto como grande o suficiente para cicatrizar a si proprio, e isto torna o comercio o mais usual possível. Ironicamente, em Estocolmo o governo brasileiro defendeu apaixonadamente que meio ambiente e desenvolvimento estivessem estreitamente ligados. Mas mais de urna década após Estocolmo, as autoridades governamentais brasileras ainda näo deeidiram realizar em seu pròprio país o que pregaram ao mundo". Roberto P. Guimaräes, "The Ecopolitics of Development in Brazil", CEPAL Review, ne 38, agosto de 1989, p. 103.
40 Haroldo Mattos de Lemos, secretario de Desenvolvimento Urbano e Regional do Estado do Rio de Janeiro, escreveu recentemente que "contrariamente ao que muitos podem pensar, o Brasil nao é um pais incapaz de enfrentar seus próprios problemas (...). Um observador consciencioso (...) notará que dramático e surpreendente progresso o Brasil tern feito em questöes ambientáis (...). Nesse sentido, nao érazoável demandar que um país cujo povo é em sua maioria pobre, e que está sobrecarregado pelo fardo de urna enorme divida externa, nao utilize os recursos naturais do seu territorio para melhorar seu padräo de vida". Haroldo Mattos de Lemos, "Amazonia: In Defense of Brazil's Sovereignty", The Fletcher Forum of World Affairs, vol. 14, nû 2, veräo 1990, pp. 310-1.
41 "Brazil: Cough City, The Economist, 16/3/1991, p. 40.
42 E. Bradford Burns, The Unwritten Alliance: Rio Branco and Brazilian-American Relations, Nova lorque, Columbia University Press, 1966, pp. 152-3.
43 Idem, p. 163.
44 Veja Frank D. McCann Jr., The BrazilianAmerican Alliance 1937-1945, Princeton, Princeton University Press, 1973.
45 Recentes pesquisas de arquivo demonstraran) que as políticas dos EUAcontra a Argentina entre 1942 e 1949 incluíam a desestabilizaçâo tanto política como económica. Veja Carlos Escudé, "US Political Destabilization and Economic Boycott of Argentine during the 1940s", in G. Di Telia e D. C. Watt, eds., Argentine between the Great Powers, 1939-46, Pittsburgh, University of Pittsburgh, 1990, especialmente pp. 61-5.
46 E. B. Burns, The Unwritten Alliance..., op.cit., p. 207.
47 Para urna redefiniçâo das relaçôes da Argentina com os EUA no inicio deste periodo, que obscureceu o que estava por vir, veja David Matthew Khazanov, "The Diplomacy of Control: United States- Argentine Relations, 1910-1928", Ph.D. Dissertation, University of Connecticut, 1989.
48 As pesquisas de opiniâo pública argentinas demonstraram que sete em cada dez argentinos queriam manter a neutralidade histórica de sua naçâo na Guerra do Golfo Pérsico, de forma que, numa época em que precisava de urna base mais ampia de apoio público para as reformas económicas domésticas, ? presidente Menem demonstrou claramente suas prioridades internacionais ao enviar navios para o Golfo. Sobre o declínio durante os anos 80 do antiamericanismo na Argentina, onde as atitudes se tornaram mais se m el han te s as do Brasil e onde essas mudencas de atitude tornaram a iniciativa do presidente Menem ao menos um pouco mais aceitável, veja Frederick C. Turner e Marita Carballo de Cilley, "Argentine Attitudes toward the United States", International Journal of Public Opinion Research, vol. 1 , nfi 4, dezembro de 1989.
49 Stanley E. Hilton, "The United States and Argentine in Brazil's Wartime Foreign Policy, 1939-1945, in G. Di Telia e D. C. Watt, eds., Argentine between the Great..., op.cit.,pp. 158-9.
50 Foreign Broadcast Information Service, FBISLAT-91-028, 1 1 de fevereiro de 1 991 , p. 32.
51 Foreign Broadcast Information Service, FBISLAT-91-01 6, 24 de Janeiro de 1 991 , p. 34.
52 Apud Elio Gaspari, "Limpeza de Entulho", Veja, 3/10/1990, p. 70. 0 proprio artigo de Gaspari era um tanto defensivo, observando, por exemplo, que a prim eira pergunta à quai o presidente Collor respondeu aqui foi feita por Martha Muse, a presidente da "poderosa" Tinker Foundation.
53 Alexandre de Souza Costa Barros, "Política Exterior Bras ileña y el Mito del Barón", Foro Internacional, vol. 24, nö 1, julho/setembro de 1983, pp. 11-3.
54 Idem, p. 19.
55 Ronaldo Munck, Latin America: The Transition to Democracy, Londres, Zed Books, 1989, p. 139. Das companhias remanescentes, 8 e ram cornpan hias públicas e 24 represent avam o capital privado brasileiro.
56 Entrevista com Helio Jaguaribe conduzida para este artigo por Marcos Duboc, Rio de Janeiro, 8 de marco de 1991.
57 Maria da Conceiçâo Tavares, "The Revival of American Hegemony", CEPAL Review, ?ß 26, agosto de 1985, pp 144-5.
58 ídem, p. 139.
59 Idem, pp. 140-2.
60 Com penetrante e compreensível sensibilidade, Tavares escreve : "Na minha opiniäo , os países do Cone Sul näo säo importantes na estrategia de crescimento do comercio americano (...). Seria intolerável, entretanto, para o direito do Brasil à sobrevivencia e à autodeterminaçâo nao ser reconhecido, sob o pretexto do alinhamento automático e de falsas noçôes quanto à importancia do país e sua relaçao preferencial com os E UÀ". Idem, pp. 145-6.
61 Idem, p. 143.
62 Sol M. Linowitz, "Moment of Truth in the Americas'', Bulletin of the American Academy of Arts and Sciences, vol. 43, n° 6, marco de 1 990, p. 29.
63 Veja Wilfred A. Bacchus, "Development under Military Rule: Factionalism in Brazil", Armed Forces andSociety, vol. 12, n° 3, primavera 1986, pp. 411-3.
64 Os brasileiros mais jovens torn pouca paciencia com estae outras visöes do Brasil como o "maior", na realidade ou em perspectiva, quando, de fato, a reaiizacáo frequentemente falhou em preencher as expectativas e promessas. Como escreve Roberto Gu imaraes: "os brasileiros se orguIham de ser ? maior país católico do mundo' quando o comparecimento à ig reja deve estar entre os mais baixos, e o candomblé, a umbanda e outros rituais afro-brasileiros reivindicam um número crescente de seguidores". R. P. Guimarâes.The Ecopoliticsof Development...", op.cit., p. 92.
Frederick C. Tumer*
'* Gostaría de agradecer a Marcos Duboc e Silvia Cervellini por sua atenciosa assisténcia na coleta do material de pesquisa referente ao Brasil utilizado neste artigo.
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Copyright Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro Jan-Jun 1991
Abstract
Observers have long believed that Brazil would become a hegemon in South America, and some developments between the 1960's and the 1990's lend credence to this belief. Such developments include the dramatic increase in Brazilian Gross National Product, greatly expanded industrialization, a modern armaments industry, the diversification of exports, and some impressive indigenous technologies. Nevertheless, in the same period, hegemonic status for Brazil has been limited by its increased international debt, by the poor economic performance of the late 1980's and of 1990, and by the assertion of United States influence in the region. Moreover, public opinion data show that Brazilians remain most concerned withthe internal development of their nation rather than its hegemonic status abroad, reflecting the need to raise the standard of living at home and to utilize more of the vast interior of the country for the benefit of all Brazilians. Rather than threatening its neighbors, therefore, Brazilian influence is expressed regionally in the drive for Mercosul, for lowering trade barriers, a stance consistent with the traditions of Brazilian foreign policy and one likely to benefit both Brazil and its neighbors. [PUBLICATION ABSTRACT]
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