ORGANIZAÇÕES, INSTITUIÇÕES E PODER NO BRASIL Marcelo Milano Falcão Vieira e Cristina Amélia Carvalho (Orgs.). Rio de Janeiro: Editora FGV, 2003. 324p. ISBN 8522504407
O livro Organizares, instituées e poder no Brasil, organizado por Marcelo Vieira, da EBAPE/FGV, e Cristina Carvalho, da UFPE, tem três méritos principais. O primeiro é a escolha dos temas. Institucionalismo e poder constituem, como mostram os diversos artigos, vias essenciais para se entender a evoluçâo das organizaçôes. O segundo é a diversidade e riqueza dos casos apresentados, que ilustram diversas facetas desses temas. Por fim, o terceiro, mas näo menos importante, é a originalidade de algumas construçôes teóricas e análises dos estudos de caso.
A obra divide-se em duas partes. Na primeira, estäo reunidos os ensaios teóricos e, na segunda, os estudos de casos. A primeira, além de constar de dois artigos que introduzem e discutem a teoria institucional, reúne outros três, mais autorais, em que os autores buscam refletir sobre a questäo do poder. Na segunda parte, os autores analisam, utilizando as lentes do institucionalismo e/ou do poder, casos de organizaçôes brasileiras. Há ainda uma introduçâo, bastante esclarecedora, em que os organizadores, além de apresentarem os artigos do livro, discutem o processo de formaçâo e estruturaçâo dos campos organizacionais, ressaltando a importância do poder nesse processo.
No primeiro capítulo, Fachin e Mendonça propôem-se 'resgatar' a obra de Selznick, precursor da teoria institucional. Introduzem o autor e sua obra, contextualizam sua importância no ámbito da teoria organizacional e, por fim, referindo-se ao próprio Selznick, apresentam os conceitos centrais por ele desenvolvidos, além de seu questionamento sobre a distinçâo entre 'velho' e 'novo' institucionalismo. Para Selznick, interessa mais a integraçâo dessas duas perspectivas. No capítulo 2, Fonseca retoma essa discussäo, mas evidencia as contribuiçôes conceituais trazidas pelos neo-institucionalistas: legitimidade/ isomorfismo/sobrevivência organizacional.
Seguem-se, entäo, três capítulos sobre a questäo do poder. No capítulo 3, Faria. após uma ampla revisäo da literatura sobre poder, levanta as limitaçôes, lacunas e equívocos de cada uma das abordagens. Em seguida, o autor sugere sua própria definiçâo e discute a questäo do exercício do poder, isto é, a capacidade de realizar interesses. No capítulo seguinte, Tenório discute o fenômeno tecnocrático como manifestaçâo de poder. O autor analisa esse fenómeno - emergência, evoluçâo e manifestaçâo -, assim como sua importância no âmbito das organizares, destacando seu caráter autoritário, anti-democrático e elitista. No capítulo 5. Mizoczky apresenta sua tentativa de interaçâo entre as abordagens de campo de poder e institucional e, ao final, argumenta que a integraçâo paradigmática vai bem além de uma simples justaposiçâo de teorias distintas.
Na segunda parte do livro, três capítulos examinam processos de institucionalizaçâo, ou melhor, de institucionalizaçào, de nâo-institucionalizaçâo e de institucionalizaçâo/desinstitucionalizaçâo, respectivamente, e dois analisam questôes relativas ao poder. No capítulo 6, Machado-da-Silva et al. mostram, por meio da análise da formulaçâo e implementaçâo da reforma administrativa no Brasil, como o formalismo é uma instituiçâo inerente à sociedade brasileira. Os autores apontam, entäo, duas implicaçôes teóricas importantes: a necessidade de se levar em conta, ao se utilizar a perspectiva institucional, as particularidades da sociedade brasileira e a necessidade de reavaliar o peso relativo do pilar coercitivo na análise institucional.
Os dois capítulos subseqüentes trazem respectivamente casos de nâo- institucionalizaçâo e de institucionalizaçâo/desinstitucionalizaçâo. No primeiro caso, Souza, tendo como base o modelo de desenvolvimento institucional de Esman (1996), apenas generalizadamente apresentado, compara os processos de nâo- institucionalizaçâo da ENAP, no Brasil, e do INAP, na Argentina. A partir de uma análise detalhada tanto dos fatores de Esman quanto dos ambientes político- institucionais argentino e brasileiro, a autora evidencia como um conjunto de variáveis impediram que as escolas de governo desses países se institucionalizassem. No capítulo 8, Oliveira resgata a história da CHESF para demonstrar como o insulamento burocrático característico dessa empresa surge em um determinado contexto, mas, posteriormente, altera-se em virtude da emergência de uma nova dinâmica entre os stakeholders.
Os dois últimos estudos de casos focalizam a questâo do poder. No capítulo 9, Silva demonstra que a implementaçâo da gestâo da qualidade na Siderúrgica Riograndense levou a uma transformaçâo, mas nâo a uma substituiçâo, do controle gerencial. Ao controle do tipo burocrático, acrescentou-se o controle por meio da cultura. Por fim, no último capítulo, Carvalho e Fischer analisam o papel das redes sociais para a formaçâo de alianças estratégicas Multiplex Iguatemi, de Salvador. As autoras demonstram como laços sociais, traduzidos em reputaçâo, confiança e domínio de informaçôes, podem favorecer a formaçâo de alianças económicas, porque reduzem as incertezas dos parceiros.
Como qualquer outra compilaçâo, essa engendra um sentimento heterogéneo no leitor, ou seja, alguns capítulos tendem a despertar mais interesse do que outros. Há duas razôes para isso. Uma refere-se à competência estilística de alguns autores em argumentar de forma atraente e estimulante e, assim, suscitar a atençâo do leitor. Outra dever-se-ia à contribuyo do artigo para o debate teórico sobre a questâo analisada. Vale observar que alguns autores säo bastante económicos em suas discussöes acerca dessa contribuyo. Como, em se tratando de estudos de casos, o propósito do investigador é a generalizaçâo analítica, e näo estatística (Yin, 1994, p. 11), a expectativa do leitor é que a análise do caso sempre resulte em algum avanço para o debate teórico.
Independentemente desse sentimento, a leitura dessa coletânea é um convite ao aprofundamento de questöes levantadas pelos autores. Uma, já apontada pelos organizadores, na introduçâo, merece, sem dúvida, mais atençâo por parte dos pesquisadores: mudança no campo organizacional. Kondra e Hinnings (1998), por exemplo, afirmam que há uma concepçâo excessivamente institucionalizada do isomorfismo no campo organizacional. Se desvios nâo sâo observados, mudanças nunca ocorreriam; as organizaçôes estariam congeladas no tempo. Assim, interessaria continuar a investigar como a dimensâo de poder pode ser uma fonte isomórfica e/ou uma fonte de desvio, ou seja, de mudança no campo organizacional.
Portanto, para além da contribuiçâo em si para a teoria organizacional, o livro oferece ainda vários caminhos para futuras pesquisas. Nesse sentido, é recomendável nâo somente para aqueles que se interessam, de maneira geral. pela teoria organizacional, mas também para aqueles que estâo envolvidos mais diretamente com pesquisas sobre poder e instituées.
referencias
KONDRA, A.Z.;
HININGS, C.R.
Organizational diversity and change in institutional theory. In: Organzation Studies, 19/5, p. 743-767, 1998.
YIN, R. K.
Case study research: design and methods. 2 ed. London: Sage, 1994.
por Roberto Gonzalez Duarte (PUC-Minas)
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