RESUMEN: Organizado pelo Frei Agostinho de Santa Maria e editado em 1722, o Santuário Mariano e História das Imagens Milagrosas de Nossa Senhora consiste num levantamento das invocações marianas cultuadas em território português, feito por clérigos das diferentes paróquias no século xviii. O nono volume trata das invocações encontradas na Bahia. Neste artigo pretendemos utilizar este texto como fonte para o estudo da história da crença religiosa, bem como para o estudo da história da religiosidade católica entre os negros no recôncavo baiano. O recôncavo baiano foi um dos mais importantes centros da produção açucareira da América Portuguesa do período e onde se concentrou uma significativa população negra que foi utilizada como mão-de-obra escrava nesta produção. Nossa análise tem como objeto de estudo o culto a Nossa Senhora do Rosário nas irmandades e devoções de negros da região. Buscaremos compreender em primeiro lugar as motivações para tal culto, vivenciado no contexto da escravidão. Em seguida nos concentraremos na análise de aspectos ligados ao seu crescimento e desenvolvimento, tais como os festejos a sua padroeira e o uso das imagens em momentos de celebrações. Aqui é preciso compreender como o lugar do negro, como escravo ou liberto, marcou as relações estabelecidas e os diferentes momentos das celebrações.
Palabras clave: catolicismo; irmandades; devoção; negros.
ABSTRACT: Organized by Frei Agostinho de Santa Maria and published in 1722, the Marian Sanctuary and History of the Miracles image of Our Lady consist the registrations of marian invocations worshiped in Portuguese territory, made by clergymen from differents parishes in the xviii century. The ninth volume deal witch the invocations found in Bahia. In this article we mean to use this text as a study sourse for the history religious belief, as well as in the study of the Catholic religiosity history among the black people in the reconcavo baiano. The reconcavo baiano was one of the most important region of the sugar cane production in the American Portuguesa in that period where concentrated an expressive population of black people that was used in the slave labor in that production. Our analysis which has as a main objective of study Our Lady of Rosario worship in the brotherhoods and the black people's devotions in that region. Seeking to understand at first the motivation for such worship, experienced in the context of the slavery. Subsequently we will concentrate our analysis in the aspects linked to its growth and development, such as celebrations for their Patroness, and the use of images in moments of celebrations. From here it's necessary to comprehend how the place of the black, as a slave or a free man, marked the relations established and the differents moments of celebrations.
Key Words: Catholic; Brotherhood; Devotion; the Black People.
A tradição católica associa Nossa Senhora do Rosário a São Domingos. Na legenda deste santo narra-se que ele teria estimulado a devoção ao Rosário após uma visão em que a Virgem lhe apareceu e ensinou-lhe a oração do Rosário para que pudessem destruir a seita dos albigenses, surgida na França no século xiii. O Papa Pio V consagrou esta forma de oração em 1569 através da bula Consueverunt romani Pontífices. Com a vitória dos cristãos contra os turcos, na batalha de Lepanto, em 1571, atribuída à recitação do rosário, o mesmo papa instituiu através da bula Salvatoris Domini, a festa litúrgica como recordação desta vitória1. Michel Vovelle acentua a antigüidade da devoção a Nossa Senhora do Rosário -uma das formas de veneração a Maria- e inclusive informa sobre a associação desta com a questão do purgatório onde a Senhora do Rosário era apontada como intercessora ao lado de São Domingos e a Virgem do Escapulário na França e Itália até o século xviii2.
Em Portugal a invocação mariana do Rosário foi tida como protetora dos mais diferentes grupos, dentre eles os marinheiros, e a ela foram atribuídos vários milagres, sendo grande a sua popularidade em todo o território. Dentre as irmandades dedicadas a Maria, ela foi a mais importante no mundo português, onde a figura mariana aparece associada ao projeto de consolidação da presença portuguesa no ultramar. A associação entre poder imperial e santos do cristianismo não é uma novidade dos portugueses, está presente no Ocidente desde o Império Romano, com a associação do imperador ao próprio Cristo3. Buscando ampliar o seu prestígio e a crença na sua inefabilidade o império cristão português promoveu a sua associação ao culto mariano. Ao instituir e organizar o culto a Virgem em todo o território, trabalhando pela sua divulgação e ao tornar Maria -através da invocação de Nossa Senhora da Conceição- padroeira do império, protetora das suas colônias, o Estado Português põe o culto católico à disposição da sua própria propaganda, propondo novos espaços -da crença e do sentimento religioso- para sua divulgação e consolidação do seu prestígio. O investimento e o controle régio foram decisivos neste processo. Novos féis e novos súditos serão os devotos de Maria. O contato do negro com o culto a Nossa Senhora do Rosário ocorreu dentro deste contexto.
As Irmandades do Rosário foram as mais famosas dentre as inúmeras irmandades de negros. Segundo Julita Scarano as devoções de negros sob esta invocação já existiam, em Portugal, desde o século xvi. Segundo Scarano os negros mantiveram seus primeiros contatos com a devoção a Nossa Senhora do Rosário, em Portugal, através dos religiosos dominicanos. Em princípio eles foram integrados às confrarias dos brancos, entretanto, gradativamente foram adquirindo autonomia e fundando suas próprias irmandades sob a proteção do rei português e dos padres dominicanos4.
Na África, a devoção a Nossa Senhora do Rosário foi introduzida por missionários dominicanos e jesuítas. Julita Scarano nos informa que «... nos primeiros tempos, houve no plano religioso relações mais estreitas entre a África e Portugal»5. Os primeiros missionários dominicanos acompanharam as expedições portuguesas ao reino do Congo a partir de 14916. No Brasil, esta devoção foi difundida entre os angolas, sendo esta a etnia que predominou na primeira fase do tráfico. Posteriormente vemos a introdução de novas etnias nas irmandades de Salvador à medida que o tráfico em outras regiões se intensificava. Assim, em Salvador, encontraremos, por exemplo, na Irmandade do Rosário dos pretos da Rua João Pereira, benguelas -vindos da região sul de Angola- e jejes dividindo os cargos da sua mesa diretora em 17847. Da Irmandade da Igreja da Conceição da Praia participavam apenas angolas e crioulos na época do seu primeiro compromisso em 16868.
A divulgação da devoção a Nossa Senhora do Rosário em Portugal e nas suas colônias ultramarinas ocorreu dentro de um contexto pós-tridentino, e esta invocação apresentou-se entre o conjunto de santos cujo culto foi estimulado a partir deste concílio, ocorrido entre 1545 e 1563. Embora anterior a Trento, a devoção ao rosário sofreu uma maciça divulgação após este Concílio. Dentro de uma pastoral que buscava a salvação dos vivos, preparando-os gradativamente para o momento da morte, a Nossa Senhora do Rosário foi uma entre os intercessores celestiais convocados pelo clero católico para o auxílio neste processo de salvação da alma. Juntamente com o culto ao Santíssimo Sacramento, assistiu-se a popularização das confrarias dedicadas a Senhora do Rosário. Esta foi juntamente com a Nossa Senhora do Carmo, a principal invocação da Virgem, atuando como intercessora dos vivos e dos mortos.
Assim o culto a Nossa Senhora do Rosário chegou aos negros da América Portuguesa dentro de um contexto em que atinge toda a Europa, num momento em que a pastoral pós-tridentina opera mudanças significativas em sua pedagogia de conversão, em resposta as transformações observadas na sensibilidade coletiva9. A proposta principal direcionada aos negros visava integrá-los no cristianismo, remetendo a ancestralidade cristã do continente africano. Um relato sobre a imagem de Nossa Senhora do Rosário da paróquia de São Gonçalo, no recôncavo baiano, trata sobre o cristianismo etíope e o mito bíblico da rainha de Sabá e seu vínculo com o rei Salomão, filho do rei Davi, gerador de uma linhagem genealógica negra ligada ao próprio Cristo, fazendo uma associação entre a devoção dos negros ao Rosário e um tema importante da hagiografia cristã que remete a presença negra no cristianismo:
Notável he a estimação que Deos faz dos pretos; todos estes são descendentes do Rey da Ethiopia; & assim do ethiope procedem os mais pretos de toda aquella grande parte do mundo; & assim digo, que estima Deos tanto aos pretos, que mil annos antes de tomar o nosso sangue, deu aos pretos o seu (...) & deu o seu aos pretos, quando lhe deu o sangue que elle havia de tomar, que era o de David, & foy nesta forma: Reynando Salamão filho de David, levado da fama da sua sabedoria, veyo a vello, & ouvillo a rainha Sabbá, q o era da Ethiopia; como Salamão tivesse por mulheres setecentas Rainhas, recebeo também no número dellas (posto q era de cor preta) a mesma Rainha Sabbá, de que teve hu filho, o qual nasceo depois da Ethiopia, & a mây lhe poz o nome de seu avó, & e lhe David.. (...) Esta he a origem dos Emperadores da Ethiopia mil anos (...)
E se buscarmos a razão, motivo, ou merecimento destes tão antecipados favores do Filho de Deos aos Ethiopes, o mesmo David o tinha cantado quando disse: A Ethiopia praevaniet, manus ejus Deo. Onde a palavra Parevenit, he o mesmo, que, prima veniet: porque a Ethiopia, & e os ethiopes serão os primeiros entre todos os gentios, que receberão a fé do verdadeyro Deos. Vejão agora os pretos o quanto são devedores, & obrigados ao muyto, que devem ao Filho de Deos, & aquella excelsa Senhora & sua grande Mãy, que tão antecipadamente os adotou por filhos10.
É a reafirmação da legitimidade da presença negra no cristianismo, na condição de sujeitos da fé cristã e a justificativa do projeto de catequese desenvolvido pelo Estado português que emerge deste discurso. Pode-se sugerir que, o clero que atuou neste território reafirmou o discurso legitimador da catequese dos africanos e seus descendentes no Império português, propondo inclusive a organização de irmandades e devoções de negros em suas paróquias, onde muitas destas foram dedicadas a Nossa Senhora do Rosário.
Acreditamos que algumas justificativas podem ser dadas para o sucesso desta devoção entre os negros: na teologia católica a Virgem do Rosário opera entre os homens como intercessora, intermediando ritos ligados à vida e a morte. Tais elementos convergem com a preocupação existente entre as culturas africanas, ligadas a rituais como o culto aos ancestrais, e outros que ligam vivos e mortos, tornando mais fácil a adaptação deste culto entre os negros11. Além disto, temos o importante papel dos dominicanos na divulgação deste culto não somente entre os negros de Portugal quanto da África, para onde foram como missionários aos reinos de Angola e do Congo. Destes reinos vieram os primeiros escravos trazidos para Portugal e para o Brasil, entre os séculos xvi e xviii, inclusive para a Bahia. Ao ser trazida para a América Portuguesa esta devoção já tinha sólida tradição entre os negros escravizados e convertidos ao Cristianismo, além de terem sido proposta aos negros pelos vigários das diferentes paróquias aqui fundadas, que conheciam a eficácia da devoção entre eles no Reino português e também por padres regulares. Este segmento do clero atuou na catequese dos negros -em especial os jesuítas- estimulando entre eles o culto aos santos. Uma carta de 1703 enviada ao rei informa, por exemplo, a respeito da assistência espiritual prestada por padres jesuítas em vários pontos da capitania, por ocasião da realização de missões ambulantes, de caráter transitório e temporário, cujo objetivo era a instrução maciça dos fiéis. Segundo este documento se costumava realizar as missões «... e doutrinas ao povo della, assim na língua portugueza como nas de Angolla com grande fervor, e zello do serviço de Deos e de S. Majestade»12.
Segundo Lucilene Reginaldo o sucesso do Rosário entre os «gentios conversos» explica-se, num primeiro momento, pelo destaque desta invocação nas atividades missionárias e posteriormente, pelo fato dos próprios africanos e seus descendentes terem reconhecido nas irmandades dedicadas à Nossa Senhora do Rosário, um espaço próprio e reservado13.
Tanto o sentimento religioso e da crença, -que se constituem como elementos fundamentais para a motivação do culto aos santos- quanto os interesses sociais e políticos -da introdução dos negros na sociedade católica e escravista colonial, tendo em vista que a Coroa participa da difusão do culto a Nossa Senhora do Rosário instituindo, patrocinando e controlando o mesmo entre os negros- permitiu a popularização de tais invocações em Salvador e no recôncavo baiano, parte importante da América Portuguesa. Mas a manutenção deste culto ao longo do século xviii deveu-se em especial ao esforço dos membros das irmandades.
1. O CULTO A N. SENHORA DO ROSÁRIO DOS PRETOS EM SALVADOR E NO RECÔNCAVO BAIANO: UM OLHAR A PARTIR DO SANTUÁRIO MARIANO
Organizado pelo Frei Agostinho de Santa Maria, da Ordem dos Agostinhos Descalços, de Portugal, e editado em 1722, o Santuário Mariano e História das Imagens Milagrosas de Nossa Senhora traz importantes informações sobre a devoção a Nossa Senhora do Rosário na Bahia e será a nossa principal fonte para o conhecimento de aspectos ligados ao culto e as celebrações vivenciadas nas devoções e irmandades do Rosário, de negros, neste território.
O Santuário Mariano consiste num levantamento das invocações marianas cultuadas em território português feito por clérigos das diferentes paróquias no século xviii e organizado em dez tomos. Os limites do levantamento desenvolvido por Frei Agostinho de Santa Maria são os do Império Português Ultramarino: do primeiro ao sétimo tomos ele trata sobre as imagens marianas encontradas em Portugal, o oitavo sobre as imagens encontradas na Ásia e África, os nono e décimo sobre as encontradas na América portuguesa. O tomo nono é dedicado à Bahia e o décimo ao Rio de Janeiro. Os relatos do tomo nono, no geral, informam sobre localização, origem da devoção ou irmandade, grupo social responsável pelo culto, característica da imagem do santo cultuado e das festividades em sua homenagem e relatos sobre milagres.
Podemos considerar o Santuário Mariano um documento significativo para a compreensão de Salvador, capital do Império Português na América e do seu recôncavo enquanto espaços de experiências religiosas vivenciadas pelas populações negras -apresentadas nos relatos sintéticos de devoções, festas e milagres operados nos seios das diferentes comunidades desta região-, mas que também aponta para a presença de um poder eclesiástico a serviço do governo imperial ultramarino que opera no sentido de propor as crenças e controlar as práticas ligadas à sua disseminação. Em 1722, a Virgem do Rosário detém 1/5 do culto apresentado pelo Santuário Mariano para a Bahia. Trata-se de vinte e seis devoções dedicadas ao Rosário, de brancos e negros, no total, seguida da Virgem da Conceição com quatorze devoções, e da Virgem da Piedade, com oito devoções, num total de 132 devoções com títulos marianos existentes na capitania da Bahia. Os relatos enviados pelos párocos ao Frei Agostinho de Santa Maria revelaram a existência de dezenove devoções dedicadas a Nossa Senhora do Rosário entre os negros na Bahia, no início do século xviii. Foi informado um total de dezesseis devoções em Salvador e seu Recôncavo, sendo seis localizadas em freguesias urbanas, em Salvador, e as demais em freguesias onde se desenvolvia intensa lavoura de cana de açúcar e também fumo. As demais devoções de negros estavam no sul da capitania num total de três em freguesias pertencentes às vilas de Ilhéus e Camamú e ao norte foi localizada uma, na Vila de Sergipe do Conde.
Não é possível estudar esta região que abrange Salvador e o recôncavo baiano sem antes remeter a Baía de Todos os Santos, um grande braço de mar que adentra a linha costeira tropical, formando uma baía de cerca de oitenta quilômetros de comprimento14. As terras situadas ao redor deste mar interior possuem uma paisagem onde se alternam morros baixos e terrenos planos, cujo solo contém uma mistura variada de argila e areia. Ao norte da baía encontramos um solo mais pesado, com maior concentração de argila, conhecido como «massapê» e também o solo conhecido como «salões», uma mistura de argila e areia. Nas regiões mais ao ocidente e ao sul predominam solos mais arenosos e leves. Em toda esta região o trabalho escravo -de grupos indígenas e principalmente de africanos e seus descendentes- foi maciçamente explorado pelos portugueses e seus descendentes15. Segundo Luís dos Santos Vilhena -cronista que escreveu sobre a região entre 1798 e 1799- o recôncavo abrangia a cidade de Salvador, com suas freguesias suburbanas, e as cinco vilas que cercavam a Baía de Todos os Santos: São Francisco do Conde e Santo Amaro da Purificação na margem norte, Cachoeira no oeste, Maragogipe e Jaguaripe ao sul16. Fundada em 1549, por Tomé de Souza, sobre o alto penhasco que domina a Baía de Todos os Santos, a cidade de Salvador seria a sede do primeiro governo-geral português em terras da América. Até 1763 a cidade serviu como centro administrativo da América Portuguesa, ainda permanecendo posteriormente como centro do intenso comércio exportador desenvolvido na capitania da Bahia. Território estratégico para a economia do Império Português, o recôncavo já apresentava em 1722, data da publicação do documento analisado, dados significativos do ponto de vista da sua população e produção. O próprio autor do Santuário Mariano destaca a importância desta região para o reino ao dizer que «esta só parte da Nova Lusitânia com seus arredores he capaz de hum muyto grande Reyno»17. Cana, tabaco e aguardente eram os principais produtos da economia desta região. Onde predominou o solo massapê predominou também o cultivo de cana-de-açúcar e onde predominaram solos mais arenosos e leves o fumo foi o principal produto cultivado, assim como a mandioca, esta última intensamente cultivada ao sul da baía. Tanto a cana-de-açúcar quanto o fumo foram importantes produtos de exportação produzidos no recôncavo baiano ao longo do século xviii.
Os negros compunham uma parte significativa da população desta região. A partir de um censo eclesiástico, -realizado entre 1718 e 1724 e divulgado em dissertação apresentada pelo padre Gonçalo Soares de França à Academia dos Esquecidos- é possível constatar que as freguesias urbanas de Salvador contavam com uma população total de 24.993 habitantes, dos quais pouco mais da metade eram escravos (12.132). A população do recôncavo somava 39.688 habitantes, sendo 60% de escravos (24.217 escravos), residindo a maioria em freguesias onde se concentravam a maior parte dos engenhos do período18. O Santuário Mariano reflete esta presença pelos dados do culto vinculados a estes. Escravos e livres os negros eram os responsáveis pelo culto de um número significativo de devoções descritas nesta obra. Segundo João José Reis «os escravos de engenho não se isolavam em comunidades fechadas dentro de cada engenho e fazenda, mas circulavam entre uma propriedade e outra, e entre estas e as vilas», o que por certo lhes permitiu a participação nestas comunidades19. As devoções ou irmandades, encontradas em Salvador e Recôncavo, descritas no Santuário Mariano, estavam nas seguintes localidades:
1. Igreja do Rosário das Portas do Carmo / Freguesia do Santíssimo Sacramento da Rua do Passo / Salvador.
2. Convento de Nossa Senhora do Desterro / Freguesia do Santíssimo Sacramento e Sant'Ana / Salvador.
3. Igreja matriz / Freguesia de Nossa Senhora da Vitória / Salvador.
4. Igreja matriz / Freguesia de Santo Antônio Além do Carmo / Salvador.
5. Igreja de Nossa Senhora do Rosário da Rua João Pereira / Freguesia de S. Pedro / Salvador.
6. Igreja matriz / Freguesia da Conceição da Praia / Salvador.
7. Igreja de Nossa Senhora da Piedade / Freguesia de Nossa Senhora da Piedade de Matoim / Salvador - subúrbio.
8. Igreja de São Miguel / Freguesia de São Miguel de Coligipe (Cotegipe) / Salvador - subúrbio.
9. Igreja de Santo Amaro, Ilha de Itaparica / Freguesia de Santo Amaro / Salvador-subúrbio.
10. Ermida de São Bernardo / Freguesia de São Miguel de Coligipe (Cotegipe) / Salvador - subúrbio.
11. Igreja de São Gonçalo / Freguesia de São Gonçalo / Vila de São Francisco.
12. Igreja Matriz sob a invocação de Nossa Senhora da Conceição, Ilha de Cururupeba / Freguesia de Madre de Deus do Boqueirão / Vila de São Francisco.
13. Ermida de Santo Antônio, junto à ilha dos Frades / Freguesia de Madre de Deus do Boqueirão / Vila de São Francisco.
14. Igreja de Santo Antônio, Teberi / Freguesia de N. Sra. do Rosário / Vila de Cachoeira.
15. Igreja de Santo Estevão, Jacuípe / Freguesia de N. Senhora do Rosário / Vila de Cachoeira.
Mas, não apenas africanos e seus descendentes celebraram esta invocação mariana, brancos e pardos também o fizeram. Entretanto, embora o mundo religioso fosse, neste contexto, formado por elementos compartilhados entre grupos sociais diferentes, os significados a eles atribuídos deixavam perceber as divergências entre estes grupos. Verificamos num relato do Frei Agostinho Santa Maria no Santuário Mariano, que uma irmandade de pardos que funcionava na igreja do Corpo Santo, no Comércio, na cidade baixa -próxima à igreja da Conceição da Praia- fez questão de dissociar a sua devoção a Nossa Senhora do Rosário de outra dos pretos existente na mesma igreja, denominando a sua de Nossa Senhora do Terço. O frei informa que:
tudo isto parece foi uma devota emulação porque vendo o grande fervor com que os pretinhos da mesma freguesia serviam, e festejavam a Senhora do Rosário, eles se animaram a fazer na sua Capela outros melhores ornatos, e assim também deram à Senhora diferente título, impondo-lhe o Terço, para que assim como a Soberana Mãe de Deus, com o título do Rosário era em todas as partes a Protetora dos pretos, fosse da mesma sorte com o título do Terço a singular Protetora dos pardos20.
A mesma santa, mas dividida pela cor!
2. DEVOÇÃO NAS IRMANDADES DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO: AS CELEBRAÇÕES EM HOMENAGEM A SANTA PADROEIRA
Um dos momentos mais importante vivenciados nas devoções e irmandades católicas é o das celebrações festivas em homenagem ao santo alvo daquela devoção. Estas datas estavam previamente estabelecidas no calendário eclesiástico e suas escolhas estavam vinculadas a legenda destes santos. Investigando o texto do Santuário Mariano e também outras fontes como os compromissos de diferentes irmandades e o Diário eclesiástico de Salvador, de 1784, foi possível reconstituir alguns aspectos importantes das celebrações em homenagem a Nossa Senhora do Rosário (ver tabela ao final deste artigo), realizadas pelos negros na capitania da Bahia, que serão aqui analisados21.
A primeira questão observada remete ao calendário festivo destas irmandades. Tradicionalmente a festa em homenagem a Nossa Senhora do Rosário ocorria em outubro, data oficial dedicada ao Rosário, no segundo Domingo do mês, em que se comemorava a vitória em Lepanto contra os árabes, em 1571, que significava a vitória da própria cristandade. Mas nem sempre esta data foi mantida na América Portuguesa porque a escravidão, condição social da maioria dos devotos, foi um elemento que orientou o culto à Virgem do Rosário, principalmente no que se refere a este momento que é o mais especial do seu culto: o da celebração da sua festa. A questão escravista esteve presente nas celebrações festivas, marcadas em primeiro lugar pela separação racial na devoção à santa, que determinou inclusive a realização da festa de irmandades e devoções de brancos e negros em datas distintas. A festa de um mesmo santo padroeiro poderia ser celebrada em datas distintas. Esta medida que permitiu a flexibilização do calendário religioso constituiu-se numa orientação da Igreja para todas as irmandades religiosas, não somente de negros. No caso de irmandades dos brancos dedicadas ao Rosário encontrei relatado no Santuário Mariano apenas dois casos de mudança da data. A primeira foi a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Soldados do terço velho que funcionou em uma ermida da freguesia do Santíssimo Sacramento e Sant'Ana. Ela realizou - no ano de 1711 - a sua festa em 08 de setembro22. A segunda foi a da ermida de Santo Antônio na Ilha dos Frades, brancos celebravam Nossa Senhora do Rosário com festa no tempo do natal e negros escravos a celebravam no período da páscoa 23. Enquanto as irmandades de brancos se esforçavam para manter a data oficial da celebração, para as de negros nem sempre isto foi possível.
Analisando as freguesias do recôncavo observam-se algumas diferenças entre as devoções de negros e brancos. Nelas a festa do Rosário dos brancos usualmente ocorria no período oficial, durante o mês de outubro, o que parece enfatizar a necessidade destes de manterem-se próximos do padrão oficial de devoção à santa, associada ao sucesso dos europeus face aos povos gentios. A devoção do Rosário da matriz da Vila de Cachoeira, iniciada e mantida pela família Adorno -a quem pertenceram por longo tempo as terras da região-, por exemplo, realizava a sua festa no primeiro domingo de outubro. Entre as devoções exclusivas de negros das áreas rurais esta mentalidade não encontra acolhida, pois as suas festas ocorriam, em geral, numa das oitavas do natal. Temos o exemplo das irmandades do Rosário da igreja de Santo Amaro, matriz da ilha de Itaparica, ali funcionaram duas irmandades do Rosário: uma de brancos que fazia sua festa no primeiro domingo de outubro, e uma de negros que realizava sua festa na primeira oitava de natal. Também no caso das irmandades do Rosário que funcionaram na igreja da Piedade, matriz da Vila de Matoim, os brancos realizavam sua festa no primeiro domingo de outubro e os negros numa das oitavas do natal.
A não permanência dos festejos no período oficial, durante o mês de outubro, pode indicar que, entre os negros, a devoção a Virgem do Rosário assumiu outros significados. Esta iniciativa de transferência da data da festa sugere que os negros do recôncavo, ao contrário dos brancos, não viram nenhum significado especial na data oficial capaz de fazê-los manter a tradição, revelando a atribuição de novos significados a devoção à Virgem do Rosário, mas ligados ao seu cotidiano escravista. A Virgem seria, pois uma intercessora que precisava ser reverenciada à altura da sua grandeza, com uma autêntica festa colonial, em padrões também próximos das celebrações comunitárias realizadas em território africano em honra aos seus deuses e ancestrais. Outro dado importante é o das influências geradas pelo ciclo de trabalho na mudança do sentido da festa. Ao ter sua data transferida, a festa vai modificando seu significado ficando distante da tradição ligada aos dominicanos e à vitória contra os árabes, e adquirindo contornos mais locais, segundo as necessidades e cultura do novo grupo que a celebra (negros africanos e crioulos), ligadas ao seu ciclo de trabalho e ao período em que as esmolas poderiam ser mais abundantes, além da possibilidade de poder reunir a todos no dia da festa.
No sul da capitania, ao norte de Ilhéus, encontramos uma irmandade de pretos, de Nossa Senhora do Rosário da Igreja de Nossa Senhora da Encarnação de Itaipe realizando sua festa «uns anos pelo Espírito Santo, outros em julho dia de gloriosa S. Ana; o que fazem segundo a sua possibilidade» 24. Sugerimos que também neste caso a realização da festa esteve ligada ao ciclo produtivo, sendo preciso esperar o período certo para recolher os donativos necessários para a realização da festa e poder contar com a presença de todos os membros da irmandade. Na matriz de Ilhéus, também ao sul da capitania, negros e brancos celebravam a santa em outubro. Porém enquanto os negros realizavam a festa no segundo domingo os brancos a faziam no primeiro.
A partir das informações extraídas do Santuário Mariano, concluímos que nenhuma das irmandades e devoções de negros dedicadas ao Rosário no recôncavo, realizava festividades durante o mês de outubro. Frei Agostinho informa a data da festividade de todas as irmandades à exceção da do Rosário de Jacuípe, que funcionava na ermida de S. Estevão, pois quando o frei recebeu notícia dela ainda não se tinha feito festa pelos negros «e seria porque eles naquele sítio não seriam muitos, e por cativos muito pobres, e assim da sua pobreza nascerá o não lhe poderem fazer festa particular»25.
O recôncavo, coração da produção açucareira, era onde se concentrava uma grande quantidade de escravos, e o que marcava o ciclo das festividades era o ritmo desta produção ininterrupta. O processo de lavoura da cana e manufatura do açúcar nos engenhos baianos se iniciava em fevereiro quando os escravos se alinhavam nos campos dos engenhos e fazendas para semear e plantar a cana. Este processo prosseguia até maio, quando as chuvas fortes tornavam impossível qualquer trabalho nos canaviais. Uma segunda época de plantio era iniciada em julho ou agosto e terminava no início de setembro26. Agosto era também o mês de iniciar a safra, quando se colhia as canas plantadas no ano anterior realizando também a sua moagem, trabalho que - juntamente com o fabrico de açúcar -, se prolongaria por nove meses27. Segundo Schwartz «o trabalho em um engenho brasileiro era ininterrupto, sendo as tarefas pertinentes aos canaviais realizadas durante o dia e as atividades de moenda feitas à noite28. Mas o mesmo autor informa que o calendário eclesiástico -com seus domingos e dias santos- interferia bastante neste ritmo de trabalho. Muitas celebrações ocorriam no período das oitavas de Natal. Segundo ele, no Engenho Sergipe, sob administração jesuíta, o trabalho parou de 25 de dezembro a dois de janeiro, em respeito ao Natal e suas primeiras três oitavas, considerados dias de observância29. As oitavas constituíam-se nos oito dias posteriores às grandes festas católicas, o Natal e a Páscoa. As festas do ciclo natalino e as que se seguiam até fevereiro eram, em geral, observadas nos engenhos baianos, destacando-se: primeiro de janeiro, do Nome de Jesus (Circuncisão do Senhor); seis de janeiro, da Epifania do Senhor (Festa dos Reis Magos); dois de fevereiro, da Purificação de Maria30. Após esta data o calendário marca a preparação para a Páscoa. O período de festa do Natal até fevereiro era uma época de grandes festas, que coincide com o verão, no hemisfério sul, conciliando o período de boas colheitas e não chuvoso.
Em todas as devoções e irmandades de negros registradas no Santuário Mariano as festas em homenagem a Nossa Senhora do Rosário ocorriam durante o ciclo das festividades natalinas, em uma das suas oitavas. Entre os negros, não somente as festas dedicadas a Nossa Senhora do Rosário também as de São Benedito, cuja data oficial é abril, foram modificadas para este período, em especial no recôncavo. As irmandades possuíam o direito de determinar as datas em que queriam realizar as suas festas e esperavam a autorização eclesiástica. Ao que parece os negros decidiram aproveitar melhor este período de grandes festividades para festejarem mais, dentro de um clima mais favorável e sem a vigilância dos brancos. A existência de significados sociais compartilhados por todos não implicaria num consenso que anularia estas lutas e conflitos, mas as zonas onde se concentravam estes significados seriam as mais carregadas de um caráter político e, portanto transformador31.
Em Salvador a festa, tanto em irmandades de brancos como de negros, normalmente ocorria em outubro. Em igrejas que possuíam ambas as irmandades -de negros e de brancos- as festas ocorriam em datas distintas, mas dentro deste mês. Enquanto uma realizava a sua festa no primeiro domingo e a outra no segundo, ficando evidente a separação racial na devoção à santa, o que não implica em dizer, porém, que estes grupos não participassem dos festejos do outro. Na igreja da Sé, duas irmandades dedicavam-se à devoção a Virgem do Rosário, embora ambas as irmandades realizassem suas festa em outubro, a de brancos realizava sua festa no primeiro Domingo, enquanto a de negros a realizava no segundo.
Entre as irmandades de pretos de Salvador duas realizavam festas fora do mês oficial: a da igreja de Santo Antônio Além do Carmo que ocorria, conforme atesta frei Agostinho, na primeira oitava de Natal, e a do Rosário do Convento do Desterro «em uma das oitavas do Natal». Uma das irmandades, a da freguesia da Vitória, não teve sua data informada, e três celebravam a festa da santa em outubro, as das freguesias de São Pedro, Conceição da Praia e Santíssimo Sacramento do Passo. Segundo o compromisso da irmandade do Rosário da igreja da Conceição da Praia, de 1686, a festa da santa deveria ocorrer no terceiro domingo de outubro. O Santuário Mariano informa que, a festa do Rosário da igreja de São Pedro ocorria no quarto domingo de outubro «...com muyta solenidade; tem ao Santíssimo Sacramento manifesto em todo o dia»32. A única irmandade de negros de Salvador a festejar a santa na data oficial, no segundo domingo, foi a da ermida da Sé. Em Salvador, as atividades exercidas pelos membros das irmandades, escravos e libertos, poderia lhes dar mais autonomia permitindo que mantivessem a data da festa no mês de outubro. Formadas em geral por escravos domésticos e de ganho, além dos libertos, estas irmandades teriam mais autonomia em termos de arrecadação das esmolas e doações necessárias para a festa. Além disto, o tipo de trabalho exercido não seria um impedimento para a participação de todos os irmãos em festas realizadas no mês oficial. Em Salvador, os escravos prestavam serviços em todos os setores das atividades urbanas. Desempenhavam várias artes como: alfaiate, caldeireiro, carpinteiro, empalhador, ourives, sapateiro, dentre outros, além de trabalharem em diferentes estabelecimentos comerciais e no transporte de pessoas e mercadorias. Poderiam residir em outro local e levar para o seu senhor o ganho obtido pelo seu trabalho, podendo também ser alugado. Estas atividades permitiam-lhe maior mobilidade e autonomia33.
Um segundo elemento importante a ser considerado quando observamos as celebrações organizadas pelas devoções e irmandades negras as despesas realizadas com estas festas. Novamente diferenças significativas são encontradas entre as irmandades do Rosário de Salvador e do recôncavo. Estas diferenças podem ser verificadas pelos gastos com a festa. Enquanto em Salvador é possível encontrar irmandades realizando missas e demais rituais, no recôncavo temos algumas que suspenderam os seus festejos por falta de recursos, como foi o caso da irmandade do Rosário da igreja matriz da freguesia de Matoim e também a do Rosário de Jacuípe, na ermida de Santo Estevão, da freguesia do Rosário de Cachoeira, onde pela pobreza dos irmãos, ainda não havia sido possível realizar festa já há sete anos34.
Em Salvador encontramos as mais ricas irmandades do Rosário de negros, que tinham condições de realizar os rituais completos da festa, incluindo a exposição do Santíssimo na festa, como foi o caso da irmandade da paróquia de São Pedro. A irmandade da Conceição da Praia realizava a festa com grandes solenidades, com procissão ao final do dia. O seu compromisso, de 1686, informa, no capítulo V, que a festa de sua santa se faria «... com sua missa cantada e sermão e seu officio na Segunda feira, de que se mandarão dizer vinte missas no dito dia do officio pelos irmãos vivos e defuntos [...] de que se assistiram os ditos Irmãos confrades da dita Irmandade»35. Em seu compromisso de 1820 -feito para inclusão de novos capítulos ao que havia sido ordenado no ano de 1749 e aprovado em 1781- a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos das Portas do Carmo informa que «a festa da Virgem Nossa Senhora do Rosário, se fará anualmente... na segunda dominga do mez de Outubro, com missa cantada; Sermão e Sacramento exposto... procedendo em nove tardes sucessivas a Novena da mesma Senhora...». O compromisso ainda informa que as missas que deveriam ser celebradas pelo Reverendo Vigário, recomendando que os irmãos não faltem a assistir as missas principais36. Isto aumenta os custos com a festa, o que torna a sua realização muito difícil para as irmandades menores. Tal irmandade possuía ainda o retábulo da sua imagem ricamente entalhado. Este se encontra preservado até os dias atuais e entre as suas alfaias encontramos objetos de raro valor. Todas as irmandades deveriam possuir as suas alfaias, estas continham os materiais utilizados para as diferentes celebrações, tanto as utilizadas pelo capelão nos ofícios e missas, quanto as utilizadas pelos membros da confraria. A composição destas alfaias estava determinada na Constituição Primeira do Arcebispado que determinavam que para os altares, e celebrações da missa se tivessem cruzes, frontais, toalhas, cortinas, pedra de ara, sacras, panos para as mãos, estantes ou almofadas, castiçais, alvas, cordões, manípulos, estolas, planetas, corporais com guardas e bolsas, cálices, patenas, palas, sanguinhos, panos ou véus dos mesmos cálices, missais, galhetas, caixas de hóstias e campainhas37.
Mas nem sempre estas instituições dispunham de recursos para reunir estes objetos. Já no século xix encontramos uma solicitação de empréstimos de objetos de alfaias feita pela Irmandade de Nossa Senhora das Dores à Irmandade do Rosário das Portas do Carmo solicitando «...tanto as de ouro, como de prata e seda o que for preciso para as festividades...», para a festa de sua padroeira em três de dezembro de 181438. Ao pedido a Irmandade do Rosário responde favoravelmente.
A Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos pretos da Freguesia de N. Senhora da Penha de Itapagipe foi fundada em 1735 -por isto não consta no Santuário Mariano-, por iniciativa dos irmãos João da Conceição, Sebastião Bezerra Formiga e outros, conforme introdução do seu terceiro compromisso feito em 1805, sendo o primeiro de 1735 e o segundo de 1761. Funcionou na capela de Nossa Senhora da Penha de França, em Itapagipe, então pertencente à freguesia de Santo Antônio Além do Carmo, sendo transferida em 1802 para um templo próprio em Itapagipe de Baixo, na Rua do Rosário. A freguesia da Penha havia sido criada em 1763 e dela o novo templo era filial. Solicitam confirmação do compromisso em 1806, recebendo parecer favorável do então governador Conde da Ponte em 180739. O templo atual parece ter sofrido reformas que descaracterizam a sua arquitetura e o interior, mas a imagem atualmente colocada no altar mor da igreja traz estilo barroco, podendo ser a original, do século xviii. Conforme compromisso de 1805 a festa realizada no segundo Domingo de outubro, com missa cantada e de verso, exposição do Santíssimo Sacramento e sermão; Vésperas e músicas. À tarde era realizada procissão ou Te Deum40. Os compromissos recomendavam festas com pompa o que sugere que as irmandades tinham condições financeiras para realizálas ou sabiam onde captar os recursos necessários.
Segundo Frei Agostinho a realização da festa deveria ter a autorização do vigário da paróquia. Mas suas informações deixam transparecer uma relativa autonomia dos negros na organização da festa, inserindo inclusive novos elementos, talvez ligados às suas tradições culturais de origem. Vemos por exemplo como o frei descreve a festa dos negros da paróquia de S. Gonçalo: «...fazem a festa da Senhora... com tanta alegria, e com tantos instrumentos dos que eles usam a seu modo, que é muito para ver e admirar os seus grandes festejos...»41. Mas segundo João Reis «a atitude dos poderes diante dessas manifestações afro-católicas oscilava entre a repressão e a permissão»42. As festas das inúmeras irmandades de negros, em especial os seus reisados, já causavam problemas para as autoridades civis desde 172843. Um decreto de 1729, respondendo a uma consulta feita ao Conselho Ultramarino, acabou por determinar que as irmandades do Rosário devessem limitar suas festas ao espaço das igrejas44. Em 1760, vemos a narrativa do padre Manuel de Cerqueira Torres sobre a celebração de uma festa à N. Senhora do Rosário, feita pela irmandade de negros, das portas do Carmo, em doze de outubro. Segundo o relato a festa ocorria dentro do templo católico ricamente adornado, observando-se o uso de «... discretas e divertidas máscaras, que com vários gêneros de figuras fizeram tão jocundas representações que geralmente alegravam a todos»45.
Ao que parece a Igreja não via com maus olhos estes costumes, desde quando estes fossem praticados dentro da religião cristã e do seu espaço sagrado. Num episódio em particular, registrado numa denúncia à Inquisição, verificamos como os santos reverenciados pelos negros poderiam ser afetados pelo desprezo muitas vezes expresso contra os seus devotos, «irmãos de cor». Neste caso específico não é a forma de celebrar que é alvo de críticas, mas o próprio santo. Em 1762, Alexandre da Fonseca, um lavrador branco, morador em Cairu, na povoação de Aricoaba, no sul da Bahia, foi denunciado ao Santo Ofício. Durante a realização neste povoado de uma solene festa em homenagem a São Benedito, segundo Luiz Mott, «inconformado com a veneração a um servo de Deus que ostentava a mesma feição dos escravos, o racista lavrador não se conteve: deu um tiro de bacamarte na bandeira do santo, dizendo: o que faz este pretinho à vista de Deus e de todo mundo?! Diz o denunciante que tal gesto blasfemo fora perpetrado com desprezo, opróbrio e irreverência»46.
A imagem da santa é o terceiro elemento significativo que compõem a nossa observação dos festejos em louvor a Nossa Senhora do Rosário. Nossos estudos têm nos levado a perceber a presença das imagens para além do espaço sagrado. Ela vai à rua - através das procissões -, espaço permite uma proximidade que facilita as trocas culturais. Os santos não saíam do templo somente em dias especialmente a eles dedicados. Encontramos, em 26 de setembro de 1760, a imagem de Nossa Senhora do Rosário do Carmo participando dos festejos cívicos em comemoração ao casamento do Infante D. Pedro com a Princesa do Brasil, D. Maria I, juntamente com as imagens de todas as freguesias e associações religiosas. O narrador informa que «a Nossa Senhora do Rosário dos Pretos do Pelourinho conduzia nas mãos uma custódia de prata»47.
Carregadas e adornadas com todos os cuidados possíveis, as imagens ondulavam pelas ruas da Bahia, nos periódicos eventos festivos realizados durante o ano litúrgico católico. Procissões e festas em honra destes santos constituíam-se, sem dúvida, nos momentos mais prazerosos da vida colonial, e as imagens católicas tornaram-se parte do cotidiano desta sociedade. Grandes companheiras, as quais se recorriam sempre em busca de auxílio e proteção, elas eram produzidas em oficinas onde artesãos, escultores e pintores desdobravam-se para atender aos gostos de seus fregueses, embora sem fugir aos modelos iconográficos dos santos trazidos da península ibérica, fieis aos atributos que tornariam os santos identificáveis entre os seus devotos. Os fregueses eram em sua maioria as confrarias religiosas e ordens terceiras, além é claro, do grande mercado consumidor das imagens produzidas para atender as necessidades das devoções familiares e individuais, e ocupar os oratórios de todas as casas.
Os oratórios e os altares pontuavam os espaços da prece e da fé, e os caminhos por onde passavam as procissões em louvor aos santos pontuavam os espaços da devoção e da festa. Os santos deveriam ser preparados para saírem em público, com todas as rendas e jóias às quais tinham direito As vestes usadas pela santa revelam a preocupação dos negros desta irmandade em orná-la com todo o luxo possível. No mesmo evento de 26 de outubro de 1760 citado acima, na procissão em homenagem ao casamento do Infante D. Pedro com a princesa do Brasil, D. Maria I, relata-se que a imagem de Nossa Senhora do Rosário das Portas do Carmo estava vestida com uma túnica de cambraia branca de flores, e manto de galacé azul de prata, forrado do mesmo carmezim de prata. A santa trazia no peito broches, joias e outras peças riquíssimas de diamantes e tinha a cabeça coroada por um diadema de finíssimo ouro rodeado de doze estrelas de prata48.
Os cuidados também se revelam quanto à preservação dos atributos iconográficos que remetem à Virgem coroada, a sua túnica azul e o diadema de ouro rodeado de doze estrelas de prata, símbolos da majestade a ela concedida por Deus após sua assunção aos céus49. Não somente a Imagem da Virgem da Conceição fazem alusão à assunção de Maria, também a Virgem do Rosário está no grupo das representações que aludem a Virgem coroada. Verificamos o esforço por parte das várias irmandades para que suas imagens da Virgem fossem ricamente adornadas, trazendo suas coroas de prata e mantos de seda. A maior parte das devoções já existia desde o século anterior, e muitas destas imagens possuíam respeitáveis alfaias obedecendo às determinações do sínodo que originou o texto das Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia, realizado em 170750. Vemos o exemplo das irmandades da freguesia de S. Pedro e da Conceição da Praia cujas alfaias são sucintamente descritas no Santuário Mariano51.
Muitas destas imagens e também as festas de irmandades de negros foram alvo de elogios do frei Agostinho de Santa Maria e dos vigários das paróquias que enviaram seus relatórios. Talvez, ainda sem acreditar na possibilidade de assimilação do Cristianismo pelos negros, estes religiosos viram-se surpresos pelo entusiasmo com que estes abraçaram tais devoções. Por certo, porque ainda não haviam compreendido que o Cristianismo era uma das poucas portas abertas para o africano e seu descendente, escravo ou liberto, no caminho para a integração social na colônia. Longe de suas terras e sem a menor possibilidade de retorno e liberdade, o cristianismo foi um dos elementos utilizados na construção de novas identidades sociais.
1. DE FIORES, S. e MEO, S. (dir.): Dicionário de Mariologia, São Paulo, 1995, pp. 1138. MEGALE, N. B.: Invocações da Virgem Maria no Brasil. Petropólis, 1997, p. 429.
2. VOVELLE, M.: Imagens e Imaginário na História: fantasmas e certezas nas mentalidades desde a Idade Média até o século XX. São Paulo, 1997, p. 61.
3. PELIKAN, J.: Maria através dos séculos: seu papel na história da cultura . São Paulo, 2000.
4. SCARANO, J.: Devoção e Escravidão . São Paulo, 1975, pp. 38-48.
5. Idem , p. 41.
6. JAUGEY, J. B.: Dicionário Apologético da Fé Católica. Tomo III. Porto, 1903, pp. 53.
7. Parecer do desembargador ouvidor Geral do Crime a d. Rodrigo José Nunes, 9 de Novembro de 1784, Arquivo Público do Estado da Bahia [APEB], Cartas ao Governo, 1780-84, maço 176.
8. Compromisso da Virgem Sanctíssima May de Deus Nossa Senhora do Rosário dos pretos da praya: anno de 1686, Capítulo VI, mss. Arquivo da Igreja da Conceição da Praia, não catalogado. Agradeço ao professor Dr. João José Reis que gentilmente me cedeu uma cópia da transcrição deste documento.
9. VOVELLE, op. cit ., pp. 119-133.
10. SANTA MARIA, Frei Agostinho de: Santuário Mariano e História das Imagens Milagrosas de Nossa Senhora (1722), Separata da Revista do Instituto Histórico e Geográfico da Bahia, Salvador, 1949, pp. 85-86.
11. Alguns autores lidos destacam esta característica das religiões africanas. Ver: ELBEN, J.: Os Nagôs e a Morte: Pàdê, Àsèsè e o culto Égun na Bahia. Petrópolis, 1986; ELIADE, M. e COULIANO, I. P.: Dicionário das Religiões. São Paulo, 1999; THOURTON, J.: Africa and Africans in the making of the Atlantic world, 1400-1680. Cambridge, 1992; VERGER, P.: Notas sobre o culto aos orixás e voduns na Bahia de Todos os Santos, no Brasil, e na Antiga Costa dos Escravos, na África. São Paulo, 1999.
12. Carta sobre o estado em que encontram as Missões desta capitania, administradas pelos religiosos desta cidade, 22 de Outubro de 1703, Bahia. Arquivo Público do Estado da Bahia (APEB), Seção colonial e provincial, Ordens Régias, vol. 14, doc. 82, Microfilmes, rolo no 04.
13. REGINALDO, L.: Os Rosários dos Angolas: irmandades negras, experiências escravas e identidade africana na Bahia setecentista, Tese de Doutorado apresentada ao Departamento de História do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas, São Paulo, 2005, p. 54.
14. SCHWARTZ, S.: Segredos internos: engenhos e escravos na sociedade colonial 1550-1835. São Paulo: Companhia das Letras, 1988, p. 77.
15. BARICKMAM, B. J.: Um contraponto baiano: açúcar, fumo, mandioca e escravidão no Recôncavo, 1780-1860. Rio de Janeiro, 2003, pp. 38.
16. VILHENA, L. dos S.: A Bahia no século XVIII, vol. I Salvador, 1969, pp. 40-47. Neste artigo designaremos como recôncavo a região que abrange as cinco vilas que o compõem, juntamente com as freguesias suburbanas de Salvador tendo em vista que toda esta região foi destinada ao cultivo agrícola, o que distingue o perfil dos escravos nelas residentes, no que diz respeito ao seu ritmo de trabalho, daqueles residentes nas seis freguesias urbanas de Salvador. Ao usar Salvador remetemos exclusivamente as suas seis freguesias urbanas.
17. SANTA MARIA, Frei Agostinho de: Santuário Mariano e História das Imagens Milagrosas de Nossa Senhora (1722), Separata da Revista do Instituto Histórico e Geográfico da Bahia, Salvador, 1949, p. 20.
18. SCHWARTZ, op. cit., pp. 86-87. Os dados informados pelo autor remetem a uma descrição do censo feita pelo Padre Gonçalo Soares de França, na obra Dissertações da história eclesiástica do Brasil, datada de 1724. Segundo Schwartz esta descrição está possivelmente incompleta, embora seja bastante precisa.
19. REIS, J.: «Identidade e diversidade étnica nas irmandades negras no tempo da escravidão», Revista Tempo, 2:3, 1997, p. 8.
20. SANTA MARIA, Frei Agostinho de: Santuário Mariano e História das Imagens Milagrosas de Nossa Senhora (1722), Separata da Revista do Instituto Histórico e Geográfico da Bahia, Salvador, 1949, p. 79.
21. Diário Ecclesiástico para o Arcebispado da Bahia, principalmente para a cidade da Bahia, para o ano de 1784. Bissexto, ordenado pela Congregação do Oratório de Lisboa. Lisboa, 1783.
22. SANTA MARIA, op. cit ., p. 45.
23. Idem , p. 117.
24. Idem , p. 164.
25. Idem , p. 153.
26. BARICKMAM, op. cit ., pp. 278-279.
27. Idem , p. 285.
28. SCHWARTZ, op. cit ., p. 97.
29. Idem , pp. 99. As informações foram obtidas pelo autor a partir da análise dos registros diários do Engenho Sergipe referente a quatro safras de açúcar (1612, 1643, 1650 e 1651).
30. Idem , p. 98 (Tabela 8).
31. Compartilhamos o conceito de cultura adotado por Sidney Chalhoub, na obra Visões de Liberdade, e por Richard Price e Sidney Mintz, em O nascimento da cultura afro-americana. Tais autores entendem cultura como um conjunto de crenças e valores, socialmente adquiridos, que servem a um grupo organizado. A sociedade apresenta-se para estes como uma arena de lutas ou circunstâncias sociais onde os sujeitos recorrem à utilização das formas ou alternativas culturais disponíveis. Assim, a cultura seria empregada de formas distintas pelos vários sujeitos sociais, decorrendo disto significados e resultados igualmente diferentes. CHALHOUB, S.: Visões de Liberdade: uma história das últimas décadas da escravidão na corte. São Paulo, 1990; MINTZ, S. e PRICE, R.: O nascimento da cultura afro-americana: uma perspectiva antropológica. Rio de Janeiro, 2003.
32. SANTA MARIA, Frei Agostinho de: Santuário Mariano e História das Imagens Milagrosas de Nossa Senhora (1722), Separata da Revista do Instituto Histórico e Geográfico da Bahia, Salvador, 1949, p. 66.
33. ANDRADE, M. J. de S.: A Mão de Obra Escrava em Salvador: 1811-1860. São Paulo: Corrupio, 1988, p. 33.
34. SANTA MARIA, Frei Agostinho de: Santuário Mariano e História das Imagens Milagrosas de Nossa Senhora (1722), Separata da Revista do Instituto Histórico e Geográfico da Bahia, Salvador, 1949, pp. 98, 153.
35. Compromisso da Virgem Sanctíssima May de Deus Nossa Senhora do Rosário dos pretos da praya, capítulo VI, 1686, Arquivo da Igreja da Conceição da Praia, mss, não catalogado.
36. Compromisso da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos ordenado no anno de 1749 e aprovado no anno de 1781. Tendo já sido pela Sé e Cathedral da Bahia erecta e Confirmada no anno de 1685, e agora de novo acrescentado alguns Capítulos para melhor governo da Irmandade, reformando-se no anno de 1820, cap. III. Arquivo da Igreja de Nossa Senhora do Rosário do Pelourinho, Caixa 1, Série Compromissos.
37. Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia, Livro IV, Título XXII, 706 / Sebastião Monteiro da Vide, 2010: 400-401.
38. Solicitação feita pelos irmãos da Irmandade de Nossa Senhora das Dores, ereta na Igreja do Rosário das Portas do Carmo, das alfaias da Irmandade do Rosário, ereta na mesma igreja, para as suas festividades, 29 de novembro de 1814. Arquivo da Igreja de Nossa Senhora do Rosário do Pelourinho, Caixa 20, Doc. 02 A, Série Correspondências.
39. COSTA, L. M. da: «A Devoção de N. S. do Rosário na Cidade do Salvador - conclusão», Revista do Instituto Genealógico da Bahia, 11, 1969, pp. 164 e 175. Neste artigo Monteiro da Costa apresenta um resumo da história de todas as irmandades dedicadas a Nossa Senhora do Rosário, existentes na capitania da Bahia. O autor inclui na nota 17 deste artigo cópia do Parecer do Conde da Ponte, datado de 17 de maio de 1807, favorável a reforma do compromisso da irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos pretos de Itapagipe citado neste trecho. Este documento encontrase no Arquivo da Biblioteca Nacional (ABN), Manuscritos, Doc. II - 33, 22, 43.
40. Compromisso da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, erecta em sua própria capela em Itapagipe-de-Baixo, subúrbio da cidade da Bahia, filial à matriz de Nossa Senhora da Penha de França, feito no ano de mil oitocentos e cinco. Arquivo da Biblioteca Nacional (ABN), Manuscritos, Doc. II - 33, 22, 43. Consultamos o resumo do mesmo feito em: COSTA, op. cit., pp. 165-169.
41. SANTA MARIA, Frei Agostinho de: Santuário Mariano e História das Imagens Milagrosas de Nossa Senhora (1722), Separata da Revista do Instituto Histórico e Geográfico da Bahia, Salvador, 1949, p. 86.
42. REIS, J. J.: A Morte é uma Festa: ritos fúnebres e revolta popular no Brasil do século XIX . São Paulo, 1991, p. 64.
43. Carta do [vice-rei e capitão-general do estado do Brasil], Conde de Sabugosa, Vasco Fernandes César de Meneses ao rei [D. João V] sobre os abusos do reinado dos negros e seus folguedos, 10 de Setembro de 1728, Bahia. Arquivo Histórico Ultramarino (AHU), Seção Conselho Ultramarino, Brasil - Baía, caixa 32, Doc. 2930.
44. Consulta do Conselho Ultramarino ao Rei D. João V sobre os abusos do reinado dos negros e seus folguedos, 25 de Janeiro de 1729, Lisboa. Arquivo Histórico Ultramarino [AHU], Seção Conselho Ultramarino, Brasil-Baía, caixa 33, Doc. 2978.
45. REIS, op. cit ., p. 65.
46. ANTT, Caderno do Promotor, no 125, fl. 513. Citado em: MOTT, Luís: «A inquisição em Ilhéus», Revista FESPI, ano VI, no 10, Ilhéus-Bahia, jul. 87/dez. 88, pp. 79-80.
47. COSTA, L. M. da: «A Devoção de N. S. do Rosário na Cidade do Salvador», Revista do Instituto Genealógico da Bahia, 10, 1969, pp. 109-110.
48. Ibidem .
49. Sobre as doze estrelas ver texto de Apocalipse «Via-se grande sinal no céu, a saber, uma mulher vestida do sol com a lua debaixo dos pés e uma coroa de doze estrelas na cabeça» (Ap. 12:1). A Bíblia de Jerusalém, São Paulo, Edições Paulinas, 1981.
50. Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia , Livro I, Título VIII; Livro IV, Título XX / Sebastião Monteiro da Vide, 2010: 135; 397-398.
51. SANTA MARIA, Frei Agostinho de: Santuário Mariano e História das Imagens Milagrosas de Nossa Senhora (1722), Separata da Revista do Instituto Histórico e Geográfico da Bahia, Salvador, 1949, pp. 65; 75.
BIBLIOGRAFIA
ANDRADE, M. J. de S.: A Mão de Obra Escrava em Salvador: 1811-1860. São Paulo, 1988.
BARICKMAM, B. J.: Um contraponto baiano: açúcar, fumo, mandioca e escravidão no Recôncavo, 1780-1860. Rio de Janeiro, 2003.
CHALHOUB, S.: Visões de Liberdade: uma história das últimas décadas da escravidão na corte. São Paulo, 1990.
COSTA, L. M. da: «A Devoção de N. S. do Rosário na Cidade do Salvador», Revista do Instituto Genealógico da Bahia, 10, 1969.
COSTA, L. M. da: «A Devoção de N. S. do Rosário na Cidade do Salvador - conclusão», Revista do Instituto Genealógico da Bahia, 11, 1969.
Diário Ecclesiástico para o Arcebispado da Bahia, principalmente para a cidade da Bahia, para o ano de 1784. Bissexto, ordenado pela Congregação do Oratório de Lisboa. Lisboa, 1783.
DE FIORES, S. e MEO, S. (dir.): Dicionário de Mariologia. São Paulo, 1995.
ELIADE, M. e COULIANO, I. P.: Dicionário das Religiões. São Paulo, 1999.
ELBEN, J.: Os Nagôs e a Morte: Pàdê, Àsèsè e o culto Égun na Bahia. Petrópolis, 1986.
JAUGEY, J. B.: Dicionário Apologético da Fé Católica. Tomo III, Porto, 1903.
MEGALE, N. B.: Invocações da Virgem Maria no Brasil. Petrópolis, 1997.
MINTZ, S. e PRICE, R.: O nascimento da cultura afro-americana: uma perspectiva antropológica. Rio de Janeiro, 2003.
MOTT, L.: «A Inquisição em Ilhéus», Revista FESPI, ano VI, no 10, Ilhéus-Bahia, jul. 87 - dez. 88, pp. 73-83.
PELIKAN, J.: Maria através dos séculos: seu papel na história da cultura. São Paulo, 2000.
REGINALDO, L.: Os Rosários dos Angolas: irmandades negras, experiências escravas e identidade africana na Bahia setecentista, Tese de Doutorado apresentada ao Departamento de História do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas, Campinas, São Paulo, 2005.
REIS, J. J.: A Morte é uma Festa: ritos fúnebres e revolta popular no Brasil do século xix. São Paulo, 1991.
REIS, J. J.: «Identidade e diversidade étnicas nas irmandades negras no tempo da escravidão», Revista Tempo, II / 3, São Paulo, 1997, pp. 7-33.
SANTA MARIA, Frei Agostinho de: Santuário Mariano e História das Imagens Milagrosas de Nossa Senhora. Tomo IX, [1722], Separata da Revista do Instituto Histórico e Geográfico da Bahia, 1949.
SCARANO, J.: Devoção e Escravidão. São Paulo, 1975.
SCHWARTZ, S.: Segredos internos: engenhos e escravos na sociedade colonial 1550-1835. São Paulo, 1988.
THOURTON, J.: Africa and Africans in the making of the Atlantic world, 1400-1680. Cambridge, 1992.
VERGER, P.: Notas sobre o culto aos orixás e voduns na Bahia de Todos os Santos, no Brasil, e na Antiga Costa dos Escravos, na África . São Paulo, 1999.
VIDE, S. M. da: Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia [1707], Feitler, Bruno, Souza, Evergton Sales, Jancsó, Instvan e Puntoni, Pedro (estudo introdutório e edição). São Paulo, 2010.
VILHENA, L. dos S.: A Bahia no século XVIII (Recopilação de Notícias Soteropolitanas e Brasílicas) [1802], 3 volumes. Salvador, 1969.
VOVELLE, M.: Imagens e Imaginário na História: fantasmas e certezas nas mentalidades desde a Idade Média até o século XX. São Paulo, 1997.
Tânia Maria PINTO DE SANTANA
Universidade Federal de Recôncavo de Bahia, Brasil
Correo-e: [email protected]
You have requested "on-the-fly" machine translation of selected content from our databases. This functionality is provided solely for your convenience and is in no way intended to replace human translation. Show full disclaimer
Neither ProQuest nor its licensors make any representations or warranties with respect to the translations. The translations are automatically generated "AS IS" and "AS AVAILABLE" and are not retained in our systems. PROQUEST AND ITS LICENSORS SPECIFICALLY DISCLAIM ANY AND ALL EXPRESS OR IMPLIED WARRANTIES, INCLUDING WITHOUT LIMITATION, ANY WARRANTIES FOR AVAILABILITY, ACCURACY, TIMELINESS, COMPLETENESS, NON-INFRINGMENT, MERCHANTABILITY OR FITNESS FOR A PARTICULAR PURPOSE. Your use of the translations is subject to all use restrictions contained in your Electronic Products License Agreement and by using the translation functionality you agree to forgo any and all claims against ProQuest or its licensors for your use of the translation functionality and any output derived there from. Hide full disclaimer
Copyright Ediciones Universidad de Salamanca 2016
Abstract
Organized by Frei Agostinho de Santa Maria and published in 1722, the Marian Sanctuary and History of the Miracles image of Our Lady consist the registrations of marian invocations worshiped in Portuguese territory, made by clergymen from differents parishes in the xviii century. The ninth volume deal witch the invocations found in Bahia. In this article we mean to use this text as a study sourse for the history religious belief, as well as in the study of the Catholic religiosity history among the black people in the reconcavo baiano. The reconcavo baiano was one of the most important region of the sugar cane production in the American Portuguesa in that period where concentrated an expressive population of black people that was used in the slave labor in that production. Our analysis which has as a main objective of study Our Lady of Rosario worship in the brotherhoods and the black people's devotions in that region. Seeking to understand at first the motivation for such worship, experienced in the context of the slavery. Subsequently we will concentrate our analysis in the aspects linked to its growth and development, such as celebrations for their Patroness, and the use of images in moments of celebrations. From here it's necessary to comprehend how the place of the black, as a slave or a free man, marked the relations established and the differents moments of celebrations.
You have requested "on-the-fly" machine translation of selected content from our databases. This functionality is provided solely for your convenience and is in no way intended to replace human translation. Show full disclaimer
Neither ProQuest nor its licensors make any representations or warranties with respect to the translations. The translations are automatically generated "AS IS" and "AS AVAILABLE" and are not retained in our systems. PROQUEST AND ITS LICENSORS SPECIFICALLY DISCLAIM ANY AND ALL EXPRESS OR IMPLIED WARRANTIES, INCLUDING WITHOUT LIMITATION, ANY WARRANTIES FOR AVAILABILITY, ACCURACY, TIMELINESS, COMPLETENESS, NON-INFRINGMENT, MERCHANTABILITY OR FITNESS FOR A PARTICULAR PURPOSE. Your use of the translations is subject to all use restrictions contained in your Electronic Products License Agreement and by using the translation functionality you agree to forgo any and all claims against ProQuest or its licensors for your use of the translation functionality and any output derived there from. Hide full disclaimer